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Boletim Geografico Ano III | OUTUBRO DE 1945 | Ne 31 Editorial Uniformizacaio da Cartografia Brasileira Na_sua reuniao do dia 20 de agésto ultimo, o Diretério Central do Con-— selho Nacional de Geografia aprovou importante Resolugéo, que recebeu o n2 199, aprovande as Convengées Cartogréficas para os mapas na escala de 1:500 000. Trata-se da primeira etapa duma alentada campanha que o Conselho deliberou empreender, qual seja a da uniformizacéo da cartografia brasileira. B indiscutivel o mérito e indubitével a oportunidade de tal campanha, que viré proporcionar aos cartégrafos brasileiros usarem, nos seus desenhos, a mesma expresséo fratica, em uma demonstragéo de profundo e evidente signiticado culturei. Demais, estudadas com apuro e cuidado as notmas unificadoras, gracas ao concurso dedicado e esclareciio dos melhores especialistas no assunto exis- tentes no Pais, péde o Conselho tancar A uniformizagéo cartogrética critérios © simbolos, de acérdo com os mais moderncs métedos ¢ usando moles em condigées de se ombrearem com os adotados nos meos geogréticos mais adiantados do Mundo. Em etapas a serem vencidas em futuro préximo deveré 0 Conselho decidir stbre aspectos outros a cartografia nacional, & medida que se ulti- marem os «inudentes estuds: curso: as convencées para a carte ao milio- nésimo, x acérdo com as cor 'engdes internacionais da Carta do Mundo, com as dovidas atualizagées e as necessérias adaptacGes ao caso bras ory BOLETIM GEOGRAFICO convengées para os mapas topogrdficos, na dependéncia do pronunciamento do emérito Servigo Geogratico do Exército; as convengées para as cartas geo- légicas, mineralégicas e petrogedticas, cujos estudos se realizam cooperativa- mente, sob a orientagdo esclarecida do conceituado Servico Geolégico Federal, 6rgG0 do Ministério da Agricultura. Posteriormente, os aspectos restantes da cartogratia geral e especializada serio devidamente considerados; e assim, concluiré 0 Conselho Nacional de Geogratia o “Plano Nacional de Unitormizacéo Cartogréfica’, previsto no seu programa de trabalhos e que constituiré sem dtvida um dos maiores servicos prestades pela instituicao. CuHRISTOVAM LEITE DE CASTRO Secretério-Geral do Conselho Nacional de Geogratia Comentario Pesquisas Geograficas Prenne Monseia Da Universidade de Sto-Paulo © desenvolvimento dos estudos geograficos brasileiros que se esbocara em S4o-Paulo quando da fundacdo da Universidade, intensificou-se @ medida que, no Rio-de-Janeiro, o Conselho Nacional de Geografia desenvolvia suas atividades. Estas sio muito numerosas para que se possa enumeré-las na integra, mas sio particularmente felizes no que concerne a cartografia; a campanha empreendida pelo ativo secretério do C. N. G., Eng.° Leite de Castro, para a elaboracao de um novo mapa de 1: 1 000 000 j& deu bons resultados; éste ato do Conselho Nacional de Geografia é bem secundado pelos servicos especializados dos diversos Estados, entre os quais o de S4o-Paulo brilha com um fulgor incontestével. Uma outra prova do 6timo trabalho realizado pelos funcionarios do Conselho Nacional de Geografia é encontrada nas publicacdes como 0 Boletim mensal, de grande utili~ dade e a Revista Brasileira de Geografia; éste periddico, enfim, faz com que o Brasil figure em lugar de destaque na biblfografia geografica internacional nao s6 por sua apresent excelente como pela qualidade dos artigos que publica, quase sempre de grande valor. & ainda preciso acrescentar ao ativo do C. N. G. nfo sdmente o apoio precioso que dispensa as excursdes geograficas universitarias como ainda & realizac&o de trabalhos in-loco realizados por seus proprios funcio- nérlos: éstes séio freqiientemente licenciados formados pela Faculdade Nacional de Filosofia cujo ardor e boa vontade sao inteligentemente aproveitados pela