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Leviatã

Thomas Hobbes

Profa. Dra. Vanessa Elias de Oliveira (UFABC)


Da condição natural

• Homens são iguais por natureza: alguns são mais fortes,


outros mais argutos.
• Faculdades do espírito: igualdade ainda maior –
experiência é concedida igualmente a todos pelo tempo.
• “Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade
quanto à esperança de atingirmos os nossos fins”
(cap.XIII) = inimizades.
• Da igualdade provém a desconfiança.
Da condição natural

• Desconfiança do outro = antecipação, em nome da


própria preservação.
• Da desconfiança, surge a possibilidade de guerra.

• 3 causas principais da discórdia entre os homens:

 Competição = visa o lucro;

 Desconfiança = visa a segurança;

 Glória = visa a reputação.


Da condição natural
• “(...) durante o tempo em que os homens vivem sem um poder
comum capaz de mantê-los todos em temor respeitoso, eles se
encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma
guerra que é de todos os homens contra todos os homens”
(cap.XIII).
• Fora das repúblicas civis, há sempre a guerra de todos contra
todos.
• Homens vivem, nesses casos, “sem outra segurança senão a
que lhes pode ser oferecida pela sua própria força e pela sua
própria invenção. Em tal condição não há lugar para o
trabalho, pois o seu fruto é incerto (...). E a vida do homem é
solitária, miserável, sórdida, brutal e curta”.
Da condição natural
• Em tal guerra, nada é injusto. Não há espaço para
noções de certo ou errado, justo ou injusto.
• “Onde não há poder comum não há lei, e onde não há
lei não há injustiça” (cap.XIII).
• Noções de justiça são qualidades que pertencem ao
homem em sociedade, assim como é a condição de
propriedade = “(...) não há propriedade, nem domínio,
nem distinção entre o meu e o teu; só pertence a cada
homem aquilo que ele é capaz de conseguir, e apenas
enquanto for capaz de o conservar”.
Das leis naturais e contratos

• Direito de natureza: “é a liberdade que cada homem possui


para usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para
a preservação de sua própria natureza” (Cap.XIV).
• Liberdade: ausência de impedimentos externos (que muitas
vezes tiram parte do poder que cada um tem de fazer o que
quer), para usar o seu poder conforme seu julgamento e
razão.
• Lei de natureza: regra, estabelecida pela razão, que “proíbe
a um homem fazer tudo o que possa destruir a sua vida ou
privá-los dos meios necessários para a preservar”.
Das leis naturais e contratos

• Guerra de todos contra todos = nessa condição, todo


homem tem direito a todas as coisas, até mesmo aos
corpos uns dos outros.
• Primeira lei fundamental: defendermo-nos a nós
mesmos.
• Renunciar a um direito ou transferi-lo a alguém = em
nome de outro bem que daí espera, pois “(...) o objetivo
de todos os atos voluntários dos homens é algum bem
para si mesmos” (cap.XIV, grifo do autor).
Das leis naturais e contratos

• Motivo da transferência do direito = segurança, necessidade de


paz.
• “A transferência mútua de direitos é aquilo a que se chama
contrato” (p.115).
• Pacto: deixar que um dos contratantes cumpra a sua parte num
momento posterior determinado, e não numa “troca”.
• Condição de natureza: a menor suspeita razoável torna nulo o
pacto. “Mas se houver um poder comum situado acima dos
contratantes, com direito e força suficiente para impor o seu
cumprimento, ele não é nulo” (p.118).
Das leis naturais e contratos

• Liberação dos pactos  dá-se por seu cumprimento ou


por perdão da outra parte.
• Só há pacto do possível e envolvendo alguma coisa
futura.
• Tempo presente  transferência de direitos só se dá no
presente, ainda que a entrega dos bens se dê no futuro
• Ninguém é obrigado a se acusar, já que é da lei da
natureza a autopreservação.
De outras leis de natureza

• Depois de celebrado um pacto, rompê-lo é injusto.

• Definição de injustiça: não cumprimento de um pacto.

