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VOTO ÚTIL 2009

Face às medidas tomadas pelo governo de José Sócrates contra os


professores, conjugadas com as ofensas constantes da sinistra ministra da
Educação e seus maquiavélicos secretários de Estado, urge, da parte dos
docentes portugueses e seus familiares a tomada de uma posição radical nas
eleições legislativas de 27 de Setembro: não votar no PS.
Com efeito, independentemente da ideologia de cada um de nós,
existem, à direita e à esquerda, várias alternativas à actual maioria socretina.
Contudo, face ao sistema eleitoral português, nem todos os votos contribuem
para eleger deputados, em especial nos círculos mais pequenos.
Por esse motivo, é importante que o nosso voto, em 27 de Setembro,
seja o mais eficaz para derrotar o PS nos 22 círculos eleitorais (20 no território
nacional e 2 da emigração).
Com esse objectivo, analisei os resultados das eleições legislativas de
2005 e das europeias de 2009: as primeiras por serem as anteriores eleições
da mesma natureza; as segundas, por serem bastante recentes.
Para uma maior facilidade de análise, considerei as europeias como se
de legislativas se tratassem, com os mandatos (virtuais, obviamente) que cada
partido teria obtido em cada círculo eleitoral. Por seu turno, na análise dos
resultados de 2005, considerei os mandatos atribuídos de acordo com a
distribuição dos deputados a eleger em 2009 (mais um em Braga, Porto e
Aveiro e menos um em Lisboa, Castelo Branco e Bragança).
Para que o estudo seja mais fácil de entender, vou explicar, de forma
sucinta, como funciona o método de Hondt, utilizado em Portugal para
transformar os votos em mandatos. Assim, o número de votos de cada partido
é sucessivamente dividido por 1, 2, 3, …, n, sendo n igual ao número de
deputados a eleger no círculo. Os mandatos são atribuídos aos maiores
quocientes dessas divisões sucessivas. Por comodidade de análise, podemos
utilizar as percentagens de votos em lugar dos números absolutos.
Eis um exemplo hipotético:
Num círculo onde há 10 mandatos a atribuir, concorrem 5 partidos. Os
resultados são os seguintes:
A – 38%
B – 30%
C – 14%
D – 8%
E – 6%
Brancos e nulos – 4%

Partidos A B C D E
Divisores
1 38 30 14 8 6
2 19 15 7 4 3
3 12,66 10 4,66 2,66 2
4 9,5 7,5 3,5 2 1,5
5 7,6 6 2,8 1,6 1,2
6 6,33 5 2,33 1,33 1
7 5,42 4,28 2 1,14 0,85
8 4,75 3,75 1,75 1 0,75
9 4,22 3,33 1,55 0,88 0,66
10 3,8 3 1,4 0,8 0,6

Daqui resulta seguinte distribuição de mandatos:


