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O problema do livre arbítrio

• Liberdade e determinismo na ação humana.


• Somos livres?
• A liberdade não será uma ilusão?
3 respostas ao problema do livre arbítrio:
• Determinismo radical: Nenhuma das nossas
ações é livre.

• Determinismo moderado: Há ações que são ao


mesmo tempo livres e determinadas.

• Libertismo: Há ações livres.


Liberdade ou livre-arbítrio é a capacidade
de fazer uma ação podendo contudo não a
ter feito.

Depende do agente optar ou não por outra


ação, a decisão é sua.

A ação livre não pode ser realizada sob


coação, exercida por fatores internos e
externos, que a tornem inevitável.
Determinismo radical aplicado na defesa de dois
assassinos
• O caso Leopold e Loeb
(assassinaram um rapaz de 14 anos,
em 1924)
• Clarence Darrow
(1857 -1938), foi
o advogado de defesa de
Leopold e Loeb.

• Livres ou determinados? (2.20 mn)


• https://www.youtube.com/watch?v=XyDVUvzZcs
8
https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.nytimes.com

• P. 134 a 136 do manual (10º ano)


O caso Leopold e Loeb:

• Em 1924, dois adolescentes de Chicago, Richard Loeb e Nathan Leopold,


raptaram e assassinaram um rapaz chamado Bobby Franks apenas para
provar que conseguiam fazê-lo. O crime impressionou o público.
• Apesar da brutalidade do seu ato, Leopold e Loeb não pareciam
especialmente perversos.
O caso Leopold e Loeb:
Provinham de famílias ricas e eram ambos estudantes excelentes.

Aos dezoito anos, Leopold era o licenciado mais jovem na história da


Universidade de Chicago, e, aos dezanove anos, Loeb era a pessoa mais
nova que se tinha licenciado na Universidade de Michigan. Leopold estava
prestes a entrar na Escola de Direito de Harvard.

Como era possível que tivessem cometido um assassinato absurdo?


J. Rachels, Problemas de Filosofia
Leopold e Loeb tinham já admitido a sua culpa, pelo que o
trabalho de Darrow era apenas mantê-los longe da forca. (…)
Darrow não sustentou que os rapazes eram loucos. Ainda assim,
disse, não eram responsáveis pelo que tinham feito. Darrow
apelou a uma nova ideia que os psicólogos tinham proposto,
nomeadamente que o carácter humano é moldado pelos genes
do indivíduo e pelo ambiente.
Disse ao juiz:
"As pessoas inteligentes sabem agora que todo o ser humano é o
produto de uma hereditariedade infindável que o precede e de
um ambiente infinito que o rodeia".
J. Rachels, Problemas de Filosofia (adaptado)
“no passado, alguém pecou contra eles”

• “Não sei o que levou estes rapazes a realizar esse ato louco, mas sei
que houve uma razão para que o tenham realizado. Sei que não o
produziram por si. Sei que qualquer uma de um número infindável de
causas que remontam ao começo pode ter atuado na mente destes
rapazes — que vos pedem para enforcar por malícia, ódio e injustiça
— porque, no passado, alguém pecou contra eles.”
• Darrow descreve Loeb como alguém que, na infância,
esteve privado do afeto de que um rapaz precisa, tendo
passado os dias a estudar e as noites a ler secretamente
histórias de crimes enquanto fantasiava cometer o crime
perfeito e enganar a polícia.

• Quanto a Leopold, ele era fraco e não tinha amigos.


Cresceu obcecado com a filosofia do "super-homem" de
Nietzsche, desprezando as outras pessoas e querendo
desesperadamente provar a sua superioridade.

• J. Rachels, Problemas de Filosofia (adaptado)


"A natureza é forte e impiedosa"

• Depois os dois rapazes cometeram um crime que nenhum deles


poderia ter cometido sozinho. Porém, estavam apenas a jogar com a
mão que a natureza lhes dera.

