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Martin Amis defende cabines de eutanásia e origina

vaga de críticas
Por Joana Amaral Cardoso

http://jornal.publico.clix.pt/noticia/27-01-2010/martin-amis-defende-cabines-de-
eutanasia-e-origina-vaga-de-criticas-18670140.htm

Martin Amis é um indefectível agente provocador: depois de quezílias sobre o islão, o autor
de Cão Amarelo e Koba, o Terrível defendeu este fim-de-semana que o envelhecimento da
população cria condições para uma futura guerra civil e que devia existir "uma cabina em cada
esquina" para fins de eutanásia, em que seriam entregues "um martini e uma medalha".
Defensor da eutanásia, Amis reflectia em entrevista ao Sunday Times sobre a morte do seu pai
adoptivo e da escritora Iris Murdoch, que sofria de Alzheimer. "Devia haver uma saída para
pessoas racionais que tenham decidido que o seu tempo terminou. Devia ser algo acessível e
fácil." Mas usou termos menos ortodoxos ao falar sobre o envelhecimento demográfico e as
suas previsões para a sociedade britânica 2020: os mais velhos serão um insustentável
"tsunami prateado", referindo-se ao grisalho dos cabelos; "vão ser uma população de dementes
muito velhos, como uma invasão de imigrantes terríveis, a empestar os restaurantes e os cafés
e as lojas. Imagino uma espécie de guerra civil entre os velhos e os jovens dentro de dez ou 15
anos", disse.
A ideia de "cabinas de eutanásia" lançou polémica no Reino Unido, com as organizações pró e
antieutanásia, bem como associações dedicadas a doenças demenciais, a criticar os termos
usados. Martin Amis, concluem, está a prejudicar a causa em que tanto acredita pela forma
como a colocou.
O escritor tem um novo livro no prelo, The Pregnant Widow. E o facto leva a escritora Joan
Brady, a primeira mulher a receber o prémio Whitbread, a acusar Amis de "trivializar um
assunto de tal magnitude só para acicatar um livro". "Como é que um homem pode prostituir-se
desta maneira?", perguntou-se a escritora no Guardian de ontem. A norte-americana, cujo
marido morreu de uma doença degenerativa, considera que "a frivolidade de Amis deixa os
defensores da eutanásia - gente séria e bem pensante - expostos ao ataque de que nada
sabem sobre a morte, que a vêem como uma coisa saída deum anúncio de TV". A organização
pró-eutanásia Dignity in Dying frisou que a sua causa é em prol "de uma mudança legal e não
sobre a introdução de "cabinas de eutanásia" nem uma antecipação de um
"tsunami prateado"".
Segunda-feira, numa sessão de perguntas sobre um livro seu, Amis reiterou que estava a falar
a sério, mas assumiu que as cabinas "são uma utopia", ainda que fossem capazes de fornecer
"um serviço público".

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