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CAPITULO VIII

TRATADO DE DIREITO PRIVADO

PARTE ESPECIAL

TOMO XXIX

Direito das Obrigações: Administração da massa falencial. Restituições e vindicações.


Verificação de créditos. Classificação de créditos. Inquérito judicial.
Liquidação. Extinção das obrigações.

PARTE VI

Administração da massa falencial

SÍNDICO

5 3.871.Problema técnico da administração do patrimonio e disposição dos bens da


massa falencial. 1. Técnica legislativa e figura do síndico. 2. Função do síndico e sua
natureza 3.Indelegabilidade da função do síndico
1 8.372.Nomeação do sindico. 1. Ato judicial da nomeação. 2. Pessoas que não podem
ser nomeadas
•8.373. Reclamação contra a nomeação do sindico. 1. Causas da reclamabilidade. 2.
Legitimação ativa. 3.Tempo para a reclamação. 4. Recurso

CAPÍTULO II

FUNÇÕES DO SÍNDICO

• 3.374.Promessa de execução. 1. Investidura. 2. Assinatura por procurador com


poderes
especiais. 3. Declaração de crédito do síndico credor
•3.375. Enumeração das funções do sindico. 1. Funções principais. 2.Dever de
publicidade. 3. Deveres quanto à correspondência. 4. Dever de arrecadar. 5. Dever de
recolhimento de quantias. 6. Dever quanto à escrituração. 7. Dever quanto à avaliação.
8. Dever de organizar a administração. 9. Dever de Informar. 10. Dever de colher
informações. 11. Dever quanto à fiscalização e classificação dos créditos. 12. Dever de
comunicar o montante. 13. Dever de apresentar exposição. 14. Dever de evitar
prejuízos aos bens. 15. Dever de atividade jurídica. 16. Dever de remição. 17. Dever
de propor ações. 18. Dever de pedir medidas e diligências necessárias. 19. Dever de
transigir. 20. Dever de apresentar relatório. 21. Dever de garantia, em caso de
concordata suspensiva. 22. Dever de apresentar contas. 23. Dever de entrega dos bens,
livros e assentos
1 8.376. Poderes para a realização do atito e pagamento aos credores.
1.Concentração de poderes . 2. Inicio da liquidação.
• 3.377.Substituição e destituição do síndico. 1. casos de substituição. 2. Destituição
do síndico. 3. Legitimação para pedir a destituição do síndico. 4. Audiência do síndico
e do órgão do Ministério Público. 5. Provas das infrações e outras causas. 6. Recurso
37
§ 3.378.Remuneração do síndico. 1. Síndico, funções e remuneração.
2.Direitos reais limitados e remuneração do síndico. 3. Mo. mento em que se faz o
CAPITULO VIII

cálculo da remuneração. 4. Síndico nomeado com infração da lei, síndico renunciante


e síndico destituído. 5. Momento em que se faz o pagamento da remuneração do
síndico. 6. Recurso
§ 3.379.Responsabilidade do síndico. 1. Má administração e infração de lei. 2.
Legitimação ativa
§ 3.380.Prestação de contas pelo síndico. 1. Ação de prestação de contas proposta
pelo síndico. 2. impugnação e não-impugnação. 3. Recurso. 4. Ação de prestação de
contas proposta contra o síndico. 5. Alcance. 6. Prisão do síndico...

CAPÍTULO III

ARRECADAÇÃO E GUARDA DOS BENS, LIVROS E DOCUMENTOS DO


FALIDO
§ 3.381.

§ 3.382.

§ 3.383.

§ 3.384.

§ 3.385.

§ 3.386.
Conceito de arrecadação. 1. Arrecadar, arrecadar. 2. Função do síndico
Atos da arrecadação. 1. Posse e arrecadação. 2. Presença do órgão do Ministério
Público
Bens arrecadáveis. 1. Bens arrecadáveis e bens inarrecadáveis. 2. Cartas precatórias.
3. Posse mediata e posse imediata Inventário dos bens arrecadados.
1. Inventariação . 2. Formalidades do inventário. 3. Conteúdo do inventário
Guarda dos bens arrecadados. 1. Síndico e guarda dos bens. 2.Venda de bens
arrecadados antes da fase da liquidação.
Inventario negativo e inventário deficiente. 1. Comunicação da negatividade ou da
deficiência. 2. Requerimento de continuação do processo da falência. 3. Cessação do
processe falencial por inexistência ou insuficiência de bens

CAPÍTULO IV

CONTINUAÇÃO DO NEGÓCIO DO FALIDO

• 3.387.Possibilidade e conveniência da continuação do negócio. 1. Exame das


circunstâncias. 2. Gerência do negocio continuado
§ 3.388.Função e remuneração do gerente. 1. Depositário dos bens entregues. 2.
Fiscalização pelo síndico e assentos das operações. 3. Depósito das importâncias
recebidas. 4. Salário do gerente. 5. Retirada das funções do gerente

CAPITULO V

PRETENSÕES CONTRA A ARRECADAÇÃO

• 3.389.Direitos, pretensões, ações e exceções. 1. Arrecadação e constrição. 2.


Incursão na esfera jurídica do terceiro. 3. Reivindicação e pretensão à restituição
“stricto sensu”. 4. Es-e habitação. 6. Coisas vendidas a crédito, com tradição ao falido.
7. Ação de restituição sem vindicatoriedade. 8. Contrato de compra e venda e
CAPITULO VIII

transmissão da propriedade. 9. Contrato de mandato civil e de mandato mercantil. 10.


Falência, negócios jurídicos fiduciários e outros negócios jurídicos com tradição. 11.
Comodato e locação, tradição da posse imprópria. 12. Consignação e comissão
mercantil, tradição.13.Depósito irregular e conta corrente bancária. 14. Empregados e
desconto nos salários. 15. Tradição por empresas de transportes e restituição. 16.
Restituições e decisões anteriores de outro juízo
§ 3.390.Pedido de restituição. 1. Pretensão à restituição. 2. Legitimação ativa. 3.
Petição. 4. Contestação e presseguimento sem contestação. 5. Sentença na ação de
restituição «lato sensu” e na ação de restituição “stricto sensu”. 6. Recurso. 7. Custas e
despesas
§ 3.391.Eficácia do ato de arrecadação e do pedido de restituição. 1.Arrecadação,
medida constritiva. 2. Valor restituível. 3.Rateio entre pessoas com direito à restituição
§ 3.392. Embargos de terceiro. 1. Terceiro e direito contra a arrecadação. 2.
Indisponibilidade. 3. Legitimação ativa. 4. Legitimação passiva. 5. Prazo para os
embargos de terceiro. 6.Recurso

PARTE VII

Verificação dos créditos e admissão ao concurso de credores falencial

CAPITULO 1

CONVITE À DECLARAÇÃO DE CRÉDITOS E DECLARAÇÃO DE CRÉDITOS

§ 3.393.Atos do síndico após a abertura da falência. 1. Execução celetiva, decretação


de abertura da falência e “invitatio ad declarandum” feita aos credores. 2. Abertura ou
decretação da falência. 3. Verificação de créditos e execução forçada. 4. Natureza da
invitação a declarar crédito. 5. Encargos da massa e dívidas da massa. 6. Juízo para
todos os credores
§ 3.394.Apresentação dos credores. 1. Declaração de créditos. 2. Prazo para as
declarações de crédito. 3. Teor das declarações de crédito. 4. Credores pré-
processualmente capazes. 5. Credores processualmente capazes. 6. Capacidade
postulacionaL 7. Legitimação “ad causam”. 8. Crédito por enriquecimento cambiário,
9. Créditos constantes de sentença transitada em julgado. 10. Ações propostas antes da
decretação da falência e presseguimento excepcional. 11. Créditos ilíquidos. 12.
Crédito de coisa certa. 13. Créditos de prestação de “facere” ou de abstenção de
“facere”. 14. Créditos de sócios de responsabilidade limitada. 15. Forma e conteúdo da
declaração de crédito 16.Modificação e retirada da declaração de crédito. 17. Títulos e
documentos. 18. Pluralidade de créditos do mesmo credor ou dos constituintes do
mesmo representante, ou das pessoas jurídicas que em por orgau a IUUMUIE
pvomrn. ..«. 20.Recibos dos documentos. 21. Eficácia da apresentação da declaração
de crédito
3.395.Atos das declarações de crédito. 1 Segunda fase do procedimento das
declarações de crédito. 2. Atos do escrivão. Impugnações eventuais. 4.
Litisconsorcialidade necessária 157
3.396.Informação do falido e parecer do síndico. 1. Oportunidade da audiência do
falido. 2. Lugar em que se lança a informação do falido. 3. Extratos de contas e
documentos oferecidos pelo falido. 4. Parecer do síndico 161
3.397.impugnação pelo falido oi& pelo sindico. 1. Elemento postuscional da
informação do falido ou do parecer do síndico. 2. índice do processo de verificação
dos créditos. 3. Crédito do síndico
8.398. Relações de credores que o síndico tem de apresentar. 1. Entrega das segundas
vias, informações, pareceres e documento. em cartório. 2. Relações dos credores

CAPÍTULO II
CAPITULO VIII

IMPUGNAÇÕES ÀS DECLARAÇÕES DE CRÉDITO

3.399.Impugnações do falido e do síndico. 1. Informação do falido e parecer do


síndico. 2. Impugnação pelo órgão do Ministério Público. 3. Qualidade de autor que
tem o credor impugnante, ou o falido, o síndico ou o órgão do Ministério Público, que
impugne. 4. Impugnações pelos credores. 5. Julgamento dos crêditos não impugnados
8.400.Prazo e legitimação para as impugnações pelos credores. 1. Prazo. 2.
Legitimação para impugnar. 3. Impugnação e eficácia
3.401 Petição de impugnação e contestação. 1. Fundamento da Impugnação pelos
credores. 2. Legitimidade. 3. Juízo competente e provas
3.402.Conclusão e deveres do juiz. 1. Conclusão do juiz. 2. Deveres do juiz. 3.
Audiência de verificação de crédito. 4. Provas
3.403.Sentença de admissão e sentença de não-admissão. 1. Proferimento da sentença.
2. Carga de eficácia das sentenças. 3. Coisa julgada formal e material. 4. Eficácia de
coisa julgada material fora do processo da falência e após o encerramento da falência.
5. Quadro geral dos credores. 6. Recurso. 7. Custas. 8.Títulos e documentos
restituíveis

CAPÍTULO III

AÇÃO DOS CREDORES RETARDATÁRIOS

8.404.Ação, em vez de comparecimento á invitação. 1. Distinção básica. 2. Credores


retardatários. 3. Prazo para as declarações de crédito
3.405. Formação da relação 3uridica processual e entrada na relação
jurídica processual de execução celetiva. 1. Propositura da ação. 2. Publicação. 3.
Contestação. 4. Ministério Público e ações dos credores retardatários
3.406. Julgamento e eficácia sentencial. 1. Conclusão e sentença. 2 Eficácia da
sentença, no tocante ao ativo falencial. 3. Recurso
§ 3.407. Reserva de elementos do ativo. 1. Requerimento de reserva de importâncias
pedidas ou de rateios a que venham a ter direito. 2.Recurso

CAPÍTULO IV

AÇÃO RESCISÓRIA FALENCIAL

§ 3.408.Ação rescisória de sentença (Código de Processo Civil, arts. 798401). 1.


Decisões em matéria falencial. 2. Coisa julgada formal e art. 19 do Decreto-lei n.
7.661. 3. Ação rescisória falencial. 4. Decisões rescindíveis 213
§ 3.409.Ação rescisória segundo o Decreto-lei n. 7.661, art. 99. 1. Conceito. 2. Ação
declaratória de simulação inocente 221
§ 3.410.Pressupostos da ação rescisória falencial. 1. Legitimação ativa. 2. Falsidade.
3. Dolo. 4. Simulação. 5. Fraude contra credores. 6. Erro essencial 7. Documentos
ignorados. 8. Exclusão, outra classificação ou retificação. 9. Processo. 10. Ações
penais. 11. Recurso. 12. Ação rescisória de sentença proferida em ação rescisória
falencial

CAPÍTULO V

CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS

• 3.411.Generalidades. 1. Princípios gerais. 2. Ordem dos créditos. 3. Crédito do


acidentado no trabalho. 4. Créditos fiscais e principio da incolumidade ao concurso de
CAPITULO VIII

credores. 5. Créditos concorrentes


• 3.412.(1) Créditos garantidos com direito real. 1. Precisões. 2. Impostos e outros
tributos. 3. Custas e despesas com a constrição do bem. 4. Salários de trabalhadores
agrícolas. 5. Crédito devido à vitima de acidente do trabalho. 6. Despesas de
conservação do imóvel ou do móvel, feitas por terceiro, com o consenso do devedor e
do credor, depois de constituído o direito real de garantia. 7. Hipoteca judiciária. 8.
Hipoteca de navios. 9. Hipoteca de aeronaves. 10. Anticrese. 11. Renda constituída
sobre imóvel. 12. a) Penhores . 13. b) Penhor industriaL 14. c) Penhor de créditos
garantidos com direito real. 15. d) Cauções de crédito com penhores de crédito
pessoal. 16.e) Bens de valor menor do que o do crédito garantido 239
• 3.413.(II) Créditos com privilégio especial. 1. Conceito. 2. Enumeração dos créditos
com privilégio especial e a Lei de Falências. 3. Créditos a que as leis civis e
comerciais atribuem privilégio especial. 4. Aluguer do prédio locado ao falido. 5.
Créditos a que corresponde direito de retenção253§ 3.414.(III) Créditos por
benfeitorias necessárias e úteis. 1.Benfeitorias necessárias e úteis. 2. Bem em que se
fazem benfeitorias. 3. Relíquia do crédito com privilégio especial .
§ 3.415.(IV) Créditos com privilégio geral. 1. Conceito. 2. Enumeração pela lei
falencial. 3. Créditos dos Institutos e Caixas de Aposentadoria e Pensões. 4. Créditos
dos empregados e Justiça do Trabalho
§ 3.416.(V) Créditos quirografários. 1. Conceito. 2. Conteúdo do art. 102, § 4~O, um
fine”, do Decreto-lei n. 7.661

CAPÍTULO VI

INQUÉRITO JUDICIAL

1.417. Conceito e importância. 1. Inquérito judicial e seu conceito. 2.Importância


3.418.Deveres do síndico. 1. Exposição sobre a falência 2. Requerimento da abertura
do inquérito judicial. 3. Outros requerimentos feitos pelo síndico, pelos credores, ou
pelo órgão do Ministério Público. 4. Responsabilidade do síndico. 5. Vista ao órgão
do Ministério Público. 6. Crimes de falência. 7. Falidos e outros legitimados à
contestação
8.419.Procedimento do inquérito judicial. 1. Deferimento - dos requerimentos das
provas. 2. Código de Processo Penal, art. 505. 3.Denúncia e queixa. 4. Denúncia,
queixa e concordata suspensiva. 5. Síndico e destituição por omissão na exposição do
síndico

PARTE VIII

Liquidação concursal

CAPÍTULO 1

EXTRAÇÃO DO VALOR DOS BENS

3.420.Relatório do síndico e início da realização do ativo e solução do passivo. 1.


Relatório do síndico e aviso de inicio da liquidação . 2. Realização do ativo
.421.Finalidade dos atos conversivos. 1. Ação do síndico. 2. Atuação dos credores. 3.
Realização do ativo dos sócios solidária eliminadamente responsáveis pelas obrigações
sociais .

CAPITULO II

FORMAS DA EXTRAÇÃO DO VALOR DOS BENS


CAPITULO VIII

3.422.Princípios básicos. 1. Liquidação forçada e judicial. 2. Espécies de formas de


extração do valor
3.423.Venda global e venda de bens separados. 1. Regra jurídica dispositiva . 2. Bens
gravados de direito real de garantia e bens sujeitos a privilégio especial. 3. Fundo de
comercio .
3..424.Vendas em leilão público. 1. Ordínariedade da venda em leilão público. 2.
Cônjuge e consentimento ou assentimento à alienação de imóveis. 3. Realização do
leilão público. 4. Comissão do leiloeiro e depósito do preço. 5. Código Civil, art.
1.106. 6. Continuação no dia seguinte e transferência do leilão público
3.425.Vendas por meio de propostas. 1. Figura jurídica. 2. Reclamações dos credores.
3. Venda de todos os bens, de alguns,ou só de um bem. 4. Vinculação dos ofertantes .
5. Conteúdo do auto judicial. 6. Informações do síndico e audiências do falido e dó
órgão do Ministério Público. 7. Credores e mais interessados . 8. Julgamento. 9.
Venda de bens gravados com direito real de garantia
3.426.Poderes do síndico quanto às liquidações. 1. Funções liquida-tórias do síndico.
2. Dividas ativas, transações e -abates. 3.Transação
§ 3.427.Venda de bens gravados com direito de hipoteca ou de anticresce. 1. Extração
do valor. 2. Remição. 3. Pretensão executiva real e suspensão do seu exercício. 4.
Determinação da venda pelo síndico. 5. Venda urgente do bem gravado. 6. Venda
promovida por algum credor. 7. Venda do bem gravado de anticresce. 8. Arrematação
§ 3.428.Venda de bens empenhados ou caucionados. 1. Direitos reais de garantia sobre
bens móveis. 2. Direitos empenhados. 3. Créditos caucionados. 4. Warrants. 5. Penhor
rural (agrícola ou pecuário). 6. Penhor de máquinas e aparelhos utilizados nas
indústrias. 7. Bens pertencentes a terceiro
§ 3.429.Bens imóveis gravados com direito real. 1. Princípios quanto aos direitos reais
limitados que não são de garantia. 2. Caso especial do direito real de venda sobre
imóvel
§ 3.430.Venda de bens retidos. 1. Direito de retenção e venda dos bens (remição ou
venda). 2. Venda
§ 3.431.Realização do ativo por deliberação da assembléia de credores.
1.Intervenção da vontade celetiva dos credores. 2. Convocação da assembléia de
credores. 3. Reunião dos credores em assembléia. 4. Deliberações. 5. Ata da
assembléia
§ 3.432.Deliberações dos credores com dois terços dos créditos- apresentados. 1.
Negócio jurídico entre credores. 2. Bens e modos de alienação. 3. Criação de
sociedade para continuação do negócio do falido. 4. Alienação do ativo a terceiro. 5.
Outros modos de alienação. 6. Recurso

CAPÍTULO III

ENCARGOS DA MASSA

§ 3.433. § 3.434.
Encargos da massa e dívidas da massa. 1. Massa e passivo próprio da massa. 2.
Precisões
Enumeração dos encargos da massa. 1. Texto legal. 2. Pressuposto da exigibilidade do
tributo durante falência

CAPÍTULO IV

DÍVIDAS DA MASSA
§ 3.435.

§ 3.436.
CAPITULO VIII

§ 3.436.
Encargos da massa e dívidas da massa. 1. Dicotomia inicial. 2.Dedução direta349
Análise das dívidas da massa. 1. Espécies de dívidas da massa. 2.Direitos reais de
garantia
Analises das dívidas da massa. 1. Espécies de dividas da massa. 2. Direitos reais de
garantia

CAPfTULO V

PAGAMENTO DOS CREDORES DA FALÊNCIA

§ 3.437.Distinção que a lei faz. 1. Credores da massa falida e credores da falência. 2.


Créditos concursais ou créditos da falência. 3. Sobras e défice
§ 3.438.Pagamentos dos créditos com direito real de garantia. 1. Particularidades. 2.
Preclusão falencial da pretensão correspondente ao direito real de garantia
§ 3.439.Pagamento dos credores com privilégio especial. 1. Privilégio especial e
desconto no produto do bem. 2. Pagamento-integral e produto insuficiente para
pagamento
3.440.Pagamento dos créditos com privilégio geral. 1. Inicio da atenção ao privilégio
geral. 2. Se há ordem entre – créditos com privilégio geral
3.441. Pagamento aos credores quirografários. 1. Deduções e resto. 2. Recibo e
anotações
3.442.Pagamento de credores da sociedade falida • dos credores particulares dos
sócios solidários. 1. Pluralidade de patrimonio s. 2. Dividas da sociedade, suficiência
ensuficiênciado ativo. 3. Massas particulares dos sócios e classificação dos
créditos3683.443.Principal e juros. 1. Massa e não-fluência de juros2. So-bra e rateio
dos credores de juros. 3. Juros esociedadefalida3703.444.Reserva de bens. 1. Função
da reserva de bens. 2Deseficacização da reserva

CAPÍTULO VI

TERMINAÇÃO DA LIQUIDAÇÃO

3•445. Terminação da liquidação e julgamento das contas do síndico. 1.Deveres do


síndico. 2. Infração de dever do síndico.
3.446.Encerramento do processo da falência. 1. Suspensão e encerramento do
processo da falência. 2. Encerramento por sem-Parte VI. Administração da massa
falencial sentença. 3. Prazo para o encerramento. 4. Publicação e re-curso. 5. Livros do
falido. 6. Saldos dos créditos

CAPITULO VII

EXTINÇÃO E PRESCRIÇÃO DAS OBRIGAÇÕES FALENCIAIS

3.447. Prescrição. 1. Interrupção da prescrição. 2. Análise das espécies


3.448.Extinção das dívidas do falido. 1. Causas de extinção das dívidas do falido. 2.
Textos legais3843.449.Ação declaratória da extinção das obrigações do falido.1.Ação
e sentença declarativa. 2. Propositura da ação declaratória. 3. Ônus de afirmar e
provar. 4. Contestação à declaratória. 5. Sentença na ação declaratória de extinção das
obrigações. 6. Eficácia sentencial

CAPITULO VIII

CONCLUSÕES
CAPITULO VIII

3.450.Operações falenciais. 1. Execução forçada celetiva e profissão de comerciante.


2. Pontos de doutrina geral. .
3.451.Massa falencial e eficácia. 1. Ativo e passivo. 2. Alienação do ativo. 3.
Considerações finais

SINDICO

§ 3.371.Problema técnico da administração do patrimonio e disposição dos bens da


massa falencial

1.TÉCNICA LEGISLATIVA E FIGURA DO SÍNDICO. Iniciando-se, com


propósitos de satisfação de todos os credores, ou <te pluralidade de credores, a
execução forçada, ou sobrevindo execução celetiva, entala-se o problema da posse
imediata, administração da massa concursal, da atribuição do poder de dispor e da
liquidação do passivo. Ou (a) continua com a posse, com a administração, com a
disposição e com o encargo de liquidar o passivo o próprio devedor, ou (b) os
credores, a certo momento, escolhem quem tenha a posse, quem administre, quem
tenha o poder de dispor e quem liquide o passivo, ou (e> o juiz nomeia quem haja de
ter tal múnus.
Qualquer que seja a solução, a figura do titular de tais poderes não pode ser privada,
pela imediata submissão ao juiz e pela natureza das suas funções , que se engatam na
função jurisdicional do Estado, que prometeu a tutela jurídica executiva e tem de
entregar a prestação, que é a execução, aí celetiva.

2.FUNÇÃO DO SÍNDICO E SUA NATUREZA. O síndico é órgão da execução


forçada concursal. O falido está privado da posse imediata e da administração do
patrimonio . Daí a indispensabilidade da nomeação estatal de alguém, que fique em
seu lugar. Não poderia ser o próprio juiz, ou qualquer órgão do Estado que tenha
função judiciária, ou de auxiliar de tais órgãos. Oficializado, como cargo, poderia ser
membro do Ministério Público, ou de corpo de oficiais administradores. Mas tem
ofício, e não é oficial, no direito vigente. O de que se lhe vale do processa do concurso
de credores falencial, que é a extinção forçada. Todas as suas funç6es são funções
processuais. dados os seus atos são atas processuais, ainda quando se trate te atos de
disposição. Defende no juízo da falência, e defende, mulheres, os interesses da massa
concursal. É patife. Não impor-se que esteja contra ele o devedor ou que contra ele
estejam os redores, nem que esteja ele ao lado daquele ou desses . Parte, em ele a
liberdade que caiba na sua função, que é oh jejum.
Aqui, convém que acentuemos:
a)A posse que o devedor comum perde, ao ser-lhe decretada a abertura da falência, é a
posse imediata, se lhe tinha ai posse, ou a passe mediata, que era a sua, embora lhe
fique fosse mediata acima dessa. Assim, o falido que é dono da em a, e tem a posse
própria, plena, desse bem, deixa de ser possuidor pleno: a posse própria mediata fica-
lhe, parque decretação de abertura da falência não ira tira; a posse própria a mediata,
passa a toda o juízo; o síndico, esse , assume a posse imprópria imediata. Se o devedor
comum somente em a posse imediata, como é o caso do devedor comum que
locatário, essa posse imediata é transferida ao síndico; nasce-a, com a decretação de
abertura da falência, ao juízo da falência, posse mediata logo acima da posse imediata
da síndico; o próprio devedor comum, com a que resultou da medida de execução
falencial, tornou-se possuidor mediato, acima do juízo mediatização da posse imediata
de quem sofreu a constrição executiva).
b)A função da síndico é a de parte de oficio. O Estada ou alguém com a função de
síndico para que se lhe facilite satisfazer o que prometera: a execução forçada.
O liquidante, nas liquidações, e o sindico, nas falências, Ao partes de oficio. Não são
representantes, porque o representante não é parte (e folgamos de vê-lo dito, agora, por
CAPITULO VIII

L. SCEÕNKE, H. SCHRODER e WERNER NIESE, na 83 ed. do ,ehrbuch des


Zivilprozessrechts, 118 s.). Os que desejam volta à concepção da liquidante e do
síndico representantes a devedor, argumentam que suporta as despesas a massa, não
eles , o fará é o do patrimonio e a substituição de um
Liquidante e sindico estilo na mesma posição do ergio do Ministério Público que pede
a interdição de alguém, ou a decretação de nulidade de algum casamento. É órgão da
execução forçada; parte de oficio, no processo falencial e nos processos em que
figura, por haver interesse da massa. A relação de órgão, em que ele está, é com o
Estado. Na relação jurídica processual, é parte de oficio.
Rigorosamente, o síndico é órgão da execução, porque toda a sua função é levar a cabo
a distribuição do ativo do devedor, e é parte de ofício. Não representa credores, nem o
devedor comum; nem aqueles e esse . Nem é órgão da massa, velha concepção de O.
VON VÕLDERNnORFF (Konkursordnung, 2.8 ed., 1, 512) ; nem de presumida
entidade falencial <e. g., G. BONEUA, Dei Fallimen,to, 1, 2.~ ed., 474). A opinlio
que o fazia representante do devedor (e. g., E. JAEGEIt, Kommentar na
Konkursordnung, 6•a~7•a ed., § 6, notas 1 s.) foi rechaçada: falava-se de representante
forçado, Zwangsvertreter, do devedor, que estaria, compulsivamente, como qualquer
curador, no lugar da devedor, que seria a parte. Outrossim, a que o apontava como
representante dos credores, devido à pluralidade desses . Finalmente, a da
representação de credores e devedor (A. S. SCHULTZE, Das deutsche Konkursrecht,
36; J. BÉDAifiuDE, TraiU des Fajilites a Ranqueroutes, J, 4a ed., 896).
A verdadeira opinião é a que o vê como órgão da execução, parte de oficio, ou por
ofício (Partei kraft Amtes). Certos, E. OETKER (Konkursrechtliohe Grundbegriffe, 1,
25 s., 51, 112, 314 s.), E. MENna (Kommentar zur Kon,Icursordnung, § 6, nota 6), J.
SENST <Die Verwattung von Konkursen, 9•a ed., is.),
A.SCHÕNKE (Lehrbuch Ziviiprozessreoht, 7•& ed., 89 s.) e outros; contra, W. Kzscn
(Partem, Prozessverbindungen und Prozessãndenrng im Zivilprozessentwurf,
ludicium, III, 373 s.) e F. LENT (Zwangavollstreckungs- und Konkursrecht, § 44), na
esteira de E. JAEGER (Lehrbuoh des deutschen Konkusreohts, § 6, nota 32).
O erro consistiu em se prestar atenção ao interesse ocasaonalmente defendida. Às
vezes, serve ao devedor a atitude do síndico; outras vezes, aos credores; outras vezes,
ao Estado, Fajilites et Banqueroutes, 1, 3.~ ed., 438) pensou em ser alicio
“representante” do devedor, dos credores e da lei. A “representação” da massa
implicaria supor-se a pleno idade da massa, o que ocorreu a J. KoHLER <Leitfaden
des tschen Konkursrechts, 2.~ ed., 208 e 212), ou seria, absurdamente, representação
de ninguém (assim, com alguns estranhos, J. X. CARVALHO DE MENDONÇA,
Tratado de Direito Comercial, VIII, 27).
Como orgao estatal, por sua procedência, ainda que segundas intenções do art. 60 do
Decreto-lei ix. 7.661, o síndico terá execução forçada; portanto, à tutela jurídica
executiva. Inelegível o munus que o síndico recebe. Toda assimilação ao órgão
(assim, A. Cxcu, em E. Cuzznx, Dei Failimento, 268) ou curador, é de repelir-se,
porque o falido não é um incapaz. rn se assimile a sua figura à da depositário, ou do
seqüestro <assim, F. CÃRNELUTTI, Lezioni, V, 159; A. BRUNE’rrl, ilto failimentare
italiano, 205; cp., contra, MÁRIO CASANOVA, reiplina giuridica deile obbligazioni
di restituzione nel failinto, 48, e U. NAVAXRINI, Tratt ato di Diritto faiiimene, 1,
149).
É conseqüência de não ser funcionário público, mas exerce função pública, o síndico,
não poder ser invocado contra ele qualquer das arts. 812426 do Código Penal !. art.
327). Por outra lado, os crimes praticados por articular contra a administração e
demais atividades legais sindico são crimes contra a administração pública (Cáro
Penal, arts. 328-337). Não foi certo o acordo do Tribunal da Relação de Minas
Gerais, a 17 de junho de 1927
• IX, 49, 182), que não admitiu fosse crime de desacato o de nosa ao síndico, no
tocante a ato de administração. O argurito foi o de não ser funcionário público. Ora, as
CAPITULO VIII

leis penais medem à natureza da função, e não à qualidade de quem exerce. O art. 827
do Código Penal considera “funcionário publico, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente, sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública
sindico exerce função que seria a do juiz se a lei não tivesse sido a figura do síndico,
órgão da execução forçada, cujo monopólio é estatal. Por onde se vê como se engata
na execução forçada a figura jurídica do síndico.
“A administração da falência”, diz o art. 59 da Decreto-lei n. 7.661, “é exercida por
um sindico, sob a imediata direção e superintendência do juiz”. Ã referência à
“imediata direção e à “superintendência” do juiz é para frisar-se que se trata de múnus
público, que o síndico é parte de ofício e órgão da execução forçada celetiva.
O juiz, em cuja jurisdição tem a devedor o seu estabelecimento principal, é o juiz
competente para a decretação da falência (Decreto-lei ri. 7.661, art. 7.O)• Se a falência
é de comerciante ambulante ou de empresária de espetáculos públicos, pode decretá-la
o juiz da lugar em que for encontrado o devedor (art. 79, § 1.0). Às leis de organização
judiciária estadual cabe estabelecer a competência conforme o território e ratione
material.
O síndico não representa o falido, na administração dos bens do patrimonio falencial:
o síndico acede ao falido e inser&-se, como parte de ofício, na relação jurídica
processual. um dos órgaos da execução forçada. Há-os permanentes, com a categoria
de funcionários públicos, ou não, orgao s lixos do Estado, como o juiz, o orgao do
Ministério Pública, o escrivão, o porteiro, o leiloeiro público. O síndico, como a
assembléia de credores, é órgão transitório. A própria assembléia de credores, quando
delibera, não o faz em representação dos credores, e sim como órgão da execução.
Não tem caráter privatístico.
O juiz é que preside à execução forçada celetiva. Acima dele só estio os tribunais, se
têm competência para conhecer de recursos, decidir em correção , ou deferir pedidos
de medidas mandamentais, como o mandado de segurança e o habeas-corpus.
Na massa falida não há personalidade; portanto, não há representação. Não se pode
pensar em representação voluntária, nem em representação legal. Qualquer que seja o
nome que o sistema jurídico haja dado ao administrador da massa falida, o problema é
o mesmo, e é a mesma a solução. Não se trata de funcionário público, mas a função é
pública. O conceito de funcionário público é que não é extensivo a todas as funções
públicas. Onde é o Estado que exerce a função e a distribui, pública é a função
distribuída.
Não se pode eliminar o falido, como parte no processo mandamendal . Parte ele . O
demandado é ele. A relação jurídica processual angulariza se quando ele é citado. O
processo dos [cursos de credores, civil ou falencial, é processa de execução alçada
celetiva, porém como 08 outros processas de execução alçada, com a particularidade
da pluralidade de demandantes. estruturação básica não se afasta do que se passa com
todos exercícios de pretensão à tutela jurídica executiva.
Conforme antes dissemos (e repetimo-lo par vezes), a fato pluralidade de credores e a
provável insuficiência do ativo lançam os problemas que o Estado, que prometera a
prestação risdicional , a tutela jurídica , tem de resolver, como legislar que também é.
A função do síndico foi uma das soluções particulares, um dos expedientes técnicos
adotadas para evitamento de inconveniências que a experiência mostrara.
Também são órgãos da execução forçada celetiva os peritos, contador, os avaliadores
e o depositário. Não os advogados. ses representam o falido, ou algum, alguns au
todos os credo~, ou o síndico, ou algum interessado em restituição ao revindicação.
É como o síndico o liquidante (ou delegado), que se nomeia a liquidações
administrativas coativas (bancas e casas banrias: Decreto-lei n. 9.228, de 3 de maio de
1946, art. 28 § 1.0; Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945, ts. 1.0 e 2.0; Decreto-
lei n. 8.495, de 28 de dezembro de 1945, t. 6Y, c); sociedades de seguros: Decreto-lei
n. 2.063, de março de 1940, arts. 141 e parágrafo único, e 143; socieLdes de
capitalização: Decreto n. 22.456, de 10 de fevereiro 1933, arts. 24-27; sociedades
cooperativas: Decreto n. 22.289, 19 de dezembro de 1932, art. 80; Decreto n. 6.980, de
CAPITULO VIII

19 de março de 1941, art. 49, § 69; sociedades de crédito real: Decreto. 169-A, de 19
de junho de 1890, art. 18, § 14; Decreta 370, de 2 de maio de 1890, arts. 346, 352-359;
Decreto Lei n. 7.661, arts. 16 e 81) ou nas liquidações pedidas (e. g.,bancos e casas
bancárias, Decreto n. 19.479, de 12 de dezembro a 1980, ad. 59).

8.INDELEGABILIDADE DA FUNÇÃO DO SÍNDICO. O síndico so pode delegar


as suas funções. Tem de exercê-las pessoal-Lente. Se alguém é encarregado por ele de
algum ato, a responsabilidade é toda sua. Se alguma atividade é técnica, pode ele ter
prepostos e auxiliares. O advogado, que constitua para funcionar no processo da
falência, é pago por ele . Quando lhe incumbe funcionar em juízo, como parte de
ofício, pela massa, quer como autor, quer como réu, quer como assistente, é órgão da
execução forçada fora do processo falencial. Então, contrata honorários de advogados,
com homologação pelo juiz (Decreto Lei n. 7.661, art. 68, XVI>. Lê-se na art. 61: “A
função do síndico é indelegável, podendo ele , entretanto, constituir advogado quando
exigida a intervenção deste em juíza ”. E no parágrafo único: “A massa não responde
por quaisquer honorários de advogados que funcionem no processo da falência como
procuradores do síndico”.
Em plena conformidade com a ciência do direito, a lei frisa, por si mesma, a diferença
entre delegado e representação. O síndico representa, dentro das raias da sua
competência, o juízo: é órgio da execução forçada celetiva falencial. Não pode delegar
os poderes que tem. Não há possibilidade de se admitir subsíndico. Isso não implica
que o sindico não possa outorgar poderes a alguém que o represente, uma vez que a
sua responsabilidade, perante o juízo, continua integralmente a mesma.
O fato de o síndico funcionar por procurador, e não pessoalmente, como devia, não é
causa de nulidade (Supremo Tribunal Federal, 5 de julho de 1922, R. 9., 43, 874); mas
sim de responsabilidade pessoal da síndico e de invocabilidade de sançoes contra ele.
Aos atos em que a presença do síndico, pessoalmente, é indispensável, não há
permitir-se representação. Seria, porém, absurdo que se exigisse ao síndico
transportar-se para outra cidade, ou outra parte do território nacional, ou para o
estrangeiro, a fim de ultimar alguma operação em que a massa falendai está
interessada. Apenas permitida, ou não, in custe, a representação toda
responsabilidade é do síndico.

§ 3.372. Nomeação do síndico

1.ATO JUDICIAL DA NOMEAÇÃO . O ato de nomeação do sindico é ato iurSdico


judicial, ato estatal, coma convém £ cargo que se há de exercer como um dos atas
pelos quais o Estado consegue executar os bens do devedor e satisfazer os credores (=
entregar a prestação jurisdicional, a que é obrigado por sua promessa de tutela jurídica
executiva). Lê-se no art. 60 do Decreto-lei n. 7.661: “O síndico será escolhido entre os
maiores credores do falido, residentes ou domiciliados no foro da falência, de
reconhecida idoneidade moral e financeira. Não há arbítrio pleno do juiz; ser credor do
falido, ser um dos maiores credores, ser domiciliado ou residente no foro da falência e
ter idoneidade moral e financeira são pressupostos necessários. Trata-se, quase sempre,
de meras quaestiones facti, mas pode ocorrer, a propósito de qualquer desses
pressupostos necessários, quantia juris.
Só o juiz pode designar o síndico. A lei não cogitou de eleição de síndico pelos
credores, nem, sequer, de indicação de nomes pelos credores. Se os credores entendem
indicar algum deles , nenhuma expressão jurídica tem essa comunicação de vontade,
ou se apenas se refere à idoneidade moral e financeira de algum credor essa
comunicação de conhecimento. (De passagem, observemos que, nos próprios sistemas
jurídicos em que pode haver eleição do síndico, não há qualquer privacidade da
relação jurídica decorrente da eleição ou da nomeação; sobre isso, cf. BALDI PAPINI,
Ii Rapporto di Impiego pubbiica, 39 s.; e F. CARNELIJ’I’TI, Istituziafli, 186.)
A lei fala de credores residentes ou domiciliados . Não exige, portanto, em todos os
CAPITULO VIII

casos, o domicilio. O credor pode ser residente no foro da falência e domiciliado


alhures. Nem sempre a residência perfaz o domicilio (ci Código Civil, a.rt. 81), mas a
lei satisfez-se com o requisito da residência. O assunto é sem grande interesse , porque
há o art. 32 do Código Civil. A pessoa que não tem residência habitual, ou empregue a
vida em viagens, sem ponto central de negócios, essa não pode ser nomeada síndico,
posto que se tenha por seu domicílio o lugar onde for encontrada (Código Civil, art.
83). De qualquer modo, quem reside fora do foro da falência e não tem domicilio ai
não pode ser síndico (ci 4~S Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal,
Si de maio de 1949, R. 9., 128, 146). As Câmaras Cíveis Reunidas do Tribunal de
Justiça do Paraná, a 27 de outubro de 1950, tiveram ensejo de julgar improcedente
reclamação em que se argõia que havia
Estado “... do que não tem decorrido nenhum prejuízo para o bom desempenho do seu
cargo e boa administração dos interesses da massa falida, estando assim atendido o
motivo que determinou o legislador a exigir que fossem de preferência nomeados os
credores de maior quantia e idoneidade moral e financeira, residentes ou domiciliados
no foro da falência”.
Para que o juiz nomeie, desde logo, o síndico, é preciso que tenha a relaçao dos
credores. Se dos autos não consta a relação, ou se a que se apresentou é evidentemente
incompleta, tem o juiz de providenciar para a juntada da relação, ou da relação
completa. A esse respeito é que estatui o art. 60, § 1.0, do Decreto-lei n. 7.661: “Não
constando dos autos a relação dos credores, o juiz mandará intimar pessoalmente o
devedor, se estiver presente, para apresentá-la em cartório dentro de duas horas, sob
pena de prisão até trinta dias”. Advirta-se em que a relação que constava dos autos, ou
a que foi depois junta, ou completada, pode não corresponder à verdade. Há, apenas,
presunção horainis de que a relação é verdadeira .
Se o devedor não apresenta a relação, a despeito de ter sido intimado, com a
combinação, pode o juiz não ter outro caminho que o de nomear o credor que pediu a
abertura da falência, ou um dos credores penhorantes, ou um daqueles de que constem
dos autos os créditos, respeitado o art. 60 do Decreto-lei n. 7.661.
Se a decretação da falência foi pedida por sócio, ou por acionista, que não tem a
relação de credores, o juiz tem de nomear um dos credores conhecidos, observando o
art. 60.
Nenhuma possibilidade tem o juiz de nomear pessoa estranha, se há credor que
satisfaça os requisitos a que se refere o art. 60 do Decreto-lei n. 7.661. Se, conforme
dados suficientes, que constem dos autos, nenhum dos credores, isto é, o credor que
pediu a abertura da falência, ou qualquer dos credores que constem da lista, é pessoa
de idoneidade moral e financeira, pode o juiz nomear pessoa estranha. Não é óbice a
isso só haver o art. 60, § 2.0, dl, Decreto-lei n. 7.661 cogitado da espécie das três
recusas: “Se credores, sucessivamente nomeados, não aceitarem o cargo, o juiz, após a
terceira recusa, poderá nomear pessoa estranha, idônea e de boa fama, de preferência
comerciante”.
O nomeado pode ser comerciante ou não ser comerciante. e credor, é indiferente que o
seja, ou não. Se pessoa estranha, fato há a exigência de ser comerciante, e a alusão do
art. 60, 2.0, do Decreto-lei n. 7.661 funciona apenas como recomendação (ambíguo o
acórdão da 8. Câmara Cível do Tribunal da Justiça do Distrito Federal, a 17 de agosto
de 1949, A. .T., 115).
Se o credor não tem titulo hábil para ser admitido, ou que asulte de exame imediato,
não deve ser nomeado síndico 7•8 Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal, de outubro de 1946, R. F., 112, 451). A lei fala de credor a nomeação é antes
da admissão definitiva à falência e do julgamento das impugnações , mas a non plena
cognitio basta influir na escolha entre credores.
O sócio comanditário da firma comercial não pode ser sindico na falência dessa firma
não porque tenha, sendo credor, interesse contrário a firma (sem razão, a 2.8 Câmara
da Corte de Apelação do Distrito Federal, 10 de setembro de 918, R. .1., 13, 336) :
todos os credores do falido teriam interesse contrários mas sim porque, tornando-se,
CAPITULO VIII

eventualmente, solidariamente responsável, seria envolvido na falência (Código


Comercial, art. 314).
Pode ocorrer que ao maior credor, ou um dos maiores redores, falte idoneidade moral
ou financeira. Idoneidade moral é a honestidade para o exercício da função de síndico,
exatidão no cumprimento dos deveres, a probidade no trato os dinheiros alheios.
Idoneidade financeira é a situação eco5mica que assegure aos credores e ao falido,
bem como a outros interessados na falência, a indenização de qualquer prejuízo le
cause à massa e, por lei, seja reparável. Não há só indenizibilidade por negligência ou
má administração, de modo que se pode falar apenas de culpa.
Antes da apresentação da relação de credores não pode, a regra, ser feita a nomeação
do síndico. Se o falido não pode ser intimado, o juiz nomeia segundo os informes que
tem nos autos. Idem, se o falido não responde. Generalizou demasiado a g~a Câmara
Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 29 de novembro de 1951 (1?. dos 17.,
198, 340).
Não pode o juiz pôr à margem os maiores credores por entender que, sendo
estabelecimentos bancários, ou por outra razão, se recusariam a aceitar o cargo (3.8
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 26 de novembro de 1951, 1?. dos
17., 198, 335>. Para tal atitude, teria o juiz de alegar e poder provar o fato de que se
trata no art. 60, § 39, V, do Decreto-lei n. 7.661.
Sempre que o juiz tem de considerar que algum credor não aceitou a nomeação, hão de
existir nos autos elementos que provem suficientemente a recusa. As presunções
também são provas, mas as presunções hão de resultar de fatos ou circunstancias , sem
que possam bastar suposições do juiz.
A recusa pode ser apresentada previamente . Então, ao juiz está aberto o caminho para
eliminar o nome do recusante que se antecipou à nomeação.
Escolhido o credor para síndico, dentre os maiores credores, não se justifica a reforma
do despacho que o nomeou, por haver outro credor com crédito maior (5•a Câmara
Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 17 de fevereiro de 1950, E. dos T., 185,
843). A lei permitiu a escolha entre os maiores credores. Ainda se são três os credores,
pode escolher entre os dois primeiros. Os maiores credores podem ser postos de lado,
na escolha do síndico, se lhes falta idoneidade moral, ou a idoneidade financeira (6.’
Câmara Civil, 18 de agosto de 1947, 169, 303).
Os credores com direitos reais de garantia não são pré-excluídos na escolha do síndico
(Câmaras Cíveis Reunidas do Tribunal de Justiça do Paraná, 27 de outubro de 1950,
unânime, Paraná J., 53, 10). Conforme temos, repetidas vezes, acentuado, o credor
hipotecário, o credor pignoratício, o credor anticrético e os outros credores da mesma
classe são credores como os outros credores, tendo, a mais, o direito real de garantia.
As expressões são elípticas: credor hipotecário é credor que também é titular de direito
real de hipoteca; credor pignoratício é credor que também é titular de direito real de
penhor. Nomeado síndico, não o é como titular do direito real de garantia, mas sim
como credor. Se por alguma razão é desconstituído direito real de garantia e o credito
nunca, assão há na sua situação jurídica de síndico.
Se o falido deixa de apresentar a lista de credores, tem juiz de determinar a prisão. É
aplicação da comunicação. Ao juiz cabe apreciar as razões que o falido apresente para
não ter entendido à intimação (e. g., incêndio do escritório, prisão do ilido por outra
alegação, ausência, doença grave). Se o falido comparece depois de declarados os
créditos, ainda pode o juiz determinar a prisão, porque não se trata de medida
constritiva ara se obter prestação, mas sim de medida punitiva (cf. art. 35 o Decreto-lei
a. 7.661; sem razão, em sua generalidade e classificação, as Câmaras Criminais
Conjuntas do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 25 de abril de 1949, E. dos T., 80,
520).
A idoneidade moral, sem a idoneidade financeira, não basta (3.8 Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, 9 de novembro de 1951, E. dos 17., 198, 340); nem
basta Idoneidade financeira, sem a idoneidade moral.
“Se o síndico nomeado for pessoa jurídica”, diz o art. 60, 59, “declarar-se-á no termo
CAPITULO VIII

de que trata o art. 62 o nome de eu representante” leia-se “de seu órgão” “que não
poderá ser substituído sem licença do juiz”. Se o orgao deixa de o ser, em de ser
submetido ao juiz o nome do novo órgão , e então não se trata de licença, mas de
aprovação . Uma das cansas vulgares de substituição é o não ter sido reeleito o sócio,
ou acionista. na de ter expirado o prazo para as funções na gerência, em no de
revezamento.
Se alguém é credor do falido e coincide ser sócio de firma estrangeira, com sede no
estrangeiro, não está privado da legitimação a ser síndico; porque a sua personalidade
não se confunde com a da sociedade, de que faz parte. Tem de assinar termo em seu
próprio nome (8.8 Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 10 de
dezembro de 1950 (E. F., L43, 278 s.) e cumprir o que exige o art. 62, parágrafo único,
do Decreto-lei n. 7.661.
A 8. Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 24 de agosto de 1951
(A. .1., 102, 205), disse que não pode ser síndico pessoa jurídica, que, tendo filial no
foro da falência, não tem ai, devidamente regularizada, a sua representação (devia
dizer “o seu órgão’9, nem tio-pouco pessoa que há menos de um ano era sócio da
firma falida. A última proposição é sem base em lei. Seria preciso que se pudessem
invocar, por exemplo, os arts. 59, parágrafo único, 6.0, e 60, § 39, II, do Decreto-lei a.
7.661.
(A terminologia imprópria cria problemas que só se resolvem bem quando se
substituem por termos próprios os impróprios. A pessoa jurídica não pode delegar
funções de síndico, nem pode para todos os atos fazer-se representar. O
“representante” de que fala o art. 60, § 59, é o órgão . Só o nome do orgao é que pode
constar de termo de que trata o art. 62. Ora, o órgão presenta, não representa.)

2. PESSOAS QUE NÃO PODEM SER NOMEADAS. No art. 60, § 39, o Decreto-lei
n. 7.661 diz que: “Não pode servir de síndico: 1, o que tiver parentesco ou afinidade
até o terceiro grau com o falido, ou com os representantes (7) da sociedade falida, ou
deles for amigo, inimigo ou dependente; II, o cessaonário de créditos, que o for desde
três dias antes de requerida a falência; III, o que, tendo exercido cargo de síndico em
outra falência, ou de comissário em concordata preventiva, foi destituído, ou deixou de
prestar contas dentro dos prazos legais, ou, havendo-as prestado, as teve julgadas más;
IV, o que já houver sido nomeado pelo mesmo juiz síndico de outra falência há menos
de um ano, sendo, em ambos os casos, pessoa estranha à falência; V, o que, há menos
de seis meses, recusou igual cargo em falência de que era credor”.
a) Em primeiro lugar o art. 60, § 3•0, 1, do Decreto-lei n. 7.661, pré-exclui,
decisivamente, a nomeação do parente, até o terceiro grau, consangüínao ou afim, ou
do amigo intimo, ou do inimigo ou dependente (e. g., o empregado) do falido. A
amizade, que obsta à nomeação, é a amizade intima.
No tocante às pessoas jurídicas, a terminologia da lei é má.
Não se afasta a possibilidade de ser nomeado síndico quem é parente, ou amigo
intimo, ou inimigo, ou dependente do advogado ou procurador da sociedade, mas sim
o parente, ou amigo intimo, ou inimigo, ou dependente do órgão da sociedade.
O diretor da sociedade não é representante; é órgão.
A proibição legal continua após a morte do falido ou da pessoa que era órgão da
sociedade.
b)Se houve cessão de crédito, três meses, ou menos, interesse da decretação da
falência, não pode ser nomeado síndico cessaonário; nem o cessaonário em segunda
cessão ou outra que se seguiu.
A lei somente cogita da cessão. Quem sucedeu a causa de norte em algum crédito,
pretensão, ação ou exceção, não está inibido de ser síndico.
O fato de ter sido cedido o crédito, não por estranho, mas por pessoa mencionada no
5* 60, 4 39,1, não importa. O que se há de verificar é ter havido cessão e o não ter sido
anterior aos três meses.
c) O art. 60, § 39, III, estabelece a inidoneidade absoluta de quem, tendo exercido o
CAPITULO VIII

cargo de síndico, noutra falência, ou de comissário, em concordata preventiva no caso


ou noutro caso, foi destituído, ou deixou de prestar contas dentro dos prazos legais, ou,
havendo-as prestado, foram julgadas más. Se houve destituição, necessAriamente se
deu por ter o síndico excedido algum prazo, ou infringido algum dever. Se sobreveio
algum dos impedimentos do art. 60, § 39, 1 ou III, não há, propriamente , destituição;
nem o há, se o síndico alegou e provou que não podia continuar no cargo, por força
maior (e. g., foi designado para outra unidade política, ou para o estrangeiro). O que se
tem de responder é se a causa foi inidoneidade superveniente. A sentença rescindente
intercalar, transita em julgado, desconstitui o julgado.
d) O art. 60, § 39, IV, dirige-se aos juizes, para que não centralize a sua confiança, de
modo que a mesma pessoa possa ser aquinhoada com funções.
e) No art. 60, § 39, V, faz-se impedido o credor, ou o estranho, que, sendo credor
noutra falência, recusou o cargo de síndico. Não está impedido: o que fora nomeado,
noutra falência, sem ser credor; o que não recusou, alegou, apenas, não poder, in casu,
aceitar o cargo de síndico (e. g., por ter de mtodar ou ter mtodado de domicilio ou
residência, estar para casar com filha ou sobrinha do falido).
Também não podem ser síndicos, e é nula a nomeação:
f) Os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes (Código Civil, arts. 59, 1-
1V, e 6.0, 1, III e IV: menores de dezesseis anos, loucos, surdos-mudos que não podem
exprianos e menores de vinte e um, que não tenham tido suplemento de idade; os
pródigos interditos; e os analfabetos, porque não podem assinar o termo (Supremo
Tribunal Federal, 28 de agosto de 1909, O D., 110, 473), nem passar procuração.
Não podem ser síndicos e podem ser, por isso, destituídos:
g) Os que exercem cargo público a que lhe proíba o exercício do cargo de síndico.
h) O credor que tem interesses contrários ao da massa falencial (Decreto-lei n. 7.661,
art. 66).
Ao falido noutra execução celetiva, que ainda pode exercer o comércio, ao
concordatário ou pessoa que pediu concordata (Decreto-lei. n. 7.661, art. 65) e ao
insolvente falta idoneidade financeira; não se pode dizer, a. priori, que lhes falte
idoneidade moral.

§ 3.373. Reclamação contra a nomeação do sindico

1.CAUSAS DE RECLAMABILIDADE. A nomeação do síndico pode ser impugnada


por se não incluir entre os maiores credores, por faltar-lhe o pressuposto do domicílio
ou da residência, por ser moral ou financeiramente inidônao, por ocorrer qualquer dos
casos do art. 60, § 39, I-V, do Decreto-lei n. 7.661, ou dos incisos f), g) e h) do §
anterior.

2.LEGITIMAÇÃO ATIVA. Pode reclamar contra a nomeação do síndico qualquer


interessado (Decreto-lei n. 7.661, art. 60, § 49). É interessado: qualquer credor, o
falido (Corte de Apelação do Distrito Federal, 21 de dezembro de 1921, E. F., 39,
264), o órgão do Ministério Público, o titular de direito à restituição, o titular do
direito real limitado, ou o reivindicante, ou vindicante, se ainda não lhe foi satisfeito o
pedido de restituição ou de reivindicação ou vindicação, ou se foi deferido e ainda
pende de recurso, qualquer pessoa com interesse em não ser o síndico a pessoa
nomeada, como o contraente com o falido, ou com a massa, exposto a que o sindico
resolva não continuar ou continuar com o contrato.

3.TEMPO PARA À RECLAMAÇÃO. Feita síndico, pode ser apresentada a


reclamação. O é preclusivo: dentro de quarenta e oito horas a nomeação do prazo para
isso após a publicação de papéis do falido ainda é possível a apresentação da
reclamação (Decreto-lei n. 7.661, art. 60, § 49: “Até quarenta e oito ~ após a
publicação do aviso referido no art. 63, n. 1, de quer interessado pode reclamar contra
a nomeação do sindico em desobediência a esta lei. O juiz, atendendo às alegações
CAPITULO VIII

revogadas, decidirá dentro de vinte e quatro horas, e do despacho agravo de


instrumento”).
O prazo para o síndico manifestar-se é de vinte e quatro as, contado da intimação que
lhe haja feito o escrivão. assina o termo de bem e fielmente exercer o múnus, a
reclamação é após isso, porque o prazo para o interessado apresenta somente começa
de correr após a publicação do aviso, que eito pelo próprio síndico.
Pergunta-se: feita a nomeação e antes da assinatura do novo, pode o interessado
reclamar, ou somente pode fazê-lo iniciado o prazo que se conta da publicação do
aviso? A resta é no primeiro sentido; portanto, afirmativa. Se o juiz lhe atribui
relevância, pode revogar o ato de nomeação enquanto sindico não assume o cargo; se
o síndico já o assumiu, a melhor-solução é a de o juiz decidir sobre a reclamação
depois da aplicação do aviso, que o síndico tem de fazer imediatamente. A lei não
exige a audiência do síndico. Teria de ser dentro vinte e quatro horas, porque o prazo
para a decisão do juiz conta da apresentação da reclamação. O juiz, despachando-a, de
mandar juntá-la aos autos e ordenar a subida. Ao escrivão cabe dizer qual a hora em
que se lhe apresentou a reclamação no próprio despacho de juntada e fazer conclusos
os imediatamente.
Expirado o prazo do art. 60, § 49, sem que tenha havido armação, nenhuma
reclamação pode ser feita. Seria intensiva. Dai a diferença entre as causas de
reclamação, consenso do art. 60, § 39, I-V, e as de que falamos no inciso f),
correspondem a nulidades, e as de que se cogita nos incisos causas de destituição. A
interpretação que faz destitui o síndico que estaria em qualquer dos incisos 1 a V Lrt.
60, § 39, por se não haver reclamado, é de repelir-se o órgão do Ministério Público
pode reclamar fora do.Invocar-se o art. 66 é sem pertinência, porque lá não há
Tem-se de repelir a jurisprudência que não atendeu à ramo legis do art. 60, § 49 (e. g.,
acórdão da 3•R Câmara Cível do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 6 de
fevereiro de 1945, 2?. F., 108, 88, que destituiu síndico correto e fiel, por se ter
provado depois a amizade íntima).
É contra os princípios jurídicos, expirado o prazo preclusivo, qualquer que seja, abrir o
juiz, a requerimento, ou de oficio, a discussão em tOrno da matéria para cuja
reclamação se criara a preclusão. Se ninguém mais poderia reclamar, a fortiori nada
pode determinar o juiz, desconstituindo o que Tem com o esgotamento do prazo
preclusivo, se tornara indesconstituivel.
Convém, a propósito, lembrar-se o que disseram as Câmaras Cíveis Reunidas do
Tribunal de Justiça do Paraná, a 27 de outubro de 1950 (Paraná 3., 58, 10: “A amizade
íntima do síndico com o falido, alegada pelo reclamante, reduz-se a simples afirmativa
sem base sólida. O fato de o síndico nomeado ter emprestado grande soma de dinheiro,
superior a um milhão de cruzeiros, que teria sido emprestada a título gracioso, uma
vez que ambos não mantinham negócios, não tendo resultado os empréstimos feitos de
transações comerciais, não caracteriza amizade íntima. Empréstimos não se fazem só a
amigos ou amigos íntimos, também são feitos a estranhos, desde que nisso haja
interesse ; e o seu montante, geralmente, não depende da maior ou menor afetuosidade
entre as partes interessadas, mas da capacidade financeira de quem empresta e das
garantias que ao emprego do capital pode oferecer quem o recebe. Nem sempre, como
quer o reclamante, os empréstimos resultam de transações comerciais. Aliás, eles , em
si, representam um negócio autônomo, sem dependência, de quaisquer relações
obrigacionais anteriores”.
A 2.~ Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a 1.0 de dezembro de
1947 (2?. F., 122, 486), julgou, acertadamente, que o cessaonário de crédito por
negócio jurídico feito nos três meses anteriores à decretação da falência não pode ser
nomeado síndico, mas aquele que já era credor originário quando ocorreu a cessão
não ficou, por esse fato, proibido de ser síndico. Esse credor é duas vezes credor.
Ainda que um dos créditos seja atingido por eficácia da sentença de 3), ou em virtude
de sentença a respeito de impugnação, outro crédito justifica a qualidade.
CAPITULO VIII

A propósito do art. 60, § 39, III, observe-se que o não aproveitamento por alguma das
razões do art. 60, § 39, 1, II, e V, não é destituição. Quando se reclama contra alguma
nomeação e o juiz atende à reclamação, revoga-se a nomeação, se destitui. É fonte de
graves erros confundir-se revogação xi destituição. A ambigüidade com que alguns
juristas e juizes pregam o termo “destituição” leva a perplexidades dificilmente
superáveis. É raro ver-se sair com justeza a decisão; isso foi exemplo o acórdão da 4•S
Câmara Civil do Tribunal Justiça de São Paulo, a 30 de novembro de 1950, que frisou,
referindo se a comissário de concordata preventiva que fora evitado por impedimento,
não poder ser tido como destituído, ra se invocar o art. 60, § 39, III.

4.RECURSO. O recurso do despacho do juiz que julga procedente a reclamação


contra a nomeação do síndico é o de agravo de instrumento. Idem, o que se há de
interpor do despacho o que a julga procedente e nomeia outra pessoa. Lê-se no
Decreto-lei n. 7.661, art. 60, § 49, sem distinção: “e do despacho acabe agravo de
instrumento”.
Se o juiz, após prazo preclusivo do art. 60, § 49, substitui o síndico, em verdade o
destitui, e teria de invocar uma das usas do art. 66, e não qualquer das causas do art.
60, 8.0, I-V. De qualquer modo, o recurso é o de agravo de instrumento (art. 60, § 49;
2S Câmara Civil do Tribunal de Justiça São Paulo, 7 de dezembro de 1948, 2?. dos 7’.,
178, 273). Qualquer interessado e. g., credor (6.~ Câmara Civil Tribunal de Justiça de
São Paulo, 19 de agosto de 1947, dos 7’., 169, 303) e não só quem reclamou, pode
recorrer a decisão do juiz, que julgue procedente, ou não, a reclamação.

CAPITULO II

FUNÇÕES DO SÍNDICO

§ 3.874. Promessa de exação

1. INVESTIDURA. O síndico concomitantemente assina o termo e se investe no


cargo, o que, portanto, se consuma com a assinatura do “termo de compromisso”, que
é a promessa formal de desempenhar bem e fielmente as funções que a lei lhe atribui e
de assumir quaisquer responsabilidades que, segundo o sistema jurídico, derivam de
tal exercício ou de qualquer confissão do promitente. Para isso, o síndico tem de ser
intimado, pessoalmente, pelo escrivão. A intimação é, em verdade, notificação e
cominação. Se o síndico, dentro das vinte e quatro horas, não se apresenta em cartório
para assinar o termo, ou o juiz atende às suas alegações de ter ocorrido força maior, ou
nulidade da intimação, ou o juiz desconstitui o ato de nomeação e nomeia outro. A
última solução é constitutiva negativa, e não declaratória: é revogação do ato pelo qual
foi nomeada a pessoa em falta. Lê-se no art. 62 do Decreto-lei n. 7.661: “O síndico,
logo que nomeado, será intimado pessoalmente, pelo escrivão, a assinar em cartório,
dentro de vinte e quatro horas, termo de compromisso de bem e fielmente
desempenhar o cargo e de assumir todas as responsabilidades inerentes à qualidade de
administrador”. Não só inerentes à qualidade de administrador, porque há atos do
síndico que vão além da administração.
A lei fala de “escrivão”, e não de oficial de justiça. Se o escrivão está impedido, ou se
não pode proceder à intima$0, tem de fazê-lo o seu substituto legal.
Se o síndico é pessoa jurídica, do termo tem de constar me do órgão , e esse somente
pode ser substituído com iça do juiz (Decreto-lei n. 7.661, art. 60, § 59), assunto que já
tratamos.
Se a pessoa jurídica, por seu órgão, declara que não aceita, se de nomear outra pessoa,
física ou jurídica. Convém que diz exija a prova de que o órgão pode prestar
declaração tão aceitar, pois é possível que o contrato social ou os estatutos não lho
permitam sem que preceda autorização dada por o órgão.
CAPITULO VIII

Com a assinatura do termo, investido está o síndico de a os poderes que a lei lhe
atribui.
Se foi falido que se declarou insolvente (Decreto-lei n. 7.661, 8.0), é de seu dever
apresentar, com o pedido de decretação falência, os livros obrigatórios, que ficam em
cartório para m entregues ao síndico, imediatamente após a assinatura termo (art. 89,
§ 89).
Se não foi o falido que provocou a decretação da falência, o art. 63, III.
A eficácia da investidura é imediata, o que cria poderes ocultos e deveres do síndico
no instante mesmo após a assinatura do termo . Não importa se houve, ou não, recurso
que interpôs da decisão de abertura da falência, nem se recorreu não da decisão que
nomeou o síndico.

2.ASSINATURA POR PROCURADOR COM reDIZES ESPECIAIS.


O síndico pode estar ausente, no momento da nomeação. Tem assinar o termo dentro
das vinte e quatro horas. Não pode exercer as funções de síndico sem ser
pessoalmente. Isso obsta a que constitua procurador com poderes especiais a assinar o
termo <ia Câmara Criminal da Corte de Apelação de são Paulo, 25 de novembro de
1935, 2?. dos 7’., 106, 504, sa, quanto à quantia juris, não, porém, quanto à quantio
~i, pois, conforme frisara o voto, os poderes da procuração eram especiais).
As razões para se resolver como acima se resolve consistem que: a) o que tem de ser
pessoalmente exercido pelo jurídico é qualquer função que a lei considere de atuação
pessoal síndico, e não a declaração de recusa ou aceitação do múnus, há outorga de
poderes especiais; b) a responsabilidade do de oficio, órgão da execução forçada
celetiva, é em cada caso, ao passo que a responsabilidade pela recusa ou pela aceitação
é só entre o síndico e o juiz, para que se possa inserir como parte de ofício, órgão da
execução forçada celetiva, ou para impedir que tal inserção se dê.

8.DECLARAÇÃO DE CRÉDITO DO SíNDIcO CREDOR. Sempre que o síndico


é credor do falido, e não só se foi nomeado síndico por ser um dos maiores credores,
tem de apresentar, no ato da assinatura do termo, a sua declaração de crédito: “No ato
da assinatura deste termo”, diz o art. 62, parágrafo único, “entregará, em cartório, a
declaração de seu crédito, em uma só via, com os requisitos prescritos no art. 82. Se os
títulos comprobatórios do crédito não estiverem em seu poder, dirá onde se encontram,
e juntá-los-á à declaração no prazo a que alude o art. 14, parágrafo único, n. V”. Tem-
se de indagar se a pessoa que não foi nomeada como um dos credores de maior quantia
(portanto, como se estranho fosse) tem o dever de declaração imediata do seu crédito.
A resposta seria negativa, se não pesasse o argumento de receber o síndico os livros e
documentos do falido. A ratio legis apanha qualquer credor que foi nomeado síndico,
ainda que não tivesse concorrido para a sua nomeação o fato de ser credor.
Temos, assim: a) o síndico que foi nomeado sem ser como credor <= síndico que foi
nomeado como estranho) e vem a saber que é credor, tem de, no momento de assinar o
termo, apresentar a sua declaração de crédito; i» o síndico que ignorava ser credor e
assinou o termo, deve imediatamente que o saiba fazer a sua declaração de crédito,
alegando e provando que só tardiamente viera a ter notícia de ser credor. A solução
sobre a sua legitimação a ser nomeado síndico é dependente do exame das
circunstâncias, devendo-se processar a sua explicação como se tivesse havido
reclamação contra a nomeação (cf. Decreto-lei n. 7.661, art. 60, § 49). Se alguém
entende que não é justo que seja síndico, pode agravar de instrumento.
Se os títulos ou documentos do- seu crédito, ou dos seus créditos, ou de algum ou de
alguns deles, não se acham com o síndico, como se entregara para cobrança, ou os
caucionara, ou foram para registro, tem o síndico de declarar onde se acham, leve
juntá-los à sua declaração de crédito, no prazo que a sentença de abertura da falência
(= de decretação da falência) haja fixado (Decreto-lei n. 7.661, art. 14, parágrafo [co,
V).
CAPITULO VIII

§ 3.375. Enumeração das funções do síndico

1.FUNÇõES PRINCIPAIS. As funções do síndico, que se numeram no art. 63 do


Decreto-lei n. 7.661, são as funções principais, e não todas as suas funções. A elas
correspondem seres.
2.(1) DEVER DE PUBLICIDADE. Lê-se no art. 63:
umpre ao síndico, além de outros deveres que a presente lhe impõe: 1, dar a maior
publicidade à sentença declara-‘ia da falência e avisar, imediatamente, pelo órgão
oficial, julgar e hora em que, diariamente , os credores terão à sua posição os livros e
papéis do falido e em que os interessados não atendidos”.
A publicação na sentença de abertura da falência (= decretação da falência) tem de ser
feita, sempre, pelo escrivão, quem cabe o dever de providenciar a respeito, no órgão
daí. Tem ele de certificar que a publicação foi feita. Se não
>evidencia a respeito, cabe ao juiz suspendê-lo por seis meses Decretar a perda das
custas. Se algum prejuízo resultar da ta de publicação imediata da sentença, responde o
escrivão a indenização (Decreto-lei n. 7.661, art. 16 e parágrafo co).
A responsabilidade do escrivão não é por culpa. Somente te alegar para se eximir da
responsabilidade força maior individual, como ter sido obstada, por motins ou
revolução, a publicação do órgão oficial.
O escrivão responde pelos prejuízos, a que a falta de publicação deu causa, mesmo se
o juiz da falência não o tiver suspendido o das funções.
Ao síndico o que incumbe é providenciar para publicidade sentença além daquela que
resulta da inserção da sentença órgão oficial e quanto à publicação, no órgão oficial,
do aviso. a sentença comporta a despesa, também lhe é dado, embora
a lei não o diga expressamente, nem, a fortiori, o faça dever do síndico, publicar
noutro periódico o aviso.

3.(II) DEVERES QUANTO A CORRESPONDÊNCIA . Acrescenta o Decreto-lei n.


7.661, art. 63, II, que é dever e função do síndico: “Receber a correspondência dirigida
ao falido, abri-la em presença deste ou de pessoa por ele designada, fazendo entrega
daquela que se não referiu a assunto do interesse da massa”. Nas três horas após a
decretação da falência, tem o escrivão de comunicar às estações telegráficas e postais
que existirem no lugar a falência do devedor e o nome do síndico, para que a esse seja
entregue toda a correspondência do falido (Decreto-lei n. 7.661, art. 15, § 2.0). Assim,
cabe ao síndico abrir a correspondência que lhe for entregue. O falido, ou pessoa
designada por ele, há de estar presente. Para isso, convém que o síndico marque a hora
de cada dia para a abertura dos telegramas, cartas e mais missivas, ou pacotes, que
venham por via postal, a fim de estar presente o falido, ou a pessoa designada; ou
síndico e falido entrem em acordo sobre o momento em que em cada dia devem estar
presentes. Acertado é que o síndico o faça constar dos autos. Se o falido ou a pessoa
designada não comparece, pode o síndico abrir a correspondência, guardando, para
entrega posterior, o que não interessar à massa.
Se o falido é sociedade, a comunicação feita pelo escrivão tem de referir-se à
correspondência de todos os sócios de responsabilidade ilimitada; bem como á dos
diretores ou gerentes das sociedades de responsabilidade limitada, que seja dirigida a
eles, para a sede social, ou como sócios, para o domicílio de cada um.
As ligações telefônicas para a sede do estabelecimento falido ou para as suas
sucursais, filiais, ou agências, entendem-se dirigidas ao síndico sempre que o seria
para o falido e seus auxiliares, enquanto não se encerrar o processo da falência.
O escrivão tem o dever de comunicar às estações telegráficas e postais a todas que
existirem no lugar a falência do devedor e o nome do síndico, “para que a esse seja
entregue toda a correspondência”. Leia-se: “nascendo às estações telegráficas e postais
o dever de entregar ao síndico toda a correspondência telegráfica e postal”.
Responde pelos prejuízos a que der cansa, sem se ter de indagar se houve culpa,
ou se não houve.
CAPITULO VIII

Também respondem as estações telegráficas e postais. A ação de indenização,


nesses dois últimos casos, dirige-se contra o Estado, se de repartição estatal é a
estação (Constituição de 1946, art. 194); o Estado é que tem a ação contra o
funcionário público, na conformidade do art. 194, parágrafo 6ni~o, da
ConstituIção de 1946 (“quando tiver havido culpa destes”). Se a estação é de
empresa particular, embora de serviços ao público, a ação é contra ela, também sem se
indagar se houve ou nao culpa.

4.(III) DEVER DE ARRECADAR. No art. 68, III, o Decreto-lei n. 7.661 dá como


dever e função do síndico: “Arrecadar os bens e livros do falido, e tê-los sob a sua
guarda, conforme se dispõe no Tít. IV, fazendo as necessárias averiguações,
inclusive quanto aos contratos de locação do falido, para os efeitos do art. 44, no
VII, e dos parágrafos do art. 116”. Se o falido mesmo não entregou em cartório os
livros obrigatórios, têm de ser arrecadados pelo síndico. Quanto aos bens, o síndico
somente não os tem de arrecadar se, havendo sido feita penhora deles na execução
forçada singular, o falido declara que são os únicos que tem. Então, o síndico,
mediante precatória, recebe-os do juízo ou dos juízos da penhora e o auto do
recebimento, feito naquele, ou naqueles juízos, há de constar, com a juntada da
certidão, no juízo da falência (cf. art. 70, § 40)
Ai, a penhora converte-se em arrecadação. Se há outros bens além dos que haviam
sido penhorados, têm de ser arrecadados.
Observe-se, todavia, que a constrição pela arrecadação é apenas material, concreta,
pois, com a publicação da sentença de abertura da falência, se inicia o
penhoramento abstrato de todos os bens do falido, antes mesmo de serem
arrecadados. A respeito de todos os bens o penhoramento abstrato incide
automaticamente, e fica atribuída ao juízo pelo menos a posse mediata. A
arrecadação pelo síndico é constrição concreta que lhe dá a posse imediata, ou a que o
falido tinha. O falido, conforme temos explicado, fica com posse mediatizada,
anterior, em grau descendente, à do juízo.
Quanto aos contratos de locação em que locatário é o falido, há o síndico de indagar
dos termos e tempo dos contratos, a fim de saber: a) se têm o amparo do Decreto
n. 24.150, de 20 de abril de 1934, isto é, se há a pretensão à renovação do contrato
de locação, ou se não há; b) se convém a venda do estabelecimento comercial ou
industrial, em sua integridade, incluindo-se na alienação a transferência do contrato
(art. 116, §§ 19 e 2.0); c) se não convém purgar a mora, conforme se prevê no art. 44,
VII.
Se vai continuar o negócio do falido, pode a arrecadação, excepcionalmente (Decreto-
lei n. 7.661, art. 74, § 1.0), ser somente de algum ou de alguns bens (Câmaras
Criminais Conjuntas do Tribunal de Justiça de São Paulo, 30 de outubro de 1950), mas
o inventário há de abranger todos os bens.
Aqui temos de dizer algo sobre as situações possessórias do juízo e do síndico, se
continua o negócio do falido. Continua o negócio do falido se as vendas continuam,
regularmente, como se não tivesse havido a decretação de abertura da falência. Se
todos os bens foram arrecadados, o que é iii quod plerum que fit, o síndico
mediatiza-se na situação possessória quanto aos bens que são indispensáveis ao
presseguimento do negócio do falido. Não só os bens que se destinam a venda são
necessários à continuação do negócio. Perde ele, a favor do gerente, que foi nomeado,
a posse imediata, e torna-se possuidor mediato, abaixo do juízo. Se ainda não haviam
sido arrecadados esses bens indispensáveis à continuação do negócio do falido, o que
é exepcional <art. 74, § li’, verbis “salvo caso excepcional e a critério do juiz”>, o
gerente já assume a posse imediata, tendo o juízo a posse mediata imprópria, abaixo
da posse mediata, própria, do falido, e acima da posse mediata do síndico. Esse a
recebe no momento mesmo em que o gerente assume a posse imediata.

5.(IV) DEVER DE RECOLHIMENTO DE QUANTIAS. O Decreto-lei n. 7.661,


CAPITULO VIII

art. 63, IV, faz função e dever de falido: “Recolher, em vinte e quatro horas, ao
estabelecimento que for designado nos termos do art. 209, as quantias pertencentes à
massa, e movimentá-las na forma do parágrafo único do mesmo artigo”. No art. 209
estabelece-se que as quantias pertencentes à massa devem ser recolhidas ao Banco do
Brasil ou à Caixa Econômica Federal, suas agências ou filiais. Se no lugar não as há, o
juiz tem de designar estabelecimento bancário de notória idoneidade. Se não há,
sequer, estabelecimento bancário, ou se o que há é idônao , ou passa por ser idônao , o
síndico mesmo é o depositário. Se há algum dos estabelecimentos referidos, ~m o
síndico vinte e quatro horas para fazer o depósito.
O síndico não pode pagar-se a si mesmo sem ser no momento em que outro . teria
solvido o seu crédito. Não pode “reter” dinheiro para oportunamente satisfazer-se.
Credor quirografário, tem de aguardar o cálculo do rateio, como os outros credores
quirografários (2.~ Câmara da Corte de Apelação do Distrito Federal, 16 de maio de
1916, R. 3., IV, 551).

6.(V) DEVER QUANTO A ESCRITURAÇA . Atribui ao síndico o Decreto-lei n.


7.661, art. 63, V, a função e o dever de “designar, comunicando ao juiz, perito
contador, para proceder ao exame da escrituração do falido, e ao qual caberá fornecer
os extratos necessários à verificação dos créditos, bem como apresentar, em duas vias,
o laudo do exame procedido na contabilidade”. O síndico somente pode designar
perito contador, se não pode, pessoalmente, desempenhar-se do que o perito contador
seria incumbido. Cf. art. 212, 1.
O perito contador, de que fala o art. 63, V, não tem de ser o perito contador oficial, se o
há. Há diferença entre a regra jurídica do gil. 63, V, e a do art. 63, VI. No correr do
inquérito judicial (arts. 107 e 108> é que não mais se pode invocar o art. 63, V (3.B
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito. Federal, 19 de fevereiro de 1951, Á.
3., 98, 116). A Seção Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 10 de outubro de
1951 (R. dos 2’., 196, 60), entendeu que foi a lei que permitiu o exame do corpo de
delito pelo perito contador, de que cogita o art. 63, V. Mas sem razão: para fazer a
exposição circunstanciada, a que o art. 103 e os §§ 1.0 e 2.0 aludem, há o perito
contador, conforme o art. 63, V; não para as provas de alegações feitas pró ou contra a
exposição feita pelo síndico. Nem se compreenderia que pessoa escolhida pelo síndico
fosse incumbida de examinar argüições contra a exposição, para que diz que o perito
contador, embora designado pelo síndico, tem a sua designação com homologação
pelo juiz. De modo nenhum.
O síndico designa o perito contador e comunica ao juiz a designação desse auxiliar.
Os advogados do síndico não podem designar o perito contador: o ato de designação
tem de ser ato pessoal do síndico (Tribunal de Justiça de São Paulo, 31 de maio de
1915, R. dos 2’., 14, 138). Não pode o síndico outorgar, sequer, poderes especiais para
isso.

7.(VI) DEVER QUANTO À AVALIAÇÃO . É função e dever do síndico (Decreto-lei


n. 7.661, art. 63, VI) “chamar avaliadores, oficiais onde houver, para avaliação dos
bens, quando desta o síndico não possa desempenhar-se”. Cf. art. 212, IV. Se há
avaliador oficial, mesmo se nas atribuições dos avaliadores oficiais não está incluída a
do art. 63, VI, a lei federal tem de ser respeitada: é ela que dá, a mais, a eles a
atribuição de avaliar os bens da massa falencial.
Onde não há avaliador oficial e o síndico não pode, pessoal-mente, incumbir-se das
avaliações, cabe-lhe designar avaliadores, comunicando-o ao juiz, conforme a regra
jurídica a respeito do perito contador.

8.(VII) DEVER DE ORGANIZAR A ADMINISTRAÇÃO. É função e dever do


síndico (Decreto-lei n. 7.661, art. 63, VII) “escolher para os serviços de administração
os auxiliares necessários, cujos salários serão previamente ajustados, mediante
aprova$o do juiz, atendendo-se aos trabalhos e à importância da massa”. A lei exige a
CAPITULO VIII

previedade da aprovação judicial dos salários. Se, porém, havia urgência e os serviços
foram prestados, pode o juiz aprovar os salários oferecidos pelo síndico e aceitos pelos
auxiliares necessárias, ou vice-versa, reconhecendo que tinha de ser imediata a
prestação de serviços. É o que também ocorre com os serviços que não são de
auxiliares, mas de consertadores, eletricistas, bombeiros e outros profissaonais (cf.
Tribunal de Justiça de São Paulo, 5 de setembro de 1931, .1?. dos 2’., 84, 294).

9.(VIII) DEVER DE INFORMAR. Diz o Decreto-lei n. 7.661, art. 63, VIII, que é
função e dever do síndico “fome ler, com presteza, todas as informações pedidas pelos
interessados sobre a falência e administração da massa e dar extratos dos livros do
falido, para prova, nas verificações ou impugnações de crédito; os extratos merecerão
fé, ficando salvo à parte prejudicada provar-lhes a inexatidão”. A .f é que se atribui
importa, de regra, só se poder afastar a prova feita pelo documento, ou título, em ação
própria, ou em ação em que se possa atacar. No art. 63, VIII, explicita-se ficar salvo à
parte prejudicada provar a inexatidão dos extratos. Isso significa que o Ônus da prova
incumbe a quem alega a inexatidão. Não se trata, propriamente , de 16 pública (Tomo
XI, § 1.225). As informações são prestadas por dever do síndico, que as deve dar
exatas, e estabelecem Ônus de prova contrária para o informado.

10.(IX) DEVER DE CELEtE INFORMAÇÕES. Estabelece o Decreto lei n. 7.661,


art. 63, IX, que é função e dever do síndico, “exigir dos credores, e dos prepostos que
serviram com o falido, quaisquer informações verbais ou por escrito; em caso de
recusa, o juiz, a requerimento do síndico, mandará vir à sua presença essas pessoas,
sob pena de desobediência e as interrogará, tomando-se os dep6ímentos por escrito”.
O síndico informa sobre o que consta dos livros e dos papéis e dos cálculos feitos.
Pode precisar, para o bom desempenho das suas funções, de informações verbais ou
escritas, que somente os credores e os prepostos podem dar. A pretensão a ser
informado, que tem o síndico, pode ser exercida diretamente, oral-mente ou por
escrito, de modo que, oralmente, ou por escrito, responda o credor, ou respondam os
credores. Se há recusa, pode o síndico requerer ao juiz, pois na lei se lhe prometeu essa
tutela jurídica, que seja expedido mandado de intimação do credor, ou dos credores,
que se recusaram a informar, para que, comparecendo a juízo, se proceda ao
interrogatório e se tome o depoimento, ou se tomem os depoimentos. A pena comi-
nada é a de desobediência.
O art. 238 do Código de Processo Civil é invocável.
No que concerne ao falido, que também tem o dever de informar, se recusa a prestar
as informações, pode ser requerida pelo síndico a prisão administrativa (Decreto-lei n.
7.661, art. 35). Aliás, conhecendo o ocorrido, pode decretá-la o juiz, de ofício.

11.(X) DEVER QUANTO À FISCALIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS


CRÉDITOS. Está no Decreto-lei n. 7.661, art. 63, X, que é função e dever do
síndico, “preparar a verificação e classificação dos créditos, pela forma regulada no
título VI”. A função do síndico, no que tange com a verificação dos créditos e sua
classificação, é a mais relevante, depois do que se refere à liquidação, É assunto dos
arts. 80-102.
A classificação dos créditos tem de ser com ressalva dos encargos da massa (Decreto-
lei n. 7.661, art. 124, § 1.<>) e das dividas da massa (art. 124, § 2.0). Seria impossível,
com os conhecimentos apenas contabilísticos, desempenhar-se de tal função o síndico.
Por isso, é da máxima importância que se medite quanto concerne aos arts. 124 e seus
§§ 19. 29 e 39 e quanto se há de entender a respeito do art. 102 e seus §§ 19, 2.0 e 39.
Não é fácil levar-se a cabo classificação perfeita, razão por que tivemos de analisar
uma por uma das regras contidas no art. 102 e seus §§ 1.0, 2.0 e 39 e no art. 124 e seus
§§ 19, 2.0 e 39. Essa ezplicitaçâo de conteúdo é da maior utilidade para o trabalho do
síndico.
CAPITULO VIII

12.(XI) DEVER DE COMUNICAR O MONTANTE. Diz o Decreto-lei n. 7.661,


art. 63, XI, que é função e dever do síndico, “comunicar ao juiz, para os fins do art.
200, por petição levada a despacho nas 24 horas seguintes ao vencimento do prazo do
art. 14, parágrafo único, n. V, o montante total dos créditos declarados”. No art. 200
distinguem-se as falências, no que toca ao procedimento, pelo importe do passivo. A
comunicação que há de fazer o síndico tem por fito dar ao juiz a base para o
procedimento sumário, se é o caso.
Porém não é somente essa a função da comunicação do montante. Por ela, sabe-se,
aproximadamente, a relação do ativo com o passivo e podem ser orientadas as
providências que de tal relação dependam.

13.(XII) DEVER DE APRESENTAR EXPOSIÇÃO. É função e dever do síndico


(Decreto-lei n. 7.661, art. 63, XII), “apresentar em cartório, no prazo marcado no art.
103, a exposição ali referida”. O inquérito judicial (arte. 103-113) investiga as causas
da falência, o proceder do devedor, antes e depois da decretação da falência, e outros
elementos, para se saber se ouve crime falencial, ou se houve crimes falenciais, quais a
responsáveis e quais as regras jurídicas penais em que muiram. A esposicao de que se
fala no art. 63, XII, é a de que ratam o art. 103 e os §§ 19 e 29.

14.(XIII) DEVER DE EVITAR PREJUÍZOS DOS BENS. Diz o Decreto-lei n.


7.661, art. 63, XIII, que é função e dever o síndico, “representar ao juiz sobre a
necessidade da venda de bens sujeitos a fácil deterioração ou de guarda dispendiosa”.
Não se trata de venda por ser preciso extrair-se valor, para se pagarem as dividas. Ai, é
a fácil deterioração, ‘u a guarda dispendiosa, que impõe a venda imediata (cf. Có~go
de Processo Civil, arts. 704706). O juiz é que decide. síndico apenas expõe os
inconvenientes de se aguardar a venda no tempo próprio.

15.(XIV) DEVER DE ATIVIDADE JURÍDICA. É função dever do síndico


(Decreto-lei n. 7.661, art. 63, XIV). “praticar todos os atos conservatórios de direitos e
ações, diligenciar cobrança de dividas ativas e passar a respectiva quitação”.
>8 atos conservativos, para os quais tem poder o síndico, são os atos conservativos de
direito material e os atos conservativos que consistem em medidas judiciais, para as
quais seja de mister exercício de ação, inclusive ação de segurança (meditas
cautelares). Além disso, todas as pretensões, ações e excecões , que o devedor, se não
estivesse falido, teria e poderia exercer. O síndico é parte de ofício.
Outrossim, tem o síndico todas as pretensões e ações que sejam de mister para
realização do ativo. Passa recibo e dá quitação.

16.(XV) DEVER DE REMIÇÃO. Estabelece o Decreto-lei n. 7.661, art. 63, XV, que
é função e dever do síndico, remir penhOres e objetos legalmente retidos, com
autorização do juiz em benefício da massa”. P~m benefício da massa e com
autorização do juiz, pode o síndico remir penhOres e solver dividas sujeitas a direito
de retenção a favor do devedor.
Pergunta-se: j,pode o síndico, com a autorização do juiz, remir bens hipotecados? A
despeito de a lei somente se referir
a remição dos bens hipotecados é permitida nos mesmos casos em que teria tal
faculdade o devedor, se não estivesse falido (e. g., Código Civil, arta. 814 e 815). Pode
haver interesse da massa em que se faça a remição.

17.(XVI) DEVER DE PROPOR AÇÕES. Estabelece o Decreto lei n. 7.661, art. 63,
XVI, que é função e dever do síndico “representar a massa em juízo, como autora,
mesmo em processos penais, como ré ou como assistente, contratando, se necessário,
advogado cujos honorários serão previamente ajustados e submetidos à aprovação do
juiz”. A expressão “representar a massa” é imprópria. O síndico é parte de oficio. Não
representa a massa, porque a massa não é pessoa jurídica, nem aglomerado de pessoas
CAPITULO VIII

físicas. O síndico está a colaborar na execução forçada celetiva. O Estado está a


preparar, com atos do juiz, do síndico, do escrivão, do órgão do Ministério Público e
de outras pessoas, a prestação jurisdicional. que prometera aos credores, em caso de se
decretar falência.
As expressões “Autora, a Massa falida de F.”, “Ré, a Massa falida de F.”. “Assistente,
a Massa falida de FY, “Recorrente, a Massa falida de F.”, denunciam superficialidade
de conhecimentos de processualistica, ou se explicam por elipse (“Autor, 5., síndico da
Massa falida de F.”, “Réu, 5., síndico da Massa falida de F.”, “Assistente, S., síndico
da Massa falida de F.”, “Recorrente, 5., síndico da Massa falida de F.”.
O síndico tem todos os poderes que o devedor teria, se não lhe houvesse sido
decretada a falência; e não precisa, para os exercer, da autorização do juiz da falência,
que preside à execução forçada.
Se o síndico pede busca e apreensão de gêneros que se presumem pertencentes à
massa falencial e lhe é denegada a medida constritiva preparatória (Código de
Processo Civil, arts. 675, II, e 676, III), cabe agravo de instrumento, com fundamento
no art. 842, III (Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará, 26 de março de 1951.
1?. 9., 137, 165).
A 5•S Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 16 de fevereiro de
1951 (E. 9., 143, 275), assentou que não cabe agravo de petição da decisão que nega
homologação de contrato entre o síndico e o advogado, previamente ria de contrato,
consoante determina o ad. 63, XVI, da lei falências, ou se trata de pedir o
cumprimento do ajustado. qualquer dos casos, a decisão feriu a questão do mérito...~’
O síndico é que é a parte de oficio. O falido não mais tem imação ativo ou passiva para
ações do interesse da massa. avia, há o problema da qualidade da legitimação. ~ É
rocesmente ilegitimado o falido, ou nz aterialmente ilegitimado? discutiu a espécie a
4,5 Câmara Cível do Tribunal de Apelado Distrito Federal, a 11 de outubro de 1982
(R. E., 60, 255), julgando nulo o processo, de ofício, deu solução acertada. ta-se de
ilegitimidade ad processwm, e não de ilegitimidade ~ausam. O síndico, esse, é parte
de ofício, legitimado, poro, ad processum.
Se o síndico é advogado e prefere defender, judicialmente, assa, ou como autora, ou
como ré, ou como assistente, a lei lho proíbe . A Corte de Apelação de Minas Gerais, a
10 de setembro de 1934 (R. 9., 63, 286>, decidiu que o síndico, com dupla qualidade
de síndico e de advogado, tem direito à remuneração de síndico e aos honorários de
advogado.
Se alguma ação foi proposta após a decretação da falência a citação do síndico, a
relação jurídica processual não se regularizou. O síndico, em grau de recurso, pode
alegá-lo 6.~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, l3 abril de 1949, 1?.
dos T., 180, 715>; ou na execução da sentença (Código de Processo Civil, ad. 1.010,1).

18.(XVII) DEVER DE PEDIR MEDIDAS E DILIGÊNCIAS. Está no Decreto-lei


n. 7.661, ad. 63, XVII, é função e dever do síndico, “requerer todas as medidas
diligências que forem necessárias para completar e indenizar massa, ou em beneficio
da sua administração, dos interesses dos credores e do cumprimento das disposições
desta lei”.regra jurídica do art. 63, XVIII, cabe no principio da coezido de poderes ,
que foi enunciado sob o inciso (XVI):sindico tem todos os poderes que o devedor
teria, se não esse falido. Quando prestações jurisdicionais são pedidas do juízo da
falência não precisa o síndico, sequer, de autorização do juiz, Só os honorários do
advogado têm de ser aprovados. Quando as pode fazer o juiz da falência, ou só a ele
autoriza, respectivamente, as espécies do inciso (XVI> e as do inciso (XVII).

19.(XVIII) DEVER DE TRANSIGIR. Está no Decreto-lei n. 7.661, ad. 63, XVIII,


que é função e dever do síndico “transigir sabre dividas e negócios da massa, ouvindo
o falido, se presente, e com licença do juiz”. O falido é ouvido; o juiz permite a
transação. Licença está, aí, por permissão. Se o falido não está presente no foro da
falência, é dispensada a sua audiência. Não se falou em ser ouvido o órgão do
CAPITULO VIII

Ministério Público, nem os credores. Todavia, é conveniente que o juiz ordene que
sejam ouvidos.

20.(XIX) DEVER DE APRESENTAR RELATÓRIO. É função e dever do síndico


(Decreto-lei n. 7.661, art. 68, XIX) “apresentar, depois da publicação do quadro geral
dos credores (art. 96, § 2.0) e do despacho que decidir o inquérito judicial (art. 109 e §
2.0) e no prazo de cinco dias contados da ocorrência que entre aqueles se verificar por
último, relatório em que:
a) exporá os atos da administração da massa, justificando as medidas postas em
prática; lO dará o valor do passivo e o do ativo, analisando a natureza deste ; e)
informará sobre as ações em que a massa seja interessada, inclusive pedidos de
restituição e embargos de terceiro; d) especificará os atos suscetíveis de revogação,
indicando os fundamentos legais respectivos”. Já se falou da exposição, com que se
inicia o inquérito judicial. O relatório supõe que se publicou o quadro geral de
credores e se proferiu a decisão sobre o inquérito judicial, ou que se proferiu essa
decisão e se publicou aquele quadro.

21.(XX) DEVER DE GARANTIA, EM CASO DE CONCORDATA


SUSPENSIVA. Diz o Decreto-lei n. 7.661, art: 68, XX, que é função e dever do juiz
“promover a efetivação da garantia oferecida, no caso do parágrafo único do ad. 181”.
No art. 181, parágrafo único, supõe se que o falido haja pedido concordata suspensiva
e haja oferecido garantia real para o seu cumprimento. O juiz marcou, no despacho,
prazo para que seja prestada. Ao síndico incumbe promover tal prestação, pelo falido,
ou por terceiro.

2.(XXI) DEVER DE APRESENTAI CONTAS. Estabelece Decreto-lei n. 7.661, art.


63, XXI, que é função e dever do sindico “apresentar, até o dia 10 de cada mês,
seguinte ao jogo, sempre que haja recebimento ou pagamento, conta demonstrativa da
administração, que especifique com clareza saída e a despesa; a conta, rubricada pelo
juiz, será junta tos”. As contas de cada mês têm de ser apresentadas até 10 do mês
seguinte, inclusive. No momento de fechar o no dia 10, ainda as pode apresentar o
síndico. A Lei kOS. de 9 de agosto de 1951, arte. 1.0, 29, 3•O e 59, é invocar 3.
(XXII>

DEVER DE ENTREGA DOS BENS, LIVROS E ASSENTOS


>5. É função e dever do síndico (Decreto-lei n. 7.661, 63, XXII) “entregar ao seu
substituto, ou ao devedor retardatário, todos os bens da massa em seu poder, livros
quantos da sua administração, sob pena de prisão até 60 dias”. se fixou o prazo para a
entrega dos bens, livros e assentos administração, pelo síndico ao substituto, ou ao
devedor retardatário; de modo que tem de ser requerida a intimação indico com a
cominação da pena, para que se lhe possa atar a prisão. Se o síndico não faz a entrega
nos sessenta que é o máximo da pena, é solto ; mas já deve ter sido ida a ação penal
contra ele.

70. Poderes para a realiza$o do ativo e pagamento aos credores

1.CONCENTRAÇÃO DE PODERES. Tem o síndico, como toda execução forçada,


todos os poderes para a realização ativo e pagamento aos credores. Esses poderes são
a partir de toda liquidação, razão por que atos para quais o síndico antes teria poderes
iniciada a liquidação precisam de auto1o judicial ou de decisão judicial (e. g., os do
Decreto-lei 1.661, art. 63, XVIII e XIII).

2. INICIO DA LIQUIDAÇÃO. O inicio da liquidação é marcada pelo próprio


síndico no aviso de que trata o Decreto-lei 1.661, art. 114. O juiz é que determina qual
o prazo para liquidação. Noutros termos: o síndico diz qual o <fies a <pio; LiZ, qual
CAPITULO VIII

o <fies ad quem.
Quais as normas pelas quais se na que guiar o ~nIuwu, no tocante à realização do
ativo, depende da incidência dos arts. 116-120, ou dos arte. 122 e 123 do Decreto-lei n.
7.661 (regras jurídicas ou deliberações dos credores).
Lê-se no art. 64 do Decreto-lei n. 7.661: “Iniciada a liquidação (art. 114 e seu
parágrafo único), o síndico fica investido de plenos poderes para todos os atos e
operações necessários à realização do ativo e ao pagamento do passivo da falência,
conforme o disposto no título VIII”. Se não há lei que exija homologação, permissão,
dita licença, ou aprovação pelo juiz, ou regra jurídica especial, é livre a atividade do
síndico. O alcance do. art. 64 é esse. Por exemplo: não pode o síndico transigir sobre
dividas e negócios da massa sem permissão do juiz (ad. 63, XVIII); nem fazer
abatimentos em créditos, mesmo se de difícil liquidação (ad. 121), nem vender fora de
tempo, por serem de fácil deterioração, ou de guarda dispendiosa, os bens (art. 63,
XIII), pois a decisão compete ao juiz.

§ 8.377. Substituição e destituição do síndico

1. CASOS DE SUBSTITUIÇÃO. Nomeado o síndico, com a observância das regras


legais de legitimação, tem ele de assinar o termo de promessa de bem e fielmente
servir dentro de vinte e quatro horas, após a sua intimação. Se o não faz, tem de ser
substituído. Se a reclamação contra a nomeação foi acolhida, não há nomeação de
substituto: substitui-se o que havia; e, com a procedência da reclamação, foi
desconstituído o ato do juiz, e não há síndico.
Algumas considerações .
Logo após ser nomeado, é intimado o síndico pelo escrivão a assinar em cartório,
dentro de vinte e quatro horas,o termo de bem e fielmente desempenhar o cargo e
de assumir as responsabilidades que lhe advém da investidura e da atividade de
síndico. É o que está no art. 62 do Decreto-lei n. 7.661.
Um dos primeiros deveres do síndico (art. 63, 1) é o de dar a maior publicidade à
sentença decretativa da abertura da falência e avisar, imediatamente, pelo órgão
oficial, o lugar e a hora em que, diariamente , os credores podem examinar os Esse
aviso, que é, necessariamente , posterior à assinatura termo de investidura, é o aviso a
que se refere o art. 60, § 4~0, ‘a, até quarenta e oito horas após a sua publicação,
poderem interessados reclamar contra a nomeação. Regularmente, do juiz, que acolha
reclamação e a julgue procedente, vai tratar a nomeação e a conseqüente investidura,
e não somente trata a nomeação. Já antes falamos da possibilidade de se [amar
previamente , isto é, nas vinte e quatro horas que tem sindico para manifestar-se e no
intervalo entre a assinatura termo e a publicação do aviso.
A não-assinatura do termo pode ser por ato expresso ou te. No primeiro caso, o síndico
declara que não aceita ~meação. No segundo, deixa escoar-se o prazo das vinte e
quatro horas. Numa e noutra espécie, nomeia-se substituto. Se o síndico assina o
termo, qualquer ato divestitivo, por te dele, é sempre desconstitutivo. Ou ele renuncia
ao cargo art. 63, XXII), ou alega superveniente impedimento, ou impedimento que não
cessou com o transcurso do prazo para reclamações contra a nomeação (cf. art. 63,
XXII). De [quer modo, nomeia-se substituto. Se falece o síndico, tem er nomeada
outra pessoa.
Também pode ocorrer: interdição do síndico, que, torna se absolutamente ou
relativamente incapaz (Código Civil, 5.o, 11-1V, e 6.0, III), ficou inibido de ter e de
exercer Logo; decretação da falência do síndico, ou de insolvência Decreto-lei n.
7.661, art. 65 e art. 60, verbi., “reconhecida idonedade moral e financeira”); pedido de
concordata prevem pelo síndico. Em qualquer das três espécies nomeia-se constituto.
O Decreto-lei n. 7.661, art. 65, não alude à insolvência , mas a inidoneidade financeira
do insolvente é reconhecida pela decisão do juiz que abre o concurso de credores civil
liquidação coativa. Diz o art. 65: “Se o síndico não dizia o termo de compromisso
dentro de vinte e quatro a após a sua intimação, não aceitar o cargo, renunciar, ou, for
CAPITULO VIII

declarado interdito, incorrer em falência ou pedir concordata preventiva, o juiz


designará substituto”. Temos a de falar da substituição por destituição. Ação do síndico
há substituição; mas pode haver substituição sem ter havido destituição. Tal o que
ocorre com todas as espécies de que cogitou o art. 65 do Decreto-lei n. 7.661.
Assim, não há confundir-se com a destituição a substituição sem destituição, nem, tão
pouco, a revogação da decisão de nomeação por ter sobrevindo reclamação julgada
procedente.
A propósito, enuncia o art. 66 do Decreto-lei n. 7.661:
“O síndico será destituído pelo juiz, de ofício, ou a requerimento do representante do
Ministério Público, ou de qualquer credor, no caso de exceder qualquer dos prazos que
lhe são marcados nesta lei, de infringir quaisquer outros deveres que lhe incumbem, ou
de ter interesses contrários aos da massa”.
Note-se que só se destitui por excesso de prazo (= desatendimento do prazo), infração
de regra jurídica cogente ou interpretativa, ter interesse contrário aos da massa.
Preliminarmente, observe-se que o ter crédito contra a massa, declarado de acordo
com a lei, não se considera interesse contra a massa, ainda que haja impugnação a esse
crédito.
Antes de o síndico assumir o cargo, há revogação da nomeação; depois de assumir e
em virtude de ter havido reclamação dentro das quarenta e oito horas contadas após a
publicação do aviso a que se refere o art. 63, 1, há revogação da nomeação e
desconstituição da investidura>.
Na destituição, não há retirada de voz: há desconstituição do ato de nomeação e da
investidura, porque o que existia era definitivo. Ez hypothesi, expirara o prazo para a
reclamação.
Destituição, pede-se; a revogação é atendimento a reclamação. Ali, há fato novo, que
serve de base ao pedido; aqui, o fato é velho, o fato era tal que a nomeação não
poderia ter sido feita, a voz não poderia ter sido emitida.

3.LEGITIMAÇÃO PARA PEDIR A DESTITUIÇÃO DO SÍNDICO.


No art. 66, o Decreto-lei n. 7.661 cogita da legitimação do órgão do Ministério
Público, ou de qualquer credor, para o pedido de destituição do síndico. Não se falou
do falido. Mas o art. 36 contém regras jurídicas gerais, a que o art. 66 não faz exceção:
“Além dos direitos que esta lei especialmente lhe confere, tem o falido os de fiscalizar
a administração da massa.o que for a bem dos seus direitos e interesses, podendo inter-
ir, como assistente, nos processos em que a massa seja parte u interessada, e interpor
os recursos cabíveis”. Nenhum ato mais tipicamente de fiscalização da administração
da massa falencial do que o de argüir as irregularidades e ilegalidades os atos do
síndico, a fim de que o juízo destitua o síndico. ensamos que o falido, sobre poder
comunicar ao juiz essas frações do síndico, para que o juiz o destitua de oficio, é
legitimado, como o órgão do Ministério Público e qualquer credor, petição de
destituição. A diferença é relevante. Se lhe assiste a pretensão à tutela jurídica, tem Me
legitimação a pedir a recorrer da decisão do juiz, que lhe indefira o pedido. art. 36
basta para que se possa chegar a essa conclusão.

4.AUDIÉNCIA DO SÍNDICO E DO ESCRIVÃO NO MINISTÉRIO PUBLICO.


Se a destituição foi pedida pelo orgao do Ministério Público, tem de ser ouvido o
síndico, que é acusado [e infração dos seus deveres. Se o foi pelo falido, ou por algum
redor, ouvidos têm de ser o síndico e o órgão do Ministério Público. Se o juiz está no
caminho de destituir, de oficio, síndico, há de ter ocorrido algum fato, sobre o qual
hajam [e ser ouvidos o síndico e o órgão do Ministério Público. assim resulta do art.
66, § 19, que diz: “O síndico e o representante do Ministério Público serão ouvidos
antes do despacho do juiz, salvo quando a destituição tenha por fundamento excesso
de prazo pelo síndico, caso em que será decretada em ice da simples verificação do
fato”. A 2.~ parte do art. 66, 1.<>, somente dispensa a audiência do síndico e do órgáo
do Ministério Público se está esgotado o prazo único, ou o último e. g., os prazos dos
CAPITULO VIII

arts. 69, § 79, e 131).


A decisão do juiz tem de ser com relatório e fundamental (cf. Código de Processo
Civil, art. 280, 1 e II).
Estabelece o art. 66, § 2.0: “Destituindo o síndico, o juiz nomeará o seu substituto, e
do despacho que decretar a destituição , ou deixar de fazê-lo, cabe agravo de
instrumento”. em razão, por partir da afirmação de não ter o falido legitimação para
pedir a destituição do síndico, a 6.8 Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal, a 15 de julho de 1949 decisão que denega o pedido de destituição do síndico.
A questão sobre a causa da destituição é quaeatio facti; portanto, a decisão que a
aprecia não dá ensejo a interposição de recurso extraordinário (2.8 Turma do Supremo
Tribunal Federal, 5 de agosto de 1949, D. da 3’. de 21 de junho de 1951).
Isso não quer dizer que não se possam compor algumas das espécies do art. 101, III, da
Constituição de 1946. Se algum dos pressupostos se perfaz, há quaeatio iuris, e pode
ser interposto o recurso extraordinário, ou, se é o caso, o recurso de revista.
Não há causas de destituição fora das que aponta o~ art. 66.
O credor particular do sócio da empresa falida pode requerer a destituição do síndico
(sem razão, o Tribunal da Relação de Minas Gerais, 28 de fevereiro de 1925, R. 1’.,
44, 570), porque, se há sobra, após serem pagos os credores da sociedade, o têm de ser
os credores particulares, e o art. 128, II e III, há de ser atendido.

