Impresses sobre o Bexiga, a Paulista e o Conjunto Nacional

Fernando Chiavassa
Deso a Brigadeiro at o Bexiga. O som da marmita, das frutas e dos lpis de cor chacoalham juntos na mochila. p, papel e lpis so memria e olhos. Vou Achiropita e
sua volta, no vejo mais estrangeiros, a no ser alguns poucos e caros comerciantes. Agora sento nos degraus da Igreja e escrevo, pois a memria engana: morto o Bexiga da
garoa de Adoniram. Esse cenrio transformado me lembra de recente pintura que fiz, a partir da Av. Paulista, retratando o Conjunto Nacional, na esquina da Augusta. Naquele
pedao de papel homenageio tanto aqueles que criaram aquele espao arquitetnico, quanto os que l trabalham, espao insubstituvel, um dos nicos pontos de encontro do
espigo. Desenhando centenas de janelinhas banhadas de sol, lembro dos mais diferentes amigos que deixaram vidas de borracheiros, de engraxates, de entregadores, e de
milhares de boys da periferia e do centro da cidade, que conquistam trabalhos mais promissores, povoando minha Paulista de gente de quase todos os cantos. Delineando os
reflexos nas vidraas destes prdios fincados na cumeeira da montanha que vai da Imigrantes ao Pacaemb ligando povoados to antagnicos , homenageio todas as gentes
misturadas que aqui continuam se achegando para muito mais amalgamar. Reflexos e cores mais distantes mal podem mostrar imagens de uma Paulista do incio do sculo
passado, onde exclusivamente circulavam homens com trajes sociais da moda, levando chapus e bengalas. A presena do elemento humano em minha pintura, no evidente,
apenas as suas marcas. A tcnica usada no poderia privilegiar imagens definidas apresentando os reflexos vtreos e metlicos contrastando com um cu azul de brigadeiro,
mas sim manchas e espaos sem limites precisos, aproximando a imagem de um grande mosaico, quase indistinto. Marcando reas iluminadas, o cenrio presta homenagem s
minorias que l habitam e congraam, de todas as cores, nuanas, credos e crenas. Tentando atingir efeitos insuspeitos ainda no terminados adoro os rascunhos lembro
das manchas coloridas que fazia quando menino. Honestamente tive vontade de saber pintar como quela poca, sem as marcas de hoje, livre de preconceitos e ideologias,
vontade com traos, cores e mensagens. Teria muito preferido traar e lanar linhas e cores, brincando apenas com manchas libertrias, esquecendo linhas e individualidades, as
precariedades do espao e as delimitaes do tempo.