administragéo. Dols. déles foram encarregados em 1943 de uma pesquisa no vale do Sao-Francisco; outros viajaram na zona do rio Doce e do Estado do Parana e se os créditos Ihe permitirem, o secretario do C. N. G. tem a firme intencao de multiplicar os estudos diretos. & indiscutivel que é neste terreno que h4 mais o que fazer: aumentar os estudos regionals, realizados dentro dos moldes dos métodos modernos da Geogra- fia. Se se compara a bibliografia geografica nacional com a de outros paises novos, nos quais as condigdes de trabalho eram freqiientemente tao e mesmo mais dificeis, fica-se chocado Pe pequena representacdo das monografias geograficas bra- sileiras. A deficléncia 6 muito menor em geologia ou mesmo em botanica. Tam- bém nao faltam artigos jornalisticos ou literdrios que nada tém de cientifico sendo @ apresentagfio de seus autores. Mas, as monografias regionais sio raras. & entretanto’no quadro da regido que melhor se entra em contacto com & realidade: a complexidade das relagdes entre os grupos humanos e as condicdes naturals aparece em maior destaque que em golpes de vista de conjunto. O estudo é essencialmente analitico, tratando sucessivamente dos diferentes aspectos fisicos e depois dos fatos humanos; nao se limita a uma descricdo séca e néo exclui uma conclusio onde fér possivel trazer a luz o ajustamento ou, ao contra- rio, o desajustamento entre as condigdes geograficas permanentes e o estado atual das atividades humanas. Bste modo de trabalho apresenta duas vantagens: a primeira é a de travar um contacto mais intimo com o concreto, o que constitul a melhor escola desejavel para o principlante e o freio mais s6lido para os espi- ritos avancados; a segunda, é a de reunir uma documentacao s6lida suscetivel de permitir uma apreciac&o exata dos verdadeiros problemas da zona estudada, podendo, em conseqiiéncia, a pesquisa clentifica adquirir uma utilidade pratica. Sem divida a matoria dos leitores se surpreendert com essa tltima afirmagio, pois a lel comum é a de guardar uma detestavel lembranca dos cursos de Geogra- fla que tiveram no gindsio... Mas, é que hé um abismo entre aquéle ensino de outfora, ou mesmo ainda hoje, o ensino de professéres improvisados, e 0 que 80 a6 BOLETIM GEOGRAFICO tornou a ciéncia geografica. Em um grande niimero de paises, a Geografia nfio sdmente uma matéria a ensinar e os trabalhos dos gedgrafos se destinam a fins Prticos: basta ver como as administragdes americanas, civis ou militares, fizeram apélo aos geégrafos desde que os Estados-Unidos entraram na guerra ou a con- sulta de uma bibliografia dos trabalhos efetuados na Rissia; seguem, ainda, com ateng&io a atividade de certos gedgrafos ingléses, suas publicagdes intituladas land ocupation in... —, relativas a diferentes paises e as discussdes da Royal Geographic Society, relativas a renovacdo da agricultura britanica, aos problemas da industria e as questdes da populacdo. Em todos ésses paises, onde ha j4 muito tempo triunfou a concepg4o moderna da Geografia, onde o ensino nas escolas de todos os graus é ministrado por professores especialmente preparados € posto de acérdo com as idéias novas e a pesquisa é encorajada, a Geografia fol cha- mada para render os melhores servicos. & certo que a realizacdo dessas mot.ografias regionais nem sempre é€ facil: requer um certo conhecimento dos principios e dos métodos de trabalho geo- grafico a fim de poder comecar por bem colocar a regido que se pretende anali- sar. A principal dificuldade reside, sem diivida, na_escolha da regiao e em sua delimitacdéo. Poder-se-ia classificar de ideal a porgéo do globo que é tao indivi- dualizada pelo conjunto de suas caracteristicas fisicas, natureza das rochas, formas de relévo, clima, vegetacao, a ponto dessas lhe conferirem, por st sés, uma unidade indiscutivel; esta unidade se concretiza na paisagem que se