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Educação. Temas e Problemas | n.

º 1 | Ano 1 | 2006
Que Rumos para a Educação?
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APRESENTAÇÃO

O aparecimento de mais uma revista de Educação, sobre Educação e pela


Educação, no momento actual, não pode deixar de causar alguma perplexidade – mais
uma?; não haverá já suficientes para um mercado leitor tão reduzido como o nosso?
Compreendendo todos aqueles que defendem ser importante consolidar, do ponto de
vista científico e editorial, as publicações já existentes, aduzimos três razões para colocar
a revista no mercado. A primeira, advém da convicção de contribuir para a projecção de
uma instituição com responsabilidades na formação de professores, com trabalho
educativo firmado na comunidade e com perfil científico assegurado nas dimensões
teórica e prática da Educação. A segunda, radica na necessidade de legitimar um espaço
editorial entre o modelo de publicação especializada, onde só cabem os produtos da
actividade científica dos que elegeram a Educação como campo de estudos, e o modelo
de publicação epistemologicamente desenraizada, onde as ideias e as opiniões sobre
temas e problemas da educação contemporânea são aligeiradas no trato. A terceira,
resulta do facto de o momento presente requerer uma publicação com consistência
científica e empenho interventivo, capaz de instigar a divulgação e o debate de ideias. Na
verdade, a análise atenta da nossa realidade jornalística mostra a necessidade de uma
tribuna alternativa aos jornais de maior circulação e tidos como de referência na opinião
pública, onde, em geral, os temas de Educação são analisados e discutidos por
profissionais de outras áreas científicas, com as lacunas, imprecisões e erros que,
naturalmente, induzem na opinião pública imagens distorcidas e concepções
infundamentadas da realidade a que se referem. Se é certo que, como cidadãos, têm o
direito de opinião e o dever, enquanto personalidades de projecção pública, de a emitir,
não é menos certo que só deverão constituir-se como referência na falta de outras, mais
pertinentes e, consequentemente, mais relevantes. Numa sociedade onde a competição
desbragada foi eleita como um valor a cultivar, custa, por vezes, aceitar que seja apenas a
ignorância, a explicação ou a justificação para determinadas escolhas e para as opiniões
que vemos escritas na imprensa referida.
Pretendemos, por conseguinte, atingir e servir, essencialmente, dois tipos de
público: os profissionais da Educação e todos aqueles que pela Educação se interessam,
procurando uma informação séria e rigorosa, mesmo que com registo opinativo. Dentro
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Que Rumos para a Educação?
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dos moldes editoriais que nos regem, ambos poderão encontrar, aqui, o seu espaço.
Pensamos que poderemos, ainda, prestar um serviço aos colegas a trabalhar em países de
língua oficial portuguesa – países que constituem a Comunidade de Países de Língua
Portuguesa (CPLP) - principalmente àqueles que têm dificuldade em publicar por o
movimento editorial, ao nível das publicações em Educação, ser escasso ou mesmo nulo.
Aqui têm um espaço para a publicação dos seus trabalhos, onde encontrarão as condições
de exigência e de rigor de acordo com os parâmetros internacionais para a qualidade e,
consequentemente, para a referência académica.
Esta Revista não surge, pois, por ausência de outras no panorama editorial da
Educação Portuguesa, nem por falta de qualidade das mesmas. Surge para um público
interessado, tanto na divulgação da produção científica em Educação, como no debate e
análise de ideias e de opiniões fundamentadas da actualidade educativa, nacional e
internacional. Por isso aceitamos para publicação artigos nas línguas europeias mais
divulgadas no mundo: o português, o castelhano, o inglês e o francês. Surge, ainda, como
face visível de uma pequena comunidade universitária que de há muito trabalha a
Educação e a Formação, investigando, ensinando e participando (no que lhe deixam ou
no que lhe pedem …) num esforço de afirmação local, regional e nacional a que se julga
com direito.
Sendo uma realização do Centro de Investigação em Educação “Paulo Freire”,
sediado na Universidade de Évora, a revista EDUCAÇÃO: Temas e Problemas, emerge
na afirmação da área da Educação nesta instituição de ensino superior, enriquecendo-a
pela diversidade, não querendo ser interpretada como uma linha concorrente, mas sim
como realidade parceira, de um outro movimento educativo nela há muito lançado,
convergindo com ele nuns aspectos e divergindo noutros. Na verdade, recusando a
unidade de pensamento e entendendo a Educação como fenómeno aberto, sujeito a
vários tipos de abordagem, perpassado por múltiplas correntes de pensamento, esta
revista afirma-se pelo respeito à realidade dos diferentes contextos educativos, formais
ou informais, construindo sobre eles a pluralidade de abordagens e a abertura a diversos
modos de pensar a Educação.