5.PROVAS DAS INFRAÇÕES E OUTRAS CAUSAS. A 1.~ Câmara Civil do


Tribunal de Justiça de São Paulo, a 13 de junho de 1950 (R. dos T., 187, 840), permitiu
a destituição do síndico por suspeita de falta de idoneidade para o caso. Mas suspeita
não é fundamento suficiente para medida tão radical.
É exemplo de infração de dever, por parte do síndico, ter deixado de exigir do leiloeiro
o cumprimento dos seus deveres (6.8 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São
Paulo, 24 de setembro de 1948, R. dos T., 177, 817), ou de exigi-lo de outra pessoa que
esteja em contacto com a falência (1.8 Turma do Supremo Tribunal Federal, 24 de
janeiro de 1949, R. 1’., 128, 115).
Se, apesar da infração da regra jurídica sobre prazo, o síndico, antes do julgamento da
destituição, mostra que não causou prejuízo à massa e a tempo cumpriu os seus
deveres, embora excedendo o prazo, não deve o juiz destituir o síndico (2.8 Câmara
Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 17 de dezembro de 1946, .1?. dos T., 166,
134, e R. 9., 112, 155). Outrossim, quando, alegado que não arrecadou todos os bens,
não se faz prova de existirem os bens do falido, que se repudio arrecadados (Câmaras
Cíveis Reunidas do Tribunal Justiça do Paraná, 27 de outubro de 1950, Paraná 3.,
10).
Uma das primeiras frações de devedor que o síndico pode teter é a de não
providenciar para a imediata publicação diviso (art. 63, 1). Por imediata há de entender
no tempo mais curto possível. Outra é a de não diligenciar para que se a, na presença
do falido, ou de pessoa por ele designada, correspondência recebida, bem como a de
não entregar ao dono a correspondência que se não refira a interesse da massa. É assaz
importante a regra jurídica do ad. 68, IV, que supõe ao síndico o dever de recolher, nas
vinte e quatro horas imediatas, as quantias pertencentes à massa, que haja recebido.

6. RECURSOS. O recurso é o de agravo de instrumento Decreto-lei n. 7.661, ad. 66,


§ 2.0). Pedida a gratificacao porém, e denegada, qualquer interessado pode recorrer. o
juiz destitUiu de oficio o síndico, sem esse ser ouvido mx ser ouvido o órgão do
Ministério Público, por ser caso art. 66, § to, 2? parte, tanto aquele como esse (7.~
Chamar de do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 15 de outubro de 1946, E. 9.,
110. 446), ou qualquer outro interessado [e agravar de instrumento, ou exercer outra
pretensão concursal.

§ 3.378. Responsabilidades do sindico


CAPITULO VIII

1 FUNÇOES E REMUNERAÇÃO . A entrada em ações, para o síndico, é


simultânea à assinatura do termo promessa de bem e fielmente exercê-las. Com a
assinatura do ato, aceita o cargo, inicia-se nas funções e assume as responsabilidades.
No ad. 67, o Decreto lei n. 7.661 estabelece síndico tem direito a uma remuneração ,
que o juiz deve tratar, atendendo à sua diligência, ao trabalho e à responsabilidade
função e à importância da massa, mas sem ultrapassar de 6% até Cr$ 100.000,00 de
5% sobre o excedente até Cr$ 200.000,00; de 4% sobre o excedente até 500.000,00;
3% sobre o excedente até Cr$1.000.000,00 de 2% sobre que exceder de Cr$
1.000.000,00”.
Em vez de se adotar O critério do cálculo sobre o liquido, nos as despesas de
arrecadação e liquidado, como ora sob a lei siteriu’, da massa”•
A remuneração do síndico é encargo da massa, porque entra no que se denomina
“despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuiçao do seu
produto” (ad. 124, § 12,111, verbis “inclusive a confisco do síndico”). Como tal, paga-
se antes das dividas da massa (art. 124, § 32).

2.DIREITOS REAIS LIMITADOS E REMUNERAÇAO DO SINDICO.


Quanto aos bens gravados de direito real limitado sem ser direito real de garantia
(enfiteuso usufruto, penhor e habitação), arrecadação e administração não se
entende do direito real, mas sim do direito de domínao (ou de enfiteuse, se a
falência é do enfiteuta e há direito real limitado que grave o bem, sem se tratar de
direito real de garantia). Não se desconta comissão de síndico, para que pese contra o
titular do direito real limitado que não é direito real de garantia; porque a fosse direito
não se extrai o valor, esse’ direito é incólume à arrecadação e, pois, à administração
Quanto aos bens gravados de direito real de garantia. têm eles de submeter-se à
extração do valor, exatamente porque são direitos reais de garantia. A remuneração
do síndico é deduzida do produtos mas os titulares dos direitos reais de garantia têm
pagamento imediato dos seus créditoS, até onde chegue o produto dos bens que
estavam gravados. Ai, vendidos foram os bens; nas espécies em que o direito real
limitado não é direito real de garantia. o que se vende é o domínao (ou a enfiteuse, se
gravada foi ela), e não o bem.
Tem-Se de atender, ainda, a que é preciso fazer-Se O cálculo do que ~ 0rresponde ao
bem gravado. A lei é explícita:
“descontadas as custas e despesas de arrecadação, administração, venda, depósito ou
comissão do síndico, relativas aos mesmos bens”. A lei assimila a comissao do síndico
à remuneração do depositário, nas outras execuções forçadas. E com razão.
Se o devedor obtém concordata suspensiva~ também há o limite do ad. 67, § 22, e de
modo nenhum se pode calcular sobre os bens gravados de direito real de garantia. O
concordatária somente recebe a massa após pagar a remuneração do síndico, calculada
sobre o que se tem de pagar aos credores quirografários~ mas levando-Se em
consideração o “trabalho” do síndico e, portanto, o momento em que se entregam os
itens. Diz o art. 67, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661: “No caso de concordata, a
percentagem não pode exceder a metade das taxas estabelecidas neste artigo, e é
calculada somente sobre quantia a ser paga aos credores quirografários”.
A percentagem do síndico é sobre a quantia a ser paga ~ara a extinção das dívidas do
falido; portanto, sobre o que, respeito, consta dos autos, e não sobre o que se disse,
extra-autos, ou sobre o que, fora dos autos, alega o devedor ter )ago (sem razão, a 3•a
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 28 de junho de 1948, R. dos T., 176,
315).

3.MOMENTO EM QUE SE FAZ O CÁLCULO DA REMUNERAÇÃO.


O cálculo da remuneração do síndico somente pode ser feito, definitivamente, antes
de se iniciar o pagamento dos credores. direito antes de serem vendidos os bens, é
sujeito a revisão,porque a lei manda que se calcule sobre “o produto dos bens ou
CAPITULO VIII

valores da massa”, e não sobre o que se previu em avaliação. 0-se no art. 67, § 1.0, do
Decreto-lei n. 7.661: “A remuneração é calculada sobre o produto dos bens ou vaiares
da massa, rendidos ou liquidados pelo síndico. Em relação aos bens que constituírem
objeto de garantia real, o síndico perceberá comisao igual à que, em conformidade
com a lei, for devida ao depositário nas execuções judiciais”.

A 3~2 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 31 de fevereiro de 1949


(relator, desembargador PEDRO CHAVES), foi de grande exatidão na aplicação do
ad. 67, § 1.0: ‘A discussão versa sobre a tomada do valor-base para apurar-se à
remuneração do síndico, sustentando a agravante que esse valor é o preço alcançado
em leilão, enquanto que agravado sustenta que é o preço da avaliação. A razão está
com a agravante. O melhor índice de valores é o que se obtêm ela venda. Antes disso,
só se pode falar em estimativas, e o preço ou valor real é que deve servir de base para
o cálculo das comissões. Aliás, essa interpretação é a que deve prevalecer, mesmo para
evitar- situações estranhas, em que o valor letivo poderá descer a tal nível que se torne
insuficiente para o pagamento da remuneração do síndico”.

4.SÍNDICO NOMEADO COM INFRAÇÃO DA LEI, SÍNDICO ENUNCIANTE


E SÍNDICO DESTITUÍDO. Se a nomeação do sindico veio a ser revogado por
alguns juristas, § 3•O, ~ IV e V, do Decreto-lei n. 7.661, não tem ele direito e
pretensão à remuneração, porque, a seu próprio risco, aceitou a investidura. Se a
revogação da nomeação foi fundada no ad. 60, § 3$, 1, há de atender-se ao momento
em que o síndico teve ciência da causa de impedimento. Enquanto não se faz a
reclamação, a pessoa que aceitou o cargo por ignorar o parentesco, ou outra causa, ou
o ser cessaonário de crédito do falido, tem direito a remuneração do seu trabalho
correspondente ao tempo entre a investidura e a entrega dos bens.
Se o juiz julgou improcedente a reclamação e houve agravo de instrumento, a que foi
dado provimento, o síndico tem direito à remuneração dos serviços enquanto os
prestou.
Quanto ao síndico renunciante, não se tem de atender ao motivo da renúncia, salvo se
em verdade não houve renúncia, e sim, com o nome de renúncia, alegação de
impedimento superveniente. O verdadeiro renunciante perde qualquer direito a
remuneração .
Se o síndico veio a ser impedido, por superveniência de parentesco, ou de relação de
amizade ou inimizade (e. g., passou a ser órgão da sociedade falida amigo íntimo seu,
ou inimigo seu), tem direito à parte da remuneração do síndica, que lhe tocar pelo
tempo e trabalho. Dá-se o mesmo em caso de interdição, morte, falência ou concordata
preventiva do síndico (ad. 65).
Quanto ao síndico destituído, sem ser por ter, supervenientemente, interesses
contrários à massa, nenhum direito tem à remuneração, porque ou excedeu, sem justa
causa, algum
• prazo, ou infringiu dever que resultava de regra jurídica (ad. 66).
Se a causa da destituição foi sobrevir-lhe a situação de pessoa com interesses
contrários à massa, tem-se de indagar se houve fato seu para que tal situação surgisse:
se não houve, mesmo ato-fato jurídico seu (aliter, fato jurídico st ri eta sensu), a
espécie tem de ser tratada como a de falecimento, interdição, incursão em falência ou
concordata preventiva; se houve, a espécie é de versar-se como se o síndico tivesse
sido destituído por infração de dever. Assim, o síndico que herda interesse contrario a
massa não perde o que, na remuneração ao sindico, corresponda ao tempo em que
serviu, O síndico contra o qual dizia de ser proposta ação de indenização a favor da
massa, por ato ilícito, ou ato-fato ilícito, não tem direito a remuneração.
Lê-se no art. 67, § 4$: “Não cabe remuneração alguma o síndico nomeado contra as
disposições desta lei, ou que aja renunciado ou sido destituído, ou cujas contas não
tenham ido julgadas boas”.
CAPITULO VIII

As decisões de nomeação sem os pressupostos necessários podem ser revogados, após


reclamação. Se já não podem ser revogadas, touitur qztaestio. Das renúncias já
falamos; bem assim das destituições. Se as contas do síndico não são julga-as boas,
perde ele o direito à remuneração.
Se a pessoa foi nomeada síndico por ser um dos maiores credores (Decreto-lei n.
7.661, art. 60) e fica provado que não era credor (= não foi admitido como credor da
falência),não tem direito a remuneração (4.ft Câmara Civil do Tribunal de Apelação
de São Paulo, 4 de março de 1943, 1?. dos T., 44, 590), salvo se permanece no cargo,
porque, então, funciona como estranho, ou se ignorava a solução da dívida.

5.MOMENTO EM QUE SE FAZ O PAGAMENTO DA REMUNERAÇÃO DO


SÍNDICO. O ad. 67, § 3, do Decreto-lei n. 7.661 explícito: “A remuneração será paga
ao síndico depois de ligadas suas contas

6. RECURSO. “Do despacho que arbitrar a remunera-lo cabe agravo de instrumento,


interposto pelo síndico, credores ou falido” (Decreto-lei n. 7.661, ad. 67, § 5$). Tem-se
de interpretar que também é legitimado ativo recursal o Órgão o Ministério Público.
Igual recurso pode interpor o síndico se decisão nega o direito a remuneração <2.a
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de são Paulo, 22 de abril de 1947, ~. dos T., 168,
199).

§ 3.379. Responsabilidade do síndico

1.MÁ ADMINISTRAÇÃO E INFRAÇÃO DE LEI. Desde momento da


investidura, o síndico é responsável por todos s prejuízos que resultem de má
administração. Outrossim,quando derivam de infração de lei. É interessante observar-
se que A autorização do juiz ou o julgamento das contas, ou a aprovação do ato,
não afasta a responsabilidade do síndico (Decreto-lei n. 7.661, ad. 68: “O síndico
responde pelos prejuízos que causar à massa, por sua má administração ou por
infringir qualquer disposição de lei”; parágrafo único: “A autorização do juiz, ou o
julgamento das suas contas, não isentam o síndico de responsabilidade civil e penal,
quando não ignorar o prejuízo que do seu ato pode resultar para a massa ou quando
infringir disposição da lei”).
a)Se o síndico infringe regra jurídica do Decreto-lei n. 7.661 e há dano, nasce contra
ele a pretensão à indenização. Não se apura culpa, ou ciência do dano.
b)Se o síndico, sem ser por infração de alguma regra jurídica do Decreto-lei n. 7.661,
causa dano a alguém, como sindico, a sua responsabilidade resulta de ter conhecido o
prejuízo que do seu ato positivo ou negativo resultaria.
c) Se a responsabilidade do síndico não cabe em a), nem em b), os princípios que a
regem são os de cada espécie que se componha.
Casos há em que o síndico não praticou o ato, com permissão ou autorização do juiz.
Foi decidido, sem ou contra a manifestação de vontade ou comunicação de
conhecimento por parte do síndico. Aí, é nenhuma a responsabilidade do síndico, salvo
se, podendo recorrer da decisão, não recorreu, ou, tendo recorrido, desistiu do recurso
ou perdeu algum prazo.
Se o ato foi querido, ou resultou de comunicação de conhecimento por parte do
síndico, o fato de o ter o juiz permitido ou aprovado, ou ordenado, não pré-exclui a
responsabilidade civil e penal do síndico.
Se houve infração da lei, ainda que por parte do síndico e do juiz, não é preciso
indagar-se se o síndico ignorava que dele podia decorrer prejuízo, ou se o não
ignorava. De indagação de ciência do prejuízo imediato ou futuro somente se há de
cogitar se, por lei, o ato poderia ser praticado (e. g., segunda avaliação do imóvel
hipotecado, 1•a Turma do Supremo Tribunal Federal, 31 de agosto de 1942, R. dos T.,
148, 379 e 155, 834; omissão no pagamento de aluguer de prédio bocado ao falido, ou
CAPITULO VIII

posteriormente, Câmaras Cíveis Reunidas do Tribunal de Apelação do Distrito


Federal, 10 de agosto de 1944, 1<. Ir., 1, 94).
Julgando boas e bem prestadas as contas, não cabe ao juiz apreciar, na sentença, se
houve ato de que possa derivar denizabilidade: é matéria para outra relação jurídica
processual (Tribunal de Justiça de São Paulo, 23 de abril de 1931, dos T., 78, 77).
Não cabe trazer-se à tona do assunto o art. 159 do Código [vil, concernente à culpa.
Primeiro, o art. 68, parágrafo único, Decreto-lei n. 7.661 é la apecialis; segundo, o
dever de indenizar, em tais espécies, é de direito público, e não de direito privado;
terceiro, no próprio direito privado, inclusive no Código Civil, há outras fontes da
pretensão à indenização. a houve infração de lei e prejuízo, há pretensão à indeniza~o,
independentemente do pressuposto da culpa, de que se contraiu, na parte final do art.
68, parágrafo único.
O fato de terem sido julgadas boas e bem prestadas as perguntas não exclui a
responsabilidade do síndico.
São fatos, por exemplo, de que decorre responsabilidade: amora na publicação do
aviso para as declarações de crédito Decreto-lei n. 7.661, art. 80), ou na expedição das
circulares a que fala o art. 81 e §§ l.~ e 2.0; cobrança de divida com abatimento
(Decreto-lei n. 7.661, art. 121).
O dano ou prejuízo há de ser: a) à massa falencial; ii 19 ao falido, se obteve
concordata, ou a revogação da sentença de decretação da falência, ou se o prejuízo
ocorre despeito do prosseguimento da falência (e. g., o falido tem interesse em que se
extingam ou se extingam mais cedo as suas obrigações, Decreto-lei n. 7.661, art. 135,
II, III e IV); u c) a credor com direito real de garantia; ou d) a titular de direito real
limitado que não seja de garantia (e. g., o dano bem gravado ofendeu o direito real
limitado).

2. LEGITIMAÇÃO ATIVA. Se o dano foi à massa, o novo sindico, ou o órgão do


Ministério Público, ou o falido pode repor a ação (cf. Decreto-lei n. 7.661, art. 86). Se
foi encerada a falência, qualquer credor pode promovê-la; em caso [e concordata, só o
falido.

1.AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS PROPOSTA PELO SÍNDICO, O síndico


tem de prestar contas, voluntariamente, ou após cominação. Desde que deixa de ser
síndico, a pessoa, que exerceu o cargo, tem de prestar contas (Decreto-lei n. 7.661, art.
69: “O síndico prestará contas de sua administração, quando renunciar o cargo, for
substituído ou destituído, terminar a liquidação, ou tiver o devedor obtido
concordata”>. Os herdeiros prestam as contas pelo síndico falecido. O art. 69 deixou
de referir os casos em que o síndico entrou em funções, mas, depois, foi revogada a
decisão que o nomeou. Então, ao síndico nomeado presta contas a pessoa que exercera
as funções durante a pendência do recurso.
Não há prestações de contas parciais, posto que, no correr do procedimento falencial,
possa o síndico apresentar exposição e documentos de atos e despesas <2.a Câmara
Cível do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 20 de outubro de 1916, R. de D.,
43, 525: “Determinando as épocas oportunas para prestação de contas, é bem claro que
fora delas não deve ser admitida, a fim de não ser a massa sobrecarregada com
despesas, que nenhuma utilidade lhe trazem”).
(No direito anterior, exigia-se diário, com termo de abertura e termo de encerramento,
assinados pelo juiz, páginas numeradas, e rubrica do juiz em cada página. Não se exige
hoje, mas é de conveniência do síndico tê-lo, e pode requerer ao juiz que atenda
aquelas formalidades.)
O processo da ação de prestação de contas corre em apenso aos autos da falência. Na
petição, o síndico deve narrar o que se refira às operações e seja indispensável para se
lhe apreciar a legitimidade (“As contas, acompanhadas de documentos probatórios,
serão prestadas em processo apartado, que se apensará, a final, aos autos da falência”,
Decreto-lei n. 7.661, art. 69, § 19).
CAPITULO VIII

No art. 69, § 2.0, diz-se que “o escrivão fará publicar aviso de que as contas se acham
em cartório, durante dez dias, à disposição do falido e dos interessados, que poderão
impugná-las”.
As contas têm de ser feitas em forma mercantil (Código de Processo Civil, art. 309).
As pequenas despesas, de que de prova, têm de ser explicadas, para que se computem.

2.IMPUGNAÇÃO E NÃO IMPUGNAÇÃO. Se não houve impugnação, dentro do


prazo de dez dias, contados conforme aviso <não necessariamente da primeira
publicação do aviso e que se acham à disposição dos interessados), ouvido o órgão cIo
Ministério Público, os autos são conclusos ao juiz, que as julgará.
Se houve impugnação, o Decreto-lei n. 7.661, ad. 69, não disse qual o processo e, pela
redação do ad. 69, § 89, pode parecer que, ouvidos os órgãos do Ministério Público e
o síndico, logo se fazem conclusos os autos para que o juiz as julgue. tal interpretação
seria de repelir-se. Apresentadas as contas pelo síndico, impugnadas, o rito do
processo é o ordinário, pela necessidade de produção de provas, e assim se faz no
processo comum (Código de Processo Civil, ad. 808, § 2.0). “Decorrido prazo do
aviso”, diz o ad. 69, § 3•0, do Decreto-lei n. 7.661, realizadas as necessárias
diligências, serão julgadas pelo juiz, ouvido o representante do Ministério Público, e,
se houve impugnação, o síndico”. Sem audiência do síndico <8.8 Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, 12 de dezembro de 1931, R. dos 2’., 81, 72), ou do
órgão do Ministério Público, 3 julgamento, se houve impugnação, é nulo; mas a
nulidade é nulidade não-cominada (Código de Processo Civil, ida. 278 e 274).
É nulo o processo de prestação de contas se foi proces3ado com infração do ad. 69, §
2?, do Decreto-lei n. 7.661
(cf. 2,8 Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, 21 de janeiro de 1916,
R. .T., II, 548), ou do art. 69, § 1.0 (Tribunal de Justiça de São Paulo, 17 de setembro
de 1914, F?. dos T., 11, 148).

8. RECURSO. Da sentença cabe agravo de petição (Decreto lei n. 7.661, ad. 69, §
4.0). Se o síndico teria de restituir determinada importância à massa, ou de satisfazer
qualquer exigência, deve o juiz julgar não prestadas devidamente as contas; ou julgá-
las prestadas o que é menos recomendável com a ressalva da restituição, dentro do
prazo, para assa, de quarenta e oito horas <com isso em verdade se julga
prestadas). A terceira solução, que seria a de se subordinar o julgamento das contas à
restituição prévia, teria grandes inconvenientes teóricos e práticos; e um deles,
ocorrido na Justiça de São Paulo, é o de se ter de decidir sobre qual o recurso então
inter disponível . O juiz condicionou o julga.mento à restituição (devia, legalmente, de
ofício, ou a requerimento, se o houve, mandar depositar, conforme o ad. 63, IV, do
Decreto-lei n. 7.661, a quantia devida, e, findo o prazo, processar a destituição,
segundo o art. 66 e §§ 1.0 e 29) o síndico agravou de petição; a 6~a Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, a 25 de fevereiro de 1949, entendeu que “cabe
agravo de petição não só da decisão que julga as contas do síndico como também da
que deixa de manifestar-se sobre elas, condicionando o julgamento à restituição pelo
síndico de determinada importância à massa”; em voto vencido, um dos
desembargadores, não conheceu do agravo de petição, “por se não terem julgado
contas” (R. dos 2’., 179, 874).

4.AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS PROPOSTA CONTRA O SÍNDICO. A


Lei de Falências também cogita da ação de prestação de contas proposta contra o
síndico. O Código de Processo Civil distinguiu, com precisão, a ação proposta pelo
que as há de prestar e a proposta contra quem é obrigado a prestação de contas (cf.
Código de Processo Civil, ads. 307 e 308, respectivamente). O ad. 69 e os §§ 1.0~4.0
trataram da ação de prestação de contas proposta pelo síndico, e os §§ 59 e 6.0, da
entrada do alcance. No ad. 69, § 79, cogitou-se da intimação para prestação no prazo
CAPITULO VIII

de cinco dias e das conseqüências penais administrativas. Lê-se no ad. 69, § 79: “Se o
síndico não prestar contas dentro de dez dias após a sua destituição ou substituição, ou
após a homologação da concordata, e de trinta dias após o término da liquidação, o
juiz, a requerimento de qualquer interessado, determinará a sua intimação pessoal para
que as preste no prazo de cinco dias; decorrido o prazo sem serem prestadas, o juiz
expedirá contra o revel mandado de prisão até sessenta dias, ordenando que o seu
substituto organize as contas, tendo em vista o que aquele recebeu e o que,
devidamente autorizado, despendeu”. Tudo se há de passar do mesmo modo se o
síndico deixar as funções interdição, ou de morte, não há a cominação de prisão ao
dor, ou aos herdeiros; há a cominação de serem prestadas contas pelo novo síndico, se
o curador ou os herdeiros não as farem. Se a herança é arrecadada, por falta de
herdeiros, a o curador.
Se o síndico já nenhuma outra função tem, e é destituído, outra razão deixa de o ser
sem prestar contas, ainda ai o juiz de nomear substituto, ad hor, para que apresente
contas.
O art. 308, § 2.0, do Código de Processo Civil é aplicável. pessoa que foi síndico tem
de ser ouvida.

5. ALCANCE. O alcance pode ser apontado, quer na de prestação de contas proposta


pelo síndico, quer na ação prestação de contas proposta contra o síndico. Num ou ro
caso, “o síndico será intimado a entrar, dentro de quarenta e oito horas, com qualquer
alcance, sob pena de prisão sessenta dias” (Decreto-lei n. 7.661, ad. 69, § 5~0)~
“Na sentença que reconhecer o alcance, o juiz pode ordenar o seqüestro de bens do
síndico, para assegurar indenização passa, prosseguindo a execução, na forma da lei”
<Decreto lei. 7.661, ad. 69, § 69). Arresto, e não seqüestro, é a medida que se trata. A
superficialidade, hoje, de alguns professores e advogados é responsável por essa
erronia de termino que MANUEL DE ALMEIDA E SOUSA (Tratado prático
comentário de todas as Ações sumárias, 1, 61) corrigiu. O seqüestro a apreensão e
guarda da coisa, temporariamente , para se assegurar a entrega a alguém, quando
houver cognição bastante juiz. Supõe controvérsia sobre a coisa (L. 110, D., de
verbosignificatione, 50, 16). O étimo de “seqüestro ” revela presença de terceira
pessoa, que fica entre os disputantes; anteriormente, a retirada da coisa, sobre que se
disputa, pela terceira pessoa. Se descemos mais longe nas origens, não há ;, na
palavra, do que * sequos, o mesmo étimo do nosso unir” (M. BRÉAL, Mémoires, V,
29), acompanhar. Muito rentes a função e o étimo de “arresto”. (Não se pense em ent-
tro, palavra hipotética, que VANICEK, Etymolo.qisches terbuoh, 2.8 ed., 287,
sugeria.) Nas Ordenações Afonsinas, o III, Titulo 79, § 3, aparece o “socrestro”, que se
usou em Portugal «esne muitos suí quanto, com o arresto (Livro III, Título 25). O
sequestro supõe incerteza quanto ao sujeito da pretensão de direito material ou perigo
de rixa ou violência (Código de Processo Civil, ad. 675, 1), o que não se dá com o
arresto. Seqüestro e arresto retiram algo do poder de dispor. Aquele, quanto à
asseguração de prestação especifica; esse, quanto à asseguração de prestação do valor
pecuniário do que é devido. O Código de Processo Civil, art. 676, 1 e II, mostra que o
Código separou os dois conceitos, permitindo (ad. 686) o arresto pendente a lide;
portanto, cancelando, à semelhança do direito anterior, a diferença entre arresto e
medidas interminais ou pendente a lide. Tanto no seqüestro como no arresto, apenas
há inhibitio, sem que o poder de dispor passe ao Estado. Mas inibição com constrição
da posse, o que os distingue de simples praeoevtum de twn alienando, como esse entra
na classe, mais vasta, das inibições com ou sem vedação de alienar (e. g., sem retirada
do poder de dispor e sem tomada da posse, inibição de obra nova>. Seqüestro de
dinheiro só é possível se o dinheiro é conteúdo de coisa não fungível, como pacote de
cédulas, o cofre de uma casa comercial. O direito romano não conheceu o instituto do
arresto. Com as suas raízes germânicas, desenvolveu-se ele no processo civil comum,
conforme se lê em (litro voM GTERKE (Deuteches Privatrecht, 1, 330). Ao contrário
de A. WAOE, devemos distinguir a evolução italiana e a evolução germânica: aquela,
CAPITULO VIII

desde a penhora arbitrária do direito longo barbado; essa, desde a época carolíngia <H.
RUDoRFP, Zur Rechtsstellung des Gáste, 41). Mas há quem ache inconcebível que
existisse o arresto desde o século XI (HIANS PLANrEZ, liXe
Verm4gew~svoUstrecku1W, 1, 159, 164): havia na penhora, certamente, algumas
limitações, mas continuava com os traços da própria origem, que era o penhor extra
judicial. Permanecia imanente a idéia de penhora, requerida ou arbitrária. Firo tendeu
Tu. MUTUEIt (Se questration uná Arrest, 304 e 344, nota) que já existia arresto no
direito romano e apontou certa passagem do Codes Theodosianus e outra do Digesto
(L. 10, § 16, D., quae ia fraudem creditorurn facta sunt, tU restitui.»tur, 42, 8). E nisso
convinha W. ENDEMANN (Das deutsche Zivilprozessrecht, 1, 492). Lá está como se
tirássemos em sigo dinheiro, e eu o prendo e dele tomo o que me era cio, diz
JULIANO que é assaz interessante saber-se se isso antes ou depois de haver missao
in possessaonen dos três . Há, aí imanente, digamos o arresto; porém arresto
institucional. Com o expediente de cata de frases, traríamos nos textos romanos tudo
que desejássemos. Entre o seqüestro e o arresto existem elementos comuns nentos
diferenciais. Confundi-los seria pernicioso teórica e unicamente, pois não coincidem
os requisitos de aplicação, as conseqüências de um e de outro.
São elementos comuns ao arresto e ao seqüestro :
O intuito de segurança econômica , quando qualquer (dos previstos na lei) permite
crer-se na ofensa a direitos.
O caráter de medida preventiva, como a detenção ‘aí, os protestos, a caução, a venda
judicial de objetos judiciais que tenham sido embargados, depositados ou penhorados,
se de fácil deterioração, etc. Um desvia o perigo do aparecimento da coisa, é o
seqüestro ; outro consiste em rogo ou impedimento, até que o devedor solva a dívida.
Supõe a questão sobre a coisa (direito real, posse); outro,ligação. 3~ elementos
diferenciais: t)Posto que preventivos e de segurança os dois remédios do seqüestro e
o do arresto, o primeiro tem por observar determinada coisa, ao passo que o segundo
como que é suficiente para cumprimento do que é devido. Termos mais precisos,
embora de linguagem mais técnica, prevenção, no que concerne ao objeto (seqüestro
>, ou no respeito à utilidade final da relação de direito (arresto).
)O seqüestro supõe a litigiosidade da coisa ou, por s expressões, a incerteza subjetiva
em relação a ela; arresto não implica qualquer laço entre o objeto da causa vai ou se irá
decidir, e os bens, que se arrestam: não há certeza, mas certeza de quem é o dono
deles. Ali, depositados os bens porque há dúvida quanto ao termo da relação isto), a
que se prende a coisa; aqui, é da inexistência de divida que se parte para a concessão
do arresto. Bens que o sabe a quem pertencem, ou quem os possui, podem
mente o serem arrestados.
No seqüestro, tem-se por fito a incolumidade da coisa, até que se decida a causa
principal, para que não sejam prejudicados os direitos dos interessados. No arresto,
não se determinam os bens; são quaisquer, e onde se encontrem, para que se não
subtraia à futura prestação o patrimônio necessário à solução da divida. Daí dizer
SÂMUEL STRYK que o seqüestro fit custodiae causas; o arresto, vero imponitur, ut
arrestatus debitum solvat. No seqüestro , tira-se dos litigantes, e entrega-se a terceiro,
que serve de depositário, a coisa que se seqüestrou . No arresto, proíbe-se ao possuidor
que lhe altere o estado, o lugar, ou a dependência jurídica.
Excepcionalmente, se o caso não é de alcance, mas de verificação de que o síndico
subtraiu à massa algum bem, é que se pode pensar em seqüestro .

6. PRISÃO DO SÍNDICO. A prisão, que se comina, é para que o síndico seja


constrangido a entrar com o alcance, ou, excepcionalmente, a entregar com algum
bem. Se, dentro do prazo da prisão, presta aquilo em que foi alcançado, ou subtraira à
massa, cessa a prisão.
Transita em julgado a sentença, procede-se à execução nos próprios autos da ação de
prestação de contas, em que se verificou o alcance (Código de Processo Civil, ad.
860), segundo as regras jurídicas sobre a execução pela condenação em quantia certa.
CAPITULO VIII

Porém, ainda antes de transitar em julgado a sentença, tem-se a escolha: continuidade


do arresto, que é medida cautelar, que o agravo de petição não suspende, ou início da
execução provisória com fundamento no ad. 882, li, do Código de Processo Civil. É
preciso que se preste atenção ao que diz o ad. 69, § 6.~, do Decreto-lei n. 7.661, que
faz o arresto escapar à suspensividade do efeito do recurso: “Na sentença que
reconhecer o alcance, o juiz pode ordenar o seqüestro ”
de regra, arresto “de bens do síndico, para assegurar a indenização da massa” (note-
se a cautelaridade da medida>, prosseguindo a execução” portanto, a despeito do
recurso “na forma da lei”. Lei, aí; são os arts. 810, 882, II, e 918,

isto (ou seqüestro ) em penhora; feita a penhora, a medida cautelar fica sem objeto (cf.
Comentários ao Código de Processo Civil, IX, 2.~ ed., 292 5.)

CAPITULO III

ARRECADAÇÃO E GUARDA DOS BENS, LIVROS E DOCUMENTOS DO


FALIDO

§ 3.881. Conceito de arrecada$o

1.ARRECADAR, RECADAR. Recadar é alcançar. Quem leva recado alcança.


Alcança quem arrecada. Com a tomada da posse inferior à de quem pode ser o dono,
ou o possuidor próprio, o arrecadador faz-se possuidor imediato ou mediato (e. g., se a
posse imediata está com outrem que não seja quem haja de sofrer a arrecadação, ou
quem haja de ser protegido com ela).
Arrecada-se também o objeto de que o falido não é possuidor próprio e de que tem ele
apenas posse imprópria, mediata ou imediata. É o caso, respectivamente, da
arrecadação do bem sublocado, ou do bem bocado ao devedor comum: ali, não é ele
possuidor próprio, e só tem posse mediata; aqui, é possuidor impróprio, com posse
imediata.

2.FUNÇÃO DO SÍNDICO. Aberta a falência de alguém, tem o síndico de lhe


arrecadar os bens, inclusive livros e documentos. A tomada de posse, ordinariamente ,
é de posse imediata; mas pode ocorrer, e não raro ocorre, que seja de posse mediata,
intercalar. Se o bem de que é dono o falido está sujeito a contrato de locação e houve
sublocação, o que o síndico obtém, com a arrecadação, é a posse mediata entre a posse
própria mediata do falido e as duas outras posses, impróprias, uma mediata e outra
imediata, do locatário e do sublocatário. Tem-se aí apenas um exemplo.

1.POSSE E ARRECADAÇÃO . A tomada de posse’ pelo sindico, é feita com a


assistência do órgão do Ministério Público, o síndico convida. Tem de ser logo após a
assinatura dono de promessa de bem é fielmente exercer as funções, como o síndico as
inicia.
A lei não diz como há de proceder o síndico se o órgão Ministério Público deixa de
comparecer. No art. 70, o Decreto lei n. 7.661 estatui, como dever e poder do síndico:
síndico promoverá, imediatamente após o seu compromisso, arrecadação dos livros,
documentos e bens do falido, onde ar que estejam, requerendo para esse fim as
providências policiais necessárias”. Entre os pedidos de providências está
requerimento ao juiz da intimação do órgão do Ministério Mico para os atos da
arrecadação, com os dias e horas, lugar que se hão de praticar, ou de onde se há de
partir para alcançarem os bens, livros e documentos. Se não há dano na ta de
comparencia do órgão do Ministério Público, basta convite a esse. A recusa do órgão
do Ministério Público a reaparecer, ou a falta da sua presença, na ocasião, sujeita-o às
nulidades da sua lei e à responsabilidade pelo dano. No ato inventário convém que o
CAPITULO VIII

síndico narre o ocorrido.


Não há arrecadação de bens da falência sem que a faça síndico. O juiz não pode
mandar que os oficiais de justiça arrecadem, nem que o órgão do Ministério Público
faça as zes do síndico, É legítima a repulsa ou a resistência do falido arrecadação se a
pessoa que se apresenta para lhe arrecadar bens, algum ou alguns bens, não é o
síndico, ou não prova e é o síndico. Por exemplo: se a vão fazer oficiais de juiz
Tribunal de Justiça de São Paulo, 17 de fevereiro de 1930, dos T., 74, 528), ou o
escrivão.
A propósito frisemos mais uma vez: a decretação de aberra da falência, a que a lei
exige publicidade, tem a eficácia judicial, ineliminável, do penhoramento abstrato.
Tudo que pertence ao falido e terá de ser arrecadado pelo síndico já está,
automaticamente , penhorado in abstracto, e o juízo passou ser possuidor mediato. Em
sistema jurídico, no qual, a registro da posse, se abstraiu do anirn.us e do corpus, é
mais fácil empreender-se isso’. em que se não proceda à arrecadação imediatamente, o
caminho, que tem o juiz, de ofício, ou a requerimento do órgão do Ministério Público,
ou de qualquer credor, ou do falido, é o de destituir o síndico, nomear o substituto e
ordenar a arrecadação, pois os agravos de instrumento, que se podem interpor, não têm
efeito suspensivo <cf. Decreto-lei n. 7.661, ads. 60, § 4Y, e 66, § 2.0).
Lê-se no ad. 70, § 1.0, do Decreto-lei n. 7.661: “A arrecadação far-se-á com
assistência do representante do Ministério Público, convidado pelo síndico. Opondo-se
o falido à diligência, ou dificultando-a, o síndico pedirá ao juiz o auxílio de oficiais de
justiça”. O síndico só tem a competência, o poder, para arrecadar; se advém
resistência, ou recusa, ou simples oposição, por parte do falido, faltam-lhe os poderes
que têm os oficiais de justiça, embora ele e esses sejam órgãos da execução forçada
celetiva.

fi 3.388. Bens arrecadáveis

1.BENS ARRECADÁVEIS E BENS INARRECADÁVEIS . A arrecadação é de


quaisquer bens (coisas, direitos reais e pessoais, pretensões, ações e exceções, cf.
Câmara Cível e Comercial do Superior Tribunal do Amazonas, 31 de maio de 1916, E.
3’., VII, 342). Se o bem consiste em quota, arrecada-se a quota ou o direito à quota
(2.8 Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, 15 de janeiro de 1918,
E. de D., 47, 593). Não é arrecadável o bem que fora alienado, com os pressupostos
formais (e. g., registro), antes do termo legal da falência, e o terceiro adquirente, se se
procede à arrecadação, tem embargos de terceiro (8.~ Câmara Civil do Tribunal de
Apelação de São Paulo, 13 de setembro de 1944, E. dos T., 154, 118), mas são
arrecadáveis o direito, a pretensão e a ação, ou a exceção, que o falido tenha contra o
alienante e o terceiro. Se o falido está em situação que dê ensejo à ação declaratória de
ineficácia relativa (Decreto-lei n. 7.661, art. 52), ou à ação revocatória falencial (arts.
53 e 99; Tribunal de Justiça de são Paulo, 8 de novembro de 1932, E. dos T., 85, 66),
qualquer medida judicial, antes do trânsito em julgado da sentença de declaração de
ineficácia relativa, ou de decretação da meio eficácia relativa (sentença constitutiva
negativa), somente pode-ia ser constritiva cautelar.
Tratando-se de títulos incorporantes, a arrecadação entende se dos títulos e dos direitos
incorporados. Se a arrecadação de documentos, que se refiram a direitos reais ou
pessoais, arrecadação é do direito e dos documentos, que são pertenas deles.
Não há posse de direitos pessoais, erronia em que incorreram alguns juristas de parcos
conhecimentos da teoria da posse, com imenso dano à doutrina e à prática. Se o direito
está incorporado no título, a posse é do titulo, e o direito, pelo fato da incorporação,
tem por titular o possuidor. Se o titulo não é incorporante, a relação dele, no que
concerne ao direito, somente pode ser de documentação. A posse é apenas do
documento, da pertença.
“A arrecadação dos bens particulares do sócio solidário será feita ao mesmo tempo que
a dos bens da sociedade, levantando se inventário especial de cada uma das massas”
CAPITULO VIII

(Decreto-lei n. 7.661, art. 71).

2.CARTAS PRECATÓRIAS. Quanto aos bens sobre os quais recairam medidas


constritivas, executivas (penhora) ou cautelares (e. o.. arresto, seqüestro , busca e
apreensão), cumpre ao juiz da falência deprecar às autoridades competentes a entrega
deles. A arrecadação não pode ser feita em bens penhorados, arrestados, seqüestrados ,
apreendidos, ou por outro modo constritos. Sobre eles está a eficácia de ato judicial
que inibe outro ato que o constitua; poderia ocorrer a eficácia de outro ato, que se
pusesse após aquele, como a segunda penhora, ou o segundo arresto. Daí a
necessidade da carta precatória (Decreto-lei n. 7.661, ad. 70, § 4.~: “Os bens
penhorados ou por outra forma apreendidos, salvo tratando-se de ação ou execução
que a falência não suspenda, entrarão para a massa, cumprindo ao juiz deprecar, a
requerimento do síndico, às autoridades competentes, a entrega deles”.
Se a decretação de abertura da falência suspende a ação executiva, em cujo
procedimento ocorrera penhora, essa penhora passa a ser penhora sujeita ao juízo
falencial e o juiz depreca ao juiz penhorante a entrega dos bens. Também aqui abertura
da falência. Cf. art. 24 e §§ 1.0, 2.0 e 3•0•

3.POSSE MEDIATA E POSSE IMEDIATA. Se os bens do falido estão na posse


imediata ou mediata de outrem (e. g., depositados, dados em penhor, locados,
sublocados, retidos em virtude do exercício de direito de retenção), a arrecadação
opera-se pela tomada de posse mediata que se estabelece logo após a posse própria ou
imprópria do falido, ou, se o falido somente tinha a posse imediata, pela tomada dessa
posse, ou, se o falido era possuidor próprio mediato e possuidor impróprio imediato,
pela tomada da posse mediata subseqüente à do falido e a retirada da posse imediata,
com mediatização da posse imprópria do falido.
Se algum bem ou alguns bens estão na posse ou sentença do falido e esse declara que
são de outrem, ou outrem o afirma, o inventário há de mencionar essa circunstância,
sem que tal menção atribua qualquer direito, pretensão, ação ou exceção ao terceiro,
ou tenha qualquer eficácia de reconhecimento. Trata-se, apenas, de enunciado sobre
comunicação de conhecimento feita por outrem (= comunicação de comunicação de
conhecimento). Se o terceiro tem algum direito, pretensão, ação ou exceção, há de
exercê-los perante o juízo da falência (e. g., com o pedido de restituição, Decreto-lei n.
7.661, ad. 77, ou a oposição dos embargos de terceiro, ad. 79).
O inventário, feito pelo síndico, nenhum direito tira ou atribui a alguém. A sua eficácia
é a de submeter ao juízo falencial os bens arrecadados, como os submeteria penhora
que sobre eles houvesse recaído . O síndico, após a arrecadação, não pode restituir ou
entregar bens, ainda que, pelos livros do falido, ou pelos documentos arrecadados,
fique evidente que a arrecadação não podia apanhá-los.
O síndico pode entender que não arrecadou legalmente
O ato de arrecadação foi ilegal), mas a arrecadação fora feita e o juiz é que pode
desconstituir o ato do síndico. O síndico apenas pode expor ao juiz as razões que tem
para achar que não fez bem em proceder à arrecadação do bem ou dos bens de que se
trata. Isto é: pode dizer ao juiz que o penhoramento abstrato não apanhou esse bem, ou
esses bens, posto ele, síndico, antes acreditasse que os apanhara, ou dizer fiz que
somente por erro os arrecadara.
Se o juiz decide que há de restituir ou entregar algum desconstitui o ato de tomada de
posse, e o desconstitui com cia ex tuno.
No Decreto-lei n. 1.271, de 16 de maio de 1939, diz t. 6.0: “Quando se verificar a
morte, insolvência ou falência do devedor, ou rescisão do contrato por inadimplemento
a, o credor poderá requerer ao juiz competente para tomar conhecimento da causa
principal, que os bens, objeto do falido, passem para sua posse ou de depositário por
ele medido “. Sobre isso, Tomo XXI, § 2.604, 3.
Os livros do falido que se arrecadam são os livros obrigas e os auxiliares. O art. 70, §
6.0, 1, do Decreto-lei n. 7.661 e que se mencionem o estado em que se acham, o
CAPITULO VIII

número numeração de cada um, quais as páginas escrituradas, a data escrituração e do


último lançamento, e se diga se todos estão sentidos das formalidades legais ou quais
os que estão. Assim que se impute ao síndico negligência em guardá-los ou solvência
em escrita posterior à abertura da falência ou arrecadação . Aliás, se a decretação da
falência foi pedida pelo o, o encerramento pelo juiz já se levou a cabo (arta. 3~0,
e 34, II) ; se não o foi, o art. 70, § 5•0, é explícito: “No dia em que iniciar a
arrecadação, o síndico apresentará livros obrigatórios do falido ao juiz, para o seu
encerra o, caso este já não tenha sido feito nos termos dos arts. 8.0, ‘, e 34, n. TI”.

§ 3.384. Inventário dos bens arrecadados

1. INVENTARIAÇAO . O síndico, no inventariar, tem de selecionar todos os bens,


livros e documentos, que arrecadou. foi arrecadado, portanto, o que não consta do
inventário. massa de posse, pelo síndico, de bens, livros ou documentos, não constam
do inventário, foi es bulha. Como ato de versão ilegítima na esfera jurídica do falido
tem-se de tratar quer ato que se disse ou que se supunha de arrecadação e não consta
do inventário. Contra o síndico tem o falido, isso, as ações civis, inclusive
possessórias, e as penais. síndico deixou de arrecadar algum bem, e não consta do
inventário, tem o falido o dever de entrega-lo ao sindico, para que o arrecade, ou
depositá-lo em juízo (cautelarmente». para que, ciente do ocorrido, o síndico proceda à
arrecadação.

2.FORMALIDADES DO INVENTÁRIO. O inventário é ato do síndico. Daí ser


assinado por ele, por órgão do Ministério Público e pelo falido, se está presente. Se o
falido não está presente, ou se recusa a assiná-lo, há de constar do inventário que
estava ausente, ou que se recusou. Lê-se no art. 70, § 3•0, do Decreto-lei n. 7.661: “O
inventário será datado e assinado pelo síndico, pelo representante do Ministério
Público e pelo falido, se presente, podendo este apresentar, em separado, as
observações e declarações que julgar a bem dos seus interesses; se o falido recusar a
sua assinatura, far-se-á constar do auto a recusa. O auto será entregue em cartório até
três dias após a arrecadação”.
O síndico, atendendo ao valor dos objetos arrecadados e à necessidade de serem
imediatamente seguros, pode requerer ao juiz que o contrato de seguro se faça no ato
da arrecadação (e. g., a falência é de joalheria e não havia seguro feito, ou não mais o
havia). Outrossim, se a massa comporta a despesa e é de conveniência, devido a
circunstâncias em que se faz a arrecadação, pode ele requerer que se faça com a
presidência do juiz e presentes avaliadores ou outros peritos.

3.CONTEÚDO DO INVENTÁRIO. Diz o art. 70, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661: “O


síndico levantará o inventário e estimará cada um dos objetos note contemplados,
ouvindo o falido, consultando faturas e documentos, ou louvando-se no parecer de
avaliadores, se houver necessidade”. A estimação feita pelo síndico avaliação é (cf. art.
123, § 2.0). Se há títulos negociáveis em bolsa, o valor é o do dia, ou o do último dia
de cotação. Os livros e documentos não têm estimação. Os direitos, de que os
documentos são pertenças, precisam ser estimados.
Na estimação dos objetos tem-se de considerar o estado em que se acham e o preço
corrente do mercado.
Após o inventário, em se tratando de estabelecimento comercial ou industrial, em que
o fundo de empresa tenha valor maior, há de ser feita a estimação dele presa são os
que se levam em conta para se proceder nada em separado, ou à venda global, ou às
vendas de lotes ad. 116), os que se têm por preços mínimos nas espécies rt. 123, § 2.0,
e aqueles por que são pagos, em dinheiro, os dissidentes se a maioria adotou forma de
liquidação 123, § 5.0).
Os contratos principalmente o contrato ou os contratos ação de imóveis são
CAPITULO VIII

avaliados, e não se alienam separadamente, se, com a venda em globo, o seu valor
cresce.
Estatui o ad. 70, § 6.0, do Decreto-lei n. 7.661: “Serão tidos no inventário: 1, os livros
obrigatórios e os auxilia‘u facultativos do falido, designando-se o estado em que se iii,
número e denominação de cada um, páginas escritura data do início da escrituração e
do último lançamento, e se livros obrigatórios estão revestidos das formalidades
legais; dinheiro, papéis, documentos e demais bens do falido; III, os do falido em
poder de terceiro, a titulo de guarda, depósito penhor ou retenção; IV, os bens
indicados como propriedade terceiros ou reclamados por estes , mencionando-se esta
instância”. o § 78 acrescenta: “Os bens referidos no Pará anterior serão individuados
quanto possível. Em relação móveis, o síndico, no prazo de quinze dias após a sua
arrematação, exibirá as certidões do registro de imóveis, extraídas anteriormente à
declaração da falência, com todas as indicações -que nele constarem”.
Se o objeto arrecadado é coisa fungível, têm de ser mencionados as qualidades e todos
os outros elementos que possam ir na determinação do preço.
Os bens imóveis são caracterizados como se exige para nato de imóveis, e as certidões
do registro de imóveis, que n extraídas posteriormente, hão de ser apresentadas ao para
que fique certificado, nos autos da falência, que tempestivamente cumpriu o síndico o
seu dever (ad. 70, § 7.0). Se há bens sob a guarda, depósito, penhor ou retenção
outrem, o síndico somente lhes pode tomar a posse mediata. caso de guarda, ou de
depósito, que não obstaria ao falido nada da posse imediata, ao síndico incumbe tomá-
la, ou se estatui no ad. 72.
Se o falido era possuidor não próprio do bem, ou se apenas era tenedor, não se exime o
síndico do dever de arrecadação. Deve, a respeito, fazer menção da situação que era a
do falido. No caso de posse imprópria do falido, o síndico a assume, imediatizada a
posse do falido. Se o falido somente era tenedor, a posse pelo síndico extingue a
sentença. Síndico não assume sentença, assume posse.

§ 3.385. Guarda dos bens arrecadados

1.SÍNDICO E GUARDA DOS BENS. Ao síndico incumbe guardar os bens. t


depositário, em virtude mesmo da sua função. No art. 72, diz o Decreto-lei n. 7.661:
“Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do síndico ou de pessoa por este escolhida,
sob a responsabilidade dele, podendo o falido ser incumbido da guarda dos imóveis e
mercadorias”.
A guarda por outrem, mesmo pelo falido, é com a responsabilidade do síndico, que é
possuidor dos bens e, nas espécies de que aí se cogita, possuidor imediato. A sua
mediatização não o exime de responsabilidade: continua depositário dos bens
arrecadados, se a posse obtida fora a posse imediata. Resta saber-se qual a situação
jurídica do terceiro, inclusive a do falido, a quem o síndico confiou a guarda dos bens,
ou de alguns, ou de algum bem. A resposta não pode ser dada a priori. Ao síndico é
que cabe estabelecer os pressupostos do negócio jurídico entre ele e o terceiro,
inclusive o falido. Pode ser a titulo de depósito, e pode não ser. Para o juízo falencial,
a responsabilidade é sempre do síndico.

2.VENDA DE BENS ARRECADADAS ANTES DA FASE DA LIQUIDAÇÃO .


“Havendo entre os bens arrecadados alguns de fácil deterioração ou que se não possam
guardar sem risco ou grande despesa, o síndico, mediante petição fundamentada,
representará ao juiz sobre a necessidade da sua venda, individuando os bens a serem
vendidos” (Decreto-lei n. 7.661, art. 73). No art. 73 e no ad. 63, XIII, emprega-se o
termo “representar”, que é impróprio: quem faz petição pede, não só representa.
Demais, o próprio art. 73, § 18, fala de deferimento: “Ouvidos, o juiz, se deferir,
nomeará leiloeiro e mandará que conste do alvará a discriminação dos bens”. A ação é
a mesma do art. 704 do Código de Processo Civil. Ali, fala-se de venda judicial de
bens seqüestrados , ou arrestados, ou depositados, ou penhorados. Os bens arrecadados
CAPITULO VIII

pelo síndico são à semelhança dos bens penhorados. Também a respeito dos bens
arrecadados se dá a sub-rogação real, de que fala o art. 705 do Código de Processo
Civil.
Se não há risco de deterioração, nem a espera da fase da liquidação custaria caro à
massa, não há deferir-se o pedido de venda com fundamento no art. 73 (Conselho de
Justiça do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 7 de maio de 1941 e 4 de abril de
1.945, A. J., 58, 313, e 74, 314).
A lei não previu a necessidade de se vender imediatamente o bem, por estar gravado
de direito real de garantia e não convir à massa que corram juros (Decreto-lei n. 7.661,
art. 26, parágrafo único). O juiz pode deferir a venda imediata, observado o direito
civil.
“O produto da venda será, pelo leiloeiro, recolhido ao estabelecimento designado para
receber o dinheiro da massa (art. 209>, juntando-se aos autos a nota do leilão e a
segunda via do recibo do Banco” (Decreto-lei n. 7.661, art. 73, § 2.~ 2p. art. 117, §
1.0).
Á diferença do que se passa a propósito das vendas normais (art. 117, § 1.0), o
leiloeiro, no caso do art. 73, §§ 1.0 e 2.~, não é pessoa escolhida pelo síndico: nomeia-
o o juiz. Nenhuma responsabilidade por culpa in eligendo tem o síndico, nem, com
maioria de razão, se pode invocar o art. 72. No momento ?m que se entrega ao
leiloeiro o bem, possuidor imediato é ele, não o síndico. Se a venda é de bem de que o
síndico somente ;em a posse mediata, tal posse se transfere ao leiloeiro. No momento
em que o leiloeiro faz a tradição da posse do bem, com transferência do direito, e o
dinheiro, que recebe como preço, é sub-rogado real do bem vendido, de modo que
depositário é o leiloeiro, e não o sindico (cf. Seção Criminal do Tribunal de Justiça de
São Paulo, 1.0 de setembro de 1948, ?. dos T., 176, 463: “Se o leiloeiro não efetuou o
recolhimento o Banco do Brasil do produto da venda dos bens da massa,
sua priMo justifica-se em face da lei. Não, porém, a do síndico, que não teve em seu
poder qualquer quantia”).
Aqui convêm que acentuemos ponto de direito, referente á posse.
Ex hypothesi, o síndico somente é possuidor mediato e o juiz nomeou o leiloeiro, que
inicia a sua função. A tomada da posse mediata, pelo leiloeiro, é mediante qualquer ato
do síndico, sem que o direito brasileiro exija o elemento do a.nimia ou do carpia, o
que simplifica, profundamente, a solução do problema.
Passando ao leiloeiro a posse mediata, ~ qual a posição do síndico, após isso,
possessoriamente? A resposta tem de atender a que o juiz continua possuidor mediato,
acima do leiloeiro, porém a que também o síndico não perdeu a posição possessória:
apenas a sua posse mediata passou a ser entre a do juiz e a do leiloeiro. Se alguma
turbação ou esbulho ocorre, são legitimados material e processualmente à tutela da
posse o síndico e o leiloeiro.

§ 3.386. Inventário negativo e inventário deficiente

1.COMUNICAÇÃO DA NEGATIVIDADE OU DÁ DEFICIÊNCIA. “Se não forem


encontrados bens para serem arrecadados, ou se os arrecadados forem insuficientes
para as despesas do processo, o síndico levará, imediatamente, o fato ao conhecimento
do juiz, que, ouvido o representante do Ministério Público, marcará por editais o prazo
de dez dias para os interessados requererem o que for a bem dos seus direitos”
(Decreto-lei n. 7.661, art. 75). Ou a arrecadação não se faz e o inventário é Oco, dito
inventário negativo, ou a arrecadação revela a insignificância dos bens. São eles, na
segunda espécie, insuficientes para as despesas do processo falencial.
O inventário negativo inventário é, a despeito da contradição só aparente. O inventário
é ato em que de início se diz o que se vai mencionar como arrecadável ou como
arrecadado. No direito falencial, supõe se ter havido o ato de tomada de posse pelo
síndico. Se o inventário menciona um livro, ou papel, que seja, não é, rigorosamente,
inventário negativo, mas patrimonialmente o é.
CAPITULO VIII

FALÊNCIA. Pode qualquer dos credores requerer que se prosa no processo da


falência. Os credores podem desistir do processo, encerrando o juiz a falência. “Um ou
mais credores tem requerer o prosseguimento da falência, obrigando-se entrar com a
quantia necessária às despesas, a qual será considerada encargo da massa” (Decreto-lei
n. 7.661, art. ‘15, [•0)~ O juiz pode ouvir o órgão do Ministério Público e os ros
credores. Não está adstrito a deferir o requerimento. A 2.~ Câmara Civil do Tribunal
de Justiça de São Paulo, de dezembro de 1948 (1?. dos T., 178, 273), entendeu que,
ido-se algum credor prontificado a arcar com as despesas se o juiz nomear outro
síndico; portanto, cancelar a nomeado que se investira das funções e nomear outro,
preferentemente o credor que assume a responsabilidade pelas despesas. O não está na
lei. O que pode ocorrer é acordo com o síndico, para que renuncie. Ou destituí-lo o
juiz, por falta de interesse arrecadação dos bens (4•a Câmara Civil, 24 de agosto de
50, E. de D. M., 1, 363).
Se o síndico, em vez de imediatamente levar ao conhecimento do juiz o fato da
inexistência de ativo, ou da insuficiência do ativo, continua no processo da falência, ou
o pára, despesas ocorrem devido a isso, responde por sua omissão Juízo de Direito de
São Paulo, 29 de abril de 1930, E. dos 7., 559; cf. Tribunal de Justiça de São Paulo, 12
de março 1918, R. de D., V, 214; sem razão, a 1•a Câmara Civil, de abril de 1943, E.
dos T., 147, 660).
Se não existem bens, ou se são insuficientes, as despesas e surgirem correm por conta
de quem as provocou (3~5 Cá~ra Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 7 de abril
1933, E. dos 7., 88, 102) ; e. g., quem pediu a abertura da falência.

3.CESSAÇÃO DO PROCESSO FALENCLAL POR INEXISTÊNCIA


INSUFICIÊNCIA DE BENS. “Se os credores nada requerem, o síndico, dentro do
prazo de oito dias, promoverá a venda dos bens porventura arrecadados e apresentará o
seu relatório ,dos termos e para os efeitos dos §§ 3~0, 4•0 e 59 do art. 200”Decreto-lei
n. 7.661, art. 75, § 2.0). “Proferida a decisão ativos autos” (art. 75, § 3.0).
Surge o problema dos credores com direito real de garantia. Os bens gravados com
direito real de garantia somente respondem pelas custas e despesas de arrecadação,
administração, venda, depósito ou comissão do síndico, relativas aos mesmos bens
(Decreto-lei n. 7.661, arts. 124, § 19, 1H, e 125, que o limita). ,& Tem o síndico de
vendê-los? J. X. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial,
VIII, 429) viu bem o problema: “Fica ao arbítrio do juiz apreciar a insuficiência dos
bens, não devendo contemplar entre estes os bens sujeitos a vínculos ou Ônus reais,
salvo se, satisfeitos os encargos, possam dar sobras. Para pagar as dividas garantidas
com hipotecas ou penhOres, não se precisa de falência. Mover a sua máquina para esse
fim exclusivo seria desfalcar as vantagens dos credores garantidos com despesas
excessivas e inúteis”.
Sem razão, TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE (Comentários à Lei de
Falências, 1, 449).
Se o juiz profere a decisão sobre a inexistência ou insuficiência de ativo e encerra a
falência, Poe termo à relação jurídica processual. Não se pode dizer, como fizeram as
Câmaras Cíveis Reunidas do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a 2 de agosto de
1950 (E. 9., 138, 486>, que se trata de despacho puramente administrativo, de modo
que possa reformá-lo o juiz, ordenando que se continue o processo. Se a decisão
transitou em julgado, o que se tem de fazer é decretar nova abertura da falência. Tal
decisão, como a que denega a decretação da falência, tem eficácia de coisa julgada
formal, não tem a de coisa julgada material.
Todavia, é preciso atender-se à interpretação que demos ao art. 19, parágrafo único, do
Decreto-lei n. 7.661 (Tomo XXVIII, § 3.315, 5).
Se o procedimento falencial foi encerrado, por não serem suficientes os bens
arrecadados, ou por não haver bens arrecadáveis, seria perturbador dos princípios que
CAPITULO VIII

se admitisse, no mesmo processo, que se volvesse a tentar a arrecadação. A eficácia da


sentença que decretara a abertura da falência cessara. Os juros de novo fluem, os
prazos prescripcionais correm, de novo (Tomo XXVIII, § 3.353). tida por ser negativo
ou deficiente o inventário não começa correr, de novo, o prazo prescripcional , que se
interrompera, não começa o que, pela decretação da abertura da falência, so iniciara.

CAPITULO IV

CONTINUAÇÃO DO NEGÓCIO DO FALIDO

j 3.387. Possibilidade e conveniência da continuação do negocio

1.EXAME DAS CIRCUNSTANCIAS. A falência da empresa comercial ou


industrial mais concerne à extração do valor do ativo e da liquidação do passivo do
que à vida da empresa comercial ou industrial, do negócio. Pode acontecer que a
própria continuação permita realizar-Se o ativo, ou quase todo, e liquidar4e o passivo.
Porém, mesmo que isso não se dê, pode haver conveniência na continuação do
negócio.
Nem sempre a continuação é possível. Então, está pré excluída qualquer análise das
conveniências.
Lê se no art. 74 do Decreto-lei n. 7.661: “O falido pode requerer a continuação do seu
negócio; ouvidos o síndico e o representante do Ministério Público sobre a
conveniência do pedido, o juiz, se deferir, nomeará, para gerencia-lo, pessoa idônea ,
proposta pelo síndico”. Sobre as empresas concessaonárias de serviços públicos, art.
201.
No sistema jurídico brasileiro, entende-se que o falido é que tem a legitimação a pedir
a continuação do negócio. Têm de ser ouvidos o síndico e o órgão do Ministério
Público. O juiz pode indeferir o pedido, mesmo se o síndico e o órgão do Ministério
Público estiveram de acordo conto pedida; e pode deferi-lo, ainda se ambos se
manifestaram contrariamente. A decisão tem de satisfazer as exigências do art. 280 e
parágrafo único do Código de Processo Civil. armasse a continuação do negócio.
Não é o falido quem ficará à testa do negócio. Ao juiz e nomear pessoa idônea,
proposta pelo síndico, que possa ir. O síndico propõe, o juiz nomeia. Se o juiz entende
que pessoa proposta não é idônea, a solução está em o síndico por outra pessoa.
No art. 74, § 1.0, diz-se que “a continuação do negócio, ro caso excepcional e a
critério do juiz, somente pode ser anda após o término da arrecadação e juntada dos
invenos aos autos da falência”. Para que a continuação do nega.se dê antes de
terminada a arrecadação, é preciso que se a desde logo e não obste à arrecadação. Por
outro lado, medida que se prossegue nos trabalhos da empresa fabrica e vendas, ou
vendas), a presença do gerente pode simplificar o serviço de arrecadação, que só se
atribui ao síndico. É preciso não se confundirem a continuação do negócio do pedida
por ele e a organização de sociedade que continue o negócio do falido (Decreto-lei n.
7.661, art. 128, § 1.0 somente pode resultar da deliberação dos credores a que
correspondam dois terços dos créditos (art. 123>.

2. GERENCIA DO NEGÓCIO CONTINUADO. O gerente é pro:0 pelo síndico e


nomeado pelo juiz. Quer-se a proposta do sindico, porque o gerente fica sob a imediata
fiscalização índico, que responde pela culpa in eligerulo e in vigilando. O falido
assiste à continuação do seu negócio, sem o gerir m ter a supervisão que se atribui ao
síndico. É possível o falido preste serviços, durante essa emergência, que iam de ser
recompensados. Cargos há que não se podem chegar ao falido; mas há outros em que
pode ele ser útil por vezes, de difícil substituição.

§ 3.388. Função e remuneração do gerente


CAPITULO VIII

1. DEPOSITÁRIO DOS BENS ENTREGUES. O gerente é de apoio dos bens que


lhe foram entregues; o síndico é depositário dos bens arrecadados. Desde o momento
em que o síndico 3ga ao gerente os bens necessários à continuação do negócio
depositário é o gerente, e o síndico tem a responsabilidade funcionará, nos autos,
termo de depositário dos bens da massa que lhe forem entregues, e de bem e fielmente
cumprir os seus deveres, prestando contas ao síndico”. A função do gerente é a de
continuar o negócio, portanto a de vender bens que lhe foram confiados, bem como
comprar e vender; mas a sua responsabilidade é a de depositário, por força de lei. “As
compras e vendas serão a dinheiro de contado” <Decreto-lei n. 7.661, art. 74, § 49, 1Y
parte). Há a sub-rogação real a cada momento em que se dá a alienação e, pois, a
entrada do dinheiro. Acrescenta-se no art. 74, § 4,0, 2.~ parte: “em casos especiais,
concordando o síndico e o representante do Ministério, o juiz poderá autorizar
compras para pagamento no prazo de trinta dias As importâncias recebidas em cada
dia são depositadas no dia seguinte, de modo que tem o juiz de autorizar o
levantamento do que se precise para pagamento dessas compras.
“As vendas, salvo autorização do juiz, não poderão ser efetuadas por preço inferior ao
constante da avaliação” (art. 74, § 4•0, 3•& parte).
A posse imediata dos bens do negócio passa ao gerente, que é depositário, O síndico
teve, por esse fato, mediatizada a sua posse, O gerente foi proposto pelo síndico, e
nomeado pelo juiz. É preposto do síndico. Fica sob a “imediata fiscalização do
síndico” (Decreto-lei n. 7.661, art. 74, § 2.0>, que se torna responsável pela culpa in
vigilando.
Quanto ao problema da posse, temos de conceber que, se era própria a posse do falido,
ficou ele com a posse própria mediata, o juízo tem, após ele, a posse (imprópria)
mediata, o síndico, que arrecadara os bens entregues ao gerente, é possuidor
(impróprio) mediato após o juízo, e o gerente tem a posse (imprópria) imediata. Esse
gerente não é parte de ofício; nem é, rigorosamente, órgão da execução forçada
celetiva. É gestor de negócios alheios, com poderes outorgados pelo juízo, por
proposta do síndico. Não representa o falido, nem o síndico; é encarregado de venda,
ou de venda e de compra, com a posição jurídica de depositário. A relação jurídica
entre ele e o juízo é a de administrador de certos interesses da massa, proposto pelo
síndico. Em relação ao síndico, é preposto. A lei assim o concebeu. Poderia ter
preferido contra qualificação..4~o síndico incumbe a fiscalização de toda a atividade
do mmomento. É preposto seu. Diz o art. 74, § 2.0: “O gerente, cujo rio, como os dos
demais prepostos, será contratado pelo sindico, mediante aprovação do juiz, ficará sob
a imediata realização da síndico e lançará os assentos das operações em os especiais,
por este abertos, numerados e rubricados”. A expressão “imediata fiscalização”
permite ao síndico chame atenção do gerente para fatos, positivos ou negativo que se
estão a passar no estabelecimento, ou para o que e vir a ocorrer. O gerente não o tem
de cumprir a ordem ai, ou que lhe pareça nociva aos interesses da massa. O acesso juiz
é indenegável. O síndico, por seu lado, pode requerer substituição do gerente, que
deixou de merecer a sua confiança ou a que algo sobreveio que ao síndico parece
incompatibiliza-lo ou contra indicá-lo ao posto . Não o pode dispensar sem o juiz
examine o caso, não para conservá-lo contra o que síndico com razão argúi, mas para
que se respeite o ato de falência com que o gerente fora investido das funções .
Por onde se vê que a imediata fiscalização apenas habilita sindico a comunicar ao
juízo o que se passa, ressalvando a sua responsabilidade. Nos casos de alguém
articular contra o gerente, têm de ser ouvidos os outros interessados (o falido, sindico,
o órgão do Ministério Público).
O gerente é preposto, mas a nomeação foi feita pelo juiz.• a situação do gerente,
vigiado pelo síndico, mas inserta no cesso falencial com a nomeação pelo juiz.

3.DEPÓSITO NAS IMPORTÂNCIAS RECEBIDAS. O que gerente recebe não fica


em cofre por mais do que o dia seguinte: “O gerente”, diz o art. 74, § 5•O, “recolherá,
CAPITULO VIII

diariamente , ao estabelecimento designado para receber o dinheiro massa (art. 209),


as importâncias recebidas no dia anterior ia fim de cada semana, apresentará, para
serem juntas autos, que se formarão em separado: 1, as relações das contadorias
adquiridas e vendidas e respectivos preços, conferindo os negócios que, na
conformidade do parágrafo ante, tiverem sido feitos a prazo; II, a demonstração das
despe-gerais correspondentes à semana, inclusive aluguel e salário prepostas
ao apresentadas ao escrivão , que passa recibo delas e as junta aos autos. Todos os
interessados, incluídos os credores, podem examiná-las.

4.SALÁRIO DO GERENTE. É o síndico quem contrata os serviços do gerente, com


aprovação do juiz. Indicada pela sindico a pessoa e nomeada pelo juiz, cumpre ao
síndico contratar com ela os serviços e submeter o contrato à aprovação do juiz.

5.RETIRADA DAS FUNÇÕES DO GERENTE. Deixa de haver a gerência da


negócio: a) se o juiz cassar a autorização para a continuação da negócio; 6) se não foi
pedida, no prazo a que se refere o art. 178 do Decreto-lei n. 7.661, ou foi negada, após
41e, a concordata suspensiva, porque, gentio, se tem de iniciar a realização do ativo e
do passivo (art. 114); e) se foi pedida a autorização por pretender o falido pedir
concordata e houve indeferimento do pedido de concordata, caso em que a autorização
para a continuação do negócio cessa com a decido de primeira instância; d) quando,
deferido o pedido de concordata, na data em que forem entregues os bens da massa (cf.
art. 183). t assim que se há de interpretar o art. 74, § TY: “Cessará a autorização se o
falido não pedir concordata no prazo do art. 178, ou, se o tiver feito, quando julgado,
em primeira instância, o seu pedido”. No art. 74, § 6.~, fora dito: “O juiz, a
requerimento do síndico ou dos credores, ouvido o representante do Ministério
Público, pode cassar a autorização para continuar o negócio da falido”. “Credores”,
isto é, credores em número que possa tomar a deliberação para organizar sociedade
que continue com o negócio do falido. A analogia impõe se. Também cessa a função
do gerente, em caso de substituição, mas ai é ao gerente que acontece a terminação das
funções, e não à gerência, que passa a ser exercida por outrem.
Para se afirmar que o indeferimento do pedido de concordata não obsta à continuação
do negócio, coma fez a Juíza de Direito da Capital de São Paulo, a 31 de março de
1951 (D. da .1. de São Paulo de 5 de junho de 1951), é precisa acrescentar-se: salvo já
chegado o momento a que se refere o art. 178 do Decreto-lei ri. 7.661. ztes de se
resolver sobre a reclamação contra a nomeação do sindico, ou, pelo menos, antes do j
julgamento do recurso que interpôs contra essa decisão. Enquanto o síndico
substituído esteve a fiscalizar, isto é, enquanto teve as funções de síndico, vi
responsável pelos atos, positivos ou negativos, do gerente. essa responsabilidade
somente cessa quando o síndico passa a outrem as funções. Dá-se o mesmo em caso
de destruição.

PRETENSÕES CONTRA A ARRECADAÇÃO

§ 3.389. Direitos, pretendes, ações e exceções

1.ARRECADAÇÃO E CONSTRIÇÃO . A arrecadação conetringe, como a penhora,


o arresto, o seqüestro e as outras medidas. Mais como a penhora, porque ou se junta,
temporal-mente, à penhora, ou é, para a execução forçada celetiva, o que é, para a
execução forçada singular, a penhora. Há, de qualquer modo e qualquer que seja a
medida constritiva, entrada não-querida por alguém em sua esfera jurídica. O que pode
ser ofendido é direito, pretendo, ação ou exceção.
São arrecadados quaisquer bens que se achem sob o poder do falido quer se trate de
posse quer de sentença mesmo se o falido ou outrem afirma, ou se documentos ou
títulos mostrai», que a propriedade ou outro direito real pertence a outrem (Decreto-lei
n. 7.661, art. 70). Assim, ainda que o terceiro alegue e prove, imediatamente, ao
CAPITULO VIII

síndico, que figure o bem arrecadado nenhum direito, mesmo de posse, tem o falido,
não pode o síndico deixar de arrecadá-lo. A restituição ou a entrega somente pode ser
após decisão do juízo da falência, com observância dos arts. 76-78 e 79. t de notar-se,
portanto, a diferença de poder que têm os oficiais de justiça, no plano da verificação
jurídica, e o síndico. A ratio legis está em que, com essa ligação estreita entre a
extensão da arrecadação e a aparência táctica, se evita que entrem em conluio falido e
síndico.
O Decreto-lei n. 7.661 tem, em relação ao direito anterior, a vantagem de ter afastado a
expressão “reclamação reivindicatória”, em cujo conceito extrapolado se
encambulhavam ações dedicatória de direito real e de posse e ações oriundas de
direito pessoal à restituição. A qualificação “reivindicará.. ria”, para a ação ou a
reclamação, ou “reivindicatório”, para os titulares de direito que não é o de domínio,
provinha do direito francês e já afeava o Código Comercial brasileiro de 1850, arts.
878 e 874, que falava de “credores de domínio” (cf. Reg. n. 787, de 25 de novembro
de 1850, arts. 619, § 19, e 620; TRAJANO DE MIRANDA, Consolidação das Leis
Civis, p. CXVI). Ganha a doutrina jurídica em só empregar, nas exposições, termos
adequados e precisos.
No Decreto-lei n. 7.661, empregou-se a expressão “restituição” e falou-se, em seguida,
de embargos de terceiro, ação que se pode referir a direito ou a posse. O art. 76, § 2.0,
misturou, numa só proposição, duas regras jurídicas: a) uma, que poderia ser
enunciada> por ser de direito material, como se lá estivesse escrito: “A propriedade
das coisas vendidas a crédito e entregues ao falido nos quinze dias anteriores ao
pedido de decretação da falência, se ainda não foram alienadas pela massa, tem-se
como não transferida”, o que seria algo de semelhante a qualquer das regras jurídicas
do art. 52, III, VII e VIII, pertinentes à ineficácia relativa de alguns negócios jurídicos;
b) outra, que permite o pedido de “restituição” nesses casos de alienação, a crédito,
nos quinze dias anteriores à decretação da falência.
Na expressão “restituição”, com o sentido que se lhe deu nos arts. 76-78, estão
conceitos que também se aglomeram em tOmo não suficientemente preciso: a) a
entrega, de volta, do bem que poderia ser objeto de pretensões reivindicatórias (ação
de reivindicação); b) a entrega de bem que está sujeito a direito real limitado que
atribui ao titulo uso e fruto, ou só uso, ou só fruição do bem (ações vindicatórias de
direito real); e) a entrega de bem de que o falido já não tem direito à posse (ações de
restituição ou vindicativas da posse) ; d) a entrega do bem de que o falido somente
havia a sentença. A respeito, cumpre notar-se que os críticos do direito anterior
também incorrem em erro, por meterem sob a expressão “restituição” credores por
exemplo de coisa certa, em casos em que não se pode pensar> de modo nenhum, em
restituição. Sobre o dever de restituição, com as devidas precisões, Tomo XXII, §§
2.727-2.780.
Se quem arrecadou, como bem da massa, não foi o síndico, ou se nenhum inventário
foi feito e junto aos autos da falência, não houve arrecadação, e ainda podem ser
exercidas as ações próprias, sem ser incidentemente.
Se houve arrematação, mas é nula (e. g., se a fez o síndico), sem que a assistisse o
órgão do Ministério Público, as ações a serem empregadas são as dos arte. 76-78 e 79,
portanto incidentemente.
É preciso que não se confunda a falta de arrecadação com a falta de arrecadação do
bem em natura. Se houve inversão ilegítima do valor do bem no patrimônio do falido,
sem que se pudesse coordenar com a vontade do dono ou possuidor, qualquer bem que
se arrecade do patrimônio do falido contêm esse valor. Dai o perigo de se afirmar, a
priori, que, não tendo sido arrecadada a coisa, não há pensar-se em ação de restituição,
ou em embargos de terceiro. Arrecadado pode ter sido o valor.
Não só. Devido ao penhoramento abstrato, que resulta da decretação de abertura da
falência, pode o juízo da falência entender que algum bem foi atingi do, embora não-
arrecadado. Se algum ato do juiz é praticado nesse sentido, ou se fora do juízo algum
ato estatal é praticado nesse sentido, a esfera jurídica de alguém pode ter sido atingida,
CAPITULO VIII

O interessado tem de ir contra Esse ato. O juízo competente é o da falência, mesmo se


o ato foi de autoridade sujeita a outro juízo (e. g., o oficial do registro de imóveis).
O que, em questão prévia, se pede é que o juiz da falência declare que o penhoramento
abstrato não atingiu (ou atingiu)o bem de que se trata; e, em seguida, que desconstitua
o ato da autoridade pública, ou que algo se lhe ordene fazer.

2.INCURSÃO NA ESFERA JURÍDICA DO TERCEIRO. Para que se possa obter


entrega do bem após decisão em processo de restituição (Decreto-lei n. 7.661, arts. 76-
78). ou de embargos de terceiro, senhor ou possuidor, é de mister: a) que tenha havido
penhoramento abstrato, ou esse e arrecadação; b) que não se pudesse retirar ao falido a
posse , ou a sentença, a titularidade, ou que, tirando-se a Ele, não se pudesse tirar ao
terceiro. O que se acha em poder de outrem, como possuidor ou tenedor. mas poderia o
falido retirar, é arrecadável, porque o síndico á funciona como parte de oficio, com
legitimação que coincide cm a que teria o falido se a falência não houvesse ocorrido.
Se o auto da arrecadação o inventário desconhece algum direito do terceiro, a
despeito de ter sido arrecadado bem> como se afirma tratar-se de bem pertencente ao
falido, em gravame, e o bem é gravado de enfiteuse, usufruto, uso, habitação,
anticrese, hipoteca, penhor ou caução, o titular de qualquer desses direitos tem a ação
incidental dos arts. 7648 ii os embargos de terceiro (art. 79), porque na expressão
restituição” se compreende mais do que a entrega, de volta, a posse.
Sempre que o bem seria restituível ao tempo da abertura a falência e sobreveio
alienação dele pelo síndico, continua objeto da ação incidental de restituição ou dos
embargos de terceiro o valor do bem alienado. É o que está no art. 76, § 1.0, Decreto-
lei n. 7.661: “A restituição pode ser pedida, ainda dele a coisa já tenha sido alienada
pela massa” (cf. 6. Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 11 de outubro
a 1948> 1?. dos 2’., 177, 824).
Se atendemos a que os pedidos de ndo-incursdo ou de wursdo (recursão> podem nada
ter com a posse, ou a sentença. se referir ao mundo jurídico, e não ao mundo fático
puro, fácil compreendermos que o sentido de restituição> nos arts. 76-78 do Decreto-
lei n. 7.661, teria de ser larguíssimo . esse sentido extrapolado e oniabrangente é que
se hão de entender as referências dos arts. 76, 77 e 78.
Quanto aos embargos de terceiro, é sabido que não são médio jurídico somente contra
as incursões na posse, e tratados do assunto, alhures, desenvolvidamente (Comentários
ao Código de Processo Civil, IX, 2.8 ed., 5-100>.

8.REIVINDICAÇÃO E PRETENSÃO À RESTITUiÇÃO “STRICTO NAU”. (a) As


ações reais, quer mobiliárias quer imobiliárias, contra o falido, têm de ser exercidas
conforme o art. 76 Decreto-lei n. 7.661, salvo se, propostas antes da abertura falência,
o art. 24, § 2.0> incide. Não há, no direito brasileiro, exceção ao principio da
universalidade subjetiva da falência ( principio do juízo da falência para todos os
sujeitos ativos), como a de correrem fora do juízo da falência as ações reais
imobiliárias.
Todas as pretensões que se dirijam a buscar o bem, móvel ou imóvel, que se ache
entre os bens do falido ao tempo da decretação da falência, sem que tenha ele direito
real, inclusive direito à posse, imediata ou mediata, entram na classe das pretensões à
restituição de que fala o art. 76 do Decreto-lei n. 7.661.
Não há distinguir-se dos direitos sobre os bens corpóreos os direitos sobre os bens
incorpóreos, nem dos direitos reais os pessoais, uma vez que se nega a titularidade
pelo falido, ou> pelo menos, a penhorabilidade abstrata do bem.
Desde que o direito de propriedade não se transferiu, ou o direito real limitado não se
transferiu> ou não se constituiu a favor do falido, como, de regra, em se tratando de
espécies, e não de genus, há reivindicabilidade, ou vindicabilidade. Se houve
transferência ou constituição a favor do falido, o que se tem é o direito à prestação do
tantundem e em rateio (cf. U. NAVABRIRI, Tratta.to di Diritio failirnentare, II, 66).
Se persistiu a fungibilidade, não há pensar-se em reivindicação ou em vindicaçao ,
CAPITULO VIII

salvo fez apecialis como a propósito de títulos incorporantes (e. g., conhecimentos de
depósito e warrants, nos casos do art. 12 e 5 1.0, 1.8 regra, da Lei n. 1.102, de 21 de
novembro de 1903).
A posse do bem, ou a sentença, há de tê-la, no momento, o falido. Se o falido
transferiu a propriedade a terceiro, como se o terceiro obteve a transcrição do titulo, ou
se transferiu toda a posse, sem se tomar, portanto, sequer, possuidor mediato, ou sem
continuar com a posse imediata, ou adquiri-la pelo constituto possessório, a a~o de
reivindicação em falência se faz ação de restituIção stricto seneu. Há, apenas, o direito
à indenização, mas integral. E. g., o falido alienara o bem de que era depositário (cf. 5.
SAnA, Istituzioni di Diritto failimentare, 243). Se não houve transferência, ou
constituição de direito a favor de terceiro> o síndico tem o dever de recuperar o bem e
de restitui-lo.
Na comissão, o comitente pode reivindicar ou pedir a restituição (o que é o quod
plerum que fit) do que haja entregue ao comissário, sem se confundir no patrimônio
do falido, ou o que o comissário tenha adquirido em nome próprio, mas por conta do
comitente. Se a transferência da propriedade sobre ana a ter-se feito o registro.
Se o falido deu algo em penhor ou caução, e não é caso a ineficácia relativa (Decreto-
lei n. 7.661, art. 52, III e VII), decretação da falência não atinge o direito real de
garantia. proprietário, quem quer que seja, inclusive, no momento, h’ypothesi, o falido,
tem de solver a dívida. Se o bem é de outrem, ao terceiro, proprietário> é que incumbe
livrar o bem, cabendo-lhe declarar o seu crédito quirografário pelo que foi mister à
remição, ou à solução da divida> ou pelo que terá de r prestado por ele, ao vencer-se a
dívida (cf. U. NAVARRINI, tituzioni di Diritto failimentare, 104).
Se o credor pignoratício alienou o bem e <excepcionalmente> no direito brasileiro,
devido ao art. 622 do Código Civil) terceiro o adquiriu, ou se o alienou com
fundamento nos ts. 774, III, e 802, IV, 3.~ parte, do Código Civil, tem de estar à massa
o eventual excedente. Se o proprietário era outrem, o excedente eventual é prestado a
esse, cabendo-lhe, rida, o crédito, que tem de declarar, pelo que foi de mister solução
da dívida (r o preço recebido pelo credor pignoralo menos o que recebeu o
proprietário). Sem razão> G. DE ~MO (Diritto fafli’mentare, 864) e RENzo
PROVINCL4LT (Ma.. ~ale di Dirjito fallimentare, 463).
(b) O que se acha em poder do falido, a titulo de comodato, depósito, mandato,
comissão> ou outro negócio jurídico, tem de ser restituído> pois nenhuma posse se
retira, justamente, ao dono, para que se possa pensar em reivindicacao . Se o possuidor
contraente quer mostrar a natureza da esse que lhe compete, então é de reivindicação
que se trata. Da via, em direito falencial, pela generalidade da regra juri~a do art. 76
do Decreto-lei n. 7.661, é de pouca importância Justinção e não pode o juiz apegar-se
ao nomen zuna.
A relação entre o que responde na ação de reivindicação reivindicante não é de
responsabilidade pessoal; nem é de responsabilidade pessoal a ação do dono da coisa
depositada, emprestada, ou por outro modo entregue a outrem> sem transferência, se
não há mais relação jurídica obrigacional, que simplifique a não-entrega.
O direito brasileiro prevê não mais existir no poder do ido o bem, nem o que o sub-
rogou, e estabelece a restituição o que Já foi distribuído aos credores (Decreto-lei n.
7.661, art. 78> § 2.0). (É preciso precaução contra expressões e proposições de juristas
que destoam de sistemática científica do direito. Não se pode dizer, como A.
BRUNETrI, Lezioni di Dirilto concursuale, 176, que quem reivindica contra o falido
exige satisfação a crédito de restituição, “chi rivendica una cosa mobile posseduta daí
faílito fa valere un credito di restituzione”. A confusão, entre a pretensão
reivindicatória e a pretensão restituiria, pessoal, é evidente.)

4.ESTUDOS DE AÇÕES INCIDENTES DE RESTITUIÇÃO. (a)A ação de


reivindicação já foi objeto de estudo (Tomos X1V, §§ 1.585, 1.600> 1.612, 5, 1.622 e
1.623; XV, §§ 1.754, 2> 1.757, 1.766-1.771; XVI, § 1.963; XVII, §§ 2.024, 2, 2.071,
1; XVIII, §§ 2.177, 4> 2.190; XIX, § 2.335, 5; XXI, 1 2.632, 1; XX, § 2.722, 2;
CAPITULO VIII

XXVI, § 3.148, 4; IV, § 424> 14; VIII> §§ 856, 4, 931, 2; X, §§ 1.064, 3, e 1.183, 2;
XI, §§ 1.164, 4, e 1.245, 6; XII, § 1.298, 1). Sempre que caberia a ação de
reivindicação, cabe a ação do art. 76-78> ou a do art. 79, que são aí aç5es
reivindicatórias incidentais.
O direito brasileiro tem a vindicatio patrimonii (por exemplo, a reivindicação de que
se fala no art. 1.580 do Código Civil, parágrafo único, a reivindicação dos bens da
sociedade não personificada, a reivindicação do patrimônio alienado a adquirente de
má fé). É preciso, em sistema jurídico que tem a universitas juris como objeto de
direito, inclusive de usufruto, não se apegar o jurista a concepções de sistemas
jurídicos inferiores (cf. Tomos V. §§ 595-602; XIV, §§ 1.578, 7, e 1.575, 1; XV, §
1.798; XVII, § 2.135; XIX, §§ 2.253, 3, 2.305> 2.306, 2.360, 2.862> 2, 2.398, 2; XX,
§ 2.439, 6; XXII, § 2.722> 2; XXIII, §§ 2.863, 2.864 e 2.868).
O argumento da L. 56> O., de rei vindicatione, 6, 1, que se invocava no direito
anterior (LAFAIETE RODRIGUES PEREIRA, Direito das Coisas, 1, 220)> está
superado. No art. 57 do Código Civil diz-se que “o patrimônio e a herança constituem
coisas universais ou universalidades e> con4o tais, subsistem, embora não constem de
objetos materiais”, O passo à frente, que se deu com o art. 57 do Código Civil, é
inegável; e afirmação do eculii recepta est, sed res singulas is, cui legatum peculium
petet”) chocar-se-ia com a lei brasileira.
Outro erro que se precisa profligar é o que consiste em afirmar que somente se
reivindicam bens corpóreos (e. g., CELIO DE SÃ PEREIRA, Manual, VIII, 11 s.;
TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE, Comentários à. Lei de Falências, 1, 455, a
12). Os bens incorpóreos, suscetíveis de propriedade, são vindicáveis. Há a
reivindicação do bem intelectual e a do i industrial (Tomos XVI, §§ 1.885, 1.900-
1.904, 1.911, VII, §§ 2.018, 4, 2.125, 2.126 e 2.131), incorpóreos.
(b) Desde que o ato de arrecadação implica negação de credito real de outrem, tem o
ofendido a ação dos arts. 76-78 a do ad. 79. Quem toma posse do bem que está
gravado de fruto, uso ou habitação, como se gravado não estivesse, Ia o direito do
usufrutuário, do usuário ou do habitador. e também incorre em incursão ilícita na
esfera jurídica outrem quem toma a posse do falido e nega a posse adiada de outrem,
ou o direito real de outrem, embora não trate de direito com posse do bem.
Sobre vindicatio usufructus, Tomos XIV, § 1.584, 1, e XIX, 2.251, 3, 2.257, 7, e
2.259> 1. Sobre vindicatio servitutis, nos XVIII, § 2.190, 5, e XIX, § 2.557, 7. Sobre
vindicatio tis, Tomos X, § 1.189, 6, XII, § 1.289, 2, e XIV, § 1.573, 1, 7.

5.USUFRUTO, USO E HABITAÇÃO. A respeito dos bens poder do falido


usufrutuário, usuário ou habitador, a restituição de posse imediata somente pode ser
pedida, pelo dono ou o enfiteuta, se terminou o direito real limitado. Enquanto 3 não
ocorre, legitimado a pretensão à restituição é o próprio ido, por ser incessível o
usufruto, ou o uso ou a habitação. arrecada-se o bem, porque está na posse do falido.
Se o auto arrecadação não reconhece a propriedade alheia, tem o io ou o enfiteuta a
ação de restituição da posse própria imediata. Se houver cessão da exercício do
usufruto, o cessa logo pode exigir a restituição, salvo se ocorre o que se prevê art. 52,
IV, do Decreto-lei n. 7.661.
Quanto a bens que se consomem pelo uso (Código Civil, 726), a restituição é do
equivalente em gênero, qualidade preço corrente ao tempo da restituição, salvo se
houve avaliação. Se houve caução, o crédito tem a segurança que lhe deu
& garantia real ou pessoal. Mas, se houve caução, os bens não estio com o falido
(Código Civil, arE 780), ou estão ocasionalmente.
Não tem preferência a titular da pretensão à restituição se não houve caução?
A caução real aumenta, não supre falta de preferência.
O usufruto de bens consumíveis com o uso está inscrito, com eficácia real. Porém no
ser concorrente o credito do outorgado do usufruto está o seu grande defeito
(MÃRTIN WOLFF, Uhrbuch, III, 27Y-32.~ ed., 413, nota 9).
Ouso e a habitação são ligados à pessoa. A vindicação é sempre possível; extinto
CAPITULO VIII

aquele ou esse direito real, a ato de restituição tem-na o dono do bem ou o enfiteuta.
O credor anticrético tem direito de posse do imóvel até ser pago do crédito <Código
Civil, arE 806). A despeito de a lei falar de “direito de retenção’>, não é de direito de
retenção que se trata (Tomos XXI, §§ 2.622, 3, e 2.626, 2, e XXII, §§ 2.734, 8, e
2.738> 2>.
Passa-se o mesmo a respeito do penhor.
Se o credor alienara o bem, o seu crédito é concorrente, quirografário.
(c) Sempre que caberia, contra o falido> ação possessória e o ato é praticado pelo
síndico, ao arrecadar, cabe a ação dos arts. 76-78 ou a do art. 79.
(d) Sempre que caberia a ação de vindicação da posse, há a ação dos arta. 76-78 ou a
do ad. 79, ambas aí vindicatórias da posse (Tomo XIV, § 1.571>.

6.COISAS VENDIDAS A CRÉDITO, COM TRADIÇÃO AO FALIDO. As coisas


vendidas a crédito, a qualquer tempo, e entregues ao falido nos quinze dias anteriores
ao pedido de decretação da falência, têm de ser restituídas, por força do ad. 76, § 2.0,
do Decreto-lei n. 7.661, pois é caso de resolução, estabelecido em lei. A referência aos
quinze dias anteriores ao pedido de decretação da falência só diz respeito à tradição.
Se foram alienadas pelo falido> já não estão na massa, e não se pode Invocar o ad. 76,
§ 29. Outrossim, se a alienação foi ela massa antes de ser pedida a restituição. O
pedido instituição é que suspende a disponibilidade da coisa 8) e seria sem eficácia,
contra o vendedor, a alienação assa.
caso de compra e venda sob condição suspensiva, não do implicido a condição
suspensiva, os objetos não foram como em transmissão de propriedade, mas apenas m
adiantamento da posse. O dono pode reivindicá-las, o incidental do art. 76 do Decreto-
lei n. 7.661 (Tribunal Justiça de São Paulo, 8 de fevereiro de 1917, R. dos T.,
5).A espécie é inconfundível com aquela em que se sobem, em sua propriedade, a
crédito, porque então 76, § 2.0, abre exceção aos princípios, permitindo que dava a
venda, se os bens ainda não foram alienados assa.
arE 76, § 2.0, refere-se a bens “entregues ao falido”. ria admissível que só se
considerasse entrega a tradição ;; qualquer tradição é entrega (tradição simples,
tradi~ga manu ou brevi manu, constituto possessório, cessão censão à entrega).
Errado o acórdão do Supremo Tribunal Federal, a 7 de agosto de 1950 (R. E., 133, 78).
Aliás, negado provimento ao recurso extraordinário interposto são da 1.’ Câmara Cível
do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a 4 de maio de 1950 (R. E., 136, 484), em que
lamentável desconhecimento da doutrina da posse, no brasileiro. A ofensa ao art. 199
do Código Comercial dente. In casu, também ao art. 1.0, § 4~0, da Lei n. 187, le
janeiro de 1936 (cf. 5.’ Câmara Cível do Tribunal de do Distrito Federal, 6 de março
de 1951, A. J., 102, 205, de julho de 1949, Á. J., 94, 49). Também denuncia pouco com
a doutrina da posse no direito brasileiro o acórdão da Vara Cível, a 3 de maio de 1949
(Á. .1., 95, 320), pois a tradição brevi manu, a tradição longa manu e pelo ruta
possessório. Qualquer tradição é entrega. Nesse sendo.’ Câmara Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, e dezembro de 1949 (1?. dos T., 184, 798), a 1.a Câmara 17 de
novembro de 1948 (173, 410), e a 3? Câmara Civil, e novembro de 1948 (178, 345).
Alguns julgados não atenderam a que o prazo de quinze dias segundo o art. 76, § 2.0, é
anterior ao requerimento da falência, e nada tem com prazo para se pedir a restituição;
e. g., 4? Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 24 de setembro de
1948 (A. J., 89, 453). A entrega ao falido há de ter sido dentro dos quinze dias que
antecederam ao despacho do juiz, no pedido de falência; sem razão, a 7.’ Câmara
Cível, a 14 de junho de 1949 (98, 171), que falou de “requerimento”, como se se
pudesse atribuir data ao requerimento sem ser a do despacho, mesmo de distribuição e
autuação, pelo juiz. O pedido de restituição há de ser feito conforme os arts. 77 e 78.
Quando as mercadorias foram entregues para prova, medida, peso , ou experiência,
antes da aceitação, não há antes da aceitação tradição com efeitos de transmissão da
propriedade por se supor que é suspensiva a cláusula a contento (Código Civil, arE
1.144; Código Comercial, art. 207, inciso 2). No caso de remessa da mercadoria ao
CAPITULO VIII

falido, ou concordatário, não se pode dizer, como fez a 8.’ Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal, a 27 de abril de 1948 (Á. .1., 87, 341), que sempre se há
de exigir ser dentro do prazo dos quinze dias a chegada ao destinatário, e não o ter sido
embarcada; porque o que importa é saber-se qual o momento em. que se transferiu a
posse, e não o em que chegou a mercadoria Por outro lado, a cláusula cif põe os riscos
a cargo do adquirente (Tribunal de Justiça de São Paulo, a 20 de setembro de 1918, R.
dos T., 27, 315; Tomo XV, § 1.818, 1); porém a cláusula cif, como a cláusula fob, não
basta para determinar o lugar da prestação (Tomo XXIII, § 2.770, 1). No mesmo
sentido, a 4? Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 9 de abril de
1948 (Á. J., 87, 191) ; sem razão, a 1? Câmara Cível do Tribunal de Justiça de
Pernambuco, a 8 de abril de 1948 (A. 9., 23, 194) e a 4.’ Câmara Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, a 2 de junho de 1952 (R. dos T., 204, 328).
A alienação pela massa permite que se peça a restituição, se a espécie cabe no art. 76,
§ 1.0, do Decreto-lei n. 7.661; aliter, se trata de restituição excepcional segundo o art.
76, § 2.0. A alienação antes da abertura da falência não obsta a que se peça a
restituição com base no desde que as partes acordarem no objeto e no preço”. O
Código Comercial, arte. 191 e 197 dizem o mesmo.
Se, ao tempo em que o vendedor tem de entregar a bem vendido, o outro contraente,
que deve o preço, não o quer prestar simultaneamente, o vendedor pode reter a coisa
vendida (exceção non adirntpleti contractus, Código Civil, ad. 1.092, 1.8 alínea). Se
sobrevém falência, incide o ad. 1.092, 2.’ alínea, ou o art. 1.181 do Código Civil, ou o
ad. 198 do Código Comercial. Não se trata de exercício de direito de retenção, Erro em
que incidiu J. XX CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial,
VIII, 295 e.). Trata-se da exceção de inseguridade (cf. Tomo XVI, §§ 8.128, 1, 7, 8, 3.
129 e 3.131, 8; sobre não haver direito de retenção. Tomo XXII, § 2.738, 16).
Se houve a tradição pelo constituto possessórios não há mais pensar-Se em contrato a
ser cumprido. O bem esta nas mãos do que vendera, mas é de quem comprara e obteve
adimplemento. Não há qualquer contrato de compra e venda; houve-o, cumpriu-se. Se
houve a tradição, com ou sem o constituto possessório, e o vendedor transmitente
ainda não recebeu o preço, há, ainda, contrato de compra~e venda, já cumprido por um
dos figurantes. Uma vez que o vendedor tem a coisa em virtude de outra divida
(crédito do falido), pode exercer o direito de retenção, pois que o tem: habilita-se com
o seu crédito e alega o direito de retenção para não entregar o bem que com ele está,
como devedor em outra relação jurídica.
Se a compra e venda não foi a crédito e o comprador recebeu a coisa sem ter pago o
preço, prestou-a o vendedor porque quis e nenhuma exceção lhe resta. Não há par
onde se cogitar de pretensão à restituição, porque não se pode invocar o próprio ad. 76,
§ 2.0, do Decreto-lei n. 7.661 só referente às compras-e-vendas a crédito.
Se no dia da decretação da falência do vendedor, já se operara a tradição, pelo
constituto possessório, o bem, que se acha na massa falencial, é de outrem. O
comprador tem a pretensão à restituição, ainda que a compra e venda baia sido a
crédito, ou à vista com infração do comprador quanto ao pagamento ~do preço. Não
basta ter o vendedor posto à disposição do comprador o bem; é preciso que tenha
havido a tradição. Se foi o comprador que pagou o preço, sem ter
recebido sobem (= sem ter navio quirografário, mas pode o síndico, segundo o
principio do art. 43 do Decreto-lei n. 7.661, preferir prestar o bem vendido.
Um alguma diferença entre o Código Civil, art. 1.12’?, em que se diz que até o
momento da tradição os riscos correm por conta de quem há de prestar, e o Código
Comercial, ad. 206, que fala do momento em que o vendedor Poe à disposição do
comprador a coisa vendida? Não; porque o art. 1.127, § 2.0, do Código Civil prevê a
mora em receber se posto à disposição do outorgado o bem. Evite-Se interpretação
que quebre a unidade do sistema jurídico.

9.CONTRATO DE MANDATO CIVIL E DE MANDATO MERCANTIL. A falência


não é causa de extinção do mandato regido pelo direito civil. O síndico não pode
CAPITULO VIII

substituir o falido. Pode ele, ou o mandante, exigir a restituição do que a esse pertence.
Todavia, se o falido tinha direito de retenção sobre o objeto sobre que versa o
mandato, esse direito é arrecadado, como acessório do crédito de reembolso .
Quanto ao mandato mercantil, a falência o extingue.
O mandante é que pode pedir a restituição do que estava com o falido, ou o que ao
bem em poder do falido foi sub rogado.
Se houve despesas que dêem a exceção do direito de retenção, exerce-a o síndico.
Lê-se no ad. 152 do Código Comercial: “Se o mandatário, tendo fundos ou crédito
aberto do comitente, comprar, em nome dele mandatário, algum objeto que devera
comprar para o comi-tente por ter sido individualmente designado no mandato, terá
este ação para o abrigar à entrega da coisa comprada”. Os fundos não passaram ao
patrimônio do mandatário, como os interesses do bem do menor não entram para o
patrimonio do tutor. Se o mandatário, em vez de adquirir para o mandante, adquiriu
para si o bem “individualmente designado no mandato”, a lei estabelece a sub-rogação
real. Reconhecer-se que o mandatário se fez dono é admitir-se a eficácia jurídica do
furto. Se o mandatário não tinha fundos do mandante, o mandante somente pode
pretender a restituição, com o pagamento do preço.
Se o mandante impôs à disposição do mandatário o dinheiro com que haveria de
adquirir bem “individualmente designado”, o dinheiro do mandante não entrou no
patrimônio do mandatário e pode ser pedida a restituição (3. X. CARVALHO DE
MENDONÇA, Tratado de Direito Comercial, VIII, 278; sem razão, OTÁVIO
MANNS, Falências e Concordatas, 296 a.; e TRAJANO DE MIRANDA
VALVERDE, Comentários a Lei de Falências, 1, 468). A questão da prova da remessa
é outra questão. No direito brasileiro, onde há o art. 152 do Código Comercial, que
estabelece a a#o de restituição para o próprio bem que o mandatário comprou em
nome próprio, em vez de comprar em nome do mandante, não se justificaria que não a
tivesse para haver os “fundos ou crédito aberto do comitente”. No direito alemão, o §
892 do Código Comercial só se refere ao contrato de comissão, mas o argumento não
pode ser atendido no direito brasileiro.
Se alguém~ Inclusive um banco, emite cheque contra outro banco, e ao emitente se
abre falência, sem ser caso de invocação do art. 52 do Decreto-lei n. 7.661, o banco
sacado a que se apresenta o cheque . tem de pagá-lo se ao tempo da apresentação há
fundos, O cheque não pode ser tratado como a letra de câmbio ou a nota promissória,
mas a apresentação é que Importa (sem arado, o Tribunal de Justiça de São Paulo, a
1.0 de junho de 1914, .8. dos T., X, 107). Cf. Tribunal de Justiça de São Paulo, 13 de
junho de 1914 (X, 211 s.) e 6 de dezembro de 1915 (17, 20 a.). A 11 de junho de 1914,
o Tribunal de Justiça de são Paulo (X, 151 s.) deferiu o pedido de restituição por haver
na conta do banco determinação do destino de certa quanta para certo fim. O mesmo
raciocínao, e a fortiori, cabe para os cheques visados. Mas é preciso saber-se se houve
destinação que Importe depósito ou mandato, e não conta corrente. No caso de visto,
sim: a data. do visto é- que importa; e a arrecadação não deve apanhar essa quantia.
Os arta. 76-78 do Decreto-lei n. 7.661 de modo nenhum se referem às obrigações de
dar coisa certa, confusão em que. Incorreu TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE
(Comentários a Lei de Falências, 1, 497), mas sim apenas às obrigações de restituição
do alheio. Por isso mesmo, é erro, a propósito do art. 78 do Decreto-lei n. 7.661,
lembrarem-se os arts. 868-868 do Código Civil; somente são invocáveis os arts. 870-
878.
10.FALÊNCIA, NEGÓCIOS JURÍDICOS FIDUCIÁRIOS E outros negócios
jurídicos fiduciários Nos negócios jurídicos fiduciários, o que importa em matéria
de concurso de credores civil, de falência, ou de liquidantes coativas é se há eficácia
erga omites da fidúcia. A discussão que se feriu na doutrina estrangeira e na brasileira
tomou caminhos divergentes, mas errados. Se há eficácia erga omites, os credores
nada podem alegar contra a sucessão estabelecida para a aquisição de direitos (pelo
fiduciário e, depois, pelo fiduciante ou outro beneficiado). A eficácia contra terceiros
depende da espécie de bem que se transfere; não há solução única.
CAPITULO VIII

Observe-se que os princípios concernentes aos endossos e à tradição de títulos ao


portador podem dispensar formalidades registras, porque o formalismo é que decide se
houve ou não transferência, ou se houve e há de haver outra.
Se há negócio jurídico subjacente, como é o caso dos títulos endossados a banco, que
se encarrega, apenas (negócio jurídico subjacente), de os cobrar, o negócio jurídico
subjacente pode vir à tona e necessariamente vem se a liquidação coativa ou
voluntária é do banco com a arrecadação dos documentos. Não se presume que os
títulos hajam sido transferidos para cobrança.
A cláusula “salvo reembolso ” permite que o receptor cancele o lançamento se não foi
pago o titulo. Houve a condição (resolutiva) de não ser pago. Não se dando embOlso,
o lançamento na conta corrente, ou noutra conta, pode ser desfeito (cancelado é o
termo próprio) pelo estabelecimento que lançou a quantia. A condição suspensiva de
ser pago não permitiria lançamento, mas apenas protocolização. Se, na massa falida do
receptor do titulo, o estorno permite a restituição do título cujo lançamento se
cancelou, depende do negócio jurídico subjacente; e não se pode, a priori, dizer que se
quis a transferência sob condição resolutiva, ou sob condição suspensiva, ou, se foi
querida aquela, se a resolutividade era somente para o lançamento, ou para o
lançamento e a transmissão. O que se há de presumir é que foi para ambos. Portanto,
que se pode pedir a restituição.
Se o titulo se acha em poder de outrem, porém sendo possuidor de grau superior o
falido (= se o terceiro, e. g., é depositário, ou mandatário), a restituibilidade existe. Se
o terceiro adquiriu o titulo, e se a Lei que rege o titulo pode responder se houve a
aquisição pelo terceiro, não há pretensão à restituição; há, contra a massa, pretensão à
indenização pelo ato ilícito do falido, ou, excepcionalmente, pretensão por
enriquecimento injustificado contra o terceiro.
Se houve recebimento, de modo que se operou a desincorporação, isto é, por exemplo,
mercadorias que eram objeto de direito incorporado no titulo foram recebidas e não se
confundiram no patrimônio do falido, ou se ocorreu sub-rogação real (duas espécies
que não se podem tratar indistintamente>, a pretensão à restituição persiste. Tratando-
se de simples documento, nem há desincorporação, nem sub-rogação real, O
documento é pertença do direito.
O que importa em se tratando de dinheiro é que tenha permanecido sem se inserir no
patrimônio do falido; quer dizer: que tenha subsistido a indisponibilidade jurídica
pelo falido. A disponibilidade de fato é que existe, sempre que alguém tem a posse do
dinheiro, ou de outro bem. A indisponibilidade jurídica, essa, resulta de circunstâncias
que façam não poder o falido, perante o direito, dispor do que se lhe entregou. Se, a
despeito disso, o falido dispõe do dinheiro, dispõe do que não é seu, embora esteja em
seu poder. A irreivindicabilidade deriva de ter ocorrido fato que torna impossível a
identificação do bem, ou a sua situação jurídica de dinheiro em separado, de dinheiro
de que se não pode dispor sem a vontade do dono. Não é isso o que se passa com os
depósitos bancários, apesar do nome.
Por vezes, os leigos não se dão conta da existência jurídica dos patrimônio s. Nem
prestam atenção ao art. 56 do Código Civil, nem ao art. 57. Mais: em se tratando de
bens móveis, não atendem a que o sistema jurídico brasileiro contém a regra jurídica
do art. 622, que afasta o brocardo francês En jait de ineubles possessaon vazd titre. O
que, posto no patrimônio de outrem, como objeto de sentença, ou de posse, não
deixou de ser do dono, é restituível, por vezes reivindicável. O dinheiro que o ladrão
furtou, ou roubou, continua de ser de quem fora furtado ou roubado, ou é da pessoa a
que o furtado ou roubado transferira a pretensão à entrega do dinheiro (Código Civil,
art. 621): a transferência da posse mediata implica a transferência da pretensão à
restituição (= a reaver a posse imediata). Cf. art. 621, parágrafo único.

