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Quadrinhos e Alfabetização: algumas considerações*

Natania Nogueira
Gibiteca Escolar
E.M. Judith Lintz Guedes Machado

A leitura se faz de formas diversas. Desde bem cedo as crianças aprendem a


“ler” o mundo que a cerca, aprendo suas regras, adaptando-se ao seu modo de agir. O
letramento é apenas uma das formas de leitura da qual temos necessidade de apreender
para melhor conviver (ou mesmo sobreviver) em sociedade.

As crianças já são capazes de efetuar formas de leitura avançadas muito antes de


iniciar sua alfabetização. Uma destas formas é a leitura de quadrinhos. Os quadrinhos,
por não terem necessidade exclusiva do texto, podem ser usados desde a educação
infantil como uma forma de pré-alfabetização.

Temos realizado na escola, por meio da gibiteca, muitas experiências com


quadrinhos, na educação infantil e no ensino fundamental I. A professora de educação
infantil, Marília Fontes tem levado seus alunos de cinco anos de idade para a gibiteca
onde ela deixa-os folhear as histórias em quadrinhos infantis – em especial as da Turma
da Mônica, que são as mais apreciadas pelas crianças. Ela faz a leitura em voz alta de
uma historinha e depois trabalha com eles tirinhas da turma da Mônica, sem balões.
Durante a atividade a professora procura estimular as crianças a falar aquilo que estão
vendo.

Observe a tirinha abaixo. Mesmo sem usar palavras ela passa uma mensagem.
Para descobrir esta mensagem os leitores têm que interpretar as imagens.
A leitura da imagem, quadro a quadro, pode ser usada para promover discussões
em torno da história e uma simples tira pode se tornar tema de uma aula, seja em uma
turma não-letrada, de educação infantil, seja em uma turma do 9º ano.

Ao contrário do que psicólogos e educadores das décadas de 50 e 60 afirmavam,


ler quadrinhos ajuda a desenvolver o raciocínio das crianças, pois muitas vezes elas são
obrigadas a descobrir o que acontece entre um quadro e outro. Olhe a tira abaixo, a ação
está omitida entre o quadro dois e o quadro três. Cabe ao leitor descobrir, interpretar as
imagens e tirar suas conclusões:

Leitura de quadrinhos é uma atividade complexa e que requer o


desenvolvimento de várias habilidades de observação. São poucos os alunos, mesmo de
ensino superior que tem competência para ler quadrinhos, tanto que podemos observar
em provas de concurso uma grande dificuldade de interpretação de questões quando elas
envolvem imagens.

Introduzir quadrinhos durante a alfabetização pode ser uma estratégia para a


formação de leitores mais competentes. Invariavelmente, muitos leitores de quadrinhos
acabam se interessando por outras formas de leitura e pela literatura. Leitores de
quadrinhos são leitores completos: lêem de tudo.

Atividades com quadrinhos durante a alfabetização podem contribuir ainda para


o desenvolvimento da escrita. As crianças da educação infantil lêem os quadrinhos e
depois falam sobre o que lerem, exercitando seu discurso oral. As crianças em
alfabetização lêem quadrinhos e escrevem sobre o que leram, aprimorando sua
capacidade dissertativa.
O vocabulário também acaba se enriquecendo, uma vez que novas palavras são
assimiladas pelos alunos. É claro, deve haver critério no uso dos quadrinhos. A
professora deve ler antes de mandar seus alunos lerem. Ela deve ter um objetivo
específico para o trabalho que deseja realiza com quadrinhos. O ato de ler quadrinhos
não dever nunca estar dissociado de uma finalidade. Ler pelo simples ato de ler, é uma
ação recreativa. Usar quadrinhos na sala de aula é uma ação didática.

* Este texto pode ser utilizado livremente, desde que seja citada a fonte e o autor.
** Texto produzido em 19 de outubro de 2009.

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