A – 5 mandatos
B – 3 mandatos
C – 1 mandato
D – 1 mandato
Analisando a tabela, verificamos que o último mandato é o 5º do partido
A (cujo quociente corresponde a 7,6% dos votos). Por seu turno, o primeiro a
ficar de fora é o 4º do partido B (quociente de 7,5% dos votos). O partido E
(que obteve 6%) não elege nenhum deputado.
Ou seja, para que um partido eleja um deputado por este círculo
necessita de obter, no mínimo, 7,6% dos votos.
Como se pode verificar, este método favorece os maiores partidos,
especialmente nos círculos mais pequenos. Assim, enquanto que, em Lisboa
(que elege 47 deputados), um partido necessita de cerca de 1,9% para eleger
um deputado, em Portalegre (onde apenas são eleitos 2), 25% podem não
chegar. Já em círculos de média dimensão, como Leiria e Coimbra (que têm
direito a 10) são necessários entre 7,5 a 8% dos votos, aproximadamente.
Os limiares mínimos para um partido obter representação num dado
círculo eleitoral variam de eleição para eleição, dependendo de vários factores.
Como se pode observar na folha de Excel anexa, na maioria dos círculos ele é
maior nas legislativas de 2005 que nas europeias de 2009. Isto deve-se ao
facto de, nestas últimas, o número de votos brancos, nulos ou em pequenos
partidos ter sido bastante elevado (cerca de 12% contra pouco mais de 5% em
2005). Nas legislativas deste ano, é provável que, em conjunto, somem 7-8%, o
que baixa ligeiramente esse limiar relativamente a 2005, embora não tanto
como nas europeias.
É com base neste estudo e tendo em conta o nosso objectivo declarado
(derrotar o PS) que considero cinco níveis prováveis de utilidade do voto num
determinado partido em cada distrito, de acordo com o resultado daqueles
actos eleitorais:
Nível 5 (Voto certamente útil) – Partido que elegeu deputados pelo
círculo em 2005 e que subiu a sua votação nas europeias, o que lhe permitiria
eleger novamente, e sem problemas, deputados nesse círculo. É um voto que
permitirá, normalmente, eleger um ou mais deputados da actual oposição;
Nível 4 (Voto previsivelmente útil) – Partido que não elegeu deputados
pelo círculo em 2005 mas que registou uma significativa subida nas europeias,
o que lhe permitiria eleger, sem problemas, um ou mais deputados nesse
círculo. É um voto relativamente seguro e que, em princípio, também permitirá
a eleição de um ou mais deputados da actual oposição;
Nível 3 (Voto eventualmente útil) – Partido que não elegeu deputados
pelo círculo em 2005 mas cujo resultado nas europeias lhe permitiria eleger,
com dificuldade, um deputado nesse círculo. É um voto já com algum risco,
mas que poderá permitir eleger alguém se o partido mantiver, sensivelmente, a
votação das europeias;
Nível 2 (Voto dificilmente útil) – Partido que não elegeu deputados
pelo círculo em 2005 mas cujo resultado nas europeias o colocaria próximo da
eleição de um deputado pelo círculo. É um voto de grande risco, que só
permitirá eleger alguém se o partido subir um pouco a votação das europeias;
Nível 1 (Voto só para protestar) – Partido que não elegeu deputados
pelo círculo em 2005 e cujos resultados nas europeias o manteriam longe de
eleger qualquer representante. Um voto que não serve para eleger ninguém.
Aqui se incluem, igualmente, os votos brancos e nulos.
Nível 0 (Totalmente inútil) – Abstenção. Equivale a demissão cívica.
CONCLUSÃO-SÍNTESE
5 4 3 2 1 0
Dificilment
Certamente Provavelmente Eventualmente e Só para Totalmente
Círculo eleitoral Útil Útil Útil Útil protestar Inútil
PSD, CDS BE CDU OBN Abstenção
AVEIRO
CDU PSD BE, CDS, Abstenção
BEJA OBN
PSD, CDS, OBN Abstenção
BRAGA CDU, BE
PSD CDS, BE, Abstenção
BRAGANÇA CDU, OBN
PSD BE, CDU, Abstenção
CASTELO BRANCO CDS, OBN
PSD BE CDU CDS OBN Abstenção
COIMBRA
CDU PSD BE, CDS, Abstenção
ÉVORA OBN
PSD BE CDU CDS OBN Abstenção
FARO
PSD CDS, BE, Abstenção
GUARDA CDU, OBN
PSD, CDS BE CDU OBN Abstenção
LEIRIA
PSD, CDU, MEP OBN Abstenção
LISBOA BE, CDS
PSD CDU BE, CDS, Abstenção
PORTALEGRE OBN
PSD, CDS, MEP OBN Abstenção
PORTO BE, CDU
PSD, CDU BE CDS OBN Abstenção
SANTARÉM
CDU, PSD, OBN Abstenção
SETÚBAL BE, CDS
PSD CDS BE CDU, OBN Abstenção
VIANA DO CASTELO
PSD CDS, BE, Abstenção
VILA REAL CDU, OBN
PSD, CDS BE CDU, OBN Abstenção
VISEU
PSD CDS, BE, Abstenção
AÇORES CDU, OBN
PSD CDS CDU, BE, Abstenção
MADEIRA OBN
PSD CDU, CDS, Abstenção
EUROPA BE, OBN
PSD CDS, BE, Abstenção
FORA DA EUROPA CDU, OBN

NOTA – O CDS em Viana do Castelo constitui um caso especial: o partido


elegeu um deputado pelo círculo nas legislativas de 2005 e continuaria a eleger
se as europeias de Junho fossem legislativas. Mas a sua percentagem desceu
ligeiramente, pelo que optei por baixar a utilidade desse voto para o nível 4.
É certo que nem sempre o que parece é. Assim, poderá ser interessante
votar num partido que está à beira de eleger um deputado pelo círculo (por
exemplo, o CDS em Santarém ou a CDU em Faro) em lugar de votar noutro
que tem a eleição assegurada e deixar esses partidos com uma boa
percentagem mas sem eleger ninguém. O que mostra que tudo isto é bastante
contingente e, portanto, difícil de prever.
Claro que cada um é livre de votar da forma que entender: por convicção
ou de forma estratégica.
Este estudo destina-se apenas a fornecer informação sobre os efeitos
mecânicos do seu voto (ou seja, aqueles que estão ligados à mecânica do
sistema eleitoral) a todos aqueles que desejem votar com o objectivo supremo
de derrotar Sócrates, Milú e Cª.
Por mim, desde que não votem no PS, tudo bem!

Jorge Martins

(Professor de Geografia da Escola Secundária


Rodrigues Lobo, em Leiria, membro dos órgãos sociais da APEDE e
mestrando em Ciência Política na Universidade Nova de Lisboa)

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