11.COMODATO E LOCAÇÃO , TRADIÇÃO DA POSSE IMPRÓPRIA.


O que se acha em poder do falido a titulo de comodato, ou de locação, pode ser objeto
de ação de restituição se acaba, por qualquer causa, o contrato.
CAPITULO VIII

A ação de despejo somente pode ser proposta contra o síndico nos casos em que
poderia ser proposta contra o falido. Isso não obsta a que, advindo a falência, sem se
ter pronunciado o síndico a respeito da resolução do contrato de locação, possa o
locador interpelá-lo. Nem a que, mesmo se já lhe assiste a ação de despejo, peça a
restituição do bem locado. Quem pode o mais pode o menos.
A ação de despejo e a de restituição somente se podem propor no juízo da falência.
O comodante pode pedir o bem comodado, conforme o art. 1.250 do Código Civil, O
aluguer, de que fala o art. 1.252, corre durante o processo da falência. O pedido do
comodante, quanto ao bem, processa-se como de restituição (Decreto-lei n. 7.661, arts.
76-78); o de alugueres, coúxo de admissão ao concurso de credores.
Se o bem móvel locado, ou comodado, já não existe, ou existe com deteriorações ou
danos, o crédito do comodante é concorrente.

12.CONSIGNAÇÃO E COMISSÃO MERCANTE, TRADIÇÃO O lançamento em


conta corrente do preço da mercadoria que fora apenas consignada, sem
consentimento do comitente, não obsta à reivindicação e, pois, à ação dos arte. 76-78,
ou à do art. 79 do Decreto-lei n. 7.661 (2.a Turma do Supremo Tribunal Federal, 1.~
de julho de 1949, .8. de D. M., 1, 562: o acórdão recorrido, com exemplar clareza e
lógica, deixou evidenciado não se ter verificado na espécie a pretendida novação,
relativa à mercadoria consignada e ainda não vendida pelo consignatário . Acenlma, e
bem, o acórdão a contabilização, que, sem autorização do dono da mercadoria, teria
feito o comissário, em seus livros, da respectiva venda; seria
como ainda acentua o acórdão abrir ensanchas ao arbítrio e à malícia do mesmo, às
portas da concordata ou da falência, modificando a situação do consignante, de credor
reivindicante para a de simples credor quirografário, o que seria contrário ao direito e
às boas normas das relações comerciais”).
Em caso de contrato de comissão mercantil, para o qual um dos pressupostos é ser
comerciante o comissário <Código Comercial, art. 165), se a lese se abre falência,
cabe a restituição ao comitente: não é o dono, que tem a pretensão, salvo se coincide
ser o comitente; e sim o comitente. Dai não ser de exigir-se a prova da propriedade. O
que importa é a relação jurídica entre comitente e comissário. Se o comitente não tinha
poderes para contratar a comissão, é questão entre o dono ou quem tinha a disposição
do bem e o comissário, estranha ao juízo da falência.
O contrato de comissão resolve-se com a falência do comitente Não importa se a
comissão é para venda, ou para compra.
No momento em que o comissário “adquire” o que o comitente queria, quem adquire ~
o comitente, inclusive quanto à posse própria mediata, O art. 170 do Código
Comercial é expressivo. Se o comissário adquire para ai, incide a fortiori o art. 152
do Código Comercial, que se refere ao mandato. Note-se, mais uma vez, que lese art.
152, que, noutros sistemas jurídicos , somente concerne à comissão, está no Código
Comercial concebido como regra jurídica sobre o mandato. Essa particularidade,
digna, em técnica legislativa, de todo encômio, estabelece a solução mais
consentimento com o art. 622 do Código Civil, bem como com os art. 56 e 57. Por
isso, é preciso que a doutrina e a jurisprudência brasileiras não se deixem contaminar,
a respeito de ~is pontos, com proposições extraídas de sistemas jurídicos estrangeiros.
Quanto ao dinheiro que o comissário recebeu para aquisição, não se pode reduzir o
comitente a credor quirografário. Não assentiu Me em que o dinheiro se inserisse no
patrimônio do comissário, salvo manifestação de vontade.
Se o comissário vendeu as mercadorias e recebeu o dinheiro, porém ainda não
transferiu a propriedade delas, têm de ser arrecadadas pelo síndico da falência do
comissário, O comprador é apenas credor quirografário, porque o comitente pode
exigir a restituição.
Se houve consignação de café e a casa comissária desistiu pode ser reivindicado o
café, ou pedida a restituição do equivalente, porque o preço há de estar invertido nos
bens arrecadados (4.8 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 2 de agosto
CAPITULO VIII

de 1933, R. dos T.. 89, 449>.


Não foge aos princípios acima expostos o caso dos cafés consignados para
beneficiamento (Tribunal de Justiça de São Paulo, 22 de outubro de 1914, R. dos T.,
24, 57). Nem importa se o comissário, sem consentimento do comitente, creditou o
produto da venda em canta corrente (Tribunal de Justiça de São Paulo, 10 de agosto de
1910, São Paulo .1., 23, 542).
Merecem os julgados acima citados que se chame a atenção para eles. A doutrina que
neles se reflete é a lídima expressão do sistema jurídico brasileiro.

13.DEPÓSITO IRREGULAR E CONTA CORRENTE BANCÁRIA.


O credor por titulo de depósito irregular não tem as ações dos arte. 76-78 e do art. 79
do Decreto-lei n. 7.661 (Câmara Cível e Comercial do Superior Tribunal do
Amazonas, 2 de setembro de 1916, R. .7., VII, 344): o art. 1.280 do Código Civil é
explícito em submeter tal depósito às regras jurídicas sobre o mútuo.
A conta corrente bancária não estabelece relação jurídica igual à do depósito regular. O
saldo não dê ao depositante em conta corrente bancária a ação do art. 76, ou do art. 76,
§ 2.0, do Decreto-lei n. 7.661. Não importa se a prazo, ou mediante aviso os saques,
ou não (5.8 Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 9 de dezembro de
1949, A. .7., 96, 150, e 100, 145, R. F., 136, 469: “Nesse depósito irregular, o
depositário tem a vantagem do uso da coisa, com os direitos de proprietário; e tanto
assim é, que os dinheiros depositados sem individuação, nos bancos, a titulo de
guarda, passam à sua livre disposição, para que possam ser aplicados no
desenvolvimento dos seus negócios a crédito. Ao depositante compete a boa escolha
do estabelecimento bancário, uma vez que entrega o dinheiro em depósito a prazo, ou
sem prazo, já sabendo do uso que o banco fará e do risco da sua restituição, auferindo,
por isso, juros convencionados”; e 17 de janeiro de 1950, 1?. de D. M., 1, 106, A. .1’.,
101, 95, R. 1’., 136, 467). ao falido a propriedade, como se entregou pacote de
dinheiro fechado, ou se foi para fim determinado, sem que se possa admitir momento
em que o dinheiro ou outro bem fungível entraria no patrimônio do falido. Por isso,
não importa, tratando-se de dinheiro ou outro bem fungível, se o mandatário ou outro
contraente lançou em conta corrente o que com ele só se acha para a conclusão do
negócio jurídico com terceiro (cf. As ft Câmara Cível da Corte de Apelação do
Distrito Federal, 5 de abril de 1937, 1?. 1’., 70, 282; Corte de Apelação do Distrito
Federal, 8 de janeiro de 1937, 69, 517, e 70, 73).
Quando se trata de depósito, é de perguntar-se, preliminarmente, se o depósito é
regular ou irregular, mas isso não quer dizer que somente se o negócio jurídico é
depósito regular cabe invocar-se o art. 76 do Decreto-lei n. 7.661, verbis “em virtude
... de contrato” (cf. ad. 166). Não falta a transferência da propriedade do que se entrega
ao outro contraente Ipeno as no contrato de depósito. Desde que o dinheiro entregue
não pode alimentar conta corrente, nem ser considerado prestação prometida de volta,
não há pensar-se em se considerar falencialmente irrestituível (cf. Tribunal de Justiça
de São Paulo, 5 de maio de 1924, R. dos T., 38, 365).
O direito falencial está em plena concordância com o sistema jurídico. Supõe os
princípios básicos desse, uma vez que:
a) Ou há permissão da inserção do dinheiro ou de outro bem fungível no patrimônio
do receptor, ou não há tal permissão.
b) Se há a permissão da inserção do dinheiro ou de outro em fungível no patrimônio
do receptor, qualquer relação jurídica , que dai se irradie, entre o transferente e o
receptor, somente é de direito das obrigações : nasce, a favor de quem prestou, direito
pessoal à prestação; o receptor assumiu divida obrigação. A ação somente pode ser de
condenação ou exenitiva pessoal.
c) Se não há a permissão da inserção do dinheiro ou de outro bem fungível no
patrimônio do receptor, como se dá no comodato, na locação, na comissão, na
consignação, ou, em geral, no depósito regular, o transferente não se confirmou com a
normal fungibilidade do bem, e pré-eliminou, negocial
CAPITULO VIII

Ai, a ação que tem o transferente é a ação de dono, ou de possuidor mediato, a quem
há de ser restituída a posse imediata. Não há a simples obrigação de prestar. O Código
Civil, ad. 1.192, IV, por exemplo, fala de ser o locatário obrigado “a restituir a coisa,
finda a locação, no estado em que a recebeu, salvas as deteriorações naturais ao uso
regular”. Cf. Tomo XXII, §§ 2.727-2.730.
A restituição é, aí, conseqüente à extinção da eficácia do negócio jurídico entre quem
transferiu a posse e quem a recebeu.
Se no instrumento de mandato se diz que o mandante irá remetendo ao mandatário as
parcelas do que for preciso para operações, obrigando-se o mandatário a creditá-las na
conta corrente bancária do mandante, há transferência da propriedade do dinheiro.
Bem assim, se o mandante permitiu que da sua conta corrente bancária fosse o
mandatário retirando o que necessitasse para a execução do mandato.
Toda ordem de pagamento pré-exclui que possa haver inclusão do dinheiro remetido
no patrimônio do banco. Se o falido tinha de entregar a terceiro o dinheiro, não se
pode, a priori, afirmar a inadmissibilidade da ação de restituição falencial.

14.EMPREGADOS, EMPREGADORES E DESCONTO NOS SALÁRIOS. Os


empregadores, ao descontarem dos salários dos empregados as contribuições desses
para os institutos de aposentadoria e pensões , ou semelhantes, são depositários
regulares. O dinheiro descontado não se insere nos seus patrimônio s. Dai terem os
institutos ação de reivindicação e, no caso de falência dos empregadores, a ação de
restituição, ai reivindicatória (8.’ Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal, 17 de agosto de 1949, A. .1., 94, 115; 13 Câmara Civil do Tribunal de Justiça
de São Paulo, 1.0 de abril de 1952, R. dos T., 201, 330; 4.’ Câmara Civil, 15 de
dezembro de 1949, 184, 801;
5.’ Câmara Civil, 14 de março de 1952, 200, 457; 6.’ Câmara Civil, 4 de abril de 1952,
201, 386). Ao descontar, o empregador toma a posse imediata de depositário e, em
virtude do poder que a lei lhe atribuiu de receber as contribuições , descontando-as,
adquire pelos institutos a posse própria mediata.
Se algum empregado, alguns empregados, ou todos os empregados não tiverem
recebido os seus salários, ou outros pagamentos de que se tivessem de descontar as
contribuições aos institutos, não podem os institutos exercer a pretensão restitua. Os
empregados têm a sua pretensão à cobrança com privilegio o (Decreto-lei n. 7.661, art.
102, § 39, III), de modo que dedução se há de fazer sobre o que eles vierem a roce-
e os próprios institutos podem invocar o privilégio do 102, § 3~O, II, cobrando as
contribuições , diretamente, mas liquidação tem de• aguardar a dos salários (cf. 4.’
Câmara LI, 27 de setembro de 1951, R. dos T., 196, 318, R. F.,•287).
A contribuição dos empregadores, uma vez que não foi visitada antes da decretação da
falência, é divida dos empregadores falidos, com o privilégio geral de que cogita o art.
102, O, ~ do Decreto-lei n. 7.661. O dinheiro ainda não era do instituto; cada falido
devia-o, e deve-o enquanto não pagar. a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São
Paulo, a 29 de novembro de 1950, equiparou essas contribuições dos empregados às
contribuições dos empregados se esses já receberam Lua lhes era devido (= às
contribuições restituíveis dos pregados). Mas sem razão: contribuições que ainda não
tem pagas pelos empregadores são equiparáveis às contribuições dos empregados que
ainda não foram pagos, e não às conulç6es dos empregados que já receberam os seus
salários. No Decreto-lei n. 65, de 14 de dezembro de 1937, art. 99, mais privilegiados,
nos processos de falência, concordata concursos de credores, os créditos dos institutos
de aposentadorias e pensões, acrescentando-se que hão de ser incluídos no
reivindicantes, em relação às quantias recebidas pelos ~regadores de seus
empregados”. Entendeu TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE (Comentários da
Lei de Falências , II, 109) a parte final do art. 99 do Decreto-lei n. 65 fora revogada
Decreto-lei n. 7.661. Sem razão. A 1.’ parte do art:9.0 do Decreto-lei n. 65 atribuiu
privilégio geral aos créditos dos institutos de aposentadoria e pensões , isto é, aos
CAPITULO VIII

credito a; a 23 proximo explícito o que resultava da própria situação do empregador,


que descontara as contribuições e deveria recolher o que 2ontara: não se abriu
exceção aos princípios; apenas se ~riu, na espécie, a incidência do principio. Quanto a
essas contribuições , o empregador não tem contrato, de que provenha o crédito; o
empregador está de posse de bens alheios, embora consistentes em dinheiro. Restituir
não é pagar. O locatário que tem de entregar o bem locado, depois de terminar o
contrato, restitui, não paga. É devedor de restituição, não de prestação. O mandatário
que, findo o mandato, tem de entregar £ quantia que não foi empregada, não paga,
restitui. O mandante não tem contra o mandatário crédito, no sentido estrito; tem
direito à restituição. A jurisprudência tem sido no mesmo sentido do que expusemos, a
propósito do art. 99, 2.’ parte, do Decreto-lei n. 65 (e. g., 63 Câmara Civil do Tribunal
de Justiça de São Paulo, 28 de setembro de 1949, R. dos T., 182, 878, e 1.’ Câmara
Civil, 7 de agosto de 1951, 194, 893); e está firmada.
Tentou-se evitar a ação incidental de restituição com a alegação de não se poder
invocar o art. 99, 2.’ parte, do Decreto- lei n. 65, se as contribuições dos institutos,
deduzidas dos salários dos empregados, não foram arrecadadas (e. g., 43 Câmara Civil
do Tribunal de Justiça de São Paulo, 17 de junho de 1947, R. dos T., 168, 560). Porém
tal escapatória foi repelida, em recurso de revista, pela Seção Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, a 8 de setembro de 1948, 177, 382). A “obrigação” de restituir
foi por nós estodada no Tomo XX, § § 2.727-2.730. A restituibilidade e a pretensão à
restituição supõem que o legitimado tenha o direito de propriedade, ou o direito de
posse, ou o direito à sentença (e. g., o ladrão tem de restituir ao servidor da posse). O
bem restituendo não pertence ao falido ou ao insolvente civil, nem, portanto, à massa.
Dai a restituibilidade. Se o dinheiro, que havia de ser recolhido, ficou no cofre do
falido, confundido, ou não, com o que pertence ao falido, tal confusão sem o
consentimento (cf. Código Civil, art. 615) do instituto, dono das contribuições de
modo nenhum tem eficácia jurídica; é meramente táctica. Nem se diga que, não tendo
havido menção no auto de arrecadação, arrecadação das contribuições não houve:
houve-a, porque, se arrecadou o todo, se arrecadou, necessariamente , a parte. Houve-
a, mesmo se arrecadados foram apenas bens não pecuniários. A 2.’ Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, a 20 de maio de 1947 (R. dos T., 168, 136),
distinguiu: “O que estatui o art. 99 é: a) que os concordatas e concursos de credores,
são havidos como credores privilegiados pelas contribuições da responsabilidade dos
regadores; b) que as importâncias por eles descontadas salários dos empregados devem
ser restituídas Não exigiu í podia exigir a lei a condição de ter sido a importância
acadada . Tal exigência implicaria invalidar o próprio preço . Efetivamente, são em
dinheiro os descontos que os empregadores fazem nos salários dos seus empregados.
Esse dinheiro, coisa fungível , se confunde com o mais dinheiro do empregador. Aliás,
se o empregador não recolheu o tanto das contribuições nas instituições de
previdência, é que, em geral, chegou, sequer, praticamente, a separá-lo do dinheiro
exis~e em caixa, embora tenha havido o necessário lançamento escrita da casa. De
qualquer forma, pela não-individualiza-das unidades monetárias, resultou confusão
entre as impor-tias das contribuições e as demais do giro comercial ou industrial.
Acresce que, ao declarar-se a falência, normalmente se encontra, na massa, dinheiro,
salvo algumas migalhas. um, se cancelado não estivera o preceito pela fungibilidade
bens, na prática se daria a sua frustração completa. É de se considerar que, atenta a sua
indistinção, a quantia das contrições recebidas pelos empregadores pode ter-se sub-
rogado outros bens, como mercadorias. Nesse caso especial de restituição, a regra é
não ser feita ela com as mesmas moedas”. Convém maior precisão.
a) Se o empregador descontou ao salário do empregado contribuição do instituto, o
dinheiro passou ao patrimônio instituto, porque há constituto possessório: o
empregador, era dono do dinheiro, transferiu ao instituto a posse meta e ficou como
possuidor imediato, na qualidade de deposito. Se apropria da contribuição deduta ,
furta.
O constituto possessório é causa de perda da posse. O empregador perde e o instituto
CAPITULO VIII

adquire. Em verdade, não transfere. ele apenas a posse própria mediata; transferiu toda
a posse, tatant4neamente, como depositário, recebeu o com que ficou nesse
(imprópria) imediata. Cf. Tomo X, §§ 1.091, 1.097, e 1.107. depositários das
contribuições que os empregados têm de pagar.
O empregado paga, porque o empregador descontou ( ao entregar s e, o empregador
paga s e faz-se depositário de e).
O empregador faz-se depositário, pois continua com a posse imediata, mas a posse
(própria) mediata está com o instituto.
b)Se o empregador teria de prestar a contribuição, e não no fez, é devedor
inadimplente. A ação do instituto contra ele é pessoal. Dai ter-se, de iure condendo, de
fortalecer a situação do instituto, em caso de insolvência do empregador. A solução,
deu-a o art. 102, § 39, II, do Decreto-lei n. 7.661, onde se diz que “têm privilégio
geral” note-se bem “privilégio” “os créditos dos Institutos ou Caixas de
Aposentadoria e Pensões, pelas contribuições que o falido dever”.
c)Se o empregador está em mora com o pagamento dos salários dos empregados,
mesmo se está feito o expediente para os pagamentos, não se pode pensar em já ser
depositário das contribuições dos empregados. As contribuições são tiradas dos
pagamentos. Se pagamento não houve, não há pensar-se em dedução, a despeito de
qualquer contabilização que haja a esse tempo ocorrido.
Aí, o falido deve aos empregados e deve aos institutos ou caixas. Não está na situação
jurídica de depositário; de jeito que os empregados somente podem exigir que lhes
sejam prestados os salários (= que lhes sejam pagos os salários), e os institutos ou
caixas, que lhes sejam prestadas as contribuições dos empregadores e as dos
empregados. Os créditos dos empregados têm privilégio especial, de conformidade
com o art. 102, § 39, III, do Decreto-lei n. 7.661, e aos créditos dos institutos e caixas
a lei atribui, indistintamente, o privilégio do art. 102, § 3~O, I~.

15.TRADIÇÃO POR EMPRESAS DE TRANSPORTES E RESTITUICAO Na


falência da empresa de transportes, o remetente da mercadoria consignada, com ou
sem cláusula de depósito, não perde a posse mediata da mercadoria transportada, ou a
transfere ao destinatário. De qualquer modo, o remetente (33 Câmara Civil do Tribunal
de Justiça de São Paulo, 10 de maio de 1951, R. dos T., 193, 340), ou o destinatário,
conforme a espécie, não por ter a posse mediata.

16.RESTITUIÇÕES E DECISÕES ANTERIORES DE OUTRO Juízo. Se alguma


decisão já existia, em processo cautelar, ou exessiva, contra o falido e, antes de se lhe
dar cumprimento, provém a decretação da falência, todos os bens que se acham poder
do falido têm de ser arrecadados e o juiz da falência de atender ao julgado, ou, se ainda
não há coisa julgada decisão do outro juízo, há de exigir que se processe o peso de
restituição (Decreto-lei n. 7.661, art. 77>. Se, a despeito dos princípios, se retiram os
bens irregularmente, porto não pode prevalecer tal violação do art. 23 do Decreto Lei
n. 7.661; máxime, se não havia decisão judicial, de que retira ela Esse ato de
cumprimento (sem razão, a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará, a 26 de
março de 1951, F., iS?, 165).
De passagem, observemos que o fato de provir do mesmo a sentença anterior à
decretação de abertura da falência importa. Ainda não se tratava de juízo falencial, de
modo a não há distinguir-se qualquer juízo em relação ao juízo que sobreveio a
decretação de abertura da falência. Todos juizes são iguais. A abertura da falência
ocorre num deles, virtude de aplicação de regras jurídicas sobre competência. O
crédito que foi objeto de sentença condenatória contra falido, se, em si, não é
privilegiado, ou se não tem garantia
1, entra no concurso de credores civil ou falencial como crédito quirografário.

§ 3.390. Pedido de restituição


CAPITULO VIII

1.PRETENSÃO À RESTITUIÇÃO. Com a expressão “pressão à restituição”, juntam-


se três conceitos: o de pretensão reivindicação, o de pretensão à vindicação e o de
pretensão à restituição stricto sensu (= pretensão pessoal à restituição). põe a
arrecadação, portanto a medida constritiva, pelo órgão execução forçada celetiva, que
é o síndico. Sé o bem não arrecadado, não há, no juízo da falência, outro ensejo para
titular do direito ou da posse que o de habilitar-se como credor
sOes à reivindicação, à vindicação ou à restituição atricto sensu. Todavia e já antes o
advertimos o penhoramento
abstrato pode dar ensejo a incursões na esfera jurídica de alguém, por tê-lo levado até
ai o juízo falencial, ou algum dos órgãos da execução forçada celetiva, ou alguma
autoridade ou funcionário que haja de atender à eficácia da. decretação de abertura da
falência. Tudo se reduz a apreciação da extensão dó penhoramento abstrato. Por
exemplo, se a Fazenda Pública vai contra a massa falida a propósito de imposto que
outrem, verdadeiro devedor> pagara, como devera; ou se o oficial do registro de
imóveis ou de outro registro se recusa a registro de negócio jurídico em que o
outorgante é o terceiro, ou o próprio devedor (se o bem não é atingido pela
universalidade objetiva da falência).
Se ao bem arrecadado sobreveio perecimento, ou danificação, de que se origine
responsabilidade, ainda se pode exercer a pretensão, que se dirige a todo o valor, salvo
se, in caau, há de ser feito rateio (Decreto-lei n. 7.661, arts. 76, § 1.0, e 78, § § 2.0 e
3~O)• Restitui-se, então, o que foi recebido.
Entre o proferimento da sentença que homologa a concordata suspensiva e o trânsito
em julgado, ainda podem ser julgadas as ações de restituição e as de embargos de
terceiro (8.a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 16 de outubro de
1946, R. dos T., 170, 786, R. 9., 115, 127, com apoio nos arte. 146, 188, 149 e 151, §
2.0, do Decreto-lei n. 7.661). Mais. A concordata suspensiva determina a entrega da
posse, que se tirara ao devedor falido, e a obliteração do penhoramento abstrato.
Assim, enquanto a concordata suspensiva não está cumprida (Decreto-lei n. 7.661,
arts. 155 e 149), isto é, não teve sentença que, com trânsito em julgado, a julgou
cumprida, pode haver pedido de restituição ou embargos de terceiro. Antes disso,
nenhuma alienação pode ser feita sem os pressupostos apontados no art. 149. Portanto,
o juízo ainda tem de autorizar qualquer ato que implique diminuição do patrimônio
falencial (arts. 188 e 149>.
O síndico está fora do procedimento desde que o devedor obtém, com trânsito em
julgado, a concordata suspensiva, salvo resolução da concordata.
mansão e a ação restituitórias (lato sensvj, os que o seriam para reivindicação, para a
vindicação do direito real limitado, ara a ação possessória, para a vindicação da posse
e para pretensão à restituição de origem negocial pessoal. Inclusive o falido.

8. PETIÇÃO. “O pedido de restituição deve ser cumpriamente fundamentado e


individuará a coisa reclamada” (Decreto-lei n. 7.661, art. 77). O art. 158 do Código de
Processo Civil tem de ser observado. Bem assim, os arts. 159 e 160.
No art. 77 do Decreto-lei n. 7.661 diz-se que o pedido de instituição deve ser
cumpridamente fundamentado <entenda-se com fundamentos minuciosamente ou,
melhor, suficientemente expostos) e “individuará a coisa reclamada”. Não se , à risca
essa individualização do bem reclamado. A modificação pode ser do tipo extremo, e.
g., anel com dois diamantes de tantos quilates, a lapidação tal, ou anel de dois
diamantes e que se junta a fotografia; e pode ser apenas a que se tem no anunciado:
“contribuição que o empregador descontou dos salários do empregado tal no dia tal
que os pagou”.
“O juiz mandará autuar em separado o requerimento documentos que o instruírem, e
ouvirá o falido e o síndico, o prazo de três dias para cada um, valendo como
contestação informação ou parecer contrário do falido ou do síndico” Decreto-lei n.
7.661, art. 77, § 1.0). Quer se trate de ação geral, quer de ação pessoal, a “ação” é
incidental, acessória. contenciosidade do processo exige a angularidade da relação
CAPITULO VIII

indica processual. Mesmo se não ocorre contestação, a rejeição jurídica processual foi
feita em ângulo desde o momento a audiência do falido e do síndico, e a angularidade
se estende o ser feita a publicação no Órgão oficial. A audiência e o aviso publicado
são, no fundo, citações.
A lei estabeleceu ordem para essas vocationes in jus: primeiro, há a audiência do
falido e do síndico; depois, o aviso os demais interessados. A inversão da ordem é
causa de utilidade não-cominada, de modo que facilmente se sana. A falta e audiência
ou do aviso cria ineficácia em relação a quem do foi chamado a juízo.
Falido e síndico têm três dias para se manifestarem “O escrivão avisará aos
interessados, pelo Órgão oficial, que se acha em cartório o pedido, sendo-lhes
concedido o prazo de cinco dias para apresentarem contestação” (Decreto-lei n. 7.661,
art. 77, § 2.0). A contestação tem de ser apresentada nos cinco dias posteriores à
publicação, salvo se foi estabelecido outro dia a qua. Os arts. 1.O~5.O da Lei n. 1.408,
de 9 de agosto de 1951, são invocáveis.
Somente pode contestar o credor que haja feito a sua declaração de crédito.
O titular de direito de domínio ou de direito real limitado, que exiba a prova de o ser,
pode contestar, convindo que mande processar a sua alegação como embargos de
terceiro.
“Havendo contestação e deferidas ou não as provas porventura requeridas, o juiz
designará, dentro dos vinte dias seguintes, audiência de instrução e julgamento, que se
realizará com observância do disposto no art. 95 e seus parágrafos” (Decreto-lei n.
7.661, art. 77, § 3.9. A audiência de instrução e julgamento é, então, indispensável (5.
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 4 de abril de 1950, Á. .1., 98,
166). O parecer contrário do síndico ou do falido é contestação, de jeito que se tem de
marcar audiência de instrução e julgamento (4~B Câmara Civil do Tribunal de Justiça
de São Paulo, 12 de novembro de 1950, R. dos T., 190, 874>.
Se faltou a audiência de instrução e julgamento, é nula a sentença, de modo que se
tem de proferir outra (6.s Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 20 de
dezembro de 1949, R. doa 2’., 184, 795). A decisão da 3•8 Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal, a 26 de julho de 1949 (A. 3., 94, 115), que dispensou a
audiência por se não haver protestado por provas, foi contra direito.
“Não havendo contestação, o juiz, ouvido o representante do Ministério Público, e se
nenhuma dúvida houver sobre o direito do reclamante, determinará, em quarenta e oito
horas, a expedição de mandado para a entrega da coisa reclamada” (Decreto-lei n.
7.661, art. 77, 1 6.0).
Deferido pedido de concordata suspensiva, a ação de restituição frito seneu prossegue
com o concordatario .
Se houve venda de bens, a entrega do dinheiro ao concordatário só se faz após a
dedução do que possa ter de ser apresado aos autores das ações incidentais, inclusive
se ainda está m curso o processo. Tem-se de depositar o importe no estabelecimento
bancário que haja de recolher os dinheiros da massa falida, para que oportunamente o
levante quem seja legitimado
.Se não houve contestação, a sentença não precisa ser em audiência de instrução e
julgamento (sem razão, a 5•a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal,
a 19 de dezembro de 1950, R. F., 186, 156).

5.SENTENÇA NA AÇÃO DE RESTITUIÇÃO “LATO SENSU” NA AÇÃO DE


RESTITUIÇÃO “STRICTO SENSU”. A sentença há e observar o art. 280 do Código
de Processo Civil.
Ainda que não tenha havido contestação, pode o juiz julgar procedente o pedido.
Outrossim, pode julgar improcedente pedido e ordenar que se inclua o crédito na
classe que lhe aparecer a sua. É o que diz a lei: “A sentença que negar a restituição
pode mandar incluir o reclamante na classificação que, como credor, por direito lhe
caiba” (Decreto-lei n. 7.661. Li. 77, § 5.0).
CAPITULO VIII

A carga de eficácia da sentença, se corresponde à de reivindicação, é a mesma das


sentenças nas ações de reivindicação.
Se corresponde à de vindicação de direito real limitado, lá-se a mesma coincidência.
Idem, se possessória a ação.incidental
Se, em vez disso, é sentença de restituição em ação pessoal, tem-se de procurar qual a
carga da sentença na ação que seria, ‘ora da falência, a que se teria de propor.
o anus de alegar e provar que o bem é restituível incumbe .0 autor da ação incidental
(Tribunal da Relação de Minas Gerais, 4 de maio de 1929, R. F., 58, 85).
O titulo com que se legitima o instituto ou caixa de aposentadoria e pensões, na ação
incidental de restituição, é a certidão [a inscrição da dívida lançada em livro próprio
(5.8 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 21 de setembro [e 1951, 1?.
dos T., 195, 825). Distingam-se, porém: a) As ações incidentais, de restituição lato
seneu, em que não é só a divida ‘ia existia, que se tem de alegar e provar. O instituto
ou caixa de aposentadoria e pensões tem de alegar e provar que existia a divida e que
foi solvida, ficando o empregador como depositário. b) As ações de declaração de
crédito, com que o instituto ou caixa de aposentadoria e pensões atendeu à invitação a
declarar, espécie em que tem de alegar e provar a divida que existe. O que a 5.’
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo disse é comum às duas espécies;
mas, quanto à primeira, sub mente aludiu a um dos pressupostos e são dois os
pressupostos da primeira espécie.

6.RECURSO. “Da sentença do juiz podem interpor agravo de petição o reclamante, o


falido, o síndico e qualquer credor, ainda que não contestante, contando-se o prazo da
data da mesma sentença” (Decreto-lei n. 7.661, art. 77, § 4Y). Não se fala do órgão do
Ministério Público, mas é inegável a sua legitimação. O recurso tem de ser interposto
no prazo de cinco dias (art. 207) a contar da data da publicação da sentença.
O sócio do falido, que tem interesse na ação incidental de restituição, é legitimado ao
recurso (1.8 Turma do Supremo Tribunal Federal, 27 de junho de 1949, À. .1., 98, 55
s.; sem razão, a 1.’ Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco, a 10 de junho
de 1948, Á. 1’., 28, 199).
Qualquer terceiro interessado pode recorrer (Código de Processo Civil, art. 815).

7.CUSTAS E DESPESAS. “As despesas da reclamação, quando não contestada, são


pagas pelo reclamante e, se contestada, pelo vencido” (Decreto-lei n. 7.661, art. 77, 1
7. Vencido o síndico, ou o falido, paga-as a massa. Se há dois ou mais contestantes
vencidos, dividem-se as despesas, proporcionalmente.

1 1.391. Eficácia do ato de arrecadação e do pedido de restituição

1.ARRECADAÇÃO, MEDIDA CONSTRITIVA. A arrecadação constringe, como a


penhora. É ato de execução forçada celetiva Um dos seus efeitos é dar ao síndico o
poder de dispor dos bens arrecadados, como órgão, que é, da execução forçada
celetiva. tese poder de dispor fica suspenso com o pedido de restituição lato sensu.
Desde o momento em que o síndico tem ciência despacho na petição, ainda que
simplesmente “Distribui da, enfitue-se”, não pode dispor do bem a que a petição se
refere Decreto-lei n. 7.661, art. 78: “O pedido de restituição suspenda disponibilidade
da coisa, que será restituída em espécie”).
Se o bem foi sub-rogado, pelo princípio da sub-rogação ai, o credor tem direito ao bem
com que se operou a sub rogação real.
Se ocorre a falência, o bem que se adquiriu com outro rn-se como sub-rogado real, e é
isso o que resulta do art. 78, l.~, que diz: “Se ela tiver sido sub-rogada por outra,
será entregue pela massa”. O princípio é a favor e contra massa. A aquisição de outro
bem pode ter sido antes ou depois da decretação da falência.

2. VALOR RESTITUÍVEL. A regra é serem de prestar-se ri natura os bens


CAPITULO VIII

restituíveis. Se houve sub-rogação real, constitui-se o sub-rogado real do bem que teria
de ser restituído.
Se não há o bem, nem o sub-rogado’ real, o autor da ação restituição lato seneu se o
bem fora arrecadado tem direito ao valor estimado, ou, no caso de venda do bem, ou
do u sub-rogado real, ao preço pelo qual se vendeu. É o que se no art. 78, § 2.~, 1.8
parte: “Se nem a própria coisa ~m a sub-rogada existirem ao tempo da restituição,
haverá reclamante o valor estimado, ou, no caso de venda de uma de outra, o
respectivo preço”. O ad. 78, § 2.0, 1.8 parte, impõe que tenha havido a arrecadação e
que, antes de se estabelecer a indisponibilidade pelo síndico, haja esse alienado bem.
O valor estimado ou o preço é prestável antes de qualquer crédito, exceto as despesas
que o bem reclamado ou o seu produto determinou (ad. 78, § 48: “O reclamante pagará
à massa as despesas que a coisa reclamada ou o seu produto verem ocasionado”).
A responsabilidade da massa é a responsabilidade do órgão execução forçada
celetiva, que é o síndico; portanto, a de depositário. Se a restituição em verdade é
reivindicação, ou indicação, regem os arts. 510-519 do Código Civil. Se o falido ‘a
depositário, são de invocar-se os arts. 1.271-1.279. Nos casos de dever de restituição,
para o qual não há regra jurídica especial, incidem os arts. 869-871 do Código Civil.
A alienação após o pedido de restituição, ciente o síndico, é ineficaz. pelo preço, é
independentemente de culpa (cf. Decreto-lei a. 7.661, ad. 68>.
O pedido, no tocante ao valor, ou ao preço, processa-se como o pedido no tocante à
coisa em natura; isto é, conforme o Decreto-lei n. 7.661, ad. 77.

3.RATEIO ENTRE PESSOAS COM DIREITO À RESTITUIÇÃO. Se a satisfação


dos reclamantes, ou de alguns deles, tem de ser em dinheiro e o saldo não basta, faz-se
o rateio entre eles, antes de se atender aos credores. Os credores com privilégio
especial têm de ser satisfeitos com o produto da coisa, antes dos reclamantes que
tenham de ser satisfeitos com dinheiro. Se o dinheiro se manteve em separado, não é
com dinheiro, no sentido do ad. 78, § 3~0, do Decreto-lei n. 7.661, que se satisfaz o
reclamante, devido à individuação. Ai, o dinheiro é como o bem em natura. Assim se
há de entender o ad. 78, § 38, que diz: “Quando diversos reclamantes houverem de ser
satisfeitos em dinheiro e não existir saldo bastante para o pagamento integral, far-se-á
rateio entre eles”. Se há reclamações em andamento, aguarda-se que sejam julgadas
(cf. Conselho de Justiça do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 28 de julho
de 1950, Á. .1., 96, 139).

§ 3.392. Embargos de terceiro

1. TERCEIRO E DIREITO CONTRA A ARRECADAÇÃO. Arrecadados os bens que


estão em poder do falido, com eles podem estar bens a respeito dos quais poderia o
terceiro, em caso de penhora, opor embargos de terceiro. Passa-se o mesmo em caso
de seqüestro falencial, medida cautelar, que o síndico, de oficio ou a requerimento,
pode decretar, se o pedido de falência se fundou no ad. 2.0 do Decreto-lei n. 7.661 (ad.
18, § 4.0).
Por vezes, quem pode pedir restituição lato sensu também poderia opor embargos de
terceiro, mas isso não ocorre sempre. Nem se há de pensar em restituição se o caso é
de simples turbação.
Sempre que a ofensa é só à posse, de embargos de terceiro 4 .que se há de cogitar. Mas
os embargos de terceiro não se limitam à posse, nem ao domínio e à posse.
A decisão que negue a restituição ao que se dizia possuidor não afasta a ação
incidental por alegação de domínio; ou vice-versa.
O Código de Processo Civil, arts. 708-711, tem de ser segui-lo, quanto ao
procedimento. O art. 711, concernente à competência do juízo deprecado, não sofre
exceção. O art. 7.9, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661, não afasta a competência do juízo
de empregado, que apenas aprecia o alcance do seu ato de constrição. no sentido certo,
a 2~B Turma do Supremo Tribunal Federal, t 22 de agosto de 1950 (R. F., 138, 118),
CAPITULO VIII

que frisou e é equivalente terem os embargos de ser opostos, no juízo


deprecado,antes de se devolver a carta precatória.
Aqui, ainda há advertência que tem de ser feita. O próprio penhoramento abstrato, sem
ter havido o ato material da arrecadação, pode dar azo à oposição de embargos de
terceiro. No sistema jurídico brasileiro, qualquer ofensa ou ameaça a direito
patrimonial, por incursão na esfera jurídica de outrem, permite a ação de embargos de
terceiro.
Assim, se algum oficial de registro o do registro de imóveis ou outro se recusa a
registrar negócio jurídico de terceiro porque o penhoramento abstrato se refere ao bem
de que se trata, o caminho que tem o interessado é o de ir com embargos de terceiro,
no juízo falencial, conforme o art. 79 do Decreto lei n. 7.661.
Esse não é o caso único. Qualquer óbice a exercício de direito, pretensão, ação ou
exceção do terceiro que foi criado pelo penhoramento abstrato, como pela arrecadação,
dá ensejo a turbação ou esbulho, não só quanto à posse, e pois a embargos de terceiro,
ação mandamental.

2. INDISPONIBILIDADE. A suspensão da disponibilidade, de que fala o art. 78 do


Decreto-lei n. 7.661, é quanto ao direito, pretensão, ação, ou exceção, que é objeto da
ação incidental. Se só se discute, por exemplo, a posse, não há indisponibilidade do
domínio. Se o que está em causa é o usufruto, não 6 indisponível o domínio.
N’a jurisprudência encontram-se julgados que admitem o processo dos embargos de
terceiro para a ação de revogação
Justiça de São Paulo, 2 de outubro de 1947, 171, 686; Tribunal de Justiça de São
Paulo, 26 de março de 1958). O Erro é evidente. z Que tem com a embargabilidade por
terceiro a ação por fraude contra credores? Os embargos de terceiro não são ação de
credor; e o Decreto-lei n. 7.661, arts. 53-58, regulou a ação revocatória falencial.
Apesar de J. 1. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial, VIII,
318> ter repelido o acórdão absurdo de 1912, surpreende que a Justiça de são Paulo
reincida na erronia indefensável. A ação de embargos de terceiro é para se afastar a
eficácia da arrecadação; a ação revocatória falencial é para se retirar credor. Ali, a
finalidade diminui o ativo; aqui, diminui o passivo.
Na ação declaratória de ineficácia relativa, o terceiro é figurante, porque contra Me é
que será a eficácia da sentença favorável à massa falencial (Decreto-lei n. 7.661, art.
52). Não é terceiro, é parte, é demandado.
Na ação revocatória falencial (Decreto-lei n. 7.661, art. 53>, a ação é tipicamente
contra o falido e o terceiro, que é o terceiro ciente da fraude. Também aqui o terceiro é
parte, e não terceiro, que possa vir com embargos de terceiro.
A precisão de tais conceitos é indispensável se tem por dito o proferimento de decisões
justas.
Na ação declaratória de ineficácia relativa, o terceiro é réu. Na ação revocatória
falencial, também o é. Na ação de embargos de terceiro, o terceiro autor.

8.LEGITIMAÇÃO ATIVA A legitimação ativa, nos embargos de terceiro opostos à


arrecadação falencial, é a mesma que se apontou quanto às execuções forçadas
celetivas não falenciais.
Se ocorre que o patrimônio ofendido é do falido, no que escapa à falência, pode Me
embargar de terceiro.
Se o síndico embarga de terceiro, a solução e a nomeação de síndico ad koc.
O cessaonário de crédito, inclusive de pré-contrato de compra e venda de imóvel
concluído entre o falido e o cedente, não alcançado pela decretação da falência, tem
embargos de terceiro, quer para a que iesa ao direito e a posse que “‘e retistribuira
(6.8 Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 4 de junho de 1948, Á.
J., 100, 144>, quer somente ir a defesa do direito.
A 2.8 Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, a 12 de janeiro de 1923
<R. do .9. T. F., 50, 217), disse ‘se o síndico não pode retirar, sem pagar o que a massa
CAPITULO VIII

deve, mercadorias depositadas em armazéns gerais. O crédito de armazém geral tem


privilégio especial, devido ao direito 3 retenção. Porém isso nA o impede que se
arrecade o direito às mercadorias ou ao penhor (warrant).
Se o síndico procura retirar ou retira, pagando o que massa deve, as mercadorias
depositadas em armazém legal, terceiro que se diz dono, ou titular de direito de
penhor, tem embargos de terceiro.
Se o síndico arrecada o direito sobre as mercadorias ou penhor, já o que se diz dono ou
portador dos warrants tem embargos de terceiro.
Porém embargos de terceiro já os teria o próprio terceiro, que se diz dono das
mercadorias ou titular do direito de penhor, a ofensa à sua esfera jurídica se deu com o
fato mesmo do penhoramento abstrato.
Se o cônjuge do falido morreu antes da decretação da falência, são legitimados os seus
herdeiros, por força da saisina Código Civil, art. 1.572). Sem razão, a 2.8 Câmara
Cível Corte de Apelação do Distrito Federal, 19 de maio de 1914 E. de D., 35, 478>;
certa, a 2.~ Câmara Civil da Corte de Apelação de são Paulo, a 7 de agosto de 1986
(R. dos T., 3,180).

4.LEGITIMAÇÃO PASSIVA. Legitimado passivo, por ser parte de oficio, é o


síndico, O falido, o órgão do Ministério Público e os credores podem introduzir-se na
relação jurídica Processual. Defeituoso o acórdão da 5,8 Câmara Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, a 11 de maio de 1951 (R. dos T., 33, 383). Convém frisar-se que
a contestação pelo falido, ou elo órgão do Ministério Público, ou por algum dos
credores, mio pelo síndico, é de eficácia para todos os outros interes~dos. Dai a
recorribilidade por parte de qualquer um. cargos de terceiro são admissíveis a qualquer
momento, salvo cinco dias depois da arrematação ou da adjudicação (Código de
Processo Civil, art. 708: “Esses embargos serão admissíveis em qualquer tempo, antes
da sentença final, ou na execução, até cinco dias depois da arrematação, ou
adjudicação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta”). Concurso de
credores, civil ou não, é execução forçada celetiva. Certa, a 4,8 Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 10 de outubro de 1950 (D. da J. de 10 de
julho de 1951), e absolutamente sem razão o voto vencido que entendia não ser
invocável no concurso de credores falencial o art. 708 do Código de Processo Civil.
Homologada a concordata suspensiva, ainda podem ser opostos embargos de terceiro;
mesmo após o trânsito em julgado <sem razão, o Tribunal de Apelação de São Paulo,
14 de abril de 1943). A ação a propor-se seria a ação própria do direito, diz-se, sem
essa acidentalidade mandamental. Mas improcede a afirmação. Tem-se de levar em
conta o que se estatula nos arts. 149, 155 e 183 do Decreto-lei n. 7.661. O síndico está
fora do procedimento depois que se defere o pedido de concordata suspensiva; não, o
juízo. Qualquer ato que tenha de ser autorizado pelo juiz da falência somente pode ser
praticado, mesmo com constrangimento judicial, após exame do juízo falencial. A
concordata, enquanto não se lhe julga o cumprimento, com trânsito em julgado, apenas
suspende o procedimento falencial propriamente dito. Ora, as ações incidentais de
restituição lato sensu e de embargos de terceiro são por bem dizer-se periféricas.

6.RECURSO. Da sentença que se profere nos embargos de terceiro, opostos a atos do


juízo da falência, o recurso que se pode interpor é a agravo de petição (Decreto.lei n.
7.661, art. 79, § 2.0). Recorre quem tenha interesse no recurso (o embargante, o falido,
o síndico, ou qualquer credor, órgão do Ministério Público). O art. 79, § 2.0, não fala
do Ministério Público, porém não se pode pré-excluir a sua legitimação:
“Da sentença que julgar os embargos, cabe agravo de petição, que pode ser interposto
pelo embargante, pelo falido, pelo embargo, ou por qualquer credor, ainda que uso
contestante>. No direito falenclal, o credor que contesta exerce a pretensão à tutela
jurídica, no interEsse de toda a massa, e não só no seu interino.

Parte VII. Verificação dos créditos e admissão ao concurso de credores falencial


CAPITULO VIII

CONVITE À DECLARAÇÃO DOS CRÉDITOS E DECLARAÇÃO DE CRÉDITOS

§ 3.393. Atos do síndico opõe a abertura da falência

1.EXECUÇÃO CELETIVA, DECRETAÇÃO DE ABERTURA DA FALÊNCIA


E “INNTATIO AD DECLARANDUM” FEITA AOS CREDORES.
Um dos traços diferenciais do concurso de credores em relação à execução singular
está em que, nessa, basta a inicia-Uva do credor, ao passo que, naquela, é preciso que
o juiz decrete a abertura. Isto é: é indispensável que o Estado permita que a execução
forçada seja ou possa ser por pluralidade de credores. A sentença, de forte carga
declarativa, abre as portas à execução forçada celetiva. A força da decisão é
constitutiva. Compreende-se, facilmente , que assim seja, porque, entre outros efeitos,
tem a decisão de admissão do concurso de credores o de se suspenderem as ações
executivas singulares. Ficam absorvidas na execução celetiva e, exercendo-se essa
sobre todo o patrimônio do falido, cairia no vácuo a execução singular, ou os dois
procedimentos se chocariam.
A execução celetiva exige que os credores sejam chamados. Essa invita~ão é a de
declarar os créditos. Assim se pode atingir a finalidade do concurso de credores, civil
ou falencial, inclusive das liquidações voluntárias e das coativas. Determina-se o
passivo do patrimônio exposto à execução celetiva.
Dai dever o juiz, na decisão de abertura do concurso, dita, sem exatidão, “declaratória
da falência” (confunde-se, ai, eficácia com força de sentença), marcar o prazo para os
credores fazerem as suas declarações de crédito e apresentarem os documentos que
justifiquem o que Eles alegarem. Diz o art. 80: “Na sentença declaratória da falência, o
juiz marcará o prazo de dez dias, no mínimo, e de vinte, no máximo, conforme a
importância da falência e os interesses nela envolvidos, para os credores apresentarem
as declarações e documentos justificativos dos seus créditos”.
A publicação da sentença já transmite aos credores o mvikztio ad declarandum. Mas a
lei ainda exige: entrando em exercício, tem o síndico de convidar os que constem da
escrituração lo falido (Decreto-lei n. 7.661, art. 81: “O síndico, logo que entrar no
exercício do cargo, expedirá circulares aos credores pie constarem da escrituração do
falido, convidando-os a fazer declaração de que trata o art. 82, no prazo determinado
pelo juiz”). “As circulares, que podem ser impressas, conterão texto do art 82 e serão
remetidas pelo correio, sob registro,com recibo de volta. Os credores, conforme a
distância em que se acharem, podem ser convidados por telegrama” (art. 81, 1 1.0). A
falta de recebimento da circular (só de recebimento) ação causa irtefiedeja: trata-se de
bis in idem; apenas pode credor, em ação de indenização contra o síndico, alegar
que o síndico não cumpriu o seu dever, ou só o cumpriu tardiamente (art. 81, § 2.0: “O
síndico é responsável por quaisquer prejuízos causados aos credores pela demora ou
negligência o cumprimento desta obrigação, e somente se justificará exigindo o
certificado do registro do correio, ou o recibo da estação telegráfica, que prove ter
feito, oportunamente, o convite”>. Ônus da prova de haver o síndico remetido, a
tempo, a circular, incumbe ao próprio síndico.
No processo falencial, há a massa objetiva, que é composta elo patrimônio atingido
pela decretação de abertura da falência, e a massa subjetiva, que é a massa dos
credores que têm e ser satisfeitos com aquela. Digamos, abstraindo da subjetividade:
ativo e passivo.
Os credores do falido não têm dever de declarar os seus créditos. Tornam-se credores
concorrentes, se o querem. Se não querem, continuam credores, posto que, esgotado o
prazo ara que foram convidados, não mais possam exercer sobre massa objetiva, que a
decretação de abertura da falência tingiu, as suas pretensões. As relações jurídicas
entre eles o devedor, de quem se decretou a falência, relações de direito
material, continuam. Encenada a falência, podem eles ir contra o que, então, for o
patrimônio constringivel do devedor.
CAPITULO VIII

A publicação da sentença é como citação aos credores, comunica se lhes a invitação.


Com a publicação estão convidados. Apresentam-se, se quiserem; se não se
apresentam, estão sujeitos à aplicação do art. 98, § 4•Õ, do Decreto-lei n. 7.661, ou, se
mesmo tardiamente não se habilitam, a nada receberem da massa objetiva.

2.ABERTURA OU DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA. A abertura da falência ou


decretação da falência é a admissão do concurso de credores falencial. O assunto já foi
tratado, longamente, no Tomo XXVII e no Tomo XXVIII.
A admissão dos credores é o ato judicial pelo qual os credores que declaram os seus
créditos, ou que foram introduzidos de oficio, por se não terem deferido os seus
pedidos de restituição ou em embargos de terceiro e serem, todavia, conforme
convencimento do juiz, credores no sentido estrito (= titulares de direitos de crédito).

3.VERIFICAÇÃO DE CRÉDITOS E EXECUÇAO FORÇADA.


O chamado processo de verificação dos créditos é tido, freqüentemente , pelos juristas,
como processo de ação declaratória. Com isso, na verdade, se vê, apenas, meio
caminho, porque o convite foi para se declarar o crédito e se lhe verificarem a
legitimidade, a importância e a classe do crédito, mas quem convidou, órgão da
execução forçada celetiva, também teve por fito provocar a ação de impugnação e
incluir no número dos credores concorrentes os credores declarantes que vencerem. A
vitória é em relação a qualquer impugnação e ao exame, que, de oficio, o juiz faça.
O erro começa com a decisão que decreta a falência, sentença em que comumente se
faz ressaltar o elemento eficacial declarativo como se fosse o maior, sem se atender,
portanto, a que, se somente ou preponderantemente estivesse a declaração do fato da
falência, não se estabeleceria o estado novo, o novo período na vida do devedor, com
todas as suas conseqüências . Certamente, o processo, antes e após à decretação da
falência, muito declara, porém não há nenhum momento em que, com as decisões, não
se esteja a construir a relação jurídica processual falencial, que é de execução forçada
celetiva ou expetativamente celetiva (relação jurídica processual falencial em que o
credor é um só), ou a deixar-se entrar, ou não se deixar entrar em tal relação o credor
convidado.
A declaração do número, da importância e da qualidade os créditos apenas serve para
se estabelecer a legitimação de ida um dos credores concursais a entrar no concurso de
credores falencial. Antes mesmo do trânsito em julgado da sentença e admissão, já o
credor admitido participa da execução celetiva e o que é típico ex tuno, isto é,
aproveitando-se de todos os efeitos da sentença anterior, a de decretação de abertura da
falência, desde o inicio da sua eficácia .
O ponto que acima ferimos é assaz importante.
Ao chegar ao juízo falencial cada credor convidado e o convite, como é evidente, é
feito a quaisquer credores que apreciem apresentar-se, como elemento da massa
subjetiva, para se satisfazer, até quanto possível, com a massa objetiva encontra
aberto o concurso de credores falencial (eficácia constituiva>, porque houve a
insolvência ou o dado para se supor insolvência (eficácia declarativa), e iniciada a
execução orçada (eficácia executiva). Disso se aproveitam os credores ue se
apresentam a tempo, ou, pelo menos, quanto ao que inda não foi rateado, os que se
habituaram conforme o art. 98.
Se foi nomeado síndico o credor que requereu a abertura a falência, e nenhum outro se
apresenta, o juiz tem de nomear pessoa estranha para opinar sobre o crédito do síndico,
e não e deve encerrar o concurso de credores, como se sugere na doutrina estrangeira,
na qual uns querem que se trate a pluradade de credores como pressuposto inicial da
abertura da falência (e. g., A. CANDIAN, Ii Processo di Faflimento, 28), e ouros,
como pressuposto para o prosseguimento, com revogação, não haver razão para se
levar a cabo o processo de execução forçada celetiva, se só há um credor (RENZO
PROVINCIALI, fanuale di Diritto failimentare, 152).
Pondo o problema precisamente a respeito do concurso de redores falencial, é preciso
CAPITULO VIII

que se distinga da pretensão pré-processual e da pretensão processual do credor do


devedor comerciante insolvente a pretensão de direito material desse redor. A relação
jurídica processual pode formar-se para se julgar interesse de pessoa que não tem
razão, de modo que se pode ter a pretensão à tutela jurídica, sem se ter a pretensão que
se examina na sentença, que pode ser pela procedência ou pela improcedência da ação.
Por outro lado, “execução forçada celetiva” não significa execução forçada em que
todos os credores declararam os seus créditos, ou pelo menos dois, porque há a
permissão da ação do retardatário ou das ações dos retardatários, e a pluralidade pode
desaparecer pela eficácia das sentenças de procedência nas ações revocatórias
falenciais (Decreto-lei n. 7.661, art. 58).
O pressuposto da pluralidade de credores verificada no momento da decretação de
abertura da falência não existe, como pressuposto necessário, no sistema do direito
concursal. E está bem que assim seja. Há interesse do credor único do insolvente em
que se tragam à estrada executiva os outros credores; e é de interesse do Estado que
não se atenda, exclusivamente, ao credor que primeiro pede a execução forçada. A
pluralidade pode vir a existir, tanto mais quanto se permite a habilitação de credores
retardatários. A pluralidade pode desaparecer, se todos menos um dos credores que
fizeram as suas declaraç6es de crédito foram expelidos da concorrência (não foram
admitidos pelo juiz, em julgamento de plena cognitio, ou contra Eles houve
provimento de recurso).
Se, no momento final do prazo do art. 80 do Decreto-lei n. 7.661, que aquele em que
os credores têm de declarar os seus créditos, s6 o síndico o faz, não se pode dar por
encerrado o processo da execução forçada celetiva. A lei mesma cogita dom credores
retardatários (art. 98). ~ Como se poderia encerrar sem julgamento o processo da
falência se o crédito do síndico pode ser atacado pelo falido, pelo órgão do Ministério
Público, ou pela pessoa, estranha, nomeada para opinar sobre o crédito do falido?
Se há dois ou mais credores, a fortiori não se pode incerir o processo da falência antes
do julgamento, nem depois do julgamento dos créditos, se não foram admitidos todos
menos um, que pode, até, não ser o do síndico. Nessa espécie, restando um só credor,
tem-se de aguardar a oportunidade em que não mais poderá surgir credor retardatário.
Somente após o parecer do órgão do Ministério Público é que se pode pensar art. 91
do Decreto-lei e entramos imediatamente no momento do art. 92 que vai até o art. 95.
O - síndico terá de relacionar o seu próprio crédito, que 4, ex hypothesi, único. Se
houve agravo, tem-se de aguardar o julgamento do recurso. Se não houve, tem-se de
realizar o ativo (art. 114-123) e pagar ao credor único, conforme as regras do art. 124-
130. Ainda é indispensável o relatório final da falência (arts. 131 e 132). Durante todo
esse tempo, pode ter proposto a ação do art. 98 algum credor retardatário. Só após é
que se encerra a falência. Por onde se vê que a insolvência faz supor-se a pluralidade
de credores, mas a pluralidade de credores não é pressuposto para se iniciar, nem para
se continuar o processo da execução forçada celetiva. Só se pode saber se não havia
pluralidade de credores quando os autos vão receber a sentença do au. 132, que é a de
encerramento. Não há, ai, revogação da sentença da decretação da falência, por falta
de pluralidade de credores, O que há é encerramento do processo da falência,
encerramento que é como qualquer outro, e nada se desconstitui ex time.
Não se pode dizer que a execução forçada celetiva só se inicie com a pluralidade de
credores admitidos, nem só, sequer, com a pluralidade de credores declarantes: ela se
inicia com a decretação do devedor insolvente ou de cuja insolvência, pelos fatos, se
suspeita. De qualquer modo, há titula executivo, tanto para a execução forçada
singular como para a execução forçada celetiva. A esse titulo podem juntar-se outros.
Se, com a plena cognição, do titulo único, ou de todos os títulos executivos, se vem a
afastar a executividade do único ou de todos, então falta qualquer elemento para se
prosseguir na execução forçada. Mas já se está em momento posterior àquele em que
se esgotou o prazo para as declarações, as impugnações e o relatório do síndico, com
o parecer do órgão do Ministério Público. Assim, é perder-se tempo discutir-se se o
pressuposto da pluralidade de títulos, ou de declarantes, é ou não é pressuposto
CAPITULO VIII

necessário para a abertura do concurso de credores falencial, ou Para a continuação do


processo concursal.

4.NATUREZA DA INVITAÇAO A DECLARAÇÃO DE CREDITO. Quem


é invitado não pede. A construção, vulgar em juristas de todo o mundo, de ser a
declaração de crédito pedido de inclusão no concurso de credores falencial, tem de ser
refugada. Não se convida a pedir; todo convite é para que o convidado atenda, se quer.
Há provocationes ad agendurm ou ad probandum (Tomos II, fi 235, 8; VI, § 683, 1;
XXIV, §§ 2.935, 5, e 2.944, 2), e outras. Mas são provocações . No convite, há apenas
comunicação de conhecimento, feita a interessado, ainda quando se trate de invitat ia
ad al/ erendum.
Quem “aceita” convite faz aquilo para que foi convidado. É o que acontece a quem
“aceita” convite para jantar, ou para jogar, ou para passeio. Quem “aceita” convite
para declarar crédito em falência, “aceita” convite para apresentar o seu crédito em
cartório, isto é, onde há processo de execução forçada celetiva. A admissão ao
concurso de credores já é resultado de atos que a lei programou e são praticados pelo
síndico, pelo falido, pelos outros credores, pelo órgão do Ministério Público e, de
certo modo, devido à verificabilidade de oficio, significativamente, pelo juiz.
O credor atende ao convite. <Já encontra aberta a via executiva celetiva. Tem-se de
verificar se era caso, ou não, de ser convidado (= se, pelos pressupostos da admissão
dos créditos, estava incluso na lista dos convidados). Tem de ser admitido, ou ser-lhe
fechada a entrada à via executiva celetiva. Há prazo preclusivo determinável de dez a
vinte dias dentro do qual tem de apresentar-se. Se não se apresenta, é estranho às
primeiras providências do procedimento falencial e expõe a trato não perfeitamente
igual (Decreto-lei n. 7.661, art. 98, § 4.0), ou a não ter qualquer acolhida no tocante à
massa objetiva.
Pode ser que o credor, que declara o crédito, já tenha titulo executivo judicial, ou
simplesmente titulo declaratório judicial. Não se afasta, com isso, o procedimento de
verificação, com as eventuais impugnações e o exame pelo juiz, tenha sido
impugnado, ou não, o crédito que se declarou.
A razão para Esse exame, qualquer que seja o crédito declarado pelo credor, não é
apenas a de ter o juiz de se pronunciar sobre a existência atual do crédito (e. g., 5.
SAnA, Iatitazioni di Diritto fallimentare,’ 3.a ed., 217); é, em geral, apreciar a
executabilidade forcada do crédito, no momento da sentença. só pode ter-se extinguido
a pretensão ou a ação, ter-se consumado a prescrição da pretensão, ou da ação, mo
também pode ter ocorrido rescisão do julgado favorável crédito. Óbvio é que não se
pode admitir que se possa imaginar o crédito constante de sentença por ter havido
compensação, ou outro fato extintivo, antes da decisão judicial. atitude de 8. SANA
(L’Esecuzione forzata, l.~ ed. 401, a ed., 143) e de RENZO PEOVINCLAU (Foro
italiano, 1948, 966; Manuale de Diritto faílimentare, 431) não se justifica bem
mereceu a censura de F. CARNELUTTI, Richiamo allá rudenza, Rivista di Diritto
processuale, IV, Parte II, 12 s.). menosprezo pela coisa julgada material seria
evidente; espanta que 8. SANA escrevesse tratar-se de um dos casos em que a
doutrina, se quer conservar o seu crédito, deve procurar solução positiva, mesmo
modificando as próprias vistas sobre coisa julgada (“anche modificando le proprie
vedute suíla cosa udicata”).
O elemento condenatório é maior do que o declarativo. convite dizia de que se tratava:
de se condenar o falido inserir-se o credor na relação jurídica processual executiva.
Quem convida não provoca. O convidado não é convidado ara impugnar; é convidado
para declarar, para entrar na relação jurídica processual, se, pelos elementos que diz ter
prova, foi, em verdade, convidado. Uma vez que se trata de execução forçada celetiva,
é provocado a impugnar. Convida-se algum para festa, ou para mesclo, ou para partida
de jogo para negar que outrem pudesse ser convidado à festa, sessão, ou ao jogo. A
negação, essa, o convidado pode a, além da invtatld, há provocatio. AI, provocatio ad
agendum, especificamente provocação à ação de Impugnação.
CAPITULO VIII

5.ENCARGOS DA MASSA E DIVIDAS DA MASSA. Os encargos da massa e as


dividas da massa não entram no rol dos créditos contra o falido, para os efeitos da
admissão ao concurso
Q. Dx Snto, Diritto falliment are, 858; MÁRIO VASELLI, Debiti deila massa nel
proceaso di failimento, 93 s.).
Daí resulta que não estão sujeitas aos arts. 82-98 do Decreto-lei n.. 7.661:
a) As custas judiciais do processo da falência, dos seus acidentes e das ações em que a
massa for vencida, as quantias fornecidas à massa pelo síndico e pelos credores, as
despesas com a arrecadação, a administração, a realização do ativo e distribuição do
seu produto, inclusive a comissão do síndico, as despesas com a moléstia e o enterro
do falido que morrer na indigência, no curso do processo, os impostos e contribuições
públicas a cargo da massa e exigíveis durante a falência, as indenizações por acidente
do trabalho que, no caso de continuação do negócio do falido, se tenha verificado
nesse período (encargos da massa, Decreto-lei n. 7.661, art. 124, § 1.0).
b) As custas pagas pelo credor que requereu a falência, as obrigações resultantes de
atos jurídicos válidos, praticados pelo síndico, as obrigações provenientes de
enriquecimento injustificado da massa (dividas da massa, Decreto-lei n. 7.661, art.
124, § 2.0).
Não há a sanção do art. 98, § 49, do Decreto-lei n. 7.661; mas pode ocorrer a situação
prevista no art. 124, § 39.

6.Juízo PARA TODOS OS CREDORES. O juízo da falência é o juízo para todos os


credores. Juízo único, têm os credores interesse em declarar os seus créditos. Não só
eles, todos os que tenham ações contra o falido de cuja decisão possa resultar execução
forçada. Suspendem-se, desde a abertura da falência até o seu encerramento, todas as
ações, inclusive executivas, salvo se, conforme o ali. 24, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661,
cabe prosseguirem com o síndico (créditos por títulos não sujeitos a rateio, créditos
por quantia ilíquida, coisa certa, prestação ou abstenção de fato).
As impugnações e os julgamentos dos créditos depuram o passivo. Postos de lado os
que não podem ser reclamados na falência (Decreto-lei n. 7.661, art. 23, parágrafo
único) e os oriundos de contratos bilaterais que se não resolveram (arts. 43 e 44), os
créditos têm de ser examinados, para que se admitam os seus titulares (créditos de
direito privado ou público, puros ou condicionais, direitos expetativos, créditos
líquidos e ilíquidos, privilegiados ou não, com ou sem garantia real). Em tudo isso,
foge ao principio da igualdade perante a lei a regra jurídica do Decreto-lei n. 960, de
17 de dezembro de 1938, art. 60, segundo a qual não estão sujeitas ao concurso de
credores e seu procedimento a Fazenda Pública federal, estadual, distrital, municipal
ou dos Territórios.
Falencial, tem de ser anterior à falência, ou resultar de direito petativo anterior à
falência. Os credores posteriores à decretação da falência, isto é, os credores cujos
créditos somente irradiaram depois de aberta a falência, como os que se originam de
atos de administração da massa, não ficam subordinas a concorrência. A esses
correspondem ações que se dirigem síndico, como as outras, porém não por ter
ocorrido a falência e terem de ser submetidos ao concurso de credores falencial.
Também estão sujeitos ao procedimento concursal os creres particulares dos sócios
solidários, responsáveis por obrigações sociais (Decreto-lei n. 7.661, arts. 71 e 128). O
patrimonio do sócio é separado, mas há as declarações e as variações.
A falência tem como cosequencia tornar-se um só o juízo. credores não têm escolha
entre exercerem as ações, que ~s cabem, nos outros juízos, e apresentarem-se ao
concurso credores falencial.
Os créditos irradiados de relações jurídicas de trabalho ri de ser declarados na
falência. Todavia, se há impugnação, ~ pode apreciá-los o juízo da falência: o
julgamento é pela Justiça do Trabalho, razão por que, no art. 102, § 39, III, fala de
“créditos dos empregados, em conformidade com decisão que for proferida na Justiça
CAPITULO VIII

do Trabalho” (cf. Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943, arts. 144 e 149, § 1.0).

§ 3.394. Apresentação dos credores

1. DECLARAÇÃO DE CRÉDITOS. Os créditos têm de ser lacrados pelos credores,


isto é, tem de ser feita, claramente, comunicação deles ao juízo concursal, seja civil
seja falen1, seja em liquidações voluntárias ou coativas. Não importa estinguirem se
os créditos cuja prestação haja de ser em dinheiro e aqueles cuja prestação há de ser de
determinado não fungível ou fungível. A lei criou dois procedimentos aparentes para
os pedidos de restituição de “coisa arrecadada poder do falido quando seja devida em
virtude de direito ou de contrato”, ainda que a coisa já tenha sido alienada a massa
(Decreto-lei n. 7.661, arts. 76-78), para os pedidos o procedimento dos arts. 76-78, e
para as declarações de crédito que em verdade são pedidos de inserção na relação
jurídica processual da falência (procedimento de verificação dos créditos).
Com a verificação de créditos, o que primeiro se indaga e se assenta é se os créditos
são ou não são (= se existem ou se não existem). Outrossim, se podem participar do
concurso de credores (= se não legitimados à execução forçada celetiva).
O procedimento a que acedem os chamados à declaração de crédito é o procedimento
para se entrar na relação jurídica processual falencial, que se criou com a decretação
da falência. Já são entradas pelo lado. Feitas as declarações de crédito e, extinto o
prazo a que se refere o art. 14, parágrafo único, V, e dado, no prazo de cinco dias, o
parecer do síndico, de que f ala o art. 86 do Decreto-lei n. 7.661, novo prazo começa,
também de cinco dias, para as impugnações. Todas as declarações de crédito,
inclusive a do síndico, podem ser impugnadas; as próprias declarações de crédito, em
si, são impugnáveis, razão por que há impugnações de declarações de crédito fundadas
em sentenças transitas em julgado. A essas só não se pode argüir o que feriria a coisa
julgada material.
Não fere a coisa julgada material qualquer impugnação que se funde em ter ocorrido,
posteriormente à sentença, ou com alguma prova não alegada nem examinada pela
sentença, algum fato extintivo do crédito (e. g., adimplemento, novação, compensação
com execução aparelhada, transação, concordata judicial, prescrição ou preclusão
superveniente à sentença com que se instruiu a declaração de crédito).
Escusado, por óbvio, é dizer-se que é impugnável o crédito se o título judicial consta
de sentença em que não houve citação do falido, ou de pessoa a quem ele sucedera, ou
em que foi nula a citação inicial.

2.PRAZO PARA AS DECLARAÇÕES DE CRÉDITO. Na sentença o juiz deve ter


marcado o prazo para a apresentação dos credores, isto é, para que eles declarem os
seus créditos. Na lei brasileira, o prazo é um só, mesmo que algum ou alguns credores
residam no estrangeiro ou noutro lugar do Brasil. Órgão oficial. É peremptório e
continuo (Decreto-lei n. 7.661, 1 204). Os arts. 1.O~5.0 da Lei n. 1.408, de 9 de agosto
de 1951, convocáveis. O art. 26 do Código de Processo Civil, art. 26, também o é.
Pode dar-se que o credor perca o prazo para a declaração seu crédito. Então, a lei
permite que promova a ação cozirme o art. 98 e peça a reserva de quota, segundo o art.
130.
Há certa facilidade de alguns juristas em todas as passeras a respeito de ser
preclusivo, ou não, o prazo para a apresentação de créditos. Preclusivo, ele o é; apenas
o que preclui o é a pretensão à tutela jurídica, que continua, não mais no pretensão à
tutela jurídica do direito ao pagamento com bens do falido, sem qualquer perda que
não seja a decorrente da insuficiência do ativo, mas sim como pretensão à tutela rídica
do direito a ser pago com o que reste. Preclui a precisão de direito a ser pago sobre
todos os bens a que se traiu valor. O que foi rateado não mais se pode ir buscar.
~ Importaria indagar-se se o fato de se não apresentar, tempo, o credor resultou de
culpa sua, ou de força maior caso fortuito? A resposta era, nos sistemas jurídicos,
nega- ra, isto é, no sentido de correr o prazo a despeito da forca dor ou caso fortuito.
CAPITULO VIII

Mas essa solução destoaria, hoje, do Código de Processo Civil, arts. 37 e 38. A
petição de cada credor n de ser devidamente fundamentada e instruída, de modo e se
tenha como provada a alegação de forca maior ou caso constituito. Por exemplo: por
motivo de motins na rua, fechara-se foro . Se o credor não consegue provar o alegado,
somente de habilitar-se como credor retardatário.
O prazo é para quaisquer créditos (líquidos e ilíquidos, termo ou sob condição,
garantidos ou não-garantidos, priviligidados ou sem privilégio, com eficácia executiva
ou sem eficácia executiva).
Tratando-se de crédito sob condição suspensiva (à suspensividade corresponde o
direito expetativo), acontece que nasce o antes de nascer, normalmente, o direito
expetado.
Tratando-se de crédito a prazo, nascem pretensão e ação pertinentes ao processo
falencial, porquanto, por definição, ida não nasceu a pretensão e, a fortiori, a ação.
e, da regra, à conseqüência prevista no Decreto-lei n. 7.661, art. 98, § 4.~: “Os
credores retardatários não têm direito aos rateios anteriormente distribuídos”. Alguns
juristas dizem que, por isso, não é preclusivo o prazo, mas tal atitude resulta de só
verem preclusão onde tudo acaba.
Perguntam-se os titulares de direitos reais de garantia ficam na situação dos credores
retardatários, se não se apresentam no prazo preclusivo? Preliminarmente, afastemos
que a questão possa alcançar os direitos reais limitados que não são direitos reais de
garantia. Naqueles, não há qualquer alusão a crédito. O que aqui nos interessa são os
créditos garantidos com direitos reais (hipoteca, penhor, anticrese, caução). As
respostas poderiam ser as seguintes e algumas vezes, nos diferentes sistemas jurídicos,
aconteceu que fossem : (a) o credor com direito real de garantia somente precisa
declarar o seu crédito, no prazo para apresentação dos credores, se pretendem
concorrer sobre bens diversos daqueles que estão gravados, de modo que, no que
tange aos bens gravados, tudo se passa sem que tenha eficácia o prazo marcado na
sentença de decretação de abertura da falência; (b) o credor com direito real de
garantia está na mesma situação dos outros credores, de jeito que tem de apresentar-se,
para que não seja tratado como quirografário e com pretensão ao que restar (cf.
Decreto-lei n. 7.661, art. 98, § 4•0); (o) o credor com direito real de garantia expõe-se,
com o retardamento, a que se lhe examine o direito real de garantia e o crédito.
Como em b), A.-C. RENOUARD (Traitá des Fa.iuites et Banqueroutes, 1, 559), P.
BOULAY-PATY (Traitá des Fajilites et des Bctnqueroutes, 1, 230), 1. ALAUZET
(Commentaire da Fajilites et Banqueroutes, 2•a ed., 2.606) e outros. Como em a), A.
BOISTEL (Cozas de Droit Commercial, 4•S ed., 988), A. LAURIN (Cours
álémentaire de Droit Commercial, 3.’ ed., 1.083 s.),
E.THALLER (Traité átémentaire de Droit Commerciol, S.~ ed., 2.001 s.) e J.
PERCEROU (Des Fa.illite8 et Ranqueroutes, 1.232 s.). A opinião a) é a concepção
inglêsa e a alemã.
O credor com direito real de garantia tem duas posições jurídicas, duas titularidades, a
que correspondem pretensões e ações diferentes. Credor, tem ele a pretensão e a ação
pessoais para que o devedor pague. Essa pretensão e essa ação ou são apenas
condenatórias, ou ao titulo corresponde eficácia executiva, o que faz executivas a
pretensão e a ação. Executiva as pessoais, entenda-se. Titular de direito real de
garantia, em ele a pretensão e a ação, reais, para a extração do valor [o bem, no que o
valor do bem possa satisfazer. O credor com direito real de garantia é, portanto, ao
mesmo tempo sujeito e direito pessoal e sujeito de direito real.
O direito real de garantia faz pertencer a outrem, e não ‘o dono do bem, ou possuidor
próprio, o valor extraível do bem, fé certa quantia. Ainda mesmo que haja o
penhoramento abstrato e a arrecadação, o que abstratamente se penhora e se arrecada é
o (direito sobre o) bem menos o valor correspondente ao gravame. Esse valor é
pertencente a outrem, como, ara o bem gravado de usufruto, de uso ou de habitação, o
usufruto, o uso ou a habitação pertence a outrem.
CAPITULO VIII

O credor com direito real de garantia foi convidado, como os outros. O seu crédito,
como os créditos de quaisquer pessoas endividadas, não se extingue; apenas não pode
ser pago com massa objetiva. Acontece que na massa está um bem que está gravado. O
que entra é b dr (bem menos direito real). Se consideramos que os créditos das
pessoas que não se apresentaram persistem, embora não sejam satisfeitos com o ativo
falencial, logo percebemos que seria demasiado cancelar-se direito real de garantia a
crédito que não cessou de existir. Obre o que não é objeto do direito real de garantia,
sim: credor com direito real de garantia de modo nenhum pode entender que não se lhe
aplique o art. 98, § 4?, do Decreto-lei 7.661. Credor concorrente somente é quem
concorre. Credor com direito real de garantia concorre, se quer. Se o credor com
direito real de garantia não se apresenta, supõe-se a) a que o seu crédito não seja
levado em conta, ou, se habilita nos termos do art. 98, a somente receber o que ainda
não foi rateado, e lO a que os outros credores, o falido, síndico ou o órgão do
Ministério Público ataque a existência direito real de garantia, alegue e prove a
invalidade do negocio jurídico constitutivo ou a ineficácia da gravação. preciso que se
atenda a que o procedimento falencial, inspirado pela circunstância da concorrência
antagonística dos credores, não é procedimento para a extinção de créditos, nem, a
fortiori, de direitos. Uma vez que não se atribui ao procedimento falencial eficácia
desconstitutiva dos créditos, não seria lógico, nem justo, que se atribuísse eficácia
desconstitutiva do direito real de garantia, que se extinguiria com a extinção do
crédito.
A sentença de decretação de abertura da falência teve a publicação que a lei lhe exigiu.
O penhoramento abstrato operou-se. Mas Esse penhoramento, como a penhora da
execução forçada singular, não pode constringir mais do que a eficácia sentencial
encontra no patrimônio do devedor comum. O crédito com direito real de garantia é
crédito, como os outros; mas há o direito real de garantia, que tem a sua eficácia típica,
a eficácia real, que é erga omites.
O Decreto-lei n. 7.661, art. 82, fala das declarações dos créditos, “que mencionem ... a
sua origem, classificação que, por direito, lhes cabe, as garantias que lhes tiverem sido
dadas”. Não há declaração, à parte, das garantias, inclusive dos direitos reais de
garantia. Os direitos reais de garantia existem e só se extinguem nos casos dos arta.
849 e 802 do Código Civil. A insolvência ou a falência do devedor somente importa
vencimento da divida (art. 762, II). Se houve registro, os efeitos da extinção contra
terceiro dependem do cancelamento da inscrição do direito real.
Qualquer alegação contra a existência do direito real, a validade do acordo de
constituição ou do registro, ou quanto à eficácia do direito real, tem de ser feita de
conformidade com os arts. 83-95 do Decreto-lei zi. 7.661. O recurso para o credor
com direito real de garantia, que não declarou o crédito, se o direito real foi objeto de
decisão desfavorável, é o agravo de petição (art. 97).
Se acaso o credor com direito real de garantia, que não foi apreciado no procedimento
dos arte. 82-95, por não ter declarado o seu crédito, nem constar dos livros do falido,
se apresenta como credor retardatário (art. 98), o art. 98, § 4•O, só o atinge quanto ao
que se refere ao pagamento da divida como a credor concorrente.
Os direitos reais de garantia que não dependem de registro, esses, não podem ser
levados em conta, por lhes faltar eficácia Civil, se a posse foi retirada por terceiro, em
poder de quem se achava a coisa empenhada, que o síndico arrecadou).
No sistema jurídico brasileiro, não há inconveniente em que se mantenham os
princípios que regem a constituição, a permanência e a extinção dos direitos reais de
garantia; e há toda a conveniência em que se respeitem os direitos reais de garantia.
Mesmo porque os direitos reais de garantia podem gravar bem da massa falencial sem
que o crédito seja contra a massa falencial. AI, o que existe, para a massa falencial, é
somente o direito real de garantia, sem que possa o credor concorrer. Também pode
dar-se que o crédito seja contra a massa e o direito real de garantia grave bem
pertencente a terceiro no concurso de credores, o credor é apenas~ titular de crédito,
pretensão e ação pessoais, sem que a massa objetiva contenha bem sobre que recaia o
CAPITULO VIII

gravame.

3.TEOR DAS DECLARAÇÕES DE CRÉDITO. “Dentro do prazo marcado pelo juiz,


os credores comerciais e civis do falido e, em se tratando de sociedade, os sócios
so4idàriamente responsáveis, são obrigados a apresentar, em cartório, declarações por
escrito, em duas vias, com a firma reconhecida na primeira, que mencionem as suas
residências ou as dos seus representantes ou procuradores no lugar da falência, a
importância exata do crédito, a sua origem, classificação que, por direito, lhes cabe, as
garantias que tiverem sido dadas, e as respectivas datas, e que especifique,
minuciosamente, os bens e títulos do falido em seu poder, os pagamentos recebidos
por conta e o saldo definitivo na data da declaração da falência, observando-se o
disposto no art. 25” (Decreto-lei n. 7.661, art. 82; cf. arts. 23, parágrafo único, 30, 62,
parágrafo único, 98, e 213).
As declarações de crédito, na falência, são, em verdade, dois atos processuais do
credor, num só. O credor comparece e declara. Com elas, o síndico inteira-se da
legitimidade pré-
-processual (capacidade de ser parte), da legitimidade processual (capacidade de estar
em juízo, legitirnatio ad processum).

4.CREDORES PRÉ-PROCESSUALMENTE CAPAZES. Têm capacidade de ser


parte: (a) todos os homens, inclusive o nascituro; (b) o Estada do Brasil; (o) os
Estados estrangeiros; sócios (não enquanto não se lhes partilham os bens); (e) as
sociedades, antes da atividade social, mesmo antes da assembléia de fundação; <1) as
sociedades estrangeiras por ações, ainda que não tenham agências no Brasil; (g) as
comissões de exposição ou de caridade, porém não as organizadas na intimidade ou
por confiança afetiva dos membros; (Iv) se as comissões ou “comitês ” têm presidente,
ele ou os membros podem ser partes conforme a estrutura da união impersonalizada,
marcada por estatutos, atas, prospectos, publicações ou rascunhos. A construção da
capacidade nos casos (g> e (Iv) não é a de atribuir-se personalidade a tais comissões e
“comitês”, e sim a de capacidade pré-pessoal, como a do nascituro.
Acima falamos do Estado do Brasil e dos Estados estrangeiros. Também têm
capacidade de ser parte <i) as entidades intraestatais, brasileiras ou estrangeiras.
Quaisquer pessoas jurídicas, brasileiras e estrangeiras, (1) têm capacidade de ser parte.
Idem, (k> as organizações ou o organizador (e. g., instituidor da fundação), no tocante
à pessoa jurídica em formação.
A capacidade de ser parte é a capacidade que inere à pretensão à tutela jurídica. Quem
tem pretensão à tutela jurídica tem capacidade de ser parte; quem tem capacidade de
ser parte tem a pretensão à tutela jurídica, salvo se está em causa prestação futura, para
qual não haja promessa de tutela jurídica, ouse não há necessidade de tutela jurídica
(interesse legitimo, intensas de agir>. Há de ter capacidade de ser parte quem quer ser
demandante, ou vai ser (ou quer ser> demandado, ou Interveniente adesivo
(assistente), autor ou constrito nas ações de segurança ou cautelares, exeqüente ou
executado. Está para a capacidade processual como a capacidade de direi~ para a
capacidade civil. Todavia, capacidade de ser parte e capacidade de direito não se
identificam. Não somente os que têm capacidade de direito têm capacidade de ser
parte. Bá sociedades, fundações e patrimônios a que não corresponde personalidade e
têm capacidade de ser parte. O conceito é pré-processual. Quanto às pessoas físicas,
não há problemas: têm elas capacidade de ser parte, quaisquer que sejam as
circunstâncias, salvo legislação especial para tempo de guerra. A parte Para as pessoas
físicas, a capacidade de ser parte Começa o nascimento, mas pode ser invocado o ad.
4•O, 2.a base, Código Civil <“... a lei Poe a salvo, desde a concepção mitos do
nascituro”; Código de Processo Civil, arts. 73Sj 741. Código Penal, arts. 124-128;
Código Civil, arts. 357, parágrafo LlCO, 368, 462 e 1.169), ou o art. 1.718 do Código
Civil <‘<prele centual de pessoas por ~1e” testador “designadas e tais antes ao abrir-
CAPITULO VIII

se a sucessão ”). O ser futuro pode ter, POfl8n+,~ s espécies referidas, capacidade de
ser parte; e o CU~&dOr te se dá ao nascituro, é em nome desse que demanda, ou é
demandado. Se não vem a nascer com vida o ente a que se e curadoria, tudo se passa
sem se ter de pensar em solutiva dos efeitos antecipados (Tomo 1, §§ 32, 1, 51 ~ 52).
penas se salvaguardaram interesses, durante a indeterminacao opina o do sujeito. Luo
ROSENBERG (Lehrbueh, &~ ed.) ainda se chega à construção mediante condição
resolutiva, mas os argumentos que expendemos contra tal concepção são suficientes
52, principalmente 4).
Se foi o próprio demandante que assinou a petição inicial, se foi ele quem a entregou
para despacho, havemos de ~ r que os herdeiros podem retirá-la antes do despacho: se
o não fazem, pode ser despachada a petição, se o juiz ignora arg. ao art. 198 do Código
de Processo Civil). O mesmo raciocínio há de ser feita quanto aos atos de recurso, de
embargos de terceiro.
 concepção do ser humano é fato jurídico strieto esse fato Jurídica não se irradia o
efeito de Personificação. as irradiam-se outras: o direito, a pretensão e a ação de
nascimentos a favor do nascituro; as medidas a beneficio do nasciturno , com
invocação do Código Civil, art. 4•O, 2. parte ou t. 1.718, 1.8 parte (a contrario
sensu), como a iniasao asaonem (Comentários ao Código de Processo Civil, IV, la ed.,
7 s.), o pátrio poder e a curatela do nascituro (art. 462). concepção impedia que a mae ,
ou o pai, adotasse arts. 368 e 44, porque era a validade, e não só a eficácia da ação
que ficava dependente do nascimento com vida: remisse, a adoção era atingida pela
ressalva dos direitos do nascimento filhos excluísse a adoção (sem razão li.
DERNBURG, Das BiLrgerliche Recht, IV, 3.~ ed., 839, nota 4), ou que fosse sem
conseqüências a concepção (sem razão, a opinião dominante na doutrina alemã , G.
PLANA, Kommentar, IV, ta ed., 620; TH. ENGELMANN-KEIDEL, em .T. von
Staudingers Kommentar, IV, 2, 9.~ ed., 1163). A Lei. 3.183, de 8 de maio de 1957,
veio alterar, profundamente, o instituto da adoção, e foram especialmente atingidos,
com a nova redação, os arts. 868 e parágrafo única, 369, 872, 374, 848 (Lei n. 3.133,
art. 2.0) e 377.
A possibilidade de prele (persona futura) entra como elemento de suporte fático dê
alguns fatos jurídicas (e. g., testamento a favor de prele eventual de pessoa designada e
existente ao tempo de se abrir a sucessão, art. 1.718, 2•a parte). Não é, por si, fato
jurídico; porque não é fato, é possibilidade de fato.
O nascimento com vida é fato jurídico atricto seneu. Dele irradia-se a capacidade de
direito e provêm os direitos que se prendem à pessoa. & nascimento sem vida é fato
extintiva dos efeitos que haja produzido a concepção .
As sociedades sem personalidade jurídica têm capacidade de ser parte passiva.
Ativamente, legitimados são, em litisconsórcio necessário, todos os seus membros (cf.
ARmUR NussBAUI~1, Die nichtrechtsfãhigen Vereine im Prozess und Konkurs,
Zedtschrift fUr de utschen Zivilprozess, 84, 107). Demandantes são os membros da
sociedade não-personificada que figuram na petição ou se apresentaram ou foram
notificados até encerrar-se o debate oral, ou, se debate oral não há, até serem conclusos
os autos, inclusive em se tratando de membros novos da sociedade.
A sociedade não personificada, que somente tenha capacidade passiva de ser parte,
pode reconvir, pedir, dentro do procedimento, indenização, ou restituição do
enriquecimento injustificado, pedir custas e executar a decisão, opor-se e suscitar
processos incidentais, opor embargos de executado e embargos <de terceiro. Em
todas essas espécies há, evidentemente, capacidade ativa de ser parte, mas apenas
porque se “defende”. de estar em juizo ou capacidade processual é menos do que
capacidade de ser parte. Pode-se ter a capacidade de ser parte, e não se ter a
capacidade processual; porém não vice-versa. Onde não há aquela não pode haver
essa. A capacidade de estar em juízo ou recai sobre atos processuais para efeitos em
nome próprio, ou por conta de outrem. É a legitimatio ad processum. (Outra coisa é a
legitimatio ad causam, legitimação ativa ou passiva no tocante à pretensão de direito
CAPITULO VIII

material que foi invocada na demanda, e é o seu abjeto.) A legitimação ao processo


(não à “causa”!> é conceito de direito processual
(L. ROSENBERG, Lehrbuck, 114>; dependente da vontade da parte; irrenunciável
(duvidoso, A. SKEDL>; não suscetível de qualquer efeito do reconhecimento, da
revelia, da confissão, da desistência, do compromisso, ou da transação. Tem-se
procurado fazer da capacidade processual simples Bomba da capacidade em direito
civil, mas verdade é que, ao se tratar dos Estados (PmK, Der Staat ala Prozesspartei,
.Yurtatisches Blatt, 1903, 17) e das pessoas jurídicas , logo se percebe que Eles têm a
capacidade de ser parte, porém mio a processual (K. HELLWIG, Syat era, 1, 177,
procuram sair-se da dificuldade dizendo que elas não são processualmente capazes,
nem incapazes; certo, E. POLLÂX, Syatem, 182>. O assunto merece atenção. A pessoa
de cujo paradeiro ido se sabe, mas cujo foro pode ser determinado (isto ~, escapa ao
amplo aurio do art. 134, § 1.0, 1.8 parte, do Código do Processo Civil), 6
processualmente indica». (E. POLLÂK, Syatem, 182).
Nos outros palmes, são em maior numero Base. Incapazes processo por falta de noticia
no começo do processo. A sociedade irregular, porque é simples nome comum de
BÓCIOS, processualmente capaz! (E. POLLÃX, Syatem, 182; O. Prato, Lehrbuch,
855). O surdo-mudo, se pode comunicar-se, processualmente capaz; ainda quando não
9OBBB advogar, fato 6, não tenha . Todas as regras alma valem «em tor<!) para
nacional. e estrangeiros. Tratando-se de estrangeiros, salva quanto às pessoas físicas
de que falaremos adiante, basta que a lei deles não exclua a capacidade processo como
qualificação material ou também material <sem razão, G. WALKER, Internationales
Privatreoht, 188; HÂNSSrm, Lekrbuck, 1, 169). Quer o sistema jurídico considere
pessoa, quer não, a herança jacente é processo incapaz (A. RINTELEN,
Prozessvertretung des Nachiasses, Festschrqt f’Ur F. KLrnN, 119; HÂNS SPERL,
Sukzessaon in den Prozess, 128).
Há capacidade processual e capacidade de exercício da pretensão processual. Há
absolutamente incapazes de exercício.
Há também os relativamente incapazes processuais, que são os relativamente
incapazes por direito material (nacional ou estrangeiro). Todos os outros capazes de
ser parte são processualmente capazes. Todos os processualmente incapazes sUa
representados processualmente. Sendo capazes de ser parte, Eles, e não os
representantes, é que são parte. As conseqüências do processa são contra eles, e não
contra o representante. A própria condenação às custas, em princípio, só a eles atinge.
Declarações de vontade dos incapazes aos adversários ou ao juiz não valem (R.
POLLAK, System, 134). A incapacidade, quando cessa, desaparece, ex mine, do
processo: imediatamente tem efeito a capacidade.

6.CAPACIDADE E POSTULACIONAL. A capacidade post Islacionol é a de realizar


os atos processuais em que haja postulação. A parte presta depoimento de parte,. mas,
se não tem a faculdade de advogar, não pode postular. Quem postula (quem “aposta”),
no sistema processual do Estado, é o advogado, e só Ele. Quem pode ser advogado
responde a lei especial, que é parte do direito judiciário, não do direito processual. A
parte que tem capacidade postulacional e quer, por si mesma, postular, é parte e é
advogada. Diz-se, então, que é advogado em causa própria. As regras que marcam ou
limitam a capacidade postulacional, ou que a dilatam, são regras de direito processual,
e não de outra ramo do direito judiciário. O conceito de advogado n§o no é; a de
capacidade processual, sim. Nenhuma lei estrangeira pode ser invocada. O império da
lez fori é completo. Quando o advogada tem poderes para confessar (art. 280), não
postula; de modo que ai o direito material, ainda estrangeiro, tem de ser atendido,
porque é possível que proíba representação.
Para a apresentação do crédito, o credor não precisa de advogado. O credor comparece
e declara. Não precisa ter capacidade postulacional. Se há impugnação, a presença de
advogado faz-se necessária, salvo se o credor entende, e tem razão, que não lhe é
precisa contestar a impugnação.
CAPITULO VIII

O procedimento até a impugnação não é lide sobre o crê dita. Tanto assim que,
havendo a impugnação, a lei emprega, para a resposta do credor declarante, a expressa
“contestar” (Decreto-lei n. 7.661, art. 90, verbis “contestar a impugnação”). Nos
recursos é sempre indispensável o advogado.
A petição, segunda o próprio art. 82 da Decreto-lei n. 7.661, é assinada pelo credor,
sem que a precise subscrever advogado (1.~ Turma do Supremo Tribunal Federal, 9 de
setembro de 1946, R. dos T., 177, 402). Não se lhe exige o papel selado <Câmaras
Cíveis Reunidas do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 18 de fevereiro de
1945, Á. 3., 87, 275; sem razão, a 2.~ Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito
Federal, a 12 de julho de 1921, R. de D., 61, 346). Mas isso é questão que depende da
lei de selo .
O advogado do credor, mesmo que o seja para a propositura de açia contra o devedor,
a que depois foi decretada a falência, se não tem poderes especiais, não pode fazer a
declaração de crédito (2.~ Câmara da Corte de Apelação da Distrito Federal, 27 de
abril de 1920, R. de D., 57, 330).
O crédito declarado por pessoa que não tem poderes especiais e expressos não pode
ser incluído no concurso de credores, civil ou falencial (2.a Câmara Cível da Corte de
Apelação do Distrito Federal, 12 de julho de 1921, 1?. de D., 61, 339, e 27 de junho
de 1922, 67, 572). Não há passível ratificação posterior à sentença. A execução de rata
poderia ter sido requerida (Código de Processo Civil, art. 110>.
No que concerne ao procurador declarante de crédito, os ars. 80-87 do Código de
Processo Civil têm de incidir. Em qualquer tempo, o juiz, a requerimento de
interessado, ou de oficio, há de considerar “a falta de capacidade processual ou de
autorização especial, assim coma a ilegitimidade do representante”, e de marcar “prazo
razoável, para que sejam integradas as representações» (art. 84, § 1.~). A suspensão da
processo é regida pelo art. 84, §§ 1.0, 2.0 e 8.0. Pelas pessoas jurídicas comparecem os
respectivos órgãos competentes, que as preseitom, ou os representantes, a que o órgão
competente outorgar poderes para as representar.

7.LEGITIMAÇÃO “ÀD CAUSAM”. A legitimaçao ad causan têm-na os que são


titulares do direita, pretensão , ação ou exceção, como: os credores solidários, quanto à
prestação por inteiro (Código Civil, art. 898); o credor pignoratício ou caucional,
quanto aos títulos de crédito dados em penhor ou caução (Código Civil, ad. 792, III e
IV; Código Comercial, art. 277); o exeqüente, na execução forçada singular, até a
concorrência do seu crédito, em casa de sub-rogaçao pessoal (quanto ao excesso, ou
se afastada a sub-rogação pessoal, só há a legitimação processual, Código de Processo
Civil, art. 938); no caso de obrigação divisível, se é de presumir-se a divisao em
obrigaç6es iguais e distintas, cada credor, quanto à parte que lhe toca (Código Civil,
ad. 890).
Se os créditos estia caucionados, o credor com a garantia da caução tem legitimação
processual e ad causam para a declaraçao deles em concurso de credores, civil ou
falencial <Código Civil, art. 792, III) e para receber o que toque ao credor caucionante
(arts. 792, IV, e 793). Porém isso fio exclui que possa declarar o crédito o credor
caucionante; e, desde que o síndico da falência não haja sido intimado conforme os
arts. 792, II, e 794 do Código Civil, pode receber a quantia que lhe toque. Sem razão ,
quanto à não legitimaçao do credor caucionante, a 2.8 Câmara Cível da Corte de
Apelação do Distrito Federa!, a 28 de julho de 1922 (R. do S. T. F., 50, 199). Certas, a
2.8 Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, a 19 de julho de 1914 (R.
de D., 87, 145) e a &~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 23 de
janeiro de 1932 (E. dos T., 81, 264).
A liquidação do passivo e a realização do ativo são as operações para se apurar quanta
há de valor, que possa ser rateado entre os credores.
Quem é credor, mesmo que lhe neguem admissão ao concurso de credores falencial,
sem ser em ponto que faça coisa julgada material sobre a inexistência do direito
alegado, continua, fora do processa falencial e após a encerramento desse, credor. A
CAPITULO VIII

eficácia da sentença de decretação de abertura da falência é apenas para que só a


massa subjetiva os credores admitidos sejam satisfeitos com a massa objetiva.
Lê-se no Decreto-lei n. 781, de 12 de outubro de 1988, art. 19: “Na falência da
sociedade devedora, a representação e defesa dos direitos dos obrigacionistas da
mesma categoria, com comunhão de interesses, compete ao obrigacionista que força
tiver sido eleito para este fim pela assembléia geral”, O síndico deve comunicar à
comunhão de interesses o fato da decretação de abertura do concurso de credores
falencial e suscitar o que for de mister à legitimação do representante dos
obrigacionistas.
Oco-devedor que solveu a divida e o fiador do falido, ou do sócio solidário da
sociedade falida, como sub-rogados pessoais (Decreto-lei n. 7.661, art. 29), têm
legitimação ad causam. O art. 29 alude à espécie em que o credor não haja pedido a
sua inclusão na falência e o co-devedor ou o fiador do falido ou do sócio solidário da
sociedade falida esteja na iminência de não se poder sub-rogar ao credor omisso. A
figura é de direito expectativo à sub-rogação pessoal, direito a que corresponde, como
direito expectado, a sub-rogação pessoal. Tal sub-rogação pessoal ocorre no momento
em que o prazo se extingue para o credor, porque o co-devedor ou o fiador já têm de
solver pelo falido ou pelo sócio solidário da sociedade falida. A dívida do falido ou do
sócio solidário da sociedade falida está vencida.
Se há devedores solidários e se abre a falência de todos ou de alguns, em cada uma
delas se habilita o credor, até que se perfaça o pagamento integral. É o que está no ad.
27 do Decreto-lei n. 7.661 e, ocorrendo uma ou mais de uma concordata, não há
qualquer alteração à regra jurídica <8•a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal, 13 de novembro de 1946).
Esses dois artigos merecem ser lembrados. Lê-se no art. 29 do Decreto-lei n. 7.661:
“Os co-devedores solventes e os fiadores do falido e do sócio solidário da sociedade
falida podem apresentar-se na falência por tudo quanto houverem pago e também pelo
que mais tarde devem pagar, se o credor não pedir a sua inclusão na falência,
observados, em qualquer caso, os preceitos legais que regem as obrigações solidárias”.
E no art. 27: “O credor de obrigação solidária concorrerá pela totalidade do seu crédito
às massas dos respectivos coobrigados falidos, até ser integralmente pago”. No § 1.0:
“Os rateios distribuídos serão anotados no respectivo título pelos síndicos das massas,
e o credor comunicará às outras o que de alguma recebeu”.
Se, na espécie do Código Civil, ad. 890, o crédito, de que é parte o que toca a cada
credor de obrigação divisível, foi incluído, no seu todo, houve, conceptualmente e de
fato, gestão de negócios, reconhecida pelo juiz, de modo que a decisão aproveita a
todos e pode ser reservada a parte do outro credo. ou podem ser reservadas as partes
dos outros credores. No caso das debêntures, há providência do síndico por se tratar de
gravame, e há o dever resultante da Lei n. 177-A, de 15 de setembro de 1898, arts. 1.0
e §§ 1.0~7.o, 4~0 e 6.0, parágrafo único, e do Decreto-lei n. 7.661, arts. 25, fi 1.0, e
82, § 3~O, salvo se há procura pelo fato da comunhão de interesses (Decreto-lei n.
781, de 12 de outubro de 1938, arte. 1.0, 2.0 e 39, 3, e 19).
Têm legitimação ativa: o co-devedor, que solveu a dívida, pelo que pagou e também
pelo que deva pagar, se o credor não pede a sua inclusão na falência (Decreto-lei n.
7.661, ad. 29); o fiador do falido ou do sócio solidário da sociedade falida, pelo que
pagou e também pelo que deva pagar, se o credor não pede a sua inclusão na falência
(Decreto-lei n. 7.661, art. 29).
No caso de endosso procuração, ou para cobrança, o podador do título tem de
apresentar a declaração de crédito como legitimado processual. Sem estudo do
assunto, a 6,a Câmara Civil da Corte de Apelação do Distrito Federal, a 8 de janeiro de
1935 (R. dos T., 114, 742), decidiu que o endossatário-
-procurador, não sendo titular do crédito (7), não se pode habilitar em seu próprio
nome (idem, 5.~ Câmara Cível do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 20 de
junho de 1941,
CAPITULO VIII

1?. F., 92, 481). Então desembargador, repelimos a asserção e chamamos atenção para
o ad. 8.~, § 1.0, da Lei n. 2.044, de 31 de dezembro de 1908, que provém do § 17 da
Lei cambiária alemã. Citamos a GAUPP-STEIN-JONEs (Kommentar, nota 1 ao § 50
da Ordenação Processual Civil alemã). A procura, pelo endossatário, é só ligada ao
negócio jurídico sub lactente. O endossatário, como o cesseonário do crédito, aparece
deve aparecer, de tora, como titular do crédito exigível, e somente como tal.
O fato de haver-se habilitado o credor no processo de inventário do decujo não o priva
de declarar o seu crédito ia falência do falecido, decretada após o inventário (Tribunal
de Justiça de São Paulo, 16 de dezembro de 1915, 1?. dos T., .7, 81).
A existência de sociedade de fato também não implica legitimidade do sócio de fato,
que é credor do falido (2.8 Camara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, R. de
D. M., 104). A observação da R. de D. M. de que se tinha de apurar responsabilidade
do sócio oculto é sem procedência, porque a
.8 Câmara Civil partiu da premissa de não ser de responsabilidade solidária o sócio.

