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A Caixa 1 - O incio

Ontem estava saindo do facebook, caindo de sono, e o telefone toca. Era uma amiga de longa data. Ela, uma psicanalista. Eu, historiadora e filsofa de botequim. Quando conversamos, as "viagens" vo longe, atravessam a barreira do tempo e do espao, derramam-se pela madrugada.

145 insights por segundo, umas duas horas depois, desligamos. A essas alturas, o sono [geralmente, bomio], havia ido para o bero, mas no me levou junto - cansou de esperar. Coloco uma msica, encho a taa de vinho, caio no sof "so far away" e, como no poderia deixar de ser, o STM (Superior Tribunal Mental) reinicia as atividades... para logo serem interrompidas por uma msica que comea a tocar.

"Dos versos que eu fiz/e ainda espero resposta"...

Versos. Poemas. Cartas. Lembranas... a caixa... Lembrei da caixa... Sim, a caixa... Como pude esquec-la?...

"Desfaz o vento/O que h por dentro/Desse lugar/Que ningum mais pisou..."

Uma caixa que estava lacrada desde 2005, ano em que pus os ps na estrada, rumo a Londres, sem prazo para retorno. Guardava velhos cadernos de poesia, versos bobos, cartas escritas e jamais enviadas, fotos... muitas delas...

Deixei a taa sobre a mesa, peguei um estilete, abri as portas do antigo guarda-roupa, passei os olhos... Localizei-a pela data e a "nota brega" que se seguia - "2005 - minhas vidas". Puxei a caixa, enterrei o estilete e a abri. Que cheiro bom exalou. Um odor que s papel antigo, encharcado de memrias, guarda. Mergulhei num passado que iniciava em 2005 e encerrava na dcada de 80. Caderno aps caderno, carta aps carta, verso aps verso, fotografias... indescritvel sensao. Ria, chorava. Chorava e ria.

"Ainda lembro/Que eu estava lendo/S pr saber/O que voc achou/Dos versos que eu fiz..."

Mergulhei. Mergulhei fundo. J sem flego, tomei impulso e vim tona. Voltei a navegar. Tomei o ltimo gole de vinho, guardei os cadernos na caixa, voltei a lacr-la. Vi o que tinha de ver. Senti o

que tinha de sentir. Lembrei o que tinha de lembrar. Esqueci o que tinha de esquecer. Um mundo estava acabando, indo, indo... Um mundo [finalmente] expirou, e eu s pensava em danar... Decidi que era hora de dormir. Abracei o sono, que me aguardava debaixo dos cobertores, e o ltimo pensamento foi... um longo suspiro de alvio e um sorriso nos lbios...

"Em paz eu digo que eu sou/O antigo do que vai adiante..." (Msica "Resposta", Skank)

Fim... desta etapa

Miriam Waltrick

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