A Revista pretende veicular uma linha editorial marcada pelo compromisso com
os valores estruturantes da democracia, nomeadamente com a liberdade de pensamento,
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com o respeito pela igualdade cívica entre todos os cidadãos, com a responsabilidade das
opiniões expressas e com a tolerância e respeito pelas ideias dos outros, colhendo da
História das Ideias o sentido da humildade, por reconhecer que o que hoje se afigura
como irrelevante pode constituir amanhã assunto de primeira linha nas questões
educativas, sendo o contrário também verdadeiro.
Aberta aos grandes temas da actualidade educativa nacional, pretende constituir-
se como ponto de encontro e fórum de debate das diversas tendências que a atravessam e
que, de algum modo, lhe fornecem configuração específica. Embora eventual - mas
desejavelmente - controversa, pretende ser um espaço de rigor e de exercício responsável
de opinião fundamentada. Quer ser também uma fonte de divulgação da investigação
educacional que se vai fazendo, principalmente no nosso país e, dentro dele, na nossa
região e na nossa universidade.
Procura ainda divulgar o pensamento e a obra de pedagogos contemporâneos,
destacando os portugueses, levando-os junto de um público do qual habitualmente se
encontram afastados, por falta de informação acessível. Na verdade, muitos dos nossos
melhores pensadores contemporâneos em Educação são apenas conhecidos nos círculos
académicos. Ora é importante que se quebre esse isolamento e se faça chegar até ao
cidadão comum, a voz autorizada de quem investiga, faz e ensina – numa palavra, vive –
a Educação. Essa vivência faz-se de muitos modos e de várias perspectivas, mas é a
diversidade que permite a escolha e a acção coerente com ela.
De periodicidade semestral, a revista apresentará uma estrutura regular que
compreende cinco secções. A secção «Artigos», a primeira, reúne trabalhos originais de
colaboradores nacionais e estrangeiros, dispostos por ordem alfabética, que focalizam e
problematizam diversamente o tema proposto para cada número da revista. Esta
concentração de textos cria um espaço dialógico estimulante sobre a situação da
educação. Segue-se a secção «Vária», mais flexível, que acolhe um número reduzido de
textos marginais ao tema escolhido, mas cujos autores manifestam interesse em
colaborar com a revista. Possibilita-se, deste modo, evitar a pressão redutora do assunto
único e garantir a abertura à comunidade dos investigadores que, por diversas razões,
não tenham disponibilidade para se ajustar à especificidade das temáticas propostas. A
terceira secção – «Vozes com história(s) na Educação» – põe em evidência pessoas,
nacionais ou estrangeiras, para, através delas, dar conta da concretização de projectos
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educativos e dar visibilidade a centros de reconhecida vitalidade investigativa. Importa


criar referências e estimular a criatividade ao nível das estratégias e metodologias. A
secção «Recensões» visa publicitar e apresentar obras recebidas no Centro como oferta,
ou consideradas relevantes e inovadoras para a área da educação. Finalmente, a secção
«Agenda» regista e informa sobre a realização de eventos no âmbito académico, ou não,
que, no seu conjunto, se inscrevam como significações positivas para a educação.
Solicita-se, desde já a todos os leitores o envio de notícias e informações sobre eventos
futuros considerados merecedores de divulgação. No final de cada número
apresentaremos o sumário da publicação seguinte, antecipando ao leitor os diferentes
motivos de interesse que nele poderá encontrar. Todo o seccionamento procura ser
coerente com a intencionalidade subjacente ao projecto editorial da revista, ou seja,
constituir-se como um fórum aberto ao debate de questões que afectam directamente a
educação e comprometer-se com a circulação de temas e problemas.

