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O PAPEL DO PSICÓLOGO

Ignácio Martin-Baró
Definido em função das circunstâncias
concretas da população que irá atender.
Psi contribuir a partir de sua especificidade,
buscar uma resposta.
Conscientização: horizonte primordial do
quefazer psicológico.
Ajudar a superar identidade alienada,
pessoal e social.
Transformar as condições opressivas do
seu contexto.

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 Conscientização exige mudar a perspectiva teórica e
prática que se trabalha.
 Recolocar seus conhecimentos e práxis a serviço das
maiorias populares.
 Acompanhá-las em seu caminho histórico em direção à
libertação.
 Definição de nossa identidade profissional e papel em
nossas sociedades: examinar a situação de nossos
povos e suas necessidades.
 Compreensão genérica procedentes de outros lugares:
compreensão míope diante das realidades.
 Inadequadas para captar sua especificidade social e
cultural.
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 Contexto centro-americano – momento atual:situação
estrutural de injustiça (estruturação injusta de seus
sistemas sociais)
 Sociedades pobres, assentam-se em regimes que
distribuem desigualmente seus bens disponíveis
 Submetendo a maioria dos povos a condições
miseráveis
 Pequenas minorias desfrutam de todo o tipo de
comodidade e luxo
 Maior parte do povo sem condições básicas de
alimentação, moradia, saúde e educação
 Contraste entre situação miserável e a superabundância
das minorias oligárquicas (governo de poucas pessoas)
 Constituinte da 1ª violação dos direitos humanos
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 Manutenção secular, graças a aplicação de mecanismos
violentos de controle e repressão social
 Impedindo ou frustrando esforço histórico para
mudar/reformar estruturas sociais mais opressivas e
injustas
 Luta revolucionária- situação de guerra civil sangrenta
em El Salvador (América Central) 60.000 vítimas,
desalojou 20% da pop. civil de seus lugares
 Guerra da Nicarágua- financiada e dirigida pelos EU
 Psicose de pré-guerra em Honduras, forçada pelo
governo norte-americano a servir de porta-aviões à sua
política bélica de contra-insurreição regional
 Conseqüências desse estado se somam à situação de
miséria estrutural.

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 América Central: Costa Rica, El Salvador, Guatemala,
Honduras, México, Nicarágua e Panamá.
 Civilizações: antes de os europeus chegarem às
Américas Central e do Sul, os maias prosperaram no
México, na Guatemala e em Honduras; os primeiros
Astecas no México.
 Costa Rica – Densas florestas. Produtos de exportação:
café e banana. Aboliu o exército em 1948, fim aos
golpes militares. Governos estáveis.
 El Salvador – densamente povoado, montes rochosos e
vulções. De 1979 a 1992 dilacerado pela guerra civil,
entre guerrilheiros de esquerda e o governo de direita
apoiado pelos EU.

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 Guatemala– população vive majoritariamente do campo,
país com grande produção agrícola. Produtos de
exportação: café, açúcar e banana
 Nação com maior desenvolvimento industrial.
Conturbada vida política até 1996. Acordo pôs fim a uma
guerra civil que durou 36 anos, a mais longa da história
da América Latina.
 Honduras – abriga importantes ruínas maias. Textos
deixados pela civilização indígena que habitou a região
até o século X.
 70% da população vive em vales. Elevada altitude,
agradável clima temperado.
 Duas de cada cinco pessoas trabalham na agricultura,
café a produção mais importante.
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 México – montanhoso, ao mesmo tempo desertos áridos
e florestas tropicais. Abalos sísmicos, vulcões em
atividade. Abriga ruínas dos Maias e dos Astecas,
conquistados pelos espanhóis em 1521
 Tem campos petrolíferos e minas de prata.
 Nicarágua – arruinada pela guerra civil. Década de 70
guerrilheiros sandinistas combateram governo do
presidente Somoza, derrubado em 1979. década de 80,
eclodiu a guerra civil entre sandinistas e os Contras,
apoiados pelos EU.
 Panamá – tropas dos Eu invadiram país em 1989 para
derrubar o regime de Manuel Noriega. País famoso por
exportar chapéus trançados à mão, e feitos no equador
com folhas de jipijapá, planta parecida com palmeira.