• "A natureza é forte e impiedosa", concluiu Darrow. "Trabalha de uma


forma misteriosa que lhe é própria e nós somos as suas vítimas. Nós
próprios não temos muito a ver com ela.“
• J. Rachels, Problemas de Filosofia (adaptado)
Psychiatrists' ("alienists") phrenological assessments of Mr. Nathan Leopold and Mr. Richard Loeb as they appeared in The Chicago Tribune in the summer of 1924.
https://www.researchgate.net/figure/Psychiatrists-alienists-phrenological-assessments-of-Mr-Nathan-Leopold-and-Mr_fig4_344804194
• O juiz deliberou durante um mês e depois condenou Leopold e Loeb a
prisão perpétua.
• Doze anos mais tarde, Richard Loeb, que fora o instigador do crime, foi
morto numa contenda com outro prisioneiro.
• Nathan Leopold passou trinta e quatro anos na prisão, durante os quais
deu aulas a outros prisioneiros, ofereceu-se como cobaia para
experiências médicas com a malária, dirigiu a biblioteca da prisão e
trabalhou no hospital da prisão. Depois de ficar em liberdade
condicional, foi viver para Porto Rico, onde continuou a esforçar-se até
ao fim da vida por se "tornar novamente um ser humano", sobretudo
através de trabalhos que implicavam ajudar os outros. Morreu em 1971.
J. Rachels, Problemas de Filosofia (adaptado)
https://www.google.com/url?sa=i&url
Kevin Spacey portraying Clarence Darrow. Closing speech in the Leopold & Loeb
trial (7mn):
https://www.youtube.com/watch?v=QQzN9mtvLvM
Excertos do discurso de Clarence Darrow no julgamento:

• Darrow Denounces Cry for Blood:

• I have heard in the last six weeks nothing but the cry for blood. I have
heard raised from the office of the state's attorney nothing but the
breath of hate. I have heard precedents quoted which would be a
disgrace to a savage race. I have seen a court urged almost to the
point of threats to hang two boys, in the face of science, in the face of
philosophy, in the face of humanity, in the face of experience, in the
face of all the better and more humane thought of the age.
• We have said to the public and to this court that neither the parents
nor the friends, nor the attorneys would want these boys released.
That they are as they are, unfortunate though it be, it is true, and
those the closest to them know perfectly well that they should be
permanently isolated from society. We have said that; and we mean
it. We are asking this court to save their lives, which is the least and
the most that a judge can do. (…)
• I know your Honor stands between the future and the past. I know
the future is with me, and what I stand for here . . . . I am pleading
for life, understanding, charity, kindness, and the infinite mercy that
considers all. I am pleading that we overcome cruelty with kindness
and hatred with love. I know the future is on my side. You may hang
these boys; you may hang them by the neck until they are dead. But
in doing it you will turn your face toward the past.
Is Dickie Loeb to blame because out of the infinite forces that conspired
to form him, the infinite forces that were at work producing him ages
before he was born, that because out of these infinite combinations he
was born without it? If he is, then there should be a new definition for
justice. Is he to be blamed for what he did not have and never had? Is he
to blame that his machine is imperfect? Who is to blame? I don't know. I
have never been interested so much in my life in fixing blame as I have in
relieving people from blame. I am not wise enough to fix it. I know that
somewhere in the past that entered into him something missed. It may
be defective nerves. It may be a defective heart, liver. It may be defective
endocrine glands. I know it is something. I know that nothing happens in
this world without a cause.
“Não existem crimes”
“Na verdade, não acredito minimamente no crime. No sentido habitual da
palavra, não existem crimes. Não acredito em qualquer distinção entre as
verdadeiras condições morais das pessoas que estão dentro e das que estão
fora da prisão. São iguais.
Do mesmo modo que as pessoas que estão aqui dentro não poderiam ter
evitado estar aqui, as pessoas que estão lá fora também não poderiam ter
evitado estar lá fora. Não acredito que as pessoas estejam na prisão porque o
mereçam. Estão na prisão apenas porque não puderam evitá-lo, devido a
circunstâncias que ultrapassam inteiramente o seu controlo e pelas quais não
são minimamente responsáveis.”