8.CRÉDITO POR ENRIQUECIMENTO CAMBIÁRIO . O título cambiário ou


cambiariforme, a respeito do qual se pode inovar o ad. 48 da Lei n. 2.044, de 81 de
dezembro de 1908, título bastante para que o portador possa ser admitido no oncurso
de credores, civil ou falencial, do sacador ou do aceitante, ou do emitente, por aquilo
com que se locupletou (enriquecimento cambiário ou cambiariforme). Não se trata de
habilitação do crédito acaso irradiado do negócio jurídico adjacente, ou sobrejacente,
porque, para esse, é de mister ronovar ter existido, em vez de simples apresentação do
título cambiário ou cambiarifonne. A propósito, convém frisar que direito brasileiro
não tem ação de enriquecimento cambiário i cambiariforme por parte do endossatário
contra o endosso. Lnte que não foi sacador, aceitante ou emitente. Nem se há a
considerar civil a ação do ad. 48 da Lei n. 2.044 (sem razão, 1.8Câmara Cível do
Tribunal de Apelação de Pernambuco, a 12 de maio de 1946, A. F., 19, 192).
Desatenderam ao t 48 da Lei n. 2.044 a Câmara Cível do Tribunal de Justiça Ceará, a
24 de março de 1947 (O D., 53, 381), e a 5•8 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de
São Paulo, a 17 de agosto 1951 (1?. dos T., 194, 275).
Se algum credor pediu a abertura da falência do devedor o juiz não lho defere, a
decisão por expressa regra jurídica, ie é a do ad. 19, parágrafo único; do Decreto-lei n.
7.661 não faz coisa julgada material; de modo que o mesmo credor pode comparecer
em outro juízo como credor, ou no mesmo, se o pedido de decretação da falência feito
por outro credor foi deferido (cf. 1.8 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São
Paulo, 3 de abril de 1951, R. dos 2’., 193, 355).

9.CRÉDITOS CONSTANTES DE SENTENÇA TRANSITA EM JULGADO.


Quando o crédito tem por titulo sentença (e. g., sentença proferida pela Justiça do
Trabalho), ou por último título (e. g., sentença que julgar ação de cobrança de título
cambiário ou cambiariforme), é preciso que o credor faça a declaração de crédito. O
que não pode o juiz da falência é desconhecer a coisa julgada material: quanto à
prioridade, ou privilégio, que lhe cabe, ou não lhe cabe, decide o juiz da falência.
Conforme antes dissemos, tem de ser atendida, sempre, a eficácia de coisa julgada
material, de modo que somente fato extintivo é que pode ser alegado para se declarar a
extinção do crédito, que aí de modo nenhum fere a coisa julgada material. A coisa
julgada material só se opera dentro dos limites do que foi decidido; não, fora do objeto
dele, no espaço e no tempo.
A respeito dos créditos de salários, o Decreto lei n. 7.661, ad. 102, § 3•O, III, exige o
julgado da Justiça do Trabalho; de modo que não foi justa a decisão da 4~S Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 15 de janeiro de 1948 (A. 3%, 90,
151), que, por haver decisão sobre os salários de um empregado, admitiu os créditos
dos outros empregados, por ser a mesma (sic) a causa, nem o seria a que não tomasse
em conta a declaração de crédito, com a reserva de bens, para dar tempo ao
CAPITULO VIII

julgamento pela Justiça do Trabalho.


O art. 102, § 3~0, III, do Decreto-lei n. 7.661 atende a que existe, na Constituição de
1946, a.rts. 122 e 128, Justiça do Trabalho, e evita que se infrinjam princípios
constitucionais atribuindo-se a juizes comuns, que decretem falências, julgar ações de
empregados contra empregadores.

10.AÇÕES PROPOSTAS ANTES DA DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA E


PROSSEGUIMENTO EXCEPCIONAL. Em principio, suspendem-se os processos de
todas as ações, inclusive executivas, que foram iniciadas antes da decretação da
falência (Decreto e o bem ou os bens já estejam em praça, com dia definitivo ira a
arrematação, ou remição, fixado por editais, casos em ;e o produto entra para a massa
(ad. 24, § 1.0, 1.8 parte); 1 se o bem ou os bens já foram arrematados ou remidos, ou
ajudicados ao tempo da decretação da falência, entrando para massa a sobra, se há,
depois de pago o exeqüente (ad. 24> 1.0, 2.8 parte) ; c) se o crédito não está sujeito a
rateio art. 24, § 2.0, 1>; d) se a ação é para se haver quantia ilíquida, usa certa,
prestação de ato ou abstenção de ato (ad. 24, 2.0,II).
Os créditos de que se cogita no ad. 24, § 1.0, 2.8 parte, todos estão sujeitos à
verificação de crédito: à massa só interna a sobra, se há.
Os créditos de que trata o ad. 24, § 1.0, 1.8 parte, não ais podem ser impugnados pelos
credores, na verificação créditos, no que já constitui coisa julgada material (e. g.,
insistência, importância>. t possível que não se haja julgado classe, no tocante aos
privilégios.
Os credores por títulos não sujeitos a rateio prosseguem is suas ações.
Os credores que tinham proposto, antes da decretação da falência, ações para haver
quantia ilíquida, coisa certa, ou prestação de facere ou de non facere, têm de pedir a
reserva, nos termos do ad. 130 do Decreto-lei n. 7.661, e têm assegurado, vencedores,
o lugar na classe que lhes toca (ad. 24, § 3•0)~

11. CRÉDITOS LÍQUIDOS. Os credores por prestação liquida têm de requerer a


reserva de bens que bastem para pagar o seu crédito e fazer a declaração do crédito,
conforme r o caso. Declara-se o crédito ilíquido, porque tanto é declarável a
existência do crédito quanto a sua liquidez: há declaração de existência e liquidez; e
declaração somente de existência.
a) Se o credor por prestação ilíquida já havia proposto, antes de decretação da falência,
a sua ação, prossegue essa com jurídico (sem mtodança, portanto, de juízo), podendo
o credor requerer a reserva de que falam os arts. 24, § SY, e 130 do decreto-lei n.
7.661.
é o juízo da falência, no qual se faz a declaração de credito e ao qual se pede a
liquidação do crédito incidentalmente (cf. Tribunal de Apelação de Alagoas, 9 de julho
de 1940, Á. 1., 56, 120). A liquidação pode ser pedida pelo credor, pelo síndico, pelo
falido, ou pelo órgão do Ministério Público. Se advém impugnação quanto à existência
do crédito, tem-se primeiro de processar a impugnação, que é ação; somente após é
que convêm iniciar-se o processo de liquidação. Daí a conveniência de o credor pedir a
reserva de que falam os arts. 24, § 3.~, e 130 do Decreto-lei n. 7.661.
A jurisprudência que não permitia a liquidação incidente no concurso de credores
falencial <e. g., 2.8 Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, 23 de
outubro de 1923, R. de D., 71, 601; Tribunal de Apelação de Alagoas, 9 de julho de
1940, A. .1%) está posta de parte.
Somente ao titulo de quem pede a abertura da falência é que se exige ser título
executivo. Ou o título já é certo e líquido, ou não é certo e nem liquido, mas verifica-
se e liquida-se, mediante o procedimento do ad. 1.0, § 1.0, do Decreto-lei n. 7.661.
Todavia, a lei permite que se decrete a falência nas espécies do art. 2.0 (cf. ad. 12).
O titulo que foi apresentado pelo credor, talvez nomeado síndico, pode vir a ser
inadmitido. Se há outro credor, a execução forçada continua, como se o único credor,
nomeado síndico, ou não nomeado, tivesse a admissão do seu crédito.
CAPITULO VIII

A verificação do crédito é inseparável do fim para o qual foram convidados os


credores. É contra os princípios de investigação científica classificar-se a proposição
ou enunciado prejudicial sem se atender ao que se colima com o processo; ai,
execução forçada, por insolvência ou fatos que fazem supor estar insolvente o devedor.
Dizer-se, como fazem tantos juristas, que se responde, declaratôriamente, (a) se há
crédito, que possa legitimar o credor declarante, e (b) se qual a quantidade crédito e a
sua classe, é deixar-se de observar que a sentença é uma só e um só o escopo, que as
duas proposições são respostas a questões prévias, de que depende saber-se se o
crédito entra, ou se mio solução forçada celetiva.
Até a decisão sobre a admissão do crédito, o que se faz verificar-se se os interesses
privados e públicos estão satisfeitos. Admitir-se ao concurso de credores, civil ou
falencial, á é introduzir-se o credor como participante do ativo falencial, por ser ele
mesmo titular de porção do .passivo. Por isso, w ações tardias, inclusive as ações dos
credores retardatários, que têm de ser decididas antes do encerramento da falência, êm
eficácia limitada <Decreto-lei n. 7.661> art. 98, sobre credores retardatários, cujo §
4•O, é explícito: “Os credores retardatários não têm direito aos rateios anteriormente
distribuídos’>).
Há o propósito de não se atender mais ao interesse privado do que ao público, e é isso
o que leva alguns, por exemplo 1. SAnA (Istituzioni, 213), à confusão de dizer que não
tem• ação falencial o regramento das ações do Código de Processo Civil. A sentença
de abertura da falência já é inicio de execução orçada celetiva, quer tenha tido o
fundamento do ad. 1.0, quer [m dos fundamentos do ad. 2.0, quer o do art. 8.0 do
Decrete lei n. 7.661. O dever de pedir a decretação da própria falência traço
expressivo.
O mandatário do falido não pode ser admitido à falência elo crédito que apresenta sem
ter requerido e obtido a sua prestação de contas (2.8 Câmara da Corte de Apelação do
Distrito Federal, 6 de junho de 1923, R. de .0., 71, 353).

12.CRÉDITO DE COISA CERTA. Se a prestação a ser recebida é de coisa ceda


(Código Civil, arts. 863-866), ou o credor já propusera, antes da decretação da
falência, ação, ou b) não a propusera. Se a), a ação prossegue com o sindico, sem
mtodança de juízo (Decreto-lei n. 7.661, ad. 24, 2?, II>, podendo pedir, no juízo da
falência, a reserva do em (arts. 24, § 3.~, e 130). Se b), é indispensável a declaração
de crédito, e pode ser pedida a reserva.
É preciso que se não confunda a ação de restituição (cf. Cá[go Civil, arta. 869-872),
que é reclamação, com a ação de trança por obrigação de coisa ceda, que de modo
nenhum reivindicatória, revindicatória ou restitutória. de ser entregue, é sujeito
passivo em ação restitutória; na massa falencial em que há bem que foi prometido, é
devedor o falido, devedor de coisa certa. Ali, o art. 76, 2.8 parte, do Decreto-lei n.
7.661; aqui, o art. 82. A espécie do ad. 76, § 2.~, é excepcional, por se tratar de
resolução que a lei criou.

18.CRÉDITOS DE PRESTAÇÃO DE “FACERE” OU DE ABSTENÇÃO DE


“FACERE~> (CRÉDITOS DE FAZER E DE NÃO FAZER). Se a dívida é de fazer,
ou de não fazer (Código Civil, ads. 878-881, 882 e 883), ou a) o credor já havia
proposto a ação antes de se decretar a falência, ou lO não a propusera. Na espécie a), a
ação prossegue no juízo em que fora proposta (Decreto-lei n. 7.661, ad. 24, § 2.0, II),
podendo o credor pedir ao juiz da falência reserva de bens (arts. 24, § 3.~, e 130),
conforme o que se estimar no juízo da falência. Na espécie b), é indispensável a
declaração de crédito, e pode ser pedida a reserva.

14.CRÉDITOS DE SÓCIOS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. O credor,


sócio de sociedade de responsabilidade limitada, não é ilegitimado para declarar o seu
crédito (Tribunal de Apelação de São Paulo, 5 de novembro de 1940, R. do8 T., 134,
CAPITULO VIII

461). O que pode ocorrer é a alegação de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro
essencial, ou de documentos ignorados na época do julgamento do crédito, mas isso
posta de parte a ação do ad. 53 tem de ser chamada ação revocatória, na ação do ad.
99, que é ação rescisória falencial.

15.FORMA E CONTEÚDO DA DECLARAÇÃO DE CRÉDITO. A declaração há


de ser por escrito, em língua portuguesa, assinada pelo credor, ou pela pessoa
processualmente capaz para declarar o crédito. Sempre em duas vias, uma das quais
com a firma reconhecida. O declarante pode referir-se a dois ou mais créditos, na
mesma petição, com as especificações de cada um. É de mister que não contenha
ambigüidades , equivocidades ou emendas, entrelinhas ou cancelamentos.
Nada obsta a que o declarante envie, pelo correio, ao escrivão do processo a
declaração de crédito, mas é preciso que chegue, dentro do prazo, às mãos desse. rir-se
a ele e indicar-lhe a residência. A entrega dos avisos notificações será, então, a essa
pessoa.
Recebendo a declaração de crédito, tem o escrivão de apresenta-la, no mesmo dia, ao
juiz. É apenas, aí, mero instrução, núncio ao serviço do público interessado na
falência. O escrivão não tem cognição, nem audiência da declaração de crédito. Por
isso mesmo, não se pode pronunciar sobre o conteúdo, nem verificar se foram
satisfeitos os pressupostos do art. 82 do Decreto-lei n. 7.661.
O escrivão não pode retardar a apresentação da primeira das declarações de crédito ao
juiz, se lhe for requerido, segundas vias ao síndico.
Se o juiz, no despacho inicial, ou em julgamento posterior do prazo, reputa inepta a
declaração de crédito, pode feita outra petição. Se já está fora do prazo, resta ao credor
caminho da petição posterior ao prazo, como credor retardado (Decreto-lei n. 7.661,
ad. 98).
 declaração de crédito há de dizer qual a fonte do crédito [aí a classificação que o
credor lhe dá. O Decreto-lei n. 7.661, 82, fala da fonte do crédito, dita, por ele, origem
do crédito; s: exige que o credor mencione a classe de crédito em que, direito, se há de
inserir. No Código Comercial, art. 129, III, ~-se de “causa certa”. O termo próprio, é
“fonte da obriga‘; porque o título pode ser abstrato. Nem aproveitaria ao falencial, se
não se trata de relação jurídica entre em contacto, uma das quais seja o falido, que se
refere a causa. Se o credor está em contacto com o falido, no bcio jurídico subjacente
ou sobrejacente, sim: há de aludir, mas, aí, a causa é do negócio jurídico subjacente ou
adjacente, e não do crédito que se declara.
Se o crédito se venceu com a decretação da falência, se de abater na conta do crédito
os juros que correriam ~e a decretação da falência e a data que seria a do vencimento.
Se sabe qual foi a taxa, atende-se a isso. Se não se 3, deduzem-se os juros legais
(Decreto-lei n. 7.661, ad. 25). Se o crédito é em moeda estrangeira, faz-se a conversão
moeda brasileira (Decreto-lei n. 7.661, ad. 213) pelo cambio do dia da abertura da
falência, quer o vencimento tenha
Lê-se no art. 213 do Decreto-lei n. 7.661: “Os créditos em moeda estrangeira serão
convertidos em moeda do Pais, pelo câmbio do dia em que for declarada a falência ou
mandada processar a concordata preventiva, e só pelo valor assim estabelecido serão
considerados para todos os efeitos desta lei’>.
O credor tem de dizer qual a classe em que entra o seu crédito (crédito com privilégio
especial, crédito com privilégio geral, crédito quirografário). Na falta de alegação de
privilégio especial e de privilégio geral, entende-se que é quirografário. Em todo caso,
ainda pode o credor, como credor retardatário, pedir que se atenda ao privilégio
especial ou geral (Decreto-lei n. 7.661, ad. 98), posto que perca o privilégio especial
ou geral no tocante aos rateios anteriores <ad. 98, § 4.0) : aí, a regra jurídica de
preclusão só se refere ao privilégio e ao já rateado. Se vendidos os bens que garantiam
o crédito e distribuído o produto, o credor sofre o prejuízo.
Quanto aos créditos com direito real de garantia, convém que o declarante o mencione.
Se o não menciona, isso não o priva do direito que tem. O ad. 9,0, III, b), do Decreto-
CAPITULO VIII

lei n. 7.661 em que se alude à renúncia pelo credor com garantia real, somente
concerne ao pedido de admissão do concurso de credores falencial, e não ao pedido de
admissão ao concurso de credores falencial.
A lei exige o reconhecimento da firma do credor. O Tribunal da Relação de Minas
Gerais, a 10 de setembro de 1910 (R. de .0., 32, 422), e a 2.8 Câmara Cível da Corte
de Apelação do Distrito Federal, a 19 de agosto de 1921 (62, 354), não admitiram o
credor, por faltar o reconhecimento da firma. A 2.8 Câmara Cível da Corte de
Apelação do Distrito Federal, a 22 de setembro de 1916 (R. .1., VI, 159; R. de .0., 43,
354), achou que a falta pode - ser suprida. O assunto requer novo exame diante dos
arte. 273, 275 e 277 do Código de Processo Civil. Há nulidade dos atos processuais,
mas nulidade não-cominada; se houve sentença, que transitou em julgado, tal sentença
é rescindível (Código de Processo Civil, ad. 798, 1, c>. Cumpre, porém, observar-se
que, até o encerramento da falência, pode o síndico, qualquer credor admitido, ou o
órgão do Decreto-lei n. 7.661.
A 2.R Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, a 13 de setembro de
1912 (R. de D., 26, 378), disse que o pode recusar a declaração de crédito, se não está
reconhecida firma do credor, porém ~não, se o admitiu, recusar-lhe, só isso, a
admissão do credor. Melhor seria que houvesse dito: escrivão (é em cartório que se
entregam as declarações de dito) ou o juiz (por ter apontado a falta o escrivão, quando
lhe forem conclusos os autos) têm de examinar se ao reconhecimento da firma; se
falta, pode ser intimado redor para providenciar, mas a omissão de tal intimação
é causa de sanação; se o juiz não admite o crédito, há urso; se o admite, também pode
haver a ação do ad. 99 Decreto-lei n. 7.661, ou a ação rescisória de sentença do eito
comum.
(Em todo caso, advirta-se que o escrivão não tem qualquer exame da declaração de
crédito, mesmo quanto aos seus requisitos formais. Tudo que acaso observe é extra-
oficialmente o faz. Não pode, sequer, levantar dúvida, como em outras oportunidades
se lhe permite. É mero instrumento de recepção e entrega. Se ao juiz o escrivão mostra
alguma falta da declaração de crédito, não é oficialmente, processualmente, que
ponta.)
Se há órgão ou representante do credor, a firma daquele a desse tem de ser
reconhecida, salvo se a procuração é por instrumento público (Tribunal da Relação de
Minas Gerais, de setembro de 1910, R. F., 32, 422; Tribunal de Justiça São Paulo, 14
de setembro de 1914, R. dos 2’., 11, 149).rende-se o mesmo, também, para os
representantes dos dois e para os substabelecidos.

16.MODIFICAÇÃO E RETIRADA DA DECLARAÇÃO DE CRÉDITO.A


declaração de crédito é comunicação de conhecimento notícia mais pedido de
procedimento para que se dê a sanacao. Há de ser feita dentro do prazo; se ainda
restam alguns dias, ou um dia, há revogabilidade (retirada da voz) total ou inicial
(modificação). As modificações dos erros puramente irriais, essas, podem ser feitas a
qualquer tempo, inclusive das informações do falido (Decreto-lei n. 7.661, arts. 84.
a custas e despesas, paga-os o declarante do crédito.
Assim, a declaração de crédito somente pode ser retirada se ainda não se esgotou o
prazo para as declarações. Se o credor a retira, pode pedir a entrega dos documentos
que a acompanharam, e protestar, ou não, pela habilitação como credor retardatário.
No intervalo entre o dias a quem do prazo, excluído, e o dies ad quem do prazo para os
credores falarem sobre as impugnações (Decreto-lei n. 7.661, ad. 90), incluído, pode o
impugnante do crédito desistir da impugnação de crédito, que fizera, ou de parte dela,
e pedir a entrega de todos ou a de alguns documentos.
A razão para só se permitir a desistência antes de extinto o prazo para as impugnações
seria o de ser de invocar-se o ad. 181 do Código de Processo Civil, que pré-exclui a
desistência, sem o consentimento do réu, se já apresentada a contestação. Mas,
conforme já expusemos, a impugnação é que é o petitura e o credor contesta (Decreto-
lei n. 7.661, ad. 90, verbis “três dias para contestar a impugnação”).
CAPITULO VIII

17.TÍTULOS E DOCUMENTOS. À primeira via da declaração de crédito há de o


credor juntar o titulo ou os títulos do seu crédito e a documentação que se faça de
mister. A lei exige o original dos títulos de crédito e os documentos dos créditos. A
palavra “títulos” está, no Decreto-lei n. 7.661, ad. 82, § 1.0, em sentido geral (ad. 82, §
1.0: “À primeira via da declaração, o credor juntará o título ou títulos de crédito, em
original, ou’ quaisquer documentos. Se os títulos comprobatórios estiverem juntos a
outro processo, poderão ser substituídos por certidões de inteiro teor, extraídas dos
respectivos autos”).
Os títulos incorporantes, abstratos, são juntos em original, mas, se constam de outro
processo, bastam as certidões. Se a impugnação aludir a inexistência, ou outra razão,
para cuja apreciação possa interessar a causa, no prazo dos três dias de que cogita o
ad. 90 do Decreto-lei n. 7.661 pode o credor defender-se, indicando-a.
Os documentos que constem de livros do credor têm de ser produzidos segundo as
regras jurídicas do direito comum.

Se nenhum documento pode ser junto, depende dos princípios saber-se se o juiz pode
atender ao crédito. Não há resposta a priori.
A massa falida não é terceiro em relação ao credor, de nodo que não é de exigir-se ter
sido registrado o crédito (2.8 Camara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal,
29 de agosto de 1922, R. de D., 68, 176), salvo se há lez specialis t respeito do crédito.
Se os títulos de crédito estão juntos a outros processos , bastam as certidões de inteiro
teor; e. g., no caso de co-devedores contra um dos quais se pleiteia, ou de co-
devedores a que e abriu falência, em diferentes processos (2.8 Turma do Supremo
Tribunal Federal, 9 de outubro de 1945, A. J., 78, 289).
Ovate, se de acordo com os usos e costumes comerciais, título de crédito (sem razão, a
4~8 Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 3 de maio de 1949, A.
.1., 4, 357): ou prova o empréstimo, ou outro negócio jurídico, ou não prova. Mas,
com as formalidades que a lei comercial, ou a civil, exige, é titulo de negócio jurídico.
Foi injusta a decisão da 8.~ Câmara Cível do Tribunal de Apelação do Distrito Federal,
a 22 de abril de 1946 (R. 1’., 107, 287), segundo a qual, se há dúvida, mesmo se não se
provou a simulação, não se devem incluir créditos como os constantes de cheques.
Juiz, que decide, não pode ter dúvida, a se a tem não pode alegá-la contra quem exibe
o titulo. Demais, a simulação é matéria do ad. 53 do Decreto-lei n. 7.661.
Quanto a honorários de advogados, que prestem serviços no inventário do falido, ou
do cônjuge do falido, e do outro cônjuge ou de seus herdeiros, a massa falida somente
responde pela metade.
Em princípio, os créditos comerciais não precisam ter sido registrados para serem
eficazes contra terceiros (Tribunal de Apelação de São Paulo, 6 de junho de 1940; 2.8
Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, 14 de março de 1949,
1?. F., 126, 162; Tribunal de Justiça de Pernambuco, 10 de setembro de 1948, 122,
524; sem razão, a l. Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco, a 18 de
março de 1948, E. 9., 121, 222).
Se os títulos ou documentos, que deviam ser apresentados com a declaração de crédito,
só o foram depois, mas antes de se iniciar o prazo para as impugnações, não se pode, a
priori, dizer que se satisfez a exigência da lei (sem razão, a 2.8 Câmara Cível da Corte
de Apelação do Distrito Federal, 25 de julho de 1922, R. de D., 68, 182): tudo depende
da invocabilidade dos arts. 273-277 do Código de Processo Civil. Se o credor está sem
a posse imediata do título de crédito ou do documento, pode protestar pela prova
mediante exibição (Código de Processo Civil, ads. 218, III, 219-221).

18.PLURALIDADE DE CRÉDITOS DO MESMO CREDOR OU DOS


CONSTITUINTES DO MESMO REPRESENTANTE, OU DAS PESSOAS
JURÍDICAS QUE TEM POR ÓRGÃO A MESMA PESSOA. No ad. 82, § 2.0, do
Decreto-lei n. 7.661 diz-se que “diversos créditos do mesmo titular podem ser
CAPITULO VIII

compreendidos numa só declaração, especificando-se, porém, cada um deles”. É


preciso que o credor seja um só. Se ocorre que a mesma pessoa seja órgão ou seja
representante de dois ou mais credores, o ad. 82, § 2.0, não se aplica.
Se há pluralidade de credores, mas os créditos se originam de um só ato, sem haver
representante da comunhão de interesses, cada credor se apresenta na falência com o
título ou os títulos que lhe correspondem. Todavia, devido à identidade do negócio
jurídico básico ou subjacente, a decisão favorável aproveita a todos os titulares não
comparecentes que estejam com os mesmos pressupostos, salvo se o juiz os julgou
separadamente.

19. DEBENTURISTAS. “O representante dos debenturistas será dispensado da


exibição de todos os títulos originais, quando fizer declaração celetiva do crédito”
(Decreto-lei n. 7.661, ad. 82, § 3.0) - A lei regulou a chamada comunhão de interesses
dos debenturistas. As debêntures são muitos circulares e à medida que mtodam os
possuidores ingerem-se Eles na relação jurídica de comunhão, sem que o representante
possa saber qual o possuidor na ocasião (Lei n. 177-A, de 15 de setembro de 1898, art.
1.0; Lei n. 5.465, de 9 de fevereiro de 1923, art. 1.0; Decreto-lei n. 1.892, de 29 de
junho de 1989, artigo único; Decreto-lei n. 7.890, de 16 de março de 1945, art. 1.0). As
debêntures são títulos ao podador.

20.RECIBOS DOS DOCUMENTOS. O escrivão, recebendo a declaração de


crédito, ou as declarações de créditos, e os títulos e documentos, tem de dar recibo em
que se refira ao crédito declarado, ou aos créditos declarados, aos títulos e documentos
que lhe forem entregues. “O escrivão”, diz o art. 82, § 49, “dará sempre recibo das
declarações de crédito e documentos recebidos”. Se a declaração de crédito ou as
declarações de crédito são omissas, não importa ao escrivão, porque fica, para ser
entregue ao síndico, a segunda via. Se, porém, o titulo ou documento apresenta rasura,
entrelinha ou emenda, deve o escrivão fazer constar do recibo a circunstância.
Presume-se, na falta de referência, que lhe foi entregue sem defeito.
Mais uma vez observemos que o escrivão no recibo não tem oportunidade para
rejeições, nem pode levar dúvidas ao juiz. O que lhe incumbe não vai além de
comunicações de conhecimento, de enunciados de fato sobre o que lhe foi entregue e
de que passa recibo. Nunca lhe é dado recusar o que o invitado a declarar considera a
sua declaração de crédito.
Qualquer apreciação de inépcia ou irregularidade do pedido só a pode fazer o juiz.

21. EFICÁCIA DA APRESENTAÇÃO DA DECLARAÇÃO DE CRÉDITO. O ato


jurídico processual da declaração de crédito dá ao credor a posição de sujeito da
relação jurídica processual da invitaçao a falência, de jeito que têm o juiz, o escrivão,
o síndico, o falido e o órgão do Ministério Público de praticar os atos imediatos
mencionados nos arts. 82, § 49, e 88, 84 e §§ 1.0 e 2.0, 85 e §§ 1.0 e 2.0, 86, 88, 89,
92-97 do Decreto-lei n. 7.661. Tem, por conseguinte, o credor as pretensões: a)a
intervir, como assistente, em quaisquer ações ou incidentes, em que seja interessada a
massa; b) a fiscalizar a administra$o da massa; o) a requerer e invocar, no processo
falencial, o que for a bem dos interesses dos credores, da execução da lei de falências,
e do seu interesse; d) a examinar os livros e papéis do falido e da administração da
massa, sem precisar de autorização do juiz, a qualquer momento do processo falencial;
e) a obter, encerrada a falência, certidão que o habilite a executar o devedor pelo saldo
que lhe fique a dever.
O pedido de admissão está incluso na declaração de crédito, porque quem foi
convidado a declarar, para ser admitido, implicitamente declara o crédito, pedindo a
admissão. A diferença, em relação aos concursos de credores em que os credores são
provocados, está em que o convidado encontra mais, ao apresentar-se, do que o
provocado. O convidado pede, porque declara. O provocado pede e vara isso declara.
Aquele declara e, pois, pede; fisse pede e, pedindo, declara.
CAPITULO VIII

Tais pretensões tem-nas qualquer credor.


A apresentação constitui em mora o falido, se em mora ainda não havia incorrido.

§ t395. Autos das declarações de crédito

1.SEGUNDA FASE DO PROCEDIMENTO DAS DECLARAÇÕES DE CRÉDITO.


À medida que o escrivão vai recebendo as declarações de crédito, tem o dever de
entregar ao síndico as segundas vias (Decreto-lei n. 7.661, ad. 83: “À medida que for
recebendo as declarações de crédito, o escrivão entregará as segundas das ao síndico, e
organizará, com as primeiras e documentos respectivos, os autos das declarações de
crédito”).
O escrivão examina se o credor lhe fez entrega das duas vias. Se o credor só lhe deu
uma via, ou se o documento não coincide com o que se mencionou na declaração de
crédito, o recibo há de fazer a ressalva. Se o credor entende que o escnvão não tem
razão, tem esse de submeter a espécie ao juiz. Não pode, sponte sua, recusar-se a
passar recibo, porém não pode ser constrangido a dizer recebido o que lhe não foi
entregue. (Não se trata de dúvida levantada pelo escrivão. Trata-se de se submeter ao
juiz a apreciação da exatidão do recibo que o escrivão passou. O credor exibiu a
declaração crédito e a documentação. O ato do recibo corresponde, ou, ao que nele se
enuncia. O juiz apenas pode dizer se o teor satisfaz, ou se não satisfaz.)
O primeiro ato do escrivão não é bem o de entregar ao sindico as segundas vias. É o de
guardar as primeiras vias. 6 após é que entrega ao síndico as segundas vias.
Quanto às primeiras vias, o escrivão apenas seleciona o que tem de ser apreciado,
oportunamente, pelo juiz.
Qualquer comunicação sobre discordância entre o que se apresenta ao escrivão e o
recibo que ele redige é incidente, que ode ter de ser apreciado pelo juiz, com caráter
disciplinar.
Se o síndico perde algumas das segundas vias de declara5es de crédito, o meio para se
suprir a falta é adquirir certidão do escrivão, que, tendo recebido as primeiras vias, já
as anotou.

2.ATOS DO ESCRIVÃO. Depois da apresentação da declaração de crédito começa,


por bem dizer-se, a segunda fase do procedimento das declarações de crédito
falenciais. Ao escrito cabe o dever de, no mesmo dia, se possível, entregar as segundas
vias ao síndico e organizar os autos de declarações ~ crédito (Decreto lei n. 7.661, art.
83: “À medida que for recebendo as declarações de crédito, o escrivão entregará as
segundas vias ao síndico, e organizará, com as primeiras documentos respectivos, os
autos das declarações de crédito”).
O art. 83 do Decreto lei n. 7.661 fala de “organizar” os títulos das declarações de
crédito.
É interessante observar-se que a Esses autos de declaração de crédito, em que estão as
primeiras vias, se vão juntar, após is informações, pareceres e relações, as segundas
vias, para que se recebam as impugnações.
As primeiras vias têm, portanto, função de autuação para maior segurança em Caso de
extravio das segundas vias. Os documentos ficam com o cartório, pois hão de estar nos
autos !eitos com as primeiras vias. É possível que o juiz precise examina - los.

3.IMPUGNAÇÕES EVENTUAIS. Conforme dissemos, o credor não propõe ação de


condenação: o que ele faz é a declaração do seu crédito e pede a inclusão na falência
(= na execução forçada falencial) como um dos credores. O síndico, o falido e os
outros credores é que podem manifestar-se contra a inclusão, em ação portanto que
não tem, sempre, a mesma carga de força e de eficácia, mas contém, necessariamente ,
eficácia declarativa negativa. A impugnação pelo falido, contida na sua “informação”,
também se há de considerar petitum, ao qual se seguem a eventual “contestação” pelo
síndico e a contestação pelo credor cujo crédito foi impugnado. A impugnação pelo
CAPITULO VIII

síndico, contida no seu “parecer”, é vetitum, e a ele se há de seguir a contestação pelo


credor cujo crédito foi impugnado. A lei fala, respectivamente, de “informação” e de
“parecer”. O próprio órgão do Ministério Público pode ter impugnado, ao dar o seu
“parecer”. A diferença mais relevante entre as situações do falido, do síndico, dos
outros credores e do órgão do Ministério Público mais se acha no momento em que
têm eles de falar: primeiro, o falido; depois, o síndico, os outros credores, o orgao do
Ministério Público.
Há diferença entre a informação, com impugnação, do falido, e as impugnações dos
credores. Não se está no momento de qualquer invocação do art. 52 ou do art. 53 do
Decreto lei n. 7.661. A ação declaratória de ineficácia relativa e a ação revocatória
falencial têm os seus processos à parte. Os credores, esses, quando impugnam, têm de
circunscrever o ataque, que fazem, à legitimidade, importância ou classificação dos
créditos. O que pode ser matéria de impugnação pelo falido ou é mais ou é menos. O
falido não está sujeito à regra jurídica do art. 87 do Decreto lei n. 7.661, nem pode
alegar tudo que o credor poderia alegar. Em principio, ao falido dá-se todo ensejo para
se defender como se defenderia na ação executiva de titulo extrajudicial ou como se
defenderia na ação executiva de titulo judicial. A sua informação é havida “como
impugnação”, diz o art. 84, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661, porém não é, rigorosamente,
impugnação, é defesa.
Passa-se o mesmo com o parecer do síndico. O síndico não está adstrito ao que os
credores podem alegar, nem pode ser cerceado como o falido, talvez em conluio com
credor, ao que a Esse se lhe permita argüir .
Nem o falido nem o síndico são provocados ad agendum; ambos cumprem deveres
perante o juízo falencial.
Convém que os credores não misturem as sentenças que se as penhoram com base no
art. 37 do Decreto lei. 7.661 e o sege seramsta para as ações dos afls. 52 e ES. Se tal
ocorre, de o juiz ordene que se processem segundo os art. 55 e 56, puder ser extraída a
parte heterogrópicos
4. là COTUORCIALIDADE NECEESÁ~à ReúflemBS tO~ as j~ a todos os
créditOS. Todas as j~pugftfr Os se dirigem ao juiz. Uma só é aaudi~nCi3. Uma só
embora ara cada crédito a decisão. Apens a propósitO dos créditos to j~pugnados e
das ~~pugnMões pleIiSflCUte a! aStSdM pelM 0~tetaçõ~4 que se jem o julgamento
antes das que precifl~i’ le audiência de ~5~ificaÇãO. A certeza sabre o crédito e a
classe a liquidez do crédito permitem ao juiz a quebra do prtndPw to tr«*0 nãO se
marca audieflela para jIXSUU~ e jU1g~ sento de créditos a respeito dos quaiS. a juízo
do juiz, não isveria qualquer proveito para o declarante do crédito OU para
impugnante. A seleção, que se atribui ao juiz, não tem incou‘enieU~. porque há o
recuflO e no tribUUftl se há de respOfl Ler, p~~iimiflft1~I1iente se o juiz havia de
dispensar a audiência te ji’struçào e julgamento. ou se não o podia fazer. Se não lhe ra
dado, in casu, negar a audiência de instruÇãO e julgameflto~ provimento do recurso é
para que seja marcada tal audiência. Ao procedimento de cada ~eclaraç~ de crédito
juntam-se inform5~0 do falido, O parecer do síndico, ~~0~panhadO ~o extrato da conta
corrente, e os documentos. Depois, jufr am-5~ todos esses procedimentos às
declaflÇõ~ de crédito primeira via. Após as ftnpugnaç~S. os procedimentos dessel
rnpõelfl o desentraI~l¶~iento das peçaS dos autos das detarações de crédito a que se
refere o Decreto lei ~. 7.661, ,rt. 88, § 1Y.
Queni, como credor, impura não sbmeflte faz pedido de utela jurídica própria. O que
ele pede é a u&o..adIUissãL> do
A lei esta~~’’ - . ã dito, ao falido necessário> uma vez qut atribuiu eciaM eiww-~’- r --
os credores. EssS é a razão pela qual ao ali’
•a gua’kt~6T credor se permite o agravO de petição, “ainda que não tenha sido
~~1pug1iante ~Decretoíeí ~ ‘1.661. art. 9’». Quanto ao 5lnditO e ao falido,
comPrecude-se fkcilm2i~~
a rctttO legis. Uni e ouÚO não estão com outra f~nçLO que a de 5p~raçfto do pasSiVO
CAPITULO VIII

e sua tiquidS’~’~ yui’ção, portantO, objetiva: opinam sabre poder entrar no concurso
de credores o credor que declarou o crédito.
A lei poderia limitat a eficácia sentencial de cada deci5TM 5ôbre j~~pugnacao ao
credor iniPUran~ ~as isso estabeleceria relativídadt pertúrbadora. o crédito j~pugnado
estaria no pas5ivo~ em relaçãO ao credor impugnanto. e nus não estaria, em reIs 0 aos
outros credores. Tal aolu@ tinha de ser repelida.

§ ~.896. ~~formação do falido e parecer do síndicO


O falido
1.opotnliwÀI)E DA AUDt~Ã no vÃW~ tem de falar sobre a declaração de crédito e
sabre merece
jurídica processualreni os credores ser incluídoS nadas ~~~araç<>eS de
do art. 34,
da falênda. “Ao receber a segunda via
crédito, o síndico ~jigitá do falido, ou, no caso crito sabre
n.~ de seu repr55entante~ inform~5~0 por es cada uma. >~ vista dessa infor0a~O~ e
dos livros, papéis e assenteS do falidO, e de o~traz ~j~igêUC~M que se efetue
rem, o síndicopor escritO, o seu parecer. fazendo-<)conta do credor” (Decretoíeí
5~0~panhar do extrato da
n. ‘1.661, ad. 84). Quem impura 0OUt~5~ ou propõe ação. O ad. 90 frisa que os
credores. cujos créditoS foram impllV’fr dos, ~0ntestam~ portatttO ~~pondem à ação
incidental que o ~~pugftante ou os ~~pugnan~ apresenturam. A lei fala de «infOflna~
do falidO”, mas tal inform~0 neceSsâríamente conclui ou pela inclusa0 do crédito, ou
pela nfto~admíssM do crédito no concurso de credores falencial.
Omesmo havemos de entender quSDtO ao ‘<paret&’ do síndico. Também ele ou ~
pela inclUSO do crédito ou o “í0pUgn~ . Ai ~om5ÇS a ação incidente de
Se a falêntiS é de sociedade em que bá socios de resP<~fl as inforiflaçoes.
flbilidade ilimitada, todos têm de dar as su

Nada obsta a que, sendo elas iguais, sejam numa só declaração, assinada por todos, ou,
se a igualdade é só entre duas ou mais, por dois ou mais. A regra é serem em separado.
Se algum, alguns ou todos os credores, antes do prazo para as impugnações, enviaram
informes acordes ou divergentes, pró ou contra os créditos apresentados, tais informes
de modo nenhum contém impugnações. Essas, para que se tratem como petita, têm de
ser produzidas no prazo para as impugnações (art. 87). Antes, são apenas
comunicações de conhecimento, embora contrárias às declarações de crédito dos
outros credores. Aí está grande diferença concernente ao tempo em relação à
informação do falido e ao parecer do síndico.
Pode dar-se, porém, que a impugnação pelo credor esteja com todos os requisitos,
exceto o do início do prazo do art. 87do Decreto-lei n. 7.661; então, nada obsta a que o
juiz defira o pedido de distribuição e de autuação, para que oportunamente a ela se
juntem as outras impugnações que haja ao mesmo crédito.

2.LUGAR EM QUE SE LANÇA A INFORMAÇÃO DO FALIDO. Lê-se no art. 84, §


1.0, do Decreto-lei n. 7.661: “A informação do falido e o parecer do síndico serão
dados na segunda via de cada declaração, à qual serão juntos os extratos de contas e os
documentos oferecidos pelo falido e pelo síndico”. Na segunda via de cada declaração.
Se a segunda via não tem espaço para nele se lançar a informação, deve o falido
escrever Ezue> por não haver espaço, vai em papel separado a informação. Se o
espaço dá para nele se começar a informação, melhor é que aproveite o papel da única
ou das últimas páginas ou da última página e, ao chegar às últimas linhas, diga ~ue
continuará em separado, assinando o que escreveu.
Sempre que as informações forem dactilografadas, tem falido de as rubricar.
A data e a assinatura no fim da informação são elemen~os indispensáveis.
CAPITULO VIII

Já antes dissemos que a informação do falido que tem conclusão contra a pretencao
do credor se considera “como impugnação” (Decreto-lei n. 7.661, art. 84, § 2.~). Não
é coexensiva à impugnação feita pelos credores, nem é propriamente impugnação. O
erro, que o falido pode alegar, é inalegável pelo credor. Ai está exemplo da diferença; e
do lado do credor tem Esse, a mais, as ações dos arte. 52 e 53.

3.EXTRATOS DE CONTAS E DOCUMENTOS OFERECIDOS PELO PALMO. A


cada segunda via de declaração de crédito, após a informação do falido e o parecer do
síndico, hão de ser juntos os extratos de contas e os documentos que ele apresente. A
informação é que tem de fazer um só corpo com a segunda via da declaração de
crédito. Ainda mesmo que em separado, tem-se como parte formal da segunda via da
declaração de crédito. Os extratos de contas e os documentos, não; para aqueles e para
esses há o termo de juntada, tanto mais quanto a exigência de serem lançados na
segunda via da declaração de crédito a informação do falido e o parecer do síndico tem
como conseqüências não se poderem separar a informação e o parecer. Os extratos de
contas e os documentos apresentados pelo falido e pelo síndico hão de ser juntos após
a informação e o parecer: segunda via da declaração de crédito, informação do falido,
parecer do síndico, extratos de contas e documentos oferecidos pelo falido, extrato de
contas e documentos oferecidos pelo síndico.
Se no mesmo documento vêm duas ou mais declarações de crédito, ou a informação
do falido versa sobre cada um, ou as trata em bloco. No primeiro caso, cada declaração
tem a sua informação, mas os extratos de contas e os documentos oferecidos pelo
falido só devem ser juntos depois do parecer ou do último parecer do síndico e antes
dos extratos de contas e documentos oferecidos por esse.

4.PARECER DO SINDICO. O parecer do síndico é lançado, após a informação do


falido; após eles é que se juntam os extratos de contas e os documentos que aquele e
esse ofereceram.
O que se disse sobre a informação do falido há de entender-se a respeito do parecer do
síndico.
A apresentação do extrato da conta do credor, em qualquer caso, ou a declaração de
que nenhuma conta existe, é dever do sfndieo (Decreto-lei n. 7.661, art. 84, in une).
; não são, precisamente, impugnação, como o ataque pelo § 3.397. Impugnação pelo
falido ou pelo síndico

1.ELEMENTO POSTULACIONAL DA INFORMAÇÃO DO FALIDO O


PARECER DO SINDICO . O sim ou o não, que se pode conter informação ou no
parecer, ou é petitum de inclusão, ou de são (não-admissão do crédito). Ou se
concorda, ou se ima o crédito. “Quando a informação ou o parecer forem
ários à legitimidade, importância ou classificação do voto, serão havidos como
impugnação, para os efeitos dos e 2.0 do art. 88, podendo o falido ou o síndico indicar
5 provas que julgarem necessárias, para demonstrar verdade do alegado” (Decreto-lei
n. 7.661, art. 84, § 2.~). ~. informação do falido, contrária ao crédito, ou à sua
importância ou classificação, é tida como impugnação e prove-se como tal (8.~
Câmara Cível do Tribunal de Apelação Distrito Federal, 17 de junho de 1946, R. 1’.,
109, 448). STo concurso de credores falencial, a informação contrária lido é havida
como impugnação, prática que melhor atende princípios (2.a Câmara Cível da Câmara
de Apelação do ito Federal, 22 de junho de 1915, .1?. de D., 38, 202 5.; 8. T. F., V,
251; sem razão, 3. X. CARVALHO DE MENDON~ratado de Direito Comercial, VII,
126, e o Tribunal de a de São Paulo, a 2 de maio de 1914 (R. dos T., 10, 55). lei
concebe o concurso de credores falencial como exe forçada celetiva, em que o falido e
o síndico são interesimediatos em que se incluam todos os créditos. Dai evite aos
credores, para as declarações de crédito. Esses, 3ndo ao convite, declaram 08 seus
créditos e de certo pedem inclusão. Não há, ai, propositura de ação, porque está
proposta, e é a ação de execução forçada celetiva executiva ativamente plural). O
CAPITULO VIII

síndico é órgão dessa ação forçada. O falido, o executado por todos os que forem dos
como credores concursais.impugnações do falido, do síndico, ou de qualquer ou,
também, do órgão do Ministério Público estabeleça lide, incidental, sobre o crédito.
que é mais importante é não se estender ao falido e ao o que se estatui, no art. 87 do
Decreto-lei n. 7.661, o conteúdo possível da impugnação pelos credores. A ação do
falido e o parecer do síndico são “como impugna credor.

2.INICIO DO PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS. Se a falência foi


decretada por ter o devedor procedido a liquidação precipitada, ou por ter lançado mão
de meios ruinosos ou fraudulentos para realizar pagamentos <Decreto-lei n. 7.661,
arts. 2.~, II, 186, III, e 188, II), ou por ter convocado credores e proposto dilação,
remissão de créditos ou cessão de bens (Decreto-lei n. 7.661, art. 2.0, III; Código
Civil, art. 106), pode acontecer que nenhum credor se apresente: então, a despeito
disso, aberta, como foi, a falência, há de o juiz encerrar o processo. Dai o Erro de A.
BRUNETrI (Di ritto failimentare italiano, 164), quando enunciava que o processo de
verificação se inicia com o pedido do credor; maior ainda o dos que afirmam que ele
parte da decretação da falência. O credor não pede a verificação: o credor apresenta-se,
por invitaçao suscito da pelo síndico e declara o seu crédito (= diz, claramente, qual o
seu crédito, qual a importância e qual a classe dele); e o juiz examina o crédito, porque
essa foi a finalidade do convite. O credor somente tem algo que fazer depois, se há
impugnação, ou se o juiz, de ofício, lhe nega a admissão ao concurso de credores
falencial. A ação é dos outros credores, do síndico, do falido ou do órgão do Ministério
Público, ou há exame pelo juiz e julgamento, de oficio.
O que acima dissemos também se dá se nenhum credor se apresenta ao juízo falencial,
para declaração de crédito, tendo a abertura da falência fundamento no art. 2.0, IV, V,
VI ou VII, do Decreto-lei n. 7.661.
O procedimento da verificação é imposto pela lei. Na própria sentença de decretação
de abertura da falência (dita, por elipse, sentença de decretação da falência), o juiz
marca o prazo para os credores apresentarem as suas declarações de Crédito, com os
documentos justificativos.
Os princípios de direito processual que se observaram nos arts. 92, II, a), e 1, 95 e §
1.~ do Decreto-lei n. 7.661, são, respectivamente, o principio da imediatidade, o
principio inquisitivo e o principio da oraM.dade.

3.CREDITO NO SINDICO. O síndico não poderia dar receber sobre o próprio


crédito. Donde o problema de técnica resilativa: ~ quem o há de substituir? O falido,
esse, pode dar sua informação, como sobre qualquer outro crédito. Dai tatuir o art. 85
do Decreto-lei n. 7.661: “Na declaração de credito do síndico, o falido dará a sua
informação, por escrito, e cinco dias seguintes ao da entrega em cartório”. O síndico
ao falido, ou ao seu representante, a oportunidade, que falido tem a respeito de
quaisquer créditos, de informar, impugnando, ou não, cada um dos créditos. Para a
informação falido, na espécie do art. 85, tem Ele cinco dias. É preciso, porém, que a
declaração do síndico tenha chegado a cartório, essa declaração de crédito há de ser
apresentada antes de quaisquer outras: no ato de assinatura do termo de promessa
próprio síndico (art. 62, parágrafo único).
Quanto à substituição do síndico, a lei não adotou solução radical: o síndico não dá o
parecer, que lhe incumbe escrever todos os outros casos, porém não fica fora de
funções. Dai regras jurídicas do Decreto-lei n. 7.661, art. 85, § 1.0:
síndico apresentará, dentro do prazo do art. 14, parágrafo único , n. V, para serem
juntos aos autos das declarações de ~dito, o extrato da sua conta nos livros do falido e
os títulos probatórios do seu crédito que, porventura, não tenha inibido (art. 62,
parágrafo único)’ e do art. 85, § 2.0: “Nas rito e quatro horas seguintes ao vencimento
do prazo do L 14, parágrafo único, n. V, o síndico, em petição que conte-a a relação
dos credores que declaram os seus créditos, requeiram a nomeação de dois deles para
que, até o fim do prazo art. 87, examinem o seu crédito, dando parecer na única da
CAPITULO VIII

respectiva declaração”. O síndico faz. a sua declaração crédito no ato da assinatura do


termo de promessa de bem lealmente exercer o cargo (art. 62, parágrafo único) e vinte
e quatro horas após o prazo para os outros credores apresentem as suas declarações de
crédito (art. 14, parágrafo único, V) tem de requerer a nomeação de dois credores para
e, até terminar o prazo para as impugnações (art. 87), pugnem, ou não, o seu crédito.
Esses dois credores não substituírem os outros credores, substituem o síndico, razão
por que 1 “parecer”. Todavia, se o parecer for contrário à legitimidade, importância ou
classifica$o do crédito, se tem como Impugnação, ao lado das outras que os outros
credores apresentem. Se os dois credores nomeados divergirem, o parecer divide-se.
Pode um dos credores impugnar, e o outro não.
Cumpre, aqui, atender-se a que os credores que substituem o síndico se inserem no
papel do síndico. O que eles podem alegar não é o que poderiam alegar conto
credores, mas sim o que eles poderiam alegar se qualquer deles fosse o síndico.
Praticamente , a limitação feita pelo art. 87 do Decreto-lei n..7.661 não os atinge.
Aos credores, a que se incumbe dar parecer sobre o crédito do falido, podem ser
representados, a despeito de substituírem, de certo modo, o síndico (Câmaras Civeis
Reunidas do Tribunal de Justiça do Paraná, 4 de fevereiro de 1949, Paraná 1., 49, 138:
“Não sendo licito ao síndico opinar sobre o seu próprio crédito, obviou a lei a essa
dificuldade com a providência do dispositivo citado, que prevê a audiência de dois
credores, nomeados pelo juiz a requerimento do síndico, os quais praticarão o ato na
condição pura e simples (1) de meros credores da massa, podendo, por isso, oficiar
através de procurador, quando não estiverem pessoalmente acompanhando o processo
da falência. É o que resulta do que prescrevem o art. 81 e seus parágrafos, que
permitem a representação aos credores, de maneira ampla, e não somente para aqueles
atos que exigem habilitação profissional”).
Se só há um credor, o síndico, ou se só há o síndico e outra pessoa, não pode ser
satisfeito o art. 85, § 2.0, que exige a nomeação de dois credores. A solução é nomear
o juiz estranho que dê o parecer, ou estranho e o outro credor (cf. Despacho do Juiz de
Direito de são Paulo, TOUNO DA COSTA MANSO, a 14 de agosto de 1952, D. da .1.
de 21 de agosto).

§ 3.398. Relações de credores que o síndico tem de apresentar

1.ENTREGA DAS SEGUNDAS VIAS, INFORMAÇÕES, PARECERES E


DOCUMENTOS EM CARTÓRIO. Cinco dias após terminar o prazo para os credores
fazerem as suas declarações de crédito, já o falido há de ter produzido a sua
informação sobre as últimas ou a última declaração de crédito, e o síndico, o seu
parecer. Dentro dOte, há de o síndico satisfazer o exigido pelo art. 86, 1 e II, do
Decreto-lei n. 7.661: “Nos cinco dias seguidos ao decurso do prazo do ad. 14,
parágrafo único, o síndico entregará em cartório, para serem juntos aos autos das
declarações de crédito, as segundas vias, pareceres e documentos respectivos,
acompanhados das seguintes relações: dos credores que declararam 05 seus créditos,
dispostos na ordem determinada no art. 102 e seu § 1.0, mencionando e seus
domicílios bem como o valor e a natureza dos créditos E 1, dos credores que não
fizeram a declaração do art. 82, mas constantes do livro do falido, documentos
atendíveis e outras novas, mencionadas na mesma ordem e com as mesmas mdiiçOes
do n. 1”.
O trabalho do síndico consiste, então, em conferir com os assentamentos da
escrituração do falido e com os documentos restantes do arquivo do falido as
declarações de crédito que ram entregues. Pode ele, conforme o ad. 63, IX, exigir,
entro de prazo Inferior ao seu, esclarecimentos por escrito a orais aos credores que
apresentaram as suas declarações de édito. Mais: pode proceder às diligências que lhe
parecerem a mister.
No Código Comercial, ad. 23, inciso 1, diz-se que os nos dos comerciantes,
mencionados no ad. 11 e com as formalidades do art. 13, “sem vicio nem defeito,
CAPITULO VIII

escriturados informa determinada no ad. 14 e em perfeita harmonia uns m os outros”,


fazem prova plena contra os donos dos livros, originariamente ou por sucessão.
Observe-Se, porém, que, em tratando de concurso de credores, o favor a um dos
credores de ser desfavor a outro, ou a outros, de jeito que o ad. 23.inciso 1, pode não
incidir. O ad. 23, inciso 2, vem à tona. Outrossim, o síndico pode, pelo exame da
documentação falido, chegar a conclusões que se choquem com as conclusões dadas
dos livros.

2. RELAÇÕES DOS cREDORES. Duas relações de credores ai o síndico de fazer: a


relação dos credores que declararam seus créditos e a relação dos credores que não
apresentem em tempo, as suas declarações de crédito, mas constam a livros,
documentos que, a juízo do síndico, sejam de ater-se como provas. Uma e outra .-
créditos com direitos reais de garantia, créditos com privilégio especial, créditos com
privilégio geral e créditos quirografrários. Se há crédito por acidente do trabalho ou
outros que se hajam de tratar conforme o art. 102, § 1.<’, do Decreto-lei n. 7.661, de
que falaremos adiante e a que nos referimos lO Tomo XXVII, há de o síndico
menciona lo
Outra relação de credores, que há de o síndico compor, é a dos credores particulares
dos sócios solidários, com o trato que corresponde ao ad. 86, 1, ou ao ad. 86, II (cp.
art. 96, 1 1.0).
 relação dos credores que declararam os seus créditos é obviamente exigida, porque
se precisa conhecer o provável passivo da massa.
Quanto à relação dos credores que não fizeram declaração, o que o síndico comunica
não é para ser desde logo apreciado pelos outros credores, posto que possam Eles faz-
lo, inclusive com alegação de inexistência., nulidade, ou anulabilidade, ou Ineficácia
do negócio jurídico invocado, ou de inexistência do crédito. Temos, porém, de
enfrentar o problema dos direitos reais de garantia. Note-Se bem que não dissemos dos
créditos com direito real de garantia. Se os credores com créditos garantidos com
direito real (direitos reais de garantia ou transferi los são da propriedade em segurança.
ci. Tomo XXI, §§ 2.668- -2.672) declaram 05 seus créditos, com referência ao direito
real que os garante, ou aos direitos reais que os garantem. é óbvio que o juízo falencial
tem de exigir a informação do falido, o parecer do síndico e do órgão do Ministério
Público, bem como a audiência dos outros credores, sobre o crédito e sobre a
garantia. Se os credores com direitos reais de garantia, ou com propriedade em
segurança, não se apresentarem então surte o problema do ataque ao direito real de
garantia. que segundo os princípios tem eficácia contra a massa.
Em que juízo tem de ser proposta a ação desconstitutiva negativa, ou, mais raramente
concebida a ação declaratória negativa?
Não há discutir-Se se os credores têm a ação de imputação, que somente concerne a
créditos declarados.
 ação ou é a de ineficácia relativa (Decreto-lei n. 7.661, ad. 62, III), ou é a
revocatória falencial (Decreto-lei 7.661 mesmo se não tivesse sido decretada a
abertura da falência, Código Civil, arts. 105 e 106).
O juízo é o falencial.
O simples fato de haver penhoramento abstrato, ou, a for-ri, arrecadação dos bens
gravados, e ter o síndico mencionado gravame ou a transmissão em segurança, ou o
bem sobre tI incide o gravame, impõe que o juízo seja o falencial. rente os créditos da
Fazenda Pública que caibam no art. 60 Decreto-lei n. 960, de 17 de novembro de 1938,
podem escapa competência do juízo falencial.
O rito é o da ação de impugnação falencial se concorrem s pressupostos: a) ter o
credor declarado o crédito, aleganhaver a garantia real; b) a ação ter por fundamento
um dos se apontam no ad. 87 do Decreto-lei n. 7.661. Ressalta, tanto, a diferença entre
o concurso de credores civil (cf., g., o Tomo XXVII, § 3.279, 4) e o concurso de
credores excencial, pois não coincidem o que se estatui no Código Civil, 1.555 (ou
Código de Processo Civil, ad. 1.024) e o que se constitui no ad. 87 do Decreto-lei n.
CAPITULO VIII

7.661, nem o direito comum i as ações falenciais dos arts. 52 e 53 do Decreto-lei n.


7.661. ida mesmo que não haja crédito declarado, o ataque 6 conforme os arts. 52, 54-
58, ou os arts. 53, 54-58 do Decreto-lei 7.661, ou conforme os arts. 87-95 do Decreto-
lei n. 7.661, se a ação não cabe no ad. 52, ou no ad. 53, ou no ad. 87, conforme o que a
lei processual estabeleceu. Convém ler-se o que escreveu nos Tomos IV, § 366, 1, XX,
§§ 2.558 e 2.559, XVII, § 8.279, 4.
Quanto aos ataques pelo falido ou pelo síndico, o art. 87 Decreto-lei n. 7.661 não
importa, porque só se entende com credores. O que o falido poderia alegar se
decretação de abertura da falência não tivesse havido, Ele e o síndico podem argüir
informação, que é “como impugnação”, ou no parecer, que também se considera
“como impugnação ”.

CAPÍTULO II

IMPUGNAÇÕES AS DECLARAÇÕES DE CRWITO

§ 3.399. Impugnações do falido e do sindico

1.INFORMAÇÃO DO FALIDO E PARECER DO SÍNDICO. .76 dissemos que a


informação do falido, se contrária á extênda (e titularidade), à importância ou à
classificação do crédito declarado, contém petitura de não admissão, ou de admissão
por outro valor ou noutra classe. Inicia-se a ação incidental de impugnação.
Passa-se o mesmo com o parecer do síndico.
Quanto ao parecer dos dois credores designados, pelo juiz,para exame e parecer sobre
o crédito do síndico, é parecer de substituto do síndico e tem o mesmo trato.

2.IMPUGNAÇÃO PELO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PUBLICO. Â lei não


cogitou do órgão do Ministério Público quando se referiu à informação do falido e ao
parecer do síndico. Mas o órgão do Ministério Público também pode impugnar, isto é,
também pode ser autor na relação jurídica processual da ação incidental de
impugnação. Cf. Tribunal Superior do Rio Grande do Sul, 8 de junho de 1917 (1?. J.,
13, 536).

8.QUALIDADE DE AUTOR QUE TEM O CREDOR IMPUGNANTE , OU O


FALIDO, O SÍNDICO OU O ORGAO DO MINISTÉRIO PUBLICO , QUE
IMPUONE. A relação entre a declaração de crédito e a impugnação não é a mesma
que entre as demandas judiciais e a contestação. O credor que se apresenta e declara o
seu crédito ainda não está demandando; atendeu a convite. A sua atitude lhe dá alguns
poderes e deveres. A impugnação é mais do que ação declaratória negativa: o que ela
pede é que, devido ao deslaxado , que bastaria para a condenação do falido, se negue
regresso ao credor, ou que se lhe negue ingresso com minta, em relação ao que se
declarou. O credor não pediu declaração judicial; declarou, porque para isso lhe foi
enviada a invitação. credor impugnante, ou o síndico, ou o falido, ou o órgão do
Ministério, tem a qualidade de autor, e não de réu; réu é o credor, cujo crédito foi
impugnado, pois declaração de crédito ato jurídico atricto 86 nau, comunicação de
conhecimento, e não petitio.
É preciso forrarem-se a doutrina e a jurisprudência brasileira à influência de sistemas
jurídicos estrangeiros nos quais falido não pode impugnar, nem recorrer, ou não pode
recorrer, ou não pode recorrer o síndico, porque diz-se é órgão a execução forçada,
longa manus do juiz, e, portanto, ilegitimado: seria insurgir-se contra o órgão
hierArquicamente superior. A lei brasileira é expressa.
Nas informações e nos pareceres não há, a respeito de taque aos créditos, a limitação
legal do art. 87 do Decreto-lei
•7.661, verbis “quanto à legitimidade, importância ou classificação”. Não há,
propriamente , impugnação, mas defesa pelo falido, ou, no interesse da execução
CAPITULO VIII

forçada celetiva, pelo síndico.

4.IMPUGNAÇÕES PELOS CREDORES. Os credores, no que concerne aos poderes


que lhes deram os arts. 30 e 87, parágrafo único , do Decreto-lei n. 7.661, foram
convidados, convidados à declaração dos seus créditos e à colaboração na seleção do
passivo, na verificação da exatidão dos créditos e na boa inclusão de classe. Quando o
credor impugna o crédito de outro não o faz somente no seu interesse. É portador de
interesse de todos os credores e de interesse público ligado à justiça a distribuição do
ativo falencial, comum à execução forçada singular e à execução forçada celetiva.

5.JULGAMENTO DOS CRÉDITOS NÃO IMPUGNADOS. O simples acordo


entre os credores declarantes não pré-exclui o exame e o julgamento do juiz. Julga Ele
os próprios créditos não impugnados (Decreto-lei n. 7.661, art. 92, 1, 1.8 parte).
Os credores que declararam créditos condicionais podem impugnar e recorrer.
Também podem impugnar e recorrer os credores que pediram reserva, nos termos do
art. 130 do Decreto-lei n. 7.661. fi 3.400. Prazo e legitimação para as impugnações
pelos credores

1. Prazo. Terminado o prazo que o art. 86 do Decreto-lei n. 7.661 estabelece para o


síndico, começa o prazo para as impugnações dos credores às declarações de crédito
(art. 87: “Findo o prazo do artigo anterior, as declarações de crédito poderão ser
impugnadas, dentro dos cinco dias seguintes, quanto à sua legitimidade, importância
ou classificação”). O prazo corre em cartório, independentemente, pois, de publicação
ou intimação aos interessados. O prazo para a apresentação das declarações de crédito
foi marcado na sentença, imediatamente publicada “, conforme o art. 16 do Decreto-lei
n. 7.661. Transcorreram os cinco dias a que se refere o art. 86. Outros cinco dias dão-
se aos credores para as impugnações”.

2.LEGITIMAÇÃO PARA IMPUGNAR. Podem impugnar, no prazo do art. 87,


“todos os credores que declararam os seus créditos e os sócios ou acionistas da
sociedade falida” (Decreto lei n. 7.661, art. 87, parágrafo único). O síndico, como
credor, pode impugnar. AI, não dá parecer de síndico, que se possa considerar
impugnação: impugna. Se é credor, tem duas qualidades para se legitimar à ação
incidente de impugnação. Se impugna, como credor que é, as custas e despesas da
impugnação correm contra ele.
O ataque feito pelo síndico ou é coextensivo ao ataque feito pelo falido, ou ao ataque
que o falido poderia fazer, ou é apenas coextensivo ao ataque que o credor poderia
fazer. Aqui, tem-se como impugnação. Daí poder o síndico alegar que houve
simulação, o que, na ação de impugnação pelo falido, não se poderia argüir . Dá-se o
mesmo que com o falido.
O falido pode alegar e como Ele o síndico, se o falido deu a informação a violência,
ou o Erro, ou o dolo. Os credores, não. Ou eles propõem a ação do art. 52 do Decreto-
lei n. 7.661, ou a do art. 53. ou a do art. 87.moas tis ercuores que aeciaram os seus
créditos podem Impugnar. Não importa se são credores com direito real de garantia,
credores com privilégio especial ou geral, ou credores quirografários.
Os credores da sociedade concorrem, pelo saldo dos seus créditos, nas massas
particulares dos sócios solidários ou de responsabilidade ilimitada (Decreto-lei n.
7.661, art. 128); basta esse argumento para se terem por legitimados à impugnação dos
credores concorrentes, pois eventualmente podem vir a ser credores particulares.
Também os credores dos sócios podem impugnar os créditos contra a sociedade (2.8
Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, 17 de outubro de 1913, li. de
D., 82, 203: “.... entram em concurso sobre os bens dos sócios credores da massa,
quando esta não chega para o pagamento”; J. X. CARVALHO DE MENDONÇA,
Tratado de Direito Comercial, VIII, 124).
Resta saber-se se os credores particulares dos sócios podem impugnar os créditos
CAPITULO VIII

contra o outro sócio. A resposta é negativa (J. X. CARvALHO DE MENDONÇA,


Tratado de Direito Comercial, VIII, 125).
A impugnação do crédito do impugnante é sem relevância para se negar legitimação a
Esse.
Os sócios ou acionistas da sociedade falida podem impugnar (art. 87, parágrafo
único). Se dos autos não consta a qualidade, tem o sécio ou acionista de provar a
qualidade de sócio. Se a ação é ao portador, somente com a apresentação do título se
legitima o acionista. Se há credor particular de sócio solidário, também têm os outros
sócios a legitimação à impugnação.

3.IMPUGNAÇÃO E EFICÁCIA. Pretendeu U. AZZOLINA (Titolo esecutivo e


azione esecutiva, Rivista dei Diritto commerosale, 47, 96 s.) que se faz executivo o
titulo do credor que se apresenta, se não há impugnação (cf. Decreto-lei n. 7.661, art.
92, 1). Mas é atribuir-se demasiado ao fato de não ter havido impugnação, como se o
não impugnar-se o crédito fosse declarar-se crédito e declarar-se executividade do
título. Ou, como bem advertiu E. MINOu (Contributo alia Teoria dei Giudizio
divisorio, 97), como se houvesse na preclusão do prazo processual negócio jurídico de
reconhecimento.
Os argumentos maiores contra a declaratividade da ação e da sentença a favor dos
credores apresentados são:
a) Para que se pudessem classificar a ação dos credores concorrentes e a sentença que
lhes é favorável e os acolhe na relação jurídica processual de execução como ação
preponderantemente declaratória e sentença preponderantemente declaratória, ter-se-ia
de pensar em declaração de existência do crédito e de existência da eficácia executiva.
Contra isso, há o argumento de não se poder declarar executivo o titulo que o não é. A
executividade teria de ser produzida e a só declaração não a produz.
b) A respeito dos títulos executivos, extra judiciais e judiciais, tem-se de considerar
que a executividade é plus que se acrescentou à divida, ao documento da dívida. Ou a
executividade foi atribuída por lei, ou resulta da sentença. Não se pode dizer que o
título executivo seja declaratório: ele documenta ou incorpora a dívida; não declara. A
executividade é efeito que se lhe confere. Efeito de certa gravidade, porque é a
habilitação à entrada na esfera jurídica de outrem, ainda que sujeita a posterior exame
do que se alegue em contrário.
A ação dos credores que se apresentam é, depois da inserção na relação jurídica
processual de execução, de eficácia executiva (*****), condenatória (**t*),
declarativa <~¶P, mandamental (* *), constitutiva (“9 ; e não declaratória
(*****)..executiva (****), nem, sequer, executiva (*****)..condenatória (****)
Há cumulação sucessiva de açÕes, sem que se possa pensar em mais do que
preponderância inicial, passageira, da declaratividade, o que frisamos na 1.8 ed. dos
Comentários ao Código de Processo Civil, sob o art. 1.030.
A discussão sobre só haver uma ação, ou haver duas, é sem alcance, porque já
explicamos esse ponto a propósito das ações do art. 298 do Código de Processo Civil.
Ai, a execução começou com o credor que foi o primeiro a executar, mas ao serem
apresentados os outros credores não mais se apura se o titulo é executivo ou se não é.
Porque já se tem a constrição a favor daquele ou daqueles que executaram. De modo
que os credores que se apresentam, com títulos executivos ou sem títulos executivos,
encontram constrição, de que, chamados, querem participar e de que só participam
depois de lhes ser dada sentença favorável, condenatória, com eficácia executiva
suficiente.

§ 3.401. Petição de impugnação e contestação

1.FUNDAMENTO DA IMPUGNAÇÃO PELOS CREDORES. A impugnação pode


ser por pressuposto pré-processual ou por pressuposto processual. Se o credor não tem
capacidade de ser parte, ou capacidade de estar em juízo, ou se quem se diz órgão não
CAPITULO VIII

fez prova de o ser, ou se quem se diz representante não o provou, ou não provou
poderes bastantes, o juiz nega a admissão à falência, por falta pré-processual ou
processual. Quando se convidaram os credores para as declarações de crédito, supôs se
lhes a satisfação dos pressupostos pré-processuais e dos pressupostos processuais, pois
a finalidade era a admissão ao concurso de credores falencial.
A falta de apresentação dos títulos ou documentos dos créditos é questão processual,
que se julga preliminarmente, restando ao credor o vir a juízo como credor
retardatário. Salvo se ainda há tempo para nova declaração de crédito ou juntada.
A matéria da prescrição é mérito, bem assim a da preclusão do crédito.
No Código Civil, art. 1.555, diz-se que “a discussão entre os credores pode versar,
quer sobre a preferência entre eles disputada, quer sabre a nulidade, simulação, fraude
ou falsidade das dividas e contratos” (cf. Código de Processo Civil, art. 1.024). Não se
pode transplantar para o direito falencial o art. 1.555 do Código Civil (ou o art. 1.024
do Código de Processo Civil), porque o direito falencial contém três regras jurídicas
diferentes:
a) Decreto-lei n. 7.661, art 53: “São também revogáveis, relativamente à massa, os
atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-se a fraude do
devedor e do terceiro que com ele contratar”. A ação corre perante o juízo da falência,
mas tem curso ordinário (art. 56, § 1.0); a apelação tem ambos os efeitos, devolutivo e
suspensivo.
b) Decreto-lei n. 7.661, art. 99: “O síndico ou qualquer credor admitido pode, até o
encerramento da falência, pedir
quer créditos nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro
essencial, ou de documentos ignorados na época do julgamento do crédito”. É como
ação rescisória, incidental, da decisão que admitiu o crédito, se já transitou em
julgado; se ainda não transitou em julgado, é caso especial de alteração ou de aumento
do pedido, ou de pedido novo , excepcionalmente admitido por lei (cp. Código de
Processo Civil, art. 157). O procedimento é o ordinário e cabe o recurso de agravo de
petição (Decreto-lei n. 7.661, art. 99, parágrafo único).
c) Decreto-lei n. 7.661, art. 87: “Findo o prazo do artigo anterior, as declarações de
crédito poderão ser impugnadas, dentro dos cinco dias seguintes, quanto à sua
legitimidade, importância e classificação”. Os arts. 88-97 regulam o processo dessas
ações incidentes de impugnação, que não é de rito ordinário.
A tendência para se pôr no art. 87 do Decreto-lei n. 7.661, como em amplo surrão,
tudo que concerne à inexistência total ou parcial, à nulidade, à anulabilidade, ou à
ineficácia, evidentemente desatende à diferença entre os arts. 52, 53, 99 e 87 do
Decreto-lei n. 7.661, em seus dizeres e em suas finalidades.

2. “LEGITIMIDADE”. A legitimidade dos credores ou é ad processum ou ad


causa.m. Tanto uma como outra pode ser atacada pelo falido, pelo síndico, ou pelo
credor, ou, dentro dos princípios, pelo órgão do Ministério Público. Não se pode
introduzir no conceito de legitimidade tudo que se tem querido, por superficialidade de
exame, meter no conceito (nulidade, anulabilidades>. Se o negócio jurídico é ineficaz,
ou ineficaz relativamente à massa, há mais do que ilegitimidade ad causam:
o crédito não é; portanto, o credor é ilegitimado, por não ser credor.
Para se extrapolar o conceito de legitimidade, invocou-se o Reg. n. 737, de 25 de
novembro de 1850, art. 617, que dizia: “A disputa entre os credores pode versar não
somente sobre a preferência que cada um alega, senão também sobre nulidade,
simulação, fraude e falsidade das dividas e contratos”. Quase
O mesmo está no Código Civil, art. 1.555. Porém não está no, 17 de dezembro de
1928, art. 88, § 5•0~
Os credores por algum dos créditos de que fala o art. 23, ágrafo único, 1-111, do
Decreto-lei n. 7.661, não são legítimos ad causam; isto é, se oriundos de negócio
jurídico titulo gratuito, ou de dever de prestação alimentícia; por pesas que os credores
individualmente fizerem para se inserirem na relação jurídica processual falencial ou
CAPITULO VIII

nela permanecem, salvo as custas e despesas judiciais em litígio com lassa; as penas
pecuniárias por infração de leis penais e administrativas.
Nem no são os credores que somente têm obrigação natw. ou direito sem pretensão,
ou pretensão sem a$o. Nem os se dizem credores sem que exista o crédito, como se há
negócio jurídico infração dos arts. 124 e 129, incisos 1, 2 do Código Comercial, ou
dos arts. 145 e 59 do Código LI. Haveria nulidade do negócio jurídico, e do negócio
jurídico não se irradia efeito. O crédito é efeito; efeito, a pretensão efeito, a ação.
Quanto às anulabilidades, de modo nenhum se podem ter o causas de ilegitimidade. O
crédito é, talvez a pretensão
e a ação. Não é isso matéria para simples impugnação. juizes justiça se lhes faça
resistiram, mas os juristas, ligados militantes, forçaram, ou, melhor, tentaram a
interação da lei contra a própria letra.
A ação em tais casos é a ação ordinária, quer se funde rt. 53 quer no art. 99.
Letra de cambio, nota promissória, duplicata mercantil ou o titulo cambiariforme, que
não entra no mundo jurídico se não haverem satisfeito pressupostos formais ou mate-
não irradia crédito, pretensão e ação. O que se afirma Dr por ser o possuidor não é
credor. Idem, se o titulo cambial. 0 ou cambiariforme está cancelado, rasurado ou
emendado. não quer dizer que o apresentante, advertido, não possa ; em tempo, prova
do negócio jurídico subjacente ou sobre evite, para ser admitido no concurso de
credores falencial, ação de credor retardatário.
Inexistência do crédito, por não existir negócio jurídico, •geral, a fonte do alegado
crédito, e a nulidade do negocio jurídico, do qual não se irradia crédito, ou não se
irradia pretensão, ou ação, são causas de ilegitimidade. Pode o juiz, de oficio, declarar
a inexistência e decretar a nulidade (aliter, a anulação). Cf. Código Civil, art. 146,
parágrafo único. O crédito resultante de negócio jurídico, ou de outra fonte,
posteriormente à decretação da falência, é relativamente ineficaz (Decreto-lei n. 7.661,
art. 40, § 1.0, onde a expressão “nulidade” é errônea: o caso é de ineficácia) : há causa
de ilegitimidade e o juiz pode declará-la “de oficio, independentemente de prova de
prejuízo”.
O juiz somente pode decidir se há, ou não, legitimidade, se é exata, ou não, a
importância, se a classe, em que o credor disse estar o seu crédito, é aquela em que ele
cabe.
Foram absurdas as decisões que, no processo da habilitação de crédito, permitiram
descer-se ao exame da causa do título cambiário (cf. 5.~ Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal, 2 de março de 1951, Á. 3., 101, 478>, e as que, no processo
de habilitação de crédito, violaram o art. 847 do Código Civil, ou o art. 19, § 1.0, do
Decreto n. 169-A, de 19 de janeiro de 1890, por estar em causa a anulabilidade.
Não se confunda com o problema da competência do juízo falencial para a decretação
da desconstituíção das hipotecas e mais direitos reais de garantia, inscritos, ou com
eficácia erga omites, o problema do que se pode alegar na impugnação conforme o art.
87 do Decreto-lei n. 7.661. A ordinariedade é exigida, fora dos casos em que se trata
de ataque conforme o art. 87, salvo se a lei processual comum ou outra lez apecialis a
dispensa. O assunto já foi antes versado a propósito dos credores, com direito real de
garantia, que deixaram de declarar os seus créditos e dos que os declararam.
O credor que se referiu a direito real inexistente, ou por não haver inscrição, ou por
essa ser nula, pode impugnar, consoante o art. 87 do Decreto-lei n. 7.661, a garantia
real do crédito. Pode ser que não impugne o crédito. Pode ser que não impugne a
inscrição do direito real e impugne o crédito, donde não ter a massa, se o credor
impugnante tem bom êxito, de atender ao direito real, devendo o síndico providenciar
para que se retifique o registro (cp. Decreto n. 4.857, de 9 de novembro de 1939, art.
227: “Se o teor do registro não exprimir leio de processo contencioso, que será
inscrito”; art. 229: “As utilidades, de pleno no direito, do registro, uma vez provadas,
invalidam-no, independentemente de ação direta”).

3. Juízo COMPETENTE E PROVAS. “A impugnação será corrigida ao juiz por


CAPITULO VIII

meio de petição, instruída com os documentos que tenha o impugnante, o qual indicará
as outras provas consideradas necessárias” <Decreto-lei n. 7.661, art. 88). “Cada
impugnação será autuada em separado, com as duas vias da declaração e os
documentos a elas relativos, para esse fim desentranhados dos autos das declarações
de crédito” (Decreto lei n. 7.661, art. 88, § 1.0). “Terão uma só autuação as diversas
impugnações ao mesmo crédito” (art. 88, § 2.0).
A petição há de satisfazer as exigências do art. 158 do Código de Processo Civil. Há
de ser instruída com os documentos e a indicação das provas necessárias. Não é
verdade que “petição” de impugnação equivalha à defesa do réu, nas ações do
processo civil. O réu é o declarante do crédito, que outro credor ou falido, ou síndico,
se é o caso impugna. credor, que declarou o seu crédito, compareceu atendendo ~o
convite. O falido, o síndico, o outro credor ou o próprio órgão do Ministério Público
impugna a declaração de crédito. L finalidade, que é a inclusão do crédito, foi
previamente estabelecida pelo juízo, por seu órgão: o síndico. As interpretações de
juristas estrangeiros e de juristas brasileiros que os imitam Como devem ser repelidas.
A desistência da impugnação é desistência de ação. Toda-‘ia, ainda que os outros
credores, sócios ou acionistas, não hajam impugnado o crédito, pela igualdade de
posição em que, segundo os princípios, se achavam, podem prosseguir na ação
incidente de impugnação. O fato de poder o juiz, de oficio, decidir contra o crédito
impugnado pelo desistente, não afasta que se reconheça aos outros credores a
pretensão ao pressentimento e, portanto, ao recurso, se o juiz julga a desistência decide
contra a impugnação que havia.
No direito brasileiro, a impugnação por uma pessoa aproveita a todos os credores.
Escoado o prazo para as impugnações, começa o prazo para as contestações pelos
credores cujos créditos foram impugnados.
Isso o credor cujo crédito foi impugnado fica privado de contestar a impugnação, pois
essa se fez de todos.
“Decorridos os cinco dias marcados no art. 87, os credores impugnados terão o prazo
de três dias para contestar a impugnação, juntando os documentos que tiverem e
indicando outros meios de prova que reputem necessários” (Decreto-lei n. 7.661, art.
90).
“Findo o prazo do artigo anterior, será imediatamente aberta vista ao representante do
Ministério Público, dos autos das declarações de crédito e das impugnações, para que,
no prazo de cinco dias, dê o seu parecer” (Decreto-lei n. 7.661, art. 91>.
À contestação junta o credor os documentos necessários e indica os meios de prova.
Também o órgão do Ministério Público pode impugnar e tudo se passa, com ele, como
a respeito do falido, do síndico e dos credores.
“Para desistir da impugnação, o impugnante deverá pagar as custas e despesas devidas.
Não havendo outros impugnantes, o escrivão fará publicar, por conta do desistente,
aviso aos interessados, de que, no prazo de cinco dias, poderão prosseguir na
impugnação” (Decreto-lei n. 7.661, art. 89>. Percebe-se o principio da eficácia da
impugnação para todos os credores declarantes. As custas e despesas, daí em diante,
correm por conta dos que quiserem prosseguir, ou recorrem do julgado, sem terem
requerido o prosseguimento.
A desistência pelo impugnante dá margem a que os outros credores, a que a lei
estendeu a eficácia da impugnação, mesmo depois de homologada, ou mesmo que,
com a inércia desses, se homologue a desistência (Código de Processo Civil, art. 206),
prossigam.
Três pontos têm de ser considerados:
a) Se nenhum credor quis prosseguir, o juiz pode, de of 1-cio, julgar a impugnação,
desde que o faça antes de expirar o prazo do art. 89 do Decreto-lei n. 7.661.
b> Se o falido, o síndico ou o órgão do Ministério Público não impugnara, não lhe é
vedado prosseguir na impugnação, a despeito da homologação da desistência do
impugnante e da
Se há prosseguimento pelo falido, pelo síndico, ou por ou alguns credores, quem não
CAPITULO VIII

se manifestou no sentido 3seguimento pode recorrer da decisão que julgou impôs


impugnação. A razão disso está em que, qualquer que pessoa que prosseguiu na
impugnação de que o impugdesistira, o principio da eficácia da impugnação contra ‘a
credores continua de incidir.
Ainda é de observar-se que, homologada a desistência, não está privado de julgar a
impugnação, se o faz no do art. 89. lei falencial não disse qual o momento em que se
há de chegar o pedido de desistência. No direito processual branão há desistência sem
homologação. Ou a homologação deixaria de fazer após a desistência e antes da
própria publico aviso aos interessados, a que se refere o art. 89, ou expiração do prazo
que esses interessados têm para argüir, ou abster-se de manifestação a respeito. A
soluções consentânea com a unilateralidade do ato de desistir é a homologação antes
da própria publicação do aviso interessados. Interessados, aí, são os credores, o falido,
D do Ministério Público e pela possibilidade de julgar pelo juiz.
Desse julgamento, pode o juiz determinar as provas quer convenientes e, se for o
caso, nomear perito.

§ 3.402. Conclusão e deveres do juiz

CONCLUSÃO DO JUIZ. Ao receber os autos, o escrivão imediatamente fazê-los


conclusos ao juiz (Decreto-lei 1, art. 92). conveniente que o escrivão faça constar a
hora em que teu e os minutos depois em que foi lançada e assinada usão. Qualquer
interessado pode pedir certidão da hora a os autos voltaram ao cartório, o momento em
que foi la a conclusão e o em que foram entregues ao juiz.

DEVERES DO JUIZ. “Voltando os autos”, diz o ad. 92 Decreto-lei n. 7.661, “o


escrivão os fará imediatamente os ao juiz, que, no prazo de cinco dias: 1, julgará os
pelas partes, mencionando, de cada crédito, o valor e classificação; II, proferirá, em
cada uma das restantes impugnações, despacho em que: a) designará audiência de
verificação de crédito, a ser realizada dentro dos vinte dias seguintes, que não poderão
ser ultrapassados, determinando, se houver necessidade, expediente extraordinário
para a sua realização; b) deferirá, ou não, as provas indicadas, determinando, de oficio,
as que entender convenientes e nomeando perito, se for o caso”. O art. 93: “Nomeado
perito, os interessados, no prazo de três dias, poderio apresentar, em cartório, seus
quesitos”. E o ad. 93, parágrafo único: “O perito deverá apresentar o laudo, em
cartório, até cinco dias antes da data marcada para a audiência”.
O ad. 92, 1, do Decreto-lei n. 7.661 permite ao juiz admitir os créditos não
impugnados, sem que isso o dispense de observar o art. 280 do Código de Processo
Civil. Nem o ad. 181 da lei processual civil exime o juiz de tal observância (4,8
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 2 de março de 1951, R. de D.
M., 1, 553, e A. 3., 99, 316).
O fato de não ter sido impugnado o crédito de modo nenhum lhe confere qualidade à
parte. É crédito declarado como qualquer outro. Não pende de julgamento do que
alegou o falido, o síndico, o órgão do Ministério Público, mas pende do julgamento de
ofício, o que faz idênticas a situação do credor com crédito impugnado e a do credor
com crédito não impugnado. A mesma é a situação do credor com crédito que fora
impugnado, mas sobreveio homologação da desistência pelo impugnante e ainda
nenhum dos interessados entendeu prosseguir: porque também esse pende de
julgamento de ofício, enquanto não se esgota o prazo para os interessados
prosseguirem.
Quanto aos créditos impugnados, ou ele reputa suficientemente provada a
impugnação, ou não a reputa. Se a tem por suficientemente provada, julga inadmitido
o crédito. Não pode, de modo nenhum, ficar a meio-caminho: nem julgar procedente a
impugnação, nem designar a audiência de verificação de crédito (Decreto-lei n. 92, II),
deferindo, ou não, a produza provas. De modo nenhum, pode “remeter o impugnado
[tear o crédito” como credor retardatário (Decreto-lei 51, art. 98), porque seria não o
CAPITULO VIII

admitir à falência (2.8 Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, 18 de


1916, R. de D., 41, 418), salvo se ocorreu que a dela de crédito foi tardia.

AUDIÊNCIA DE VERIFICAÇÃO DE CRÉDITO. Lê-se no 5 do Decreto-lei n.


7.661: “A audiência de verificação dito será iniciada pela realização das provas
determina que obedecerão à seguinte ordem: depoimento do imn~ e do impugnado,
declarações do falido e inquirição testemunhas”. No § 1.0: “Terminadas as provas, o
juiz dará palavra, sucessivamente, ao impugnante, ao impugnado e ao representante do
Ministério Público, se presente, pelo prazo minutos improrrogáveis para cada um, e
em seguida irá sentença”. No § 29: “A ausência de qualquer das ou dos seus
procuradores, do falido, de testemunhas ou restante do Ministério Público, não
impedirá o juiz de ir a sentença”. No art. 49: “A ata, assinada pelo juiz escrivão e, se
presentes, pelos procuradores e pelo representante do Ministério Público, será junta
aos autos da intimação, acompanhada dos depoimentos, assinados pelo juiz, lo e
depoentes”.

PROVAS. A prova documental exerce grande papel Lbilitações de crédito. Quem


declara crédito e quem imjuntam, de regra, documentos, perito é de nomeação do juiz
e não conforme o Código Processo Civil, art. 129. Se o laudo não for apresentado lias
antes da audiência, adia-se a audiência de verifica.
f. Código de Processo Civil, art. 257, § 2.0). O juiz não rito ao laudo e pode
determinar nova perícia (Código cesso Civil, art. 258).
s partes falido, síndico, credores, órgão do Ministério D ou seus representantes têm
de ser intimadas por de justiça ou pelo escrivão (Decreto-lei n. 7.661, art. 206). debate
oral inicia-se, terminadas as provas, observado go de Processo Civil, arts. 106, 269 e
270.
O juiz, aberta a audiência, determinará a ordem em que se julgarão os processos de
impugnação.
Ao falido pode ser aplicada a pena de confesso (Código de Processo Civil, art. 229, §
2.0). No direito brasileiro, a confissão, pela não comparência ou pela recusa do
comparecente a depor, apenas estabelece presunção juris tantiem, de modo que o
argumento de, com isso, prejudicar o falido os outros credores, é de repelir-se. Certo,
OTÁvIO MENDES (Falências e Concordatas, 196); sem razão, TRAJANO DE
MIRANDA VAI,VERDE (Comentários á Lei de FaUrwias, II, 44).
O art. 95, § 29, tem de ser entendido de jeito que se não choque com os princípios.
Seria absurdo, por exemplo, que se proferisse a sentença, se, estando doente o falido,
deixasse de comparecer para depor, tendo requerido, fundamentada-mente e com a
devida instrução (Código de Processo Civil, art. 38), o adiamento; ou se o advogado,
por motivo provado de força maior, deixasse de comparecer (Código de Processo
Civil, art. 266, parágrafo único); ou se a testemunha justificadamente não pudesse
comparecer (Código de Processo Civil, art. 38>.
Se ocorre a falta de comparencia de pessoa que há de prestar depoimento como parte,
ou como advogado, ou como testemunha, por decisão do juiz, marca-se outra
audiência para esse caso, sem prejuízo dos demais depoimentos.
A aplicação da pena de confesso somente pode ser feita se não há base para se aplicar
o art. 88 do Código de Processo Civil.

§ 3.403. Sentença de admissão e sentença de não admissão

1.PROFERIMENTO DA SENTENÇA. As decisões são em cada processo de


declaração de crédito e de impugnação. O juiz dita a sentença, de que o escrivão lavra
a ata. A cada ata acompanham os depoimentos das partes e das testemunhas.
A sentença há de ter os requisitos dos arte. 280-283 do Código de Processo Civil.
Se o juiz julga desfavoravelmente ao declarante do crédito em preliminar (questão de
processo), o provimento do recurso obriga o juiz a julgar o mérito. Não se trata de
CAPITULO VIII

credor retardatário, mas de credor para o qual foi injusto o juiz a sentença não admitiu,
ou que o tribunal do recurso decidiu não fosse admitido, o fato de somente muito mais
tarde ter-se admitido o credor em recurso, ou em decisão em recurso que reformou a
anterior. A reserva do que possa caber aos credores, em tais situações, provê ao
respeito da par condicio creditorum, ou dos privilégios, ou das garantias reais, nas
espécies em que não há trânsito em julgado a tempo de se iniciar a liquidação do
passivo.
Se o juiz admite o crédito no concurso de credores falencial, ou o admite em toda a sua
extensão, ou só em parte, ou em toda importância ou em menor importância, ou sem
privilégio especial ou geral, ou somente como quirografário.
O juiz pode, de oficio, negar admissão ao crédito, se a matéria é de apreciabilidade de
ofício; aliter, se o não é(e. g., em se tratando de prescrição>. O fato de o Decreto-lei n.
7.661, art. 92, 1, determinar que o juiz julgue “os créditos não impugnados” de modo
nenhum permite ao juiz julgar, de oficio, se a matéria não o permite.
A propósito da prescrição cabe aqui pequena advertência. O juiz não pode julga.~, de
ofício, que a abertura da falência está afastada por se achar prescrita a pretensão
constante do titulo (Decreto-lei n. 7.661, art. 49 II): nem de ofício deixar de admitir o
crédito.
“A ata, assinada pelo juiz e pelo escrivão e, se presentes, pelos procuradores e pelo
representante do Ministério Público, será junta aos autos da impugnação,
acompanhada dos depoimentos, assinados pelo juiz, escrivão e depoentes” (Decreto-lei
n. 7.661, art. 95, § 4.0)•
“Se não for interposto recurso da decisão do juiz, na impugnação de crédito”, há o
trânsito em julgado, e “os respectivos autos serão apensados aos das declarações de
crédito” (Decreto-lei n. 7.661, art. 97, § 2.0).
O credor somente passa a ter o seu lugar na relação jurídica processual executiva da
falência depois de começar a eficácia da sentença favorável a ele. Antes disso, é
simples convidado a declarar o seu crédito. Declarando-o, expõe-se a que seja
impugnado o seu crédito, ou a que, não tendo sido impugnado, o juiz, de oficio, o não
admita; portanto, a que não entre
de crédito, nasce-lhe a qualidade para impugnar os outros créditos. Essa qualidade
somente cessa com o trânsito em julgado da sentença que o não admita. Todavia, a
eficácia imediata dessa sentença (pois o recurso contra ela não tem efeito suspensivo)
é ex nune, e não ex time. A declaração do crédito, com os seus efeitos lá continua, o
que não se produz é a admissão: se o recurso não é provido, terminam todos os efeitos
da declaração de crédito, que foi atendimento a convite; com o não-provimento,
extinguem-se os próprios efeitos da declaração de crédito. Assim, enquanto não se
julga o recurso do credor que declarou o seu crédito, impugnou crédito de outrem ou
créditos de outros declarantes e teve sentença favorável à impugnação do réu, não
acaba a sua legitimidade processual para defender a impugnação ou as impugnações
que fez, como tem a legitimidade processual para se defender, na vida recursal, contra
as impugnações dos outros credores. Ao transitar em julgado a sentença que o não
admitiu, então sim, os efeitos da declaração de crédito, que foi ato processual de
comparência desaparecem.
A inserção na relação jurídica processual executiva só se dá com a eficácia da
sentença, que, favorável ao credor, só a reforma da decisão no agravo de petição, ou
outra sentença, em grau de recurso, transita em julgado, pode desfazer. Se a decisão foi
desfavorável, só a reforma dela, no procedimento do agravo de petição, ou a sentença
da superior instância, que julgue pelo provimento do recurso, pode determinar inserção
do credor na relação jurídica processual executiva. Antes de decisão favorável ao
credor, não bá a qualidade de exeqüente, que é comum aos credores concursais
habilitados por sentença <cf. 2.~ Câmara da Corte de Apelação do Distrito Federal, 3
de dezembro de 1918, E. de D., 51, 176).
Algumas questões processuais surgem. Se a sentença foi de não-admissão, o recurso
não tem efeito suspensivo, diz-se; em verdade, ainda que o efeito fosse suspensivo,
CAPITULO VIII

não aproveitaria ao credor a que se negou a entrada na relação jurídica processual de


execução. Quando a decisão favorável seria executiva (toda decisão de inserção em
relação jurídica processual executiva é), a decisão desfavorável nada cria. da se
constitui. Por isso mesmo, é indiferente que o recurso tenha efeito suspensivo, ou não
no tenha. Não há falar, nunca, suspensão do nada. Se o pedido foi de desconstituição
decisão constitutiva negativa>, ou de não admissão em execução forçada, dá-se o
mesmo: o que era continua de ser; nada suspende, porque nada se fez
Quanto à sentença que admite o credor no concurso de credores, então a negação ao
efeito suspensivo do recurso tem sentido; porque se atribui eficácia, desde logo, à
decisão.
No plano ou nos planos recursais (agravo de petição, embargos de nulidade e
infringentes do julgado, revista, recurso extraordinário), a reforma da decisão
desfavorável, no julgamento do agravo de petição, insere na relação jurídica
processual o credor impugnado que fora, na primeira instância, emitido, uma vez que
os embargos de nulidade e infringentes julgado, a revista e o recurso extraordinário
não têm efeito suspensivo. A reforma, em grau de recurso, da sentença favorável,
mtoda a situação do credor a que fora negada a admissão: decisão em grau de agravo
de petição, que a dê, insere-o na relação jurídica processual, ainda que sobrevenha
interposição recurso de revista ou de recurso extraordinário; a decisão e, em grau de
revista, admita o credor, que não no fora em ou de agravo, nem antes, tem o efeito de
incluir entre os adores o que não fora admitido, a despeito da interposição recurso
extraordinário.
A ação de impugnação de crédito tem por fim evitar que inclua o crédito, isto é, que se
dê entrada ao credor na relação de credores, que é descrição da relação jurídica proces
aí da execução forçada celetiva.
A entrada, que é o que se pede, tanto pode ser afastada: por haver nulidade processual,
b> por neXo haver crédito, o) por não poder figurar em concurso de credores
falencial. proposições da jurisprudência, a respeito de a), são eliptis, porque o
raciocínio há de ser assim: “há prazos preclusivos para as declarações de crédito e o
seu processo, se há nulidade processual, que a tempo não se pode sanar, a sentença o
pode sacrificar o interesse de todos, de modo que se julga do indeferimento do pedido
de admissão, por se não poder
da impugnação’. Ora, alguns acórdãos dizem que, havendo nulidade, julga-se
“procedente a impugnação” (e. g., 2.B Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito
Federal, 19 de maio de 1916, 1?. de D., 41, 596, e 8 de agasto de 1922, 67, 71). A
impugnação pode ser por falta de observância de regra jurídica processual, ou não
caber a entrada no concurso de credores, devido a mérito. Se o juiz a nega, por
infração de regra jurídica processual, ou o faz por ter havido impugnação fundada
nisso, ou de oficio.
O juiz, no julgamento das admissões de crédito, não tem poder discricionário. Há de
decidir justa alie gata et yrobo.ta. Mas tem a função de exame de oficio, que a lei lhe
atribuiu. Se consta dos autos e documentos que o crédito não existe, ou não tem
pretensão ou ação, ou não pode ser atendido em processo falencial, ou outra é a
importância dele, ou outra a sua classe, pode o juiz, de oficio, resolver, como se
impugnação tivesse havido.
A admissão do crédito pode ser no todo ou em parte.
Se o crédito é condicional, a sentença de admissão é com reserva.
O direito falencial brasileiro não permite que se decida com a reserva de se juntar,
depois, o documento, ou de se juntarem os documentos.
Temos, aqui, problema sutil, mas de grande relevância.
O credor que se apresentou, declarando o seu crédito, foi Invitado, de modo que não é
posto fora sem ainda ter transitado em julgado a decisão, e a decisão do juiz, na
impugnação, favorável ao impugnante, não vai retirar o convite, antes de se ter dado a
preclusão processual. O impugnado, que teve decisão contrária ao seu crédito,
continua convtdado, e pode intervir no processo falencial, como se decisão favorável
CAPITULO VIII

ao impugnante não tivesse havido. Só é expulso, digamos assim, com o trânsito em


julgado da decisão que o não admitiu ao concurso de credores falenclal.

