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Análise Teológica
Provocação: No novo testamento a salvação é pela graça, através da fé em Cristo Jesus. No V.T. alguém que obedecesse
cuidadosamente a lei era salvo? Em outras palavras, a salvação era pela observância da lei?
• Pergunta Fundamental: Como esta passagem se enquadra no padrão total da revelação de Deus?
• Mas o que é o padrão total da revelação de Deus?
1. A questão da continuidade-descontinuidade
• Há muitas teorias
• É uma questão importante sabermos se toda a Bíblia ou apenas partes (e que partes) possuem uma
aplicabilidade total a nós. Ex.: Deuteronômio (a lei) possui aplicabilidade total a nós?
2. Teorias
( a ) Teoria Dispensacional
• Dispensação: Período em que o homem é provado com respeito à alguma revelação de Deus
• Processo:
1. Deus dá ao homem um conjunto específico de responsabilidades ou padrão de obediência;
2. O homem não consegue viver à altura desse conjunto de responsabilidades;
3. Deus reage com misericórdia concedendo um novo conjunto de responsabilidades – uma nova
dispensação.
Obs.: Se esta teoria está correta ela constitui-se uma excelente ferramenta hermenêutica. Se estiver errada,
estaremos sob risco dos juízos de Mateus 5:19.
( b ) Teoria Luterana
• Duas verdades presentes em toda Bíblia: a lei e o evangelho.
• A Lei: Deus em seu ódio ao pecado, seu juízo e sua ira.
• O Evangelho: Deus em sua graça, amor e salvação.
• Segundo esse critério, passagens do V.T. como Gn.7:1 são consideradas “evangelho” enquanto Mt.22:37
“Lei”.
• A posição luterana acentua a “continuidade” no sentido de que a Lei e a Graça (Evangelho) continuam
presentes desde o início da história humana.
• Assim, Lei e Graça não são duas épocas, mas partes integrantes do seu relacionamento com o homem.
( c ) Modelo Epigenético
• Compara a revelação divina ao crescimento de uma planta: Uma árvore pequenininha é uma árvore perfeita,
mas ainda pequena, imatura e frágil.
• Assim, os conceitos de Deus, de Cristo, da salvação e da natureza do homem crescem à medida que a
revelação de Deus progride.
3. Conceitos Importantes
( a ) Graça
• Muitos cristãos vêem o Deus do V.T. como um Deus severo de juízo em contraste com o Deus gracioso do
N.T. O Deus do V.T. é um Deus de graça tanto quanto no Novo.
• Sempre esteve presente no V.T.:
o “... como se deu com eles ...” em Hb.4:1-2;
o Justiça pela fé - Rm.4:3-6;
( b ) Lei
• Um ponto de vista comum é o de que a salvação no N.T. é pela graça e no V.T. pela lei.
• Qual o propósito da lei? Seu contexto de doação nos fornece:
o Dada no contexto de uma aliança (com Abraão)
o A lei nunca revogou a aliança (Gl 3:17)
o A lei foi dada depois do povo (Israel) ter se comprometido a servir ao Senhor (Ex.19:8). Logo a lei
não era um meio de justificação, mas uma diretriz para viver uma vez que Israel se comprometeu a
servir ao Senhor.
o A lei não salva!
Ninguém é justificado pelas obras da lei - Gl.3:11,21,22
Abraão e seus descendentes foram salvos pela fé - Rm.4:3,13-16
• Três aspectos da lei:
o O Cerimonial
Sacrifícios e ritos que apontavam para (tipificavam) o Redentor vindouro (Hb 7 a 10)
Jesus cumpriu este aspecto da lei no sentido de que ele é o redentor, o cordeiro que tira o
pecado do mundo.
Logo, a lei cerimonial foi cumprida, e não revogada.
o O Judicial ou Civil
Preceitos dados a Israel para governo do seu estado civil. Crentes de outras nações
deveriam seguir as leis dos seus próprios governos.
o O moral
Reflete a natureza e perfeição moral de Deus;
Como tal permanece inalterável e totalmente aplicável a nós;
O crente está livre do poder condenador da lei (Rm.8:1-3), mas a lei moral de Deus
permanece como guia para uma vida reta diante Dele (Rm.3:31; ICo.5, 6:9-20).
• Objetivos da lei:
o Para tornar o erro uma ofensa legal (Gl.3:19), indicando os padrões morais de Deus;
o Para conter, até certo ponto, o pecado. Esse seria o “modo legítmo” de uso citado em Gl.1:8;
o Conduzir o individuo a Cristo (ser guia ou tutor), mostrando-lhe sua pecaminosidade (Gl.3:22-24);
o Servir de diretriz para um viver piedoso;
• A lei e o N.T.:
o A obediência no N.T. não é uma opção ou mesmo uma recomendação. Ela é obrigatória (Jo.14:15).
Obviamente ela é uma conseqüência da salvação pela graça, mas é obrigatória.
o O legalismo não é a observância da lei, mas a idéia distorcida de que a salvação vem por ela.
o O cristão não está debaixo da lei nos três aspectos:
A lei cerimonial foi cumprida em Cristo;
A lei civil judaica não se destina a nós;
A condenação da lei moral não nos atinge pois estamos debaixo do sangue expiatório de
Cristo que nos liberta dela.
Assim, vemos que a lei desempenha as mesmas funções no V.T. e no N.T. O problema é que os próprios israelitas
a interpretaram mal, criando seu sistema legalista. Neste aspecto parece que a evidência Bíblica sustenta a visão de
Lutero de que a lei e a graça permanecem como partes contínuas e inseparáveis da história da salvação, do
Gênesis ao Apocalipse.
Obs.: Em 2Tm.3:16-17 Paulo diz que “toda a escritura é ... útil para o ensino, repreensão, correção e edificação na
justiça”. Provavelmente a “escritura” que Timóteo tinha era composta principalmente pelo V.T. Devemos repensar
nossa atitude em relação ao V.T.
Bibliografia
• VIRKLER, Henry A.. Hermenêutica Avançada: Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. São
Paulo. Editora Vida, 2001.