• Clarence Darrow, Excerto de uma conferência aos presidiários da Prisão de Cook County (1902)
Determinismo radical (incompatibilismo)

Teoria filosófica que defende que todos os


acontecimentos do mundo, incluindo as ações humanas,
são provocados por uma cadeia causal. Cada
acontecimento é a consequência necessária de
acontecimentos anteriores e das leis da natureza.
Logo, nenhuma das nossas ações é livre. A liberdade é
uma ilusão.
A liberdade é incompatível com o determinismo.
Determinismo radical (incompatibilismo)
• Todos os acontecimentos são causalmente
determinados por acontecimentos anteriores e pelas
leis da natureza.
• As escolhas e ações humanas são acontecimentos.
• Logo, todas as ações humanas são causalmente
determinadas por acontecimentos anteriores e pelas
leis da natureza.
Determinismo natural de Pierre-Simon Laplace (Cientista francês 1749-
1827)

• Nós podemos tomar o estado presente do universo como o efeito do seu


passado e a causa do seu futuro. Um intelecto que, em dado momento,
conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de
todos os itens dos quais a natureza é composta, se este intelecto também
fosse vasto o suficiente para analisar essas informações, compreenderia
numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os
do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim
como o passado, seria presente perante seus olhos.
• Pierre-Simon, Marquês de Laplace, Essai (introdução) https://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre-Simon_Laplace
Os cientistas pressupõem que as leis da natureza que
descobriram se aplicam a tudo no universo, incluindo as
minúsculas partículas que constituem o cérebro e o sistema
nervoso humanos. Quando escolhemos fazer algo —
digamos, apertar um dedo indicador contra o gatilho de uma
arma carregada apontada a um inimigo, impulsos eléctricos
viajam do cérebro para os músculos apropriados do corpo.

Howard Kahane, Thinking About Basic Beliefs (Wadsworth, Belmont, 1983)


Há uma grande quantidade de provas científicas (e nenhumas
contraprovas convincentes) de que estes impulsos elétricos são
causados por outros impulsos no cérebro, que em última instância
são causados por interações químicas algures no corpo (por
exemplo, em várias glândulas que segregam hormonas e na retina
do olho). A noção de uma vontade livre (não-causada) parece,
assim, contraditar alguns princípios científicos muito bem
estabelecidos.
Howard Kahane, Thinking About Basic Beliefs (Wadsworth, Belmont, 1983)
Sobre o texto de Espinosa (p. 150 do manual)

• As ideias de Espinosa sobre o livre-arbítrio eram igualmente controversas.


Era um determinista, o que significa que acreditava que qualquer ação
humana resultava de ações anteriores.

• Uma pedra lançada ao ar, se pudesse tornar-se consciente como um ser


humano, imaginaria que se movia por sua própria vontade, embora isso
não fosse verdade. De facto, aquilo que a movia era a força do
lançamento e os efeitos da gravidade. A pedra pensava que era ela que
controlava o movimento e não a gravidade.
Sobre o texto de Espinosa (cont.)

• O mesmo acontece com os seres humanos: imaginamos que


escolhemos livremente o que fazemos e que temos controlo
sobre as nossas vidas. Mas isto é porque, normalmente, não
compreendemos a origem das nossas escolhas e ações. Na
verdade, o livre-arbítrio é uma ilusão. Não existe qualquer
ação livre espontânea.
• Nigel Warburton, Uma pequena história da filosofia, pp.89,90 (2012)
TIPOS DE DETERMINISMO DA AÇÃO HUMANA:

o Determinismo físico reduz os comportamentos humanos às leis gerais da


natureza, segundo a física clássica: o livre-arbítrio é incompatível com um
mundo regido por leis onde acontecimentos e ações humanas se
sucedem em cadeias causais.

o Determinismo biológico pretende explicar o comportamento dos seres


humanos através de fatores genéticos e, por consequência, são
desresponsabilizados pelos seus atos.

o Determinismo psicológico defende que todo o comportamento humano é


determinado por causas psicológicas inconscientes. Quando alguém
decide, não pode deixar de querer aquilo que quer pois é determinado
pela sua personalidade, crenças e estados psicológicos de medo ou
desejo.

o Determinismo sociológico defende que o comportamento dos seres


humanos é radicalmente determinado por fatores sociais sendo
impossível sair dos limites que lhes foram impostos.
Objeções ao Determinismo radical? Debate…
Como dizer a alguém que não devia ter feito o que fez?

