FORMACAO DE FORMADORES MUNICIPAIS
PACTO COM MUNICIPIOS
Encontro de Formacao- Ano 2012
[SEERA DA EDUCA
CONCEPGAO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E
ESCRITA SEGUNDO EMILIA FERREIRO'
Para entender como a crianga chega aquisicao da leitura e da escrita, & preciso
compreender como ela aprende.
Existem duas concepgdes de aprendizagem:
a) A crianga como um ser passivo, apenas recebe e acumula informagées; portanto a
aprendizagem é memorizagao, reprodugao mecénica.
b) Acrianga como um ser ativo, constréi seu conhecimento a partir da exploragao do mundo.
Na primeira concepeao, o professor detentor do saber, considera o aluno como se fosse
um “saco vazio” onde serio depositados os conhecimentos.
Na segunda concepedo, o professor é 0 facilitador da aprendizagem, desafiando e
criando situagdes que favorecam novas descobertas para o aluno, ser cognoscente, capaz de
pensar, criar, recriar, refletir, conceituar. A aprendizagem é determinada pela maturacéio
biolégica, pelas experiéncias que a crianca vive e informagses recebidas do meio (interacao).
Esta proposta se define pela segunda concepeao. O processo da alfabetizacdo se
enriquece com as contribuigbes dos fundamentos da Psicogénese da Escrita, de autoria da
Dra. Emilia Ferreiro, cuja pesquisa prova que a crianga é o elemento central do processo de
aprendizagem e evolui neste proceso passando por estagios de desenvolvimento cognitive
na construgao da aprendizagem da escrita, tais como:
labico
0
* Silabico-alfabético
* Alfabético
Para que a crianga evolua nos referidos estagios - criando, elaborando, recriando,
conceituando, estabelecendo relagdes no sistema de escrita, 0 professor deve compreender
que 0 processo de alfabetizacao se fundamenta em conhecimentos adquiridos de duas
naturezas: conceitual e convencional ou social
O conhecimento de natureza conceitual se processa a partir do interior dos individuos,
isto €, de dentro para fora (intrinseco) e se respalda nas experiéncias anteriores, por isso
Unico para cada individuo. O aprendiz recebe as informagdes e gradativamente, através dos
esquemas mentais, vai levantando hipéteses, criando, recriando, elaborando, estabelecendo
relagdes, conceituando, generalizando e finalmente aplicando; neste momento acontece a
verdadeira aprendizagem, ou seja, a construgéio do conhecimento. O conhecimento de
natureza conceitual s6 podera se processar se o professor permitir a acdo e interagao com 0
objeto do conhecimento,
" sania, Secretaria da Educacéo do Estado da Bahia. Proposta Pedagéoica para Classes de Acoleracdo. Salvador:
‘SEC, 2003.No caso da aquisicao da representagao do sistema de escrita, a natureza conceitual do
conhecimento se dé do estagio pré-silabico até 0 estagio alfabético, quando o suieito
conceitua que a escrita representa as unidades sonoras da fala. O conhecimento de natureza
convencional ou social se fundamenta em informagdes arbitrarias, ou seja, todo saber
atbitrério acumulado pelo homem, através dos tempos, estabelecido pelo padrao social
dominante,
E necessério que se registre: as naturezas dos conhecimentos nao ocorrem em
momentos estanques. Toda vez que o aluno elabora um conceito, para que ele evolua, é
necessério a intervengao do professor com a informacao social (natureza convencional)
devida, para que ele reelabore e volte a conceituar.
* Estagio Pré-sildbico: neste estdgio a crianga expressa seu pensamento através de
desenhos, rabiscos ou garatujas e letras aleatérias. Ela ainda nao faz correspondéncia sonora
entre as letras, existe auséncia de fonetizagao nesta fase da escrita, passando por niveis
diferentes e evolugao, tais como:
* Nivel icénico: neste nivel a expresso do pensamento se dé somente através de
desenhos, nao tendo nogao da escrita no sentido propriamente dito,
* Nivel nao icénico: nivel de maior desenvolvimento cognitivo, quando a crianca passa por
diferentes formas de expressao da escrita:
a) Ela evolui do icdnico, pois além, do desenho, expressa seu pensamento através de
garatujas e rabiscos; ja inicia neste momento, 0 conceito da escrita, mas nao conhece ainda
as letras do alfabeto e seu valor sonoro correspondente (conhecimento convencional ou
social).
b) Ela ja conhece algumas letras do alfabeto, mas as usa aleatoriamente, pois ndo faz
enhuma correspondéncia sonora entre a fala e a escrita, ocorrendo nesta fase os eixos
quantitativo e qualitativo.
