O menino tinha lanado a estrela Com ar de quem semeia uma iluso; E a estrela ia subindo, azul e amarela, Presa pelo cordel sua mo.
Mas to alto subiu Que deixou de ser estrela de papel, E o menino ao v- la assim, sorriu E cortou- lhe o cordel. Miguel Torga Regresso s fragas de onde me roubaram. Ah! Minha serra, minha dura infncia! Como os rijos carvalhos me acenaram. Mal eu surgi, cansado, na distncia.
Cantava cada fonte sua porta: O poeta voltou! Atrs ia ficando a terra morta Dos versos que o desterro esfarelou.
Depois o cu abriu-se num sorriso, E eu deitei-me no colo dos penedos A contar aventuras e segredos Aos deuses do meu velho paraso. Miguel Torga Recomea Se puderes, Sem angstia e sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro, D-os em liberdade. Enquanto no alcances No descanses. De nenhum fruto queiras s metade.
E, nunca saciado, Vai colhendo Iluses sucessivas no pomar E vendo Acordado, O logro da aventura. s homem, no te esqueas! S tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheas. Miguel Torga A maior desgraa que pode acontecer a um artista comear pela literatura, em vez de comear pela vida.