2.CARGA DE EFICÁCIA DAS SENTENÇAS. A decisão favorável ao impugnante


é declaratória negativa, e não constitutiva, porque com a impugnação apenas se pediu
que se não incluísse o crédito, ou que a inclusão só se desse até determinada quantia, a
do seu crédito.
A decisão desfavorável ao impugnante e, pois, favorável ao credor, se é certo que
declara ter o crédito os pressupostos, para a sua admissão no concurso de credores
falencial, tem força executiva, porquanto é ingresso em execução forçada ser admitido
em concurso de credores.
Portanto, a carga de eficácia da sentença favorável ao declarante do crédito é a
seguinte:
A sentença que decreta abertura da falência é sentença constitutiva executiva. A
sentença de admissão do credor ao concurso de credores tinha de atender a que o
credor que se apresenta já encontra relação jurídica processual executiva, ~ara que fora
convidado.
A liquidação do passivo e a realização do ativo (extração do valor dos bens da massa)
são, em principio, simultâneas, com a exceção eventual da alienação em caso de fácil
deterioração , ou de se não poder guardar o bem, sem risco ou grande despesa
(Decreto-lei n. 7.661, art. 73). Todavia, pode acabar mia antes da outra Liquida-se o
passivo, para se saber o que 1 que se vai distribuir e para se saber como se há de
proceder à divisão.
Uma das operações iniciais é a de se eliminar do arrecadado o que é bem de terceiro.
Outra, atender-se à existência de direitos de terceiros, que excluem ou limitam os
direitos do falido.
As ações para se exigir isso, ou aquilo, exercem-se ao mesmo tempo que se procede à
verificação e à liquidação dos créditos.
Numa e noutra atividade, o juiz exerce função executiva »r forçamento, não se
podendo pensar, de modo nenhum, em remuneração administrativa, com atos judiciais
de cognição, instrui lo e julgamento, ou de instrução, cognição e julgamento. ~.inda
quando se pronuncia sobre existência, importância
Trata-se de procedimento jurisdicional executivo, e não jurisdicional declarativo, posto
que, como a respeito de tantas ações, haja a declaração ou as declarações em resposta a
questóes prévias. Nem caberia dizer-se que, não se exigindo, em todos os casos, &
liquidez do titulo para se abrir a falência, não se possa conceber a fase entre a
decretação da falência e a admissão dos credores, exclusive, como de execução
forçada.
O que surpreende, à primeira vista, aos que não lidam com os problemas de
sistemática do direito falencial, é ser o credor, e não o devedor, que se opõe, ser o
credor, e não o devedor, que tem e exerce a ação de impugnação. Todavia, é inegável
que, tanto na ação executiva por titulo extrai judicial como na impugnação incidental
de crédito, a sentença há de ser executiva, ali contra o réu condenado, aqui, contra o
falido. Na ação executiva por título extrajudicial, quem contesta é o devedor. Na ação
executiva concursal, são o falido, os outros credores, o síndico e o órgão do
Ministério Público. Na ação declaratória de existência de crédito (Código de Processo
Civil, art. 2.0, parágrafo único), a contestação é somente do devedor, como, na ação
declaratória de crédito, somente o credor. A redução da sentença de admissão do
credor na falência a sentença declaratória, a despeito da persistência de alguns juristas
em afirmar que a sentença é (de f Orça) declaratória, tem de ser repelida.
A carga de declaratividade preponderante, que não fosse seguida de eficácia imediata
de executividade, não daria explicação à entrada do credor na relação jurídica
processual falencial; mas faltaria a eficácia condenatória, que, na verdade, está à base
da executividade, assim nas ações executivas de títulos judiciais e de títulos
extrajudiciais, na execução forçada singular, como na ação executiva falencial. Não se
CAPITULO VIII

pode esquecer a condenatoriedade, para se exagerar o papel da declaratividade; a


fortior4, considerar-se eficácia mediata, ou mesmo imediata, a executividade. Por isso,
a ordem é outra: executividade, condenatoriedade, executividade.
Se tivéssemos de abstrair e pudéssemos abstrair do que já foi feito, da execução para
que houve o convite, poder-se-ia pensar em condenatoriedade declaratoriedade
executividade; porém a abstração é impossível. Houve o convite, quando já se
estabelecera a executividade imediata.
O credor que faz a declaração de crédito, mesmo que penda recurso da decisão que
versou, favorável ou desfavorável-mente, sobre a admissão do credor ao concurso de
credores falencial, está convidado e tem todas as legitimações de que fala o Decreto-
lei n. 7.661, art. 30 (intervir como assistentes em quaisquer ações ou incidentes em que
a massa seja parte ou interessada; fiscalizar a administração da massa, requerer e
promover no processo da falência o que for a bem dos interesses dos credores e da
execução da lei falencial, indenizando-lhe a massa as despesas de que auferir
vantagem; examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis do falido e da administração
da massa, independentemente de autorização do juiz), irts. 52 (ação de ineficácia
relativa) e 53 (ação revocatória falencial).
3.COISA JULGADA FORMAL E MATERIAL. Levanta-se questão de se saber se a
sentença que julga pedido de admissão do crédito> admitindo-o, ou não, faz coisa
julgada.
Quanto à coisa julgada formal, é evidente que ela a tem, porque não seria permitido
rediscutir-se a entrada, ou não, do crédito nas classes do passivo falencial
Conseqüência de ter decisão eficácia de coisa julgada formal está em que: não se ode
mais atacar a decisão se dela não mais cabe recurso; e se descobre falsidade, dolo,
simulação, Erro essencial de ato ou documento ignorado ao tempo do julgamento do
crédito ‘Decreto-lei n. 7.661, art. 99), a lei apenas permitiu espécie [e ação rescisória
de sentença; e é admissível a ação resciária de sentença regulada, em geral, nos arts.
798-801 do ~6digo de Processo Civil.
(A respeito do recurso extraordinário ou do recurso de revista, enquanto ele cabe e é
interposto isto é, se, inter posto, o tribunal competente dOte conhece, embora lhe
negue movimento, pessoas pouco informadas de direito processual ivil andaram
afirmando que a interposição dele não obsta ao trânsito em julgado. Com a
interposição do recurso extraordinário, paira a dúvida quanto ao trânsito em julgado da
sentença. O legislador constituinte falou em única ou última instância; o legislador
ordinário, em não haver outro recurso ordinário que se haja de interpor, uma vez que
aludiu a interponibilidade simultânea do recurso de revista e do recurso extraordinário.
Não se sabe, ao certo, se transitou, ou não, em julgado a decisão de que se interpôs o
recurso extraordinário, O símile da revista é também expressivo. Mas essa incerteza
ocorre, quase por igual, com os outros recursos, enquanto não se. decide sobre o
conhecimento do recurso. Veja Comentários ao Código de Processo Civil, XII, nota
11) ao art. 869.)
Absurda a decisão da 4,8 Câmara Civil da Corte de Apela$o de são Paulo, a 3 de
março de 1937 (R. dos T., 103, 599>, que tirou do fato de ser rescindível a sentença,
nas admissões de créditos, não ter eficácia de coisa julgada formal.
O conceito de rescisão de sentença contêm em si a alusão à coisa julgada formal. Se
coisa julgada formal não existisse. não seria de rescisão de sentença que teria de
cogitar a técnica legislativa, mas sim de revogação. Enquanto não transita em julgado,
formalmente, qualquer sentença, a prestação jurisdicional ainda não foi entregue. Em
conseqüência, a voz do Estado, através do juiz pode ser retirada (revocatio).
Definitivamente entregue, não. O que se pode permitir é romper-se a sentença, cindir-
se, para se ir mtodar o seu conteúdo. Sentença fez, sentença desfaz, cindindo. (Muito
diferente é desfazer, decretando nulidade de sentença: desconstitui-se sem se cindir.)
Quanto à coisa julgada material, a carga de eficácia declaratória que tem a sentença de
admissão, ou de não-admissão do crédito, fala por si. A propósito do falido, ele é parte.
Quanto aos credores que tomaram a posição de declarantes de crédito, tendo, ou não,
CAPITULO VIII

impugnado o crédito a respeito de cuja decisão se pergunta perante quem tem eficácia
de coisa julgada material, a resposta também há de ser afirmativa, porque, hajam ou
não impugnado o crédito, foram partes uma vez que a impugnação por um aproveita a
todos, e ainda se tal principio não houvesse, por ter havido, contra os não-impugnam
preclusão para se manifestarem contra o crédito e toda eficácia da sentença os apanha.
Na técnica legislativa há duas atitudes possíveis: a) a de terem como admitidos todos
os créditos declarados e uso pugnadOs. sem que o juiz os possa afastar, salvo se, de
oficio, outro juízo, não concursal, se pudesse declarar a inexistência decretar a
invalidado (e tivemos, ao tempo da Lei n. 2.024, 17 de dezembro de 1908, tal solução,
que afastamos com Decreto-lei n. 7.661) ; b) a de ter o juiz de julgar os créditos, 35m0
se não houve qualquer impugnacao . Se a), a lei estabeleceu preclusão para se alegar
contra o crédito declarado,semelhança das espécies em que se tem como concordante o
doador que não impura (Qui tacet quum loqui et debzdt nsentire videtur, cf. Tomos
111, §§ 222, 2, 226, 1, III, § 249, 2>: o dever de falar. Se b>, o credor, que fala, fala
por todos, juiz tem de julgar os créditos não impugnados porque a lei atribui julgar de
oficio, como se tivesse havido impugnação todos os créditos.
A inclusão no quadro geral de credores é a força executiva decisão que admite o
crédito. (1 elemento condenatório. te é este, permite tal inclusão, que é efeito •****,
executivo, decisão; e, fora do processo falencial, a executabilidade do crédito,
mediante simples certidão da inclusão do Decreto na falência. CI. Decreto-lei n. 7.661,
art. 133: “E titulo bil, para execução do saldo (art. 33>, certidão de que conste rtuafltia
por que foi admitido O credor e por que causa, quanto LgoU a mM58 em rateio e
quanto ficou o falido a dever-lhe data do encerramento da falência”. A decisão, ai, é
conde~tória~eXecutiVa o que se recebe em rateio é por execução for-da que se
ultimou, e o que resta corresponde à condenação por crédito ainda não satisfeito, de
modo• que continua a eficácia executiva quanto ao que o falido ficou a dever flO
momento se encerrar a falência. O ad. 133 é contundente, para ser explicito, mas
bastaria ter-se dito que pelo saldo tem o credor ação executiva.
É aqui o lugar próprio, mais do que a propósito do pagamento aos credores da falência,
para bem caracterizarmos natureza do titulo executivo, que é a certidão do saldo.
decisão, a respeito da admissão em concurso é executiva.. Mas essa executividade é
Joutro ao oww’.’ de credores. Fora do concurso de credores, a certidão só se refere ao
que não pôde ser executado de modo quê, com o titulo administrativo quanto ao saldo,
que é titulo inserto na certidão, o credor tem titulo executivo de cognição plena, titulo
de execução sentencial, e nua simples titulo executivo extrai cautela.
Convém quê se frise: quanto ao ativo falenclal. à massa objetiva, a executividade da
falência que admite 80 constituicao de credores é ~ * Sê; quanto ao ativo pós
falêncial, não: a certidão (dela, implititamente) e do quanto que teria de ser pago ao
credor e não doí é titulo executivo judicial preclui que o credor pode iniciar a ação
executiva a qualquer tempo. se ainda existe e é eficaz o crédito.
No direito falenclal brasileiro vigente, tem o juiz de julgar, explicitamente cada
crédito, embora não tenha havido impugnação. Não se pode dizer que, no direito
falencial anterior, file não os julgara. Se o seu julgamento explícito dos outros créditos
implicava a inclusão dos créditos não impugnados, se o simples “inclua-se”, não tem
importância. O “inclua-se” implícito ou explicito com fundamento de declaração e de
condenado, ou sem files era ato de execução forçada, liiB5V~ ~ do credor na relação
jurídica processual da falência. Quanto à força e eficácia tudo se passava como
estabelece passa.
4.EFICÁCIA DE COISA JULGADA MATERIAL DO PROCESSO DA
FALÊNCIA APÓS O ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA A eficácia da decisão é
definitiva, com as conseqüências da coisa julgada material e não do interior ao
procedimento falencial. Por isso mesmo, se houve decisão que admitiu o crédito, as
vias que tem o síndico, o falido, outro credor ou o Orgia do Ministério Público é a da
eficácia falencial conforme o ad. 99 do Decreto-lei ,. 7.661, se ainda não encerrada a
CAPITULO VIII

falência, ou a ação rescilita de sentença, conforme os arte. 798, 799 e 801 do Código
de Processo Civil. Essa pode ser proposta antas de encenada a falência. OU depois de
encenada a falência.*preciso que não se repita o que se escreveu em direito de outros
Estados, sobre não fazei coisa julgada contra o falido o que se decide em impugnação
do crédito do credor declarante por outro credor, ou pelo síndico (e. g.’ G.
BOT4ULIÃI, Dei Fallt ou tem parte. Quem seja sujeito da relação jurídica processual
a falência e quem seja chamado ou convidado a ela são trata-os como partes, porque
ser parte na preparação para entrada i relação jurídica processual da falência já é estar
na situação de parte da execução forçada, se a sentença o incluiu. sentença cria o
titulo executivo celetivo, ou celetiviza o título executivo existente ( dá entrada no
concurso de credores lenda! ao credor com titulo executivo), O titulo executivo para a
execução forçada celetiva e, se não houve pagamento integral, para a execução forçada
celetiva, após o encerramento da falência. Sem razão, E. T. LIEBMANN (La
Contestaone dei crediti nel faílimento, Studi di dirítto commerciale onore di CESARE
VIVANTE, 1, 216), E. Aiioaío (La Cosa giucata rspetto ai terzi, 186) e V. ANDRIOLI
(Appunti sul giudidi verificazione dei crediti nel faílimento, Studi in memotía B.
SCORZA, 9). Não se precisa, a respeito do falido, invocar, para explicação da eficácia
em relação ao falido, haver substituição” do falido pelo síndico: aí, não há qualquer
substituição; o falido informa sobre os créditos (Decreto-lei 7.661, arts. 84 e §§ 1.0 e
2.0, e 85), pode estar presente audiência e prestar declarações (art. 95 e § 2.0), e tem
pretensão recursal a favor ou contra as decisões (art. 97).
A eficácia da decisão, no caso do art. 133 do Decreto-lei 7.661, existe, mesmo que se
venha a reformar, na superior instância, ou em ação rescisória de sentença (Código de
Processo Civil, arts. 798, 799 e 801), a sentença decretatória da falência. O falido é
parte no processo de verificação dos crêlos: não se justificaria, assim em direito
brasileiro como em direito italiano, que a sentença não lhe fosse disponível no
processo da falência e fora dele (cf. RENZO PROvINCIALE, Manuale Diritto
failimentare, 446). Com a sua legitimação a impugnar, o falido tem de sofrer as
conseqüências de haver impugnação crédito, ou de se ter abstido de impugnação, e
não importa se tais conseqüências são no processo falencial ou noutro acesso, durante
ele ou no tempo posterior (cf. 5. SAnA, ituzioni di Diritto failimentare, 3~8 ed., 225 s.;
sem razao, BONELLI, Dei Failimento, ~ 3.~ ed., 257). O processo da falência oferece
maiores cuidados à verificação dos créditos outros credores, órgão do Ministério
Público. j Por que se haveria de limitar, no tempo, a eficácia de coisa julgada material
da sentença a favor do credor declarante? Ai está a ramo legis do art. 183 do Decreto-
lei n. 7.661.
Na jurisprudência, houve acórdãos que negaram a coisa julgada material das decisões
favoráveis aos impugnantes ( negada a admissão ao concurso de credores falencial,
poderia ser proposta, no juízo comum, a ação de condenação ou a executiva, se fosse o
caso). Haveria, apenas, coisa julgada formal. Por exemplo: Tribunal de Justiça de São
Paulo, 6 e 18 de julho de 1914 (R. dos T., 10, 213 s.), 17 de setembro de 1914 (11, 151
5.) e 2 de março de 1916 (17, 159 s.). Nenhuma razão assiste a tais julgados. A
fortiori, àqueles que negam a própria coisa julgada formal da decisão desfavorável,
quanto à ação proposta pelo credor retardatário.
3.1. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial, VIII, 149 s.)
entendia que o credor definitivamente excluído da falência poderia, advindo
concordata suspensiva, ou depois de encerrada a falência, propor ação, no juízo
comum, contra o falido. Mas L não admitido por quê? Tem-se de distinguir a não-
admissão por falta de pressuposto ligado ao processo a não-admissão e por decisia
sobre o mérito.
Porém é preciso que se atenda a que a não-admissão por ineficácia relativa (Decreto-
lei n. 7.661, art. 52) de modo nenhum tem eficácia de coisa julgada material para não
mais ser cobrado o crédito, fora do juiz o falerwial.
O art. 52 do Decreto-lei n. 7.661 foi explícito em referir-se somente à massa objetiva,
ao ativo falencial (verbis “relativamente à massa”). Bem assim, o art. 53 (verbi.s
CAPITULO VIII

“relativamente à massa”). Não é o mesmo decidir-se que o crédito não existe, ou está
prescrita a pretensão, e decidir-se que é ineficaz, relativamente à massa, qualquer dos
atos referidos no art. 52, ou no art. 53.
Em todo caso, a propósito do art. 53, algumas vezes a sentença pode a despeito da
diferença entre a eficácia sentencia! nas ações do art. 53, a respeito dos credores
(massa subjetiva) e a eficácia sentencial da ação dos arta. 106 e 107 do Código Civil,
que é desconstitutiva do negócio jurídico perfazer declarantes da falência encenada?
Por exemplo: a) O credor teve atacado o seu crédito, pela infração que se menciona no
art. 52, VIII. Pode o credor ir, depois, contra o falido? Sim. Não se desconstituiu o
negócio jurídico da venda ou estabelecimento comercial ou industrial do que veio a ser
julgado falido; apenas se lhe declarou ineficácia relativamente à massa.
b) O crédito foi atacado ação revocatória falencial. ~ Pode o credor ir, depois, contra o
falido? Sim. A ação fora de terceiro e a eficácia sentencial só é relativa à massa.
Quanto a coisa julgada material da decisão que admite o crédito e da decisão que o não
admite, há confusões lamentáveis nos juristas estrangeiros e nacionais. A resposta
afirmativa, a prfori, que é a mais freqüente, parte da suposição de que todas as
decisões favoráveis ao declarante de crédito sejam de eficácia declaratória suficiente, e
que também o sejam as decisões desfavoráveis. A resposta negativa assenta em que a
admissão à falência não é mais do que inclusão no quadro dos credores, sem qualquer
repercussão alhures.
Pode ser que a decisão que não admite apenas se cifre a negar a admissão do crédito na
falência, por se tratar, por exemplo, de crédito relativo a consOrte ou benfeitoria em
bem do falido que não era arrecadável pelo síndico, ou em se tratando de crédito fiscal
só referente àquele bem.
A decisão que nega a admissão pode ser desfavorável por fundamento apenas
processual (e. g., falta de poderes ou incapacidade processual do credor): aí, pode o
credor, se ainda é tempo, pedir, de novo, a sua admissão, ou processar o seu pedido,
como credor retardatário, ou em ação em juízo comum, alegando que a decisão não
tem eficácia de coisa formal no tocante ao mérito.
Os credores não admitidos ao concurso de credores falencial tOm, se os pressupostos
se compõem, a ação rescisória de sentenças (Código de Processo Civil, arts. 793, 799
e 801), como a têm os credores admitidos, o síndico ou o falido contra a decido que
admitiu algum credor.

5.QUADRO GERAL DOS CREDORES. O quadro geral dos credores é ato


processual do juiz e do síndico, como órgão da execução forçada. Tem de ser assinado
pelo juiz e pelo síndico.
É ato judicial integrativo da eficácia das sentenças de admissão dos credores
declarantes. A sentença é executiva-condenatória, mas a lei estabeleceu que a eficácia
somente começaria da publicação do quadro geral de credores. Ao síndico é que
incumbe “organizar” o quadro geral de credores, que o juiz examina, conferindo-o
com conclusões das sentenças, e assina, fazendo-o, assim, ato judicial. Com a entrega
do quadro geral de credores em juízo, o síndico pratica o ato processual, de que, como
órgão da execução forçada, está encarregado; mas Orne ato se faz ato do juiz desde
que o juiz e o síndico o assinam.
O síndico pode ter cometido algum Erro. O juiz aponta-o e manda que se proceda à
correção. Resta saber-se se o síndico, não achando que a solução dada pelo juiz seja
fiel ao julgado, pode recusar-se a assinar, ou se pode assinar com ressalva, ou se pode
recorrer. Na organização do quadro geral de credores o síndico é mero instrumento: ao
juiz é que compete interpretar as decisões acolhedoras dos pedidos de admissão. Se o
síndico é credor e interessado em que se corrija o quadro, tem Me corno credor
embargos de declaração e agravo de petição: aqueles e Base oponiveis depois da
publicação do quadro geral de credores. Tem, corno fadico , ambos os recursos.
Está escrito no art. 96 do Decreto-lei n. 7.661: “Na conformidade das decisões do juiz,
o síndico imediatamente organizará o quadro geral dos credores admitidos à falência,
CAPITULO VIII

mencionando as importâncias dos créditos e a sua classificação, na ordem estabelecida


no art. 102 e seu 5 1P’. No art. 96, 5 2.0:
“O quadro, assinado pelo juiz e pelo síndico, será junto aos autos da falência e
publicado no órgão oficial dentro dos cinco dias, contados da data da sentença que
haja ultimado a verificação dos créditos”. Cf. art. 68, XIX.
Há, portanto, duas vias, uma para ser junta aos autos da falência, e outra, para a
publicação no órgão oficial.
A primeira publicação há de ser feita dentro do prazo de cinco dias, contados da data
da sentença. A segunda publicação não tem data determinada, mas é de entender-se
que se deve fazer dentro do prazo dos cinco dias contados da primeira publicação, que
é aquele em que os interessados podem recorrer, O art. 205, § 3P, do Decreto-lei n.
7.661 é invocável.
No ad. 102 e § 1.0 só se fala de créditos (garantidos com eito real, com privilégio
especial, com privilégio geral e quilografários . São créditos, Esses, concorrentes.
Nem encargos da massa, nem as dividas da massa, cujo porte nem sempre se conhece,
se põem no quadro geral dos dores, posto que seja de conveniência aludir-se a Eles e à
sua solução.
A respeito dos credores particulares dos sócios solidários, atuais o ad. 96, § 19: “Os
credores particulares de cada um sócios solidários serão incluídos no quadro, em
seguida aos dores sociais, na mesma ordem”. Os credores solidários dos sócios
ilimitadamente responsáveis figuram no mesmo quadro, .5 após os credores da
sociedade; entre Eles há de ser observado o art. 102 e § 19.
A sorte do quadro geral de credores é a sorte da sentença, !de que essa se tornou
irrecorrível. Não vice-versa. Pode acontecer que se tenham oposto embargos de
declaração, devido nuissão , ambigüidade ou equivocidade de alguma das propões
nele contidas. Esses embargos de declaração se opõem sentença e à sua interpretação,
em quadro geral de credora. suspendem Eles o curso do prazo para a interposição do
agravo de petição a que se refere o art. 97, 5 19. Se opostos tes da primeira publicação,
a melhor atitude do juiz é a de deferir desde logo, ou processá-los para que sejam
julgados n a presteza que a lei exige. Ou o juiz manda proceder-se segunda publicação
ou aguarda o julgamento dos embargos declaração.
Se o juiz reforma o despacho, ou se, na via recursal, se dá movimento ao agravo de
petição, que atingiu a sentença e, pois, quadro, ou só atingiu o quadro, tem de ser feita,
de novo, a publicação, porque esse é que se há de respeitar como quadro. is tal
publicação pode ser apenas em correção ou correções quadro que fora atingido pelo
julgamento do recurso.
6.RECURSO. Lê-se no Decreto-lei n. 7.661, ad. 97: as decisões do juiz, na
verificação dos créditos” portanto, am favoráveis ou sejam desfavoráveis aos credores
declarantes “cabe agravo de petição ao prejudicado, ao síndico, falido e a qualquer
credor, ainda que não tenha sido imaginante”. O 5 19 acrescenta: “O agravo, que não
terá efeito suspensivo, pode ser interposto até cinco dias depois daquele em que for
publicado o quadro geral dos credores, e será processado nos autos da impugnação”.
Em vez de se contar da publicação da sentença o prazo para a interposição do recurso
ou trânsito em julgado, conta-se da publicação do quadro geral de credores. O quadro
geral de credores é ato processual indispensável à eficácia da sentença. Foi isso o que
o Decreto-lei n. 7.661, com o ad. 97, 5 19, estabeleceu: a sentença somente pode
transitar em. julgado cinco dias depois de publicado o quadro geral de credores.
Qualquer admissão com reserva permite recurso pelo credor admitido, ou por outra
qualquer figura da relação jurídica processual ou de credor declarante, que haja sido
admitido, ou que não haja sido admitido mas haja recorrido.
O agravo de petição, na espécie do art. 97 do Decreto-lei n. 7.661, não tem efeito
suspensivo. Em conseqüência , o credor, cujo crédito foi incluído, participa de todos os
atos de que os outros credores, a respeito de cuja sentença de admissão não se
recorreu, podem participar.
O art. 97 fala de “prejudicado”, síndico, falido, ou qualquer credor. Por prejudicado
CAPITULO VIII

entende-se o credor não admitido, ou não admitido como pedira, o credor, cujo crédito,
com a admissão do outro, ou com admissão do outro em determinada classe, foi
atingido, e o terceiro interessado (cf. Tribunal de Apelação de São Paulo, 3 de junho de
1936, .1?. 9., 68, 139), como o co-credor não declarante, o credor com direito de ação
do crédito declarado e os credores pignoratícios dos créditos hipotecários.
Pergunta-se se o credor não admitido pode recorrer quanto à decisão a respeito de
outro credor, que fora admitido. A decisão, dir-se-á, a propósito dEle, tem efeito
imediato (= o agravo não teria efeito suspensivo), de jeito que não teria pretensão
recursal quem não é legitimado à ação, e a lei poderia ter previsto que a decisão teria
efeito imediato, exceto para o recurso contra outras decisões. A argumentação cai por
terra: os efeitos que são negados são os efeitos que teria, dai em diante, a inclusão, não
os efeitos que derivaram da declaração de crédito ou da impugnação. Quem pode
Impugnar pode-o <iates de seu crédito ser admitido; se não se lhe admitiu o credito >
não se vai tratar o credor como credor admitido, porém não cessa o tratamento dele
como credor declarante enquanto não for julgado o seu agravo de petição. Só o
trânsito em julgado da decisão que não admite elimina o que se passou antes da
negação de admissão. Aliás, o que se vai eliminar, no passado, é apenas o que
concerne ao credor definitivamente inadmitido, não o que foi efeito a favor ou contra
os outros credores. Os atos praticados pelo credor declarante, de conformidade com o
art. 30 do Decreto-lei n. 7.661, tiveram eficácia para ele e para os outros credores,
inclusive, por exemplo, se venceu na interposição de recurso contra a admissão ou
classificação de crédito de outro credor, ou se foi vencido. Vindo a ser definitivamente
inadmitido, o que se apaga como se o ato dEle não tivesse sido praticado é a efiedeia
em relaç6~o a ele. Por isso, o julgamento da sua inadmissão não prejudica o recurso
que interpusera quanto a outro credor, ou qualquer intervenção sua em causa em que
seja figurante ou interessada a massa falencial.
Certamente, os credores que foram vencidos (em juízo extrafalencial), quanto à
existência do crédito, não podem impugnar. Mas as impugnações, na falência, são
dentro de prazo unitário e comum. Não há pensar-se em credores não admitidos se
ainda se está no período das impugnações e contestações. Ao ter o juiz de julgar os
créditos, para os admitir, ou não, todas as impugnações já ocorreram, O julgamento,
que os admite, ou que os não admite, não tem de apurar se os impugnantes foram,
depois, incluídos, ou não. Quando impugnaram, ou quando foram beneficiados pelas
impugnações de outrem aos outros créditos eram legitimados e continuam de ser
legitimados enquanto não se lhes retiram os favores legia dos arts. 30 e 87 do Decreto-
lei n. 7.661.
Se houve omissão do nome de algum credor, ou troca de nomes, pode o síndico, ou o
falido, ou outro interessado requerer a retificação e a nova publicação. Contra o credor,
cujo nome foi omitido, ou em lugar de cujo nome o de outrem figura, somente corre o
prazo de cinco dias para o recurso depois da nova publicação. Aliter, quanto aos
outros.
O processo do agravo de petição é o dos arts. 847-850 do Código de Processo Civil.
Se o juiz reforma a sentença, pode recorrer qualquer outro interessado, o síndico, ou o
falido, porque no ponto em que houve a reforma pode ter havido novo gravame. Se a
reforma foi total, o prazo somente começa a correr da publicação da decisão. Os arte.
848, parágrafo único, e 845, 5 79, do Código de Processo Civil são invocáveis pela
pessoa que fora agravada (o impugnante) e por outros quaisquer credores, ou pelo
síndico ou pelo falido.
O recurso é a respeito de cada crédito, separadamente.
Os créditos declarados e não admitidos e os créditos não admitidos são legitimados a
impugnar. (Evite-se falar de créditos excluídos e de créditos admitidos. O não-
admitido é pré excluído. Exclui-se o que estava no lugar, e tem de sair:
seria preciso ter sido admitido para que se pudesse falar de exclusão. O que lá não
estava ou se admite, ou não se admite.) O interEsse está em não ter sido admitido, ou
em só ter sido admitido parcialmente, Inclusive com reserva. Ou em que outrem tenha
CAPITULO VIII

sido admitido, total ou parcialmente.


O credor não admitido, a despeito de não ter efeito suspensivo o recurso, somente
perde a legitimação a recorrer quando transita em julgado a decisão desfavorável a
file; parque então acabou todo o seu interEsse, ai, initio.
O credor retardatário, inclusive o que foi declarante não incluído por defeito de ordem
processual, pode recorrer, propõe a ação do art. 98, porque é “Interessado”.
Se o credor declarante encambulha o pedido na ação de revogação (Decreto-lei n.
7.661, arte. 53-58) com o pedido na ação de impugnação (arte. 86-97), e interpõe
apelação, e não agravo de petição, dentro do prazo para Esse, o que cabe ao tribunal, a
que sobe o recurso de apelação, é julgar titulo o processo da ação de revogação, par
não se ter observado’o rito ordinário, e remeter o processo ao corpo que conhece e
julga os agravos. Não há, ai, o Erro grosseiro de que fala o Código de Processo Civil,
art. 810 (Turma Julgadora da Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará, 8 de
novembro de 1951, 1. e D., V, 137), porque o erro foi na propositura das duas ações e
não praticamente na interposição dos recursos.
A decisão, executiva como é, dá integração aos credores na relação jurídica processual
falenclal. Antes dela, credores periféricas, ou para impugnações ou para defesa de
interesses. O recurso é o de agravo de petição, sem efeito suspensivo; então, o juiz
ainda pode reformar o despacho. Findo o prazo do art. 847 do Código de Processo
Civil, não mais pode o juiz alterar o despacho. O credor entrou ou não entrou na
relação jurídica processual falencial. Ao tribunal é que cabe decidi-lo.
Nunca se há de olvidar que a relação jurídica executiva falencial se formou com a
sentença de decretação de abertura da falência e que os credores foram convidados.
Com a inadmissão, o convite fica sem razão de ser, exatamente porque o comparecente
não estava com os predicados para se reputar incluído na lista dos convidados.
comparecido nem pagou.
7.CUSTAS. O vencido paga as custas, mesmo se venha o falido, mas o vencedor que
não pode receber do falido ação contra ele, no juízo comum, para reembolso do que
Se o recorrente vence em recurso contra decisão de oficio, a massa paga as custas.

8.TÍTULOS E DOCUMENTOS RESTITUÍVEIS. “Os credores admitidos à falência,


por sentença passada em julgado, podem requerer a restituição dos documentos que
instruíram a sua declaração de crédito, nos quais o escrivão certificará o
desentranhamento, mencionando a classificação e o valor com que o crédito foi
admitido” (Decreto-lei n. 7.661, art. 100). “Os documentos que houverem instruído
declarações de crédito impugnadas serão restituídos na forma prevista neste artigo,
mas deles ficará traslado; se a impugnação tiver versado matéria de falsidade julgada
procedente, a restituição dos documentos somente se dará depois de julgada ou
prescrita a ação penal” (art. 100, parágrafo único).
TrAnsita em julgado a sentença que admitiu ou que não admitiu o crédito declarado,
podem os títulos ou os documentos ser restituídos ao declarante, ou a quem o
represente:
a)Se o crédito foi admitido, nele, ou em papel a que nota no titulo ou no documento se
refira, assinada pelo escrivão e da classificação.
b) Se o crédito não foi admitido, ainda que não tenha sido impugnado pelo síndico,
pelo falido, por algum credor ou pelo órgão do Ministério Público (pois tem o juiz
poder de oficio para recusar admissão), e a causa de se não admitir não é crime, os
títulos ou os documentos são restituídos, mas, em lugar deles, fica traslado no cartório.
e) Se o crédito não foi admitido e é crime a causa de não se admitir embora não se
trate de crime de falsidade somente podem ser restituídos os títulos ou documentos
depois de se julgar, favoravelmente ao credor, ou ao falido, ou ao terceiro acusado, ou
ao credor e ao falido, ou ao credor, ao falido e ao terceiro, a ação penal, ou depois de
ter sido julgada presalta.
Se foi proposta ação rescisória falencial (Decreto-lei n. 7.661, art. 99) e houve
exclusão do crédito, ou alteração na sentença que o admitira, tem o escrivão de
CAPITULO VIII

certificar nos autos da declaração do crédito o que transitou em julgado, de modo que,
ao ter de certificar no titulo ou nos documentos a serem restituídos o
desentranhamento, a classificação e o valor do crédito, a certidão se refira à decisão na
ação rescisôria fhlencial.
Se, na ação rescisória falencial, o fundamento para a exclusão ou alteração foi ter
havido algum ato que ao juiz pareça constituir crime, tem file, por interpretação
analógica do art. 100, parágrafo único, 2.B parte, e por principio geral de direito
processual, de negar a restituição, até que se julgue, com absolvição, ou como
prescrita a ação penal.
As rationes Zegis do art. 100 e parágrafo único estão em só se abrir mão da
documentação autêntica quando não haja probabilidade de ser necessária à instrução
de ação penal. A ratio legis do art. 101 está em que a própria decisão do juiz ou
tribunal contém proposição que interessa à justiça penal, e dela e das provas em que se
baseou a decisão do juízo falencial, em primeira ou superior instância, precisa o órgão
do Ministério Público para o exercício das suas funções.
A providência que há de tomar o juiz ou o tribunal é Independente de ser recorrível ou
Irrecorrivel a sua decisão, ou decisão que reforme a decisão recorrida, é outra questão
quer-se qual a eficácia da decisão na Instância recursal no ante às atribuições do órgão
do Ministério Público

CAPITULO III

AÇÃO DOS CREDORES RETARDATÁRIOS

o3.404. Á$o, em vez de comparecimento à Invitaçao

1.DISTINÇÃO BÁSICA. Credores retardatários são credores que foram convidados e


não compareceram. Em vez de as suas declarações de crédito serem simples
comunicações de conhecimento, que se entregam à periferia da relação jurídica
processual falencial, são elementos da postulação, são intenções, e têm de satisfazer as
exigências dos arts. 158-160 do Código de Processo Civil, além do que se diz no art.
82 e 5 1P do Decreto-lei n. 7.661.
Os credores retardatários propõem a$o. Quem contesta do falido; também, o síndico,
ou qualquer interessado. A expressão “impugnação”, no art. 98, §5 1P e 2.0, do
Decreto-lei n. 7.661, está no sentido de contestação. LI-se no art. 98:
“O credor que se não habilitar, no prazo determinado pelo juiz, pode declarar o seu
crédito par petição em que atenderá às exigências do art. 82, instruindo-a com os
documentos referidos no 5 1.” do mesmo artigo”. No 5 1.0: “O juiz determinará a
intimação pessoal do falido e do síndico, os quais, com observância do disposto no art.
84 e no prazo de três dias para cada um, se manifestarão sobre o pedido, em seguida ao
que o escrivão fará publicar o aviso para que os interessados apresentem, dentro do
prazo de dez dias, as impugnações que entenderem”. No § 2.0: “Decorrido o prazo
para impugnação dos interessados, o escrivão fará vista dos autos ao representante do
Ministério Público, que, no prazo de três dias, dará o seu parecer”.
Não se há de dar importância, ai, ao termo “impugnação”, verdadeiramente impróprio.
O que há é contestação. O credor retardatário propôs a sua ação, com toda a
agressividade das es executivas condenatórias, e o falido, o síndico, o órgão
Ministério Público ou qualquer interessado contesta, O credor retardatário fora
convidado, segundo crê, e deixou de apresentar-se no prazo em que fora marcado, ou o
fez indevida-‘te.

2. CREDORES RETARTARIOS. Credores retardatários em primeiro lugar, os


credores que não declararam, no prazo, os seus créditos. Os credores que declararam
os seus fitos, mas não no fizeram com satisfação das exigências do 82 e § 1.0 do
Decreto-lei n. 7.661, li. Mas de ordem processo, e foram julgados não admitidos,
CAPITULO VIII

podem, pendente o prazo da falência, propor a ação do ad. 98, como credores
retardatários, que são. A sentença, trAnsita em julgado, que não incluiu, desfez toda a
eficácia da apresentação da declaração de crédito, de modo que é como se não tivesse
havido intempestiva declaração de crédito.
Ao credor declarante que não foi admitido somente se pode ir legitimação à ação do
arl. 98 se a decisão, que lhe vedou entrada na relação jurídica processual da falência
produz •julgada material, que obste à propositura da ação.
Se o credor declarante deixou, por exemplo, de pedir a declaração do seu crédito e o
juiz, por isso, não incluiu o crédito. decisão não tem eficácia de coisa julgada material.
Ficou-se n’eliminar. Se, em vez disso, o juiz admite o crédito, e a sena é modificada,
no agravo de petição, para atender o agravante, pode o credor propor a ação de credor
retardatário. Se foi próprio credor que pediu a classificação como credor, não com iso
real de garantia, ou com privilégio especial, ou geral, n como quirografário, ou que,
em lugar de se dizer credor direito real de garantia, ou com crédito especial, o fez o
credor com privilégio geral, ou, tendo direito real de garantia, aludiu a privilégio
especial, não pode ir contra a decisão que lhe reconheceu o que Ele pedira. Tantum
judio atum ttunt dis~putatura. O juiz não poderia dar mais do que se ra como
prestação jurisdicional. Pie eat judez ultra petita 11174.
Onde há coisa julgada material, não se pode ir contra ela. e não há coisa julgada
material, o credor retardatário tem a tutela jurídica e propõe exercer a prazo
conforme o ad. 98, quanto ao que ainda possa ser massa falencial, ou depois, encerrada
a falência, contra o que se integre ao patrimônio livre do devedor ou o que Me
adquiriu depois.
Há casos, portanto, em que se pode considerar retardatário o credor, a despeito de ter
declarado o seu crédito. Dai não caberem proposições a priori como as da Câmara
Cível da Relação de Minas Gerais, a 24 de março de 1920 (R. F., 28, 499) e da 1.
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 3 de fevereiro de 1948 (.1?. dos
T., 173, 372).

3.PRAZO PARA AS DECLARAÇÕES DE CRÉDITO. A preclusividade do prazo é


somente quanto à atribuição dos direitos que constam do Decreto-lei n. 7.661, arts. 30,
87 e 97. O credor retardatário que propôs a ação •do art. 98 não pode impugnar, nem
recorrer da decisão do juiz no julgamento das declarações de crédito impugnadas ou
não. A sua comparencia é tardia. Enquanto não se exaure o ativo <pela atribuição a
alguém, definitivamente), tem ele interesse em obter a decisão condenat6ria executiva,
em ação incidental, que é a do ad. 98. Preclui, portanto, com o prazo, a pretensão ao
trato igualitário, à par coudicio creditorum, e a própria pretensão ao trato com
privilégio, especial ou geral, se o ativo não mais o comporta.
Surge o problema da omissão da distribuição das circulares ou defeito na distribuição,
por parte do síndico. A sentença de decretação da falência é publicada, mas o Decreto-
lei n. 7.001 (art. 81) também exige que o síndico, logo após a entrada no exercício do
cargo, expeça circulares aos credores que constarem da escrituração do falido. Se o
síndico deixar de fazer e distribuir as circulares, ou se as faz e não distribui, ou a
algum dos credores não chega em tempo, pergunta-se: o credor que só não
compareceu tempestivamente porque não recebeu a circular é, ou não, retardatário? A
resposta há de ser no sentido de se considerar plus o envio de circulares <RENZO
PROVINCIALE, Manuale di Diritto failimentare, 455; sem razão, 5. SATTA,
Istituzioni di Diritto failimentare, 3•a ed., 238). O que tal credor tem é a ação de
responsabilidade contra o síndico.
Aliás, a ação de responsabilidade contra o sindico pode ser exercida pelo próprio
credor que a tempo declarou o seu prejuízo pela falta do síndico (e. g., por precisado
de fazer despesas de viagem de aeronave, ou de transporte de testemunhas).

1.405. Formulação da relação jurídica processual e entrada na relação jurídica


CAPITULO VIII

processual de execução celetiva

1. PROPOSITURA DA AÇÃO. A. ação é proposta pelo credor retardatário. que é que


é o autor, os que lhe negam qualquer alto, ou pretensão, ou ação figuram como sujeitos
ativos ou passivos da relação jurídica processual da falência.

2.PUBLICAÇÁO. A vocatio in jus dos interessados portanto, principalmente dos


credores é por meio de publicação, por duas vezes, no órgão oficial, do “aviso”
(expresso. da lei), a eles, de que, no prazo de dez dias, podem apresentar impugnações.
O prazo começa decorrer no dia da primeira publicação. Cf. Decreto-lei n. 7.661, arli.
204, parágrafo único. A Lei n. 1.408, de 9 de agosto de 1951, at. 1.t5Y, invocável.

3.CONTESTAÇÃO. Os figurantes da falência (falido, órgão do Ministério Público)


podem contestar. Bem tu, os credores e demais interessados. A lei, em linguagem
acertada, fala de “impugnação”.
Seria absurdo admitir-se contestação do credor, que é‘r, à impugnação feita ao seu
crédito, É de repelir-se a anatomia, que se invocou, com o art. 90 do Decreto-lei n.
7.661 ta, a 2.8 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, e junho de 1950).
O art. 98, §§ 1? e 2.~, do Decreto-lei n. 7.661 foi explícito atribuir legitimação passiva
aos interessados, à semelhança legitimação ativa conforme o art. 87, parágrafo único.
tenta-se, no direito italiano, a falta de explicitude; e lança-se da intervenção dos outros
credores.
Quanto a custas e despesas judiciais, tem-se de tratar dor retardatário, que propõe a
ação do art. 98, como autor, é isso o que ele é.

4.MINISTÉRIO PÚBLICO E AÇÕES DOS CREDORES RETARDATÁRIOS . A


função do órgão do Ministério Público, nas ações dos credores retardatários, e
somente aquela que eje uvw quanto aos créditos dos credores declarantes. Apenas,
aqui, em vez de serem sujeitos ativos da ação incidental, são sujeitos passivos. Lê-se
no art. 98, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661, que Me dá parecer: tal parecer ou é de
concordância, ou de discordância (de oposição de exceção ou de contestação).

§ 3.406. Julgamento e eficácia sentencial

1.CONCLUSÃO E SENTENÇA. Diz o art. 93, § SY, que, “como o parecer do


representante” leia-se “do órgão ” “do Ministério Público, os autos serão conclusos ao
juiz para os fins previstos no art. 92, cabendo da sentença que julga o crédito recurso
de agravo de petição, que não terá efeito suspensivo”.

2.DIREITO DA SENTENÇA, NO TOCANTE AO ATIVO FALENCIAL. Lê-se no


art. 98, § 49: “Os credores retardatários não têm direito aos rateios anteriormente
distribuídos”.
A eficácia da sentença favorável na ação do art. 98 do Decreto-lei n. 7.661 é a mesma
que seria a da sentença desfavorável, se o credor houvesse declarado o crédito, dentro
do prazo para as declarações de crédito:Dedaruti. Uidade
Conflitociaidade**Condena-Mandarnen soriedadeE idade Execo vidade

3. Recurso O recurso é o de agravo de petição. Se foi desfavorável ao credor


retardatário a decisão, nenhum efeito tem para o procedimento falencial. Os rateios, a
que se refere o art. 98, § 4$, do Decreto-lei n. 7.661, são, então, os rateios até a decisão
do agravo de petição, ou de outro recurso, que seja favorável ao credor retardatário.
Assim, se houve rateios em janeiro, março e maio e a decisão favorável, no julgamento
do agravo de petição, foi em fevereiro, os rateios de março e maio foram posteriores;
se a primeira decisão favorável foi em recurso de revista, julgado em abril, rateios
anteriores são os de janeiro e de março.
CAPITULO VIII

LEGITIMAÇÃO AO RECURSO. o credor retardatário, a que integralmente


deferido O pedido, o falido, O síndico, o órgão do Ministério Público e qualquer
credor declarante, quer tenha ou não admitido, desde que não tenha transitado em
julgado sentença de não inclusão.
Se já foi distribuído o último rateio, não mais tem interesse o credor em propor a ação
do art. 98; mas em recorrer de qualquer decisão desfavorável tem ele interese , pontue
decisão pode ser o titulo de que cogita o art. 188 do Decreto-lei ‘1. 7.661.

§ 3.407. Reserva de elementos do ativo

1.REQUERIMENTO DE RESERVA DE IMPORTÂNCIAS MEDIDAS

1V DE RATEIOS A QUE VENHAM A TER DIREITO. Ao propor a ação do art. 99


do Decreto lei 7.661 pode o credor requerer a reserva de quantia necessária no tocante
aos futuros rateios, ou ratificação ) do seu crédito com privilégio especial. ou geral.
O art. 98, § 4?, do Decreto-Lei n. 7.661, diz que os credores retardatários não têm
direito aos rateios anteriormente distribuídos. No art. 130, admite-Se que, “a
requerimento dos interessados”, o juiz ordene “a reserva, em favor destes, até se dei
xam decididas as suas reclamação ou ações, das importâncias dos créditos por cuja
preferência pugnadas ou dos rateios que lhe possa caber”.
Pergunta j,o art. 98, § 4,0, corta qualquer direito dos credores retardatários ao que se
distribuiu, ou pode-se evitar i do que eles pedem mediante reserva?
A ~espo5ta é no sentido de ter eficácia a reserva, mesmo porque só se reserva para se
evitar distribuição.
2. RECURSOS. Se o juiz autoriza o rateio sem reserva de quota requerida pelo
credor retardatário, cabe agravo de instrumento (Tribunal da Relação de Minas Gerais,
17 de abril de 1920, E. F., 34,

CAPITULO IV

AÇÃO RESCISÓRIA FALENCIAL

5 3.408. Ação rescisória de sentença (Código de Processo Civil, art. 98.801)

1.DECISÕES EM MATÉRIA FALENCIAL. A decisão de abertura da falência, quer


a haja pedido o falido quer algum credor, ou pessoa ações lgnadft no art 98 do
Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945, é rescinMv0i, conforme o arE 798 do
Código de Processo Civil. No Decreto-lei n. 7.661, diz o ad. 19, parágrafo único, que
“a 5entença que não declarar a falência não tem forca de coisa júlgada”.
A ação rescisória da 8etteiiça que decretou a abertura da falência pode fundar-Se em ter
sido peitado. impedida ou incolupetente ratio te matencle o Juiz <Código de Processo
Civil, art. 798, 1, a), em ter havido ofensa à coisa julgada (art. 798, 1, b), em se ter
deixado de atender ao direito em tese (art. 798, 1, c), ou em ter sido julgada falsa, no
juízo criminal’ a prova em que se fundara a decisão, ou tnequk vocafliente se lhe
apurar, no próprio juízo rescindente, a falsidade (ad. 798, II).
Observe-se, além disso, que a propria sentença proferida na ação rescisória da
sentença de decretação da falência pode ser rescindível, se ocorre um dos
preS5liPO5t<m do art. 799 do Código de Processe Civil.
(Também pode acontecer, no processo falencial, que algum ato processual não
dependente de sentença, ou em que essa seja simplesmente obrigatória. tenha a
reacindibilidade analógica de que cogita o art. 8OO, parágrafo único.)
No que respeita à sentença de decretação, sabe-se que se ata de sentença constitutiva,
com eficácia imediata executiva eficácia mediata declarativa (questão prévia).
CAPITULO VIII

Transita, formalmente, em julgado, sem qualquer dúvida. Quanto à sentença


condenatória da falência é declarativa. O art. 19, parágrafo único, do Decreto-lei n.
7.661, tem de ser interpretado, depois i análise da decisão mesma a que se refere, O
indeferimento do adido não diz a) que o devedor não esteja insolvente ou não tenha
incorrido em qualquer das faltas mencionadas nos arts. 1.0 2.0 do Decreto-lei n. 7.661,
porém b) apenas que as alegais e provas apresentadas não convenceram o juiz. Ora, as
alegações têm de ser alguma das que caracterizem qualquer as faltas apontadas no art.
1.0 ou no art. 2.0. Se o pedido concerne a divida liquida, constante, ao que se disse, de
título de legitima a ação executiva (Decreto-lei n. 7.661, art. 1.0), o juiz deixou de
decretar a abertura da falência, porque não a líquida a dívida, ou, se era liquida, não
bastaria à proposicao de ação executiva, é inegável a coisa julgada formal. O estado
de insolvência com a prova feita segundo o art. 1.0, § 1.0, a forti.ori, com a alegação
de outro fato, pode ser objeto de ko pedido, ainda referente ao tempo a que se referia o
primeiro pedido. O juiz deixou de constituir o estado de falência decretada, porque a
prova não bastou, e não porque não pudesse tratar falido o devedor. A declaração é
apenas a de que a dívida que se apresentou não era elemento bastante para o
deferimento pedido. Trata-se de decisão declarativa, como toda decisão le indefere,
porém decisão negativa do estado alegado falência. Quando o juiz indefere o pedido
de execução por divida, também profere decisão declarativa negativa, mas restrita
eficácia do titulo, e não à relação jurídica entre credor e devedor. Tanto assim que pode
propor a ação ordinária de condenação, ou a própria ação declaratória do art. 2.0,
parágrafo fico, do Código de Processo Civil.
E legislador foi de expressão ambígua, ou, melhor, equilica, ao falar de sentença que
“hão tem forca de coisa julgada” Decreto-lei n. 7.661, art. 19, parágrafo único). De
que coisa julgada queria falar? Da coisa julgada formal ou da coisa julgada material?
~ A respeito de qual proposição (conclusão) sentença? A sentença que não defere o
pedido de decretação de abertura da falência pode ter e freqüentemente tem dois ou
mais enunciados, que correspondem aos pressupostos para a decretação. Todos ficam
expostos a novo pedido referente ao mesmo credor e aos mesmos fatos?

2.COISA JULGADA FORMAL E ART. 19 no recurso 14.7.661. Se o credor requereu


a verificação da conta, conforme o art. 1.0, § 1.0, do Decreto-lei n. 7.661, e obteve a
sentença favorável, tal sentença é constitutiva de eficácia, e não simplesmente
declarativa. Pode ser rescindida segundo o art. 798 do Código de Processo Civil. Com
essa divida é de requerer-se a decretação de abertura da falência e a sentença, que a
defira, é sentença rescindível conforme o art. 798 do Código de Processo Civil.
Se o pedido de decretação de abertura da falência se fundou no art. 2.0, 1, do Decreto-
lei n. 7.661, a decisão do juiz que decreta a falência é rescindível conforme o art. 798
do Código de Processo Civil. A decisão, que indefere, faz coisa julgada formal no que
toca ao fato que dá a razão do indeferimento; não, no que possa concernir a outros
fatos. Se, por exemplo, o fundamento foi o de falsidade do titulo, ou o de prescrição,
ou de nulidade do negócio jurídico ou do titulo, ou de já estar paga a divida, ou o de
ter o devedor requerido, mates, a concordata preventiva (Decreto-lei n. 7.661, art. 4.~,
I-V), há coisa julgada formal e, até, material. Idem, se o pedido invocou algum dos
fatos que se arrolam no art. 2.0, 11-Vil, do Decreto-lei n. 7.661.
O fato que se descreveu para se caracterizar a liquidação precipitada, ou o meio
ruinoso ou fraudulento para se pagar, ou a convocação de credores e proposta de
dilação, remissão de crédito, ou cessão de bens, é fato que não mais se pode trazer a
exame para se pedir a decretação após a decisão denegatória, porém outros fatos, ainda
semelhantes, podem ser objeto das alegações novas. Se foram apontados atos que se
criam inequívocos ou fraudulentos, de que cogita o art. 2.0, IV, do Decreto-
-lei n. 7.661, e foi denegada a abertura da falência, não obsta Isso a novo pedido em
que se mostrem outros fatos de igual natureza. Se o devedor transferiu a terceiro o
estabelecimento sem o assentimento de todos os credores, dizendo-se que fica- pedido
de abertura da falência, nada impede que se peça, novo, tal abertura se o
CAPITULO VIII

estabelecimento foi vendido e se subtrairam novas dívidas do demandado. Passa-se o


mesmo depósito de dação de garantia real. Tinha razão, portanto,• CARVALHO DE
MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial 19) quando dizia que não pode o mesmo
credor repetir declarações sobre os mesmas fatos julgados improcedente por anterior
sentença, a fim de obter a decretação da eficacia . Ao parágrafo único do art. 19 não
pode ser atribuído do que o seguinte: “A sentença que fio decretar a falOn1o impede
que se faça novo pedido de decretação , se faltou a suficiente ou se outro o fato
alegado
 coisa julgada formal, essa, tem de operar-se porque há corrigibilidade e o trânsito
em julgado da própria sentença obrigatória da abertura da falência, ou da decisão no
recurso. o se há algo anua em alegação ou em prova que a permitir reiniciar-se a
cogniçio do pedido.
Por onde se vê que a proposição “não faz coisa julgada” normal e material nem
sempre é verdadeira, ia casu.
Quando se diz, em geral, que a decisão denegatória da ação de abertura da falência
não faz coisa julgada mas entende se que o estado de falência pode, a despeito de
sentença, existir, ~e outra a alegação ou a prova.
Se há alegação de outra prova, pode ser pedida, de novo, mesmo processo, a
decretação da falência, porque nem há respeito a coisa julgada formal, O fato é o
mesmo, mas a ‘a é outra. Por exemplo: a) O credor alegou que era certo definido o seu
título (Decreto-lei n. 7.661, afta 1.0 e 11) e fio rera pagamento; o juiz denegou a
decretação de abertura falência, por não se tratar de titulo líquido. O credor pede
ratificação ou a liquidação do título, e volve a pedir a decretação de abertura da
falência, O juiz tem de conhecer do . b) O credor alegou qualquer dos fundamentos do
art. 29, juiz denega a abertura da falência, por não estar provada a Lamento (e. g., ter
pedido dilação a C, ou ter transferido estabelecimento a e o credor também,
posteriormente, pra suficientes, O juiz tem de conhecer do pedido. ou prova repetisse o
pedido.
Tudo isso ocorreria mesmo se não existisse o ad. 19, parágrafo único, que ou atende
aos princípios ou cria, no sistema jurídico, insuperável confusão.
Se, por exemplo, o juiz denega o pedido de abertura da falência porque houve
prescrição, não se pode deixar de reconhecer coisa julgada formal e material sobre
Esse ponto. Idem, quanto ao pagamento da dívida, ou quanto ao depósito judicial
oportunamente feito. Não se poderia reduzir a sentença, nesses pontos, a sentença em
non plena cognitio.

8.AÇÃO RESCISÓRIA FALENCIAL. No art. 99 do Decreto-lei n. 7.661 estabelece-


se: “O síndico ou qualquer credor admitido pode, até o encerramento da falência, pedir
a exclusive, outra classificação , ou simples retificação de quaisquer créditos nos casos
de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou de documentos
ignorados na época do julgamento do crédito”. Tal ação não atinge, diretamente, a
sentença que decretou a falência, ainda que se julgue falsa o documento, salva se foi
pedida a resciscto. O pedido do art. 99 somente diz respeito aos créditos, não à
sentença de abertura da falência . Tal ação, de que teremos de tratar especialmente
nos §§ 8.409 e 8.410, tem pressupostos’ próprios.

4.DECISÕES RESCINDÍVEIS. As decisões sobre ineficácia dos créditos anteriores à


falência (Decreto-lei n. 7.661, art. 52) são suscetíveis de rescisão cambiaforme o art.
798 do Código de Processo Civil. Bem assim, as revocatórias baseadas no art. 53 do
Decreto-lei n. 7.661. Também as decis5es sobre a defesa ou exceção a que se refere o
art. 57.
A nomeação do síndico faz-se segundo o art. 60 da Decreto-lei n. 7.661. Trata-se de
decisão constitutiva, que transita formalmente em julgado. Não há qualquer
fundamento para se negar a ação rescisória contra essa decisão. Nem contra aquelas
que têm por objeto a aprovação de contratas com contadores e avaliadores. Não cabe,
CAPITULO VIII

no sistema jurídico processual brasileiro, trazer-se à tona, ai, a distinção entre


jurisdição voluntária e contenciosa (Comentários ao Código de Processo Civil, nota ao
art. 238): a art. 288 do Código de Processo Civil só se refere à coisa julgada material.
A decisão de encerramento da falência com base no art. 75 do Decreto-lei n. 7.661 é
rescindível. Bem assim as que julgam pedido de restituição e embargos de terceiro
(Decreto-lei n. 7.661, arts. 76-79), a verificação de crédito <arts. 80-97 e 98), a de
exclusão , reclassificação ou simples retificação de qualquer crédito em que se haja
invocado o art. 99 do Decreto-lei n. 7.661.
A deliberação e a decisão de homologação da deliberação dos credores segundo os
arta. 114 122 e 123, respectivamente, não estão na classe das decisões de que cogita o
art. 798, mas sim daquelas que se regem pelo ad. 800, parágrafo único.
A decisão sobre as contas do síndico é rescindível, invocando-se o art. 798 do Código
de Processo Civil.
A concordata pode resolver-se, à semelhança do que ocorre com os negócios jurídicos
bilaterais e plurilaterais; e a reaciuçao pode ser de pleno direito, ou em virtude de
sentença, .à semelhança do que se passa com a resolução dos negócios jurídicos bi
laterais, principalmente com os contratos bilaterais <Código Civil, art. 1.092,
parágrafo único). As expressões “rescindida” e rescisso que se empregam nos arts.
150-153 são erros de terminologia. Todos os fatos, que dão ensejo à intendência dos
arts. 150, 175 e 183, parágrafo único, do Decreto.lei n. 7.661, são posteriores à
concordata; de modo nenhum aio vícios anteriores, que devam dar ensejo à rescisão .
Diz o art. 150: “A concordata pode ser rescindida: 1, pelo não pagamento das
prestações nas épocas devidas ou inadimplemento de qualquer outra obrigação
assumida pelo concordata .. na; II. pelo pagamento antecipada feito a uns credores,
com prejuízo de outros; III, pelo abandono do estabelecimento; IV, pela venda de bens
do ativo a preço vil; V, pela negligência ou inação do concordatário na continuação do
seu negócio; VI, pela incontinência de vida ou despesas evidentemente supérfluas ou
desordenadas do concordatário; VII, pela condenação , por crime falimentar, do
concordatário ou dos diretores, administradores, gerentes ou liquidantes da sociedade
em concordata”.
No § 1.0, explicitou-se: “A falência ou a resíduo da concordata de sociedade em que
houver sócio solidário importa a rescisão da concordata deste com os seus credores
particulares”. E no § 2.0: “A falência do sócio solidário ou a rescisão da sua
concordata importa a rescisão da concordata da sociedade’.
Mais uma vez frisemos que de rescisão somente se pode falar se algo existia, ao tempo
do neg6cio jurídico, que seja como o traço interior par onde desça a corte, a cise2o, do
negocio jurídico. Também de rescisão de sentença somente se pode cogitar que não
se trata de desconstituição por invalidade, a despeito de ser o traço interior anterior ou
na própria sentença. As sentenças rescindíveis, como os negócios jurídica
rescindíveis, existem e valem. Quando a 1 alta é posterior à sentença ou ao negócio
jurídico, é em resolução ou de resilição que se há de pensar, e não em rescisão.
A concordata, com a eficácia de constitutividade, estabelece status, que liga o
concordatário ao juízo em que foi preferida a decisão de primeira instância. Daí ser o
juízo da concordata aquele em que se não devolver todas as controvérsias sobre o
cumprimento da concordata, alterações, resolução ou encerramento da falência, na
concordata suspensiva, ou cumprimento da concordata preventiva.
É preciso que também não se confundam resolução e decreta$o de anulação de
alguma declaração de vontade do credor, ou da própria declaração de vontade do
devedor que pediu, ou de quem foi pedida a concordata. Tem-se, preliminarmente, de
saber se a decisão que defere o pedido de concordata é simplesmente homologatória ,
ou não: se o 4, rege o art. 800, parágrafo único, do Código de Processo Civil; se não
no é, o art. 798 é que pode ser invocado. A resposta à questão é no sentido de não se
tratar de sentença simplesmente homologatória, razão por que cabe a ação rescisória,
com base no art. 798 do Código de Processo Civil, e não há pensar-se em decretação
de anulação de qualquer das declarações de vontade. Se algum doa pressupostos do
CAPITULO VIII

art. 798 do Código de Processo Civil se oferece, rescindivel é a decido; se sobre vem
alguns dos fatos mencionados no art. 150 do Decreto-lei n. 7.661, é resoltel a
concordata. A razão para a incolumidade das declarações de vontade às anulabilidades
por incapacidade, Erro, dolo, simulação, coisa a, fraude contra credores, está em que o
negócio jurídico da concordata foi coberto pela sentença, escapando, portanto, às
normas jurídicas que concernem aos atas processuais que não dependem de sentença e
aos que só têm sobre si sentença simplesmente homologatória. O art. 150 do Decreto-
-lei n. 7.661 nada tem com isso, apenas disciplinou, larga e minuciosamente, a
resolução da concordata.
No sistema jurídica brasileiro, concordata impetra-se, pede-se. Há “embargos à
concordata”, termo que examinaremos. mas no Tomo XXX. Há julgamento nos autos
conclusivos, ou em audiência , conforme o art. 144 ou o art. 145 do Decreto-lei n.
7.661. Não se poderia classificar a sentença cama simplesmente homologatória , posto
que na linguagem vulgar freqüentemente se fale de homologação da concordata.

§ 3.409. Ação rescisória segundo o Decreto-lei n. 7.661, art. 99

1.CONCEITO. A ação rescisória de que cogita o art 99 do Decreto-lei n. 7.661, dita


ação rescisória falencial, é espécie de ação rescisória de sentença e outras decisões ,
especialmente concebida pelo direito falencial. a ação rescisória de decisão judicial,
trAnsita em julgado, como as outras ações rescisórias. Também ela é ataque à coisa
julgada formal, razão por que remetemos ao Tratado da Ação Rescisória das
Sentenças e outras decisões. Aqui, apenas cuidaremos de mostrar o que é peculiar à
ação rescisória falencial.
O legislador teve de considerar que podiam ser anteriores ao encerramento da falência
e atinentes a decisões proferidas:
a) a descoberta de falsidade, dolo, simulação , fraude, ou erra essencial; b) a notícia de
documentos ignorados à época do julgamento do crédito. A lei tem a ação de
ineficácia relativa (Decreto-lei n. 7.661, art. 52) e a ação revoca,tória /elencial <art.
53). Ambas são ações só proponíveis em prazo interior à pendência da processo
falencial. Tinha-se, porém, de atender à aparição de dados que deveriam, de jure
condendo, bastar à propositura de ação. O obstáculo da coisa julgada formal impôs que
se pensasse em ação rescisória especial, cuja sentença pudesse destruir a força e a
eficácia da sentença anterior, trAnsita em julgado.
A ação rescisória de sentença conforme o ad. 99 do Decreto-lei n. 7.661 é limitada
àqueles casos a que o art. 99 aludiu. As mesmas decisões proferidas em processo
falencial, incIuBive a de decretação da falência e a de encerramento da falência>
podem ser atacadas por ação rescisória de sentença, fundada no art. 798 da Código de
Processo Civil. A diferença dos fundamentos pode dar ensejo a essa ação do direito
comum e, às vAzes, às duas ações .
Não se poderia, com a ação rescisória comum, desconstituir sentença trânsita em
julgado com a alegação de <mil amabilidade (Código Civil, art. 147), ou de
revogabilidade do negócio jurídico (Decreto-lei n. 7.661, art. 53>. O art. 798 do
Código de Processo Civil Dia o poderia permitir; e o art. 800, parágrafo único,
somente incide em espécies em que o ato processual não depende de sentença, ou em
que essa é simplesmente homologatória.
A acao do art. 99 do Decreto-lei n. 7.661 4, com pequenas diferenças, a ação do art.
58 proposta após o trânsito em julgado da sentença sobre o crédito. A ação do art. 53
tem-se de propor no prazo de que fala o ad. 55, ou após, se o sindico não a propôs. A
ação do art. 99 não é somente desconstitutiva de eficácia de negócios jurídicos; é
desconstitutiva de sentença. Parece-se com a ação rescisória de atos jurídicos, que se
regula no art. 800, parágrafo único, do Código de Processo Civil, mas, enquanto a
ação do ad. 800, parágrafo único, do Código de Processo Civil é concebida como a$o
de ataque ao negócio jurídico por ser transparente a sentença, ou não ter sido preciso
sentença, a ação do art. 99 do Decreto-lei n. 7.661 é de ataque à coisa julgada formal
CAPITULO VIII

da sentença, e ao negócio jurídico.


No art. 99 do Decreto-lei n. 7.661 diz-se: “O síndica ou qualquer credor admitida
pode, até o encerramento da falência, pedir a exclusão, outra classificacao , ou simples
retificação de quaisquer créditos, nos casos de descoberta de falsidade, dolo,
simulação, fraude, erro essencial ou de documentos ignorados na época do julgamento
do crédito”. A acao de excitado, ou de reclassificação, ou de retificado, que aí se
cria, é ação contra o ato de inclusão, ou de classificação, ou o teor daquela, ou dessa
(verbo “retificação ”), mas atinge o crédito mesmo, ou vela declaração do falso, ou
pelo julgamento do dolo, da simulação o que foi omissão impensada do legislador),
ou de aparição de documentos ignorados. Tanta é rescindível , com fundamento no
art. 798 do Código de Processo CMI, a decisão de inclusão ou de classificação
quanto a de excluso, real classificação ou retenção.

2.AÇÃO DECLARATÓRIA DA SIMULAÇÃO INOCENTE. O falido, ao ter de


falar sobre os créditos declarados ou sobre os que o síndico pôs na reta pio de
credores que tudo declararam os créditos, pode argüir a simulação inocente de
alguns deles. O síndico, ou fie, ou qualquer credor, ou o órgão do Ministério Público
pode propor a ação declaratória de simulação inocente, à semelhança da ação
revocatória falencial, e a impugnação do crédito declarado ou a contestação na ação
do credor retardatário pode consistir na alegação de simulação inocente (Tome 1V, §
477). Trata-se de alegação de inexistência do crédito. Se fica afastado tratar-se de
similacao inocente, tem de ser proposta a ação revocatória falencial, ou a ação
rescisória falencial, se era conhecido, ou não, respectivamente, antes da admissão do
crédito, o vicio da simulação inocente.

§ 3.410. Pressupostos da ação rescisória falenclal

1.LEGITIMAÇÃO ATIVA. (a) O Decreto-lei n. 7.661, ad. 99, fala de síndico ou


qualquer credor. Mas é de entender-se que também podem propor a acao rescisória
falencial o falido e o órgão do Ministério Público.
(b)Seria inconcebível que, em caso de falsidade ignorada ao tempo das habilitaç6es de
crédito, nia pudessem propor m ação o falido e o órgão do Ministério Público. Em se
tratando lo dolo, dá-se o mesmo. A simulação, para poder ser alegada
>elo falido, é preciso que o falido seja, invitacao, terceiro (Código Civil), arts. 102-
105), pois só a simulação inocente causa de inexistência da negócio jurídica pode
ser alegada pelo figurante (Tomo IV, §§ 468481). No direito brasileiro, se simulação
é ilícita <= viciante), segundo os arts. 102, 104 e 105 do Código Civil, os figurantes
não têm ação constitutiva negativa. Nem têm ação declaratória negativa, porque
1 ato simulado não entrou no mundo jurídica. A fraude contra negócios jurídicos com
fraude contra credores podem argüir la (Código Civil, art. 106, parágrafo único), ou,
por explícita determinação da lei, o síndica (Decreta-lei n. 7.661, art. 99). O fira
essencial, a que se refere o ad. 99 do Decreto-lei n. 7.661 (Código Civil, arta. 86-91),
dá ação de que é tipicamente legitimação ativo o figurante; portanto, o falido. A
legitimação do síndico e dos credores é em virtude do art. 99 do Decreta-lei n. 7.661,
que a eles se refere explicitamente.
Quanto a documentos que o falido possa ter ignorado (Decreto-lei n. 7.661, art. 99, in
fine), ou eles se referem a fatos adjaciantes. ou à importância ou classificação dos
créditos, ou à sua extinção. De qualquer modo, seria desfavorável que se lhe negasse
legitimação ativa.
O que se deve ter por assente é que são legitimados ativos, na ação rescisória falencial
segunda o ad. 99 do Decreto-lei n. 7.661, os que a seriam na ação revocatória falencial
(art. 53) e na ação de impugnação de créditos declarados (arta. 87 e 84, § 2.~).
Adiante, quanto a ação declaratória de ineficácia relativa.
No direito italiano, afasta-se a falido, que ai somente tem o poder de denúncia aos
orgao s falenciais (Luxai LoiwI, II Pailirnento, 208>.
CAPITULO VIII

No direito brasileiro, a despeito da referência da Decreto lei n. 7.661, ad. 99, só a


síndico e credor, havemos de interpretar o texto com atenção aos arts. 36 e 84, § 2.0.
O credor, contra o qual ainda não transitou em julgado a decisão que o excluira, ou
que fora admitido, mas pende de recurso a sentença que a admitira, pode propor a
ação do art. 99 do Decreto-lei n. 7.661. O art. 99 fala de credor “admitido”, mas
havemos de entender que a legitimação somente cessa se há coisa julgada formal no
sentido da não admissão do credor.
Não se compreenderia que o credor que declarou o crédito e ainda não teve contra si
sentença trAnsita em julgado não pudesse propor a ação do art. 99. Se, proposta a
ação , foi confirmada a sentença do juiz de primeira instância, ou outra que é afetaria.
Não se pode prosseguir na ação, porque ficou declarada, em decisão transitada em
julgado, a ilegitimidade dor, bem proposta fora e tem-se de atender à sua eficácia
inexceptuada.
Por outro lado, se ainda pende de recurso a sentença de inclusão, ou sobre importância
ou classificação do crédito, já se pode propor a ação rescisória falencial, se a sentença
rescindenda não é a de admissão do crédito, mas a sentença desfavorável ao autor na
ação de revogação falencial (Decreto-lei n. 7.661, art. 53). Cumpre atender-se a que
quase todos os fundamentos da rescindibilidade são fundamentos que teriam sido o da
ação revocatória falencial (dolo, simulação, erro essencial). Se a sentença, na ação
revocatória falencial, foi desfavorável ao autor, é também contra essa sentença que se
dirige a ação rescisória falencial. Se não houve ação revocatória falencial, a sentença
de admissão, em que não se aprecia tal matéria, supõe que nenhum desses vícios
existia. A ação rescisória falencial precisa atravessar a sentença de admissão, que
transitou em julgado, para ir até onde seria de se propor a ação revocatória falencial
que, ex hypothesi, não se propusera.
De qualquer modo, a ação rescisória falencial destina-se a arrebentar a parede que a
sentença de admissão e classificação do crédito levantara.
Proposta a ação pelo credor, ou pelo síndico, pode o falido intervir como litisconsorte
voluntário, ou como assistente. Proposta pelo credor, pode o síndico, ou o órgão do
Ministério Público, intervir como litisconsorte voluntário, ou como assistente; ou vice-
versa. Proposta pelo falido, podem litisconsorcios dar-se o síndico, o credor, ou o
órgão do Ministério, ou intervir como assistentes. Pode litisconsorciar se ou intervir
como assistente qualquer dos outros legitimados se a ação foi proposta pelo órgão do
Ministério Público.

2.FALSIDADE. A falsidade é, aí, razão para se rescindir, rescindir, após o trânsito em


julgado a sentença. O falso não produz nulidade; o negócio jurídico falso não foi, nem
é: a falsidade declara-se. Mas a sentença, que se proferiu, afirmou-lhe a existência, de
jeito que, para se assentar a inexistência , se tem de rescindir a sentença e de destruir
toda a sua eficácia, inclusive declarativa. A sentença, depois, passa a não ser. público
ou privado; o) já estar declarada noutro juízo, ou noutro processo, do mesmo juízo,
posto que ignorada no processo de admissão ou ao tempo dele pelo autor, ou ter de ser
declarada no próprio processo de rescisão falencial (Giolioro DE SEMO, Diritto
failimentare, 860).

8.DoLo. O dolo pode ser o dolo do credor, ou o dolo de terceiro, se o credor o


conhecia (Código Civil, art. 95), ou de um dos representantes do credor, caso em que
incide o art. 96 do Código Civil. Se o falido procedeu com dolo, não pode
,alegá-lo (art. 97). Nada obsta a que se proponha a ação por dolo acidental: a ação
rescisória falencial não só se refere ao dolo não acidental <cf. Código Civil, art. 98).
O dolo é matéria para ser apreciada na ação revocatória falencial (Decreto-lei n. 7.661,
art. 53). Se houve propositura da ação e fora desfavorável ao autor a sentença, a ação
rescisória falencial vai contra a sentença de admissão e contra a sentença na ação
revocatória falencial. Se não foi proposta, a sentença de admissão tem de ser
rescindida, a fim de que a alegação para rescisão desfaça o estado jurídico que a nao
CAPITULO VIII

alegação de vicio do dolo havia estabelecido.


O credor não pode alegar o dolo do outro credor quanto ao negócio jurídico contra o
falido.
Para que o dolo do credor possa ser alegado pelo credor, na ação rescisória falencial, é
preciso que se configure a fraude contra credores, isto é, ocorra o que se prevê nos
arts. 106 e 107 do Código Civil, ou a simulação inocente ao terceiro, que se prevê nos
arta. 104 e 105. De qualquer modo, o dolo é necessAriamente do devedor.
Note-se que o credor pode pedir a rescisão por ter havido dolo do devedor e do outro
credor, o que o devedor não pode fazer.
É preciso que, ao tempo de se proferir o julgamento rescindendo, se haja ignorado o
dolo, ou~que se não tivesse o elemento de prova, de que só agora se dispõe.
O devedor, Esse, pode alegar que ignorava o dolo, ou que conhecia o dolo (ou, até, que
o alegara), mas só após o julgamento descobrira documentos que ignorava.
Violação que aumenta o passivo do falido. Suspende-se, portanto, entrada no mundo
jurídico. Vai-se contra o ato jurídico, não somente contra o negócio jurídico, porque
ofende interesse de terceiro, ou a lei. A simulação Inocente, essa, não entrou no mundo
jurídico, e não teria interesse em proclamá-lo qualquer dos que, de ordinário, são
legitimados ativos à ação rescisória falencial. Sobre a matéria, Tomo IV, § § 468-481.
A simulação inocente à massa falencial pode ser alegada pelo credor na ação rescisória
falencial, segundo os princípios, que estão expressos nos arts. 104 e 105 do Código
Civil. É preciso que tivesse sido ignorada à época do julgamento, ou, pelo menos, que
hajam descoberto, depois, elementos de prova (elementos de prova, então
desconhecidos, foram encontrados).

5.FRAUDE CONTRA CREDORES. O instituto da fraude contra credores foi


regulado no Código Civil, arts. 106-118. 1’oi tratado no Tomo IV, §§ 482-504.
Se a fraude contra a massa foi sabida ao tempo da admissão do credor, ou da sentença
que se proferiu a favor do credor retardatário, de regra não mais pode ser objeto de
rescisão a sentença. O art. 99 do Decreto-lei n. 7.661 somente concerne, em principio,
à pretendo nascida com a descoberta da fraude. Todavia, mesmo que tivesse sido
conhecida, àquele tempo, a fraude, a descoberta de documento ou de documentos
(encontro ou achado de documento que àquele tempo se ignorava, ou de documentos
que àquele tempo se ignoravam), pode bastar para que nasça a pretensão à rescisão.
6. fluo ESSENCIAL. O Erro substancial ou essencial é o que pode ser alegado na
ação rescisória falencial, ou na ação revocatória falencial. furo essencial ou substancial
é “o que Interessa à natureza do ato, ao objeto principal da declaração, ou alguma das
qualidades a Ele essenciais” (Código Civil, mrt. 37). Sobre a matéria, Tomo 1V, §§
430-448.
O erro somente pode ser alegado pelo devedor, não pelo credor a respeito de negócios
jurídicos de outro credor ou de outros credores.
Contra isso, pode-se querer argüir: a) que o erro diminuiu o ativo, ou aumentou o
passivo; 1>) que o próprio Decreto-lei referido à legitimação ativa do síndico e do
credor (verbis “síndico ou qualquer credor”, “erro essencial”).
Cumpre distinguir-se do erro na constituição do negócio jurídico a respeito do qual se
proferiu a sentença o erro do credor, ou do síndico, na impugnação ou na não-
impugnação do crédito a propósito do qual se proferiu a sentença. Em 1», o credor
estava em erro, e cabe a ação rescisória falencial.
O devedor, esse , pode alegar o erro essencial ignorado, ou a descoberta de documento
que ignorava, suficiente para a prova do Erro essencial.
Se se verifica que o titular de um dos créditos admitidos, ou alguns titulares de
créditos admitidos, ou todos os titulares de créditos admitidos são responsáveis, em
partes iguais, ou não, por algum crédito que apareceu contra o falido, ou por ter
continuado alguma ação contra Esse, ou por se ter proposto a ação de credor
retardatário, tem-se a ação rescisória falencial, por Erro essencial, para se deduzir do
que coube ao credor, ou aos credores admitidos, o que lhes incumbia pagar (S.~
CAPITULO VIII

Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 17 de novembro de 1943, R. dos


T., 149, 131).
O Erro de direito não é causa de invalidade; portanto, não o é de rescindibilidade (cf.
4. Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 10 de fevereiro de 1944, E.
dos T.,150, 183). No sistema jurídico brasileiro, a discussão é impertinente (Tomo IV,
§ 430, 9).

7.DOCUMENTOS IGNORADOS. O encontro de documentos antes ignorados, a que


alude o art. 99 do Decreto-lei n. 7.661, há de ser de documentos que provem
decisivamente contra a existência, importância ou classifica#o do crédito, ou da
garantia. Exige-se que os documentOs tenham sido ignorados. Se se sabia da
existência deles, e não se tinham em mão, ou não se obtiveram, falta um dos elementos
para a rescindibilidado: a ignorância dos documentos. Se não se sabia da existência
deles, posto que eles estivessem em poder do que deseja ser autor da ação rescisória
falencial, >~ falta outro elemento da reacinib <fade: a descoberta? Não; porque não
se saber o que se tem e virtude saber é descobrir se pelo autor da ação rescisória
falencial, mesmo que em seu der estivessem os documentos ou estivesse o documento.
sabia existirem os documentos, ou existir o documento,não se encontravam, não se
pode falar de documentos ignorados, ou de documento ignorado. O caso seria de
documentos que o se encontravam, ou de documentos que se perderam, e não
documentos ignorados, ou de documento não-encontrado, ou perdido, e não de
documento ignorado.
O art. 99 é de redação ambígua: j diz Ele que, até o encerramento da falência, se pode
pedir a rescisão da sentença de admissão de credores, se foram achados documentos
ignorados, se o autor ignorava os documentos, mesmo no caso de os ter? u’t. 99 há de
ser lido, não como se dissesse: “O síndico ou qualquer credor admitido pode, até o
encerramento da falência, [ir a exclusão, outra classificação, ou simples retificação de
Lisquer créditos nos casos de descoberta de falsidade, ou de o, ou de simulação, ou de
fraude, ou de Erro essencial, nos casos de documentos ignorados na época do
julgamento crédito”, mas sim como lá está.
Evitemos dar-lhe a interpretação que aprouve a Lurai DE ro (Diritto lailimentare, 361)
e a RENZO PROvINCLele snuale di Diritio failimentare, 2.~ ed., 458), que entendem
Lar a ignorância pelo juiz.

8. EXCLUSÃO, OUTRA CLASSIFICAÇÃO ou Reenclusao. Pode não ser credor a


pessoa que foi admitida, ou ser cresomente por outro, ou outros créditos. Pode o
crédito não ter classificação que lhe foi dada: e. g., ser crédito com prévio geral, e não
com privilégio especial, ou ser crédito quirografário, e não crédito privilegiado. Pode a
pessoa, que foi definida, ter cedido o crédito, com ciência do falido, antes da araçl.o de
crédito. (A cessão de crédito, posteriormente, só atribui ao cessaonário a pretensão à
notificação do síndico.) A falsidade do titulo ou documento é caso de inexistência
crédito. Idem, o estar extinto, por ter havido pagamento falido, ou por terceiro.
Se o falido alegara, sem bom êxito, a prescrição da divida e foi desfavorável a
sentença, a nasce ao credor que desconta documento para a prova do alegado pelo
falido a pretensão
O credor só teria a pretensão a assisti-lo na ação. Porque prescrição só faz surgir
exceção, e não ação; e só a tem o falido. A ação rescisória falencial seria para que se
provasse a exceção, que o falido dissera ter.
(b) Temos aqui de tratar de problema que evitamos colocar no meio dos outros,
referentes à decisão rescindível conforme o art. 99 do Decreto-lei n. 7.661. fi o da
rescindibilidade da decisão proferida na ação declaratória de ineficácia relativa.
Tal decisão pode ser favorável ou desfavorável à massa falencial.
No art. 99 diz-se que o síndico ou qualquer credor admitido pode, até o encerramento
da falência, pedir a exclusão, outra classificação, ou simples retificação de quaisquer
créditos, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, Erro essencial,
CAPITULO VIII

ou nos casos de documentos ignorados na época do julgamento do crédito.


O interesse de agir está ligado à lesividade do julgado à massa falencial, ou ao credor
proponente da ação (e. g., o seu crédito foi prejudicado pela classificação). Mas a
própria ação tem por pressuposto a inclusão do crédito de alguém, ou a sua <inclusão
e) classificação, ou a sua (inclusão e) engano no cômputo, ou no tempo, ou na
qualidade. De qualquer modo sup6e-se que houve incitado do crédito do demandado,
se a sentença se proferiu em ação declaratória de ineficácia relativa. Se tal não foi a
conseqüência , não há pensar-se em ação rescisória falencial.
Donde a primeira conseqüência : se a decisão, na ação declaratória de ineficácia
relativa, foi favorável à massa falencial, não há a ação rescisória falencial; o
demandado, a quem foi desfavorável o julgado, é que pode pedir a rescisão da
sentença, mas tal ação rescisória é a ação rescisória do direito comum, a ação
rescisória dos arts. 798 e 799 do Código de Processo Civil.
Quanto à decisão desfavorável à massa falencial, ou desfavorável diretamente ao
credor, têm-se de exigir os pressupostos de que cogita o art. 99 do Decreto-lei n.
7.661: no processo da ação declaratória de ineficácia relativa é possível que tenha
havido falsidade, dolo, simulado, fraude, por parte do demandado vitorioso, ou Erro
essencial do demandante, que se venha a descobrir depois do julgamento, ou ignorar-
se a existência de documento, ou de documentos, isto é, existência da qual só se vem a
saber depois. A rescindibilidade, segundo o art. 99 do Decreto-lei n. 7.661, é de
proclamar-se, se o julgado teve como conseqüência admitir-se como credor quem fora
o demandado ou seu sucessor. A espécie do art. 52, 1, do Decreto-lei n. 7.661, presta-
se a isso. Bem assim, as do art. 52, II, III e VII.
Nas espécies do art. 52, IV, V, VI e VIII, do Decreto-lei n. 7.661, não Há a
conseqüência de admissão de credor. Assim, a ação rescisória falencial não pode ser
proposta, posto que possa o síndico ou o credor propor a ação rescisória do direito
processual comum (Código de Processo Civil, arts. 798 e 799).
Se a decisão conforme o art. 798 do Código de Processo Civil rescinde, a favor de
quem fora demandado e perdera, a sentença proferida na ação declaratória de
ineficácia relativa, tem ela eficácia de coisa julgada antes de se encerrar a falência. O
juiz está adstrito a respeitá-la, sem que os credores que receberam algo ou tudo fiquem
incólumes a prestar o enriquecimento injustificado.
Se a decisão foi favorável ao credor, ou a quem propôs a ação rescisória falencial, o
que se apura entra no patrimônIo falenclal, para que se liquide o passivo.
A ação rescisória do direito comum (Código de Processo Civil, arta. 793 e 799) não
está subordinada à pendência da execução forçada celetiva: o seu prazo é o do
QÜINQÜÊNIO . A ação rescisória falencial, sim.
Az vezes, o julgado na ação rescisória falencial somente mtoda a classe, ou somente
retifica a decisão rescindenda; então, pode-se restringir a algum ponto ou a alguns
pontos a desconstituição do julgado. t o caso de se ter como apenas privilegiado
geralmente o crédito que se considerara com privilégio especial. Tem-se de
desconstituir o privilégio especial.
As dificuldades maiores são com a eficácia das decisões que rescindam a sentença
favorável à massa falencial e tragam ao concurso de credores falencial o autor da ação
rescisória segundo o art. 798 ou o art. 799 do Código de Processo Civil. Tudo se
recompõe, para que se cumpra a decisão proferida no juízo rescindente. Não se pode
pretender que o autor, vitorioso
na ação rescisória do art. 798 ou do art. 799, seja tratado como o credor retardatário
(ari. 98 do Decreto-lei n. 7.661).
(c) Para terminar, chamemos a atenção para as ações rescisórias falenciais que se
fundam em não resistir o crédito, ou em ser nulo o negócio jurídico de que se teria
irradiado.
O art. 99 do Decreto-lei n. 7.661 fala dos casos em que se descubra “falsidade, dolo,
simulação, fraude, erro essendaí”, e não dos outros casos de inexistência (o de
falsidade não é o único), nem dos casos de nulidade. Havemos de interpretar que a
CAPITULO VIII

ação7 rescisória falencial apanha quaisquer casos de inclusão contra a lei, uma vez que
se ignorasse a causa, ou o documento ou os documentos relativos ao pleito.

9.PRoCESSO. Lê-se no Decreto-lei n. 7.661, art. 99, parágrafo único, 1•a parte: “Esse
pedido obedecerá ao processo ordinário...
O autor tem o ánus de alegar e provar que não era conhecida, no processo falencial, a
causa de invalidade do titulo, ou de classificação ilegítima, ou a falsidade, ou o ser
diferente a importância do crédito (Tribunal de Apelação do Rio de Janeiro, 1.0 de
agasto de 1944, R. dos T., 151, 720: “A descoberta do vicio ou do documento há de ser
posterior à admissão do crédito no passivo, cabendo ao autor, ..., a prova dessa
descoberta posterior”).
O principio concerne a qualquer outro caso de ação rescisória falencial.
Por processo falencial entende-se qualquer processo que tenha de ser iniciado no juízo
falencial, inclusive a ação declaratória de ineficácia relativa e a revocatória falencial.

10. AÇÕES PENAIS. Diz o art. 101 do Decreto-lei n. 7.661: “O juiz ou tribunal que,
por fundamento de fraude, simulação ou falsidade, excluir ou reduzir qualquer crédito,
mandará, na mesma sentença, que o escrivão tire cópia das peças principais dos autos
e da sentença ou acórdão, a fim de ser, no prazo de dez dias, encaminhada ao
representante do Ministério Público, para os fins penais”.
O art. 101 tem de ser interpretado no sentido de ser exemplificativa a referência à
falsidade, à simulação e à fraude. Sempre que, julgando exclusão ou redução de
crédito, o juiz verifica que o ato pode ser crime, tem de dar ordem ao escrivão no
sentido de que se cogita no art. 101. Porém o art. 101 é rever. Ia o de principio geral.
Mesmo se não é caso de exclusão ou de redução de crédito, tem sempre o juiz falencial
de tomar a providência de encaminhamento da documentação se encontra elementos
de suporte fitico de regra jurídica penal, de que me irradie ação pública.

11.Recurso. O recurso é o de agravo de petição (Decreto-lei n. 7.661, art. 99,


parágrafo único, 2. parte: cabendo da sentença o recurso de agravo de petição ”).
Com direito suspensivo, embora a lei não o diga (com razão, TaÃzÃwo DE
MIRÂNDA VALVERDE, Comentários a Lei de FuMaasas, II, 61). Não atribui
efeito imediato a decido que desconstitui sentença transita em julgado.

12.AÇÃO RESCISÓRIA DE SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO FÀLENCIAL .


 sentença proferida na ação rescisória falencial pode ser rescindida com
fundamento no art. 798 do Código de Processo CiviL A sentença que for
proferida na ação rescisória comum ainda pode ser rescindível, nas espécies
apontadas pelo art. 799.

CAPITULO V

CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS

3.411. Generalidades

1.PRINCÍPIOS GERAIS. O principio da par condicir> ereditorum faz serem todos os


credores tratados igualmente; portanto, com pretensão ao ativo, em proporção ao valor
dos créditos. Uma vez, porém, que a lei admite a eficácia do direito real que garante o
crédito e privilégios especiais ou gerais. tem-se de proceder a rigorosa clasi/icacão
dos créditos.
O tempo exerce grande papel na discriminação dos créditos credores anteriores à
decretação da falência são credores do falido, credores ditos da falência; credores após
a decretação da falência são credores da massa, credores que não se incluem no rol
CAPITULO VIII

daqueles que “concorrem”.


Mais uma vez acentuemos que os créditos ditos quirografários são os créditos sem
privilégio, especial ou geral e garantia real; porém créditos privilegiados, especial ou
geralmente, também podem ter o pita da garantia real. Se acaso se lhes nega, com
vitória do impugnante, o direito real de garantia, fica-lhes o privilégio que têm.
Na classificação dos créditos, devem-se, portanto, mencionar a qualidade do privilégio
e a garantia real, se é privilegiado o crédito a que corresponde, como pita, direito real
de garantia.

2. ORDEM DOS CRÉDITOS. No art. 102 do Decreto-lei a. 7.661 diz-se: “Ressalvada


a preferência dos credores por encargos ou dividas da massa (art. 124), a classificação
dos créditos, na falência, obedece à seguinte ordem: L Créditos

com direitos reais de garantia. II. Créditos com privilégio especial sobre determinados
bens. III. Créditos com privilégio geral. IV. Créditos quirografários”. No § 1.0
acrescenta-se:
“Preferem a todos os créditos admitidos à falência a indenização por acidente do
trabalho e os outros créditos que, por lei especial, gozarem essa prioridade”. O inicio
do art. 102 poderia levar a equívocos se o não interpretássemos em consonância com o
art. 125: à primeira vista, parece que se puseram antes de todas as classes de créditos
que se vão mencionar no art. 102 “os encargos e dividas da massa”, o que é verdadeiro
a propósito das classes do art. 102,111 e IV”; porém não no que tange às classes do art.
102, 1 e II, pois o art. 125 somente estatui que se descontem do produto dos bens
gravados de direitos reais de garantia e do produto dos bens sujeitos a privilégio
especial “as custas e despesas da arrecadação, administração, venda, depósito ou
comissão do síndico, relativas aos mesmos bens”. Assim, no tocante aos créditos
garantidos com direito real de garantia e aos créditos munidos de privilégio especial,
não há dedução de custas judiciais do processo de falência, nem dos seus incidentes e
das ações em que a massa for vencida (art. 124, § 1.0, 1); nem das quantias fornecidas
à massa pelo síndico e pelos credores, salvo se para as custas e despesas de que fala o
art. 125 (art. 124, § 1.0, II); nem das despesas com a arrecadação, administração,
realização do ativo e distribuição do seu produto, inclusive a comissão do síndico (art.
124, § 1.0, III>, pois não dizem respeito ao bem gravado ou afeto ao privilégio
especial; nem das despesas com a moléstia e o enterro do falido que morreu na
indigência, no curso do processo (art. 124, § 1.0, IV); nem dos impostos e mais
tributos de que fala o art. 124, § 1.~, V; nem das indenizações por acidente do trabalho
que, no caso de continuação de negócio do falido, se tenha verificado nesse período
(art. 124, § 1.~, VI); nem das chamadas dividas da massa (art. 124, § 2.0, 1-111).
Os impostos e outros tributos que recaem sobre o bem gravado, ou sobre o bem sujeito
a privilégio especial, esses, pela incidência no bem, lhe apanham o valor, de modo que
têm de ser deduzidos desse, antes de se solverem as dividas garantidas com direito
real, ou especialmente privilegiadas. Mas, enquanto não se solvem tais dividas, não se
distribui o restante.

3. CRÉDITO DO ACIDENTADO NO TRABALHO. O art 102, § 1Y, também precisa


de explicação. Pode parecer que primeiro se satisfaz o crédito do acidentado no
trabalho, ou de seus herdeiros, ou do beneficiário, antes de se satisfazer o credor com
direito real de garantia. Não; o art. 102, § 1?, apenas colocou antes dos outros créditos
“privilegiados” o crédito por acidente do trabalho (cf. Decreto-lei n. 7.036, de 10 de
novembro de 1944, art. 97, parágrafo único: “No concurso de quaisquer créditos
privilegiados, o de que trata este artigo prevalecerá sobre os demais”; antes, disse o art.
97, que “é privilegiado e insuscetível de penhora o crédito do acidentado ou de seus
herdeiros ou beneficiários”). Não se deduz tal crédito antes de se solver o crédito
garantido com direito real.
O direito real de garantia existe no direito das coisas; se, em sua função, é garantia a
CAPITULO VIII

crédito, a técnica jurídica fé lo, em sua natureza, gravame no bem, gravame do valor
do bem, ou, melhor, do bem em seu valor. Quaisquer privilégios e quaisquer
prioridades que não sejam de incidência no bem como valor o deixam incólume. O
próprio acidente do trabalho com o uso do bem não fere o direito real de garantia,
porque o acidente do trabalho se passa entre a empresa e o trabalhador, e não entre o
bem e o trabalhador.
Resta o problema concernente aos créditos com privilégio especial. ~ Passa à frente
deles o crédito de que fala o art. 102, § 1.0, crédito não dotado de privilégio especial,
como é o do art. 759, parágrafo único, do Código Civil? ~ O crédito segundo o art.
102, § 1.0, vem à frente de quaisquer outros créditos privilegiados, pois, tratando-se de
encargo da massa, a lei exatamente no art. 124, § 1?, VI, deu tal categoria à
indenização por acidente do trabalho que, “no caso de continua$o do negócio do
falido, se tenha verificado neste período”? Há, portanto, consonância entre o art. 124,
§ 1.~, VI, e o art. 102, § 1.~.
Há certa sutileza que merece Toda a atenção. No art. 124, § 1.0, VI, a regra jurídica
tem menor abrangência do que a da regra jurídica contida no art. 102, § 1.~. Por outro
lado, não se disse, no art. 102, § 1.’>, que Todas as indenizaç6es por acidente do
trabalho são encargos da massa. Encargos da massa são apenas “as indenizações por
acidente do trabalho, que, no caso de continuação de negócio do falido, se tenha
verificado nesse período” (art. 124, § 1.~, VI). As outras, não. As que não se referem a
pretensões nascidas com a continuação do negócio, de modo nenhum. Por isso
mesmo, as outras apenas se pagam antes de se pagarem os créditos admitidos à
falência. Nem o que se há de pagar como indenização por acidente do trabalho
ocorrido antes da decretação de abertura da falência, nem o que se há de pagar como
indenização por acidente do trabalho ocorrido depois de cessar a continuação do
negócio entram na classe dos encargos da massa. O problema que pode surgir é o de
acidente do trabalho por ocasião dos atos de arrecadação, administração, realização do
ativo e distribuição do seu produto, de que fala o art. 124, § 19, III, mas esse acidente
do trabalho é despesa “cOm a arrecadação, administração, realização do ativo e
distribuição do produto”; portanto, encargo da massa.
Das considerações que acima fizemos é de concluir-se, rigorosamente, que todos os
encargos da massa e todas as despesas da massa têm de ser feitas antes de se cogitar do
pagamento das indenizações por acidentes do trabalho, salvo se as indeniza.. ações
por esses acidentes do trabalho cabem nas despesas de que fala o art. 124, § 1.0, XII,
ou são as de que especialmente cogita o art. 124, § 1.0, VI.

4.CRÉDITOS FISCAIS E PRINCIPIO DA INCOLUMIDADE AO CONCURSO DE


CREDORES. O crédito por impostos e taxas foi considerado pelo Decreto-lei n. 960,
de 17 de dezembro de 1938, art. 60, como incólume à eficácia da decisão de abertura
do concurso de credores, civil, falencial ou de liquidação coativa e à eficácia de
decisão que defira pedido de concordata, ou abra inventário. E o art. 60, parágrafo
único, estabeleceu que há de ser pago antes o da União, em relação aos créditos das
outras entidades estatais, e o do Estado-membro, antes dos crê.ditos dos Municípios.
Há, ai, evidentemente, privilégio de ordem excepcional, pela incolumidade ao
concurso (cf. l.~ Turma do Supremo Tribunal Federal, 9 de setembro de 1946 e 27 de
janeiro de 1947, R. F., 110, 112, e 115, 114). Isso não importa dizer-se que basta que a
Fazenda Pública comunique ao juiz quanto se lhe deve. A Fazenda Pública está
incólume ao concurso de credores, não à declara çáo de créditos, em forma legal, se
prefere comparecer ao juízo falencial, em vez de propor a
ação executiva no juízo da Fazenda Pública. A sua comunicação de ser credora por x
apenas significa que pediu reserva do quanto que diz ser-lhe devido. Tal reserva
somente pode ser levantada, se houve declaração de crédito, após o procedimento dos
arts. 82-96 do Decreto-lei n. 7.661, ou após trânsito em julgado da decisão na ação
proposta no juízo competente para as causas fiscais. Se a Fazenda Pública prefere
propor a ação do art. 98 do Decreto-lei n. 7.661, pode fazê-lo. Todavia, o art. 98, §
CAPITULO VIII

4•O, não lhe é aplicável. O princípio enunciado no art. 60 do Decreto-lei n. 960


apenas forra a Fazenda Pública à incidência do art. 24 do Decreto-lei n. 7.661 e a
quaisquer regras jurídicas sobre rateio. A 4•a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal, a 23 de outubro de 1951, chegou ao absurdo de entender que a
comunicação bastaria à reserva e ao pagamento e que a observância do próprio art. 2.0
do Decreto-lei n. 960 não seria de exigir-se (R. de D. M., II, 401). O Supremo Tribunal
Federal, a 21 de outubro de 1949, tivera atitude diferente, e reformou acórdão do
Tribunal Federal de Recursos, 18 de novembro de 1946 (Á. J., 81, 10).
Á Fazenda Pública não está acima da apreciação judicial, se quer receber o seu crédito
no juízo falencial. Ou propõe a ação no juízo competente e, feita a penhora, obtém
decisão trânsita em julgado; ou declara o seu crédito incólume a concurso de credores
no juízo concursal, civil, falencial ou de liquidação ou de inventário; ou pede reserva,
simplesmente.
Os créditos da Fazenda Pública não estão sujeitos à declaração de crédito. Está certo.
Porém, sem decisão sobre ele, não fica o juízo concursal adstrito a pagá-los se a
Fazenda Pública o exige no processo concursal. Dai ser errôneo o acórdão da 6.8
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 7 de outubro de 1949 (R.
dos T., 188, 351 s.), no que assertou que “o débito fiscal pode ser diretamente exigido
da massa, sem necessidade de passar pelo complicado sistema do concurso de
credores”.
Por outro lado, a cobrança executiva dos créditos da Fazenda Pública, se a ação
executiva não foi proposta antes da decretação da falência, é sobre o liquido do ativo
da massa, isto é, deduzidas as despesas de leilão, de conservação dos bens arrecadados
e dos encargos da massa <3.8 Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 2 e
9 de maio de 1939, .5?. dos T., 121, 164 s.). leia-se o que dissemos, no Tomo XXVII,
sobre o art. 124, § 1.0, V, do Decreto-lei n. 7.661.
A propósito da reserva, cumpre que mencionem as interpretações possíveis: a) ou se
tem o pedido de reserva como sujeito ao art. 130 do Decreto-lei n. 7.661, isto é, ao
requerimento ao juízo falencial; b) ou se tem a simples comunicação como
requerimento de reserva; e) ou o juízo falencial tem de ordenar que se pague no prazo
para evitamento de multas e juros.
A Fazenda Pública podia exercer, fora do juízo falencial, a ação executiva, e, mesmo
que haja requerido a reserva, com o pedido de pagamento, pode exercê-la. Se, em vez
disso, preferisse pedir, no juízo falencial, o pagamento, e requereu a reserva, não põe o
juízo falencial na situação de instrumento automático. Trata-se de juízo como qualquer
outro. Tem a cognição de quaisquer pedidos. Ao síndico é que incumbe solver as
dividas fiscais. Pode LIe entender que a massa não deve pagar o que se lhe cobra e
defender-se administrativa ou judicialmente. No próprio juízo falencial, podem Ele, o
4lido, qualquer credor e o órgão do Ministério Público impugnar o crédito fiscal. Se a
Fazenda Pública persiste no juízo falencial e ocorre sentença contra ela, é no juízo
falencial que tem de continuar e recorrer. Antes de ser proferida a decisão contra ela,
ou a favor dela, sim, pode propor fora a ação executiva. Havemos de entender que a
sua incolumidade aos juízos concursais somente existe enquanto não se subordinou a
julgamento nesses juízos concursais.
Uma vez que há impugnação ao seu crédito, o que a Fazenda Pública tem de fazer é
ingressar no juízo executivo singular.
De passagem observemos que o recurso que a Fazenda Pública pode interpor da
decisão do juízo concursal sobe para o tribunal competente para cognição dos recursos
contra a entidade estatal de que se trata, se o há, e não para o tribunal comum. Quanto
à União, rege o art. 104, II, a), 1.8 parte, da Constituição de 1946.

5.CRÉDITOS CONCORRENTES. Encargos da massa e crê-ditos por dividas da


massa não concorrem com os outros créditos. Pode dar-se que concorram entre si, mas
como créditos contra a massa. Diz o Decreto-lei n. 7.661, art. 124, § 3.0:
CAPITULO VIII

“Não bastando os bens da massa para o pagamento de todos os seus credores, serão
pagos os encargos antes das dividas, fazendo-se rateio, em cada classe, se necessário”.
O assunto mais pertence aos Capítulos III-V da Parte VIII, sobre os pagamentos aos
credores da massa e da falência.

§ 3.412. (1) Créditos garantidos com direito real

1. PRECISÕES. O que se atende, quando se trata de solver divida garantida com


direito real, é mais o direito real do que a dívida. A dívida, essa, pode ser quirografária,
pode ser munida de privilégio geral ou especial; mas há o plus, que é o direito real, que
incide no bem, conforme os princípios do direito das coisas. O problema de técnica
legislativa, que se apresenta ao ter-se de cogitar da satisfação dos créditos em concurso
de credores, é o de dar-se ao direito real o tratamento que lhe compete. Daí a
delicadeza de toda regra jurídica sobre pré-dedução de quantias: só há de ser retirado
ao produto do bem gravado o que seja pertinente ao bem.
O valor com que se há de satisfazer o titular do direito real de hipoteca compreende o
principal, os juros devidos, os que se forem vencendo até à satisfação, e a pena
convencional, se já devida ao tempo da abertura do concurso de credores da falência
ou da liquidação coativa (cf. Decreto-lei n. 7.661, arts. 26, parágrafo único, e 25, §
3.0).
Também assim ocorre com o direito de penhor ou de caução de crédito.
Teremos ensejo de referir-nos especialmente ao direito de anticrese.
No caso de insolvência ou falência do devedor não-dono do bem gravado, os credores
que podem ter pretensão executiva quanto ao bem gravado são os credores do terceiro
dador da garantia real, ou do terceiro adquirente do bem gravado, não os credores da
pessoa a cuja divida se deu a garantia real (Tomo XX, § 2.553).
Se a divida é de outrem, o bem do falido, gravado de direito real de garantia, está
exposto à extração do valor para se solver a divida garantida e para se solverem as
dívidas do falido. De regra, à massa falida nasce pretensão contra o terceiro devedor,
cuja divida fora garantida com o direito real. (liter, se a garantia foi prestada ao
terceiro por dever o falido to devedor do terceiro.
Tem-se de perguntar, sempre, antes de se atender a direito tal de garantia, se existe e
tem eficácia. As questões já foram ratadas nos Tomos XX e XXI, onde se expôs o
direito a respeito dos direitos reais de garantia em geral, da hipoteca, das etras
hipotecárias, de hipoteca a favor de títulos de crédito circulantes e representativos, do
penhor, quer sobre bens corpóreos quer sob bens incorpóreos, do penhor rural, do
penhor industrial, do penhor mercantil, da anticrese, das cédulas rurais de garantia
real, da cédula rural pignoratícia, da cédula rural hipotecária, da cédula rural mista, dos
warrants dos conhecimentos de transporte.
Também a transmissão da propriedade em garantia interessa ao direito concursal,
mas, ai, não se há detração do valor do bem para que se pague o crédito garantido.
Enquanto riSo se satisfaz o credor, o bem não volve à massa, ou, se houve
transmissão, por terceiro, em garantia, não volve ao patrimônio do que deu a
propriedade em garantia (cf. Tomo XXI, 5 2.669, 4).

2.IMPOSTOS E OUTROS NÚMEROS. O primeiro problema o dos impostos e outros


tributos que pesam sobre o bem gravado e dos impostos e outros tributos que não
pesam sobre bem gravado. No fundo, há dois problemas.
O Decreto n. 22.866, de 28 de junho de 1933, art. 1.0, parágrafo único, dizia: “Pelo
pagamento respondem todos os bens do devedor, do seu espólio ou massa falida, ainda
quando gravados com ônus reais, que não poderão obstar o processo executivo para a
respectiva cobrança”. O crédito da Fazenda Pública tem de ser pago,
preferencialmente, sobre quaisquer 3utros créditos, porém isso não quer dizer atinja os
direitos reais. Nem está isso no Decreto n. 22.866, nem, perante a ciência jurídica,
seria de admitir-se que estivesse. O que no art. 1.~ ~o Decreto n. 22.866 se estabelece
CAPITULO VIII

é que, antes dos outros créditos, se solva a dívida fiscal. Se o imposto ou outro tributo
incide sobre o bem gravado, os direitos reais, inclusive os direitos reais que não são
direitos reais de garantia, tem de sofrer a incidência; mas seria ofensa frontal aos
direitos adquiridos se os direitos reais, incluídos os direitos reais de garantia, fossem
atingidos pela execução de futuras dividas, ainda mesmo as fiscais, do dono do bem.
No patrimônio do dono do bem gravado de direito real limitado, inclusive os de
garantia, somente está o direito de propriedade menos o direito real. Se o direito real
não é de garantia, a execução pela Fazenda Pública, por dívida do dono do bem, não
pode atingir o que não é dele: o direito real. O direito real está sujeito às execuções por
dívidas, fiscais ou não, do titular do direito real. Se o direito real é de garantia, o valor
do bem, e não o uso, o fruto, ou a habitabilidade do bem, é que está adstrito à
gravação; de modo que as dívidas fiscais, que recaem no bem, lhe detratam parcela de
valor, com o que sofrem o titular do direito de domínio e o titular ou os titulares do
direito real de garantia. Aí, o bem é atingido e, com Me, os direitos sobre Me, reais ou
não. A distinção é ineliminável; e sempre a proclamou a jurisprudência. Quando se põe
em hasta pública, nos executivos fiscais, por dívidas do dono, o bem gravado, o que se
aliena é o domínio, e não o direito real. Se acaso se põe no concurso o direito real que
pertence a outrem, invade-se o patrimônio de outra pessoa, que pode vir com os seus
embargos de terceiro. A arrecadação de bens gravados é, em verdade, por elipse,
arrecadação de domínio sobre bem, a respeito do qual há direito de outrem. A Fazenda
Pública não entra em concurso de falência, porém não pode arrecadar o que não é do
devedor.
A propósito dos direitos reais de garantia, o que se tem de frisar é que eles são direitos
reais sobre o valor. Quaisquer dividas fiscais do dono, que sejam anteriores à
constituição do gravame, podem ser executadas e pagas com o produto do bem, sem
qualquer detração. Se as dívidas foram posteriores ao gravame, não; porque a lei não
diz isso e, se o dissesse, seria contrária à Constituição de 1946, art. 141, §§ 8.~ e 16.
No Decreto-lei n. 960, de 17 de dezembro de 1988, art. 60, está dito que “a Fazenda,
na cobrança da sua divida ativa, não está sujeita a concurso de credores, nem a
habilitação de crédito em falência, concordata, ou inventário”; e no parágrafo único, 1a
- parte, acrescenta-se: “A dívida da União prefere qualquer outra em todo o território
nacional . O direito real de garantia persiste em sua incidência e não poderia ser
atingido pela divida fiscal posterior, porque tal invasão seria no patrimônio de quem
não é o devedor. Não se há de dar ao ml. 60 e seu parágrafo único do Decreto-lei n.
960, nem ao art. 1.0, parágrafo único, do Decreto n. 22.866 interpretação que faria ruir
grande parte do sistema jurídico. Se o imposto ou tributo é de incidência no bem,
como todo, é o bem e, pois, o seu valor que se apanha com o crédito fiscal. Se é só de
incidência no domínio, incólumes ficam os direitos reais. Se é só de incidência em
direito real limitado, o domínio escapa à incursão fiscal.