Como condenar ou ilibar alguém?


Como elogiar ou censurar?

Como explicar os sentimentos de culpa, de remorso e de arrependimento?

Como explicar os sentimentos de alegria e orgulho depois de um sucesso?

É possível construir uma sociedade sem a ideia de responsabilidade moral?

Como explicar a vontade de evolução e aperfeiçoamento humano?


O indeterminismo
A crença no determinismo radical parece implicar
a negação da liberdade. O indeterminismo será a
solução para salvar a crença de que somos
livres?
O que defende o indeterminismo?

Um acontecimento não é determinado por leis


causais, mas pelo acaso.
O que defende o indeterminismo?

• A perspetiva indeterminista é inspirada na física quântica


(Werner Heisenberg, Erwin Schrodinger, Niels Bohr). Estes
físicos do século XX, para descreverem o comportamento das
partículas no interior dos átomos, introduziram o conceito de
acaso.
• What is the Heisenberg Uncertainty Principle? 4.43mn:
• https://www.youtube.com/watch?v=TQKELOE9eY4

• Dizer que um acontecimento tem uma causa não implica que o


acontecimento seja um efeito inevitável da causa. Acontece
devido à intervenção do acaso.
A intervenção do acaso pode fundamentar o livre-arbítrio?

• Ações imprevisíveis são ações que escapam ao nosso


controlo. Logo, não dependem da nossa vontade.
• Se uma ação humana se deve à intervenção do acaso e não à
intervenção do agente, então, não é controlada por ele, não
é o autor da ação e, portanto, não pode ser responsabilizado
por ela.
• Só somos responsáveis pelas ações que resultam da nossa
vontade e não do acaso.
Em conclusão…
• O determinismo radical é compatível com o livre arbítrio?
• NÃO, é incompatível (incompatibilismo), porque:
• Uma ação inevitável não é livre porque é algo que me acontece e não
algo que eu escolho.
• O indeterminismo é compatível com o livre arbítrio?
• NÃO, é incompatível (incompatibilismo), porque:
• Uma ação resultante da intervenção do acaso também não é livre
porque é algo que me acontece e não algo que eu escolho.
• Dilema do determinismo: animação de William Godoy (5.44mn):
• https://filosofianaescola.com/metafisica/determinismo/
• Determinismo e livre-arbítrio: somos livres ao fazermos nossas escolhas? (5.43mn):
• https://www.youtube.com/watch?v=uBsAiO6ua_k
Qual foi a tese que o Calvin apresentou? A mãe
aceitou?
Determinismo moderado (compatibilismo)
• Ainda que o determinismo seja verdadeiro, podemos ter livre-arbítrio.
• As nossas ações são ao mesmo tempo livres e determinadas.
• Há compatibilidade entre livre-arbítrio e determinismo.
• O que são ações livres?
A sua causa imediata são estados psicológicos do agente: a vontade
de realizar desejos, motivos, emoções, crenças.
O agente não é impedido por fatores externos de realizar a ação.
Na ausência destes obstáculos, o agente pode fazer o que tem
vontade de fazer.
Determinismo moderado (compatibilismo)
• O que é uma ação livre? • O que é uma ação não livre?

• Ação cujas causas imediatas • Ação cujas causas imediatas


são estados internos do sujeito são fatores externos que o
(a vontade do agente). agente não pode controlar.