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 Economias débeis como essas vêem-se forçadas a
dedicar a maior parte de suas reservas ao esforço bélico
e a destruição do próprio povo
 Onde deveriam surgir fábricas – usado para bombas e
helicópteros armados
 Estados nacionais – satélites dos EU – satelitização
nacional (América Central)
 Governantes norte-americanos repetem hoje (1978) o
que há 20 anos se expressava no Brasil (General
Castelo Branco) golpe de Estado que instalou o Regime
militar mais repressivos da história do continente sul-
americano
 Aceitar que a pobreza de nossos países contém uma
certa dependência daqueles que podem nos ajudar.
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 Problema é hipotecar nossa própria identidade e
autonomia sem resolver nossos problemas e eliminando
a possibilidade de um futuro para nossos povos
 Grandes decisões de nossos países são tomadas em
função da segurança nacional dos EU
 Injustiça estrutural, guerras revolucionárias e a
satelitização nacional – situação atual da América
Central
 Contexto histórico: Qual o papel do psicólogo?
 1968 – por que psicólogos têm repentina e inquietante
preocupação?
 Proliferação da Psi: função assumida na sociedade
contemplada
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 Psi: solução alternativa p/ conflitos sociais – mudar
indivíduos preservando a ordem social ou gerando a
ilusão ao mudar indivíduo, também mudaria a ordem
social, como se a sociedade fosse a soma dos
indivíduos
 Psi S na América Central – dedicam-se aos setores
mais rico – atividade enfatizando raízes pessoais do
problema e se esquecem dos problemas sociais.
 Contexto social converte-se numa espécie de natureza
inquestionável
 Exigências “objetivas” indivíduos devem buscar solução
p/ seus problemas de modo individual e “subjetivo”
 Esse enfoque e clientela: Psi servindo aos interesses da
ordem social estabelecida.
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Raízes históricas da própria Psicologia

1. Psi analisa a conduta/cpto observável;


2. Dirigir o olhar à caixa preta da consciência humana;

 Consciência não é simplesmente o âmbito privado do


saber e sentir subjetivo dos indivíduos, mas,
 Sobretudo, aquele âmbito onde cada pessoa encontra
o impacto refletido de seu ser e de seu fazer na
sociedade;
 Onde assume e elabora um saber sobre si mesmo e
sobre a realidade que lhe permite ser alguém, ter uma
identidade pessoal e social;
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 Consciência é o saber ou não saber sobre si mesmo,
sobre o mundo e sobre os demais;
 Saber práxico mais do que mental, adequado às
realidades objetivas,
 Só condicionadas parcialmente se torna saber reflexivo.
 Consciência da realidade psicossocial: imagem que as
pessoas têm de si que é produto da história de cada
uma e que inclui também as Representações Socias.
 Saber social e cotidiano “senso comum” âmbito da
ideologia
 Psicologia: objetivo específico os processos da
consciência humana – atender ao saber das pessoas
sobre si mesmas, enquanto indivíduos e membros de
uma coletividade.

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 Saber mais importante: inserido na práxis cotidiana,
onde está implícito, estruturalmente inconsciente, e
ideologicamente naturalizado, enquanto adequado ou
não às realidades objetivas, enquanto humaniza ou não
às pessoas, e enquanto permite ou impede os grupos e
povos de manter o controle de sua própria existência

 Comportamento: visto à luz de seu significado pessoal e


social, do saber manifesto, do sentido que adquire a
partir de uma perspectiva histórica.
 Exemplo: Aprender, não é somente elaborar e reforçar
uma seqüência de estímulos e respostas, mas estruturar
uma forma de relação da pessoa com seu meio,
 Configurar um mundo onde o indivíduo ocupa um lugar
e materializa seus interesses.

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 Trabalhar não é apenas aplicar uma série de
conhecimentos e habilidades para satisfação das
próprias necessidades;
 Trabalhar é fazer-se a si mesmo, transformando a
realidade, encontrando-se ou alienando-se nesse
quefazer sobre a rede das relações interpessoais e
intergrupais
 Conscientização: processo de transformação pessoal e
social que experimentam os oprimidos latino-americanos
quando se alfabetizam em dialética com o seu mundo.
 Alfabetizar-se: aprender a ler a realidade circundante e a
escrever a própria história.
 Aprender a dizer a palavra da própria existência que é
pessoal e coletiva.
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 Pronunciar a palavra pessoal e comunitária exige que
as pessoas assumam seu destino, tomem as rédeas
de sua vida
 Exige superar sua falsa consciência e atingir um saber
crítico sobre si mesmas, sobre seu mundo e sobre sua
inserção nesse mundo.
 Processo de conscientização: três aspectos
1. Humano transforma-se ao modificar a realidade
(processo dialético através do diálogo)
2. Gradual decodificação de seu mundo, pessoa capta os
mecanismos que a oprimem e desumanizam
(consciência desmistifica essa situação como natural)
abrindo horizontes p/ novas possibilidades de ação.
3. Novo saber sobre sua realidade leva ao novo saber
sobre si mesma e sobre sua identidade social.

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 Descobre o seu domínio
sobre a natureza, em sua
ação transformadora das
coisas, em seu papel ativo
nas relações com os demais.

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Ignácio Martin-Baró
> Nasceu em Valladolid-Espanha em 07-11-1942.
 Ingressou na Cia de Jesus em 1959, estudou
humanidades em Quito-Equador, licenciado em
Filosofia e Letras; bacharelado em Teologia na
Bélgica; mestrado em Ciências Sociais e
doutorado em Psicologia Social em Chicago.
 Dedica sua vida à luta pela libertação em El
Salvador, no trabalho desenvolvido com os
trabalhadores do campo, e no meio acadêmico,
com escritos sobre psicologia social e política.

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Ignácio Martin-Baró

Foi brutamente assassinado


pelo esquadrão da morte da
repressão salvadorenha em
16-11-1969.

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