3.CUSTAS E DESPESAS COM A CONSTRUÇÃO DO BEM. Se o direito real que


recai sobre o bem do devedor insolvente não é direito real de garantia, escapa à
arrecadação, administração, venda, depósito ou qualquer outra medida do juízo
concursal. No concurso de credores do dono do bem enfituitico, não se arrecada a
enfiteuse, nem se dá administrador à enfiteuse, nem se põe à venda a enfiteuse: a
enfiteuse está noutro patrimônio, que não pode sofrer incursões do juízo em que se
processa o concurso de credores de outra pessoa. No concurso de credores do
proprietário, não se arrecada o usufruto, ou o uso, nem se dá administrador ao
usufruto, ou ao uso, nem se põe à venda o usufruto, ou o uso: o usufruto ou o uso está
noutro patrimônio, que não pode ser atingido pelo concurso de credores de outrem. No
concurso de credores do dono do prédio gravado com direito real de habitação, não se
arrecada o direito real de habitação, nem se lhe dá administrador, nem se põe à venda o
direito real de habitação: tal direito real é de outrem, está noutro patrimônio, que não
pode sofrer intrusões dos credores do dono do prédio.
Quando, porém, se passa ao plano dos direitos reais de garantia, o que está gravado,
CAPITULO VIII

em última análise, é o valor. O bem tem de ser vendido, para que com o seu produto se
solvam as dividas do dono do prédio, ou do enfiteuta que deu ensejo ao gravame da
enfiteuse. Se o concurso de credores fosse do titular do direito real de garantia, a
execução forçada celetiva seria sobre o direito real de garantia. Se o concurso de
credores é do outorgante ou sucessor do outorgante do direito real de garantia, seria
difícil vender..se o domínio e vender-se, separadamente, o que corresponde ao direito
real de garantia, posto que tal operação não seja impossível. Uma vez que o direito real
de garantia consiste na extraibilidade do valor com que se adimpla a obrigação, o
caminho mais adequado é o da venda do bem para se solverem a divida ao titular do
direito real de garantia e as outras dívidas. Daí ter de ser arrecadado o bem em seu
todo e apurado o que vale, para se. atender ao titular do direito real de garantia e aos
outros credores. O que custa à arrecadação do bem gravado em garantia, o que custa a
administração do bem gravado em garantia, o que custa a venda do bem gravado em
garantia, o que custa o depósito do bem gravado em garantia e a comissão do síndico
no tocante a esse bem são dívidas que hão de sair do valor do bem e, pois, do seu
produto. Após a satisfação delas, é o crédito do titular do direito real de garantia que
tem de ser satisfeito. Não se trata de privilégio; direito real de garantia não é
privilégio. Se alguém o síndico, ou o credor, ou outrem prestou o necessário às
despesas, tem direito ao reembolso.
Se a ação executiva real já fora intentada e apenas faltava efetuar-se a venda do bem
gravado de direito real de garantia, não há despesas de arrecadação e de administração
que possam ser exigidas. Se a venda já se fez , o que se há de levar ao concurso de
credores é o que resta das custas e despesas feitas e do que se prestou para solução da
dívida garantida com direita real de garantia.
4.SALÁRIOS DE TRABALHADORES AGRÍCOLAS. Lê-se no art. 759, parágrafo
único, do Código Civil: “Excetua-se desta regra” a regra jurídica de excussão do bem
hipotecado sem se atender a outros créditos “a dívida proveniente de salários do
trabalhador agrícola, que será paga, precipuamente a quaisquer outros créditos, pelo
produto da colheita para a qual houver concorrido o seu trabalho”. O art. 125, § 8.~, do
Decreto-lei n. 7.661 atendeu à regra jurídica que se inserira no Código Civil: “A dívida
proveniente de salários do trabalhador agrícola será paga, antes dos créditos
hipotecários ou pignoratícios, pelo produto da colheita, para a qual houver aquele
concorrido com o seu trabalho”. Já antes era principio acolhido pelo Decreto n. 6.487,
de 27 de março de 1907 (cf. Lei n. 1.150, de 5 de janeiro de 1904, e Lei n. 1.607, de
29 de abril, Tomo XX, §§ 2.423, 2, 2.642, 1, e 2.559, 1.
A ratio legis é perfeita. A colheita desprende os frutos a faz deles bens móveis. Á
mobilização permite que a especialização do privilégio se dê. Se o direito real é de
enfiteuse, usufruto, uso ou habitação, não há pensar-se em cobrança de lívida do dono
do bem, pois que responsável pelos salários o usufrutuário, o usuário, ou o habitador.
Se o direito real é de hipoteca, ou de penhor, o uso e os frutos, são do dono do bem, a
não se compreenderia que não tivesse privilégio, no que se refere à colheita, o credor
do dono do bem hipotecado, ou empenhado. Se o direito real é de anticrese, só se pode
pensar em trabalhador agrícola que o anticresista pôs a seu serviço.
Conforme está claro, o art. 759, parágrafo único, do Código Civil trabalha por fora do
valor do bem, quer se trate de domínio, quer de direito real limitado. Só se refere à
colheita. Ora, colheita é à parte do bem, o valor da colheita é à parte do valor do bem.
O salário do trabalhador agrícola tem privilégio to tocante à colheita. Sobre o valor do
bem têm de ser pagos os créditos de quem tem direito real de garantia. Depois de
prensado o que se destinou ao direito real de garantia, então, se não arrastou para a
extinção dessa dívida garantida com direito real, que se vai contra o produto da
colheita (= o valor da colheita). 43, sim, o trabalhador agrícola tem de ser pago antes
de se atribuir qualquer parcela do apurado ao credor com direito real de garantia.

5.CREDITO DEVIDO À VITIMA DE ACIDENTE DO TRABALHO. O Decreto n.


24.637, de 10 de julho de 1934, art. 35 e seu Parágrafo único já estabeleciam o
CAPITULO VIII

privilégio. privilegiado”, Dizia o art. 35, “e insuscetível de penhora o crédito da


vitima, u de seus herdeiros, ou beneficiários, pelas indenizações determinadas nesta
lei, não podendo o mesmo ser objeto de qualquer transação, inclusive mediante
outorga de procuração em causa própria ou com poderes irrevogáveis”. O parágrafo
único acrescentava: “No concurso de quaisquer créditos privilegiados, o de que trata
este artigo prevalecerá sobre os demais”. O Decreto lei n. 7.086, de 10 de novembro
de 1944, art. 97, apenas introduziu a palavra “outrossim” entre “podendo” e “ser
objeto” sujeito a esse pagamento com o produto do bem, antes de o crédito garantido
ser satisfeito, mas se o trabalho foi no bem garantido. Seria absurdo que, tendo o
devedor, por exemplo, dois ou mais prédios hipotecados, o crédito pelas indenizações
de acidente do trabalho ocorrido no prédio a fosse pago pelo produto do prédio b ou
dos prédios b e o.
Quando se fala de privilégio por acidente do trabalho em se tratando de bem sujeito a
direito real de garantia, o que se há de exigir é a ligação ao prédio ou bem móvel. Nem
seria de admitir-se que, no confisco de credores de quem empenhou, e. g., na Caixa
Econômica pedra de diamante, se haja de deduzir do produto do penhor vendido o em
que foi condenado, por acidente ocorrido após a constituição do penhor.
Para que se possa invocar o art. 97 do Decreto-lei n. 7.036 é preciso que o bem tivesse
de ter trabalho de conservação ou de conserto. Se o acidente do trabalho foi em
benfeitoria voluptuária, não há de incidir o art. 97 do Decreto-lei n. 7.036, nem se foi
em qualquer pertença que não teria, necessAriamente, de elevar o valor do bem. Se foi
em pertença, só o valor da pertença é que .está subordinado ao privilégio, uma vez que
o ato constitutivo não a abrangia. O art. 811 do Código Civil é de grande importância
para se saber o que é que se compreende na hipoteca.
O art. 97 do Decreto-lei n. 7.036 tem de ser entendido em consonância com o art.
1.566, 111, do Código Civil.

6.DESPESAS DE CONSERVAÇÃO DO IMÓVEL OU DO MÓVEL FEITAS POR


TERCEIRO, COM O CONSENSO DO DEVEDOR E DO CREDOR, DEPOIS DE
CONSTITUÍDO O DIREITO REAL DE GARANTIA. Se credor e devedor entram
em acordo sobre despesas de conservação do imóvel ou do móvel gravado de direito
real de garantia, é do valor do bem que hão de sair, sem que antes da satisfação delas
se possa retirar o que corresponde ao crédito hipotecário, ou pignoratício (Código
Civil, art. 1.564; Tomo XX, § 2.542, 1).
Se não houve acordo , o crédito não pode atingir o valor do direito real. Todavia, se o
produto do bem gravado excede o valor do crédito hipotecário e esse fica satisfeito, o
crédito ordens despesas de conservação tem privilégio especial <Código Civil, arts.
1.566, III, e 1.563, III).

7.HIPOTECA JUDICIÁRIA. A hipoteca judiciária estaBelece direito real. Desde a


data da inscrição e especialização, de direito real de garantia que se trata. Não se cria
privilegio ou preferência, para o crédito, em relação aos créditos existentes antes da
inscrição e da especialização, mas cria-se, mi o registro, o direito real. Daí o credor por
hipoteca judiciária, no concurso de credores, ter de sofrer as alegações de privilégios
(Tomo XX, §§ 2.473 e 2.474). Cf. ConmÁ Twzs 2tgesto Portugues, III, ari,. 1.298),
TEIXEIRA DE FREITÁS ~onsolidaçao das Leis Civis, art. 1.278) e LAPAIRTE
RoDRIOuM mEUA <Direito das Coisas, II, 155).
Todavia, observe-se que:
a)Em relação às hipotecas posteriores e anticreses pos-ti-es, tem-se de atender à
graduação. Graduação não é privilégio. A advertência de REBOUÇAS a TEIXEIRA
DE FREITAS procedentes. Leia-se a nota 31) ao art. 1.278 da Congo ação das Leis
Civis de TEIXEIRA DE FREITAS.
b)Os créditos que se constituírem depois de se inscrever hipoteca judiciária são
ineficazes contra a hipoteca judiciária.
c)O art. 824 do Código Civil diz que a hipoteca judiciária não é hipoteca, nem, tão
CAPITULO VIII

pouco, que a hipoteca judiciária não tem grau. que é preciso é não se confundir com a
efiodeja do direito real garantia a eficácia de judiciária com o registro pode ser
oposta a terceiros, sem ar preferência. Não diz que a hipoteca privilégio. Nas
Ordenações Filipinas, ro 1711, Titulo 84, § 14, a hipoteca judiciária era automática.
sistema jurídico de hoje, não: há direito formativo gerador direito real de hipoteca, que
resulta do exercício daquele. hipoteca judiciária não estabelece privilégio, mas é
hipoteca. Aliás, nenhuma hipoteca cria privilégio. Como a hipoteca judiciária é
oriunda de direito formativo gerador, a lei foi lícita em afastar que se pudesse ver na
hipoteca judiciária eficácia de tornar privilegiado, geral ou especialmente, o crê que o
não era.

8.HIPOTECA DE NAVIOS. Lê-se no Decreto a 15.788, de novembro de 1922, art.


20: “O crédito hipotecário maritimo prefere a quaisquer outros, com exceção dos
seguintes:
a) custas e despesas judiciais e impostos federais; b) créditos resultantes do
engajamento do capitão, tripulação e pessoal de bordo; e) indenizações devidas por
salvamento, e contribuição às avarias comuns; d) obrigações assumidas pelo capitão
fora do porto do registro para as necessidades reais da conservação do navio ou
continuação da viagem; e) indenização devida em razão de abalroamento ou outro
qualquer acidente de mar. No caso de falência ou insolvência do devedor hipoteca ano,
serão observadas as disposições do Código Civil e da Lei de Falências aplicáveis à
espécie”. As custas e despesas judiciais são as relativas à execução real. Os impostos e
mais tributos federais, estaduais e municipais são os mesmos que, mutatis rnutandis,
seriam de se solver se a hipoteca fosse de prédio. Os créditos resultantes do
engajamento do capitão, tripulação e pessoal de bordo foram incluídos no rol dos
créditos que se ha de satisfazer antes do crédito garantido com a hipoteca, porque se
trata de bem que tem funcionamento, esse funcionamento é que permite a mantença e
lucro do navio, de modo que é elemento indispensável do valor do bem. Também a
pré-dedução dos créditos por indenizações em virtude de salvamento e a contribuição
por avarias comuns se explica pela natureza do bem e a exposição dele a riscos e
danos idades. Idem, quanto aos créditos oriundos de abalroamento ou outro acidente
de mar. Sobre a hipoteca de navios, Tomo XX, §§ 2.482-2.489.

9.HIPOTECA DE AERONAVES. Diz o art. 140 do Decreto-lei n. 483, de 8 de junho


de 1938: “O crédito hipotecário aéreo prefere a quaisquer outros, com exceção dos
seguintes:
a)despesas judiciárias, ou destinadas à conservação da aeronave até a venda judicial;
~» indenizações devidas pela assistência ou salvamento; e) taxas pela utilização de
aeroporto, ou de serviços acessórios ou complementares da navegação aérea; d) gastos
efetuados pelo comandante da aeronave, em virtude de seus poderes legais, quando
indispensáveis para a continuação da viagem”. E o art. 141: “Os privilégios referidos
no artigo anterior só prevalecerão até seis meses depois de sua constituição, aplicando-
se, todavia, em qualquer caso, os preceitos que regulam a falência ou o concurso de
credores” Os seis meses contam-se da constituição do crédito; o prazo é preclusivo do
privilégio. O exercício da pretensão ao pagamento antes da solução da divida
hipotecária, ainda que se esteja a discutir o crédito, é bastante para que a preclusão se
dê. Sobre hipoteca de aeronaves, Tomo XX, §§ 2.490-2.493.

10. ANTICRESE. O credor com direito real de anticrese tem direito a perceber os
frutos e rendimentos, para se ir pagando da divida de interesses (anticrese
compensativa), ou da divida de capital e da dívida de interesses (anticrese extinta>. O
anticresista como que adimple a si mesmo, em lugar do devedor ou do constituinte da
anticrese <Tomo XXI, §§ 2.617-2.632). Se a anticrese é somente compensatória, não
se diz quais os juros, e o uso e a fruição compensam a dívida deles. Se a anticrese não
é extintiva do capital e se determinaram os juros, pode ser exigida a prova do valor do
CAPITULO VIII

uso e da fruição. Se foram fixados os juros, mas é de interpretar-se o ato de


constituição como avaliativo do uso e da fruição, em verdade não se fixaram juros,
posto que se lhes haja dado valor preciso, que é só aparente.
Se a anticrese é extintiva do capital, está em causa a extinção da dívida mesma. Se de
juros não se falou, é que a dívida é sem juros estipulados. Pode ela ser extintiva do
capital e dos juros.
O anticresista pode executar o imóvel, pelo crédito garantido: supõe-se, então, que
renunciou ao direito (real) de anticrese. Se outrem executa o bem, ou permite ele que
se prossiga na execução, renunciando, expressamente, ao direito de anticrese, ou o
permite, sem opor o seu direito de anticrese, e então é tácita a sua renúncia, ou opõe o
seu direito de anticrese, afastando que se possa pensar em renuncia. Se há renúncia,
expressa ou tácita, desaparece o direito de anticrese. Em todo caso, há a espécie do
anticresista, que tem a posse do bem, em relação ao credor posterior, problema que
versamos no Tomo XXI, § 2.627, 3.
Observe-se que não se pode falar de direito de retenção
a propósito de anticrese. Explicamos, no Tomo XXI, § 2.627, 3,
a palavra “retinet”, que se encontra na L. 11, § 1, D., & pignoribus et kypothecis et
quez.liter ea co’ntrahantur et de pactis
eorum, 20, 1. Qualquer referência a direito de retenção, a respeito de anticrese e
percepção de frutos, é prova de que o jurista, que disso não escapou, não sabe o que é
direito de retenção.
No art. 119, § 39, do Decreto-lei n. 7.661, diz-se que serão levados a leilão os bens
dados em anticrese. Portanto: a lei ordenou que se venda o bem gravado. Com as
formalidades para o leilão e com a própria venda, até que se dê a tradição do -imóvel
livre do gravame, o anticresista, parte no ato incidental de venda, continua na posse
imediata do bem. A intromissão do síndico é apenas para que entre a posse própria,
mediata, do dono do bem (não da pessoa simplesmente devedor, o que se dá se houve
garantia de divida alheia> e a posse imediata do anticresista se intercalem duas posses,
a do juízo e a do leiloeiro. Quando juristas dizem que, no período da liquidação, deve
o síndico intimar o anticresista para entregar o imóvel, que será submetido a leilão (e.
g., TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE, Comentários à Lei de Falências, II, 73),
deixam de atender à teoria da posse e aos princípios do Código Civil. O anticresista
não perde a posse, que ele tem; apenas há de ser notificado de que o bem vai à hasta
pública. A posse imediata, que ele tem, ou a posse mediatizada, se ele, por exemplo,
alugou o prédio, ele só a perde quando o bem tiver de ser entregue ao adquirente. A
notificação ao anticresista é a mesma que se exige seja feita ao titular do direito real de
hipoteca (Decreto-lei n. 7.661, art. 119). O art. 119 e §§ 1.0 e 29 são invocáveis a
respeito da anticrese. A posição do § 39 do art. 119 tem como conseqflência entender-
se que o trato da anticrese, a propósito da venda do bem, é semelhante ao da venda do
bem gravado de hipoteca.
Vendido o bem gravado de anticrese, ou a anticrese era só compensatória de interesses
(não fixados), e então se têm de prestar ao anticresísta seis por cento ao ano,
correspondentes aos anos que faltavam ao direito real de anticrese, ou, se o bem estava
gravado de anticrese extintiva do capital, tem-se de prestar o que corresponde a esse
capital, tal como aconteceria se o bem estivesse gravado de hipoteca, e não de
anticrese. O art. 125 do Decreto-lei n. 7.661 é invocável.
A anticrese não grava o valor do bem, nem cria privilégio; mas é direito real que há de
ser protegido, como todos os outros.

Ou a venda é do bem livre e então se há de deduzir do preço o que extinga a anticrese;


ou só se ~ à venda o bem gravado de anticrese. Na segunda espécie, a anticrese
persiste.
Ó mesmo ocorre em caso de desapropriação (cf. Tornos XX, § 2.627,6, e XXI, §§
2.629, 4, 5, e 2.030, 1).
Nos casos de indenização por fato ilícito, por ato-fato ilícito, ou por ato ilícito, tem-se
CAPITULO VIII

de indagar se a deterioração diminuiu o valor do bem e a renda do bem sujeito a


anticrese, ou se não ofendeu o valor e ofendeu a rendabilidade, ou se só ofendeu
aquela: no primeiro caso, há indenização ao dono (ou ao dono e ao enfiteuta) e ao
anticresista; no segundo, só ao anticresista; no terceiro, só ao dono (ou ao dono e ao
enfiteuta).

11.RENDA CONSTITUÍDA SOBRE IMÓVEL. Se há direito real de renda


constituída sobre imóvel, não se pode pensar em trato igual ao da hipoteca, ou ao da
anticrese. O direito real de renda constituída sobre imóvel não é direito real de garantia
(Tomo XIX, §§ 2.398-2.412, principalmente §§ 2.400,6, e 2.401)~ L&-se no Código
Civil, art. 752: “No caso de falência, insolvência ou execução do prédio gravado, o
credor da renda tem preferência aos outros credores para haver o capital indicado no
artigo antecedente”. Noutros termos: o direito real persiste; a renda necessária ao
pagamento das prestações é incólume. Pode ser vendido o imóvel, mas o frentista há
de receber o capital que lhe assegure, a juros de seis por cento, renda igual à que o
frentista percebia (Código Civil, arts. 751 e 752).
Se há constituição de renda, sem se ter criado direito real (Código Civil, arts. 1.424-
1.430), o frentista, no concurso de credores civil ou falencial do rendeiro, é credor
quirografário.

12. (a) PENHORES. Quer o penhor seja com entrega da posse imediata, quer não, há
direito real de garantia. Como direito real de garantia, é que tem de ser tratado no
direito concursal civil ou comercial. Se tem eficácia real a constituição do penhor, não
há diferença entre os penhores . A lei comum ou a lei especial é que responde a essa
questão prévia.
O art. 772 do Código Civil estatui: “O credor pignoratício não pode, paga a divida,
recusar a entrega da coisa a quem a empenhou. Pode retê-la, porém, até que o
indenizem das
despesas devidamente justificadas, que tiver feito, não sendo ocasionadas por culpa
sua” (Tomo XX, § 2.579, 3, 4). Ai, há, tipicamente. direito de retenção (Tomo XXII, §
2.738, 2).

13. (b) PENHOR INDUSTRIAL. Lê-se no Decreto-lei n. 4.191, de 18 de março de


1942, ad. 1.0: “O penhor industrial regulado no Decreto-lei n. 1.271, de 16 de maio de
1939, não tem preferência sobre o penhor legal do locador do imóvel em que
estiverem situados as máquinas e os aparelhos empenhados, salvo se o locador houver
consentido expressamente na sua constituição”. No parágrafo único: “O
consentimento” aliás, assentimento “do locador deverá constar de escritura pública
ou de instrumento particular e pode ser dado no próprio ato da constituição do penhor,
ou posteriormente”. E no ad. 2.0: “Se o locador não houver dado o seu consentimento”
aliás, assentimento “o patrimônio industrial empenhado a terceiro pelo locatário ou
sublocatário só poderá ser vendido em execução, depois de judicialmente vendidos os
outros bens do penhor legal e as cauções especiais anteriormente constituídas em favor
do mesmo locador”. No § 1.0: “Havendo cauções em dinheiro ou em títulos, ou
qualquer outra garantia real constituída pelo locatário em favor do locador e em razão
da locação, a execução versará em primeiro lugar sobre tais bens”. No § 29: “O credor
garantido pelo penhor industrial poderá, verificada a impontualidade do seu devedor
em relação locador, pagar os alugueres vencidos, sub-rogando-se em todos os direitos
do mesmo locador”. Finalmente, no § 3.0: “É licito ao credor garantido pelo penhor
industrial sem o consentimento do locador” aliás, assentimento “dá-lo como
rescindido e exigir imediatamente a dívida, desde que o devedor não mantenha em dia
os compromissos resultantes da locação”.
O Decreto-lei n. 4.191 precisa ser esclarecido e posto em linguagem técnica. No ad.
1.0, o que se faz passar à frente do penhor industrial é a pretensão à constituição do
penhor legal, e não só o penhor legal. Portanto, antes de o locador tomar o penhor
CAPITULO VIII

(Tomo XX, § 2.572). O que faz a dependência é a situação das máquinas e aparelhos.
Se houve assentimento do locador, tudo se passa segundo os princípios. Para a venda
dos objetos sujeitos ao penhor industrial, se não assentiu na sua constituição o locador,
têm de ser vendidos, antes, os outros bens sujeitos à pretensão à constituição do
penhor legal e os objetos dados em penhor ou caução ao locador <penhor
convencional ou caução convencional), ou em hipoteca ou anticrese. O credor com
garantia de penhor legal é terceiro interessado (Código Civil, art. 985, III), para
adimplir a obrigação do locatário impontual, dando-se a sub-rogação pessoal. O
inadimplemento de obrigações do locatário que possa resultar em execução dos bens
sobre que recai o penhor industrial é causa para resolução do negócio jurídico entre o
locatário e o credor garantido com o penhor industrial.

14.(e) PENHOR DE CRÉDITOS GARANTIDOS COM DIREITO REAL. Os créditos


que são garantidos com direito real de garantia podem ser empenhados, e, para esse
efeito, se consideram bem móvel (Decreto n. 24.778, de 14 de julho de 1984, art. 19;
Tomos XX, §§ 2.437, 3; 2.468, 1; 2.516, 4; 2.570; 2.587; 2.590; e XXI, § 2.595, 3). O
credor do credor passa à frente desse (Decreto n. 24.778, art. 2.0: “O credor
pignoratício poderá levar à praça os créditos dados em garantia, ou executá-los
diretamente, para seu pagamento”). As letras hipotecidas e as cédulas rurais
pignoratícias são bens corpóreos e o penhor delas satisfaz-se com a prestação que
satisfaça o crédito que nelas se incorpora.
O endosso -penhor tem a mesma eficácia que a do penhor pela simples tradição em
conseqüência do acordo de constituição do penhor.
Sobre o endosso -penhor nos conhecimentos de transporte, Decreto n. 19.473, de 19 de
dezembro de 1930, art. 49, parágrafo único (Tomo XXI, § 2.664, 3).

15.(d) CAUÇÕES DE CRÉDITO COM PENHORES DE CRÉDITO PESSOAL. Os


penhores de crédito pessoal ou cauções de crédito são com a entrega do título, que é
pertença. O direito não se coisificou ”. A transmissão é da posse dos documentos
(Tomo XX, § 2.590). Ai, o penhor não se faz acima dos outros créditos que teriam de
ser satisfeitos antes do crédito dado em penhor; mas o titular do direito de penhor é
que há de receber, primeiro, até satisfazer-se, o que o credor cujo crédito foi
empenhado ou caucionado receberia. Note-se que, antes de todos os outros créditos,
vêm os direitos reais de garantia, inclusive
os direitos reais de garantia (penhores) que recaem em créditos garantidos com direito
real, mas, se Esse é pessoal, passam à frente aqueles créditos que preferem ao crédito
pessoal dado em garantia. O direito real de garantia, ai, continua de fora, e só intervém
a determinado momento.

16.(e) BENS DE VALOR MENOR DO QUE O DO CRÉDITO GARANTIDO.


Quando sobre o mesmo bem recaem dois ou mais direitos reais de garantia, o
tratamento, que se lhes há de dar, é previsto nas leis civis ou comerciais. Não se pode
pensar em solução a priori. Mas o principio básico é o da prioridade no tempo.

§ 3.413. (II) Créditos com privilégio especial

1. CONCEITO. Créditos com privilégio especial são os créditos a que a lei conferiu a
eficácia de incidência em determinado bem. A especialidade é por sua privilegiação
em relação à coisa.
Conforme melhor diremos ao termos de tratar da liquidação do passivo e de
conformidade com o que foi dito a propósito dos privilégios (Tomo XXVII, §§ 8.235-
3.255), os créditos especiais apanham o bem e, se o bem não basta, de regra perduram
como créditos quirografários.
Há certa parecença entre os créditos com privilégio especial e os créditos com direito
real de garantia. Porém aqueles não geram direito real.
CAPITULO VIII

No direito real de garantia não há privilégio. O que toca ao titular do direito real, de
garantia já é dele e tem-se de extrair do bem, isto é, do valor do bem. O dono do bem
gravado de direito real de garantia não deve; o valor, a que se refere o ato de
constituição do direito real de garantia, já é do titular do direito real de garantia. Por
isso mesmo, o devedor da quantia pode ser outra pessoa; então, por exemplo, E é dono
do prédio gravado de hipoteca, portanto dono de prédio menos o valor da hipoteca, e
quem deve é C, a A, credor de C e titular do direito real que grava o prédio de B.
Quer a respeito dos privilégios especiais quer a respeito dos privilégios gerais, o
principio de fontes e interpretação das leis é o de não caber interpretação por analogia
ou extensiva 28 de janeiro de 1949, A. 1., 94, 257, a propósito de “depósito” bancário,
que não se pode considerar verdadeiramente depósito). Privilegia aunt stricti juris.
Nem cabe convenção dos figurantes para se estabelecer privilégio especial ou geral
(1.8 Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 12 de agosto de 1946, R. F.,
111, 160).

2. ENUMERAÇÃO DOS CRÉDITOS COM PRIVILÉGIO ESPECIAL E A LEI DE


FALÊNCIAS . O art. 102, § 29, do Decreto-lei n. 7.661 contém: o inciso 1, que é
remissivo às leis civis e comerciais concernentes aos privilégios especiais, e delas
tratamos, mais de espaço, no Tomo XXVII, quando expusemos a matéria dos
privilégios; o inciso II, que atribui privilégio especial aos créditos “por aluguer do
prédio locado ao falido para seu estabelecimento comercial ou industrial sabre o
mobiliário respectivo>’; e o inciso III, 1.8 parte, que considera com privilégio especial
“os créditos a cujos titulares a lei confere o direito de retenção, sobre a coisa retida”.
Na 2.8 parte do art. 102, § 29, cria-se direito de retenção (note-se a diferença, de que
aliás já falamos): “o credor goza, ainda, de direito de retenção sobre os bens móveis
que se acharem em seu poder por consentimento do devedor, embora não esteja
vencida a dívida, sempre que haja conexidade entre esta e a coisa retida, presumindo-
se que tal conexidade, entre comerciantes, resulta de suas relações de negócios”.

3. CRÉDITOS A QUE AS LEIS CIVIS E COMERCIAIS ATRIBUEM PRIVILÉGIO


ESPECIAL. No Tomo XXVII, dissemos o que era de mister. Todavia, convém
particularizar alguns problemas.
Se o valor do bem ou dos bens sobre que recai o privilégio especial, ou sobre que
recaem os privilégios especiais da mesma classe, não bastam para a satisfação do
credor ou dos credores que têm o privilégio especial, ou os privilégios especiais, o
resto ou os restos somente podem ser pagos como crédito quirografário ou como
créditos quirografários.
Se pereceu ou se deteriorou o objeto sobre que recai o privilégio especial e havia
seguro, a indenização sub-roga-se ao dano, de jeito que sobre ela incide o privilégio
especial. Dá-se stweedit loco ret.
A anticrese não grava o valor nem cria privilégio especial. Daí as regras jurídicas do
art. 808, §§ 1.<> e 2.0, do Código Civil (Tomos XX, § 2.427, 6, e XXI, §§ 2.627, 3,
2.629, 4, 5, e 2.630, 1).

4.ALUGUER DO PRÉDIO LOCADO AO FALIDO. Ao crédito por aluguer ou aos


créditos por alugueres, a que o art. 102, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661 se refere, exige-
se, para que tenham o privilégio especial> que o prédio ou os prédios tenham sido
locados para estabelecimento comercial, ou industrial. Prédio para estabelecimento
comercial, ou industrial, não é só aquele em que se vende, ou se compra-e-vende, ou
se fabrica, ou em que se pratica qualquer ato de comércio, ou em que está todo ou
parte do escritório. É também aquele em que se alojam mercadorias, ou em que se
guardam gêneros que precisam de pouso ou de envelhecimento, ou a terra em que o
comerciante ou o industrial tem invernada, que é parte da sua atividade mercantil, ou o
simples mostruário fechado.
Mobiliário está, no art. 102, § 2.0, II, por todo objeto móvel que se não tornou parte
CAPITULO VIII

integrante do prédio, ou pertença desse, cuja propriedade passou ao locador; portanto,


todo bem móvel, de propriedade do locatário, que guarnece o prédio. Se algum bem
móvel fora alugado ou vendido com reserva de domínio ao locatário, depois falido, e,
no lugar em que está, atribui maior valor ao prédio, de modo que o contrato de locação
tenha valor por si, sobre Esse valor recai o privilégio especial do locador do prédio.
O privilégio especial que têm os créditos por aluguer somente se refere aos alugueres
anteriores à decretação da falência. Se, no momento de se decretar a falência, o falido
devia ou não devia alugueres, os alugueres posteriores são atividade da massa
(Decreto-lei n. 7.661, art. 124, § 2.<>, II; ei. 4•8 Câmara Civil do Tribunal de Justiça
de São Paulo, 26 de. agosto de 1948, li. dos T., 176, 736; errados, os acórdãos do
Tribunal de Justiça de São Paulo, a 13 de março de 1916, 1?. dos 7%, 17, 234, da
Corte de Apelação do Distrito Federal, a 19 de maio de 1915, R. de D., 37, 397, a 23
de julho de 1915, 38, 614, a 10 de outubro de 1915, E. dos T., 15. 321, e a 17 de
novembro de 1922, R. do S. T. IX, 43, 316, que consideraram privilegiados os créditos
por alugueres posteriores, e não os créditos por alugueres anteriores à decretação da
falência).
É preciso que se não confunda a garantia do penhor legal com o privilégio especial. O
credor por alugueres anteriores credor privilegiado, tenha ou não pedido homologação
de penhor legal. Se a pediu, corre o risco de se decidir, com força de coisa julgada,
sobre a existência do crédito; mas isso é outra questão. A respeito, com razão, em
parte, o Desembargador PAULO PASSALÂCQUA, em voto vencido sob o acórdão da
2. Câmara Civil da Corte de Apelação de São Paulo, a 24 de setembro de 1937, de que
foi relator o Desembargador ANTONIO DE MORAIS (R. dos T., 113, 60).

5.CRÉDITOS A QUE CORRESPONDE DIREITO DE RETENÇÃO. Aqui, tem-se de


precisar que direito de retenção não é privilegio; ao crédito, a que corresponde direito
de retenção, também e atribui privilégio especial. Com essa elucidação, o assunto iode
ser tratado com facilidade e segurança. Lê-se no ad. 102,
2.0, III, 1.8 parte, do Decreto-lei n. 7.661, que têm privilégio especial “os créditos a
cujos titulares a lei confere o direito [e retenção, sabre a coisa retida’>. Entenda-se: os
créditos, cujos titulares a lei confere o direito de retenção, têm privilegio especial sabre
a coisa retida. A conexidade do crédito a posse do bem fazem nascer o direito de
retenção e o privilégio especial. Poderiam somente produzir um ou outro. Produzem os
dois.
“O credor”, diz o ad. 102, § 2.0, III, ~ parte, “goza, ainda, do direito de retenção sobre
os bens móveis que se acharem ir> seu poder por consentimento do devedor, embora
não esteja vencida a dívida, sempre que haja conexidade entre esta a coisa retida”.
A 2.~ parte do ad. 102, § 2.0, III, do Decreto-lei n. 7.661, á foi objeto de exposição no
Tomo XXII, §§ 2.734, 5, 2.735, 3, L736, 3, e 2.737, 1. É de relevância bem entender-
se o “embora não esteja vencida a dívida”, que ai aparece. A falência determina o
vencimento.
A conexidade, de que se trata, é entre divida e bem, que não é objeto da divida. Daí
ter-se falado de conexidade objetiva, conexidade que é elemento do suporte fático do
direito de retenção (MATTHLALS K. E. REGE, Das Rechtsverldtltni.s, em Beitrag
zur Lebre von der Konnexitãt und dem Zuriickbehaltungsrecht des BGB., 6 5.; 3. II. A.
Bnumt, Das Zuritckbe ialtungsrecht des BGB., 54).
Quando a lei atribui privilégio especial ao crédito cujo titular tem direito de retenção,
não diz que o direito de retenção produz o privilégio especial. Apenas, brevitatis causa,
editou regra jurídica que tem por suporte fático os mesmos elementos que se acham
no suporte fático de outra regra jurídica, que é a concernente ao direito de retenção.
Aqui, efeito da incidência da regra jurídica é o direito de retenção. Ali, o privilégio
especial. Foi fácil ao legislador empregar o suporte láctico da outra regra jurídica,
porque, tratando-se de privilégio especial, se tinha de aludir a determinada coisa, em
posse do credor, e tratando de duas relações jurídicas, de que provêm os dois
créditos, e em que, numa, o devedor é credor na outra, é razoável que o mesmo
CAPITULO VIII

pensamento que esteve à base da elaboração da regra jurídica sabre o direito de


retenção persista no momento de se cogitar da privilegiação do crédito conexo do
devedor com posse da coisa devida.
É assaz importante o ad. 102, § 2.<>, III, 2.~ parte, 28 enunciado, do Decreto-lei n.
7.661: “presumindo-se que tal conexidade, entre comerciantes, resulta de suas relações
de negócios”. Aqui, a regra jurídica é sobre Ônus da prova: o devedor é que tem o
anus de provar que não há conexidade e, pois, não há direito de retenção, nem
privilégio especial.
O assunto nada tem com a exceção non adimpleti cotatractus, nem com a non rite
adimpleti contraxtus; nem com aqueles casos em cuja regra jurídica aparece a palavra
“reter” ou semelhante, mas em que é erro ver-se direito de retenção.
são exemplos de direito de retenção e, pois, do privilégio especial do ad. 102, § 2.0,
III, do Decreto-lei n. 7.661 os casos dos arts. 516, 939, 1.278, 1.279, 1.315 e 1.199 do
Código Civil.
Se, nos casos em que o juiz, ou outro interessado na aplicação da lei, somente por
encontrar a palavra “reter”, pensa em haver direito de retenção, é sem grandes
inconvenientes o erro, avulta ele ao se tratar de incidência do ad. 102, § 2.”, III, do
Decreto-lei n. 7.661. Daí a necessidade de se responder precisamente, diante de cada
espécie, se há direito de retenção, ou casas, inadmissíveis, de direito de retenção, que
aparecem imo em livros especialmente dedicados à matéria. A respeito direito de
retenção, cf. Tomos XXI, §§ 2.680, 2.683, 1, 2.731, S4-2.739; XXIV, §§ 2.922, 2.949,
1, 2.951, 4, e XXVII, .238, 3 (antes, Tomos V, §§ 628, 631, 647, 2, e X, §§ 1.061,
1.118, 4).
No Código Comercial, a espécie do art. 96 não é exemplo direito de retenção e, pois,
de privilégio especial: “Os trapicheiros e os administradores de armazéns de depósito
têm direito de exigir o aluguel que for estipulado, ou admitido por na falta de
estipulação, podendo não dar saída aos efeitos quanto não forem pagos; porém, se
houver lugar a alguma lunação contra eles (arts. 93 e 94), só terão direito a requer
depósito do aluguel”. SÂLUSTIANO ORLANDO DE ARAÚJO WA (Código
Comercial, 1, 7.s ed., 142) falava, ai, de direito retenção. Não há outro débito: o
trapicheiro ou o administrador do armazém de depósito tem de entregar a coisa, s o
aluguer ainda lhe é devido, e opõe a exceção nota adim contractus. O privilégio
especial, Esse, lhe advém do art. 97 Código Comercial: “Os mesmos trapicheiros e os
administradores de armazéns de depósito têm hipoteca tácita nos efeitos existentes nos
seus trapiches e armazéns, ao tempo da bra do comerciante proprietário dos mesmos
efeitos, para em pagos dos aluguéis e despesas feitas com a sua conserlo (art. 88, n. 4),
com preferência a qualquer outro credor”. art. 14 da Lei n. 1.102, de 21 de novembro
de 1903, a impropriedade de expressão, pela mistura das matérias, veio à tona:
a empresas de armazéns gerais têm o direito de retenção a garantia do pagamento das
armazenagens e despesas com conservação e com as operações, benefícios e serviços
presos às mercadorias, a pedido do dono; dos adiantamentos os com fretes e seguro, e
das comissões e juros, quando as mercadorias lhes tenham sido remetidas em
consignação. Esse direito de retenção pode ser oposto à massa falida do devedor.
também têm as empresas de armazéns gerais direito de indenização pelos prejuízos
que lhes venham por culpa ou dolo do depositante” (cf. Tomos XV, §§ 1.829, 5, 1.830,
3, e 1.832, 4; ,§ 2.576, 4; e Tomo XXII, § 2.738, 13). A respeito das nota adimpleti
contractus, e não direito de retenção (E. ScaoiiMEYER, Reckt der Schuldverh4ltnisse,
188; F. SCHLEGELBERGER, Das .Zurilckbekaltungsrecht, 101 e 148; P.
LANGHEINEKEN, Ãnspnwh und Einrede, 335; sem razão, P. OERTMANN, Das
Recl&t der Sckuldverhdltnisse, 183; L. ENNECCERUS, Lehrbuch, II, 31.~-3S.~ ed.,
112; O. WARNEYER, Kommentar, 1, 562). Cf. Tomos XX, § 2.576, 4, e XXII, §
2.738, 13.
O erro de SALUSTIANO ORLANDO DE ARAÚJO COSTA foi repetido por juizes e
comercialistas, ou civilistas, que trataram de direito de retenção. As leis mesmas
cometeram a cincada. Por onde se vê quão alta é a responsabilidade dos que têm de
CAPITULO VIII

tratar de terminologia jurídica, sem estarem a par da exatidão dos conceitos.


Sabre outros erros, por se confundir com direito de retenção a exceção nota adimpleti
contractus ou a nota rite adiinpleti contractus, que mencionamos, cf. o Tomo XXII, §
2.738, 13, foi claro. E. g., Decreto n. 15.673, de 7 de setembro de 1922, arts. 135 e
136; Código Comercial, arts. 116, 117, 118 e 632, alínea 1.8; Decreto n. 14.473, de 10
de dezembro de 1930, art. 2.”, VII. Sabre o Decreto n. 21.081, de 19 de outubro de
1982, arts. 40, 24 e 25. Tomo XXII, § 2.738, 14.
O direito de retenção pode ter origem negocial (Tomo XXII, § 2.734, 5); então,
nascido ele, nasce o privilégio especial. Isso nada tem com o principio da conversão
(Tomo IV, §§ 374 479e 403, 2).
O direito de retenção e, pois, o privilégio especial são pré -excluíveis (Tomo XXII, §
2.734,6) e renunciáveis (§ 2.739, 4). No art. 1.131 do Código Civil estatui-se: “Não
obstante o prazo ajustado para o pagamento, se antes da tradição o comprador cair em
insolvência, poderá o vendedor sobrestar na entrega da coisa, até que o comprador lhe
dê caução de pagar no tempo ajustado”. No direito brasileiro, o contrato de compra e
venda é contrato consensual. Alguns juristas confundem-no com o contrato de compra
e venda no direito suíço, o que é lamentável. Ou seja a prazo, ou seja à vista o contrato
de compra e venda, antes da tradição há dívida, obrigação, e não transferência. O art.
198 do Código Comercial já dizia: “Não procede, porém, a obrigação da entrega da
coisa vendida antes da entrega, o comprador monto dar notoriamente de esta a não
prestar fiança ao pagamento nos prazos convencionais. Tudo isso se acha na
generalidade do ad. 1.092, alínea, do Código Civil, onde se trata da exigibilidade da 1o
(pretensão à seguridade ou segurança, Tomos 1171, § 304, 1”, § 3.091, 4, e XXVI, §§
3.124, 4, 3.128, 1, 7, 8, 3.129, 3, 5, e 3.131, 3).
A coisa retida pode ser dinheiro se não está no patrimônio do credor retentor. Se está
no patrimônio desse, é devida credor como prestação sua, e não há falar-se de direito
retenção. Seria caso de exceção nota adimpleti contractus, [e pretensão à seguridade.
Porém seria erro dizer-se que, do ilíquido o crédito, não há compensação e, pois, há
direito retenção. São proposições que levianamente se lançaram, sustentáveis.
Afirmaram que o dinheiro não pode ser a coisa ~da J. X. CARVALHO DE
MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial, VIII, 174> e OLávo DE ANDRADE
(Notas sobre o Di-de retenção, 38), sem aprofundarem o estudo do assunto Tomo
XXII, § 2.734, 4).
Tem-se escrito que o mandatário e o comissário têm, pelo to comercial, direito de
retenção pelos valores do mane ou comitente, para atender ao pagamento do que lhes
devido, em consequencia da execução do mandato, O Código Comercial, no a.rt. 156,
diz que “o mandatário tem direito para ; do objeto da operação que lhe foi cometida,
quanto baste pagamento de tudo quanto lhe for devido em conseqüência mandato”.
No Código Civil, art. 1.815, enuncia-se que mandatário tem sobre o objeto do mandato
direito de ição, até se reembolsar do que no desempenho do encargo andeu”. O Código
Civil está certo (Tomo XXII, § 2.738, 5); ligo Comercial, se lhe damos interpretação
literal, encamu casos de exceção nota adimpleti contractus e nota rUe pleti contractus
com os casos de direito de retenção.quanto ao depositário, o ad. 1.279 do Código Civil
revor art. 278 do Reg. n. 737, de 25 de novembro de 1850, a se aferraram J. X.
Cnvnuo DE MENDONÇA (Tratado Direito Comercial, VIII, 183) e TRAJANO DE
MIRANDA XXII, § 2.788, 6.
Escusado é dizer-se que só há direito de retenção se quem o alega tem posse do bem
(23 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 18 de abril de 1933, R. dos T.,
87, 79).
Em principio, a lei especifica os créditos a que confere privilégio especial. Não foge a
isso o ad. 102, § 2.~’, III, do Decreto-lei n. 7.661, porque a alusão ao direito de
retenção só tem por fim especificar o crédito, pela conexidade objetiva. Não é o direito
de retenção que recebe o privilégio especial; é o crédito que também dá ensejo ao
direito de retenção. No concurso de credores, o direito de retenção não se faz direito
real, nem o era; apenas o crédito, que o produz, é privilegiado especialmente.
CAPITULO VIII

O art. 621 do Código Civil não é óbice à aquisição da propriedade sobre o bem que
está na posse de outrem. O que lá se diz é que a posse mediata pode ser adquirida pela
cessão da pretensão à entrega, e o art. 621, parágrafo único, faz explícito que, então, a
aquisição da posse mediata, dita indireta, “equivale à tradição”. Reduzir o adquirente a
mero cessaonário do possuidor mediato, sem adquirir, em verdade, a propriedade,
destoa da teoria da posse segundo o Código Civil. O que se opõe é o direito de
domínio, com a pretensão à restituição, que diz respeito à posse.
L Qual a posse que há de ter o que se diz com direito de retenção? O problema não
tem importância somente nos casos de transferência do crédito de que nasce o direito
de retenção. O que se pode reter é a posse que se tem e com a entrega da qual se
liberaria do seu débito o credor retentor. Primeiramente, é preciso a) que seja devedor
ao outro devedor o credor desse e b> que tenha consigo o bem com que satisfaria ao
outro credor. Se houve assunção de dívida alheia e ao mesmo tempo cessão do outro
crédito, os pressupostos estão atendidos na pessoa do assuminte e cessaonário, desde
que os dois negócios jurídicos sejam eficazes em relação ao credor-devedor.
Se, com a cessão do crédito pelo qual se tem direito de retenção, também se transfere a
posse da coisa pretenda, o que supõe assunção de divida alheia, a situação para o
cessaonário é a mesma que existia para o cedente. A controvérsia, a resocedente
continua com posse da coisa pretenda, abaixo do cessaonário, sim. Não, se isso não
ocorre. As afirmações de ENOLDO MEDEIROS DA FONSECA <Direito de
Retenção, 3.~ ed., ~78) e TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE (Comentários à
Lei de Falencias, 100) são de repelir-se. É preciso que o credor tenha posse do bem
que se retém, com eficácia para o credor a que e opõe a execução. É preciso que o
cessaonário tenha de prestar tenha direito à prestação. Não se pode opor exceção do
direito le retenção se não se é o devedor e o credor. Ora, essas qualidades são
qualidades que ocorrem no mundo jurídico, e não no mundo fático, em que se dá a
posse. Sem se ser devedor credor, não se tem direito de retenção; de modo que a
cessão do crédito contra a pessoa a quem se teria de prestar não basta: é preciso que as
duas qualidades se transfiram.
A posse, que se tem de prestar, pode ser a posse imediata, u a posse mediata, a posse
imprópria ou a posse própria. Tanto em direito de retenção o possuidor próprio pleno,
a que o dono dirige a entrega da coisa, como o locatário, ou o sublocatário. e, por
exemplo, o crédito por benfeitorias deriva da posse mesma, tal crédito é contra quem
quer que haja pretensão reivindicatória, ou vindicatoria , ou de restituição. Idem, se
origina de situação real do possuidor (e. g., usufrutuário, usuário, ou habitador, a que
cessou o usufruto, o uso ou a habitação). O ad. 516 do Código Civil é expressivo e só
tem como pressupostos do direito de retenção e, pois, do privilégio especial a posse, o
haver benfeitoria necessária ou útil e a boa fé o possuidor, O possuidor de má fé tem
pretensão à indenização das benfeitorias necessárias, porém sem direito de retenção
portanto, sem privilégio especial. No plano do direito das obrigações fora, em
conseqüência, do plano do direito concernente à posse, que é poder Láctico os
pressupostos são os mesmos (Código Civil, ad. 873: “Se para o melhoramento, ii
aumento, empregou o devedor trabalho, ou dispêndio, vigorará o estatuído nos arts.
516 a 519”).
Durante o concurso de credores, civil ou falencial, o credor que tem o direito de
retenção não pede esse direito (= o direito e retenção não se transforma em privilégio
especial). O credor exerce o jus retentionie sobre o bem até que chegue o momento
e se proceda à venda dele, conforme a lei (Decreto-lei a. 7.661, ad. 120). Não cessa,
com isso, o direito de retenção, porque a posse imediata, que o credor tinha, se
mediatizou e passou ao síndico a posse imediata.
Sempre que a venda possa ocorrer sem se retirar a posse do retentor, a melhor solução
é só se retirar a posse imediata do devedor-credor no momento da entrega do bem ao
adquirente.
Se o retentor anui em que se entregue o bem ao síndico, com a ressalva do direito de
retenção, o juízo falencial não pode entregar o bem ao adquirente sem que se pague,
CAPITULO VIII

no mesmo momento, a dívida ao retentor.

§ 3.414. (III) Créditos por benfeitorias necessárias e úteis

1. BENFEITORIAS NECESSÁRIAS E ÚTEIS. Tanto os créditos por benfeitorias


necessárias como os créditos por benfeitorias úteis têm privilégio especial. Não há
redundância em se falar de créditos por benfeitorias necessárias e úteis (Código Civil,
ad. 1.566, III) e, depois, de créditos a que corresponde direito de retenção (Decreto-lei
n. 7.661, ad. 102, § 2Y, III>. Ali, atende-se à situação fática da posse de boa fé e ao
aumento de valor, ou evitamento de perda do valor, por parte do bem que necessitava
de benfeitorias, ou para o qual foram úteis, ou ao ato beneficiante de quem não era
possuidor. Aqui, subordina-se ao fato da posse e, conseqüentemente , do direito de
retenção o privilégio especial. Quem não tem ou não mais tem o direito de retenção
pode invocar o ad. 1.566, III, do Código Civil, embora não possa ou já não possa
fundar no art 102, § 2.0, III, do Decreto-lei n. 7.661 o privilégio especial do seu
crédito. Assim, o crédito de quem não é, ou não mais é possuidor tem o privilégio do
Código Civil, ad. 1.566, III, posto que não tenha ou não mais tenha o do ad. 102, § 2.0,
III, do Decreto-lei n. 7.661. Resta saber-se o que é possuidor de ma fé e, portanto,
não pode aludir ao ad. 102, § 2.0, III, do Decreto lei n. 7.661, devido ao ad. 517 do
Código Civil, pode trazer à balha o art. 1.566, III, do Código Civil. Possuidor de má
fé, sem direito de retenção, mas credor por benfeitorias necessárias.
O ad. 1.566, XII, do Código Civil diz que tem privilégio especial, “sobre a coisa
beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis”.
Temos de analisá-lo.

2.BEM EM QUE SE FAZEM BENFEITORIAS. De inicio, serve-se que, separando-


se de outros sistemas jurídicos, g., o francês e a italiano, se tratam por igual os bens
móveis os bens imóveis. As benfeitorias, de que se cogita, são, tam~m, as necessárias
e as úteis.
O ad. 1.566, III, do Código Civil fala de “coisa beneficiada”. Donde a pergunta: ao ad.
1.566, III, só se refere a bens corpóreos ou a bens corpóreos e incorpóreos? Afaste-se,
desde go, o argumento de ser preciso que o bem seja suscetível desse, porque na regra
jurídica do ad. 1.566, III, se abstrai qualquer posse, razão por que o beneficiante sem
posse pode r credor e ter privilégio especial o seu crédito <e. g., o pedreiro que viu o
telhado da casa do ausente com abertura feita pelo vendaval e o consertou ou lhe pôs
telhas novas).
Se o bem incorpóreo é suscetível de posse, seria absurdo se não reconhecesse a’>
crédito do beneficiante o privilégio especial. Mas há os benefícios aos bens
incorpóreos não suscetiveis de posse. A respeito deles pode haver atos de conservação,
mo se o terceiro apresenta o crédito para que ele não preclua a para que a pretensão
que dele se irradia não prescreva.
Se as ações de sociedades, sejam nominativas sejam ao portador, têm ensejo de
bonificação, por exemplo, de uma por ida cinco, se até certa data se deposita na sede
social determínada quantia, seria contra a ratio legis que se negasse ao crédito terceiro,
que fez o depósito, o privilégio especial.
A coisificação, que se dá com os títulos ao portador, não estende aos outros títulos e, a
priori, a simples documentos, são pertenças do crédito; mas o credor com documento
que, m a intervenção do terceiro, ficaria sacrificado, ou diminuído , ou não teria os
créditos novos, ligados ao seu, deve ser atado como o dono da coisa móvel ou imóvel.
Não nos referimos às espécies do ad. 102, § 2.0, III, do Decreto-lei n. 7.661. porque,
ai, ao direito de retenção dos documentos corresponde privilégio especial, se o crédito
do devedor é conexo ao direi-a que se refere o documento.
O que está em causa é o incremento econômico da coisa, a que corresponde o crédito
do beneficiante.
O privilégio é especial. Por isso, concerne ao bem. Se algum direito real de garantia
CAPITULO VIII

incide no bem, de modo que o beneficio seja incremento do valor, nem por isso o
crédito do beneficiante passa à frente do direito real de garantia, porque rege o
princípio dos arts. 102, 1, e 125 do Decreto-lei n. 7.661, salvo se houve o consenso do
devedor e do credor com direito real de garantia a que se refere o art. 1.564 do Código
Civil. Não há, no direito brasileiro, a regra jurídica do ad. 2.756, alínea 2.8, do Código
Civil italiano (“II privilegio ha effetto anche in pregiudizio dei terzi chê hanno diritti
suíla cosa, qualora chi ha fatto le prestazioni o le spese sia stato in buona fede’9. A
solução italiana aparece como resultado de confusões doutrinArias entre direito real e
privilégio especial, e a alusão à boa fé é expressiva e de certo modo funde e confunde
as duas regras jurídicas que o sistema jurídico brasileiro não funde nem confunde, a do
ad. 1.566, III, do Código Civil e a do ad. 102, § 2.0, III, do Decreto-lei n. 7.661.

3. RELÍQUIA DO CRÉDITO COM PRIVILÉGIO ESPECIAL. O que não pôde ser


pago pelo valor extraído do bem, tenha, ou não, havido rateio entre créditos com
privilégio especial sobre o mesmo bem, ou sobre os mesmos bens, é crédito
quirografário (cf. 6.8 Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 26 de
janeiro de 1951, Á. 3., 101, 95).
Se não foi feita a liquidação parcial do crédito mesmo se, antes da falência, sabendo o
credor ser insolvável o devedor, exige garantia ~real e essa se faz ou não se faz não há
pensar-se em transformação do crédito em crédito quirografário (cf. 5,8 Câmara Cível
do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 22 de dezembro de 1950 (Á. 3., 101, 95).
Somente se pode falar de se tornar quirografário o crédito ( de se extinguir o privilégio
especial, se o crédito tinha apenas Esse privilégio), se o valor extraído do bem é
menor do que o indispensável ao adimplemento total dele ou dos créditos que se levam
em conta no rateio. Só o réliquio se faz quirografário.
Se há reliquo, porem o creamos, aiem que na ~pvuifhurnzsw privilegiado, também é
dotado de privilégio geral, o privilégio geral subsiste ao adimplemento parcial.

§ 3.415. (IV) Créditos com privilégio geral

1. CONCEITO. Créditos com privilégio geral são os créditos que, deduzido do valor
do crédito o valor com que se satisfazem os créditos com direito real de garantia e os
créditos com privilégio especial, têm de ser satisfeitos com o restante, antes dos
outros. No Tomo XXVII, expusemos quais são.

2.ENUMERAÇÃO PELA LEI FALENCIAL. O art. 102, 3.~, 1, do Decreto-lei n.


7.661 fala dos créditos “a que o atribuírem” o privilégio geral “as leis civis e
comerciais, alvo disposição contrária de lei”. O inciso II alude aos “créditos dos
Institutos ou Caixas de Aposentadoria e Pensões, pelas contribuições que « falido
dever”. O inciso III refere “os créditos dos empregados, em conformidade com a
decisão que for proferida na Justiça do Trabalho”. A decretação da falência le modo
nenhum afasta a competência da Justiça do Trabalho, exceto no que concerne à
execução forçada celetiva. Isso não quer dizer que não tenham os empregados de
declarar os seus créditos, ou propor a ação de credores retardatários, ou de pedir
reserva. Apenas o juiz da falência tem de respeitar a coisa julgada material da sentença
proferida na Justiça do Trabalho.
Na Justiça do Trabalho, as decisões transitas. em julgado, ~u de que não tenha havido
recurso com efeito suspensivo, e os acordos, quando não cumpridos, são executados
pela própria Justiça do Trabalho, de conformidade com os arts. 876-892. A. Portaria n.
105 do Conselho Nacional do Trabalho, de 10 de agosto de 1946, interpretou o
Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), no
tocante à liquidação dos créditos constantes de sentenças ou de acordos .
Dai dois problemas: a) Se é ilíquido o crédito constante de sentença ou de acordo não
cumprido, ~ cabe à Justiça do trabalho a liquidação, ou tem de fazê-la o juízo
falencial? A. resposta é afirmativa de ser competente a Justiça do Trabalho. Todavia,
CAPITULO VIII

como não é contra direito acordo entre exeqüente e executado sobre liquidação, não
fere os princípios a entrega da liquidação ao juízo falenciál, se o síndico ou o falido
não se opõe a que a liquidação se faça fora da Justiça do Trabalho. i» Se já se iniciara a
penhora pela Justiça do Trabalho, a suspende-se para que se subordine o crédito ao
juízo falencial A resposta há de ser afirmativa, porque a penhora já é ato de constrição
e, ex kypothesi, passou a ser celetiva a execução forçada. Quer no juízo concursal civil
quer no juízo concursal falencial, ou nas liquidações coativas, ou voluntárias, a
execução forçada atrai as outras execuções, salvo incidência do art. 24, § 1.0 ou § 2.~,
do Decreto-lei n. 7.661, e o caso da questão não está em qualquer deles.
Em todo caso, há quaeatio facti, que é a de ser exposto, pela apresentação das
declarações de crédito, ou pelas relações de credores, ou pela propositura da ação do
art. 98 do Decreto-lei n. 7.661, a rateio o crédito, a despeito de ser garantido com
direito real ou ter privilégio especial ou geral (Tomo XXVIII, § 8.331, 3).
Desde que se caracterize a necessidade de rateio, somente o juízo falencial pode ratear;
portanto, ao concurso de credores falencial é que se há de entregar a satisfação, mesmo
se está em causa execução real ou se o crédito de que faz execução é privilegiado.
Adiante, n. 3.

8. CRÉDITOS DOS INSTITUTOS E CAIXAS DE APOSENTADORIA E PENSÕES


Os créditos dos Institutos e Caixas de Aposentadoria e Pensões têm privilégio geral
nos concursos de credores e nas concordatas (Decreto-lei n. 65, de 14 de dezembro de
1937, ad. 9.0). O ad. 102, § 3Y, II, do Decreto-lei n. 7.661 confirma-o. A parte final do
ad. 9Y do Decreto-lei n. 65, em que se diz serem restituíveis (na terminologia, a(
impr6pria, daquele tempo: reivindicáveis) as quantias recebidas de seus empregados
pelos empregadores, não foi derrogada; e já o expusemos (cf. 6.~ Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, 7 de novembro de 1947: .... relativamente às
contribuições recebidas pelo empregador de seus empregados, e é o caso dos autos, os
Institutos serão incluídos como reivindicantes. Isto se afigura tão claro, lógico e de
boa hermenoutica, que não se vê como justificarem-se as dúvidas do agravante.
Igualmente improcedente é a alegação de que as importância reclamadas pelo
agravado não foram arrecadadas pelo síndico, invalidar-se o preceito, porque, se as
contribuições são feitas em dinheiro, coisa fungível, jamais se poderia individualiza-
las, distinguindo-se das outras encontradas em poder do falido e arrecadadas ...“; 1.8
Câmara Civil, 9 de março de 1948, que invocou o art. 78, § 2.0, R. dos T., 173, 984; 8.’
Câmara Civil, 9 de setembro de 1949, 183, 823, 10 de novembro de 1950, 14 de março
de 1952, 200, 457).

4. CRÉDITOS DOS EMPREGADOS E JUSTIÇA DO TRABALHO. O que se


depreende do art. 102, § 3•Ó, III, do Decreto-lei n. 7.661 é que se exige a decisão pela
Justiça do Trabalho. O assunto já nos mereceu a devida atenção no Tomo XXVII e no
n. 1 deste §. Todavia, convém fazermos algumas referências à jurisprudência. A L’
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 12 de agosto de 1949 (A.
3., 95, 884), o Tribunal Regional do Trabalho da 1.’ Região, a 12 de janeiro de 1948
(L. do T., 12, 91) e o Tribunal Regional do Trabalho da 3.’ Região, a 24 de setembro de
1947 (R. 9., 121, 600) frisaram que o art. 102, § 3•O, III, do Decreto lei n. 7.661 de
modo nenhum derrogara o art. 449, § 1.~, parte final, do Decreto-lei n. 5.452, de 1.0
de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), que pomos em letra grifa:
“Na falência e na concordata, constituirão crédito privilegiado £ totalidade dos salários
devidos ao empregado e um terço das indenizações a que tiver direito, e crédito
quirografário os restantes dois terços” (no mesmo sentido, a 8.’ Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 9 de abril de 1948, A. 3., 87, 275).
O empregado pode declarar o seu crédito na falência. Se não há impugnação, o juiz
falencial pode inclui-lo, respeitando-lhe o privilégio geral (2.’ Câmara Civil do
Tribunal de Apelação de São Paulo, 6 de junho de 1944, R. dos T., 158, 537). Se há
CAPITULO VIII

impugnação, ou se o juiz faz alguma exclusão, altera a quantia para menos, ou


desclassifica o crédito, o julgamento da admissão infringe a regra jurídica da
competência da Justiça do Trabalho (sem razão, a 5.’ Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal, 28 de março de 1947, R. 9., 120, 459).
da Justiça do Trabalho para decidir sobre o direito, a pretensão ou a ação do
empregado. Se há sentença da Justiça do Trabalho, esse título judicial é levado ao
juízo da falência, em declaração de crédito. O único problema que pode surgir é o de
que falamos antes (n. 1): já ter sido iniciada, na Justiça do Trabalho, a execução, isto é,
já haver bem penhorado, e haver, pelas declarações de crédito ou pelas relações de
credores que o síndico tem de apresentar (Decreto-lei n. 7.661, art. 86, 1 e II) ou pela
propositura da ação do art. 98, créditos que exigem o rateio, a despeito da
privilegiação .

§ 3.416. (V) Créditos quirografários

1.CONCEITO. Dizem-se quirografários os créditos que não têm qualquer privilégio,


os créditos que não foram cobertos pelo0 bens vinculados ao seu adimplemento
(créditos garantidos por direito real e créditos com privilégio especial), o restante da
indenização devida aos empregados. Os créditos com privilégio geral escapam à classe
dos créditos quirografários; os créditos com privilégio especial somente escapam a
essa classe no que o produto do bem sobre que recaem dá para satisfazê-los. A
definição está no art. 102, § 4Y, do Decreto-lei
n. 7.661, mas em verdade é regra jurídica comum: “São quirografários os créditos que,
por esta lei, ou por lei especial, não entram nas classes 1, II e III deste artigo, os
saldos dos créditos não cobrados pelo produto dos bens vinculados ao seu pagamento
e o restante de indenização devida aos empregados”. A expressão “bens vinculados”
está aí por “bens gravados de direito real de garantia ou bens subordinados a privilégio
especial”. Tanto o que não foi coberto pelo produto do bem gravado de direito real de
garantia como o que não foi coberto pelo produto do bem sobre que recai o privilégio
especial é crédito quirografário.

2. CONTEÚDO DO ART. 102, § 4Y, “IN FINE”,NO DECURSO -LEI N. 7.661. No


que se refere ao “restante de indenização devida aos empregados”, o Decreto-lei n.
7.661 é remissivo, implicitamente, ao art. ~ § 1.¶ do Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de
maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), onde a totalidade dos salários
devidos ao empregado um terço das indenizações a que tiver direito, e crédito
quirografários restantes dois terços ”. Não se falou, no Decreto-lei 5.452, de concurso
de credores civil, mas havemos de atenar que o mesmo se passa.
No Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940 Lei das Sociedades Anônimas), o
art. 107, § 4,0, explicar sobrevier a falência da sociedade, os acionistas dissidentes,
credores pelo reembolso de suas ações, que não tenham do substituídas, serão
classificados como quirografários em quadro separado, e os rateios que lhe couberem
serão incluídos no pagamento dos créditos constituídos anteriormente data da
publicação da ata da assembléia. As quantias acima atribuídas aos créditos mais
antigos não se deduzirão dos créditos dos ex-acionistas, que subsistirão integralmente
para serem satisfeitos pelos bens da massa, depois de pagos os primeiros”.
Assim, créditos quirografários são os créditos sem privilegio e os créditos que, tendo
garantia real, ou tendo privilégio pedal, o bem com cujo valor se haviam de satisfazer
não deu ra se lhe extrair o suficiente.

CAPITULO VI

INQUÉRITO JUDICIAL

§ 3.417. Conceito e importância


CAPITULO VIII

1. INQUÉRITO JUDICIAL E SEU CONCEITO. O que se abre e se desenvolve, no


juízo falencial, como inquérito judicial é a investigação perante o juiz para se apurar a
existência de crime ou de crimes ligados à falência, É sucedâneo do inquérito policial.
O Decreto-lei n. 7.661, arts. 103-113, entendeu acertado retirar à policia a averiguação
dos crimes ditos falenciais, se foi aberta a falência. Nem, de iure condendo, seria de
admitir-se que a policia examinasse dados que seriam elementos de suporte fático de
regra jurídica sobre crime falencial simultaneamente ao exame a que estivesse
procedendo o juízo da falência. O choque seria grave entre as conclusões do inquérito
judicial e as decisões do juízo da falência.

2.IMPORTÂNCIA. A importância do inquérito judicial não está somente em que se


transferiu ao juiz da falência o presidir o procedimento; deu-se-lhe a competência para
receber ou rejeitar a denúncia ou a queixa. H~ portanto, plus em relação ao inquérito
policial.
O juiz falencial, perante quem se faz o inquérito judicial, é que recebe, ou não, a
denúncia ou queixa, o que altera a lei processual comum (Seção Criminal do Tribunal
de Justiça de são Paulo, 10 de outubro de 1951, R. dos 2’., 196, 60>.
Também aqui, de iure condado, tomou-se o melhor caminho. Não seria acertado
permitir-se ao juízo falencial o inquérito judicial dos crimes falenciais e não se lhe
atribuir a cognição
De jeito que o juízo falencial vai mais longe do que a polia poderia ir, abreviando a via
criminal.

§ 3.418. Deveres do síndico

1.EXPOSIÇÃO SOBRE A FALÊNCIA . Tem o síndico, nas vinte e quatro horas


seguintes ao vencimento do dobro do prazo marcado pelo juiz para os credores
declararem os seus éditos, de apresentar em cartório, em duas vias, exposição
circunstanciada, em que examinará “as causas da falência”, procedimento do devedor”
antes e depois da sentença decretação da falência, e “outros elementos ponderáveis”
pertinentes ao ocorrido, e especificará, se houver, os atos que constitui crime de
falência em italianismo irritante, “crime elementar” “indicando os responsáveis e, em
relação a cada n, os dispositivos penais aplicáveis” (Decreto-lei n. 7.661, t. 108>.
“Essa exposição”, acrescenta o art. 108, § 1.0, “consulta com o laudo do perito
encarregado do exame da escrituração do falido (art. 63, n. V>, e quaisquer
documentos, consultará, se for o caso, pelo requerimento de inquérito, exames
diligências, destinados à apuração de fatos e circunstâncias possam servir de
fundamento à ação penal (Código de Processo Penal, art. 509) “. E o § 2.0: “As
primeiras vias exposição e do laudo e os documentos formarão os autos do inquérito
judicial e as segundas vias serão juntas aos autos falência”. Esse laudo do perito-
contador é como o corpo de delito Supremo Tribunal Federal, 14 de agosto de 1951,
Á. 3., Ii, 269). O perito é um só, pois a lez spectalis derroga, ai, lez generalis, que é o
Código de Processo Penal, art. 159. todavia, no juízo criminal, pode ser feito o exame
de corpo delito, após portanto o recebimento da denúncia ou da queixa.
Se o crime está provado sem constar do laudo do perito instaurador, podem ser
requeridos exames e diligências que sejam não contabilísticos e, depois da denúncia ou
da queixa, no prazo criminal, tudo se passa conforme a lei processual penal

2. REQUERIMENTO DA ABERTURA DO INQUÉRITO JUDICIAL.O síndico, na


exposição, pode requerer, como conclusão do que expôs, a abertura do inquérito
judicial; ou, nos cinco dias que se seguirem à entrega, qualquer credor ou o órgão do
Ministério Público podem fazê-lo. A lei não se referiu a isso; mas o prazo para os
credores há de entender-se para todos os legitimados, inclusive o órgão do Ministério
Público, que, embora não tenha de falar antes da vista dos autos de que trata o art.
CAPITULO VIII

105, pode apressar a sua manifestação.


Os credores, esses, se requerem o mesmo que o síndico requereu, atuam em bis in
Mcm. Mas pode ocorrer que haja pequena diferença no que síndico e credor
requereram, e basta isso para se justificar que o credor requeira, a despeito de tê-lo
requerido o síndico. Passa-se o mesmo a respeito do órgão do Ministério Público.
A lei alude a não ter requerido o inquérito judicial o síndico, mas não se há de entender
que somente se o síndico não requereu possa requerer o credor. Por outro lado, o
requerimento por um credor não obsta ao requerimento por outro, ou aos
requerimentos por outros. Tal a interpretação que se deve dar ao art. 104 do Decreto-
lei n. 7.661: “Nos autos do inquérito judicial, os credores podem, dentro dos cinco dias
seguintes ao da entrega da exposição do síndico, não só requerer o inquérito, caso o
síndico não o tenha feito, mas ainda alegar e requerer o que entenderem conveniente à
finalidade do inquérito pedido”.
O problema da interpretação da regra jurídica do art. 104 do Decreto-lei n. 7.661 de
modo nenhum é o mesmo da interpretação do art. 55. No art. 104, o interesse é
público.
Uma vez aberto o inquérito judicial, o síndico, os credores e o órgão do Ministério
Público estão na relação jurídica processual de investigação, e podem dar incremento
ao processo e suscitar o que lhes pareça necessário ou proveitoso às conclusões do
inquérito judicial
O art. 509 do Código de Processo Penal, a que remete o Decreto-lei n. 7.661, art. 103.
§ lY, estatui: “Antes de oferecida a denúncia ou a queixa, competirá ao juiz da
falência, de indicar ou a requerimento do Ministério Público, do sindico, do
liquidatário. ou de qualquer doe credores, ordenar inquérito, exames ou quaisquer
outras diligências destinadas à apuração dos fatos ou circunstâncias que possam servir
de ação penal”
A declaração do crédito que legitima O credor aos atos concernentes à abertura do
inquérito judicial e a quaisquer exames, ou diligencias, que se façam necessárias à
segurança e à prova. Não é preciso que já se lhe haja julgado a admissão. Por outro
lado, a negação legal do efeito suspensivo ao recurso do credor que não foi admitido
de modo nenhum atinge essa legitimação ativa, que nasce do fato da declaração de
crédito. e não da admissãO. O credor não admitido, que recorre, não éde tratar-Se
Como credor admitido: seria absurda. Mas ainda credor declarante. Só o deixa de ser
com o trânsitO em julgado de decisão que não o admita., porque, ai, o credor é como e
não tivesse sido convidado à declaração de crédito.
Se, na falência de sociedades, há sócios de responsabilidade ilimitada, os credores da
sociedade e os credores particulares dos sócios têm a mesma legitimação ativa para
requerer
Inquérito judicial e para os outros requerimentos de que cogita a lei. Pode qualquer
deles pedir a prisão preventiva dos acusados.

2.OUTROS REQUERIMENTOS PELO QUIREGRAFICOS , PELOS CONTEUDOS


PELO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. O síndico a de apontar as pessoas
falido, sócios , credores e postos estranhas à falência. que hajam praticado crime dito
por anciã!.
O ad. 102, 5 1$, do Decreto-lei n. 7.661 alude após conferir-se ao dever de requerer o
inquérito judicial a “efeitos diligênciais destinados à apuração de fatos ou
circuntanciais que possam servir de fundamento à ação penal” (aZ. Código de
Processo penal, art. 509, a que a lei das falências remete).
Quaisquer exames periciais. que sejam de mister para prova. do que o síndico disse,
ou para elucidaçao dos fatos, pertinentes a pessoas apontadas como autores, ou como
co autores, pode e incumbe ao síndico requerer.
Outro sim, pode e incumbe ao síndico requerer medidas satisfatórias (aZ. Código de
Processo penal arts. 125-144) e o mais que for necessário à prova das proposições
no relatório ou em alegação posterior ou alegações posteriores à abertura do inquérito
CAPITULO VIII

judicial.
Os credores e o órgão do Ministério Público podem fazer quaisquer requerimentos que
o síndico pode fazer.
Pode o sindico, como o credor ou o órgão do Ministério Público, requerer a prisão
preventiva do acusado (Código de Processo penal, art. 818).

4.RESPONSABILIDADES DO SÍNDICO. O ad. 189, IV, do Decreto-lei n. 7.661


prevê que o síndico poderá dar “informações, pareceres ou extratos dos livros do
falido inexatos e falsos”, ou apresentar “exposição ou relatórios contrários à verdade”,
e pune-O com pena de reclusão de um a três anos.
O inquérito judicial contra o sindico é feito no juízo falencial. Nada tem com isso a
policia, salvo no tocante a medidas que o juízo falencial requisite.

5.VISITAÇÃO AO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PUBLICO. “Findo o prazo do artigo


anterior’, diz o Decreto-lei ~ 1.661. art. 105, “os autos serão feitos, imediatamente,
com vista ao representante do Ministério público, para que, dentro de três dias.
opinando sabre a exposição do síndico, as alegações dos credores e os requerimentos
que hajam apresentado, alegue e regueira o que for conveniente à finalidade do
inquérito, ainda que este não tenha sido requerido pelo síndico ou por credor”. Â parte
final do ad. 105 frisa a legitimação ativa do órgão do Ministério Público.
O órgão do Ministério Público pode entender: que foi falho o relatório, e fazer
narração que supram a falta; que 110 cabe a abertura de inquérito judicial. ou que
apenas é caso de inquérito policial, ou que fez bem o síndico em requerer o Inquérito
judicial, ou os dois inquérito E que o síndico fez mal em não requerer o inquérito
judicial, ou o inquérito policial, ou os dois, e requeira o que lhe parecer ser necessário,
ou os dois; que alguma medida assecuratória, ou de busca e apreensão ou alguma
prova tem de ser feita e requerê-la.

6.CRIMES DE FALÊNCIA . Falir não é crime. Crime pode ser a causa da falência ou
crimes podem ser as causas decretação da falência. Crimes falenciais do falido ato,
pois, crimes que se ligam às causas da falência, ou à conduta do falido.
Há crimes falenciais que não são do falido. Pode cometê-los ~redor ou pessoa
estranha. Fade cometê-los funcionário da justiça. O juiz, a Orgia do Ministério Público
podem cometer-los.
A competência para o processo e julgamento do juiz e do• órgão do Ministério
Público e o processo respectivo são conforme os princípios do art. 124, IX, da
Constituição de 1946 e as regras da legislação especial (Lei n. 1.079, de 10 de abril le
1950) e da lei de organização judiciária da entidade estatal interna.
A investigação das causas da falência pelo sindico há de ter a precisão de que a
frustacao econômico-financeira do sindico seja capaz. A lei só lhe exige o que ele
possa chegar a conhecer e expor. Passa-se o mesmo, a respeito de atos do devedor,
antes e depois da falência, que se hajam de considerar ligados à situação do devedor.
Há falências em que nenhuma causa da falência foi oriunda de ato ou omissão do
devedor.
Outras, em que somente se criou a emergência da falência com atos e omissões do
falido (e. g., perdas em jogo pelo falido>).
Alguns atos ou omissões do falido podem configurar crimes. O art. 103 do Decreto-lei
n. 7.661 dá ao sindico o dever de especificar os atos ou emissões que possam ser tidos
como crimes falências, apontando os responsáveis e, a propósito de cada um, o texto
de lei que se há de aplicar.
Porém o dever do síndico vai mais longe: pode o crime não ser, propriamente , ligado
à falência; quer dizer, o ato ou omissão pode ser crime por si mesmo,
independentemente, portanto, de ter sido decretada a falência, ou se não veio a ser
levado a cabo o procedimento falencial (e. g., foi reformada a sentença que decretou a
falência, sobreveio concordata suspensiva que se cumpriu). O síndico tem de apontar o
CAPITULO VIII

ato ou omissão que compõe a figura do Código Penal ou de lei penal especial
(Decreto-lei n. 7.661, art. 192: “Se o ato previsto nesta lei constitui crime por si
mesmo, independentemente da declaração da falência, aplica-se a regra do art. 51, §
1.0. do mediante urna sé ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, a que se
cominam penas restritivas da liberdade, impõe se lhe a mais grave, ou, se idênticas,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e as
crimes concorrentes resultam de designos autônomos”).
Se o síndica, o credor ou o órgão do Ministério Público somente encontra crime
comum, e não falencial, cabe inquérito policial, e não inquérito judicial, de modo que
se há de requerer a abertura do respectivo inquérito policial, ou, de ofício, o requisita o
juiz da falência, pois que lhe falta, ex hypotkesi, qualquer competência para o inquérito
judicial.
O inquérito policial sempre necessário se o mesmo ato ou omissão configura dois
crimes distintos, só um das quais é falencial. Cf. Código de Processo Penal, sais.
4.o~23.
O sindico tem de indicar os autores dos crimes falenciais, seja o falido, seja pessoa que
se lhe equipare (Decreto-lei n. 7.661, artg. 37 e 191), ou quem quer que, estranha ao
processo da falência, haja praticado crime previsto pela lei de falência, sejam autores
ou co-autores (Código Penal, ad. 25).

7.FARDO OUTROS LEGITIMADOS Á CONTESTAÇÃO . Nos autos do inquérito


judicial, formados com as primeiras vias da exposição do síndico e os documentos
(Decreto-lei n. 7.661, art. 103, § 2.0), falam os credores. Dentro dos cinco dias
seguintes ao da entrega da exposição, podem requerer a abertura do inquérito judicial,
se querem fazê-lo, e alegar e requerer o que entenderem conveniente à finalidade do
inquérito judicial pedido. A finalidade do inquérito judicial é a apuração da verdade.
As alegações que os credores querem fazer podem ser contrárias à exposição do
sindico.
O Decreto-lei n. 7.661, art. 106, diz que, “nos cinco dias seguintes” aqui, sao os cinco
dias seguintes ao prazo em que o órgão do Ministério Público falou (art. 105> após o
em que falaram os credores (art. 104) “poderá o falido contestar as argtiiç6es contidas
nas autos do inquérito e requerer o que entender conveniente”. Não se falou dos
credores. Os credores, esses , confirmaram, ou contestaram, no prazo que se lhes deu,
puderam, na prazo atribuído ao falido, voltar a contestar. Isso não quer dizer que não
possam requerer o que se prenda ao prosseguimento do inquérito, ou não possam
oferecer queixa (art. 108, parágrafo único), ou não possam alegar e requerer nas
espécies do art. 109.
Se foi o órgão do Ministério Público que requereu a abertura do inquérito judicial, fala
o síndico, no mesmo prazo de cinco dias em que podem falar os credores (e não no
prazo em que falaria o órgão do Ministério Público), e tem cinco dias para contestar as
argüições o falido ou outro acusado.
Se foi credor que o requereu, dá-se o mesmo, sendo ouvido, depois do síndico, o órgão
do Ministério Público.
Se o acusado é o síndico, somente lhe cabe o prazo para contestação.
Acima falamos dos cinco dias em que, se o inquérito judicial foi requerido pelo órgão
do Ministério Público, ou por algum credor, podem falar credores. A lei somente pôs
as regras jurídicas para o caso de ser o síndico quem requere a abertura ~o inquérito
judicial; mas a ordem em que hão de ser ouvi-los os interessados tem de ser
semelhante: após requerimento de credor, os credores e o síndico, o órgão do
Ministério Público; após requerimento do órgão do Ministério Público, os credores o
síndico; após requerimento do falido, os credores e o sindico, o órgão do Ministério
Público. Prazo para contestação somente tem o acusado. Se há dois ou mais acusados,
nos mesmos autos de inquérito judicial, todos têm de contestar no prazo de cinco dias,
que é comum.
CAPITULO VIII

§ 3.419. Procedimento do inquérito judicial

1.DEFERIMENTO DOS REQUERIMENTOS DAS PROVAS. A se no art. 107 do


Decreto-lei n. 7.661: “Decorrido o prazo o artigo anterior”, isto é, o prazo dentro do
qual pode o acusado legar e contestar, “os autos serão imediatamente conclusos ao niz,
que, em quarenta e oito horas, deferirá ou não as provas requeridas, designando dia e
hora para se realizarem as deferidas, dentro dos quinze dias seguintes, que não poderio
ser ultrapassados, determinando expediente extraordinário, se necessário”. E no art.
108: “Se não houver provas a realizar i realizadas as deferidas, os autos serão
imediatamente feitos com vista ao representante do Ministério Público, que, no prazo
de cinco dias, pedirá a sua compensação ao processo da falência ou oferecerá denúncia
contra o falido e outros responsáveis”.
O juiz tem, dentro de quarenta e oito horas, de deferir ou indeferir os requerimentos de
produção de provas. Pode, de oficio, ordenar as diligências que julgar de conveniência
para a instrução do processo e para dirimir dúvidas que acaso tenham surgido. No
despacho, tem de designar dia e hora para que, dentro do prazo de quinze dias, a contar
do dia seguinte à data do despacho, se apresentem as provas cuja produção foi
deferida, ou ordenada de oficio.

2.CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ART. 505. No inquérito judicial, são elementos


dignos de atenção: a exposição do síndico, o laudo do perito, as argüições e as
contesta$es, as provas, a audiência do órgão do Ministério Público. Os autos, se é
recebida a denúncia ou a queixa, vão ao juiz criminal competente.
De regra, o requerimento de abertura do inquérito judicial é após exposição do síndico
(Decreto-lei n. 7.661, art. 103).
Mas pode ocorrer que seja de mister o requerimento imediato à decretação da abertura
da falência, ou que já esteja inserto na própria petição de decretação de abertura da
falência.
A falta da exposição não é essencial para a validade da decisão de recebimento da
denúncia ou da queixa, porque a prova doe fatos criminais podem estar apontados
alhures (cf. Câmaras Criminais Conjuntas do Tribunal de Justiça de São Paulo, 1.0 de
setembro de 1948, R. dos T., 177, 486).
No Código de Processo Penal, art. 505, está dito: “A denúncia será sempre instruída
com cópia do relatório do síndico e da ata da assembléia de credores, quando esta se
tiver realizado”. A atinência à lei falencial revogada ressalta, mas, no tocante ao
“relatório”, continuou de existir na lei nova, com a mesma significação. A
jurisprudência, sob a lei antiga, não considerava nulidade que viciasse decisão
condenatória a falta do “relatório” (Supremo Tribunal Federal, 5 de julho de 1922, 1?.
dos T., 51, 120, Câmaras Criminais Conjuntas do Tribunal de Justiça de São Paulo, 1.0
de setembro de 1948, 177, 486).
Primeiramente para obviarmos aos graves inconvenientes de não atenderem à
diferença comentadores da lei falencial e da lei processual penal advirtamos que o
“relatório”,que alude o Código de Processo Penal (Decreto-lei n. 3.689, de 3 de
outubro de 1941) art. 505, se chama, na lei de falências (Decreto-lei n. 7.661, de 21 de
junho de 1945, parte. 63, XII, 103), “exposição”. Na lei vigente, a exposição e o laudo
do perito são as peças com que se inicia a formação dos autos do inquérito judicial. Se
não há a exposição e o laudo, ou, pelo ixenos, aquela, > sobre que é que têm de falar
nos cinco Lias do art. 104 do Decreto-lei n. 7.661 os credores?
* admissível que o órgão do Ministério Público que tem três lias exatamente para
opinar sobre “a exposição do síndico” opine sobre nada e não veja a falta da exposição
e do laudo? Pode, com segurança, contestar o falido, e requerer, nos cinco tias que se
lhe dão, sem conhecer a exposição do síndico?
o juiz, a quem vão os autos, pode não ver que faltam exposição e o laudo? .& Que fez
o juiz que não destituiu o síndico se a lei falencial, explicitamente, no art. 110, manda
CAPITULO VIII

destitui-lo quando é omisso em alguma informação que havia de constar da exposição?


A argumentação que acima se faz somente serve para se exigir que o requerimento de
abertura de inquérito judicial, e o não precedeu exposição do síndico, contenha o que
conteria exposição.
A exposição e o laudo, desde que sejam base de alguma observação que serviu ao
recebimento da denúncia ou da queixa, lo elementos necessários (Supremo Tribunal
Federal, 27 de abril de 1944, R. )~‘., 100, 328). Está escrito no art. 505 do Código de
Processo Penal. Se o recebimento da denúncia ou da queixa é nulo, isso depende do
exame do caso diante dos princípios do art. 563, 564, III, i» e d), 565 e 566 do Código
de Processo Penal.
A respeito do laudo, só é ele elemento necessário, de modo que a sua falta possa
causar nulidade, se assim resulta do fato que se refere a denúncia ou a queixa (cf. 2.8
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 28 de setembro de 1950,
9., 142, 379). (Grave confusão entre o “relatório” de outrora, que é, hoje, “exposição”
do Decreto-lei n. 7.661, arts. 63, XII, e 103, e o relatório” dos arte. 63, XIX, e 114, que
o síndico apresenta depois do despacho em que o juiz decidir sobre o inquérito
judicial, no voto do relator do acórdão do Supremo Tribunal Federal, a 28 de junho de
1950, R. 9., 143, 386. ~ Como se poderia juntar o que necessariamente só depois
acontece?!)
As infrações de prazos, como o do art. 108 do Decreto lei n. 7.661 (Supremo Tribunal
Federal, 14 de agosto de 1951, Á. .1., 101, 269; 17 de maio de 1950, R. 9., 135, 522;
Seção Criminal do Tribunal de Apelação de São Paulo, 16 de julho de 1946, E. dos T.,
166, 21), não tornam nulo o processo sem o ato, se não há razão para isso, segundo a
lei processual penal, que tem o seu sistema de decretação de nulidades semelhantes,
embora não idêntico, ao do direito processual civil.
Se é nula a decisão que recebe a denúncia ou a queixa, ou se não houve inquérito
judicial (portanto, não houve recebimento de denúncia ou de queixa>, ou o crime não
é só falencial, ou é apenas falencial; de qualquer modo, tem de haver, no juízo
criminal, denúncia ou queixa, se pode ele conhecer da espécie. É preciso partir-se do
art. 113 do Decreto-lei n. 7.661 que permite a propositura da ação penal mesmo se foi
rejeitada, pelo juiz da falência, a denúncia ou a queixa. Á fortiori, se não houve
inquérito judicial ou se foi nulo. A decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a 7
de março de 1950 (E. 9.. 133, 554; Á. 3’., 24, 67), foi absurda. Ofendeu,
evidentemente, os arte. 113 e 194 do Decreto-lei n. 7.661 e o próprio sistema do
direito processual penal brasileiro.
Os arts. 27 e 28 do Código de Processo Penal podem ser invocados a propósito dos
chamados crimes falenciais (2.8 Câmara Criminal do Tribunal de Apelação de São
Paulo, 8 de abril de 1943, E. dos T., 149, 51). O art. 109, § 19, do Decreto-lei n. 7.661.
O Supremo Tribunal Federal, a 4 de abril de 1951 (E. 9., 137, 182), dispensou a
fundamentação do despacho de recebimento de denúncia, ou de queixa, por achar o
relator que não se trata de sentença. Mas lá está a letra da lei, que é o art. 109, § 2.0:
“Se recebeu a denúncia, ou a queixa, o juiz, em despacho fundamentado...” O que se
devia ter dito era, por exemplo, que incidira, no caso, o art. 563 ou o art. 566 do
Código de Processo Penal. Mas, para isso, teria sido preciso que o suporte fático de
um desses artigos da lei processual penal se houvesse composto. “No processo
criminal não se conhecerá da alegação de nulidade da sentença declaratória da
falência”, diz o Código de Processo Penal, art. 511. Primeiro, se a sentença é nula,
qualquer juiz pode conhecer da nulidade. O juiz criminal ou o da falência pode
conhecer da nulidade do acórdão do Supremo Tribunal Federal. Se o caso é de
responsabilidade é preciso que se proponha ação perante o juízo competente. Que é,
então, que diz o art 511 do Código de Processo Penal? Diz apenas que a sentença de
decretação de falência passa em julgado, forni e mate riainiste. Nem poderia ser
diferentemente

3. DENUNCIA E QUEIXA. Se não há requerimento de produção de provas, ou


CAPITULO VIII

foram produzidas as que se requereram, os atos vão com vista, por cinco dias, ao órgão
do Ministério Público. Ou o órgão do Ministério Público dá dente contra os acusados
(o falido ou outrem), ou requere que se apensem aos autos da falência os autos do
inquérito judicial. Todavia, oferecida a denúncia ou uso oferecida, OS autos não são
desde logo conclusos ao juiz: ainda permanecem em cartório, por três dias, durante OS
quais pode oferecer queixa o síndico ou Qualquer credor. Só então os autos sãO
conclui ao juiz.
Diz o art. 108, parágrafo único: “Se o representante do Ministério Público não oferecer
denúncia, 0s autos permaneceram em cartório pelo prazo de três dias, durante os quais
o síndico ou qualquer credor poderão oferecer queixa”.
A denúncia ou a queixa tem de satisfazer as exigências do art. 41 do Código de
Processo Penal: “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com
todas as suas circunstâncias a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais
se possa identificar, “a classificação do crime, quando necessário, o rol das
testemunhas”.
A queixa pode ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do
instrumento de outorga o nome do requerente e a menção do fato criminoso (Código
de Processo Civil, art. 44).
Se o órgão do Ministério Público, em vez de apresentar denúncia, requerer a
compensação do inquérito judicial aos autos da falência, e nenhum credor, nem o
síndico dá a queixa, pode o juiz que não se viu..’ tornar a remessa dos autos ao
procurador Geral. Esse oferece a denúncia, ou designa órgão do Ministério Público
que a dê.ou entende que não havia razão para se denunciar alguém (Código de
Processo penal, art. 2o).
O juiz ou recebe a denúncia, ou a queixa, ou não a recebe { = ou a rejeita). Se a rejeita.
cabe recurso, no sentido estrito <Código de Processo Penal, art. 581, 1), par5 o
Tribunal de Justiça, ou para outro órgão , conforme a lei de 0rganização judiciária.
Se o juiz recebe a denúncia ou a queixa, são os autos do inquérito judicial
imediatamente remetidos ao juiz criminal competente. para que prossiga a a$o penal.
despacho de recebimento, como o de rejeição da denúncia ou da queixa, tem de ser
fundamentado.
No Código de Processo Penal, art. 43, estatização “A denúncia ou queixa será rejeitada
quando: 1, o fato narrado evidentemente não constitui crime; II, já estiver extinta a
punibilidade, pela prescrição ou outra causa, for manifesta a ilegitimidade da parte ou
faltar condição rejeitada pela lei para o exercício da ação penal. No art. 43, parágrafo
o único <‘Nos casos do n. III, a rejeição da denúncia ou da queixa não obstará O
exercício da ação penal, desde que promovida pela parte legitima ou satisfeita a
condição.
A essas regras jurídicas remete o art. 113 do Decreto-lei n. 7.661: “A rejeição da
denúncia ou da queixa, observado o disposto no art. 48 e seu parágrafo único do
Código de Processo Penal, não impede o exercício da ação penal (ad. 194), quer esta
se refira aos mesmos fatos nela argüidos quer a fatos destes distintos”. No parágrafo
único do art. 113 do Decreto-lei n. 7.661 acrescente se “O recebimento da denúncia ou
da queixa, nesses casos, obstará à concordata”. Quer dizer:o recebimento da denúncia
ou da queixa, no juízo penal comum, não suspende o exercício da pretensão à
concordata suspensiva.
Note-se bem:
a)Se o juiz da falência recebe a denúncia ou a queixa contra o falido, o pedido de
concordata suspensiva não pode ser deferido. Está isso, claramente, nos arts. 111 e 177
do Decreto-lei n. 7.661. ia mas a recebeu o juiz do crime, não há efeito de se suspender
o exercício da pretensão à concordata suspensiva. É o que se lê no art. 118, parágrafo
único.
A eficácia suspensiva só a tem a decisão no juízo da falência.
Quanto à condenação no juízo criminal, sim: com a sua eficácia, extingue-se a
pretensão à concordata suspensiva, como se extinguiria a pretensão à concordata
CAPITULO VIII

preventiva (Decreto -lei n. 7.661, art. 140, III).

4.DENÚNCIA, QUEIXA E CONCORDATA SUSPENSIVA.


O pedido de concordata suspensiva há de ser feito dentro dos cinco dias posteriores ao
do vencimento do prazo para £ entrega, em cartório, do relatório do síndico. O
relatório, inconfundível com a exposição, é posterior à decisão que recebe ou rejeita a
denúncia ou a queixa (Decreto-lei n. 7.661, arts. 69, XIX, e 178).
Um dos efeitos do recebimento da denúncia ou da queixa é o de se suspender ao falido
o exercício da pretensão à concordata suspensiva.
A extração do valor do ativo iniciou-se, prosseguiu e não cessa com o pedido de
concordata suspensiva (art. 185). No art. 111 do Decreto-lei n. 7.661 está dito: “O
recebimento da denúncia ou da queixa obstará, até sentença penal definitiva, a
concordata suspensiva (art. 177)”.
No art. 111, parágrafo único: “Na falência das sociedades, produzirá o mesmo efeito o
recebimento da denúncia ou da queixa contra seus diretores, administradores, gerentes
e liquidantes”.
Em todo caso, cumpre distinguir-se: a) se o crime não é do orgao da sociedade, ou dos
órgãos, que representam a sociedade, não há efeito de se suspender o exercício da
pretensão à concordata suspensiva; lO se o liquidante é pessoa estranha, o substituto
pode exercer a pretensão à concordata suspensiva .
Lê-se no art. 112: “O recurso do despacho que não receber a denúncia ou a queixa não
obstará o pedido de concordata, desde que feito antes do seu provimento; e a
concordata, uma condenatória definitiva”.
Depois de arquivado o inquérito judicial, por se haver rejeitado a denúncia ou a
queixa, pode o órgao do Ministério Público, o síndico ou qualquer credor promover,
no juízo falencial, a ação penal.
O recebimento da denúncia ou da queixa pelo juiz criminal não impede que se defira o
pedido de concordata suspensiva. Nem a torna ineficaz nem a desconstitui a sentença
condenatória definitiva. Todavia, pode-se pedir a resolução da concordata (art. 150,
VII).
Também aqui é preciso atentar-se na diferença. O recebimento da denúncia ou da
queixa pelo juízo criminal não suspende o exercício da pretensão à concordata
suspensiva, mas a condenação pelo juízo criminal, qualquer que seja o crime
mencionado pelo art. 140, III, do Decreto-lei n. 7.661, corta a pretensão. Todavia, se o
pedido da concordata fora deferido, o que se pode pedir é a resolução da concordata (o
termo “rescisão” é, ai, impróprio).
Alguns pontos precisam ser tocados. O que extingue a pretensão à concordata
suspensiva é o trânsito em julgado da sentença de condenação, e não a simples
prolação. O que de si só cria situação delicada, mas juridicamente possível: entre a
preeleicao da sentença e o trânsito em julgado da sentença pode o juiz da falência
deferir o pedido de concordata suspensiva, pois Me não recebera a denúncia ou a
queixa e até Base momento não há eficácia sentencial. Em todo caso, pode o
interessado propor a ação de resolução da concordata com fundamento no art. 150,
VII.
Observe-se ainda que a condenação no juízo criminal, com a eficácia extintiva, a que
nos referimos, dependente do trânsito em julgado, pode ser em crime não falencial.
Mais: posto que o recebimento da denúncia ou da queixa, no juízo criminal, não tenha
eficácia de suspender o exercício da pretensão à concordata suspensiva, e só o trânsito
em julgado da sentença condenatória extinga a pretensão, a sentença, antes de transitar
em julgado não suspende o exercício da pretensão à concordata suspensiva (nem o
exercício da pré da queixa fora no juízo falencial, o exercício da pretensão concordata
suspensiva já estaria suspenso.

5.REFERENCIA E DESTITUIÇÃO POR OMISSÃO NA EXPOSIÇÃO SÍNDICO.


Se o síndico omitiu, na exposição, referência fato que poderia ser verificado por
CAPITULO VIII

simples inspeção nos arquivos do falido, ou pelo que consta dos autos da falência, o
juiz de destitui-lo. É o que está no art. 110 do Decreto-lei 7.661: “Recebida a denúncia
ou queixa por fato verificável diante simples inspeção nos livros do falido, ou nos
autos,omitido na exposição do síndico, o juiz o destituirá por despacho proferido nos
autos da falência”.
O síndico tem de designar perito contador que apresente ido sobre a contabilidade
(Decreto-lei n. 7.661, art. 63, V), rn que documentará pontos da sua exposição (art.
103, § 1.0). foi o laudo que levou o síndico à erronia que ele cometeu,
responsabilidade do perito, mas isso não afasta que seja destituído, segundo o art. 110,
o síndico, se mal escolheu perito-contador, ou se o que o levou à erronia seria evitado
m simples inspeção dos livros do falido ou dos autos.
Do despacho de destituição cabe agravo de instrumento Decreto-lei n. 7.661, art. 66, §
2Y).
Parte VIII. Liquidação concursal

EXTRAÇÃO DO VALOR DOS BENS

£ 3.420. Relatório do síndico e Início da realização do ativo e solução do passivo

1.RELATÓRIO DO SÍNDICO E AVISO DE INICIO DA LIQUIDAÇÃO. O relatório


do síndico contém comunicações de conhecimento que estabelecem as bases para o
período que se vai iniciar, que é o da liquidação do ativo e do passivo. Apresentado o
relatório, ainda há, pelo menos, cinco dias para o falido pedir concordata suspensiva,
porque tal pedido há de ser feito dentro dos cinco dias seguintes ao do vencimento do
prazo para a entrega, em cartório, do relatório do síndico (Decreto-lei n. 7.661, arta.
114 e 178). Lê-se no ad. 114 do Decreto-lei n. 7.661: “Apresentado o relatório do
síndico (ad. 63, n. XIX), se o falido não pedir concordata, dentro do prazo a que se
refere o art. 178, ou se a que tiver pedido lhe for negada, o síndico, nas quarenta e oito
horas seguintes, comunicará aos interessados, por aviso publicado no Órgão oficial,
que iniciará a realização do ativo e o pagamento do passivo”. Cp. art. 185.
Outro momento relevante, pois, aquele em que se esgota o prazo para o pedido de
concordata suspensiva, ou, se foi pedida, aquele em que lhe foi Indeferido o pedido.
No último caso, tem-se de considerar o dia do proferimento, e não o do trânsito em
julgado (cf. Decreto-lei n. 7.661, arte. 146 e 182 e parágrafo único).
A publicação do aviso faz serem conclusos os autos ao juiz, para que marque o prazo
para a liquidação. O síndico inicia, desde logo isto 6, desde a publicação a realização
do ativo. se o há; se a massa o comporta, em outros jornais (Decreto-lei n. 7.661, art.
205 e §§ 2.0 e 39).
Lê-se no art. 114, parágrafo único, do Decreto-lei n. 7.661: “Se tiver sido recebida
denúncia ou queixa (art. 109, § 2.0>, o síndico, nas quarenta e oito horas seguintes à
apresentação do relatório, providenciará a mesma publicação”. A publicação, a que,
em má redação, se refere o art. 114, parágrafo único, é a da denúncia ou da queixa.
Diz o art. 115 do Decreto-lei n. 7.661: “Publicado o aviso referido no artigo anterior e
seu parágrafo, os autos serão conclusos ao juiz para marcar o prazo da liquidação,
iniciando imediatamente o síndico a realização do ativo, com observância do que nesta
lei se determina”.
No primeiro período da falência, a função do síndico é mais informativa, indo até a
comunicação, que há de fazer, de que vai iniciar a extração do valor do ativo e a
liquidação do passivo (Decreto-lei n. 7.661, art. 114). No segundo, o síndico realiza o
ativo e paga, conforme os meios da massa falencial, o passivo, terminando por
permitir-se o encerramento do processo da falência (arts. 131 e 132). Não se têm mais,
no sistema jurídico brasileiro, as duas figuras, sucessivas, que ainda aparecem noutros
sistemas jurídicos (o síndico e o liquidatário).
O direito brasileiro evitou a ingerência dos credores na administração da massa e na
CAPITULO VIII

realização do ativo e somente a admitiu, conforme os arts. 122 e 123 do Decreto-lei n.


7.661, como eventual deliberação em assembléia; mas em caráter de órgão da
execução celetiva. Dai a exigência da homologação pelo juiz (art. 123, § 49) ou a
limitação às deliberações (art. 122>.

2. REALIZAÇÃO NO ATIVO. A realização do ativo consiste em conjunto de


operações tendentes à obtenção e indicação do que constitui haver da massa: ao que é
valor em dinheiro, ou, ainda que não em pecúnia, excepcionalmente sem necessidade
le extração do valor, basta a indicação, ou a indicação com as providências para que
seja depositado no lugar da decretação da falência; ao que não é dinheiro, nem
dispensa a extração do valor, é preciso que se extraia o valor, mediante venda. a
conversão em dinheiro quanto aos bens arrecadados.
O valor aproximado do ativo e do passivo e as possibilidades e os meios para a
liquidação (Decreto-lei n. 7.661, art. 63, XIX). Levou em conta, necessariamente, os
pedidos de restituição e os embargos de terceiros, as ações propostas pela massa ou
contra ela, os aos ineficazes e os atos suscetíveis de revogação.

§ 3.421. Finalidade dos atos conversivos

1.AÇÃO DO SÍNDIcO. Supõe-se, conforme antes se disse, que não tenha havido, no
prazo legal, pedido de concordata suspensiva, ou que, se o houve, que o juiz o tenha
indeferido, bem como não ter ocorrido destituição do síndico por omissão no relatório
(Decreto-lei n. 7.661, art. 110).
O síndico fica investido dos poderes de liquidação desde o momento em que se
publique o aviso de início da liquidação, se não foi indicado outro dia a quo. Porque o
despacho do juiz apenas é para marcação do prazo da liquidação, isto é, do diu ad
quem. Sem razão, TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE (Comentários & Lei de
Falências, II, 128).

2. ATUAÇÃO DOS CREDORES. Em principio, os credores não podem regular a


liquidação no que concerne aos bens gravados de direito real de garantia ou aos bens
sabre os quais os outros credores têm direito de retenção. Aliter, se houve remição pelo
síndico (Código Civil, art. 821, alínea 1•B)• No concurso de credores civil, são eles
que podem remir (Código Civil, art. 821, alínea 2.~)• Em ambas as espécies de
concurso de credores, podem os credores fornecer o dinheiro para a remição (cf.
Decreto-lei n. 7.661, art. 124, § 1.~, II, 2Y parte). Se os credores estabeleceram modo
de liquidação do passivo, no que tange aos bens gravados de direito real de garantia,
entende-se que fizeram oferta, que depende de aceitação pelos credores titulares
desses direitos reais de garantia. Tal oferta é inconfundível com a venda por propostas
de que trata o Decreto-lei n. 7.661, no art. 118.

3.REALIZAÇÃO DO ATIVO DOS SÓCIOS SOLIDÁRIA E ILIMITADAMENTE


RESPONSÁVEIS PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS. Se há sócIos solidária e
ilimitadamente responsáveis pelas obrigações o das sociedades.
Não se aguarda a verificação definitiva da insuficiência bens sociais para o pagamento
de todas as dividas da sociedade falida, nem, tão pouco, a determinação precisa do que
sócio há de sofrer em seus bens particulares; mas há de cartório prever,
aproximadamente, o quanto de défice e das versões nos patrimônios dos sócios , e há
de o despacho do levar em conta os informes do síndico e quaisquer outros, que não se
extraia valor a bens particulares dos sócios, necessidade disso.
Se o falido é sócio de alguma empresa , seja solidário, liquidatário ou quotista, tem-se
de observar o art. 48 do De,-lei n. 7.661.
De passagem observemos que a incursão do juízo falencial, quer que seja o órgão de
execução forçada celetiva, nos inarrecadáveis do falido ou de sócio da sociedade
CAPITULO VIII

falida, dar ensejo a ação promovível no juízo falencial, com recursos previstos em lei,
e na falta de recurso ou de ação à ação de mandado de segurança. O juízo felizmente
tem poderes de cognição e de execução até onde, conforme os princípios, vai o
penhoramento abstrato.
A responsabilidade do síndico e do órgão do Ministério Publico, ou, até mesmo, do
juiz, começa de onde começa a impetibilidade abstrata dos bens. A arrecadação de
bens marre-veia pode suscitar responsabilização.

CAPÍTULO II

FORMAS DA EXTRAÇÃO DO VALOR DOS BENS

§ 3.422. Princípios básicos

1.LIQUIDAÇÃO FORÇADA E JUDICIAL. a) A liquidação forçada do ativo


concursal é sempre judicial. Em nenhum momento pode o procedimento ser
extrajudicial.
b)No instante mesmo em que se decreta a abertura da falência ou o seqüestro, o
devedor perde o poder de dispor e o poder de administrar os seus bens atingidos pelos
efeitos da falência (Decreto-lei n. 7.661, art. 40).
c)O síndico administra e pode dispor dos bens, segundo as regras jurídicas sabre
liquidação do ativo.