No inicio do eixo quantitative, a crianga acha que para se escrever alguma coisa s4o
necessérias, no minimo, trés letras; escreve com letras iguais para palavras diferentes
Ex: OST —tomate
OST — cavalo
OST — pao
Neste momento, ela tenta diferenciar 0 que escreve e nao consegue, entra em contlto,
e al, através de desafios, no eixo quantitativo, vai evoluindo, aumentando a quantidade de
letras na palavra; dependendo do repertério que possui, ira repetindo as letras ou colocando
novas.
Ex: OSTV — tomate
OSTV 5 - cavalo
OSTV 55 - pio
Paralelamente, ao eixo quantitativo ainda tentando diferenciar o que escreve, aparece 0
2ixo qualitative, momento em que ela vai variando as letras nas palavras, mudando a sua
posigao.
Ex: OSVT- tomate
5VTOS - cavalo
‘TVOSSS — paoDurante os diferentes niveis do estagio pré-silébico, a crianca encontra-se no Realismo
‘Nominal, quando ainda ndo consegue desassociar a palavra do objeto que a representa, isto
6, a palavra (significante) e 0 proprio objeto (significado); ela ainda nao tem o conceito de
palavra como uma sucesséo de sons que se combinam.
Ex: No inicio ela acha que a palavra formiguinha é pequena porque o animal pequeno, que
a palavra trem é grande porque trem é grande, depois vai evoluindo no conceito de palavra
acha que formiguinha 6 grande porque tem muitas letras e trem & pequeno porque tem
poucas letras. Dé-se ai uma evolucdo intelectual muito grande, a superacéio do_Realismo
Nominal que deve acontecer no final do estagio pré-silabico.
Através de desatios e estimulos do professor 0 aluno evolui desta fase (pré-silabico)
para a percepeao da fonetizagao, ou seja, a correspondéncia sonora entre o que se fala e 0
que se escreve, através dos sons das palavras e as letras que as foram, evoluindo assim,
para o estagio seguinte, 0 silébico.
* Silébico
Neste estagio, a crianga j4 comeca a perceber a correspondéncia sonora entre a fala e
a escrita, respeitando, inicialmente, apenas 0 critério quantitativo, fazendo corresponder uma
letra qualquer para cada emissao oral (silaba); ou seja, desprezando ainda o valor sonoro de
cada letra — eixo quantitativo. Aos poucos, passa a respeitar o valor sonoro usando uma das
letras correspondentes a silaba representada, vogal ou consoante — eixo qualitativo. Inicia-se
a fonetizacao.
Exemplo de escrita:
No eixo Quantitativo No eixo Qualitative
iet aio
pa ti nho pa ti nho
Percebe-se claramente 0 conceito que ela faz da sonoridade das letras do alfabeto e ja
alguma correspondéncia sonora da letra que escreve, sem contudo, registrar todos os sons
da palavra. Os sons das palavras sao ouvidos e registrados parcialmente. Em cada silaba de
uma palavra é ouvida e registrada apenas uma letra, isto é, cada silaba é representada
apenas por uma letra.
Ex:
Casa Ri-car-do Bo-ne-ca Tiago Ma-ri-po-sa
aa oea iao a
* Silabico-alfabético
Como 0 préprio nome sugere um estagio entre o silébico e 0 alfabético. O aluno
através de desatios vai evoluindo de um estagio para o outro, porém seus escritos revelam
resquicios do estgio anterior, ou seja, 0 silabico. Dependendo da evolugao da escrita da
crianca, esta vai se revelando mais alfabética, até evoluir definitivamente para 0 estdgio
alfabético,
O pato nada no rio.