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Mitologias

(Roland Barthes)

SIGNOS DO MUNDO BURGUS Mitologias, de Roland Barthes, traduo de Rita Buongermino e Pedro de Souza, So Paulo, Difel, 1982. Mythologies, Paris, Seuil, 1957. Reedio em livro de bolso, Seuil, 1970 Srgio Vallverde Qual a razo de um intelectual refinado e j especializado como Roland Barthes, autor de um livro difcil como O Grau Zero da Escritura, se interessar por assuntos to corriqueiros, andinos e pouco culturais? Por impacincia, como ele mesmo explicou depois. Porque algo o incomoda profundamente no modo como esses mitos se veiculavam, na confuso entre Natureza e Histria sobre a qual eles se instalavam. O prprio desses discursos (fossem eles verbais ou icnicos) era apresentarem-se com uma aparncia de naturalidade absoluta, como aquilo que simplesmente assim, que o senso comum no discute, mas apenas aceita. Barthes resolveu dedicar total ateno a estes mitos partindo de observaes quase bvias, pois vai estabelecendo relaes insuspeitas para o consumidor desprevenido, at que a notcia, o espetculo, a imagem se revelam, de repente, como algo diferente daquilo que pareciam ser. No livro tem-se o conceito de mito em seu sentido corrente de falsa evidncia, de mentira aceita por uma comunidade. Os mitos que atraam a ateno de Barthes eram certas representaes da vida cotidiana, menores e aparentemente inocentes: uma notcia de jornal sobre as famlias reais europias, um texto qualquer de publicidade, espetculos esportivos ou erticos (a luta livre ou o strip-tease), fotografias de atores ou de polticos, enfim, o que ocupa o pblico mdio em suas horas de lazer. O autor analisa o embuste na prpria forma de mensagem que, desmontada, revela sua artificialidade. Ora, a eficcia da mensagem ideolgica reside justamente no fato de ela se apresentar como transparente, sem nenhuma inteno. Apontar o arranjo oculto de suas formas naturais fazer desmoronar no ato as idias que ela veicula. O prprio Barthes declarou em entrevista, que o leitor ficar mais desconfiado daquilo que se consome como informao ou lazer inofensivos. Estes argumentos demonstram que as mitologias so, realmente, uma ginstica ou um estimulante da inteligncia.

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