2.ESPÉcIES DE FORMAS DE EXTRAÇÃO DO VALOR. A venda pode ser global


ou individual (objetivamente), conforme o art. 116 do Decreto-lei n. 7.661, que é
invocável, por sua intrínseca generalidade, nos concursos civis de credores. A venda
pode ser em leilão público, inclusive em Bolsa, ou por meio de propostas (Decreto-lei
n. 7.661, arts. 117-120), ou segundo foi deliberado pelos credores de que tratam os
arts. 122 e 123.
5 3.423. Venda global e venda de bens separados

1.REGRA JURÍDICA DISPOSITIVA. Se hão de ser vendidos os bens de um em


um, ou em grupos, ou em lotes, ou todos, ou se há de ser feita a venda do
estabelecimento ou empresa, depende da conveniência da forma da venda, o que só se
pode decidir in casu.
O art. 116 do Decreto-lei n. 7.661 diz que “a venda dos bens pode ser feita englobada
ou separadamente”. No § 19 do art. 116 previu-se a venda global devido à existência
de contrato de locação que possa ser renovado, por exercício de pretensão oriunda do
Decreto n. 24.150, de O de abril de 1934, mas logo no § 2.0 se pôs à mostra
dispositividade do art. 116, § 1.0. Os dois textos têm de ser interpretados em sua
intima ligação: “Se o contrato de locação estiver protegido pelo Decreto n. 24.150, de
20 de abril de 1934, estabelecimento comercial ou industrial do falido será vendido na
sua integridade, incluindo-se na alienação a transferência do mesmo contrato” (art.
116, § 1.0) ; “verificada, entretanto, a inconveniência dessa forma de venda, o síndico
pode optar pela resolução do contrato e mandar vender separadamente os bens”.
A natureza dos bens, a ligação entre eles, o existirem, não, pertenças, o fim econômico
ou a destinação fundam os gados que se hão de pesar para se saber se há conveniência
que se venda cada um, ou se vendam alguns ou algum separadamente e outros não, ou
em lotes, ou em globo. A previsão a ser mais aconselhável uma ou outra forma de
venda, para maior preço, tem de ser levada em consideração. É possível que sejam as
máquinas e outros aparelhos ou parte do fundo da empresa o que mais interesse aos
prováveis lançadores. Talvez prédio, ou os prédios, por serem de construção adequada
ou especial para a indústria. Às vezes ocorre que é importante própria ordem em que
se hão de fazer as vendas.
CAPITULO VIII

2.BENS GRAVADOS DE DIREITO REAL DE GARANTIA E BENS SUJEITOS


A PRIVILÉGIO ESPECIAL. Surge o problema de serem sujeitos a privilégio
especial alguns bens, ou serem gravados a direito real de garantia. Em principio, tem-
se de vender separadamente cada bem gravado de direito real de garantia
sujeito a privilégio especial. Se há inconveniência nisso, anus de alegar e provar que é
desaconselhável a venda em parado incumbe ao síndico. Seja como for, a inclusão do
bem gravado de direito real de garantia ou sujeito a privilégio especial em lote, ou
grupo de bens, ou no fundo de empresa tem mo conseqüência que se paguem, antes,
com o produto total, créditos a que correspondem os direitos reais de garantia os
créditos com privilégio especial.
Em todo ca~o, pode dar-se que haja dois ou mais bens de ual valor, que devam, por
sugytão do síndico, ou de outrem.
ser vendidos juntamente, por haver mais compradores para os dois ou mais (e. g., duas
peças iguais de mobiliário, dois terrenos juntos). Então, sobre a fração do preço
alcançado é que se solve o crédito com a garantia real, ou com privilégio especial.

3.FUNDO DE COMÉRCIO. O fundo de comércio, como todo fundo de empresa


(Tomo XV, §§ 1.802, 2, 1.803-1.812, cf. Tomo XVI, § 1.905, e Tomo XIX, §§ 2.808 e
2.804), é patrimônio. Alguns juristas aventuram que, no direito brasileiro, não há
patrimônio autônomo no fundo de empresa , seja comercial seja industrial, mas isso
revela desconhecimento do sistema jurídico brasileiro e do próprio art 57 do Código
Civil (cf. Tomos II, §§ 135, 2, e 154, e V, §§ 595-602). A venda do fundo de empresa
ou abrange só o ativo ou o ativo e o passivo. A venda dos bens que fazem a indústria
ou o estabelecimento industrial é venda do ativo (menos os créditos ou incluídos os
créditos). A conveniência é que há de ser considerada para se determinar o objeto da
venda. A enumeração dos bens que estão compreendidos tem função apenas de cautela
e de esclarecimento do público, quer para a venda em leilão quer para a venda por
propostas. Mas a expressão “estabelecimento comercial”, na lei de falência (ou
“estabelecimento industrial”), é referente ao todo, ativo e passivo, salvo se foi afastado
o passivo, ou se discriminou o ativo.
Se o síndico não vende o estabelecimento como ativo, ou como ativo e passivo, e
loteia ou separa de um em um os bens para venda, resolvido está o contrato. Então,
tem o locador pretensão e ação para reaver a posse do imóvel que o estabelecimento
ocupara.
<A propósito convém lembrar dois artigos do Código de Processo Civil, os arts. 954 e
942. Diz o art. 954: “Quando a penhora houver de recair em estabelecimento
comercial ou industrial, ou em propriedade agrícola, sementeiras ou plantaçoes , o
juiz, salvo ajuste em contrário, determinará a forma de sua administração, a fim de que
nenhum dano resulte à produção ou ao comércio”. No art. 942, pôs-se a seguinte regra
jurídica: “Não poderão absolutamente ser penhorados: XIII. Separadamente, os
móveis, o material fixo e rodante das estradas de ferro, e os edifícios, maquinismos,
animais e acessórios de estabelecimentos de indústria extrativa, fabril, agrícola e
outras, indispensáveis ao seu funcionamento”. A penhora de cada um poderia diminuir
o valor do ativo. Não é cada bem que se penhora; o que se penhora é o todo.)
Se há penhor industrial, ou há a remição, para que mais fácil seja a venda do fundo de
empresa (Decreto-lei n. 7.661, art. 120, § 2.0), ou se mantém a Integra do fundo de
empresa, mas, nos atos para a venda e na venda, se determina que uma parcela da
soma correspondente ao todo se entenda para satisfação do titular do direito real de
penhor industrial (e. g., cem milhões mais três milhões ), ou se tem de deduzir
primeiro o que há de tocar ao titular do direito de penhor industrial.
Na venda global dos bens da massa, tem-se de fazer a notificação de cada devedor
(Código Civil, art. 1.069), para que tenha eficácia em relação a ele (sem razão,
TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE, Comentários à Lei de Falências, II, 133).
Com a falência, podem resolver-se os contratos de trabalho. Mas a aquisição, em leilão
público, ou em venda por proposta, do fundo de empresa (ativo e passivo, ou só ativo),
CAPITULO VIII

é sucessão (cf. Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943, arta. 448 e 449). Ai, passa
à frente a figura da cessão do patrimônio , e não só do ativo. O pessoal da empresa
também é valor. Aliter, se só se vendeu o ativo do estabelecimento, consistente em
bens corpóreos.
O contrato de locação é ligado ao estabelecimento, e não à pessoa do locatário, que
pode mudar se o estabelecimento passa a outrem. Assim, se o falido tinha dois
estabelecimentos, a venda de um deles pode ser com o respectivo contrato de locação.
Áliter, se a locação é apenas para depósito de empresa que tem a sede alhures, porque
ai não há pluralidade de estabelecimentos.
Se o contrato de locação apenas pode ser cedido, por força de disposição contratual, a
transferência há de ser em leilão público, ou por meio de propostas.

§ 3.424. Vendas em leilão público

1.ORDINARIEDADE DA VENDA EM LEILÃO PÚBLICO. A forma ordinária


da extração do valor aos bens do falido é o leilão público. Os leiloeiros, de que se
trata, são os leiloeiros oficiais.
O síndico escolhe um ou mais, o síndico dá-lhe ou dá-lhes as instruções, o síndico
toma-lhe ou toma-lhes as contas.
Os leiloes têm de ser anunciados, com observância do art. 205 e §§ 1.0, 2.0 e 3~O do
Decreto-lei n. 7.661. “Todos os anúncios de leilOes deverão ser claros nas descrições
dos respectivos efeitos, principalmente quando se tratar de bens imóveis ou de objetos
que se caracterizem pelos nomes dos autores e fabricantes, tipos e números, sob pena
de nulidade e de responsabilidade do leiloeiro” (Decreto n. 21.981, de 19 de outubro
de 1932, art. 38, parágrafo único).
“O leiloeiro”, lê-se no art. 117, § 1.<>, 1.8 parte, do Decreto lei n. 7.661, “é da livre
escolha do síndico, servindo, nos lugares onde não houver leiloeiro, o porteiro dos
auditórios ou quem suas vezes fizer”.
A lei só se refere a leiloeiro, no singular, porque é isso o que mais acontece. Às vOzes
há conveniência em que se atenda à especialização dos leiloeiros, ou a certa
especialização de alguns, e isso sugere a escolha de dois ou mais. Por outro lado, o art.
117, § 1.0, 1.8 parte, do Decreto-lei n. 7.661 de modo nenhum permite que a venda
seja por leiloeiro escolhido pelo síndico, se lez specialis, referente à mercadoria,
estabeleceu determinação legal de quem há de proceder à hasta pública, como é o caso
das vendas em bolsa.

2.CÔNJUGE E CONSENTIMENTO OU ASSENTIMENTO À ALIENAÇÃO DE


IMÓVEIS. No art. 117, § 39, diz-se que “a venda dos imóveis independe de outorga
uxória”. Se os bens são comuns, por haver regime matrimonial da comunhão, as
dividas do cônjuge falido também se comunicam, de modo que o consentimento do
outro cônjuge para a extração do valor do bem seria sem razão de ser. Se o bem é
particular do cônjuge falido, a lei dispensa o assentimento do outro cônjuge, porque
tudo se passa como se a decretação da falência houvesse suprido, antecipadamente, a
falta do assentimento.
Sempre que o falido ou o seu cônjuge redime o bem, com o valor de bem próprio
inatingido pela decretação de abertura da falência, há consentimento, e não apenas
assentimento.

3.REALIZAÇÃO DO LEILÃO PÚBLICO. O leilão é anunciado com dez dias, pelo


menos, de antecedência, em se tratando de bens móveis, e com vinte dias, pelo menos,
de antecedência, e o leilão é de bens imóveis. O orgao do Ministério Público á de estar
presente, e é nulo o leilão que se faz sem a sua presença. É o que se lê no art. 117 do
Decreto-lei n. 7.661:
Os bens da massa serão vendidos em leilão público, anunciado com dez dias de
antecedência, pelo menos, se tratar de imóveis, e com vinte dias, se de imóveis,
CAPITULO VIII

devendo estar a ele presente, sob pena de nulidade, o representante do Ministério


Público”.
O juiz não está presente ao leilão, mas o leilão é judicial.
1 juízo, como juízo de execução forçada celetiva, tem a posse imediata dos bens; o
síndico, enquanto não a entrega ao leiloeiro não se mediatiza, tem a posse imediata. O
leiloeiro recebe casa, ao ser-lhe entregue o bem; e o mesmo ocorre com o correr
oficial.
Que se há de fazer, se o orgao do Ministério Público não 3mparece? A solução é
oficiar-se ao Procurador Geral para que designe outro, que compareça no dia em que
se marque, mi o adiamento. As despesas e prejuízos são cobráveis ao estado,
conforme o art. 194 da Constituição de 1946. Se são havidas as custas, têm de ser
pagas, e então os interessados incluem nas despesas e prejuízos cobráveis ao Estado.
Se há bens noutra jurisdição e já foram, após precatória,arrecadados e avaliados, pode
o síndico requerer que o leilão efetue no lugar da situação e, ai, há de promover a
notifica-Lo do orgao do Ministério Público competente, para estar presente ao ato do
leilão.
E leilão público tem a mesma categoria jurídica da arrematação em praça pública.
Somente toda o orgao de venda: vez do porteiro, o leiloeiro. A relação jurídica que se
estabelece é entre o arrematante e o Estado, cujo orgao chefe o juiz; o porteiro e o
leiloeiro apenas são órgãos instrumentos. e nenhum modo se trata de contrato de
compra e venda, ainda que se pense em contrato de direito público. Há a ação
mediante do licitante, metida no processo de execução. Veja os comentários ao Código
de Processo Civil, notas 1), 2) e 3) itens do art. 963.
O juízo (o juiz, o síndico; como o porteiro, o leiloeiro, o corretor) não oferece o bem;
não há oferta feita pelo Estado:
há invitatio ad olferendum. Cada licitante faz a sua oferta, o seu lance. Dá-se remate à
operação com a “arrematação”. Diz o art. 117, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661: “O
arrematante dará um sinal nunca inferior a vinte por cento; se não completar o preço,
dentro em três dias, será a coisa levada a novo leilão, ficando obrigado a prestar a
diferença porventura verificada e a pagar as despesas, além de perder o sina] que
houver dado. O síndico terá, para cobrança, ação executiva, devendo instruir a petição
inicial com a certidão do leiloeiro”. A ação executiva, o síndico a teria, ainda se não
houvesse o art. 117, § 2.0, in une, por se tratar de dívida certa e líquida (Código de
Processo Civil, art. 298, XII).
Acrescenta-se no art. 117, § 4Y, do Decreto-lei n. 7.661:
“A venda de valores negociáveis na Bolsa será feita por corretor oficial”. Não se exige
que sejam cotados na Bolsa. Basta que sejam negociáveis na Bolsa. No art. 29 do
Decreto n. 2.475, de 13 de março de 1897 (Decreto-lei n. 1.344, de 13 de junho de
1939, arts. 1.0 e 59) está estabelecido: “São da competência exclusiva dos corretores
de fundos públicos e somente por seu intermédio poderão realizar-se: a) a compra e
venda e a transferência de quaisquer fundos públicos nacionais ou estrangeiros
admitidos a cotação; b) a negociação de letras de câmbio e de empréstimos por meio
de obrigações; e) a negociação de títulos suscetíveis de cotação na Bolsa; d) a compra
e venda de metais preciosos, amoedados ou em barra”. As vendas são em público
pregão, anunciadas pela imprensa e imediatamente prestado o preço.
Diz-se no Decreto-lei n. 7.661, art. 117, § 10’, 2.~ parte:
“Quanto ao produto da venda, observar-se-á o disposto no § 2.0 do art. 73”; isto é, tem
de ser recolhido ao estabelecimento designado para receber o dinheiro da massa (cf.
art. 209>, juntando-se aos autos a nota do leilão e a segunda via do recibo do Banco. A
regra jurídica também concerne às alienações pelo corretor.
Não podem adquirir, direta ou indiretamente, bens da massa, quer em leilão público,
quer por meio de propostas, quer na Bolsa, o juiz, o órgão do Ministério Público, o
síndico, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça, o leiloeiro e o corretor,
esses quanto aos bens de cuja alienação se incumbem Código Civil, art. 1.188;
Decreto-lei n. 7.661, art. 190; reto n. 2.475, de 18 de março de 1897, art. 49: “É
CAPITULO VIII

vedado corretores, sob as penas do art. 59 do Código Comercial:


adquirirem para si, ou para pessoa de sua família, coisa venda lhes houver sido
incumbida, e venderem as que lhe encerem, quando tenham ordem de comprar da
mesma ”). Há a nulidade do negócio jurídico e a punição de que ita o art. 190 do
Decreto-lei n. 7.661: “Será punido com punição, de um a dois anos, o juiz, o
representante do Ministério Público, o síndico, o perito, o avaliador, o escrivão, o
oficial de justiça ou o leiloeiro que, direta ou indiretamente, adquirir bens da massa,
ou, em relação a eles, entrar em ima especulação de lucro”. O Decreto n. 21.981, de 19
outubro de 1982, sobre leiloeiros, é explícito, no art. 36, 2. alínea, quanto à punição
deles. Cp. Código Comercial. 68 e 59, inciso 8.
Há, porém, dois pontos que convém sejam precisados. Não carta de arrematação. O
que perfaz o negócio jurídico é a rematação do lanço, feito o auto de arrematação. Os
instrumento para documentação são as contas de venda e as faturas Decreto n. 21.981,
de 19 de outubro de 1932, arts. 27 e 33). n fé pública (Decreto n. 21.981, art. 85),
porém não são senas, como o é a carta de arrematação. A carga de eficácia da ta de
arrematação, ato sentencia], e a da aceitação do lanço, não é sentencial, não
coincidem. Naquela, há constituição, ****; mandamentalidade, ****; declaratividade,
***; cutividade, *; condenatoriedade, . Nessa, constitutivida
*****; condenatoriedade, ****; declaratividade, ***; executividade, **;
mandamentalidade

4.COMISSÃO DO LEILOEIRO E DEPÓSITO DO PREÇO. Na relação de bens


da massa, o leiloeiro somente recebe comissão arrematante <Decreto-lei n. 7.661, art.
218, V). Nunca, tanto, da massa falencial.
E leiloeiro recebe o preço e presta contas ao síndico.

5.CÓDIGO CIVIL, Ar. 1.106. Diz o Código Civil, 1.106, que, se o bem foi vendido
em hasta pública, não e ação redibitória, nem a de abatimento no preço (ação ~zti
minoris). A regra jurídica incide em se tratando de leilão público segundo o Decreto-
lei n. 7.661, art. 117; aliter, nas vendas por meio de propostas (art. 118).

6.CONTINUAÇÃO NO DIA SEGUINTE E TRANSFERENCIA DO LEILÃO


PÚBLICO. Pode ocorrer que por motivo justo não se realize, no dia designado, o
leilão. A nova hasta pública tem de ser anunciada pela imprensa, com o dia marcado.
Surge a questão de se saber se, para a continuação no dia seguinte, é preciso que novos
anúncios se façam. A resposta é negativa, por analogia com o art. 965, §§ 10’ e 2.0, do
Código de Processo Civil: “A arrematação que, por motivo justo, não se realizar no dia
designado, será transferida, anunciando-se pela imprensa a transferência e o dia
marcado” (art. 96L § 1.~>. “Se, por sobrevir a noite, a arrematação não se concluir,
continuará no dia seguinte, ou em outro; neste último caso, em aviso no mesmo jornal
que houver publicado o edital, far-se-á o anúncio do novo dia designado” (art. 965, §
2.0).

§ 3.425. Vendas por meio de propostas

1.Frnuuà JuutnIcÂ. A chamada “venda por meio de propostas” é composta de


invitatio ad offerendum, feita pelo síndico, de ofertas, que não se têm de fazer em
determinado lugar, dia e hora, e da aceitação pelo juiz, após a observância de
formalidades legais de que se vai falar. A diferença, em relação ao leilão público, é que
as ofertas não são em presença dos oferentes, mas provindas de lugares que podem ser
distintos e apreciáveis em seus pormenores. Diz o art. 118 do Decreto-lei n. 7.661:
“Pode também o síndico preferir a venda por meio de propostas, desde que a anuncie
no órgão oficial e em outro jornal de grande circulação, durante trinta dias,
intervaladamente, chamando concorrentes”, O § 1.0 acrescenta: “As propostas
encerradas em envelopes lacrados,, devem ser entregues ao escrivão, mediante recibo,
CAPITULO VIII

e abertas pelo juiz, no dia e hora designados nos anúncios, perante o síndico e os
interessados que comparecerem, lavrando o escrivão o auto respectivo, por todos
assinado, e juntando as propostas aos autos da falência”. Lê-se no § 29i “O síndico, em
vinte e quatro horas, apresentará ao juiz a sua informação, indicando qual a melhor. O
juiz, ouvindo, em três dias, o falido e o represente do Ministério Público, decidirá,
ordenando, se autorizar venda, a expedição do respectivo alvará”. Ressaltam a forca
institutiva de tal despacho, a forte dose de condenatoriedade a eficácia mediata de
declaratividade. Temos, pois, ~~“‘ dernstitutividade, * * * * de condenatoriedade, e *
* * de declaravidade; vêm, depois, ** de executividade e * de mandamenilidade.

2.RECLAMAÇÕES DOS CREDORES. No § 30’ do art. 118 ri Decreto-lei n. 7.661


está escrito que “os credores podem fazer as reclamações que entenderem, até o
momento de abrirem os autos à conclusão do juiz”. Os credores não foram ouvidos,
mas os anúncios referiam-se ao dia e hora em que ~riam abertos os envelopes das
propostas, e é de esperar-se que todos, ou algum ou alguns dos credores hajam
comparecido. São interessados, e a interessados, credores ou não, alude art. 118, § 2.0.

3.VENDA DE TODOS, DE ALGUNS OU só DE UM BEM. Também a venda dos


bens por meio de propostas pode ser a todos, de alguns ou de algum bem (Decreto-lei
n. 7.661, t. 116).
Se as vendas são de bens separadamente, cumpre que se caracterize com cuidado cada
objeto de proposta, para que não haja dúvida sobre o bem ou sobre lote a que cada
proposta incerne.
É de exigir-se que o síndico fixe a caução, em dinheiro, moeda que cada oferente
instrui a sua oferta, ou mediante depósito em cartório <J. X. CARVALHO DE
MENDONÇA, Tratado de Direito Comercial, VIII, 140), ou no banco designado para
recebimento dos dinheiros da massa, acompanhado do recibo envelope da proposta. Se
o depósito se faz em cartório, tem ser recolhido ao banco designado para o
recebimento dos dinheiros da massa.
Convém, no anúncio, dizer-se que perde a caução, em beneficio da massa, o
concorrente cuja oferta for aceita, se não efetuar o pagamento do restante após a
expedição do alvará. três dias são os de que fala o art. 117, § 2.0, do Decreto-lei 7.661.
A decisão do juiz, de eficácia imediata mandamental, tem de ser cumprida pelo
escrivão, que há de cientificar nos autos a expedição do alvará.

4.VINCULAÇÃO DOS OFERENTES. Proposta entregue é oferta com prazo, isto é,


com o prazo que termina no dia da abertura das propostas, e pois vincula o oferente
(arg. ao art. 1.086, III, do Código Civil; cf. art. 127, 3•8 parte, do Código Comercial).
Importa dizer-se: oferta entregue não se pode retirar.

5.CONTEÚDO DO AUTO JUDICIAL. O auto há de conter: a indicação do dia, hora


e lugar da abertura das propostas; a menção de cada uma das propostas; as
reclamações feitas e quaisquer outras ocorrências que possam pesar para o julgamento.
Assinam o auto o juiz, o escrivão, o síndico e os interessados, inclusive o órgão do
Ministério Público, se está presente. Convém que o juiz rubrique as propostas.

6.INFORMAÇÕES DO SÍNDICO E AUDIÊNCIAS DO FALIDO E DO ÓRGÃO


DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Ou o síndico expõe o que lhe parecer, concluindo pela
rejeição de todas, ou pela aceitação de uma. Há de fundamentar a sua informação. Não
se trata de manifestação de vontade, mas sim de comunicação de vontade. O síndico
não julga, informa.
Têm de ser ouvidos o falido e o orgao do Ministério Público.

7.CREDORES E MAIS INTERESSADOS. Os credores e demais interessados não


precisam ser ouvidos. Tiveram eles ciência de quanto se passou, desde que se abriram
CAPITULO VIII

as propostas, ou poderiam tê-las. Nenhuma atividade do juiz, do síndico, ou do


escrivão se pode exigir. Todavia, se há óbice à sua ciência voluntária das ocorrências,
há cerceamento de defesa.

8. JULGAMENTO. As comunicações de conhecimento que fazem o síndico, o falido,


o órgão do Ministério Público, e eventualmente os interessados, inclusive os credores,
ou são verdadeiras ou são falsas. Daí o elemento prévio, declarativo, que há de ter o
julgamento, ao dizer o juiz o que julga verdadeiro e o que julga falso.
As proposições ou enunciados de fato têm de versar sobre todas as cláusulas das
propostas e sobre os dados sobre o pagamento. Nem sempre é o preço mais alto, dentre
os oferecidos, que pesa definitivamente.
Ao juiz cabe decidir, com a conclusão final: rejeição de todas as propostas ou
aceitação da proposta / em vez das outras, ou da proposta única.
Se a sentença aceita uma das propostas, ou a proposta única, constitui a alienação,
após a declaração, que é afirmar de ser melhor a proposta aceita, e manda
condicionalmente! que se expeça o alvará (elemento mandamental, o oferente passa a
ser devedor (condenatoriedade). A diferença entre a eficácia da decisão do juiz, na
carta de arrematação, e a eficácia do auto de arrematação, na chamada venda por meio
de propostas, é resultante de haver, nessa, a união o ato de aceitação e do ato de
julgamento, e de, naquela, preço já estar pago. Ambos são atos processuais sentenciais.

Temos:

A)CARTA DE ARREMATAÇÃO

Constiturividade Condenatoriedade Mandamentolidade Exata ri. videde**

B)AUTO DE ARREMATAÇÃO NO LEILÃO PUBLICO*fl*DECISÃO


JUDICIAL QUANTO Às PROPOSTAS DE AQUISIÇÃO A diferença entre a venda
em leilão público ou em bolsa a venda por meio de propostas está na sentencialidade
da decisão a respeito dessa e na não sentencialidade do ato leiloeiro ou do corretor.
As expressões do Decreto-lei n. 7.661, art. 118, § 2.0, ~ parte, não são felizes. Lá se
diz que o juiz, ouvindo, em três as, o falido e o órgão do Ministério Público, “decidirá,
ordenando, se autorizar a venda, a expedição ao respectivo ativara A decisão não
ordena não manda que se expeça o alvará; apenas permite que, prestado o resto do
preço, se peça o alvará. Não há a eficácia imediata nem mediata mandamental que há
na carta de arrematação, que só se assina e entrega se já pago o preço. Se o juiz manda
que se expeça o alvará , ou oferente se apressou e depositou todo o preço, o que faz
fora da figura comum a decisão, ou só se 1 de entender que pôs a condição: se o
oferente depositar o resto do preço, tempestivamente, expeça-se o alvará.
Analisando-se com rigor o que se passa, a mandamentalidade do auto de arrematação
no leilão público, ou na decisão sobre venda mediante propostas, é ínfima. De
mandado somente se pode cogitar quando se presta integralmente o preço. Então, por
outro despacho o juiz manda que se expeça o alvará. A eficácia é, portanto, de outro
despacho, e não da decisão sobre a venda. Nem há quanto a essa eficácia
mandamental imediata, nem mediata. Como que apenas se espera que o mandado
venha a ser objeto de despacho.

9.VENDA DE BENS GRAVADOS COM DIREITO REAL DE GARANTIA. Para


que tais bens sejam vendidos por meio de propostas, é preciso que nisso hajam
acordado o síndico e os credores titulares dos direitos reais de garantia.
A propósito dos créditos com privilégio especial, não é de exigir-se o consentimento
do credor.

§ 3.426. Poderes do síndico quanto às liquidações


CAPITULO VIII

1.FUNÇÕES LIQUIDATáRIAS DO SÍNDICO. A figura do síndico, administrador da


massa falida, é imprescindível no concurso de credores falencial. No concurso de
credores civil. não a previu a lei; mas os credores podem adotá-la, em acordo
unânime, preestabelecendo mesmo que as regras jurídicas da lei de falências sejam
rigorosamente observadas.
O síndico administra a massa falida, “sob a imediata direção e superintendência do
juiz” (Decreto-lei n. 7661, a”. Isso quer dizer que, ainda onde não haja a presenca 2x1
exigida, ou a autorização, ou a ingerência visível do juiz, :Sindico está posterior, dos
seus atos.
Entram na classe dos atos que precisam de autorização judicial ou aprovação judicial:
todos os atos de alienação de bens sujeitos a fácil deterioração, ou de guarda
dispendiosa (Decreto-lei n. 7.661, arit. 63, XIII, e 78), as remições de bens gravados
de direito real de garantia (art. 68, XV, 1.’ parte, que somente fala de penhores ), o
solver dívidas que hajam produzido direito de retenção (ad. 68, XV, 2.~ parte), o
contrato de serviços de advogados da massa falida (art. 63, XVI, 2.8 parte), e os atos
de transação (art. 63, XVIII).
Entram na classe dos atos só sujeitos à apreciação imediata, eventual, pelo juiz: a
liquidação do ativo com alienação em leilão público, aliter, se por meio de propostas
(Decreto lei n. 7.661, arts. 114-117), pois o juiz apenas marca o prazo para a
liquidação (art. 115) ; a designação de perito contador (ad. 63, V) e a promoção de
avaliação dos bens da massa (ad. 68, VI); a prática de todos os atos conservatórios de
direitos, pretensões e ações; a cobrança de dívidas e o exercício de quaisquer outras
ações, declarativas, constitutivas, condenatórias, mandamentais e executivas, porque a
aprovação pelo juiz somente concerne aos honorários (ad. 68, XIV e XVI); ‘dar o
valor do ativo e do passivo <art. 63, XIX, 14 ; o receber créditos e pagar credores, nos
termos da lei. Outros atos há que le pode e deve praticar, porém sempre o seu ato pode
ser apreciado pelo juiz.

2.DÍVIDAS ATIVAS, TRANSAÇÕES E ABATES. O síndico pode receber


quaisquer quantias ou outros bens da massa, ou que devam ser entregues à massa.
Porém não pode transigir, judicial ou extrajudicialmente sem que o permita
Juiz; nem cobrar dívidas com abatimento (Decreto-lei n. 7.661, art. 68, XVIII:
“transigir sobre dívidas e negócios a massa, ouvindo o falido, se presente, e com
licença do juiz”; art. 121: “O síndico não pode, sem ordem judicial, cobrar
dívidas,,com abatimento, ainda que as considere de difícil liquida e observe-se que em
ambos os textos as expressões são as próprias: trata-se de permissão, e não de licença
nem de idem). No art. 68, XVIII, fala-se de audiência do falido; no t 121, não.
Todavia,’ guardemo-nos de interpretação literal:J a TUJW te pia e a mesma, e o falido
, quer em casos de transação quer de abates, tem de ser ouvido.
Pode e deve o síndico apresentar ao juiz a relação das dívidas ativas que tenham de ser
cobradas com abatimento. A falência do credor nada tem com as circunstâncias que
podem sugerir que se proponha o recebimento amigável com abate. O juiz tem de
examinar cada caso. A permissão ou autorização pode ser em despachos diferentes, ou
num só despacho para todas as contas examinadas.
Se alguma ou algumas dívidas não podem ser cobradas amigavelmente, ou se as
exigências do devedor são inadmissíveis, o caminho que se abre ao síndico é o leilão
público de tal crédito ou de tais créditos da massa, ou a alienação por meio de
propostas.

8. TRANSAÇÃO. A transação, que ao síndico as circunstâncias possam sugerir, ou


concerne a disputa sobre dividas ativas ou sobre dívidas passivas, ou sobre algum bem,
que a massa tenha interesse em ser seu, ou sem disputa, e para isso haja de abrir mão
de alguma dívida ativa. Em qualquer caso, é preciso ouvir-se o falido. Não há
transação sem que a haja autorizado o juiz, a respeito de qualquer interesse da massa
CAPITULO VIII

(Decreto-lei n. 7.661, ad. 63, XVIII).

§ 3.427. Venda de bens gravados com direito de hipoteca ou de anticrese

1. EXTRAÇÃO DO VALOR. À diferença dos outros direitos reais limitados, os


direitos reais de garantia gravam, a bem dizer-se, o valor. Daí a necessidade de serem
vendidos os bens se ocorre insolvência ou falência e não se segue remição. Dai as
regras jurídicas do art. 119 do Decreto-lei n. 7.661 e dos arts. 963 e 964 do Código de
Processo Civil, respeitados os arte. 821 e 822 do Código Civil. Lê-se no ad. 119 do
Decreto-lei n. 7.661: “Os bens gravados com hipoteca serão levados a leilão na
conformidade da lei processual civil, notificado o credor, por despacho do juiz, sem
prejuízo do disposto nos arte. 821 e 822 do Código Civil”. Segundo o art. 821, alínea
1.a, do Código Civil, no caso de falência do devedor hipotecário, o direito de remição
devolve-se à massa, em prejuízo da qual não poderá o credor impedir o pagamento do
preço por que foi avaliado o imóvel” e o restante da divida hipotecária entrará no
concurso com as quirografárias”. Na alínea 2. do ad. 821 explicita-se que, “no ~so de
insolvência, cabe aquele direito aos credores em concurso”. Ainda mais: o ad. 822
estatui que “pode o credor hipotecário, no caso de insolvência, ou falência do devedor,
para pagamento de sua divida, requerer a adjudicação do imóvel, avaliado em quantia
inferior a esta, desde que lhe dê quitação ela sua totalidade”.
As regras jurídicas do ad. 119 e ~§ l.~ e 2.0 também são invocáveis a respeito de
créditos com direito real de anticrese art. 119, § 3.0: “Serão também levados a leilão os
bens dados n anticrese”).

2. REMIÇÃO. O síndico pode remir o gravado antes e se realizar o leilão.


A remição pelo síndico, ou, no concurso de credores civil, elos credores em concurso,
é pelo preço por que se avaliou bem gravado, dê, ou não, para se pagar o credor com
direito ~al de garantia (Código Civil, ad. 821, alíneas 1.a e todavia, se o credor com
direito real de garantia, quer que se adjudique o bem, avaliado em quantia inferior à
dívida, ~m direito a isso, mas a quitação é por toda a divida (art. 822).
f.Tomo XX, §§ 2.427, 3, 2.510, 3, 2.518, 2, 3, e 2.552, 2. Com a remição, desgravado
fica o bem, mas o restante a divida, se o preço da avaliação, por que se reuniu, era
inferior à divida garantida, é crédito quirografário, como acontece se por tal preço
houvesse sido arrematado. Se, porém, crédito garantido era privilegiado, geral ou
especialmente, continua o privilégio, como qualidade do resto.

3.PRETENSÃO EXECUTIVA REAL E SUSPENSÃO DO SEU EXERCÍCIO.


No § 1.0 do ad. 119, o Decreto-lei n. 7.661 estabelece: se o sindico, dentro de trinta
dias, após a publicação do aviso que se refere o ad. 114 e seu parágrafo, não notificar o
credor hipotecário do dia e hora em que se realizará a venda,do imóvel hipotecado,
poderá o credor propor a ação competente e terá o direito de cobrar as multas que no
contrato tivessem sido estipuladas, para o caso de cobrança judicial”.
O síndico foi o suscitado? do processo de venda. O credor i notificado, dentro dos
trinta dias após a publicação do aviso de que se iniciaria a realização do ativo e do
prazo. renove a publicação do aviso, decorreram os trinta dias após ela, e o síndico
não fez notificar-Se o credor de que em determinado dia e hora se procederia à venda
do imóvel hipotecado ou gravado de anticrese (Decreto-lei n. 7.661, ad. 119, § 3.0), o
credor com direito real de garantia pode propor a ação executiva real (Código de
Processo Civil, ad. 298, VI). Na petição pode o credor incluir as multas que tiverem
sido estipuladas para o caso de cobrança judicial (art. 119, § 1?, in une). A alusão do
ad. 119, § 1.0, in fine, a essas multas não pré-exclui a cobrança executiva das multas
por inadimplemento e as mais que o direito admita. Apenas se quis deixar claro que
essas multas para o caso de cobrança judicial, reputadas para serem atendidas despesas
judiciais e honorários de advogados, podem ser incluídas no pedido de execução
forçada. Sobre o ad. 9~O do Decreto n. 22.626, de 7 de abril de 1983, cf. Tomo XXV,
CAPITULO VIII

§ 3.091, 9.
A ação executiva real é de propor4e no juízo falencial. e não alhures.
Mais uma vez frisemos que o restante da divida, se o preço alcançado não a cobre,~ é
crédito quirografário, salvo se o crédito que se garantira com o direito real era
privilegiado genial ou especialmente.

4~ DETERMINAÇÃO DA VENDA PELO SÍNDICO. O prazo de trinta dias é para


que ao síndico se dê o marcar a venda, sem que o credor possa pedir a execução
forçada. Em verdade, suspenso fica o exercício da ação executiva real durante esses
trinta dias. Mas outra suspensão ocorre se o síndico, durante o transcurso dos trinta
dias, notifica o credor quanto à venda. Assim, os trinta dias não são preclusivos do
poder de vender, que tem o síndico; são apenas suspensivOs da execução real pelo
credor. Pode ocorrer que o síndico notifique quanto à venda e essa não se possa
realizar sem ser por adiamento; então, o credor recobra a exercibilidade da sua
pretensão executiva real. Aliás, se a relação jurídica processual da ação executiva real
por algum motivo cessa, sem ser pela satisfação do credor, o sindico volve a poder
notificá-lo da venda, enquanto o credor não propõe, de novo, a ação executiva real.

wrque exerceu a sua pretensão executiva real por não ter sido notificado.
A propositura da ação executiva real pelo credor impede notificação da venda, em
leilão, pelo síndico.
Assim, nos trinta dias que tem o síndico, para notificar credor com direito real de
garantia, com a indicação do lia e hora em que se há de realizar a venda, pode Esse
propor ação executiva real. Enquanto o credor com garantia real não propõe a ação
executiva real, cuja exercitabilidade não mais está suspensa, o síndico pode notificá-lo,
com a indicação da data e hora da venda. A ação executiva real, que fosse proposta, já
encontraria em fase adiantada a execução real, seria supérflua.
A ação executiva real tem de ser proposta no juízo da falência (Decreto-lei n. 7.661,
art. t0, § 2.0). Se, antes da abertura da falência, já havia sido proposta a ação executiva
real, tão fica suspensa, até o encerramento da falência, como as demais execuções,
porque a elas concerne o art. 24, § 2.0, 1, do Decreto-lei n. 7.661 (Tomo XX, § 2.552);
salvo se sobre preço do bem há rateio.

5.VENDA URGENTE DO BEM GRAVADO. “Se a venda do móvel for urgente” ou,
em geral, do bem gravado de hipoteca ou de anticrese “como nos casos do art. 762, n.
1, do Código Civil, o credor, justificando os fatos alegados, poderá pedir ao juiz a
venda imediata do imóvel hipotecado”, ou gravado de anticrese. t o que está no art.
119, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661, e temos de considerar que tal pedido pode ser eito
dentro dos trinta dias a que se refere o art. 119, § 1.0, um antes (cp. Decreto-lei n.
7.661, art. 78).

6.VENDA PROMOVIDA POR ALGUM CREDOR. Qualquer credor pode


reclamar ao juiz contra o síndico, que não notificou o credor com direito real de
garantia quanto à venda do bem gravado, e requerer a notificação e a venda, isto é, a
venda, com a notificação do credor com direito real de garantia. Assim resulta do
Decreto-lei n. 7.661, ad. 30, II (verbis “requerer promover no processo da falência o
que for a bem dos interessados nomeia o leiloeiro, se o síndico o não escolheu, ordena
que se. publiquem os editais e que se notifique o credor com direito real de garantia.
Se a venda não se realiza, o credor com direito real de garantia pode propor a ação
executiva real.

7.VENDA DO BEM GRAVADO DE ANTICRESE. Antes de tudo, arguamos o erro


daqueles que, a propósito de bem gravado de anticrese, falam de direito de retenção. O
credor anticrético não exerce direito de retenção, que é exceçao; exerce pretensão à
percepção de frutos e rendimentos (Código Civil, ad. 805). O próprio titular do direito
CAPITULO VIII

real de penhor não tem direito de retenção; tem mais do que isso: direito à posse.
Sobre a expressão “retinere”, Tomo XXII, § 2.734, 8. Aludir-se, aí, a direito de
retenção é não se saber o que é direito de retenção. O síndico recebe a posse imediata,
se é conveniente (dificilmente o é); mais acertado é que se lhe dê apenas posse
mediata, abaixo da posse do anticresista, e esse fique com a posse imediata, para que
continue a perceber frutos e rendimentos. Lamentavelmente , os que tratam de
concursos de credores e de falência freqüentemente mostram ignorar, nos próprios
princípios, a doutrina da posse.
O credor com direito real de anticrese não tem de entregar o bem, privando-se, desde
já, dos frutos e rendimentos, com que se está a pagar. Nem há conveniência, salvo
excepcionalmente, em que se lhe retire a posse. Cf. art. 125, § 1. do Decreto-lei n.
7.661.
O que antes se disse sobre hipoteca pode repetir-se a propósito de anticrese.

8. ARREMATAÇÃO. O art. 117, § 29, do Decreto-lei n. 7.661, como o ad. 978 do


Código de Processo Civil, tem de ser observado. Não há, porém, fiador.

§ 3.428. Venda de bens empenhados ou caucionados

1.DIREITOS REAIS DE GARANTIA SOBRE BENS MÓVEIS. A lei distingue os


créditos com direito de retenção e, pois, como bens móveis. Foi acertado que o fizesse.
Já antes tratara parte os direitos reais de garantia sobre bens imóveis (De ato-lei n.
7.661, ad. 120, § 2.0: “Os credores pignoratícios conservam o direito de mandar
vender a coisa apenhada, se tal faculdade lhes foi conferida, expressamente, no
contrato, prestando contas ao síndico. Se, porém, não tiverem ficado com 1 faculdade,
poderão notificar o síndico para, dentro de oito as, remir a coisa dada em penhor; se o
síndico não achar conveniência para a massa a remição da coisa, deverá notificar o
credor para que dela lhe faça entrega, na forma deste tipo”; § 3.0: “Se o síndico,
dentro de dez dias, a contar da data do recebimento da coisa, não notificar o credor do
dia hora do leilão, poderá este propor contra a massa a ação impetrante, e terá o
direito de cobrar as multas que, no contrato, tiverem estipuladas para o caso de
cobrança judicial”).
No art. 275, o Código Comercial diz-se que, “vencida dívida a que o penhor serve de
garantia, e não pagando-a o devedor, é licito ao credor pignoratício requerer a venda
judicial aí do mesmo penhor, se o devedor não convier em que se faça comum acordo”
(Tomo XXI, § 2.607, 1).
O Decreto-lei n. 7.661, ad. 120, § 2.0, somente se refere créditos com garantia de
penhor (ou caução), e não aos que têm direito de retenção. Nisso, levou a palma ao
direito anterior, posto que o lamentem, sem razão, alguns juristas. A entrega da coisa
empenhada ao síndico não é entrega a toda a posse que o credor pignoratício tinha.
Apenas vai ao juiz posse mediata imprópria, inferior à do credor, a que a esse de
credor pignoratício se mediatiza, por passar ao síndico a posse imprópria imediata.
Pode haver conveniência em que não se tire ao credor tem direito real de penhor ou de
caução de crédito a posse imediata do bem (e. g., trata-se .de banco, em que estão jóias
e alto valor, ou o credor tem os meios de conservação dos animais empenhados ou das
máquinas empenhadas). Seja como for, e a posse imediata vai ao leiloeiro, ou ao
síndico e, depois, ao leiloeiro, ao credor fica a posse mediata entre a posse própria
imediatas do devedor e a que se transferir ao órgão da execução. mediata do juízo.
Nos casos em que o penhor se constituiu sem que o devedor deixasse de ser possuidor
imediato, raramente se lhe pode retirar essa posse. O leilão faz-se, então, no lugar em
que permaneceram os bens gravados.
Tratando-se de bens negociáveis em bolsa, a posse imediata, imprópria, vai ao corretor
oficial.

2. DIREITOS EMPENHADOS. Os penhOres de direitos, de bens incorpóreos (Tomo


CAPITULO VIII

XX, §§ 2.585-2.590), também se submetem ao ad. 120, §§ 2.” e 39, do Decreto-lei n.


7.661.

3.CRÉDITOS CAUCIONADOS. O Código Civil, arts. 789- 795, permite o penhor


de créditos pessoais, dita caução de títulos de crédito (Tomos XVIII, §§ 2.146, 2,
2.150, 2; XX, §§ 2.561, 2, 2.569, 2, 2.570, 3, 2.590, 2, 4). Também a esses penhOres
se aplica o ad. 120, §§ 2.0 e 89, do Decreto-lei n. 7.661.

4. “WARRANTS”. Segundo a Lei n. 1.102, de 21 de novembro de 1908, ad. 23, § 1.0,


o podador do warrant, se não houve pagamento no dia do vencimento, pode fazer
vender em leilão, por intermédio de corretor, ou de leiloeiro que escolher, as
mercadorias especificadas no titulo, independentemente de formalidades judiciais.
Igual direito tem o endossante que solveu a divida incorporada no warrant (ad. 23, §
2.0). O corretor ou leiloeiro encarregado da venda anuncia-a pela imprensa, com
antecedência de quatro dias, conforme o ad. 23, § 39. Têm de ser observadas as regras
do regulamento interno dos armazéns gerais, das salas de vendas públicas e, em se
tratando de repartição pública, as instruções oficiais (ad. 23, § 49).
O síndico pode evitar a venda se, antes de ser adjudicada a mercadoria ao que maior
lance ofereça, solve a dívida, paga os impostos fiscais, despesas devidas ao armazém
geral e todas as mais a que a execução deu lugar, inclusive custas do processo,
comissão do corretor ou leiloeiro e os juros da mora (ad. 23, § 69). Cf. Tomo XV, §
1.832, 4 e 8.
Se o arrematante não pagar o preço da venda, no prazo marcado nos anúncios, ou, na
falta de fixação de prazo, no de vinte e quatro horas, faz-se novo leilão, por conta e
risco do arrematante, que perde o sinal e, se não foi alcançado o mesmo preço, é
obrigado a completá-lo (Lei n. 1402, arta. 23, § 49, e 28, § 6.0).

5.PENHOR RURAL (AGRÍCOLA OU PECUÁRIO> - Os bens empenhados, se o


penhor é rural, ficam na posse imediata do devedor (Tomo XXI, §§ 2.591-2.604); de
modo que, se foi permitida a venda amigável, pode essa ser feita, e, se o não foi, tem
de ser requerido o leilão.

6.PENHOR DE MÁQUINAS E APARELHOS UTILIZADOS NAS INDUSTRIAS.


Segundo o ad. 69 do Decreto-lei n. 1.271, de 16 de maio de 1939, em caso de
insolvência, ou falência do devedor, que fez penhor de máquinas e aparelhos
utilizados nas indústrias, pode o credor requerer ao juiz competente para o
conhecimento da causa principal que os bens, objeto do contrato, “passem para a sua
posse, ou de depositário por ele indicado”. O ad. 6.~ do Decreto-lei ri. 1.271 tem de
ser interpretado como se lã estivesse escrito: “Se o síndico ou os credores do
insolvente não resolvem vender o estabelecimento industrial, ou se a falência ou a
insolvência impede a continuação do funcionamento da indústria, ou daquela parte da
indústria m que estão destinadas as máquinas e os aparelhos empenhados, o credor, a
quem foi prometido o direito de vender s bens pode requerer a posse deles para isso; se
não lhe foi lado tal direito, a titulo cautelar é-lhe permitido requerer que ;e lhe dê a
posse imediata ou que se atribua a depositário”. Df. Tomo XXI, § 2.604. (O ad. 69 do
Decreto-lei n. 1.271 rala de morte, insolvência ou falência. Mas a morte somente iode
determinar a transmissão forçada da posse se acarreta pregão.continuação da indústria,
ou inadimplemento.)

7.BENS PERTENCENTES À TERCEIRO. Se o bem empenhado ou caucionado não


pertence ao devedor falido, nenhuma aplicação tem a regra jurídica sobre remição pelo
síndico; nem onde que requerer a entrega para a venda em leilão, ou por propostas. Se
o dador da garantia pignoratícia redime o bem, fica sub-rogado no direito do credor
satisfeito e pode fazer, ia falência, a declaração do crédito. Em relação ao falido, 1
terceiro interessado, segundo o ad. 985, 111, do Código Civil. %.entrada no concurso
CAPITULO VIII

de credores é como credor quirografário, porque o bem, ex hin,othesi, lhe pertencia.


penhor, que solve a divida do falido e se sub-roga nos direitos do credor como credor,
e, perante o dador do penhor, como titular do direito real de garantia.

§ 3.429. Bens Imóveis gravados com direito real

1.PRINCÍPIOS QUANTO AOS DIREITOS REAIS LIMITADOS QUE NÃO


SÃO DE GARANTIA. Se o direito real limitado não é de garantia, não há falar-Se
de crédito. Já o direito real de garantia é direito distinto do crédito, que ele garante;
mas, por isso que a sua função jurídica é de garantir com o valor dos bens, tem-se de
extrair a esses o valor, para se satisfazer o crédito que foi com o direito real garantido.
O direito real de renda sobre imóveis, não. Não se trata de direito real de garantia.
Grava-se o bem, quanto à renda, no que se distingue da anticrese. No caso de
insolvência que determine O concurso de credores civil, ou de falência, o que se há de
ter por fito não é solver-se divida, mas sim sub-.rogar-Se o bem vendido, e do dinheiro
em que se sub-rogou retirar-Se o que baste, em capital, para que o titular do direito
real de renda sobre imóvel continue a receber a renda equivalente.
O direito real de enfiteuse não é direito real de garantia. É direito amplo, à semelhança
do domínio, que se detrata do domínio. Não há, nele, qualquer função de garantia, nem
recai sabre o valor do bem. Dê-se o mesmo com o usufruto, o uso e a habitação, que
detratai ao domínio a utilização (usufruto, ou uso, ou habitação) do bem, sem que alto
podam, sequer, ao valor.
O falido, e como ele a massa falencial, tem o direito sobre o bem, menos o direito real
limitado que não é de garantia; e não pode o falido, nem o síndico, pretender a
alienação daquilo que não é seu, ou da massa
.
2.CASO ESPECIAL DO DIREITO REAL DE RENDA SOBRE IMÓVEL. Do
direito real de renda sobre imóvel já se tratou no Tomo XIX, §§ 2.395~2.412.
Nenhuma garantia há no direito real de renda sobre imóveis. Não se extrai valor para
atender-se a garantia. Se o dono do imóvel gravado cai em insolvência, ou falência, ou
se advém execução singular do prédio gravado, tem-se de extrair o valor do bem para
satisfação dos credores. então se estabelece o problema de pôr-se a salvo o direito ~al
limitado. Não é o mesmo problema que ocorre a respeito
>s outros direitos reais limitados que não são direitos reais garantia: nesses, extrai-se o
valor dos bens gravados, permanecendo o direito real de enfiteuse, de usufruto, de uso,
z de habitação. Seria impossível dar-se a mesma solução a deposito de bem imóvel
gravado de direito real de renda. A solução que aparece no art. 752 do Código Civil
impunha-se em técnica legislativa: “No caso de falência, insolvência ou execução do
crédito gravado, o credor da renda tem preferência aos outros credores para haver o
capital, indicado no artigo antecedente”; to é (art. 751), “capital em espécie, cujo
rendimento, calcula-o pela taxa legal dos juros, assegure ao credor renda equivalente”.
Com isso, poder-se-ia dar o resgate; com isso, dá-se solução ao problema do respeito
ao direito real de renda, em iso de insolvência, ou de falência, ou de execução do bem
gravado.
O direito real de renda sobre imóveis fica próximo, em partilha, dos direitos reais de
garantia, sem que seja direito real de garantia. Não é o valor do bem que garante ao
titular o direito real de renda sobre imóveis o direito que ele tem; direito mesmo
consiste em perceber renda que há de ser colhida ao bem gravado. O direito real de
anticrese, que é direito sal de garantia, está mais próximo, em aparência, dos direitos
sais limitados que não são de garantia, porque o titular dele percebe os frutos para se
pagar.

§ 3.430. Venda de bens retidos

1.DIREITO DE RETENÇÃO E VENDA DOS BENS (REMIÇÃO OU VENDA).


CAPITULO VIII

No art. 120, o Decreto-lei n. 7.661 estatui: “Os bens ue constituírem objeto de direito
de retenção serão vendido também em leilão, sendo intimados os possuidores para
entregá-los ao síndico”. No art. 120, parágrafo único: “Fica salvo o síndico o direito de
remir aqueles bens em benefício da massa, se achar da conveniência desta”. Ou o
síndico redime bem (r solve a dívida com direito de retenção e, pois, com privilégio
especial), ou não o redime, e então, a despeito do direito de retenção e do privilégio
especial, o juiz manda que credor entregue ao síndico o bem para que se venda. Para a
remição, não precisa o síndico, no período da liquidação, de. autorização do juiz (cf. 3.
X. CARVALHO DE MENDONÇA, Tratado de Direito Comercial, VIII, 72 e 256). A
remição pode ser aconselhada, não para se evitar, se é o caso, fluência de juros
<Decreto-lei n. 7.661, art. 26, parágrafo único), mas sim por ser mais fácil e indicada a
venda do bem livre. (Os juristas, a respeito do art. 120 do Decreto-lei n. 7.661, ou do
art. 65, inciso 9, da revogada Lei n. 2.024, de 17 de dezembro de 1908, falam da
conveniência da remição para se evitar que corram os juros. Mas os juros não correm
contra a massa e o art. 26, parágrafo único, que abre exceção ao princípio só se refere
a debêntures e créditos com garantia real, e não a créditos a que corresponde direito de
retenção, que são os de que cogita o art. 120 do Decreto-lei n. 7.661. Sem razão,
portanto, J. X. CARVALHO DE MENDONÇA, Tratado de Direito Comercial, VIII,
256, e TRAJANO DE MIRM4DA VALVERDE, Comentuf rios âLei de Falênejas, II,
147.)
Quem tem direito de retenção não é, de modo nenhum, titular de direito real de
garantia. O credor que retém ou pode reter é titular de exceção, e não de pretensão a
extração de valor. Por outro lado, não se alude, no direito real de retenção, a valor que
se extraia para se satisfazer o crédito que tem contra o seu devedor o titular do direito
de retenção.

2. VENDA. Se a remição é desaconselhável, a juízo do síndico, tem ele de requerer a


intimação dos credores a cujos créditos corresponde direito de retenção, para que lhos
entregue. O direito de retenção não cessa. A entrega ao síndico não é entrega de toda a
posse que o credor tem: a medida que o juiz deferiu é medida de incursão na esfera
jurídica do credor para a venda forçada do bem, sem qualquer negação do direito de
crédito, do direito de retenção e do privilégio especial do credor. O credor, entregando
o bem, que retinha, mantém-se na posse, embora dê a posse imediata ao síndico. O que
se entrega ao síndico é a posse imediata. O credor mediatiza a sua posse, que fica por
cima da posse mediata do juiz. Com a entrega do bem ao leiloeiro, a posse imediata
vai a esse, e então é o síndico que por sua vez se mediatiza. Dá-se o mesmo com o
corretor oficial, em se tratando de títulos ou valores negociáveis em bolsa
Se a venda é por meio de propostas conforme O art. 118 do Decreto-lei n. 7.661,
conservam-se a posse mediata., própria, do dono da coisa retida, se é devida pelo
credor retentor, i posse imprópria, mediatizada, do credor retentor, a posse mediata,
imprópria> do juiz, e a posse imediata, imprópria. do síndico; ou, se não é dono da
coisa, possuidor mediato, ~ credor da posse imediata, que está com o retentor, têm-se
posse mediata, imprópria a posse mediatizada desse, i do juiz, mediata imprópria e a
do síndico, imediata e imprópria. Se o credor, dono da coisa, contra o qual se dirige ,
direito de retenção, não tinha posse e é credor dela, então o retentor tem a posse
imediata, imprópria, o juiz, a posse imprópria mediata, e o síndico, a posse imprópria
imediata.
Também a respeito de privilégio especial oriundo de direito le retenção, pode ocorrer
que se proceda à venda estando ainda 3. posse imediata com o retentor. O juízo
falencial apenas se faz possuidor mediato, acima do síndico, que também se torna
pos3uidor mediato. No momento da venda é que se faz possuidor ‘leiloeiro para
transmitir a passe toda do adquirente.
O art. 118 do Decreto-lei ~x. 7.661 não exige que, no momento de se abrirem os
envelopes das propostas, ou depois, mesmo quando conclusOS ao juiz os autos,
estejam sob a posse imediata do síndico os bens sobre os quais há o direito de
CAPITULO VIII

retenção. Assim, quando o art. 120 diz que “os bens que constituírem objeto de direito
de retenção seria vendidos em leilão, 3endo intimados os possuidores para entregá-los
ao síndico”, apenas se refere ao quoct plentrft que fit, ao que as circunstancias
freqüentemente tornam aconselhável: a ida da posse imediata ao síndico ou ao
leiloeiro. Em se tratando de vendas por meio de proposta, seria inconveniente tirar-se
ao retentor i posse imediata, salvo se a permanência da posse imediata com ele
dificulta o exame do bem pelos interessados na aquisição, ou se o retentor mesmo cria
dificuldades.

3.431. uealizaçLo doativo por deliberação da assembléia de credores

1.PREVENÇÃO DA VONTADE CELETIVA DOS CREDORES.A lei deu ao síndico,


que é o administrador da massa, poderes amplos para a liquidação do ativo, isto é, para
a cobrança, o recebimento e a extração do valor dos bens da massa. Se o sindico
prefere a alienação por meio de propostas, o juiz exerce, diretamente, a função de
extração do valor. Prevê-se nos arte. 122 e 125 do Decreto-lei n. 7.661 Que se
convoquem os credores, para, em assembléia, deliberar sobre o modo de realização do
ativo. Outrossim, pode dar-se que a deliberação seja sem retinilo, em resolução de
dois terços dos credores, em escritura pública, ou por instrumento particular. conforme
os princípios.

2.CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE CREDORES. Para a deliberação por


maioria calculada sobre a importância dos créditos dos credores presentes~ é essencial
o ato de convocação de todos os credores segundo o ad. 122 e §§ j~o~5~O do
Decreto-lei a. 7.661. 1k-se no art. 122: “Credores que representem mais de um quarto
do passivo habilitado, podem requerer ao juiz a convocação de assembléia que
delibere em termos precisos sobre o modo de fiscalização do ativo, desde que não
contrário ao disposto na presente lei, e sem prejuízo dos atos já praticados pelo síndico
na forma dos artigos anteriores, sustando-se o prosseguimento da liquidaçãO ou o
decurso de prazos até a deliberação final”.
Os credores, que representem pelo menos, um quarto do passivo habilitado, podem
requerer. O juiz somente pode indeferir o requerimento se não há um quarto do
passivo habilitado, ou se, até o momento de seu despacho, deixou de havê-la. O modo
de realização do ativo há de ser compatível com as regras jurídicas cogentes da lei de
falências. Por exemplo: alienação dos bens separadamente. alienação dos bens
englobadamente, alienação dos bens pelos lotes a e b, ou a, b e c, alienação em leilão
público separadamente ou da todo, ou de lotes, saliente o por meio de propostas para
todos, alguns, ou cada um. Nem o falido, nem o síndico, pode requerer a convocação
da assembléia de credores. Nem a pode ordenar, de oficio, o juiz.
A convocação faz-se por edital publicado no orgao oficial e em outro jornal de grande
circulação (Decreto-lei n. 1.661, ad. 205). A reunião em assembléia tem de ser, pelo
menos, no nono dia posterior à publicação do edital. Pressuposto essencial de validade
e eficácia constarem dele lugar, dia e hora. 1 lugar é qualquer um, que o juiz designe,
desde que nele possa juiz presidir os trabalhos. Tem ele de proclamar aberta a reunião,
sendo conveniente mencionar ele, ou o escrivão, qual o importe do passivo habilitado
correspondente aos sócios presentes. o que resulta do art. 122, § 1.0: “A convocação
dos credores ará feita por edital, mandado publicar pelo síndico, com a antecedência
de oito dias, e do qual constar do lugar, dia e hora consignados
Há um ponto no art. 122 do Decreto-lei n. 7.661 que merece explicação . Lá se diz que
o modo de realização do ativo tem ) de ser compatível com a lei e b) não prejudicar
atos já ratificados pelo síndico. Os atos já praticados pelo síndico são )dos os atos do
síndico antes de ter tido conhecimento de requerimento de convocação da assembléia.
Daí a conveniência e ser comunicado ao síndico o requerimento para que “atos
anteriores” não sejam considerados apenas os atos anteriores o momento em que o
síndico toma conhecimento do despacho do juiz. A comunicação feita ao ser entregue
CAPITULO VIII

o requerimento tem o efeito de poder ser desconstituído qualquer ato o síndico, que o
modo de realização do ativo, adotado pela assembléia, não leva em conta.

3.REUNIÃO DOS CREDORES EM ASSEMBLÉIA. “Na assembléia, a que deve


estar presente o síndico, o juiz residirá os trabalhos, cabendo-lhe vetar as deliberações
dos redores contrárias às disposições desta lei” (Decreto-lei
7.661, art. 122, § 2.0>.
A posição do juiz é semelhante à que tem nas audiências e instrução e julgamento.
Cabe-lhe resolver dúvidas sobre terem acordes, ou não, com a lei as deliberações que
se vão somar, ou que podem ser tomadas. Tal função corresponde que a lei lhe deu,
expressamente, de vetar as deliberações contrárias à lei falencial. Por outro lado, se
algum credor está representado por pessoa que se diz seu orgao , ou representado or
alguém, incumbe-lhe verificar a legitimidade dos poderes segundo a lei, os estatutos
ou o instrumento de outorga. Outro sim, o cômputo do crédito ou créditos de cada
sócio presente.
Por essa ocasião o síndico pode alegar que algo do moda e realização do ativo, que se
quer adotar, ou que se adotou, regra judaica aa Lei de ciências , ou algum principio
jurídico, ou que é impraticável, em algum ponto, por existir ato anterior, seu, que se
tem de respeitar.
Ao escrivão toca a função de fazer a chamada doa credores apresentados à falência,
com os valores dos respectivos ad-ditos. Todos os presentes têm de assinar a lista de
presença, que se há de juntar aos autos com a ata da reunião (Decreto-lei n. 7.661, art
122, § 50)
De passagem, advirtamos que podem tomar parte na assembléia os próprios credores
declarantes, que tiveram decisão contrária à admissão, se ainda pende de julgamento
recurso que interpuseram. Os credores retardatários somente são legitimados a isso
depois de transitar em julgado a sentença favorável a eles. N~ basta o terem obtido
reserva de bens.
Quanto aos créditos dos credores com direito real de garantia que não as declararam,
não se computam para se determinar o quanto do passivo, porque, no art. 122 do
Decreto-lei n. 7.661, o que se considera é o passivo declarado <dito, no art. 122,
“passivo habilitado”), isto é, o passivo concernente aos credores que declararam os
seus créditos. Os credores com direito real de garantia, que não haviam declarado os
seus créditos, têm de ser convocados, devendo se lhe fazer a notificação conforme a lei
processual civil, respeitadas, outrossim, as regras jurídicas do Código Civil, arts. 821 e
822.
O produto da venda dos bens gravados de direito real é guardado pela massa até que o
credor com direito real de garantia se “habilite”. Se tarda, o síndico há de intimar o
credor com direito real de garantia para que o faça dentro de dez dias (Decreto-lei n.
7.661, art. 125, § 4.0).
O credor que somente compareceu depois de iniciados os trabalhos não pode discutir
os pontos sabre os quais o juiz proclamou encerrados os debates, mas pode votar a
respeito deles se ainda não se deu por finda a votação.
O síndico, se não comparece sem ser por motivo de forca maior (cf. Código de
Processo Civil, art. 38), tem de ser destituído (Decreto-lei n. 7.661, art. 66), e pode ser
destituído imediatamente, sendo nomeada outra pessoa que esteja ou possa estar
presente à reUnião. Caso venha a ser provada forca maior, a desconstituição do ato de
destituição e do ato de nomeação não tem, ai, eficácia ez tune.
A lei não exigiu a presença do órgão do Ministério Público. do 0k comparece, cabe-lhe
requerer o que se lhe afigure a bem [os interesses da justiça (Decreto-lei n. 7.661, art.
210).
Os credores com direito real de garantia que não haviam declarado os seus créditos e
foram convocados para a assembleia de credores, ou não comparecem, ou
comparecem. Se comparecem, têm de ser considerados declarantes para a participa-lo
na assembléia, sem que isso signifique qualquer prejuízo ara o seu direito, como
CAPITULO VIII

titulares de direito real de garantia.


Quanto aos titulares de direitos reais limitados que não do de garantia, Esses,
evidentemente, não são credores e não podem, portanto, tomar parte na assembléia.
Qualquer entendimento entre os credores e eles é punetação ou negócio jurídico parte,
que apenas pode ser mencionado no modo de realiza-lo do ativo, sem tal menção
influir na eficácia do que acordam credores e titulares de direitos reais que não são de
garantia.
Embora a lei não exija a presença do órgão do Ministério Público, teve ele pleno
conhecimento da convocação e do dia. lugar e hora designados, porque a lei fez
pressuposto essencial a eficácia da convocação de credores a publicação do edital,
a reunião não se pode dar antes do nono dia. Se a matéria das discussões e
deliberações não se esgotar dia para o qual foi convocada a reunião, o juiz marcará
continuação para outro dia, independentemente de nova comunicação por edital <arg.
ao Código de Processo Civil, art. 270, 8 parte).
Se o juiz não comparece, não se instala a assembléia. Isso ao quer dizer que, havendo
presentes credores a que correspondam dois terços dos créditos, não possam eles
deliberar, de conformidade com o art. 123 e o que a respeito dele diremos. escrivão, de
qualquer modo, lavrará a ata, que os presentes ao de assinar (arg. ao art. 265 do
Código de Processo Civil).
se tem de esperar o juiz quinze minutos após a hora arcada. Não comparecendo o juiz,
tem-se de convocar, novamente, a reunião dos credores em assembléia.
A reunião podem comparecer todos os credores da sociedade falida e os credores dos
sócios de responsabilidade solidária. Todavia, as deliberações têm de ser em relação
aos respectivos patrimônios. Diz o Decreto-lei n. 7.661, art. 122, § 4.0: “Nas
deliberações relativas ao patrimônio social, somente tomarão parte os credores
sociais; nas que se relacionam com o patrimônio individual de cada sócio,
concorrerão os respectivos credores particulares e os credores sociais”. Os credores da
sociedade são também credores dos patrimônio s dos sócios solidários. O cômputo dos
créditos, para a votação, é o dos valores de cada crédito, como se um só fosse o
patrimônio , a despeito da subsidiariedade da responsabilidade (Decreto-lei n.. 7.661,
arts. 50 e 128, III).
À assembléia de credores podem comparecer quaisquer credores apresentados
(credores quirografários, credores com privilégio geral, credores com privilégio
especial, credores com direito real de garantia). Quem se apresentou foi convocado.
Titulares de direitos reais que não sejam de garantia não são credores. Nem sobre os
bens gravados com direitos reais que não sejam de garantia tem poderes de
deliberação a assembléia.
Não se exige ao representante do credor que também seja credor. A representação na
falência contém representação para o requerimento de convocação da assembléia e
para a assembléia (cf. Decreto-lei n. 7.661, arts. 31 e 82, II). Uma só pessoa pode
representar dois ou mais credores, sem se poder investigar se representa interesses
contrários. Os arta. 1.325-1.32S do Código Civil são invocáveis. O falido pode
representar credor ou credores, quer para o requerimento de convocação da
assembléia quer para a assembléia.
O inventariante fala pela herança; o síndico da falência do credor opina pela massa
falida desse. Um e outro, para qualquer deliberação que importe remissão parcial, ou
em transação, precisam de atender à respectiva lei.
Os representantes de dois ou mais credores votam como se fossem os credores
representados que estivessem a votar: os votos são pelo que lhes corresponde em
importe das dívidas; no caso de empate, pelo número de credores representados.
O representante de A e de B pode votar a favor de urna oposição, como representante
de A, e contra essa proposta, como representante de B. O que importa, para ele, são as
instruções recebidas.
Se A tem três créditos e B dois, o representante de A só ex um voto com o peso da
soma dos créditos de A, e como representante de B, outro, com o peso da soma dos
CAPITULO VIII

votos de 8.
Nada obsta a que A, credor, seja também orgao de 8 representante de C. Em todo
caso, o contrato social ou os estatutos da pessoa jurídica D, de que A é órgão ou
represente, pode proibir que A exerça a função de órgão de 1) e de E, representante de
D e de E, ou de órgão de representante dele.
Na solidariedade ativa, só há um voto, pois o crédito é só. O credor que se apresentou
é que pode comparecer e votar. Se todos os credores solidários se apresentaram e há
discordância entre eles, a solução é o síndico requerer que sejam enviados para
outorga de poderes a um só representante que vote ir todos. Se isso não se fez , ou
ainda não chegou a ter resultado, o credor solidário que primeiro> assina a lista de
presentes Que pode discutir e votar.
Os créditos subordinados a condição resolutiva ou a canção suspensiva são tratados
com os outros créditos (Decreto lei n. 7.661, art. 25, § ~2.o>. A propósito dos créditos
a termo, comparecem desse facilmente ; quanto aos créditos sob condição solutiva,
igualmente. No tocante aos créditos sob condição suspensiva, não é de se entender, a
priori, que tenham o mesmo ato, porém o Decreto-lei n. 7.661, art. 25, § 2.0, tem essa
conseqüências
O direito de voto, mesmo se o voto é dependente do monte do crédito, ou dos créditos,
como se dá nas assembléias credores, não é suscetível de alienação em separado do
crê-te ou dos créditos. A própria procuração, ainda se com a cláula de irrevogável, é
revogável. Não há procuração em causa 6pria para votar em deliberações de
assembléia de credores, isto que possa votar o procurador em causa própria para
alienação do crédito ou dos créditos.

4. DELIBERAÇÕES. Tem-se de calcular a importância ~s créditos dos credores


presentes a cada votação (= a cada deliberação), o que se faz pela lista dos presentes e
os informes sobre os seus créditos. Sempre que, entre uma deliberação e outra, outro
ou outros credores comparecem e assinam a lista de presentes, cabe a chamada dele ou
deles, e não só dos outros.
Sabendo-se qual a importância da soma dos créditos é que se pode determinar a
maioria calculada sobre ela.
0 voto não é expressão da individualidade do credor, mas do valor do crédito. O credor
que tem crédito em parte líquido e em parte ilíquido somente vota como credor do
líquido. O credor cujo crédito é todo ilíquido somente pode votar em caso de empate,
como credor, pois que é esse o meio de se desempatar: contarem-se os credores que
votaram a favor e os que votaram contra. Diz o Decreto-lei n. 7.661, art. 122, § 3.0:
“As deliberações seria tomadas por maioria calculada sobre a importância dos créditos
dos credores presentes. No caso de empate, prevalecerá ; decisão do grupo que reunir
maior número de credores”.-
O juiz tem de examinar cada uma das proposições (enunciados) que se tenham de
submeter à deliberação da assembléia. O exame há de ser prévio; porém o fato de o
juiz não se ter pronunciado sobre a possibilidade das proposições, ou de alguma ou
algumas das proposições, não o inibe, na ocasião, de se iniciar a votação, ou depois, de
decidir que é ilegal.
O Decreto-lei n. 7.661, art. 122, exige que o “modo de realização do ativo”, que se
adote, não seja contrário a ele. A referência do Decreto-lei n. 7.661 às suas próprias
regras jurídicas deve interpretar-se como se no art. 122 estivesse escrito: “... o modo
de realização do ativo, que tem de ser compatível com os direitos dos credores e suas
classificações e com a finalidade da execução forçada celetiva”.

5.ATA DA ASSEMBLÉIA. Lê-se no art. 122, § 59: “Do ocorrido na assembléia, o


escrivão lavrará ata que conterá o nome dos presentes e será assinada pelo juiz. Os
credores assinarão lista de presença que, com a ata, será junta aos autos da falência”.
Ata da assembléia é toda ata que se lavre depois de aberta. pelo juiz, a reUnião. Se o
juiz não compareceu, a ata não é ata da assembléia.
CAPITULO VIII

Aberta a reunião dos credores em assembléia e estar ao alcance dos presentes a lista
de presença, que encerra ao se encerrar a última votação. O credor que pode votar tem
de assiná-la, e pode exigi-lo.
A ata da assembléia tem de conter todos os nomes dos presentes. Presentes são os que
assinaram a lista dos presentes ao os que estiveram no lugar, dia e hora, e não
assinaram ha. Quem não assinou a lista não pode assinar a ata da abídia.

132. Deliberações dos credores com dois terços dos créditos apresentados

L.NEGÓCIO JURÍDICO ENTRE CREDORES. Os credores, em unanimidade,


podem estabelecer o que bem quiserem sobre os créditos e a liquidação do ativo,
inclusive quanto à trans.. aia do estabelecimento comercial ou quanto à alienação de o
ativo. A lei foi adiante e permitiu que tais poderes mas os credores a que
correspondam dois terços dos créditos aí se vê que se criou poder de disposição de
interesses
a.Dois terços fazem o que, na ordinariedade das regras caso, só a unanimidade poderia
fazer. Diz o art. 123 do Decreto-lei n. 7.661: “Qualquer outra forma de liquidação vo
pode ser autorizada por credores que representem dois dos créditos”. Não se falou em
convocação; de jeito que deliberação pode ser com ou sem convocação. Basta que m a
escritura pública ou o instrumento particular credo-que correspondam dois terços dos
créditos.
Observe-se que tais poderes somente se referem como, os da assembléia à realização
do ativo, e não à liquido passivo. Nenhuma deliberação que ofenda direito ~dor, sua
classificação e modo de pagamento pode ser Não se pode desatender à eficácia dos
direitos reais de garantia, nem à dos privilégios especiais ou gerais. A pressa de se
realizar o ativo, não se pode atribuir ao titular direito real de garantia menos do que ele
receberia se indenização do ativo houvesse seguido as linhas normais; pretexto de se
realizar o ativo, se pode desviar prefere que resulta do privilégio especial, ou geral.

DECRETO LEI n.7 661. O que se há de entender que são legitimados quaisquer
credores declarantes, mesmo se pende recurso que foi interposto de decisão que os não
admitiu ao concurso de credores falencial.
Os créditos dos credores com direito real de garantia que não se apresentaram são
computados para se saber qual o importe total dos créditos e a determinação dos dois
terços. Têm de ser notificados, para que se manifestem, de acordo com a lei
processual civil, e hão de respeitar-se os arta. 821 e 822 do Código Civil.
Se os credores que querem alguma medida, fora daquelas de que cogita o art. 122 do
Decreto-lei n. 7.661, não têm, ainda, a maioria dos dois terços dos créditos, o caminho
que lhes resta é o da convocação. Podem eles, mesmo que já a tenham, preferir que
todos tomem parte em discussão e votação. Então, a convocação é com a exigência de
um quarto dos créditos (arg. ao art. 122 do Decreto-lei n. 7.661), requerida ao juiz,
pondo-se nos anúncios qual a finalidade da reUnião. A instalação da assembléia
somente se pode dar se a lista de presença acusa terem comparecido credores a que
toquem dois terços dos créditos. À votação, esse também é o mínimo de credores que
hão de estar presentes. Se a proposição, que se submeteu a votos, não obtém esse
número favorável, nada feito.
O que se disse a respeito do art. 122, fi 49, do Decreto-lei n. 7.661, tem invocabilidade
quanto às deliberações de que cogita o art. 123, tenha havido, ou não, convocação.
Não se distinguem credores quirografários, credores com privilégio especial (e. g.,
credores com direito de retenção), credores com privilégio geral e credores com direito
real de garantia. J. X. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito
Comercial, VIII, 237 s.) distinguia os credores quirografários e os credores
privilegiados ou com direito real de garantia; mas sem razão (certo, TRAJANO DE
MIRANDA VALVERDE, Comentários a Lei de Falências, II?, 160). Se há
desvantagem para os credores privilegiados e para os credores com direito real de
CAPITULO VIII

garantia, é assunto que o juiz tem de apreciar, ao se pronunciar sobre a deliberação,


tanto mais quanto o ativo não pode ser alienado por menos da avaliação (Decreto-lei n.
7.601, e os credores com direito real de garantia credores privilegiados têm de ser
satisfeitos em primeiro lugar e de acordo com a generalidade ou a especialidade do
privilégio, ou com a gravação em garantia.

2.BENS E MODOS DE ALIENAÇÃO. A alienação pode ser todos os bens livres, em


mãos de outrem por direito de ação, ou gravados de direito real de garantia. O que se
aliene o bem está gravado de direito real sem ser de garantia, propriedade detrato o
usufruto, o uso, a habitação, enfiteuse. Por exceção, aliena-se todo o bem gravado de
t constituída como direito real (Código Civil, arts. 751 ~cf. art. 1.428) e o frentista
recebe, antes de todos, o que para lhe assegurar a renda, que recebia, à taxa legal dos
Não há, ai, privilégio; há resgate, a que se procederá 1 dos privilégios, segundo os
princípios concernentes aos bons reais que não são de garantia. as deliberações só se
referem às alienações e mais atos realização do ativo. Sempre que a alienação abrange
livre e~ bem gravado de direito real de garantia, ou bem sujeito a privilégio especial e
bem sujeito a privilégio real, sem que se possa discriminar o que, no preço,
corresponde ao bem gravado de direito real de garantia ou sujeita dito especialmente
privilegiado, tem-se de atender, antes, muito garantido com direito real de garantia e
ao crédito privilegiado. O que é preciso é que a deliberação não inutilize medida de
garantia real, ou do privilégio especial. Dai a anciã da função do juiz, ao ter de
homologar a delibere do tribunal, em via recursal, ao examinar a decisão rogatória ou
denegatória de homologação.hás, a deliberação não pode afastar os privilégios gerais.
Égio é qualidade de crédito; portanto, concerne ao passivo, ao ativo.nenhum credor
pode ser prejudicado, contra a sua ambição e o seu voto, no que seria o que lhe
caberia, se o modo dação fosse o do art. 121 ou o do art. 122 do Decreto-7.661. A
própria lei evitou alguns inconvenientes estando que o preço da alienação não pode ser
inferior ao dação (Decreto-lei n. 7.661, art. 70, § 2.0). De jeito que, para a alienação
de ah ou de abo, se têm de somar os preços pelos quais se avaliaram a e b, ou a, b e c.
Para se deliberar a respeito de alienação abaixo do preço da avaliação, seria preciso
que houvesse unanimidade e consentimento do falido. Unanimidade, porque a maioria,
que deliberasse alienar por menos do preço da avaliação, prejudicaria o credor ou os
credores restantes e ao mesmo tempo feriria o art. 70, § 29, do Decreto-lei n. 7.661.
Consentimento do falido, porque tem ele interesse em que se solvam no máximo
possível as dividas, uma vez que, encerrada a falência, ele fica a dever o que não foi
pago.
Se a alienação é do estabelecimento comercial, ou industrial, ou do fundo de empresa,
tem de ser observado o § 1.~ do art. 116, ou o art. 116, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661, a
respeito do contrato de locação do imóvel.
Na transferência de todo o ativo, pode-se deliberar quanto ao modo e forma do
pagamento do preço, porém de maneira que não se prejudique o credor com direito
real de garsotia, ou antes de todos o credor de renda constituída sobre imóvel. Diz o
art. 123, § 1.~, 2.~ parte: “Podem ditos credores” os credores a que correspondem,
pelo menos, dois terços do capital “autorizar o síndico a ceder o ativo a terceiro”. A
transferência não é feita pelos credores deliberantes; há de ser pelo síndico, a que toca
toda a responsabilidade no respeito dos direitos reais de garantia, do direito real de
renda sobre imóvel e dos encargos e dívidas da massa e dos privilégios.
Se o começo não foi pago à vista, o adquirente ou os credores entram para a massa
com a importância que baste para satisfação dos encargos e dívidas da massa (Decreto-
lei n. 7.661, arta. 124 e §§ 19, 29 e 39) e para as custas e despesas da arrecadação,
administração, venda, depósito ou comissão do síndico, relativas ao bem gravado de
direito real de garantia, ou de direito real de renda sobre imóvel (Código Civil, arta.
751, 752 e 1.428) mais, no tocante a esse, o capital suficiente para que, à taxa legal,
haja a renda que fora estabelecida no acordo de constituição do direito real de renda
sobre imóvel.
CAPITULO VIII

O direito real do garantia e o de renda sobre imóvel continuam a gravar o bem


enquanto não se dá a satisfação completa.
Antes da satisfação de tais créditos, nenhum poder tem o síndico para a transferência
do ativo, sob pena de responsabilidade (Decreto-lei n. 7.661, art. 68).
A solução mais conveniente é a do depósito prévio de quanto tenha de ser satisfeito
desde logo.

3.CRIAÇÃO DE SOCIEDADE PARA CONTINUAÇÃO DO NEGÓCIO DO


FALIDO. Diz o art. 123, § 1.~, 1.a parte, do Decreto-lei n. 7.661: “Podem ditos
credores” os credores a que corresponda, pelo menos, dois terços do capital
“organizar sociedade para continuação do negócio do falido”. A sociedade, que se
organiza, sucede ao falido. AI e somente ai os credores dissidentes são pagos em
dinheiro, segundo o art. 123, § 5•O, do Decreto-lei n. 7.661, que diz: “Se a forma de
liquidação adotada for de sociedade organizada pelos credores, os dissidentes serão
pagos, pela maioria, em dinheiro, na base do preço da avaliação dos bens, deduzidas as
importâncias correspondentes aos encargos e dividas da massa”. Observe-se: a) que,
em se tratando de bens gravados com direito real de garantia ou privilégio especial, só
se descontam as custas e despesas, de que fala o art. 125, “relativas aos mesmos bens”;
19 que, no caso de haver direito real de renda sobre imóvel, os arte. 751, 752 e 1.428
do Código Civil têm de ser respeitados; e) que a regra jurídica do art. 123, § 59, não
pode ser estendida às outras espécies (art. 125, § 1.0, 2.~ parte), o que escapou a
TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE (Comentários à Lei de Falências, II, 161).
Leia-se o art. 123, § 59, do Decreto-lei n. 7.661, como se houvesse dito “dissidentes,
não comparecentes e abstinentes de voto”.
São os credores que constituem a sociedade, como se não se tratasse de bens de falido.
Todavia, o juiz tem de homologar o contrato de sociedade e o acordo, incluso, de
transferência do ativo e do passivo.
Se houve assembléia, ou nela se deliberou a constituição da sociedade, ou nela já se
aprovaram o contrato social e o acordo de transferência. A entrega dos bens é ato do
síndico, após a homologação da deliberação, pelo juiz.
Se não houve assembléia, os credores deliberaram com o contrato social e com o
acordo de transferência, mas tem de
ser publicado aviso para ciência das credores que não assinaram o instrumento,
público ou particular, conforme os princípios que regem a sociedade e o acordo de
transmissão de que se trata. Nos cinco dias após o da publicação, os credores que não
assinaram o instrumento podem impugnar a deliberação da maioria (Decreto-lei n.
7.661, art. 123, § 3.0)•
A impugnação da deliberação da maioria pode fundar-se em que não se perfez a
maioria, uma vez que algum dos participantes da assembléia, ou algum dos figurantes
do negócio jurídico não tenha qualidade de credor declarante, ou de credor que a
credor declarante se equipare, ou que não lhe corresponda o importe do crédito, ou dos
créditos que se lhe atribuem. Pode também se referir ao que foi deliberado, por ofensa
à lei falencial ou a direitos de credores.
A convocação da assembléia tem de ser pelos credores que representem mais de um
quarto dos créditos. O art. 123 do Decreto-lei n. 7.661 não no diz, mas é de interpretar-
se o art. 123, § 39, com sua referência explícita ao art. 122. Para a deliberação é que se
precisa de dois terços. No cálculo dos dois terços atende-se ao que se estatui no art.
122, § 49, se há credores da sociedade e credores dos sócios solidários.
Não podem os credores deliberar que o negócio do falido continue. Tal continuação,
sem sucessão, só na primeira fase do processo falencial pode ser pedida e deferida pelo
juiz. Cessa, se o falido não pede concordata (Decreto-lei n. 7.661, art. 178), ou se,
pedida, lhe tiver sido negada na primeira ou na superior instância. Se concedida, tem o
falido trinta dias para efetuar os pagamentos a que se refere o art. 183, pari. grafo
único. As obrigações oriundas da continuação do negócio do falido são dividas da
CAPITULO VIII

massa que se têm de pagar, preferencialmente, após os encargos da massa (art. 124, §
29, II), se resultam de atos jurídicos válidos praticados pelo síndico..
Na deliberação de se constituir sociedade que continue com o negócio do falido, há
primeiro passo para a transparência do fundo da empresa (Tomos XV, §§ 1.799-
1.812, 1.822, 1.423 e 1.824). Há sucessão. Uma vez que há sucessão, os direitos dos
credores com direito real de garantia, como os de• que cogitam os arts. 821 e 822 do
Código Civil, têm de ser respeitados

4.ALIENAÇÃO DO CREDOR si os credores ao falido; sucede ao falido o terceiro,


que, Lis, pode ser um dos credores, pois credores sucessores são apenas os credores
deliberantes, de que se falou. Se a transferência, que se deliberou fazer, foi a alguns
dos que delibe ram, é de transferência a terceiro que se trata. Idem, se todos mais
alguém, que não é credor, ou que não podia deliberar. O art. 123, § 1.0, 2.2 parte, fala,
explicitamente, de 2der o síndico o ativo a terceiro”. A deliberação é autorizativa irt.
123, § 1.0, verbis “autorizar o síndico a ceder”) -
A sociedade organizada pelos credores, em que não houve unanimidade de
deliberação, é sociedade de terceiro, e não sociedade de credores, propriamente dita;
daí a regra jurídica o art. 123, § 59, do Decreto-lei n. 7.661.
Assim, temos:
a) Se todos os credores são deliberantes, por unanimidade, e todos são os membros da
sociedade sucessora, há a transfeerência sem óbices e sem se irradiarem deveres entre
credores.
b) Se só dois terços dos credores deliberaram fazer sociedade que continue, a solução
técnica que aprouve à lei falencial oi a de se liquidar o passivo, no tocante a esses
credores ditos lissidentes e, pois, a de afastá-los.
c)Se o adquirente é terceiro (mesmo sociedade em que haja alguns credores), o síndico
é que tem de ceder o ativo ao terceiro e com o recebido ao terceiro se procede à
liquidação do passivo.
Lê-se no art. 123, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661: “O ativo somente pode ser alienado,
seja qual for a forma de liquidação feita, por preços nunca inferiores aos da avaliação
feita nos termos do § 29 do art. 70”. O art. 123, § 2.0, é pertinente t qualquer
deliberação de alienação ou de liquidação; portanto, me de todo o ativo, ou de parte,
ou de um só bem.
Também aqui a deliberação pode ser em assembléia, para t qual houve convocação, ou
em negócio jurídico de autoriza1o ao síndico. Em todo caso, se não houve assembléia,
tem de ser feito, por edital, o aviso, para que fiquem cientes do que se deliberou os
credores que não assinaram o instrumento público ou particular. No prazo de cinco
dias, podem Eles impugnar a deliberação. Findos os cinco dias, os autos são conclusos
ao juiz para a homologaçÃo. Diz o art. 123, § 39: “A deliberação dos credores pode
ser tomada em assembléia, que se realizará com observância das disposições do artigo
anterior, exceto a do § 39; pode ainda ser reduzida a instrumento, público ou
particular, caso em que será publicado aviso para ciência dos credores que não
assinaram o instrumento, os quais, no prazo de cinco dias, podem impugnar a
deliberação da maioria”. E o § 49: “A deliberação doe credores depende de
homologação do juiz e da decisão cabe agravo de instrumento, aplicando-se ao caso o
disposto no parágrafo único do art. 17”.
A propósito da transferência do fundo de empresa a terceiro, cabe repetir-se o que
acima dissemos sobre os direitos dos credores com direito real de garantia, mesmo se
não haviam declarado os seus créditos. Cumpre ter-se em vista o fato de que, por se
tratar de transferência do total do patrimônio falencial, incide o art. 822 do Código
Civil, como o art. 821.

5.OUTROS MODOS DE ALIENAÇÃO. Os outros modos de alienação de que cogita


o art. 123 do Decreto-lei n. 7.661 não são apenas os dois a que se refere o art. 123, §
1.” (constituição de sociedade, alienação do ativo). Em consequência: nenhuma
CAPITULO VIII

deliberação, mesmo a dos credores a que correspondem dois terços dos créditos, pode
ser alienação de um ou alguns bens por preço inferior ao da respectiva avaliação; se a
alienação é de dois ou mais, conjuntamente, o preço não pode ser inferior à soma dos
preços que a avaliação deu a cada um. Se foram avaliados em lote e a deliberação é
quanto à alienação de um, ou de alguns, é de mister outra avaliaçãO, que se refira ao
bem, ou aos bens, que se pretende alienar.
(Nem sempre o preço da avaliação de abc é a soma dos preços de avaliação de a, b e c.
Nem sempre a soma dos preços da avaliação de a, 6 e c é igual à soma dos preços de
avaliação de ah e de c, ou de 1w e de a, ou de ao e de 6. O par de objetos pode valer
menos do que a soma do valor de cada um.)
No sistema jurídico brasileiro, há a pretensão à concordata preventiva ou à concordata
suspensiva. Pode ocorrer que durante a discussão entre os credores convocados e
comparecentes, ou, fora dai, entre credores que examinaram a situação do devedor
comum, surja a manifestação de vontade de ser defesa da ação de vontade, se atende
ao art. 177, parágrafo único, do Decreto-lei n. 7.661, pode ser comunicada ao juiz e ao
falido facultativamente, ao síndico e ao órgão do Ministério Publico). Se tal
manifestação de vontade chega ao cartório nos cinco dias de que se fala no art. 178 do
Decreto-lei n. 7.661 o falido aquiesce, tem-se de considerar a sua aquiescência como
pedido de concordata suspensiva. O procedimento é o dos arts. 178-181, 183 e 184.
Devido ao ad. 185 do Decreto-lei n. 7.661, os credores podem comunicar a
manifestação de vontade ao falido, a qualquer momento, e a aquiescência do falido é
tida como pedido e concordata suspensiva. Apenas, em tais circunstâncias,
deferimento do pedido não interrompe a realização do ativo e o pagamento do passivo.

6. RECURSO. A deliberação dos credores depende da homologação, e da decisão,


que homologa, ou denega homologação, cabe agravo de instrumento (Decreto-lei n.
7.661, rt. 128, § 40)
Durante a pendência do recurso, não pode o síndico entregar os bens do ativo, nem os
alienar por outro modo. Todavia, ode ocorrer outra causa de alienação, a do ad. 73
(fácil deterioração, ou não se poderem guardar sem risco ou grande despesa).

CAPITULO III

ENCARGOS DA MASSA

§ 3.433. Encargos da massa e dívidas da massa

1.MASSA E PASSIVO PRÓPRIO DA MASSA. Com a decretação da falência,


automaticamente se destina à solução das dividas concursais o patrimônio do
devedor, tal como existe ao tempo da sentença. Tem-se de liquidar o patrimônio , para
que oportunamente se distribua o apurado, em proporção aos elementos do passivo,
atendidas as prelações legais, após a entrega dos valores correspondentes aos direitos
reais de garantia. Os outros direitos reais, que incidem em bens da massa, não são
incluídos no patrimônio, nem como créditos contra a massa, nem como créditos
concursais, porque são direitos com sujeito passivo total (todos, e não só o falido), e,
mesmo que excepcionalmente seja objeto o dinheiro, se o bem está gravado de
usufruto, uso, habitação, ou renda real, é o bem menos o direito real limitado, isto é,
menos o que faz o objeto do direito real limitado, o que em verdade está no patrimonio
falencial.
Para se chegar à liquidação do patrimônio em concurso e poder-se distribuir o
apurado, tem o síndico de diligenciar para diferentes operações, das quais resultam
despesas, inclusive custas, e dividas, de que é sujeito passivo a massa falida. Os
sujeitos ativos de tais dívidas são ditos credores da massa falida e têm de ser satisfeitos
antes de o serem os credores concorrentes. Não são credores concorrentes.
CAPITULO VIII

2. PRECISÕES. Todavia, cumpre observar-se: a) despesas e dívidas há que são


despesas e dívidas da massa, porém não pesam na solução dos créditos garantidos com
direito real e dos créditos com privilégio especial, pois a respeito desses, como
daqueles somente descontam custas e despesas da arrecadação, administração, venda,
depósito ou comissão do síndico, relativas aos bens gravados ou objeto de privilégio
especial; t» a propósito da anticrese, ao art. 125, § 1.0, do Decreto-lei n. 7.661. Assim,
não se descontam do valor do bem gravado ou sujeito a privilégio especial custas e
despesas como as de moléstia e enterro do falido que morreu indigente, durante o
processo da falência (Decreto-lei n. 7.661, art. 124, IV).
Custas e despesas da massa concursal, ou simplesmente custas da massa,
Massekoseen, e dividas da massa concursal, Massesckulden, dão causa ao nascimento
de pretensões contra a massa concursal. Aquelas provAm da incidência de regras
jurídicas do regimento de custas e do que se há de despender para arrecadação,
administração, liquidação do patrimônio concursal e distribuição do produto, incluído
o que algum credor adiantou para se arrecadarem os bens ou mais bens do falido, os
impostos, taxas e outros tributos, a cargo da massa e exigíveis durante a falência, e as
indenizações por acidente do trabalho, se o negócio do falido continuou e o aci~ente
ocorreu no período da falência. No direito brasileiro, a propósito de créditos garantidos
por direito real e de créditos com privilégio especial, procede-se à individualização das
dessas com a arrecadação, administração, venda, depósito ou x,missão do síndico
(Decreto-lei n. 7.661, art. 125); não quanto ha outras custas e despesas que se
consideram, como essas, encargos da massa concursal (cp. Ordenação Concursal
alemã, 1 63, inciso 2>. As dividas da massa são as obrigações que correspondem a
pretensões de pessoas que figuraram em negócios jurídicos com a massa (Decreto-lei
n. 7.661, art. 124, § 2Y, inciso II), inclusive custas pagas pelo credor que pediu a
abertura da falência (Decreto-lei n. 7.661, art. 124, § 2.0, inciso 1), de pessoas que
foram vítimas de enriquecimento injustificado a massa (Decreto-lei n. 7.661, art. 124,
§ 2.0, inciso III).
Se os bens da massa falida são insuficientes para esses encargos comuns e para essas
dividas comuns, primeiro se satisfazem os credores por encargos da massa, tendo-se
de proceder rateio entre Eles, se necessário; depois, os credores por divinos da massa.

1.TEXTO LEGAL. O Decreto-lei n. 7.661, art. 124, § 1.<’,1-VI, enumera os


encargos da massa falida. Segundo Me, são encargos da massa:
1.Ás custas judiciais do processo da falência, dos seus incidentes e das ações em que
a massa for vencida. Na expressão “custas judiciais” compreendem-se selos, taxas
judiciárias, editais, avisos, salários de avaliadores e peritos, emolumentos do juiz e dos
órgãos do Ministério Público, do escrivão e dos escreventes e tudo mais que o
regimento de custas considere custas judiciais. As despesas, que se têm como custas
judiciais incluídas no art. 124, 1 1.~, 1, são as que se fazem no processo da falência,
dos seus incidentes e das ações ou recursos (e. g., se a massa recorre, em algum
processo, como terceiro).
Nem todas as ações que se propõem no juízo falencial geram custas judiciais que
hajam de ser pagas pela massa. As ações revocatórias falenciais que algum credor
proponha não são ações em que a massa falencial possa ser vencida. Nem o são as
ações declaratórias de ineficácia relativa . que algum credor proponha. O que pode
acontecer é que a massa aufira vantagem e o credor tenha direito ao reembolso das
despesas, conforme o art. 30, III, do Decreto-lei n. 7.661.
No art. 30, II, 2.a parte, do Decreto-lei n. 7.661, reconhece-se ao credor que haja
apresentado a declaração de crédito (art. 82) a legitimação a requerer e promover, no
processo de falência, o que for a bem dos interesses dos credores e da aplicação da Lei
de Falências, sendo as despesas, que fizerem, indenizadas pela massa, se essa auferir
vantagem. Tais custas não têm a posição do art. 124, § 1.0, XI. Não se disse que a
tinham as custas por atos de que cogita o art. 30, 1, isto é, quando os credores
entendem “intervir, como assistentes, em quaisquer ações ou incidentes em que a
CAPITULO VIII

massa seja parte ou interessada”. A intervenção do credor, em tais espécies, ou é só no


seu interesse, ou é para evitar prejuízo à massa, quer ela seja parte, quer seja
interessada. No segundo caso, tais custas têm de ser consideradas, eventualmente,
encargos da massa, conforme o art. 124, § 1.0, II. (A respeito das custas e despesas do
art. 80, II, TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE, Comentários à Lei 1.0,1; mas
sem razão: o art. 124, § 1.0, 1, refere-se ao que se conta contra a massa e só pagável
depois de o contador do juízo ti do juízo em que se processaram ações em que a massa
foi arte e vencida no cômputo; as custas e despesas a que alude art. 30, II, são
indenizadas pela massa, pois que as pagou o redor, bem assim, eventualmente, as do
ad. 30, 1).
O ad. 124, § 1.~, 1, não se referiu a custas em ação em que a massa não foi vencida.
Existem tais custas,. pagas, por tempo, pelo autor ou requerente, ou divididas,
proporcionalmente, entre os interessados (cf. Código de Processo Civil, rts. 53 e 54).
Outras há que são pagas por metade, ou conforme acordo (Código de Processo Civil,
art. 55).
A despeito dos termos da lei (Decreto-lei n. 7.661, ad. 124, 1.0: ‘¾.. e das ações em
que a massa for vencida”), havemos de assentar que são• encargos da massa todas as
custas que a massa teve de pagar.
As ações a que a lei se refere são as ações propostas no juízo falencial e as ações
propostas fora do juízo falencial.
Somente as custas devidas pela massa podem ser pagas, apos de regularmente
contadas, pelo síndico, e nelas incluem-se custas relativas às contestações e
impugnações feitas pelo sindico ou pelo falido (Decreto-lei n. 7.661, ad. 208, § 1.0). a
custas pagas pelos credores não são, em princípio, indenizáveis pela massa. Se foram
em proveito da massa, há a excedo do art. 30, II, e interpretando-se a lei com a sua
ratio do ad. 30, 1.
II.Ás quantias fornecida à massa pelo síndico ou pelos credores. A diferença entre
essas quantias e as que provêm outras fontes assenta em que o ser síndico e o ser
credor instituem qualidades que hão de ser levadas em consideração. rata-se,
outrossim, de quantias fornecidas por qualquer credor, privilegiado ou não, ou por
credor cujo crédito é garantido ir direito real. Não entram em tais classes de
interessados os que somente são titulares de direito real que não seja de garantia,
porque esses não são credores. Poderiam sê-lo por outra usa, não como titulares de
direito real. Todavia, se o titular direito real é credor por frutos, como o usufrutuário,
outra causa, e fornece quantia ou quantias para que se apresse é encargo da massa.
Se o síndico assume a divida da massa, o seu crédito contra a massa é encargo da
massa. Áliter, se ele apenas endossa, ou avaliza, ou presta fiança; mas, se, ao
vencimento tem de pagar a divida da massa, o seu crédito contra ela é encargo da
massa.
O que acima se disse quanto ao síndico há de entender-se também quanto a qualquer
credor.
No ad. 75, § 1.0, do Decreto-lei n. 7.661 prevê-se um dos casos em que o credor pode
ter fornecido à massa quantia ou quantias: se o síndico comunica ao juiz, ouvido o
Órgão do Ministério Público, que não encontrou bens, ou os arrecadados são
insuficientes para as despesas do processo, e foi marcado prazo para que os
interessados requeiram o que for a bem do seu direito, o credor que requer o
prosseguimento e presta as despesas, está na situação precisa do art. 124, § 0, II.
Não assim, o credor de que fala o ad. 30, 1, ou o ad. 30, II. Há outros casos de
prestação pelo credor ou pelo síndico:
e.g., as remições de hipoteca (Código Civil, arts. 766, 814, 815 e 821), ou de penhor
(Código Civil, ad. 766), o resgate do bem enfitêutico (Código Civil, ad. 693) ou
subenfitêutico (Código Civil, ad. 694), o pagamento de foros para evitar o comisso da
enfiteuse (Código Civil, ad. 692, II), o pagamento de alugueres para que não se dê a
resolução do contrato (Código Civil, ad. 1.092, parágrafo único). Se o síndico ou o
credor solve tais dividas, sem dar entrada da quantia na massa, não forneceu quantia à
CAPITULO VIII

massa, de modo que se haja de invocar o ad. 124, § li>, II, do Decreto-lei n. 7.661;
solveu, diretamente, divida alheia, e o caso é de sub-rogação pessoal (Código Civil,
ad. 985. III), transferindo-se do credor ao síndico ou ao credor o direito real ou o
privilégio que tinha o crédito satisfeito (Código Civil, ad. 988).
A regra jurídica do ad. 124, § 1S~, XI, do Decreto-lei n. 7.661 tem a importância de se
atribuir ‘ao terceiro que solve (o síndico ou o credor) a posição inicial do ad. 124 do
Decreto- lei n. 7.661. Sem ele, ou se daria a sub-rogação pessoal, de que falamos, ou o
fornecimento pelo síndico ou pelo credor somente determinaria a sub-rogação pessoal,
se houvesse sido convenio Código Civil). Nem o síndico nem o credor têm dever de
fornecer quantias, de modo que é a seu líbito a) solver diretamente, como terceiro
interessado, para que se dê a sub-rogação legal, ou b) obter a cessão de que tratam os
arts. 986, e 987 do Código Civil, ou o) fornecer à massa a quantia, caso m que o art.
124 e o § 1.0, II, incidem. Para o credor há alternativa: fornecer à massa, exigindo que
o juízo permita convenção de sub-rogação pessoal (Código Civil, art. 986, II), ti
invocar o art. 124, § 1.0, II.
Quem não é o síndico, nem credor da massa, se fornece quantia, ou quantias, sem
invocabilidade do art. 986, II, do Código Civil, não tem a situação do art. 124, § 1.0,
II, do Decreto lei n. 7.661; tem a do credor por divida da massa, conforme art. 124, §
2.0, II. Se não forneceu e solveu como terceiro interessado, há a sub-rogaçao legal do
art. 985, III, do Código Civil (cf. art. 989). Se não era interessado, não se pode pensar
n sub-rogação pessoal legal (Código Civil, art. 931), posto possa ocorrer sub-rogação
pessoal convencional conforme art. 986, II, ou cessão pelo credor satisfeito (art. 986,
1) - III.As despesas com a arrecadação, administração do guarda livro e distribuição
do seu produto, inclusive a comissão do Mii~o. Ai entram todas as despesas
necessárias à arrecadação dos bens da massa concursal e à administração desses bens,
salários de empregados, operários, guarda-livros e quaisquer outros que dirijam ou
auxiliem a administração, honorários de advogados que foram contratados para a
defesa de interesses da massa, comissão de depositário (Decreto-lei 7.661, art. 212, III)
e comissão do síndico. (No direito anterior discutia-se se havia de ser incluída nos
encargos da massa comissão do síndico; mas o art. 125, § 1.0, afasta qualquer
acusação.) IV.Ás despesas com a moléstia e o enterro do falido que morreu na
indigência, no curso do processo. Já o Código Comercial, art. 876, 1, tinha por
privilegiado o crédito de despesas funerárias e da moléstia de que falecera, mas, em
vez de exigir ter morrido em estado’ de indigência o falido, frisava terem ser sem luxo
e coordenadas à situação social do falido as despesas funerárias, têm sido feitas e
repetidas vezes. Por que não se há de pagar (pergunta-se) o que custou a moléstia do
falido se ele não morreu? O fácil sorriso de juristas de sistemas jurídicos
evidentemente inferiores ao nosso zuniu o art. 1.569, IV, do Código Civil e o art. 124,
§ lA IV, do Decreto-lei n. 7.661. A ratio legia está em que, se o falido se salva, poderá
pagar o que custou a doença de que se salvou. Não se afastaram as pretensões dos
médicos e hospitais, e pôs-se a alternativa: salvo o falido, têm-nas eles contra o falido,
que poderá, até, entrar em concordata suspensiva, ou vir a ter alta situação econômica;
morto, o sistema jurídico entende que os que cuidaram do doente e tinham pretensões
contra Ele, que faleceu em estado de indigência, não devem ficar sem solução e sem a
tutela jurídica. e dai a regra jurídica do art. 124, § l.õ, 1V. Certo jurista estrangeiro
chegou a querer o autor do casamento de Figaro para comediar a regra jurídica
brasileira, e sem razão, como vimos. Mas, em verdade, o autor do casamento de
Figaro gastaria toda a vida para comediar os erros crassos, crassíssimos, do sistema
jurídico do referido jurista.
Quanto às despesas de funerais, havia a discussão, durante séculos, se teriam de ser da
primeira ou da segunda classe dos credores, o que hoje não nos interessa, diante do
art. 124, § 1.0, IV.
O art. 124 e o § 1.~, IV, não incidem se há alguém obrigada a prestar os funerais
(Código Civil, arte. 1.342, 1.537, 1, e 1.722, cf. art. 1.581, § 2.0).
As despesas com a moléstia do falido só se podem exigir à massa se o falido morreu
CAPITULO VIII

indigente e não havia qualquer pessoa obrigada a alimentos (e. g, Código Civil, arts.
396-405,
248, IX, 1.015, II, 1.587, II), inclusive se negocialmente.
São despesas com a moléstia os serviços de médico, cirurgião, radiografias e exames
técnicos, enfermeiro, hospital e as despesas de tratamento ou de correção, ainda
quando se tornaram, com a morte, inúteis.
V.Os impostos e contribuições publicas a cargo da massa e exigi veia durante a
falência. (a) Os impostos, as taxas e as outras contribuições devidas à Fazenda Pública
antes da decretação da falência são à frente de quaisquer créditos (note-se passa
como se o falido tivesse pago todos esses débitos o seu passivo fosse o que é, menos
essas quantias em verdade Linda devidas. No Decreto-lei n. 960, de 17 de dezembro
de 1938, irt. 60, diz-se: “A Fazenda, na cobrança da sua divida ativa, não está sujeita a
concurso de credores, nem a habilitação de crédito em falência, concordata, ou
inventário”. No art. 60, parágrafo único: “A divida da União prefere (7) qualquer outra
m todo o território nacional, e a dos Estados prefere a dos Municípios. Somente entre a
União, Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderá versar o concurso de
preferência .
O ad. 60 do Decreto-lei n. 960 não diz que, havendo executivo fiscal, não se possa
abrir concurso de credores, falencial ou não; apenas há de ser entendido como se
estivesse escrito: “A Fazenda Pública pode executar as dívidas de que ala o art. 1.0 e
parágrafo único do Decreto-lei n. 960 ainda que esteja aberto concurso de credores, ou
inventário”. Não á a exigência de habilitação concursal (Supremo Tribunal Federal, 31
de agosto de 1942, J., 12, 248, e 2 de julho de 1946), u em ação de inventário e
partilha. Isso não quer dizer que Fazenda Pública não possa preferir apresentar o
crédito ao concurso de credores, ou ao inventário.
A pendência do executivo fiscal não impede que se abra concurso de credores, nem o
inventário, O próprio Decreto[ei n. 960, art. 45, 1, f), prevê julgamento de concurso de
redores.
Se o juízo concursal ou o do inventário não atende ao que reclama a Fazenda Pública,
em se tratando de dívida referida o art. 1.0 e parágrafo único do Decreto-lei n. 960,
pode a Fazenda Pública prosseguir no executivo fiscal, ou intentá-lo contra a massa
concursal <Supremo Tribunal Federal, 11 de julho e 1926, A. .1., V, 303; 2 de abril de
1932, J., V, 12; t~ Câmara Civil do Tribunal de Apelação ,de São Paulo, 21 de
novembro de 1939, A. 1., 53, 295), ou heredit4ria. Aliter, se não se rata de executivo
fiscal (Supremo Tribunal Federal, 27 de abril de 1923, R. do S. T. F., 54, 437, e 6 de
junho de 1938, 35, 96).
a divida ativa do Estado (Supremo Tribunal Federal, 31 de julho de 1918), se admitido
o processo executivo fiscal.
Se há concurso de credores ou inventário e a Fazenda Pública não pede ou não obtém
que se satisfaça o seu crédito, isso não a dispensa do executivo fiscal, se é o caso
(Supremo Tribunal Federal, 17 de agosto de 1939, A. J., 13, 325), ou de propor a ação
que lhe toque.
Os créditos da Fazenda Pública são à frente de quaisquer outros, salvo aqueles de que
cogita o art. 1.569, I-V, do Código Civil, cujo ad. 1.569, VI, foi derrogado pelo ad. 60,
parágrafo único, do Decreto-lei n. 960. “Impostos”, no ad. 1.569. VI, são tributos, isto
é, impostos, taxas, contribuições e multas por infração de lei tributária.
Os direitos reais de garantia recaem sobre o valor extraível do bem. O valor extraível
é o valor do bem menos as dividas fiscais relativas ao bem. As dívidas ativas da
Fazenda Pública oriundas de contrato com pacto executivo têm a classificação pela
preferência que o crédito emanado tenha. A hipoteca não é óbice à execução fiscal,
nem o é o penhor, nem a anticrese.
Quanto aos outros direitos reais, eles retiram elementos ao domínio, sem os retirarem
ao seu valor extraível. Ou o imposto grava o domínio, ou não no grava; ou grava o
usufruto, a enfiteuse, a habitação, ou o uso, ou não no grava. O enfiteuta nada tem com
as dívidas do senhorio; nem o senhorio, com as do enfiteuta; nem o usufrutuário, ou
CAPITULO VIII

usuário, ou o habitador, com as do proprietário, nem vice-versa.


