O LENCINHO

Artur Azevedo
O Juvncio, explicador de matemticas, era um homem lgubre.Nunca
ningum o viu rir, nunca ningum lhe apanhou a expresso do olhar atravs
dos !culos escuros."inha as #aces encovadas, o nariz adunco, a barba
crescida."ra$ava sempre de preto e usava chapu alto.%ra distra&do e parecia
estar sempre vagando pelos intermndios do in#inito, levado sobre uma nuvem
de algarismos.Numa dessas belas tardes cariocas, em 'ue todas as mulheres
bonitas vo assoalhar na Avenida a sua beleza e as suas toilettes, o
explicador Juvncio tomou, com alguma di#iculdade, o bonde no (argo da
)arioca, para ir dar uma explica*o no )atete. %ra + hora de mais a#luncia.
Os lugares eram con'uistados + #or*a de agilidade e destreza.
O explicador Juvncio #icou, por acaso, num bonde cheio de mulheres, num
bonde 'ue parecia antes a barca de )itera, pintada por um ,atteau moderno.
-ue pena. O explicador Juvncio, 'ue era um vivo positivista, no tinha olhos
para a por*o mais bela da humanidade.No banco em 'ue ele se sentou
estavam trs cocottes espaventosas, 'ue o embriagavam com uma por*o de
capitosos per#umes.O banco da #rente estava ocupado por uma #am&lia/ trs
elegantes senhoritas, acompanhadas pela me, 'ue poderia passar pela irm
mais velha.As trs senhoritas #alavam pelos cotovelos, comentando tudo
'uanto tinham visto durante o passeio.0ma delas, por sinal 'ue a mais bonita,
agitava entre os dedos um pe'uenino len*o branco, um mimo de len*o em
'ue nariz algum se atreveria a assoar1se.No calor da conversa, a senhorita #ez
um gesto, e o len*o, escapando1lhe da mo, #oi cair 1 ve$am 'ue #atal
casualidade. 1 #oi cair mesmo em cima da braguilha do explicador
Juvncio.%ste, 'ue ia entretido a ler um livro de matemticas, no deu
absolutamente pela coisa.
As cocottes riram a bom rir, mas nenhuma se atreveu a ir buscar o len*o onde
ca&ra para entreg1lo + dona. %ntretanto, a 'ue estava $unto do explicador
Juvncio deu1lhe uma cotovelada e, com um olhar, chamou1lhe a aten*o
para o len*o.O 'ue se passou ento #oi extraordinrio. O explicador Juvncio
disse consigo/ 1 -uando me hei de corrigir das minhas distra*2es3 4ois no
'ue deixei #icar de #ora um peda*o da #ralda da camisa3 % imediatamente,
cobrindo com o livro o 'ue estava #azendo, empurrou o lencinho para dentro
da braguilha.5epois, tirou o chapu + cocotte, dizendo/ 1 6uito obrigado,
minha senhora 1 e continuou a ler imperturbavelmente.