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A Representatividade da mulher negra na

Literatura Brasileira: Conceição Evaristo

Orientadora: Dilce Pio Nascimento


Acadêmica: Daniele de Lima Rodrigues
Literatura brasileira e a Mulher Negra
Na Literatura Brasileira, a representação da mulher negra, do período colonial até a
contemporaneidade, foi representada e escrita sob um olhar do homem branco Campos
(2008, p.02). Essas representações literárias apresentam um discurso negativo para a mulher
negra, ancorada ao seu passado escravo, de corpo-apropriação e/ou corpo-objeto de prazer.
É a partir dessa problemática, em que mulheres negras lutam para ocupar mais um espaço
em que lhe foi tirado. As escritoras negras buscam sua inserção no âmbito literário brasileiro,
afim de mostrar sua própria auto-representação, uma literatura em que deixa de ser corpo do
outro como objeto a ser descrito, para se impor como sujeito-mulher-negra que se descreve.
Conceição Evaristo
Maria da Conceição Evaristo Brito. Escritora, romancista, poetisa e ensaísta, Conceição Evaristo
nasceu em 29 de dezembro de 1946, em uma favela da zona sul de Belo Horizonte, Minas Gerais.
De origem humilde, com nove irmão e sua mãe. Formou-se em Letras pela UFRJ. É mestre m
Literatura Brasileira pela PUC/Rio e Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal
Fluminense .
As obras de Conceição Evaristo nos proporciona reflexões profundas a respeito das questões
socias, como gênero e raça, permaneciam a vida da população afro-brasileira e, principalmente, a
respeito da mulher. Assim, a escritora nos revela, em suas reflexões, as desigualdades sociais
veladas, sofridas pela população afro-brasileira e dando voz a suas personagens, ela denuncia a
violência constante nas comunidades da periferia das grandes cidades.
“O ato politico de escrever vem acrescido do ato politico de publicar, uma vez que, para
algumas, a oportunidade de publicação, o reconhecimento de suas escritas, e os entraves a ser
vencidos, não se localizam apenas na condição de a autora ser inédita ou desconhecida. Não só a
condição de gênero vai interferir nas oportunidades de publicação e na invisibilidade de autoria
dessas mulheres, mas também a condição étnica racial.” Conceição Evaristo
Obra: Ponciá Vicêncio

O tempo passava, a menina crescia e não se acostumava com o próprio nome.


Continuava achando o nome vazio, distante. [...]às vezes, num exercício de
autoflagelo ficava a copiar o nome e a repeti-lo, na tentativa de se achar, de se
encontrar o seu eco. [...] Ponciá Vicêncio sabia que o sobrenome dela tinha vindo
desde antes do avô de seu avô, o homem que ela havia copiado de sua memória para
o barro e que a mãe não gostava de encarar. [...] Na assinatura dela, a reminiscência
do poderio do senhor, de um tal coronel Vicêncio. O tempo passou deixando a
marca daqueles que se fizeram donos das terras e dos homens (EVARISTO,
2003,p.29).
Obra: Ponciá Vicêncio
“Quando Ponciá Vicêncio, depois de muitos anos de trabalho, conseguiu comprar um
quartinho na periferia da cidade, retornou ao povoado. O trem era o mesmo, com as mesmas
dificuldades e desconfortos. Descia-se na entrada do povoado e caminhava todo o resto, horas
e horas a pé. Atravessava as terras dos brancos e viam-se terrenos e terrenos de lavouras
erguidas pelos homens que ali trabalhavam longe de suas famílias. Ponciá se lembrou do pai,
das ausências dele durante os longos períodos de trabalho. Atravessou, depois, as terras dos
negros e apesar dos esforços das mulheres e dos filhos pequenos que ficavam com elas, a roça
ali era bem menor e o produto final ainda deveria ser dividido com o coronel.
.
Tempos e tempos atrás, quando os negros ganharam aquelas terras, pensaram que estivessem ganhando a verdadeira

alforria. Engano. Em muito pouca coisa a situação de antes diferia da do momento. As terras tinham sido ofertas dos

antigos donos que alegavam ser presente de libertação. E, como tal, podiam ficar por ali, levantar moradias e plantar

seus sustentos. Uma condição havia, entretanto, a de que continuassem todos a trabalhar nas terras do Coronel

Vicêncio. O coração de muitos regozijava, iam ser livres, ter moradia fora da fazenda, ter as suas terras e os seus

plantios. Para alguns, Coronel Vicêncio parecia um pai, um senhor Deus. O tempo passava e ali estavam os antigos

escravos, agora libertos pela “Lei Áurea”, os seus filhos, nascidos do “ Ventre Livre” e os seus netos, que nunca seriam

escravos. Sonhando todos sob os efeitos de uma liberdade assinada por uma princesa, fada-madrinha, que do antigo

chicote fez uma varinha de condão. Todos, ainda, sob o jogo de poder, que, como Deus, se fazia eterno.” (EVARISTO,

2003 p. 42)
Obra: Ponciá Vicêncio

A vida escrava continuava até os dias de hoje. Sim, ela era escrava, também.
Escrava de uma condição de vida que se repetia. Escrava do desespero, falta de
esperança, da impossibilidade de travar novas batalhas, de organizar novos
quilombos, de inventar outra e nova vida (EVARISTO, 2003,p.83).
Referências

CAMPOS, Maria Consuelo Cunha (2008). Representações da mulher negra na literatura brasileira.
EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003.

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