Ainda a respeito das dividas ativas da Fazenda Pública, cumpre observar-se que os
créditos da Fazenda Pública contra o dono atual do bem gravado de direito real de
garantia, se não provêm de impostos, taxas e contribuições que recaiam no bem (ditos
tributos reais), não vêm antes do quanto da hipoteca, penhor ou anticrese, que se
constituiu <Supremo Tribunal Federal, 13 de dezembro de 1938, A. .1., 52, 160). O
que passa à frente do direito de hipoteca, penhor ou anticrese, é o crédito de tributos
concernentes ao bem gravado (Supremo Tribunal Federal, 28 de maio e 17 de
dezembro de 1940, A. J., 64, 14, e 58, 238), ou se anterior à constituição do direito real
de II, 165, 12 de maio de 1942, A. J., 64, 185; 8 de julho de 1942, 3 de setembro de
1942, 1., 12, 44 e 14, 218; 5 de maia de 145, 3., 1, 5).
Aliás, nem todos os créditos do Estado União, Estados membros, Distrito Federal,
Territórios e Municípios podem r atendidos contra o direito real de garantia
posteriormente instituído. É preciso que tal crédito tenha, segundo o direito publico,
ou segundo o direito privado, conforme o caso, eficácia ga oinnes.
É errada a jurisprudência que entende, como fez o último órdão citado, que as multas
fiscais por falta de pagamento impostos que recaem no bem não vêm antes do quanto
da rida hipotecária.
O que mais importa é que se distingam: dividas fiscais que caem, objetivamente, sobre
o bem todo e, pois, o direito real fitado também é atingido, como o seria se tratasse de
desapropriação; dívidas fiscais que somente concernem ao domínio e, por conseguinte,
não alcançam o direito tI limitado; dividas que só dizem respeito ao titular, no
>mento, do domínio ou do direito real limitado, portanto, todas que não recaem
objetivamente no bem.
O Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho),
art. 606, § 2.0, estendeu ao imposto sindical a prelação que têm os créditos da Fazenda
Pública anta a impostos e outros títulos: “Para os fins da cobrança inicial do imposto
sindical, são extensivos às entidades sadia, com exceção do faro especial, os
privilégios da Fazenda publica para a cobrança da divida ativa”.
No art. 102, § 3Y, II, do Decreto-lei n. 7.661 diz-se que 2 privilégio geral “os créditos
dos Institutos ou Caixas de aposentadoria e Pensões, pelas contribuições que o falido
deve”. o se trata de extensão da regra jurídica do art. 124, § 1,õ, V, Decreto-lei n. 7.661
aos créditos dos Institutos ou Caixas, de aposentadoria e Pensões, mas sim de
atribuição de privilégio aí. Isso, se nascidos até a data da decretação da falência. A
propósito temos de lembrar que as contribuições doa pregados que foram recebidas
pelo falido, conforme desconto salários pagos, não são devidas, nem pelo falido nem
pelos (18p051 tino. Tais contribuiç6es já pertencem ao instituto ou caixa de
aposentadorias e pensões , que pode pedir a restituição (Decreto-lei n. 7.661, arta. 76-
78). As contribuições dos empregadores e as dos empregados que ainda não receberam
os salários, essas, sim, são devidas, e o instituto ou caixa de aposentadoria e pensões
tem de pedir o pagamento.
Em suma: a relação jurídica, quanto às contribuições dos empregadores e às
contribuições dos empregados não pagas, é relação jurídica pessoal (dita obrigacional)
; a relação jurídica em que é sujeito ativo o instituto ou a caixa de aposentadorias e
pensões , no tocante às contribuições dos empregados já pagas, é relação jurídica real.
(b)Após a decretação da falência, os impostos e outros tributos que incidirem são
encargos da massa concursal, regidos pelo art. 124, § 1.~, IV, do Decreto-lei n. 7.661.
Os créditos por impostos e outros tributos devidos antes da abertura da falência não
sofrem a dedução de despesas para a apuração do saldo líquido, ou para arrecadação,
conservação, guarda e venda dos bens. Os créditos por impostos ou outros tributos
devidos no de curso da falência, esses, sim, sofrem’ a dedução dos créditos
mencionados no art. 124, § 1.0, 1, II, III (exceto quanto à distribuição do produto e
comissão do síndico, porque essa é pelas serviços totais) e IV. VI.As indenizações por
acidente do trabalho que, no raso de continuação de negócio do falido, se tenha
verificado nesse período, isto é, no período da falência. Os créditos por acidentes do
CAPITULO VIII

trabalho ocorridos antes da decretação de abertura da falência são tratados como os


créditos fiscais da Fazenda Pública, nascidos antes da decretação da falência (Decreto.
-lei n. 7.661, art. 102, § 1.0). Os créditos por acidentes do trabalho ocorridos após a
decretação da falência têm-se no mesmo plano dos créditos fiscais irradiados após a
decretacao da falência (art. 124, § lA’, V). O Decreta-lei n. 7.086, de 10 de novembro
de 1944, no art. 8.0, diz que se considera empregada toda pessoa física que presta
serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência desse e mediante
salário; e no mml. 8.0, parágrafo único, explicitou que se não distinguem importância
(“consideração ”).
Se a indenização que a massa falida tem de pagar não entra na espécie de que trata a
lei de acidentes do trabalho, rege-se pelo direito civil e entra no concurso de credores,
sem invocabilidade do art. 102, § 3.~, XI, ou do art. 124, § 1.0. VI, do Decreto-lei n.
7.661.

2.PRESSUPOSTO DA EXIGIBILIDADE DO TRIBUTO DURANTE Á FALÊNCIA .


No Código Civil, art. 1.569, VI, tinha-se por munido dê privilégio geral “o crédito por
impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior”. Mas tal regra
jurídica foi atingida pelo art. 60 do Decreto-lei n. 960, de 17 de dezembro de 1938,
que diz não estar sujeita a concurso de credores, nem a habilitação de crédito em
falência, concordata, ou inventário, a divida pública, que a Fazenda Pública quer
cobrar. No art. 60, parágrafo único, do Decreto-lei n. 960 previ-se o concurso entre
entidades estatais credoras <União, Estados-membros, Municipais, Distrito Federal e
Territórios). A Lei de Falências (Decreto-lei n. 7.661, art. 124, 1P, V), que~ posterior
aO Decreto-lei n. 960, faz encargos ria massa «os impostos e contribuições públicas a
cargo da mama o exigíveis durante a falência”
Não se faz qualquer distinção entre tributos diretos e tributos indiretos, isto é, entre
tributos em que há referencia implícita ou explicito à pessoa, ao patrimônio , ou à
renda, aqueles em que é pressuposto determinado fato, ato-fato ou ato, a que se liga o
dever tributário, sem que seja de mister iludir-se ao devedor ou ao seu patrimônio (cf.
A. D. GiÃNNINI, La Clanificazione deile Imposte nel diritto tributario, Studi ledicati
alia memoria di Pia PAriu> ZÂNZUCCEI, 346; II Raporto gturidico d’imposta, 184;
Jatituzioni di Diritto tributa-ia, 122; Maio PUCLIESE, Istituzioni di Diritto
finanzia,io, 16). )e regra, os impostos diretos do pagos no ato. ou na ocasião em que se
têm de satisfazer, como o de consumo e o de estampilha.
A lei fala de impostas e contribuições “exigíveis durante falência”. Entenda-se:
impostos cuja exigibilidade começou quando a decreta 8o da falência. Os tributos
anteriores à mimia, isto e, exigíveis antes de ser aberta a falência, estio fora [o
concurso de credores, pois, quanto a Cama, continuou intacta
a regra jurídica ao art. tn> <lo Decreto-lei n. 960. O limite temporal, que o art. 124, §
1?, V, do Decreto lei n. 7.661 estabelece, é dado pelo início da exigibilidade. Assim, o
tributo que se refere ao último ano já se regula pelo art. 124, § 19, V:
é encargo da massa. Não é, portanto, o momento da incidência da Lei Tributaria, da
produção do imposto, que importa para se tratar, ou não, de encargo da massa; mas
sim a data, fixada por lei, para a exigibilidade. Não importa se a entidade tributadora
iniciou execução imediatamente, ou não, à exigibilidade. Não é o fato da exigência
que se tem por pressuposto, e sim o ser exigível o tributo. Se a exigibilidade se iniciou
em janeiro e a abertura da falência foi em fevereiro, o imposto ou outro tributo não é
encargo da massa: rege-se pelo art. 60 do Decreto-lei n. 960. Se foi suspensa a
exigibilidade porque houve recurso, ou reclamação, não se leva em conta,
evidentemente, tal ocorrência .
No crédito de que cogita o art. 124, § 1.~, V, do Decreto-lei n. 7.661 incluem-se as
despesas e custas de execução. Não, porém, multas e indenidade de mora (cf. Decreto-
lei n. 7.661, art. 124, § 1.0, 1).

DIVIDAS DA MASSA
CAPITULO VIII

§ 3.485. Encargos da massa e dividas da massa

1.DICOTOMIA INICIAL. A distinção entre encargos da massa e dividas da massa é


para se prever a solução em caso de insuficiência da massa, casa em que primeiro se
atendem os encargos da massa. Observe-se, porém, que já foram pré excluídos dela os
valores das impostos e outros tributos <Decreto-lei n. 960, de 17 de dezembro de
1988, art. 60; Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943, art. 606, § 2.0), de modo
que ativo é o que se não destina a esses adimplementos. São créditos, mas a lei os fez
quase à semelhança dos direitos reais.

2.DEDUÇÃO DIRETA. As dividas da massa falida deduzem-se do ativo, sem se


atender ao passado, porque ela, e não o falido, é a devedora, se podemos cindir a
subjetividade, com a linha que separa o tempo anterior e o tempo posterior à falência.
As próprias custas que o credor pagou, por ter pedido a decretação de abertura da
falência, são despesas que resultam da sentença da decretação e seu transito em
julgado, porque foram feitas para a sua obtenção.

§ 3.436. Análise das dívidas da massa

1.ESPÉCIES DE DIVIDAS DA MASSA. O art. 124, § 29, diz quais são as dividas da
massa:
1.As custas pagas pelo credor que requereu a falência. A execução falencial é
subjetivamente universal, de moda que as despesas têm de ser suportadas por todos os
credores, desde que não se trate de encargos da massa (art. 124, § 1.0). Escusado é
advertir-se que o titular da pretensão à restituições do que poderia ser reivindicado ou
vindicado, não se inclui entre credores concursais, nem está sujeito aos próprios
encargos da, massa: o que se pede não faz parte da massa.
No art. 124, § 2.0. 1, do Decreto-lei n. 7.661 fala-se de “custas pagas pelo credor que
requereu a falência”; no art. 124, § 1.0, 1, de “custas judiciais do processo da falência,
dos seus incidentes e das ações em que a massa for vencida”. As custas pagas pelo
credor que pediu a decretação da abertura da falência são custas do processo falencial,
até que se decrete a abertura da falência.
Nas custas de que fala o art. 124, § 2.0, 1, inserem-se as do advogado do credor que
pediu a decretação da falência; pois o art. 208, § 2.0, sofre a exceçao que se contém no
art. 124, § 2Y, 1. Custas de advogados dos credores, no art. 208, § 2.0, são as custas
para a admissão ao concurso de credores, ou para a disputa e a distribuição, com os
seus incidentes e recursos, e não as custas para se admitir o concurso de credores. esse
princípio tanto é de direito falencial (cf. Decreto-lei n. 7.661, art. 23, parágrafo único,
XI) como de direito civil. As custas e despe.. asa judiciais em litígio dos credores com
a massa são cobráveis, pois que as prevê o art. 124, § 1.0, 1 (verbis “em que a mas-as
for vencida”).
Dissemos que as custas de que cogita o art. 124, § 2.õ, 1, são as que o credor fez para
obter a decretação da abertura da falência. Portanto, as custas de primeira instância e
as custas de superior instância, inclusive as que se fizeram por ocasião de processo e
julgamento de recurso extraordinário. Há, porém, o problema das despesas com a ação
rescisória da sentença que denegou a abertura da falência. Se o credor vence,. as custas
têm de ser pagas pela massa falencial, porém como divida da massa. Também se
carrega como divida da massa o que o credor pagara como custas no processo em que
se proferiu a sentença rescindida.
II.As obrigações restantes de atos jurídico,admitidos praticados pelo sindico. As
dividas oriundas de negócios jurídicos eficazes praticados pelo síndico são dividas da
massa. Se nulos, são ineficazes e, pois, deles não se irradiam dividas. Se anuláveis,
tratam-se como dívidas da massa as que deles se irradiaram enquanto não transita em
julgado a decisão desconstitutiva.
CAPITULO VIII

Se o síndico, em negócios jurídicos, ilegalmente manifesta vontade pela massa, regem,


analogicamente, os arts. 1.305-1.307 do Código Civil e os arts. 150 e 163 do Código
Comercial.
(Os arts. 1.305-1.307 do Código Civil referem-se ao mandatário que não exibe ao
terceiro, com quem trata, o instrumento do mandato, e ao terceiro que figura em
negócio jurídico em que o mandatário excede os poderes que tem. O síndico não
representa o falido. O síndico é órgão da execução celetiva. Mas os arts. 1.305-1.307
correspondem a princípio geral concernente a negócios jurídicos por parte de quem
neles figura com poderes outorgados, ainda quando a lei os atribui. Diga-se o mesmo
a propósito dos arts. 150 e 168 do Código Comercial.)
No art: 43 do Decreto-lei n. 7.661 diz-se que os contratos bilaterais não se resolvem
pela falência e podem ser executados pelo síndico, se esse achar conveniente para a
massa (cp. ad. 201). O contraente pode interpelar o síndico para que declare se
cumpre, ou não, o contrato. Se declara não cumprir, ou se isso resulta de sua
manifestação de vontade pelo silêncio, há as perdas e danos, que se computam como
crédito quirografário (Decreto-lei n. 7.661, art. 43, parágrafo único). Se o síndico,
espontaneamente, ou interpelado, afasta o não-adimplemento, abstém-se de resolver o
contrato; então, a espécie se subsume no art. 124, § 2Y, II.
Há duas espécies que merecem a maior atenção. a) Se o segurado faliu, estando em
atraso nos prêmios, pode a massa solver as dívidas (Código Civil, ad. 1.451). Se não as
solve e sobrevém o sinistro, está exonerado de responsabilidade o segurador. Como o
adimplemento das dividas atrasadas do segurado, de modo nenhum se há de considerar
de dívida da massa, no sentido do ad. 124, § 2.~, II, o dos prêmios vencidos após
aquele adimplemento. b) Se o segurador faliu, antes de se dar o risco, rege o art. 1.465
do Código Civil.
Em conseqüência, dívidas de prêmios de seguros não são dívidas da massa. A falta de
pagamento acarreta prejuízo para a massa falencial, porque no tempo em que se
deixou de pagar pode ocorrer o sinistro. Não há razão para se distinguirem das outras
dividas.
O falido pode requerer a continuação do seu negócio, ouvindo o síndico e o órgão do
Ministério Público sobre a conveniência do pedido; se o juiz defere, nomeia gerente,
proposto pelo síndico, O gerente fica sob a imediata fiscalização do síndico (Decreto-
lei n. 7.661, art. 74 e §§ 1.0..7.o). As dividas que se irradiarem dos negócios jurídicos
em continuação da empresa são dividas da massa, no sentido do art. 124, § 2.0, II.
A continuação do negócio do falido de certo modo “organiza” a prática de atos
jurídicos válidos. O art. 124, § 2.0, II, somente se referiu à prática de atos jurídicos
válidos por parte do síndico, mas havemos de entender que a regra jurídica do art. 124,
§ 2.0, II, também compreende a prática de atos válidos por parte do gerente, que fica
sob a imediata fiscalização do síndico (art. 74, § 2.0>.
III.Ás obrigações pertinentes de enriquecimento injustificado dito “indevido” da
massa. (a) A lei trata diferentemente as dividas oriundas. de fatos ilícitos stricto seneu,
de atos fatos ilícitos e de atos ilícitos, e as dividas de que ficou enriquecimento
injustificado. É o que se estatui, claramente, nos arte. 23, parágrafo único, III, 23 e
124, § 2.0, III, do Decreto-lei n. 7.661. As penas pecuniárias por infração das leis
penais e administrativas não podem, sequer, ser reclamadas na falência (art. 23,
parágrafo único, III), pelo principio de que a pena não passa da pessoa do delinquente
(principio da incontagiabilidade da pena), porquanto os credores é que seriam mais
atingidos (cf. nossos Comentários a Constituição de 1946, IV, nota ao art. 141, § 30).
A fonte está no § 63, inciso 3, da Ordenação Concursal alemã (10 de fevereiro de
1877). As obrigações oriundas de atos ilícitos, atos-fatos ilícitos e fatos etricto sentis
ilícitos entram em concurso, sem terem privilégio. Se de qualquer fato licito ou ilícito
resultou enriquecimento injustificado (Tratado, Tomos XXVI, §§ 3.118, 8, 3.132-
3.149, e 3.173, 2; II, §§ 203, 4, e 243; VI. § 671, 2; 1, §§ 1.119, 1, 1.120, 6, e 1.128, 1;
XXII, §§ 2.738, 19, 2.757, 3, 2.766; XXIV, § 2.888, 11; XXV, §§ 3.005, 3.010, O,
3.024,2,3; 3.074, 1,3.080, 1), então a dividas da massa.
CAPITULO VIII

(b) Surgem, porém, a) o problema do privilégio, se antes da falência se inscreveu


hipoteca legal (Código Civil, art. 827, VII), a favor da Fazenda Pública, federal,
estadual, distrital ou municipal, sobre os bens imóveis do delinqüente, para o
cumprimento das penas que o Decreto-lei n. 7.661, art. 23, parágrafo único, III, fez
irreclamáveis na falência, e 1>) o problema da hipoteca legal (Código Civil, art. 827,
1-VI e VIII), inscrita antes da falência, a favor de credores não privilegiados. Os dois
problemas são diferentes: no primeiro, que se refere ao art. 827, VII, do Código Civil,
quer-se saber se a inscrição da hipoteca legal faz reclamável o crédito que o Decreto-
lei n. 7.661 reputou irreclamável; no segundo, comum aos incisos 1-VI e VIII do art.
827, o que se inquire é se o imprivilegiado se faz garantido, ou, melhor, tratado como
tendo direito real de garantia (cp. Decreto-lei n. 7.661, art. 125>. Havemos de se~
pará-los, na aposição.
a) Pré-excluiu-se o crédito de penas pecuniárias, oriundas do direito penal e do direito
administrativo (não as do direito privado, como as penas contratuais, quaisquer, nem
as custas dos processos penais e administrativos; nem as perdas e danos por eficácia de
sentença penal, nem as penas de perda de certo bem, cf. A. B6HLU-
STÂMSCHRZDER, Kontcursordnung, 2.~ ed., 163). Se o problema fosse levantado
em sistemas jurídicos em que a hipoteca seja concebida como estritamente necessária,
que é o caso do direito francês, ou se a hipoteca legal do art. 827, VII, fosse a
Sickerungshypothek do direito alemão, a resposta seria facílima: o acessório segue a
sorte do principal. Se o problema fosse posto em sistema em que se não adotasse,
sequer, a solução da funçcto acessória, sem acessoriedade da hipoteca (cf. Tomo XX, §
2.419), não se poderia tratar a hipoteca como direito real, que é. Assim, no direito
brasileiro, o que se há de entender para se respeitarem os princípios é que foi pré
excluído o crédito, mas a inscrição da hipoteca legal lhe deu eficácia real, mais,
portanto, do que a simples eficácia erga omites, e os credores têm de suportar a
eficácia da hipoteca, que provém da inscrição. Há, ainda, a favor, o argumento de que
a lei (Código Civil, art. 823) tornou ineficazes, em beneficio da massa, as hipotecas
celebradas nos quarenta dias precedentes da decretação da falência ou constituto
52, III). Cf. Tomo XX, §§ 2.465, 2.558 e 2.501, 1. A razão acessoriedade da hipoteca,
que TRAJANO DE MIRANDA VÂLVERDE (Comentários à Lei de Falências, 1, 164
s.) invocou, a pré-exclusão da hipoteca legal em garantia das penas primárias, não
pode convencer, porque tal francesia de conão da hipoteca não se importou no direito
brasileiro.
A massa falencial tem, mesmo contra a Fazenda Pública, meios e fundamentos que
teria em se tratando de qualquer ro credor com garantia de direito real.
A inexistência, a nulidade, a anulabilidade e a ineficácia hipoteca legal são alegáveis;
podem, inclusive, ser propostas contra os titulares do direito de hipoteca legal as ações
dos ;. 52, 53 e 99 do Decreto-lei n. 7.661.
Em todas essas questões muito importa que se considerem, só separadamente, mas sim
também distintamente, o direito pessoal, que se garante, e o direito real, com que se
garante. momento em que se garante com direito real algum crédito imo se fosse
assumido, naquele instante. Isso não quer dizer o crédito garantido fique, por isso,
incólume a ataques que em concernentes à existência, à validade e à eficácia. rt. 23,
parágrafo único, III, do Decreto-lei n. 7.661, certamente se refere à. eficácia (= o
crédito existe e é eficaz, exceto a ser reclamado no concurso de credores falencial),
porém contribuição da hipoteca legal tem a eficácia que lhe falta, uma que opera como
se o falido houvesse satisfeito o credor.
b) Quanto às hipotecas legais do art. 827, 1-VI e VIII, Código Civil, o que se discute é
se a inscrição da hipoteca desloca a posição do crédito, que, sem ela, não estaria
situação prevista no art. 125 do Decreto-lei n. 7.661. Tem-se responder
afirmativamente.
A inscrição da hipoteca legal é geradora de direito real garantia, como qualquer outra.
Não cola privilégio ao crê; apenas tem o efeito que lhe é peculiar: o de garantia real.
as, as garantias reais são tão distintas dos privilégios, que ~édito pode não ter
CAPITULO VIII

privilégio e a garantia real o põe à frente todos os outros créditos concorrentes, ou ter
privilégio esperou geral, que Me, com o plus da garantia, não perde, embora ha de ser
aplicado o art. 125 do Decreto-lei n. 7.661. importa o que se tem escrito, sem
conhecimento do assunto, em tantos livros. Se houve obtenção de algo, com que se
aumentou o patrimônio do falido, se foi a expensas de outrem a obtenção e se houve a
imediatamentalidade entre a obtenção e a retirada, caracterizado está o enriquecimento
injustificado, e para se aplicar o art. 124, § 2.0, III, não importa o que se deu entre as
duas ou mais pessoas enriquecidas e prejudicadas, uma vez que não haja justificação.

2.DIREITOS REAIS DE GARANTIA. Aos direitos reais de garantia não podem


ofender privilégios, de jeito que, segundo o art. 125 do Decreto-lei n. 7.661, somente
se descontam ao valor extraído as custas e despesas da arrecadação, administração,
venda, depósito ou comissão do síndico, relativas aos bens gravados. A importância
dos créditos é imediatamente prestada após a venda. Se o valor extraído não dá pan o
pagamento, os credores que eram titulares de direitos reais de garantia somente têm,
pelo restante, a situação dos credores quirografários, salvo se por alguma razão os
créditos garantidos eram créditos com privilégio geral ou especial.
É de grande relevância a regra jurídica do art. 125, § 4.’>, 2.8 parte: “A quantia retida”
entenda-se: a quantia guardada para ser prestada ao titular do direito real de garantia
“distribuir-seá como rateio final da liquida4ão, se o credor, intimado pelo síndico, não
declarar o seu crédito dentro de dez dias”. Os credores com direitos reais de garantia
são credores e titulares de direitos reais de garantia. Se não declaram os seus créditos,
com isso não ficam privados dos direitos que lhes d~ os gravames. Por isso mesmo, o
art. 125, § 4.’>, 1.~ parte, prevê a venda de bens gravados “a favor de credores que
ainda não tenham declarado os seus créditos”. Esses credores, por ocasião da alienação
dos bens gravados, têm de ter ciência do que se passa para exercício de direitos como
os dos arte. 821 e 822 do Código Civil (cf. Código de Processo Civil, art. 971) e dos
arta. 774, III, 785 e 802, IV, do Código Civil.
Depois da alienação e recebido o preço é que se pode pensar em guarda da quantia que
corresponde ao direito real de garantia. Então, é que o síndico pode requerer a
intimação do credor, com a cominação de, não vindo declarar o seu crédito destinada.
A cominação, aí, é de preclusão do direito à quantia.
Após isso, o credor somente poderá ir, encerrada a falência, contra o devedor, como
credor não-declarante.

CAPITULO V

PAGAMENTO DOS CREDORES DA FALÊNCIA

§ 3.437. Distinção que a lei faz

1.CREDORES DA MASSA FALIDA E CREDORES DA FALÊNCIA. Credores da


massa falida são os credores por encargos da massa ou por dividas da massa. No
conceito está implícita a alusão à massa, como patrimônio , após a falência. O ativo
falencial fica, assim, dividido em sua aptidÃo satisfativa: ativo que sofre a dedução
dos encargos da massa e das dívidas da massa; ativo que é o que resta do passivo após
essas deduções .
A ordem é a que resulta da lei:
a)Encargos da massa falida.
b)Dívidas da massa falida.
c)Créditos concorrentes ou créditos da falência.
Já falamos do que se passa a respeito dos créditos com direito real de garantia e os
encargos da massa e as dívidas da massa. O art. 125 do Decreto-lei n. 7.661 foi
expressivo, ao frisar o que é que, antes, se há de descontar.
CAPITULO VIII

2.CRÉDITOS CONCURSAIS OU CRÉDITOS DA FALÊNCIA. Aqui, há duas classes


de créditos, por bem dizer-se iniciais, no tocante à ordem dos pagamentos, que se
ligam, embora diferentemente, a determinados bens: a dos créditos com direito real de
garantia e a dos créditos’ com privilégio especial. Os bens, ali, estão gravados; aqui,
ligados por privilégio, sem gravame. Observe-se, em todo caso, que podem os créditos
com privilégio especial também ser garantidos com direito real. Donde, se perdem a
garantia real, ou se ela se esgota, persistir com o direito real.

3.SOBRAS E GARANTIA. Tanto a respeito daqueles crês como desses, se


totalmente satisfeitos, a sobra ou resto integrado no ativo escapo às ligações especiais
objetivas atingido pelos créditos com privilégio geral e pelos créditos quirografários.
Assim, ou o valor do bem gravado, ou sujeito a crédito oficialmente privilegiado,
basta para a satisfação do crédito garantido e sobra, caso em que o resto é elemento do
passivo a Satisfação dos outros credores, ou iuio basta, e o que a de divida, isto é, o
que não foi pago, vai concorrer com outros créditos.
Ganha em precisão a linguagem se não encambulhar crédito com garantia real de
garantia com créditos privilegiados, não se especial o privilégio; a fortiori, se evita
toda confuentre encargos da massa e dividas da massa com privilegio
O trato em separado dos créditos acima referidos, tal como amos na exposição, serve
ao propósito de precisão a que limos.
Tem-se, portanto, de calcular, a respeito de cada bem grão, o que foi gasto com a
arrecadação dele, a administração , a venda, o depósito do preço que alcançou e a
comissão :indico no tocante a esses atos. A comissão é percentual. Impostos e outras
despesas que o dono do bem deva são dos do valor do bem, segundo princípios que
antes expunha

1.438. Pagamentos dos créditos com direito real de garantia

1.PARTICULARIDADES. Os créditos com direito real de garantia têm a


particularidade da fluência dos juros até que dê o pagamento (Decreto-lei n. 7.661, art.
26: “Contra massa não correm juros, ainda que estipulados forem, se o ‘o apurado não
bastar para o pagamento do principal”parágrafo único: “Excetuam-se desta disposição
os juros das debêntures e dos créditos com garantia real, mas por eles reside,
exclusivamente, o produto doe bens que constituem desde logo, os créditos com
garantia real, inclusive os créditos incorporados em debêntures, em letras hipotecárias
(Tomo XX, § 2.501, 2 e 4), os créditos com cauções de títulos d. crédito (Tomo XX, §
2.590), as cédulas rurais pignoratícias, hipotecárias e mistas (Tomo XXI, §§ 2.595-
2.660, 2.633-2.058> e os warranta (Tomo XXI, §5 2.669 e 2.660). Com a solução,
cessam os juros, e do produto dos bens gravados pode restar mais.
Do produto da venda, a lei somente permite que se retire o que dê para as custas e
despesas da arrecadação, administração, venda, depósito ou comissão do síndico,
“relativas aos mesmos bens” (Decreto-lei n. 7.661, art. 125>.
No art. 1.560, o Código Civil enuncia: “O crédito real prefere ao pessoal de qualquer
espécie, salvo a exceção estabelecida no parágrafo único do art. 759; o crédito pessoal
privilegiado, ao simples, e o privilégio especial, ao geral”. A exceção que existe no
art. 759, parágrafo único, e limitada à colheita, o que lhe diminui, de muito, a
significação. No art. 759, parágrafo único, diz o Código Civil, que “a divida
proveniente de salários do trabalhador agrícola, que será paga, precipuamente a
quaisquer outros créditos, pelo produto da colheita para a qual houver concorrido com
o seu trabalho”. Com incidência mais larga, objetivamente, é o privilégio das dividas
por acidente do trabalho (Decreto-lei n. 7.036, de 10 de novembro de 1944, art. 97,
parágrafo único) e das importâncias relativas a férias a que tenha direito o empregado
(Decreto-lei n. 5.452, de 1Y de maio de 1943, art. 144), mas o assunto já foi tratado.
Cf. Decreto-lei n. 7.661, art. 102, 5 1.’>.
A cláusula de poder o credor vender o bem empenhado de modo nenhum obsta a que
CAPITULO VIII

se respeitem os pagamentos acima mencionados.


Quanto ao Decreto-lei n. 1.003, de 29 de dezembro de 1938, art. 1.0, que também não
tem sido bem entendido, veja-se o que escrevemos no Tomo XXI, 5 2.652, 1.
A propósito do art. 783 do Código Civil tem-se dito que o art. 4,0 da Lei n. 492, de 30
de agosto de 1937, o revogou, ou o derrogou (e. g., TRÂJÂNO DE MIRANDA
VALVERDE, Comentários a Lei de Falências, II, 178). A crítica a tal interpretação já
a fizemos no Tomo XXI, 5 2.592, 2. A expressão idade”, que aparece no ad. 783 ~o
Código Civil, foi responsável por essa confusão.
No Decreto-lei n. 4.191, de 18 de março de 1942, ad. IY, regra jurídica que foi
comentada e esclarecida no Tomo XXI, .603, 1.
Sobre o penhor rural e o art. 4•O, § 1.~, da Lei n. 492, de ~e agosto de 1937, veja-se o
Tomo XXI, §§ 2.695, 2 e 11, ~S, 2 e 5, e 2.651, 1.
Sobre o penhor industrial (Decreto-lei n. 1.271, de 16 de o de 1939, art. 5.o), Tomo
XXI, § 2.608, 2.

2.PRECLUSÃO FALENCIAL DA PRETENSÃO CORRESPONDENTE DIREITO


REAL DE GARANTIA. Lê-se no art. 125, § 4Y, do Decreto-lei n. 7.661: “o produto
da venda 408 bens que condizem objeto de hipoteca ou de penhor industrial, agrícola
ou agrário. a favor de credores que ainda não tenham declarado seus créditos, será
retido pela massa ato regular habilitandor do crédito. A quantia retida distribuir-se á
como rateio LI da liquidação, se o credor, intimado pelo sindico, não arar o seu
crédito dentro de dez ‘dias”. A preclusão só diz direito à pretensão a receber na
falência, mas o direito real julgue-se com a perda da propriedade do bem pela massa.
tbseqiiento incidência do ad. 125, § 4•Q•
O art. 125, § 4?, apanha quaisquer créditos com direito de garantia sobre bens que
foram vendidos pelo leiloeiro, pelo juiz, ou pelo corretor, mesmo quando a posse
imediata tivesse, antes, com o credor, ou com o devedor. As cédulas pignoratícias,
hipotecárias e mistas estão sujeitas ao ad. 125, O (cf. Tomo XXI, § 2.635>, porém a
“intimacao” submete ser edital , salvo se sabe quem é o possuidor. Tratando-se de
títulos ao portador> em que se incorpore direito real de sutis, a “intimação” .tem de
ser feita, sempre, por edital g.’ se a espécie é letra hipotecária).
É sempre difícil saber-se quem, no momento, é o endosso do título, de modo que a
intimação pessoal é rara. Além de, perigosa, porque não é prudente confiar-se ria
prova de no momento, o intimado era o endossatário.
O art. 125, § 4?, supõe: a.) que o credor com direito real garantia não se haja habilitado
rio prazo marcado na decisão que decretou a abertura da falência (Decreto~lei n.
1.661, art. 80); b) que se haja intimação junto ao credor titular do direito real de
garantia; o) que o prazo do decêndio haja transcorrido.
Entre os dois momentos a) e b) necessariamente se tomaram as providências para a
alienação do bem gravado. Como é sabido, tal alienação está sujeita a procedimentos
excencias, o que não pode dispensar ciência do titular do direito real de garantia. Em
verdade, há momento intercalar, em que outros pressupostoS têm de ser satisfeitos.
Se o credor não atende à chamada intimação procede-se ao rateio final, sem que no
intervalo possa ele reclamar o seu direito real que se atingiu. O créditos Case, persiste,
e o credor pode, retardatário que é (Decreto-lei n. 7.661, art. 98). declarar o seu
crédito, como quirografário. A intimação contêm, conforme já dissemos, condenação ,
de onde poder resultar preclusão da pretensão a ser pago pelo ativo falencial. A
possibilidade de proposição da ação de credor retardatário é exclucao por teu’ dizer
momento Todavia, deixando de declarar o crédito no prflo que se lhe dá, pode o credor
com direito real de garantia propor a ação de credor retardatário (Decreto-lei x~.
7.661, ad. 98) e pedir a reserva de quota, como credor quirografário a fim de concorrer
ao rateio final. Tudo se há dê fazer a. tempo de se obstar ao rateio final sem a reserva.
O ad. 125, § 4.Õ~ do Decreto..leI ~ 7.661 contém, claramente, regra jurídic8 de
preclusão do direito real de garantia:
CAPITULO VIII

a intimação para a habilitado dentro do decêndio é com a cominação implícita de não


mais se respeitar o direito real de garantia se o intimado não atende à intimação.O
credito não preclui. Nem preclui qualquer privilégio que o crédito acaso tenha.
É preciso que se não confunda essa intimação, que, verdadeiramente, é comitante com
a notificação que se há de fazer para que se vendam os bens gravados de direito real e
exerçam os credores-OS direitos a que se referem os arta. 821 e 822 do Código Civil
(cf. Decreto-lei ~x. 7.661, ad. 119).

§ 3-439. pagamento dos credores com privilegio especial

1.PRIVILEGIO ESPECIAL E DESCONTO PRÓPRIO DO BEM. Extraído o


valor do bem sobre o qual tem o credor privilégio especial, descontam~~ antes, as
custas e despesas da arrecadação, administração, venda, depósito ou comissão do
síndico, relativas aos mesmos bens (Decreto-lei n. 7.661, ad. 125).
Em relação aos bens gravados de direito real de garantia, note-se que não há a
exigência da notificação do credor que é titular de direito real de garantia, como se
estatui nos arta. 119 e 120, §§ 2.0 e 39, do Decreto-lei n. 7.661. O credor cujo crédito é
privilegiado, especial ou geralmente, tem de declarar o seu crédito, no prazo que a
sentença de decretação de abertura da falência marcou, ou de propor a ação do art. 98
(ação de credor retardatário). Os titulares de direito real de garantia. não estão sujeitos
a isso; mas sim à eventual intimação de que fala o art. 125, § 49.

2.PAGAMENTO INTEGRAL E PRODUTO INSUFICIENTE PARA


PAGAMENTO. Se o produto deu para o integral pagamento e algo sobrou, a sobra
fica sujeita aos outros privilégios gerais e serve ao pagamento dos credores
quirografários. Se não basta para a satisfação do credor com privilégio especial, o
privilégio extingue-se, porque, sendo especial, dependia do bem, ou do seu produto.
Pelo que não foi solvido, o credor é credor quirografário.

§ 3.440. Pagamento dos créditos com privilégio geral

1.INICIO DA ATENÇÃO AO PRIVILÉGIO GERAL. Somente após a satisfação dos


encargos da massa falida, das dividas da massa, dos créditos com direito real de
garantia e dos créditos com privilégio especial, é que se pode pensar em se solverem
as dívidas a quem tem crédito com privilégio geral. Quanto ao produto do imóvel
gravado com direito real de renda, já se há de ter entregue, atraído do produto, o
capital de que fala o art. 752 do Código Civil. Se o produto não deu para se destinar ao
titular do direito real de renda esse capital, extinguiu-se de qualquer maneira o direito
real de renda, e pelo que faltou não é credor o titular do direito real de renda. A
diferença entre o direito real de renda e os direitos reais de garantia ai ressalta, com
toda a exatidão.
Antes de iniciar o pagamento dos credores com privilégio geral, tem o síndico de
verificar se há pedidos de restituição, pois se há não é possível pensar-se em já se
saber qual o “dinheiro em caixa”. A expressão “dinheiro em caixa” está, no art. 126 do
Decreto-lei n. 7.661, no sentido de dinheiro que nada tem com as pretensões dos que
reclamem restituição e das pretensões dos titulares de direito real de garantia, ou de
renda, e com as pretensões dos credores com privilégio especial. Lê-se no ad. 126: “Os
credores com privilégio geral serão pagos logo que haja dinheiro em caixa”.

2.SE HÁ ORDEM ENTRE CRÉDITOS COM PRIVILÉGIO GERAL.


Problema que se há de resolver, previamente , porque de certo modo a resposta entra
no conceito de privilégio geral, é a de se saber se a enumeração do art. 1.569 do
Código Civil é indicativa de ordem e, pois, a enumeração do art. 102, § 3?, do
Decreto-lei n. 7.661. Um dos primeiros argumentos a favor de inteira assimilação das
regras jurídicas do ad. 102, o s~, do Decreto-lei n. 7.661 às regras jurídicas do ad.
CAPITULO VIII

1.569 do Código Civil está em que o art. 102, § 39, da Lei de Falências remete ao art.
1.569 e não se faz remissão em parte sem que se diga qual o elemento ou quais os
elementos conceptuais da regra jurídica a que se remete e são pré excluídos pela
remissão. Outro argumento é do art. 126, parágrafo único, do Decreto-
-lei n. 7.661: “Concorrendo credores privilegiados em igualdade de condições, serão
pagos em rateio, se o produto dos bens não chega para todos”. Entender-se que se trata
de referenda aos privilégios especiais, e não aos gerais, é fora dos métodos de
interpretação das leis: primeiro, porque o art. 102 só falou de privilégio geral;
segundo, os arts. 127-129 somente tratam de créditos com privilégio geral e de
créditos quirografários , e dos créditos com direito real de garantia e dos créditos com
privilégio especial cogitou o art. 125. ~ Como ler-se o art. 126, parágrafo único, como
relativo aos privilégios especiais, se o art. 126 está a falar de “privilégio geral”?
Terceiro argumento é o de que seria chocante que, em caso de insolvincio cMl, se
observasse a ordem segundo o art. 1.569 do Código Civil, e nenhuma ordem existisse,
se falido o devedor. Tanto mais quanto a alguns credores não aproveitaria receber vro
rata, nem se conseguiria quem emprestasse dinheiro para despesas urgentes como as
do art. 1.569, 1, II, III, IV, V e VII, do Código Civil ou as do Decreto-lei n. 7.661, do
art. 102, 1 39, II e III.
A ordem dos créditos com privilégio é conforme grau de intensidade que a lei atribui a
cada uma das espécies de créditos privilegiados. A ordem entre créditos com privilégio
geral é depois de se colocarem, na ordem entre créditos, os créditos com privilégio
especial. A ordem entre créditos com privilégio especial é depois de se colocarem, na
ordem dos créditos, os créditos com direito real de garantia.
Argumente-se ainda que do rateio em caso de créditos com privilégio especial se
cogitou no art. 1.562 do Código Civil.
No art. 126 do Decreto-lei n. 7.661 só se fala de privilégio geral. “Os credores com
privilégio geral serão pagos logo que haja dinheiro em caixa”. A regra jurídica do art.
1.562 do Código Civil é direito comum.
O rateio, segundo o art. 1.562 do Código Civil, faz-se se o crédito é especialmente
privilegiado e se o titulo para o privilégio especial é o mesmo. Se os créditos são por
custas judiciais, por exemplo, embora diferentes (e. g., custas de arrecadação e custas
de liquidação), há o rateio. Não há rateio se o título não é “igual”. A ordem, então, é
que decide.
Tem-se de interpretar o art. 126, parágrafo único, do Decreto-lei n. 7.661 como regra
jurídica sub posta ao art. 126, que apenas se refere ao pagamento dos créditos com
privilégio geral. Quando TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE (Comentários à Lei
de Falências, II, 179) diz que “o pagamento dos credores com privilégio geral” se faz
“indiferentemente, já que todos eles estão em igualdade de condições”, supõe regra
jurídica que dissesse que, no direito civil e no direito comercial, não há graduação
entre créditos privilegiados, e desatende a todos os argumentos que acima foram
expostos. Acrescentou que só há uma exceção a essa regra jurídica (que não existe): a
das debêntures. Ora, as debêntures não são sempre títulos de crédito privilegiado;
podem ser títulos de crédito com direito real de garantia. Leu o autor dos Comentários
a expressão “igualdade de condições” como se estivesse em lugar de em igualdade de
“condição” sobre os mesmos bens.
Se não há diferença de ordem entre os credores, pagam-se por meio de rateio os
créditos (2.~ Câmara Cível da Corte de Apelação do Distrito Federal, 9 de maio de
1916, R. dos T., IV, 156; Tribunal de Justiça de São Paulo, 8 de junho de 1908, São
Paulo J., 17, 208).
O crédito tem de ser classificado, para que se saiba se há, bê casu, créditos que
verdadeiramente concorram, isto é, que tenham de ser pagos no mesmo momento do
ativo.
O art. 1.560 do Código Civil foi explícito: “O crédito real prefere ao pessoal de
qualquer espécie, salvo a exceção estabelecida no art. 759; o crédito pessoal
privilegiado, ao simples, e o privilégio especial, ao geral”. Outra não foi a atitude do
CAPITULO VIII

legislador no art. 102 do Decreto-lei n. 7.661, posto que se hajam de deduzir do


produto da venda do bem gravado, ou sujeito a crédito com privilégio especial, as
custas e despesas a que se refere o art. 125.
Os créditos privilegiados que concorrem sem poder um deles excluir ao outro, ou aos
outros, é que ficam sujeitos a rateio. Tais créditos privilegiados são, necessariamente,
créditos do mesmo grau, na ordem dos créditos privilegiados. Isto é: créditos
igualmente privilegiados. De regra, esses créditos são iguais e, por isso, igualmente
privilegiados. Mas pode ocorrer que sejam igualmente privilegiados, sem serem
créditos iguais (e. g., os créditos por custas e os créditos por despesas judiciais, Código
Civil, art. 1.566, 1; o crédito por benfeitorias necessárias e o crédito por benfeitorias
úteis, art. 1.566, III; os créditos por fornecimentos de materiais e os créditos por
serviços para edificação, reconstrução ou melhoramento, art. 1.566, IV). O lugar que
ocupa a regra jurídica na enumeração dos privilégios gerais é que gradua o crédito
geralmente privilegiado. Para que tal graduação não se estabeleça, é preciso que outra
regra jurídica a pré-elimine, seja da mesma (e. g., Decreto-lei n. 7.661, art. 102, § 1.0),
seja de outra (e. g., Decreto-lei n. 960, de 17 de dezembro de 1938, art. 60 e parágrafo
único). As vOzes, o crédito somente pode ser o’posto a terceiro, se registrado; então,
dentro do mesmo grau, é de atender-se, primeiro, ao crédito que foi registrado antes do
outro.
A propósito dos créditos com privilégios especiais, que têm a mesma incidência (= que
se referem ao mesmo bem>, o credor de custas judiciais ou de despesas judiciais
(Código Civil, art. 1.566, 1) vem antes dos outros, ainda que se trate de salvado (art.
1.566, II), ou provenham de benfeitorias a fl. 1.566, III), ou de qualquer dos suportes
lácticos do ~rt. 1.566, 1V-VIl.
O art. 1.562 do Código Civil prevê que dois ou mais créditos se achem no mesmo grau
(verbis “da mesma classe”, aliás sub classe): “Quando concorrerem aos mesmos bens,
e por titulo igual, dois ou mais credores da mesma classe, especialmente privilegiados,
haverá entre eles rateio, proporcional ao valor Los respectivos créditos, se o produto
não bastar para o pagamento integral de todos”.

•3.441. Pagamento aos credores quirografários

1. DEDUÇÃO E ERRO. Prestado o que corresponde ao c apita! de que cogita o art.


752 do Código Civil e prestado tudo quanto foi de mister à satisfação dos credores
com direito real e garantia, dos credores com privilégio especial e dos credores ~m
privilégio geral, então se podem pagar os créditos quirografários (Decreto-lei n. 7.661,
art. 127: “Pagos os credores privilegiados, o síndico passará a satisfazer os credores
quirografários, distribuindo, rateio todas as vezes que o saldo em caixa bastar para um
dividendo de 5%”).
Os índico não tem qualquer poder para pagar a credores quirografários, mesmo que lhe
seja conhecida, com exatidão, situação do ativo e do passivo, antes de solvidos os
créditos m direito real de garantia e os créditos privilegiados. Os encargos da massa e
as dividas da massa obviamente também supõem satisfeitos.
Se, após os adimplementos a que a lei se refere, há dinheiro caixa, que dê para a
distribuição satisfativa de cinco por cento a cada crédito quirografário, então tem o
síndico de proceder conforme o art. 127, § 1.0, que diz: “A distribuição será
comunicada por aviso publicado no órgão oficial e, se a massa aportar, em outro jornal
de grande circulação”. Convém que no aviso se previna que, não reclamado o
pagamento nos sessenta dias após a publicação do aviso, as quantias serão depositadas,
em nome e por conta do credor, no estabelecimento designado para receber os
dinheiros da massa, É o que estatui o art. 127, § 3•0, do Decreto-lei n. 7.661: “Os
rateios não reclamados dentro de sessenta dias depois da publicação do aviso, serão
depositados, em nome e por conta do credor, no estabelecimento designado para
receber os dinheiros da massa (art. 209)”. Não há qualquer sanção de nulidade ou de
CAPITULO VIII

ineficácia para o caso de o aviso nada dizer a respeito de tal depósito. Os credores têm
de conhecer a lei.
O estabelecimento abre conta em nome do credor, se o caso é de depósito.
Pergunta-se: a por que são diferentes a regra jurídica do art. 127, § 3•O, do Decreto-
lei n. 7.661 e a regra jurídica do art. 125, § 4P, 2.~ parte? Ali, os credores são credores
declarantes, cuja omissão somente consiste em não ir ao síndico para receber o que lhe
foi destinado. Aqui, não: o credor, e: hypothesi, não declarou, com os outros credores,
o seu crédito; e intimado, com a cominação implícita ainda não declara o seu crédito.
Em nenhum momento, acudiu ao juízo falenciaL A falência não lhe Interessa, mesmo
após a alienação do bem em que havia direito real de garantia de que era titular.
O concurso de credores falencial, como todos os outros credores, .6 se entende quanto
ao patrimônio do devedor até encerrar-se a falência. As preclusões não atingem a
dívida em si mesma e apenas concerne à satisfação com o patrimônio sobre que recai
o penhoramento abstrato.

2. RESUMO E ANOTAÇÕES. Se o credor, antes dos sessenta dias de que cogita o


art. 127, 5 3Y, do Decreto-lei n. 7.661, reclama o pagamento, há de o síndico pagar-lhe
com cheque nominativo, assinado pelo síndico e rubricado pelo juiz (Decreto-lei n.
7.661, art. 209, parágrafo único).
O credor passa recibo, em forma legal.
Estabelece o art. 127, 5 2.0: “Os pagamentos serão anotados nos respectivos títulos
originais ou naqueles que houverem servido para a verificação dos créditos, e deles os
credores pasmaria recibo”. Se ocorre que a divida é solidária e há co-devedor falido ou
co-devedores falidos, o credor tem de comunicar à outra massa, ou às outras massas, o
que recebeu (Decreto-lei n. 7.661, art. 127, 5 1.0).
Todo pagamento abaixo do importe da divida entende-se por conta do total.

§ 3.442. Pagamento de credores da sociedade falida e dos credores particulares dos


sócios solidários

1. PLURALIDADE DE PATRIMÔNIOS. A insolvência e a falência supõem, em


algum patrimônio, ter o passivo excedido o ativo. Em verdade, o fato da insolvência e
o da falência são objetivos, mesmo quando a lei permite que se decrete a abertura do
concurso de credores por simples falta de pagamento.
Se algum sócio, alguns ou todos os sócios da sociedade falida são solidários, tem-se de
liquidar cada ativo, a fim de se poderem satisfazer os credores da sociedade e os
credores dos sócios solidários.
O art. 71 da Decreto-lei n. 7.661 estatui que a arrecadação dos bens particulares do
sócio solidário será feita ao mesmo tempo que a dos bens da sociedade, levantando-se
inventário especial de cada uma das massas.

2. DIVIDAS DA SOCIEDADE, SUFICIÊNCIA E INSUFICIÊNCIA NO ATIVO. Se


faliu a sociedade, entende-se que os seus bens não bastam para a satisfação dos
credores. Ao ativo têm de trazer-se os bens dos sócios solidários. Primeiro, solvem-se
as dividas da sociedade (Decreto-lei n. 7.661, art. 128: “Concorrendo na falência
credores sociais e credores particulares dos sócios, observar-se-á o seguinte: 1. Os
credores da sociedade serão pagos pelo produto dos bens sociais. II. Havendo sobra,
será rateada pelas diferentes massas particulares dos sócios de responsabilidade
solidária, na razão proporcional dos seus respectivos quinhões no capital social, se
outra coisa não tiver sido estipulada no contrato da sociedade. III. Não chegando o
produto dos bens sociais para o pagamento dos credores sociais, estes concorrerão,
pelos saldos dos seus créditos, em cada uma das massas particulares dos sócios , nas
quais entrarão em rateio com os respectivos credores particulares”; parágrafo único:
“Pelos bens apurados nos termos dos arts. 5.~, parágrafo único, e 51, serão pagos
apenas os créditos anteriores à retirada dos sócios ”).
CAPITULO VIII

Ou o ativo da sociedade a) basta à satisfação dos credores da sociedade, ou 19 não


basta, ou e) excede o que é necessário para a solução das dividas da sociedade.
Somente ocorrem a) e o) se o produto <los mens «a sociedade dá para se pagarem
créditos principais e juros (Decreto lei n. 7.661, art. 129). Sobra só há se, solvidas as
dívidas de principal e de juros, algo resta que se há de ratear pelas diferentes massas
particulares dos sócios solidários, na proporção dos seus quinhões no capital da
sociedade, salvo disposição diferente do contrato social. A regra jurídica da
distribuição da sobra em proporção dos quinhões é portanto insdipositio um.
Em se tratando de sociedade em comandita simples, a sobra é distribuída
proporcionalmente aos quinhões de todos os sócios , inclusive o sócio comanditário ou
os sócios comanditários (ei. Código Comercial, art. 311).
Créditos da sociedade são pagos, com o produto dos bens da sociedade, antes dos
créditos dos sócios . Se o ativo é insuficiente para a satisfação, os saldos de quaisquer
créditos das sociedades somente concorrem, no tocante ao ativo particular dos sócios ,
como créditos quirografários (principio da intransferibilidade da preferência aos
patrimônios dos sócios ). Não importa se tais saldos são saldos de créditos gravados
com direito real de garantia, ou de créditos com privilégio especial, ou de créditos com
privilégio geral.

8.MASSAS PARTICULARES DOS sócios E CLASSIFICAÇÃO nos cRÉDITOS.


Na massa particular dos sócios , tem-se de proceder à classificação dos créditos e à
graduação ou sub classificação. O art. 102, § 4?, do Decreto-lei n. 7.661 é explícito
em dizer que os saldos dos créditos não cobertos pelo produto dos bens vinculados são
créditos quirografários. O art. 102, § 4?, está sob as regras jurídicas enumeradoras dos
privilégios gerais, porém a respeito dos créditos com privilégio especial o principio
da queda do privilégio resulta da natureza do privilégio, que é, ex hijpothesi, especial.
A especialidade concerne ao valor do bem, que, extraído, não bastou. Na massa
particular de cada sócio solidário, têm-se de pagar, antes, os créditos com direitos reais
de garantia, os créditos com privilégio especial e, depois, os créditos com privilégio
geral. Donde a invocabilidade dos arts. 125 e 126 do Decreto-lei ri. 7.661. vida da
sociedade, é sem qualquer relevância a coincidência ser tal pessoa devedor, como
sócio solidário que é, e preletário do bem gravado. Como proprietário, a sua situação a
de quem tem direito real, direito com sujeito passivo tal; e a situação do titular do
direito real de garantia é a mesma: o sujeito passivo é total. Por isso mesmo, na massa
da sociedade, o crédito é quirografário; na massa particular do aio, é crédito com
direito real de garantia.

§ 3.443. Principal e juros

1.. [~(àsM E NÃO FLUÊNCIA DE JUROS. É principio geral e contra a massa


falida não correm juros, quer se trate de juros legais, quer de juros estipulados, salvo
se o ativo bastara o pagamento do principal. Não são atingidos pelo prinuio da rtAo-
flubwia dos juros contra a massa falida (e, tamra, contra as massas particulares dos
sócios solidários cujo voto não baste ao pagamento do principal) os juros dos crédito
com direito real de garantia, inclusive das debêntures, que somente se solvem com o
produto dos bens gravados (Decreto. 1 n. 7.661, art. 26). Lê-se no art. 129 do Decreto-
lei n. 7.661:
a massa comportar o pagamento do principal e dos juros, á restituída ao falido a sobra
que houver
Se, com o produto dos bens da massa, foram satisfeitos credores com direito real de
garantia, os credores com pnnao especial, os credores com privilégio geral e os
quirografários, e há sobra, tem o sindico de solver os créditos de juros correram a
partir da abertura da falência. A não-contam dos juros só se deu por se ter admitido
que o produto dos is da massa seriam insuficientes. Uma vez verificado que ri o
produto se pode cobrir o passivo, os juros fluíram . Dá-se mesmo nos casos de
CAPITULO VIII

existirem massas particulares de sócios solidários, ou de devedores solidários em


geral, se os bens desses tem todo o passivo do falido.

2.SOBRA E RATEIO DOS CREDORES DE JUROS. Pode acontecer que o


produto dos bens haja satisfeito as dívidas de primeiro a sobra não baste para a solução
de todas as dívidas juros. Então, procede-se ao rateio. Distribui-se por todos «as
dividas de principal extingue a fluência dos juros, de jeito que só se contam os juros
que fluíram.
Se o produto dos bens cobriu o passivo, quanto ao principal, é que o passivo era maior
do que seria de supor-se, e fluíram os juros, inclusive os juros moratórios. O crédito
de juros tem de ser declarado <cf. Decreto-lei n. 7.661, art. 80), dentro do prazo que o
juiz marcou.
Todavia, uma vez que o titular do direito real pode não declarar o seu crédito, e apenas
se expõe à intimação de que cogita o art. 125, § 4?, do Decreto-lei n. 7.661, o credor
com direito real de garantia pode “habilitar-se” pelo valor do seu crédito e pelos juros,
pois esses juros fluíram .

3.JUROS E SOCIEDADE FALIDA. A sobra do produto dos bens da sociedade


falida somente se distribui aos sócios, proporcionalmente aos seus quinhões no capital
social, se entende por sobra o que resta do que se solveu quanto às dívidas principais e
os juros.

§ 3.444. Reserva de bens

1.FUNÇÃO DA RESERVA DE BENS. Os que iniciaram ações, inclusive


executivas, contra o falido, antes da abertura da falência, os que as intentaram após a
abertura da falência, ou apresentaram reclamações, ou recorreram de decisões que não
lhes admitiram os créditos declarados, e os que se estão a habilitar como retardatários
(Decreto-lei n. 7.661, art. 98) podem requerer a reserva da importância que caberá aos
seus créditos, se admitidos (Decreto-lei n. 7.661, art. 130: “O juiz, a requerimento dos
interessados, ordenará a reserva, em favor destes, até que sejam decididas as suas
reclamações ou ações, das importâncias dos créditos por cuja preferência pagarem, ou
dos rateios que lhes possam caber”). Não há distinção entre credores quanto ao
exercício de tal pretensão à reserva. Podem ser credores com direito real de garantia,
ou credores com privilégio especial, ou credores com privilégio geral, ou credores
quirografários, inclusive credores retardatários. Há interessados, além desses, que não
são credores, como os que pediram restituição ou vindicação de direito ou de posse, os
que têm esse, que não é credor, nem pode escapar à alienação do móvel (Código Civil,
art. 752), requere a reserva da impormeia.
A reserva tem de ser requerida. Não há reserva de oficio. em todo caso, tem o juiz de
atender ao art. 78 do Decreto-lei 7.661, em se tratando de pedido de restituição, ou, a
fortiori, e houve embargos de terceiro (cf. art. 79).
Quanto aos direitos reais de garantia, há dois momentos ue mostram como o sistema
jurídico atendeu a que há dois elementos nos créditos com garantia real: o em que, ao
serem entendidos os bens gravados, se têm de notificar ou intimar os titulares dos
direitos reais, mesmo se não declararam os créditos (Decreto-lei n. 7.661, arts. 119 e
120) ; e o em que, vendi-os os bens, se guarda o produto da venda para se solverem s
dívidas a que correspondem direitos reais (art. 125, § 4.0). essa guarda, ou depósito,
reserva é, de certo modo, reserva que a lei impôs. Porém a guarda nas espécies do art.
125, 4•0 não é por tempo indeterminado. Se o síndico faz instilar-se o credor que
tinha o direito real de garantia para declarar o seu crédito, dentro de dez dias, o
dinheiro guardado rateado pelos outros credores; portanto, preclui o direito o credor,
no que se refere à massa fatencial.
Como há de ser a construção jurídica? No intervalo entre reserva-depósito e a
preclusão, ~qual a situação do credor?
CAPITULO VIII

Por vezes nos referimos à preclusão e até mesmo à ra Mo registro (mesmo intimado,
com a cominação implícita, o credor não declarou o crédito). Deixamos, porém, para
agora a determinação do que ocorre no interessado de espera. Desde o momento em
que se guarda a quantia pode o credor declarar o seu crédito e receber o que lhe tocou.
Portanto, antes mesmo da intimação-cominação que se tornaria supérflua. Se não foi
feita declaração de crédito ao tempo do procedimento para alienação ou depois, é que
o síndico tem o caminho da intimação notificação. A quantia depositada tem o destino
que o procedimento falencial lhe deu: satisfazer o crédito que tinha o direito inicial. O
bem foi alienado para se lhe extrair o valor e houve as oportunidades para a declaração
de crédito. Desde o momento que se transferiu ao terceiro a propriedade do bem
gravado, não há o direito real sobre o bem, uma vez que, ex kjepothesi, se lhe extraiu
todo o valor. Donde duas construções: ou se tem o valor que se guarda como sub-
rogado ao bem, ou se considera que, a despeito da extinção do direito real de garantia,
não houve sub-rogação real, mas apenas destinação falencial de valor.
Não há sub-rogação real. Há guarda para satisfação do credor, que ou declara a tempo
o seu crédito, ou está desinteressado da solução pelo ativo falencial.
O art. 125, § 4?, não pode ser invocado a propósito da anticrese, porque o credor
anticrético teve de entregar a posse, para que possa ser vendido o bem gravado (art.
119, § 3.O)~ A quantia que se lhe destina é do titular do direito de anticrese desde o
momento em que o perde, pela alienação do bem e aquisição por outrem (art. 125, §
1.0).
Também quanto ao penhor constituído com a transferência da posse imediata ao credor
não é de incidir o art. 125, § 4.0). Ou há o direito de venda pelo credor, que então o
exerce e desconta o que corresponde à dívida, prestando contas ao síndico (art. 120, §
2Y, 1.~ parte), ou não há tal direito, ou o credor notifica o síndico para que exerça a
faculdade de remir, ou por sua vez o notifique para a entrega, tendo, então, de
providenciar quanto ao leilão. Não há situação semelhante à do art. 125, § 4,0, porque
têm todas as notificações dos credores, em tais circunstâncias, são como declarações
de crédito, que levam à remição ou ao leilão, ou o credor propõe a ação executiva de
que cogita o art. 120, § 3~o• -
É de frisar-se que havendo leilão promovido pelo síndico não se pode invocar o e art.
125, § 4.~: a quantia correspondente ao crédito garantido com direito de penhor é
depositada em nome do credor, que não pode ser considerado credor não-declarante.
O art. 125, § 4,0, somente se refere à hipoteca, ao penhor industrial, ao penhor agrícola
e ao penhor pecuário.
Rateios distribuídos não se restituem (Decreto-lei n. 7.661, art, 78, § 2.0); nem se
redistribuem aos credores retardatários (art, 98, § 4,0)~

2.DESEFICACIZACAO DA RESERVA. Lê se no art. 130, parágrafo único, do


Decreto-lei n. 7.661: “Se o interessado esta a
favor do qual foi ordenada a reserva deixar correr os prazos processuais da reclamação
ou ação, sem exercer o seu direito, não preparar os autos dentro de três dias depois de
esgotado o último prazo, se protelar ou criar qualquer embaraço processo, o juiz, a
requerimento do síndico, considerará sem eito a reserva
O recurso é o de agravo de instrumento.
O art. 130, parágrafo único, fala de se tornar “sem efeito” reserva. Importa saber-se
qual a verdadeira natureza da precisão do juiz, na espécie do ad. 130, parágrafo único.
A fique diferente da que se encontra no art. 498 do Código de Processo Civil, porque,
em verdade, não se sevara produto dos ~ns para se pagar <separação de bens); parece-
se com a dase se regula no art. 497 e parágrafo único da lei processual vil (reserva de
bens, Código Civil, art. 1.796, §§ 1.0 e 2.0).
A carga da separação de bens para pagamento de dividas a seguinte:
Declaratividade Conatira ti vidade Condenara.riedade Mandara.,, talídade
Se o credor, que pediu a reserva por ainda ter de propor a ação decorrente do direito
que afirma ter, não a propõe dentro do prazo, e não mais a pode propor, fica sem
CAPITULO VIII

objetivo a reserva e é óbvio que se torne revogável a decisão. (A decisão que defere o
pedido de reserva transita em julgado. O agravo teria sido o de instrumento. A lei
estabeleceu a revogabilidade da decisão, mas apenas se algum dos pressupostos se
compõe. Os pressupostos são os do ad. 180 do Decreto-lei n. 7.661.)
Pode ser que, no próprio processo da declaração de crédito ou na ação proposta, o
credor que pedira a reserva perca algum prazo, que torne infrutífera a espera de
momento em que se lhe reconheça o direito. Também aí cabe a revogação.
A falta de preparo de acordo com o art: 130 é outro pressuposto suficiente para a
revogação.
Se o credor que obteve a reserva é acusado de protelação do processo, ou de criar
embaraço ao procedimento, é revogável a decisão.
A lei não fez de ofício a revogação. Ao síndico é que cabe requerê-la. Em todo caso,
qualquer credor também pode fazê-lo, Invocando o ad. 30, II, 2.~ parte, do Decreto-lei
n. 7.661.
Execatividade
*A reserva de, bens conforme o art. 497 do Código de Processo Civil é mandamental;
a carga é ligeiramente diferente:
DeclamtividedeConeriru ti uldadeCondenarari e ad.**Mandaram.tatUada* ** * *
Execuris.’idade

Tal é a carga da reserva de bens segundo o ad. 180 do Decreto-lei n.7.661. A ação
também é mandamental.
A decisão, que desconstitui, é de eficácia ex tunc, por ser revocatória.
Feitas essas considerações, que mais se prendem à classificação da decisão de
revogação da reserva, volvamos aos pressupostos para que possa o juiz tomar a
decisão de desconstituir a decisão que proferira.

CAPITULO VI

TERMINAÇÃO DA LIQUIDAÇÃO

§ 3.445. Terminação da liquidação e julgamento das contas do síndico

1.DEVERES DO SINDICO. A liquidação termina com a liquidação do ativo e a


subseqüente prestação do produto aos credores, ou, se há sobra, ao falido, ou aos
sócios solidários, conforme o art. 129 ou o art. 128, II, do Decreto-lei n. 7.661. Dentro
de trinta dias após a terminação da liquidação, é dever do síndico prestar as contas
(Decreto-lei n. 7X61, art. 69, § 7.0). Julgadas boas e bem prestadas, tem o síndico
vinte dias para apresentar o relatório final da falência. Tal relatório é junto ao
processo da falência (Decreto-lei n. 7.661, art. lSl. “Terminada a liquidação e julgadas
as contas do síndico (art. 69), este , dentro de vinte dias, apresentará relatório final da
falência, indicando o valor do ativo e o do produto da sua realização , o valor do
passivo e o dos pagamentos feitos aos credores, e demonstrará as responsabilidades
com que continuará o falido, declarando cada uma delas de per si”).
O relatório final refere-se ao passado e ao presente. Ao passado, quanto à liquidação
do ativo e aos pagamentos feitos; ao presente, quanto ao que o falido continua a dever.
Se a falência foi de sociedade, tem o síndico de miúdear o que toca, nas dividas, a cada
sócio solidário.
Relatório final da falência é a peça ou o conjunto de peças que perfazem o instrumento
de que cogita o art. 131.
O juiz pode determinar a audiência dos interessados, dentro do prazo que ele marcará.

2.DECISÃO DE DEVER DO SINDICO. Se as contas foram chegadas boas e bem


prestadas, tem Ele os vinte dias de que fala o art. 131 do Decreto-lei n. 7.661. Esses
vinte dias se contam do transito em julgado da decisão favorável que apresente suas
CAPITULO VIII

contas. Se a decisão não julgou boas e bem prestadas contas, ocorre o que se prevê no
art. 69, §§ 5~O e 6.0 Se o sindico não as prestou, incide o art. 69, § 70,
A infração de dever do síndico pode decorrer de não haver apresentado
tempestivamente o relatório final. A respeito diz Decreto-lei n. 7.661, art. 131,
parágrafo único: “Findo o prazo sem a apresentação do relatório, o juiz, a
requerimento de qualquer interessado, determinará a intimação pessoal do ela-co para
que o apresente no prazo de cinco dias; decorrido te sem a apresentação, o juiz
destituirá o síndico e atribuirá representante do Ministério Público a incumbência de
organizar o relatório no prazo marcado neste artigo”. A lei ainda estabelece a
intimação pessoal, em cominatória ao 4slndico. altura, em que se está, do processo da
falência não teria cancelado suficiente a nomeação de substituto ao síndico. A som~o
de técnica legislativa que o art. 131, parágrafo único, deu acertada: tem o órgão do
Ministério Público os mesmos vinte as, que, para elaborar o relatório, teve o síndico.
Se o órgão Ministério Público não o faz, deve o juiz oficiar ao chefe do mistério
Público, sendo intimado o órgão do Ministério Público que caiba a substituição.
Qualquer interessado tem ação contra o Estado pela falta órgão do Ministério Público
(cf. Constituição de 1946, ~t. 194). O Estado tem ação regressiva contra o órgão do
mistério Público, se Esse foi culpado (art. 194, parágrafo único ).

§ 3.446. Encerramento do processo da falência

1.SUSPENSÃO E ENCERRAMENTO DO PROCESSO DA FALÊNCIA . - Com


a concordata suspensiva (o nome bem o diz), suspensiva se o processo da falência.
Não se encerra, suspende-se. relação jurídica processual que se estabelecera continua,
em estado de suspensão. Resolvida a concordata, a eficácia de dispensividade cessa.
Prossegue o processo da falência. e a concordata suspensiva 101 juigaus cumpnaa,
com o trânsito em julgado da decisão encerra-se o processo da falência ( extingue-se a
relação jurídica processual). Cf. Decreto-lei n. 7.661, art. 155, 5 o.
Assim, extingue-se a relação jurídica processual da falência (= encerra-se o processo
da falência) se a) não há bens a serem arrecadados, ou se os bens que foram
arrecadados não bastam para se atenderem as despesas do processo (Decreto-lei a.
7.661, art. 75), ou se 1», por sentença trAnsita em julgado, se julgam extintas as
dividas do falido (art. 137, 5 30), ou se o), por sentença transita em julgado, se julga
cumprida a concordata suspensiva (art. 155, 5 5.0), ou se d) ocorre o julgado de que
falam o art. 132 e 5 2.0 do Decreto-lei n. 7.661, ou se e) nenhum credor se apresenta.
Decretada a abertura da falência, têm-se de verificar os créditos para se saber se algo
que ocorreu depois da decretação elimina o estado de insolvência. Não se reforma a
sentença somente por isso. É matéria para encerramento do processo falencial (com
razão, 5. SAnA, latituzioni di Diritto faWmenter., 60, e RENzO PROVINCIal,
Manual. di Diritto falliríwntare, 2.’ ed., 187, acordes c4>m Cuzzni-Cícu, Dei
FGWSentO, 85, e A. RÂMELLA, Tra.ttato dei Fauirnento, 1, 2.’ ed., 253; sem razão:
G. BONELLI, Dei Failimento, 1, 351; U. NÂvAnflo, Trattato di Diritto faliimentare,
1, 122; A. BRUNETTI, Diritio faliiment are italiano, 163; G. DE SEMO, Diritto
faWmentaTe, 146 a.).

2.ENCERRAMENTO FOR SENTENÇA. O encerramento do processo da


falência após o relatório final tem de ser por sentença trAnsita em julgado (Decreto-
lei n. 7.661, art. 132:
“Apresentado o relatório final, deverá o juiz encerrar, por sentença, o processo da
falência”). A sentença, de que se trata, não tem de apreciar o relatório final, pasto
que possa apreciar, para as repelir, argüições contra o relatório final. Tais argiliçoes,
acolhidas, impediriam o encerramento imediato, pois que se teria de esperar o
relatório completado, ou o relatório final feito pelo órgão do Ministério Público.
A sentença de encerramento tem forte carga de eficácia declarativa, mas é constitutiva
negativa. Declara-se que tudo tal, e desconstituir se a relação jurídica processual. A
CAPITULO VIII

carga de eficácia é a seguinte:


Decterni.vida. Consuta tividade CondenatonededeMandarn.ntaildade
Executividade**
A lei, em vez de atribuir eficácia constitutiva negativa ediata à decisão dita de
encerramento, que então seria declarativa, fé la de eficácia declarativa imediata e de
forca constitutiva negativa.

3.PRAZO PARA O ENCERRMENTO leia-se, no art. 132, L$, do Decreto-lei n.


7.661 que, “salvo caso de forca maior, rapidamente provado, o processo de falência
deverá estar encerrado dois anos depois do dia da declaração”. A regra jurídica é de
prazo preclusivo, que automaticamente encerrasse as Oncias transcorridos os dois
anos. Nem concerne a dever juiz, depois de julgadas as contas do síndico: tal dever
ate, mas é o de imediatamente após a apresentação do relatório final proferir a decisão
de encerramento; ou, se o relatório aí não foi apresentado, o de providenciar para que o
seja t. 131 e parágrafo único), e logo após proferir a decisão de encerramento (art.
132).
O art. 132, § 1.0, tem sido invocado para se estabelecer só após os dois anos de que a
lei fala começa de correr prescrição das ações penais (art. 199). Nesse sentido, a 6.8
CAra Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 26 de janeiro 1951 (1?. dos T., 191,
797), a 1.8 Câmara Civil, a 26 de bo de 1947 (169, 727) e noutros julgados. Sem
razão, A. .1., 48 e 167; 60, 340; e 62, 99. Não é possível ligar-se ao prazo a
encerramento prazo prescripcional.
O prazo de prescrição, no tocante aos crimes falenciais, ente começa de correr com o
trânsito em julgado da sena que encerra a falência (Decreto-lei n. 7.661, art.. 199,
paragrafo único).

4. PROCESSO E RECURSO. A sentença de encerramento refere-se à relação


jurídica processual, a que põe ponto final: há de ser lançada nos próprios autos da
falência. Diz o art. 132, § 2.0, do Decreto-lei n. 7.661: “A sentença de encerramento
será publicada por edital e dela caberá agravo de petição”.
O edital há de ser inserto nos mesmos jornais em que se publicou a decisão de
decretação de abertura da falência (art. 205).
Quanto ao recurso, é o de agravo de petição e pode inter-pó-lo o próprio falido (cf.
Decreto-lei n. 7.661, art. 86; sem razão, a 2.8 Câmara Civil do Tribunal de Apelação
de São Paulo, a 4 de maio de 1943, R. dos T., 143, 89).

5.LIVROS DO FALIDO. Estatui o art. 132, § 3.’>, do Decreto-lei n. 7.661:


“Encerrada a falência, os livros do falido serão entregues a este, subsistindo, quanto à
sua conservação e guarda, as obrigações decorrentes das leis em vigor. Pendente,
porém, ação penal por crime falimentar, os livros ficarão em cartório até que
passe em julgado a respectiva sentença”. Encenada a falência, isto é, trAnsita em
julgado a sentença que encerrou o processo da falência.
Se há ação por crime falencial, os livros ficam em cartório, quer tenha havido
condenação quer tenha havido absolvição, quer tenha sido recebida a denúncia
quer não.

6. SALDOS DOS CRÉDITOS. Encerrado, após o relatório final,, o processo da


falência, continuam as dividas do falido, quanto aos saldos. Essas dividas são restos
das dividas só parcialmente solvidas. Por isso mesmo, para ação de execução contra o
falido, cuja falência foi encerrada, “é título hábil” (diz o art. 133 do Decreto-lei n.
7.661), “para execução do saldo (art. 83), certidão de que conste a quantia por que foi
admitido o credor e por que causa, quanto pagou a massa em rateio e quanto ficou o
falido a dever-lhe na data- do encerramento da falência”.
Se o crédito foi admitido e nada restou para se pagar, embora parcialmente, ao credor,
a. -certidão é título hábil para a execução pelo todo.
CAPITULO VIII

Se o juiz ainda não proferiu a decisão de encerramento, ou porque o síndico não


apresentou o relatório final, ou porque não o apresentou o órgão do Ministério
Público, se destituído foi o síndico, ou por Infração do juiz, o credor interessado em
obter a certidão de que se fala no art. 138 tem de reclamar perante o juízo, ou em
correição (se pelo regimento cabe), ou em mandado de segurança, uma vez que
não caiba recurso, nem correição.

CAPITULO VII

EXTINÇÃO E PRESCRIÇÃO DAS OBRIGAÇÕES FALENCIAIS

1 3.447. Prescrição

1.INTERRUPÇÃO FALÊNCIA. A falência interrompe o curso do prazo


prescripcional (Decreto-lei n. 7.661, art. 47; Tomo VI, § 675, 5. 686, 7, e 687, 9). Ao
trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, o prazo não continua de
correr: o próprio art. 134 diz que “recomeça a correr” (art. 134: “A prescrição relativa
às obrigações do falido recomeça a correr no dia em que passar em julgado a sentença
de encerramento da falência”). Os créditos, pretensões e ações são as mesmas que
antes da decretação da falência, ou antes da terminação da sentença, ou da sentença de
encerramento. Não nascem créditos novos com a sentença. É verdade que alguns
créditos não dotados de executividade se tornaram títulos executivos judiciais, pois tal
conferimento de eficácia executiva é explicitação da eficácia de ação indicati, que
corresponde a titulo executivo judicial, criado pela sentença de condenação ou por
outra decisão que tenha de executividade.
(Aí há o problema de se saber a) se o título do crédito se tornou titulo executivo
extrajudicial, o que permitiria a ação executiva do art. 298 do Código de Processo
Civil, com a contestação e o procedimento de que falam os arts. 299401, ou b) se,
como título executivo judicial, cabe propor-se a ação judicati, conforme os arts. 882. 1
e II, 918, 928-991.
A resposta é no sentido de b). Houve admissão do credor, e há a decisão de
encerramento da falência, porém a lei não veio resto da divida, disse que a certidao é
titulo hábil. Há a coisa julgada quanto ao que o devedor ficou por pagar ao credor.)
Em todo caso, pode dar-se que algum crédito que nasceu após a abertura da falência,
como qualquer dos créditos do art. 124, £ l.~, ou do art. 124, § 2.0, 1 e II, ou mesmo
III, não lenha sido pago, e o prazo prescripcional começa do trânsito julgado da
sentença de encerramento da falência.

2. ANALISE DAS ESPÉCIES. A prescrição não extingue crédito, nem pretensão,


nem ação. Apenas encobre a eficácia Ia pretensão ou da ação.
Observe-se, porém, que, como a respeito de outros instintos (e. g., usufruto, uso e
habitação, Código Civil, arta. 739, II, 745 e 748; hipoteca, art. 849, VI>, o sistema
jurídico faz do fato da prescrição elemento para a extinção dos créditos contra o
falido, que persistiram com o encerramento do processo falencial. Assim, não era
no direito anterior, que não admitia a alegação da prescrição como elemento da
extinção dos créditos contra o ex-falido. Aliás o ex-falido tem por ai prazo
preclusivo excepcional, que apanha todas as suas dividas: o do n. 185, III, do
Decreto-lei n. 7.661.

f 3.448. Extinção das dividas do falido

1.CAUSAS DE EXTINÇÃO DAS DIVIDAS DO FALIDO. Todas causas de


extinção das dividas que o sistema jurídico retorna, em geral, ou conforme a
espécie de dívida, são causas extinção das dividas do falido. Quando, no art. 135, 1,
do Decreto-lei n. 7.661, se fala de pagamento, deve-se entender malquer modo de
CAPITULO VIII

extinção por satisfação do credor; e não se de eliminar a remissão e qualquer ato do


credor que cancele crédito. O que importa é prestar-se atenção às causas de Unção que
o Decreto-lei n. 7.661 estabelece, além das outras. LO elas as do art. 135, 11-1V, e
134 (art. 136) do Decreto-4 n. 7.661. Sobre extinção das obrigações em geral, Tomos
KIV, §§ 2.902-2.999, e XXV, •§ 3.097 e 3.098.

2.Tzn’os LEGAIS. “Extinguem as obrigaçoes do fali“, diz o art. 135 do Decreto-lei


n. 7.661: “1. O pagamento, ido permitida a novação dos créditos com garantia real.
II. O rateio de mais de 40%, depois de realizado todo o ativo, sendo facultado o
depósito da quantia necessária para atingir essa percentagem, se para tanto não bastou
a integral liquidação da massa III. O decurso do prazo de cinco anos, contado a partir
do encerramento da falência, se o falido, ou o sócio gerente da sociedade falida, não
tiver sido condenado por crime falimentar. IV. O decurso do prazo de 10 anos, contado
a partir do encerramento da falência, se o falido, ou o sócio gerente da sociedade
falida, tiver sido condenado a pena de detenção por crime falimentar”.
O rateio de mais de quarenta por cento é causa suficiente para a extinção do resto da
divida, O falido, pelo fato da falência, liquidação e solução da divida de mais de
quarenta por cento, fica exonerado de toda a divida. Noutros termos: a lei pôs o falido
na situação de poder liberar-se com pagamento de quarenta por cento mais qualquer
fração. Contudo, para que o falido possa exercer o comércio, é preciso que tal
circunstância seja declarada e não ocorra o que se prevê no art. 138.
Se o rateio não chegou a mais de quarenta por cento, tem o falido a faculdade de
completar o exigido por lei para a extinção das suas obrigações, com o depósito da
quantia que dê para isso. Feito o depósito, pode pedir que se lhe declare a extinção das
obrigações, Só após o trânsito em julgado da sentença e se não for o caso do art. 138,
2.~ parte, pode o falido exercer o comércio. Diz o art. 138: “Com a sentença
declaratória da extinção de suas obrigações, fica autorizado o falido a exercer o
comércio, salvo se tiver sido condenado ou estiver respondendo a processo por crime
falimentar, caso em que se observará o disposto no art. 197”.
<3 art. 135, IV, do Decreto-lei n. 7.661 admite que o prazo de dez anos extinga todas
as obrigações, não obstante ter havido condenação do falido ou do sócio gerente da
sociedade por crime falencial. O prazo é só de cinco anos se o falido ou o sócio
gerente não foi condenado por crime falencial (art. 135, III). Observe-se que o art. 135,
III e IV, faz contar-se o prazo “a partir do encerramento da falência”. Entenda-se: do
trânsito em julgado da sentença que encerra o processo da falência. pio sempre que a
Instância superior, no único recurso ou recursos que se interpuseram, julgou não ser
caso do urso. A então-cognição declara que não houve óbice ao trem julgado.)
O art. 136 permite que:
a)Ocorrida a prescrição de todas as obrigações do o que somente pode ocorrer depois
do encerramento falência e feito o pedido de declaração de extinção das obrigações do
falido, julgue declarada tal extinção. Reconhecem de correr os prazos prescripcionais e
todos se complementos. A lei falencial faz causa de extInção de todas as obrigas a
prescrição de todas. Se todas restam, ou se só algumas tem, ou só uma resta, a
extinção opera-se, sem distinção. que impede que se dê a preclusão é que algumas ou
alguma esteja prescrita.
b)Se Todas as obrigações restantes se extinguem, segundas regras jurídicas pertinentes
à extinção (e o pagamento é a causa única), ou se de todas, de algumas, ou de alguma
devedor obteve novação com a prestação de garantia real Código Civil, art. 999;
Código Comercial, art. 428). Em idade, a novação é causa de extinção e o art. 135, 1,
do Decreto-lei n. 7.661 somente a leva em consideração se a nova ida tem garantia
real. Todavia, é causa de extinção, bastante a Incidência do art. 135, 1, a novação
subjetiva passiva orno XXV, §§ 3.019, 7, e 3.022, 4).
e)Se o rateio foi de mais de quarenta por cento, a declaracao da extinção das
obrigações do falido é fácil, porque só entende de certidão. A lei falencial exige,
contudo, a sentença ferida na ação declaratória de extInção das obrigações.
CAPITULO VIII

conveniente frisar-se que só se trata de quarenta por cento tocaram a cada credor
declarante, ou retardatário. Os decreta com créditos garantidos por direitos reais ou
receberam o crédito, por ser suficiente o produto do bem, ou o prool do bem não deu
para os satisfazer. No último caso, correram como credores quirografários. Pergunta-
se: para saber se foi prestada a percentagem prevista pela lei, aconsia-se o quanto do
crédito, ou o que concorreu, quirografário ? A solução é no último sentido.
O devedor, após o encerramento da falência, ou após o relatório e antes do
encerramento, completá-los. Então, no momento mesmo em que o devedor presta o
que dê para isso, opera-se a extinção. Tem, todavia, de pedir a declaração da extinção.
e)Se decorreram cinco anos, muito embora persistam as dividas restantes e não
estejam prescritas, e o falido ou o sócio gerente da sociedade falida não foi condenado
por crime falencial, há a extinção automática das obrigações do falido. Só se pode
saber se o falido não foi condenado por crime falencial, se não foi recebida denúncia
ou queixa, ou se foi reformada, com trânsito em julgado, a decisão de recebimento, ou
se transitou em julgado sentença de absolvição, ou se, tendo havido condenação, foi,
com trânsito em julgado, reformada a decisão. As próprias obrigações não prescritas
extinguem-se.
e) Se decorreram dez anos, contados a partir do encerramento da falência, extinguem-
se as obrigações, a despeito de ter sido condenado a pena de detenção por crime
falencial o falido ou o sócio gerente da sociedade falida. A importância maior da regra
jurídica do art. 135, IV, está em que o prazo preclusivo extingue as próprias obrigações
cuja prescrição não ocorreu.
§ 3.449. Ação declaratória da extinção das obrigações do falido

1. AÇÃO E SENTENÇA DECLARATIVAS. A eficácia extintiva dos fatos de que


cogita o art. 135, 1-1V, é automática. Todavia, para que o falido possa alegar qualquer
deles, é de mister a sentença declaratória de que tratam os arte. 136-138 do Decreto-lei
n. 7.661. Um dos efeitos sentenciais de mais relevo é o de poder o falido, após ela,
exercer o comércio (cf. arts. 138 e 197).
A carga de eficácia da sentença é a seguinte:Declareividade Constitut vidade
Condenatonadada Mandam.,,tatUada Executi ulôde

2.OBRIGAÇÕES DA AÇÃO DECLARATORIA. A. ação declaratória de extinção


das obrigações do falido é posto a pedido tem em separado e o procedimento está
previsto nos arta. 136 e 1S~ do Decreto Civil 7.661. Lê-se no aft. 136:
Verificada a prestação ou extinção das obrigações, nos termos dos arta. 134 e 135, o
falido o sócio solidário da saciedade falida pode requerer que seja decretada por
sentença a extinção de todas as suas obrigacoes”
A extinção das pretensoes e ações dificilmente é uma só. -Donde a importância da
declaração o juiz declara que todas as pretensões e ações, de que se cogitou na
falência, estão extintas.
“O requerimento , acrescenta o art. 137, “serão autuado em separado. com os
respectivos documentos, e publicação. por edital com o prazo de trinta dias, no órgão
oficial e em outro jornal de grande circulação. Inter procede: nos mesmos jornais em
que foi feita a publicação da decretação da falência e da decisão de encerramento da
falência, se já houve.

3.014115 DE AFIRMAR E PROVAR. Se o pedido de declaração foi feito depois de


proferida a sentença de encerramento do processo da falência, a existência de
qualquer dos preços postos de iniciações das obrigações pode ser afirmada e provada
para que se defira O pedido de declaração .
Se foi feito antes de ser proferida a sentença de encerramento do processo da falência,
só a extinção por algum dos pressupostos comuns de extinção das obrigações <ad.
135, 1, na interpretação ampla que se lhe há de dar), OU a extinção conforme o ad.
135, pode ser declarada Então, a decisão do juiz contém dois julgados: o de declaração
CAPITULO VIII

da extinção das e o de constituição negativa do processo. Diz o art. 137, § 3?: “Se o
requerimento for anterior ao encerramento da falência. (art. 135, n. 1), o juiz, ao
declara? extinta» as obrigações encerrará a falencia.
Nos casos de se invocar o ad. 135, 1 e tem o falido ou o sócio gerente da sociedade
falida o Ônus de prova?~ com a juntada de documentos que acompanhem a petição de
e dai a extinção comum das obrigações do falido, ou a extinção pela causa especial do
rateio de mais de quarenta por cento ou o ter-se ~~mpíetado essa percentagem
posteriormente aos pagamento do requerimento de depósito feito no momento da
petição. nurraltada a quantia suficiente, Isto é, o que forca os pagamentos» terem sido
de mais de quarenta por cento, então é que se publica o edital. Pode o juiz, ao
despachar a petição, dizer “DIBÚI bulda e autuada a petição, deposite-a a quantia
referenda na petição, junte-se a prova do depósito feito e expeça-se o edital”.
Nos casos do ad. 135, 111 e 1V, tem o falido de provar com documentos, que hão de
acompanhar a petição, que nenhuma ação, executiva ou não, foi proposta contra
Me, por saldo de créditos (arts. 33 e 133), ou por obrigação declaradas na falência? O
ad. 33 diz que, “se não forem integralmente pagos pelos bens do falido e dos sócios de
responsabilidade solidária, os credores terão, encerrada a falênciA. 0direito de executa?
os devedores pelos saldos das seus créditoS, observado o disposto no ad. j33”. E o art
133: “É titulo hábil, para execução do saldo <ad. 33). certidão de que conste a
quantia por que foi admitido o credo? e por que causa, quanto pagou a massa em rateio
e quanto ficou o falido a dever-lhe na data do encerramento da falência”. Â
propositura da ação de cobrança pelo saldo mil interrompido nem suspende o prazo do
ad. 135, III. ou o do arA. 135, iv, porque um e outro são prazos precluasivos, de modo
que, iniciado qualquer demora, ao seu termo se extingue com todas as obrigações Não
tem razão, portanto. TRAJANO DE MIRANDA VALVERDE (CofltMttâfl<>8ê La
de FoMe<tias, 11, 204). O que, nos casos do ad. 135, 111 e IV, o fugido tem de alegar
e provar é ter transitado em julgado antes dos cinco ou dos dez anos a sentença de
encerramento do processo da falência e, em se tratando da espécie do ad. 136. III, o
não ter sido condenado por crime falencial.

4.~Q14TESTkÇ<> À DECLAKATÔUÂ. “Dentro do prato do edital, qualquer


credor ou prejudicado pode opor-se ao pedido do falido” (Decreto lei n. 7.661, ad. 137,
§ 1?). “Findo o prazo, o juiz, com audiência do falido, se tiver havido comparecido, e
com a do representante do Ministério Público, tendo, cada um, cinco dias para falar,
proferir em igual prazo. a sentença’ <ad. 137, § 2?).
Quem quer que tenha instruído em que se não declare a extinção de todas as
obrigações e, pois, de algumas ou de alguma delas, pode contestar a ação .por isso, e
legitimação do passivo o próprio credor que não foi admitido na falência, ou a pessoa
que não é credor. O interessado é elemento pré-processual (Código de Processo Civil,
ad. 2.0).
L Durante o procedimento, antes de se proferir a sentença, ode o falido satisfazer
alguma das exigências para se declarar extinção das obrigações? Sim, dentro do prazo
para a audiência do falido. Por exemplo: ao ter de responder à contestação, ex que se
lhe argüiu não ter o falido completado a percentagem o art. 185, II, quanto a um dos
credores, pode o falido obter quitação, ou fazer o depósito do que faltava; se, antes de
ser proferida a sentença, o prazo do art. 135, III, ou o do art. 135,
se completa, tem o juiz de declarar a extinção das obrigações, se foi o fundamento ou
uni dos fundamentos do pedido inicial; completando-se na pendência do prazo para o
falido as responder às argüições feitas pelos interessados o prazo do rt. 135, III, ou o
do ad. 135, 1V, e havendo provas nos autos, ode o juiz declarar a extinção, se então lho
pede o falido.qualquer alegação contrária pode ser feita no agravo de petição.

5.SENTENÇA NA AÇÃO DECLARATÓRIA DE EXTINÇÃO DAS


OBRIGAÇÕES. “A sentença que declarar extintas as obrigações ”, li-se no arA. 187,
§ 6.0, ‘será publicada por edital e comunicada aos mesmos funcionários e entidades
CAPITULO VIII

avisados da alInda”. A publicação é no órgão oficial e nos jornais que publicaram a


sentença de abertura da falência (arte. 16 e 205). L comunicação, de que se fala no art.
187, § 6.0, é feita pelo escrivão (cf. art. 15, 1, e § 2.0).
“Da sentença cabe agravo de petição” (art. 137, § 4.0).
“Passada em julgado a decisão, os autos serão apensados os da falência” (art. 187, §
5.0).

6. EFICÁCIA SENTENCIAL. Já se falou da eficácia da sentença, que tem forca


declaratória e eficácia imediata mandamental. Um dos efeitos constitutivos é o de
ficar o falido com aptidão ao exercício do comércio (Decreto-lei n. 7.661, •rt. 188:
“Com a sentença declaratória da extinção de suas obrigaçoes, fica autorizado o falido a
exercer o comércio, salvo e tiver sido condenado, ou estiver respondendo por crime
falinentar, caso em que se observará o disposto no art. 197”. Se a interdição fora efeito
da condenação por crime falencial (art. 195), faz-se de mister o pedido de reabilitação
(arte. 197 e 198). A interdição que a sentença de que cogita o art. 138 desconstitui é a
que decorre dá abertura da falência (Código Comercial, art. 2.0: “São proibidos de
comerciar: 4. Os falidos, enquanto não forem legalmente reabilitados”; Decreto-lei n.
7.661, art. 40).

CONCLUSÕES

§ 8~45O. Operações falencial

1.EXECUÇÃO FORÇADA CELETIVA E PEorissao DE coxacuanz. A execução


forçada celetiva faz-se, em juízo especial, que é o das falências, se o concurso de
credores se refere a dívidas de comerciante. As exceções ao cabimento da falência. ela,
pela exigência de se proceder à liquidação voluntária ou coativa, não tornam civil o
concurso de credores atinente a dividas do comerciante. Ao tratarmos das liquidações,
melhor cogitaremos desses pontos, que estão fora do procedimento falencial
propriamente dito.

2.PONTYOS DE DOUTRINA GERAL. Vimos, na exposição que fizemos neste


Tomo XXIX, que:
a)O falido, legitimado material e processualmente ilegitimado, nas ações contra os
interesses da massa, ou a favor da massa. O síndico, Esse, é legitimado processual,
sem no ser materialmente. Para que a propositura de qualquer ação contra a massa
tenha a eficácia de angularizar a relação jurídica em que se acha o credor, é preciso
que se cite o síndico.
b)O síndico é órgão da execução forçada celetiva. A decretação da abertura da falência
tem o efeito de estabelecer sobre todos os bens constringiveis do falido o penhora
mento abstrato. A arrecadação pelo síndico é simples materialização da tomada da
posse.
c)A propósito da nomeação do síndico e da assinatura do termo de promessa de bem e
fielmente cumprir o múnus,
[vemos ensejo de mais uma vez frisar a diferença entre desconstituição do ato de
nomeação pela revogação, retirada a voz, e a destituição , que desconstituição é mas
sem as características da revogação: não se retira a voz da nomeação, ‘ai se contra a
nomeação e a investidura.
d) A Lei de Falências tem de ser interpretada, como Mas as leis, de modo que se
enquadre no sistema jurídico, principalmente no ramo do direito comercial, de que faz
parte mediatamente, e a que não haja lacunas que dêem ensejo perpexidades dos juizes
e dos outros intérpretes. Por sem-lo: mostramos que o falido também pode pedir a
destituição o síndico e recorrer da decisão que lhe mandei ira o pedido.
e)Outro ponto a que repetidas vezes demos relevo foi de aproveitar a todos os
interessados qualquer ato que seja pertinente à realização do ativo e a liquidação do
CAPITULO VIII

passivo. Bem sim, a recorribilidade. Se alguém não foi atendido no que ediu ou
requereu e pode recorrer, recorra ou não recorra, outra pessoa, que interessado seja,
pode recorrer.
f)A inserção do síndico na relação jurídica processual orno parte de oficio tem como
uma das conseqüências mais profundas ser de possível diferente concepção, a respeito
de obter esses da massa falencial, a sua atitude e a do falido, ou sua atitude e a dos
credores ou a de qualquer um dos credores.
g)A concepção do concurso de credores, quer civil quer falencial, fez -se sem a
conseqüência de existir, para os credores, queerer de declarar crédito. O credor
declara, se quer.
Se o credor não declara o crédito, não se extingue, por isso, o seu crédito. Apenas
deixa de participar da massa falenial, que é massa que somente existe enquanto não
transita em julgado a sentença de encerramento da falência. Praticamente , ode não
mais existir, por se ter esgotado.
Surge, aqui, problema sutil, que não vimos tratado pelos especialistas ‘de direito fale
ncial: se algum bem aparece antes de transitar em julgado a sentença de encerramento
da falAm-ia, ~ ainda é possível arrecadá-lo?
Há duas hipóteses: a) o bem já existia, ignorado, no patrimônio falencial e, por
conseguinte, estava abstratamente conscrito, ou fora desconstituída a sentença que o
considerara fora Ia massa objetiva (e. g., sobreveio sentença rescisória de outra,
que se proferira na falência) ; b) a aquisição fora entre o proferimento da sentença de
encerramento da falência e o trânsito em julgado.
Na espécie a), é possível antes do trânsito em julgado pedir-se a arrecadação, porque
não cessara a competência do juízo falencial. Na espécie b), idem, porque, ainda não
tendo havido o trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, o
penhoramento abstrato se operou.
Transitando em julgado a sentença, os re8tos de dividas do falido podem servir de
títulos para a execução forçada celetiva, podendo ser aberta outra falência. Ai, o
encerramento fechou qualquer ligação entre os credores. Qualquer deles pode pedir
execução forçada singular, porquanto não existe relação jurídica processual falencial.
O falido não é mais comerciante, de jeito que se não houve a volta à profissão o
concurso de credores que se abrir será civil.

§ 3.451. Massa falencial e eficácia

1.ATIVO E PASSIVO. O novo estado que se inaugura com a decretação de abertura


da falência tem elementos objetivos e elementos subjetivos. A falência é intervalo na
vida dos comerciantes. Não se poderia conceber esse intervalo como algo de
totalmente modificador do que concerne ao comerciante. A suspensão do poder de
dispor só opera quanto à paciência do processo falencial e quanto aos bens que tomam
a massa objetiva. A prescrição não corre, durante a falência; nem o encerramento da
falência significa capitulação.
A persistência dos créditos contra o falido, depois do encerramento da falência, é o
principio. Todavia, os arts. 135 e 136 do Decreto-lei n. 7.661 estabeleceram as
extinções não previstas no direito comum.

2.ALIENAÇÕES DO ATIVO. A técnica das alienações dos bens da massa falencia]


é compósita, quer em se tratando dos elementos ativos ou do fundo de empresa, quer
se refira a algum ou a alguns elementos em que pesem dividas de incidência real
tributaria ou decorrendo de garantia a eficácia real. A regra geral que se adotou foi a da
venda por leiloeiro, de livre escolha do sindico. Tem sido exprobrada a ligação do
leiloeiro ao sindico que o escolhe. Com razão, diz VALDEMÂR FERSEIRA (A
Fabcia, Instituições de Direito Comercial, V, 3.~ ed., 337 seja que não raro que
“síndico e leiloeiro se ajustem para a venda, antecipadamente deliberada da massa
falida, por preços mesquinhos, a fim de ser adquirida por pessoa para isso escolhida”.
CAPITULO VIII

Quanto aos bens gravados de hipoteca, a remicibilidade passa a ser a favor da massa; e
o credor está sujeito a ir concorrer com os credores quirografários se o preço por que
se avaliou o imóvel não der para solver a dívida. Por onde se vê importância que a lei
atribuiu às avaliações dos bens. O credor com direito real de garantia há de estar
atento para que não que faça avaliação baixa dos bens e tem ele pretensão a reclamar
contra as avaliações e a recorrer.
Observe-se que, no caso de alienação de bens garantidos com direito real, e não só se a
garantia real é hipotecária, xá de ser observada a lei processual civil, de modo que o
órgão Ia hasta pública não é leiloeiro escolhido pelo síndico. O chamado leilão
público só se permite “se os bens não foram arrematados” (Código de Processo Civil,
art. 972). Há carta de Brremata0o, o que tem relevância teórica e prática, conforme
interesse mostrou.
No art. 120 do Decreto-lei n. 7.661 também se fala de salão público, mas, ai (art. 120 e
§ 2.0), como no art. 119, § 3•O, lei processual civil tem de ser respeitada, porque o
que se aliena não pertence só ao falido.
Escusado é advertir-se que o bem que só em parte é do devedor a que se abriu a
falência não pode ser alienado sem m. observância das regras jurídicas concernentes à
comunhão (condomínio, comunhão em direito real ou pessoal). A propámito do
domínio, por exemplo, cada condômino pode alienar sua parte indivisa, atendendo-se
ao art. 632 do Código Civil. 3e a venda de todo o bem é que tem de ser feita, não se
pode obstrair do interesse do outro comuneiro.
Por isso mesmo se há interesse de incapazes, não se vai subordinar às regras de direito
falencial o que há de reger pelo direito civil e pela lei processual civil, no tocante à
alienação ~e bens de incapazes. E não só em se tratando de bens de incapazes ocorre
essa necessidade de se atender a outro ramo de
direito. Se o bem é comum à massa falida e a alguma entidade estatal, não se pode
fazer passar à frente o direito falencial.
Assim, quando se fala de alienação de bens da massa falencial, o que se há de entender
é que se vai alienar o que somente é dela, embora parte indivisa de algum bom. A parte
indivisa e, a fortiori, a parte divisa pode ser alienada conforme as regras jurídicas
falenciais. O todo, não.
Se a alienação é de parte, que pertence à massa falencial, os princípios de direito
material que estabelecem pretensões a favor de comuneiros têm de ser respeitados.

3.CONSIDERAÇÕES FINAIS. A falência ou é acidente na vida do comerciante,


pessoa física ou pessoa jurídica, ou é ponto final na atividade comercial. A importância
da distinção somente concerne ao que é indispensável para que a atividade se reinicie,
se tal é a intenção do credor a que se abrira e se encerrara a falência.
O instituto de que vamos tratar no Tomo XXX, devido aos seus traços comuns, é, de
certo modo, pr -falencial porque tem a função de evitar (prevenir) a decretação de
abertura da falência, ou pendente a falência, porque a suspende.
Em bom método, seria desaconselhável opor-se a concordata preventiva entre os
capítulos iniciais quanto à abertura da falência. Ela evita, previne, mas,
institucionalmente, é por fora da falência, como algo que atinge em golpe pré-inicial
o procedimento da execução forçada celetiva, porém sujeita a princípios que são
também os da concordata suspensiva.

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