• Justiça e propriedade começam com a constituição da


república: é necessário um poder coercitivo capaz de
obrigar os homens ao cumprimento de seus pactos.
De outras leis de natureza

• “Portanto, onde não o há o seu, isto é, não há


propriedade, não pode haver injustiça, e onde não foi
estabelecido um poder coercitivo, isto é, onde não há
república, não há propriedade, pois todos os homens
têm direito a todas as coisas. Portanto, onde não há
república nada é injusto. De modo que a natureza da
justiça consiste no cumprimento dos pactos válidos, mas
a validade dos pactos só começa com a constituição de
um poder civil suficiente para obrigar os homens a
cumpri-los, e é também só aí que começa a haver
propriedade” (p.125).
De outras leis de natureza

• Desigualdade = introduzida pelas leis civis, já que na


condição de natureza, os homens são iguais.
• Ninguém pode ser árbitro adequado em causa própria,
já que todos os homens fazem todas as coisas tendo em
vista o seu próprio benefício.
• As leis da natureza obrigam sempre em consciência,
mas obrigam de fato apenas quando há segurança, ou
seja, quando há leis civis.
Da República

• Finalidade de se “(...) introduzir aquela restrição sobre


si mesmos sob a qual vivemos em repúblicas é a
precaução com a sua própria preservação e com uma
vida mais satisfeita” (cap.XVII, p.143).
• Pactos sem espada não passam de palavras.

• A associação de poucos homens ou família não gera


segurança.
• Poucos homens ou uma grande multidão precisam ser
guiados por um só poder e julgamento.
Da República

• Características humanas distintivas em relação aos animais:

• Disputa por honra e precedência.

• Bens particulares se diferenciam do bem comum.

• Percepção de defeitos na administração da república.

• Linguagem fomenta a dissensão.

• Competição pelas posições públicas dá-se pelos mais abastados.

• Consentimento dos homens é artificial.


Da República

• Geração de uma República:

• “Autorizo e transfiro o meu direito de me governar a mim


mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens,
com a condição de transferires para ele o teu direito,
autorizando de uma maneira semelhante todas as suas
ações. Feito isso, à multidão assim reunida chama-se
República” (cap.XVII, p.147).
• Este é o Leviatã, aquele “Deus mortal, ao qual devemos,
abaixo do Deus imortal, a nossa paz e defesa”.
Da República

• Definição de uma República (p.148)

• “Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante


pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por
todos como autora, de modo que ela pode usar a força e os
recursos de todos, da maneira que considerar conveniente,
para assegurar a paz e a defesa comuns”.
• Soberano: aquele que é portador dessa pessoa, que possui
poder soberano.
• Súditos: todos os demais.
Dos direitos dos soberanos por
Instituição
• O ato de instituir uma República (pp.148-149)

• As consequências dessa instituição são:

• Os súditos não podem mudar a forma de governo.

• Não se perde o direito ao poder soberano.

• Ninguém pode, sem injustiça, protestar contra a instituição


do soberano apontado pela maioria.
• Não há justiça nas acusações que o súdito faça aos atos dos
soberanos.
Dos direitos dos soberanos por
Instituição
• Nada que o soberano faz pode ser punido pelo súdito.

• O soberano é o juiz do que é necessário para a paz e a


defesa dos seus súditos.
• O soberano tem o direito de fazer as regras sobre o que
pertence aos súditos.
• Também a ele pertence a autoridade judicial.

• E de fazer a guerra e a paz.


Dos direitos dos soberanos por
Instituição
• E de escolher todos os conselheiros e ministros.

• Monopólio da violência (p.155).

• Esses direitos são indivisíveis.

• Se transferir o comando da militia, será em vão


conservar o poder judicial.
• O poder soberano não é tão judicial quanto a sua falta.
Dos direitos dos soberanos por
Instituição
• Direito absoluto do governante  obediência
absoluta do governado [Absoluto = Soberano].
Das diversas espécies de
República
• São 3 as formas de República:

• Monarquia = representante é um só homem (x tirania).

• Democracia = assembleia de todos os que se uniram (x


anarquia).
• Aristocracia = assembleia de uma parte apenas (x oligarquia).

• Diferenças entre elas = “diferença de conveniência, isto é, de


capacidade para garantir a paz e a segurança do povo, fim
para o qual foram instituídas” (p.160).
• Defesa da Monarquia (p.161-166).
Do domínio paterno e despótico

• O poder soberano deve ser absoluto em todas as


repúblicas:
• “(...) o poder soberano, quer resida num homem, como
numa monarquia, quer numa assembleia, como nas
repúblicas populares e aristocráticas, é o maior que
possivelmente se imaginam os homens capazes de criar. E,
embora seja possível imaginar muitas más consequências
de um poder tão ilimitado, ainda assim as consequências
da falta dele, isto é, a guerra perpétua de todos os homens
com os seus semelhantes, são muito piores” (p.177)

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