Não somos livres de escolher o que nos acontece ( ter nascido certo dia, de certos
pais, em tal país, ser bonitos ou feios), mas somos livres de responder desta
maneira ou daquela ao que nos acontece (obedecer ou revoltar-nos, ser prudentes
ou temerários, vestir-nos de acordo com a moda ou não).
Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, p.26 (adaptado)
De onde vêm os remorsos?
• Agindo mal e dando-nos conta disso, compreendemos que estamos já
a ser castigados, que nos mutilámos a nós próprios – pouco ou muito
– voluntariamente. Não há pior castigo do que darmo-nos conta de
estarmos a sabotar, com os nossos próprios atos, aquilo que na
realidade queremos ser…
• Porque – de onde vêm os remorsos?
• Para mim é claríssimo:
• da nossa liberdade.

Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, p.79 (adaptado)


• Escritor e filósofo espanhol, catedrático de Ética na Universidade do País Basco (n.1947)
(1) Temos possibilidades alternativas se, e só se, há situações em que, caso
tivéssemos escolhido fazer outra coisa, teríamos feito outra coisa.

(2) Ainda que o determinismo seja verdadeiro, há situações em que, caso


tivéssemos escolhido fazer outra coisa, teríamos feito outra coisa.

(3) Ainda que o determinismo seja verdadeiro, temos possibilidades


alternativas.

(4) Se temos possibilidades alternativas, podemos ter livre-arbítrio.

(5) Logo, ainda que o determinismo seja verdadeiro, podemos ter livre-
arbítrio. (manual, p. 151)
A liberdade implica responsabilidade?

• Sermos responsáveis é sabermo-nos autenticamente livres,


para o bem e para o mal: assumirmos as consequências do
que fizemos, emendar o mal que possamos emendar e
aproveitarmos o bem ao máximo. Ao contrário da criança
malcriada e cobarde, o indivíduo responsável está sempre
pronto a responder pelos seus atos: “Sim, fui eu!”. (…)
• Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, p.80 (adaptado)
A liberdade implica responsabilidade?

• Todos os que querem demitir-se das suas responsabilidades


acreditam no irresistível, naquilo que subjuga sem remédio, seja a
propaganda, a droga, o apetite, o suborno, a ameaça, a maneira de
ser… qualquer coisa serve. Quando aparece o irresistível, zás,
deixamos de ser livres e convertemo-nos em fantoches a que não é
possível pedir contas.
• Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, p.80 (adaptado)
O que é ser responsável?
• Responsabilidade é saber que cada um dos meus atos me vai
construindo, me vai definindo, me vai inventando. Ao escolher aquilo
que quero, vou-me transformando pouco a pouco. Todas as minhas
decisões deixam a sua marca em mim antes de a deixarem no mundo
que me rodeia.
• E, evidentemente, depois de aplicada a minha liberdade em ir-me
construindo um rosto, já não posso queixar-me ou assustar-me com o
que vejo no espelho quando me olho…

Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, p.81, 82 (adaptado)


Não somos forçados a fazê-las

• Naturalmente, tudo no mundo é


determinado mas, apesar de tudo,
algumas ações são livres. Dizer que
são livres não é negar que sejam
determinadas; é afirmar que não são
constrangidas.
• Não somos forçados a fazê-las.
John Rogers Searle
(Denver, n. 1932) USA
• John Searle, Mente, cérebro e ciência.
Filósofo e escritor
professor da Universidade de Berkeley,
Objeções ao determinismo moderado
• O determinismo moderado não distingue claramente as ações livres
de ações não livres:
• Se as causas de uma ação estão em mim (nas minhas crenças e
desejos), então, são livres. Serão?
• Se não são causadas pelas crenças e desejos que constituem a minha
personalidade, então não são livres.

• Até que ponto podemos responsabilizar alguém pelas suas ações?


O libertismo defende que:

 Algumas ações humanas não são nem causalmente determinadas nem


produto do acaso; são ações livres se não forem mais um elo numa longa
cadeia de causas e efeitos e o agente é responsável por elas.

 As ações do ser humano só são livres se a vontade iniciar uma nova sequência
causal de acontecimentos. É o agente criador que controla essa nova cadeia
de causas e efeitos que decorre das suas deliberações.

