Sem título

Meu All Star desamarrado e o barulho que faço ao fumar não dizem quem sou eu. A
minha hipocrisia, minha falsidade, minha vaidade, minha maldade. São elas que me
descrevem, me resumem. A obrigação de ser outro me cansa. A garrafa de água
presa ao lado da minha mochila está agora sempre vazia.
Minhas idéias são rebatidas todos os dias e sempre penso que sou o único no
mundo a enxergar aquilo que vejo. Pensando bem, não estou errado. Ninguém nunca
verá, ao mesmo tempo, as coisas que vejo, do ângulo que vejo. Afinal, apenas eu
ocupo o meu lugar e nada nem ninguém pode compartilhar o mesmo ar que respiro.
Meu quarto já cansou de ser o único a ver minhas lágrimas escorrerem do meu
rosto, ou testemunhar um súbito de desejo da minha carne. As paredes que me
rodeiam no último cômodo da minha casa estão descascadas e já pedem uma nova
pintura. Não podem mais receber as minhas raivas o meu ódio.

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