A empresa a que nos lançamos foi encorajada e acarinhada por muita gente, a
quem queremos manifestar, publicamente, a nossa gratidão. Em primeiro lugar, a todos
os colegas, nacionais e estrangeiros, que acederam pertencer ao Conselho Científico e a
quem caberá a espinhosa tarefa de referee, relativa à qualidade científica dos artigos
enviados. O seu nome constitui, por si só, um garante de qualidade e de rigor da
publicação. Em segundo lugar, a todos os colegas do Conselho Redactorial que
assumiram o compromisso de alimentar a revista com o seu labor e o seu esforço.
Finalmente, a todos os que, desde os funcionários aos dirigentes, sempre acreditaram
neste projecto e na possibilidade de lutar, com sucesso, por um lado, contra o marasmo e
a inércia em que fomos sendo envolvidos e nos fomos envolvendo e, por outro, contra a
arrogância e a displicência com que tentam, tantas vezes, tratar-nos. A todos, o nosso
Obrigado! Sabemos que podemos contar convosco; podeis estar certos de que tudo
faremos para não vos desiludir.

Neste primeiro número, escolhemos como tema principal de reflexão e debate a


política educativa seguida no nosso país nos últimos anos. Talvez nunca se tenha falado
e escrito tanto de Educação e talvez, por isso mesmo, todos parecemos confusos e presas
de interesses contraditórios, quando não mesmo, contrários. Ao questionarmo-nos sobre
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as linhas orientadoras para a Educação dos nossos jovens nos últimos 5 anos, por
exemplo, ficamos perplexos com a dificuldade em encontrar uma resposta clara e
coerente – não interessa se aderimos ou não a ela – sobre a nossa realidade. Basta
pensarmos, ainda a título de exemplo, na última reformulação curricular, para
encontrarmos as mais diferentes interpretações dos textos oficiais, dentro dos próprios
serviços do Ministério. Na verdade, mesmo que os responsáveis políticos sejam da
mesma força partidária ou de forças partidárias coligadas para o governo do país, as
decisões educativas que deles dimanam reflectem a falta de debate, fundo e profícuo,
dentro de cada partido de governo sendo, não raras vezes, um apanhado de frases feitas e
lugares comuns, onde pretendem que todos se reconheçam, para uma maior adesão.
Contudo, sabemos já todos que raramente o que parece é! Por isso, para este primeiro
número, pedimos a todos os responsáveis políticos pela Educação dos últimos 5 anos,
um testemunho da sua vivência governativa e as linhas essenciais do seu pensamento
educativo. São todos personalidades ilustres, com provas dadas na política. Quase todos
a quem pedimos, aceitaram, generosamente. Lamentavelmente outros recusaram dar o
seu contributo.
Os textos recolhidos começam a ser publicados neste número e terão a sua
conclusão no próximo. Esperemos que todo o conjunto de informação possa produzir um
debate sobre os caminhos para a Educação em Portugal nos próximos anos e leve à
concretização dos projectos educativos aprovados que tardam a ser cumpridos – a Lei de
Bases do Sistema Educativo foi aprovada em 1986 e ainda se encontra por implementar
em aspectos importantíssimos do seu articulado. Pretendemos, deste modo, contribuir
para um debate que reputamos de urgente, sobre a Educação e, seguindo o pensamento
dos nossos colaboradores, promover, se tal se vier a verificar como merecedor do
interesse da comunidade, um grande Encontro Nacional para discutir os rumos para a
Educação. O assunto parece-nos de tal forma pertinente que, a nosso ver, é necessário
um pacto de regime para a Educação. Se realmente acreditamos que o futuro passa
obrigatoriamente por aí, então não se compreende as reticências e, por que não dizê-lo, o
desleixo que o assunto tem merecido das forças partidárias. Na verdade, a ilação que se
pode retirar dos acontecimentos dos últimos anos, parece ser a de que cada partido está à
espera que o outro “erre” (isto é, não faça o que, em seu entender, pode e deve ser feito)
para poder, então, apresentar-se como uma força messiânica, capaz de inverter situações,
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corrigir erros e fazer milagres. Tudo isto para já, ou, quanto muito, para amanhã,
ignorando especificidades de contexto e desaproveitando o que outros fizeram de bom ou
de razoável, numa vaga populista de ideias, no mínimo, saudosistas, forçando um back to
the bases, tantas vezes esvaziado de sentido.

Num momento em que tudo parece estar em aberto no campo educativo faz
sentido a inauguração deste espaço de debate e compromisso.

Vítor Manuel Trindade

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