 As ações não são necessariamente causadas por acontecimentos anteriores.


As condicionantes da ação nada determinam à partida pois, segundo JP Sartre,
o ser humano não tem uma essência anterior à existência. Aquilo que é resulta
das escolhas livres que faz.
Uma proposta libertista

• Jean-Paul Sartre (1905 - 1980), filósofo,


escritor e crítico francês,
representante do existencialismo.
Acreditava que os intelectuais têm de
desempenhar um papel ativo na
sociedade.
• Era um artista militante, e apoiou
causas políticas de esquerda com a
sua vida e a sua obra.
• Recusou receber o prémio Nobel da
Literatura de 1964.
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre
Ser é escolher-se…

• Para a realidade humana, ser é escolher-se: nada lhe vem de fora,


nem tão-pouco de dentro, que possa receber ou aceitar. Está
inteiramente abandonada, sem auxílio de nenhuma espécie, à
insustentável necessidade de se fazer ser até ao mais ínfimo
pormenor.

• O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é inteiramente e
sempre livre, ou não é.

Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada


Antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma
• O homem começa por existir, isto é, o homem é de início o que se
lança para um futuro e o que é consciente de se projetar no futuro.
• O homem é primeiro um projeto que se vive subjetivamente (…); nada
existe previamente a esse projeto; nada existe no céu ininteligível, e o
homem será em primeiro lugar o que tiver projetado ser.
• Mas, se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é
responsável por aquilo que é.
• Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem
no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da
sua existência.
• Jean-Paul Sartre, O Existencialismo é um Humanismo
O homem está condenado a ser livre
• Se, na verdade, a existência precede a essência, não é possível uma
explicação por referência a uma natureza humana dada e hirta; dito
de outro modo, não há determinismo, o homem é livre, o homem é
liberdade.
• Se Deus não existe, não encontramos em face de nós valores ou
ordens que legitimem a nossa conduta.
• Assim, não temos nem por detrás de nós nem à nossa frente, no
domínio luminoso dos valores, justificação ou desculpas.
• Estamos sozinhos, sem desculpa. É o que exprimirei dizendo que o
homem está condenado a ser livre.

• Jean-Paul Sartre, O Existencialismo é um Humanismo


Cumpre que alguém invente os valores
• Se suprimi Deus Pai, cumpre que alguém invente os
valores. Temos de tomar as coisas como elas são.
• Aliás, dizer que inventamos os valores não significa senão
isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de vivermos, a
vida é coisa nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe
um sentido, e o valor não é outra coisa senão o sentido
que tivermos escolhido.

• Jean-Paul Sartre, O Existencialismo é um Humanismo


Objeções ao libertismo

• Objeção da ilusão:
• Segundo os deterministas radicais, a ilusão de que temos
livre-arbítrio deve-se ao facto de termos consciência dos
nossos desejos, mas ignoramos as causas que os
determinam. (t. p. 150, de Espinosa)

• Logo, o livre-arbítrio é uma ilusão!


Objeções ao libertismo

• Objeção da aleatoriedade:
• Segundo os deterministas moderados, os libertistas estão
errados ao defenderem que as ações livres não podem ser
determinadas por acontecimentos anteriores e pelas leis da
natureza. Se uma escolha não for determinada por
acontecimentos anteriores, não é livre, é aleatória, acontece
por acaso. Portanto, não podemos controlar.
• Logo, não é uma ação livre.
Orientações para o estudo autónomo

• Estudar o capítulo 4 do manual: p. 132 a 159.

• Responder, por escrito, a todas as atividades deste capítulo.


• Sugestões:
• Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença
• Determinismo e livre-arbítrio: somos livres ao fazermos nossas escolhas?
• https://www.youtube.com/watch?v=uBsAiO6ua_k
• No Jardim da Filosofia - Peter van Inwagen sobre o problema do livre-arbítrio (10.41mn)
• https://www.youtube.com/watch?v=YxGi0yilxF4

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