opde em todos 0s seus aspectos e mesmo quase brutaimente aos dos territérios vizinhos. Fre- qientemente, gracas a essa homogeneidade dos fatéres fisicos, » povoamento & antigo e as atividades humanas encontraram muito cedo um quadro natural no interlor do qual atingiram rapidamente sua plenitude. A uniao do homem e da natureza é, nesse caso, bastante desenvolvida para que a reglao no seja somente “natural”, mas também histérica: 6 um pays, retomando a terminologia espon- tanea dos camponeses franceses (ou de outras populagdes européias: o gau germanico) . ~ As monografias relativas a essas unidades naturais bem definidas constitui- ram os principais objetivos de pesquisas dos gedgrafos franceses da escola de Vidal de la Blache: teses de doutoramento scbre a Flandres, sobre o Bas-Maine, alguns vales alpinos (o Olsan), etc. As terras paulistas oferecem exemplos idén- ticos, mas que ainda esperam por seus gedgrafos: o vale do Paraiba, o Itorai, a serra do Mar; e no imenso Brasil, desde as coxilhas até Marajé, passando pe!a balxada fluminense, o vale do Sao-Francisco, o Pantanal matogrossense, assuntos no faltam. As dificuldades surgem quando os caracteres fisicos sio mais com- plexos, os limites menos precisos e as nuances mais diversas. No Estado de Sio- Paulo, por exemplo, hé uma regido cuja unidade topografica nfo pode escapar @ quem quer que observe 0 mapa orogrdfico; a que se estende desde a frontetra com o Estado do Parana, nas redondezas de Itararé. indo como um vasto cres- cente em direeaio ao norte, além de Case Branca. A altitude geral é menos ele- vada que nas zonas vizinhas, montanhas de nomes diversos, ramiticacées da Man- tiqueira ou da serra do Mar’e planaltos do interior. As elevacdes nao sao inexis- tentes, mas os contrastes ndo atingem ai a mesma escala da da zona montanhosa Essa regido muito cedo atraiu os homens por suas facilidaae ; de comunicacio, as estradas e em seguida as idades ai se fixaram. Mas, em um conjunto topogra- fico, quantas variedades regionais para distinguir! Néo se poderla considerar como formando uma unica e mesma unidade regional os campos de Itapetininga, as manchas de terra roxa de Limelra, Araras, as terras.de vocoroca da Casa Branca, as grandes densidades das regides de cultura da cana e de policultura e as fracas concentracées das proximidades do Parané. Todo.o complexo J0g0 das condicées naturais, natureza das rochas e dos solos, variagoes de clima e, sem duvida algu- ma. também a acéo das contingéncias ‘histéricas (antigiiidade, importancia e constAncia do poyoamento), contribufram a esclarecer as razdes de ser dessas nuances (ocais: é necessétio entretanto as precisar e tracar tio exatamente quanu possivel os limites de cada palsagem. Consideremos ainda um outro exemplo, em uma outra zona do Brasil, o famoso macico nordestino da Borborema. fsse bloco macigo, que domina tanto @ tranye titoranea quanto o sertao do interior, se individualiza fortemente na peisagem por sua altitude. Se bem que politicamente dividida do norte ao sul, desde « Rio-Orarde-do-Norte até Alagoas, pussando por Paraiba e Pernamb:co, a Borborema tem ume verdadeira divisdo geografica (ou seja, a verdadeira divi- COMENTARIO a s6o, a que é concreta e nfo arbitrarla), de este para oeste € preciso distingulr varias sub-regides: a este, a zona dita do brejo, cuja extenséo nfo é provavel- mente a mesma em todos os Estados mas que, de manera geral, corresponde & vertente oriental e a0 cume. £ 0 bon pays, como diriam os camponeses franceses, bem irrigado, fresco e verde, permitindo a policultura, capaz de suportar densi- dades bastante fortes e mesmo recolher os retirantes nos anos catastréficos. & completamente o oposto da vertente ocidental, séea, pedregosa, regifio de criacio, uma das mais sécas de todo o Nordeste semi-Arido.’ Quanto ao planalto, néo tem Seh.pre 0 mesmo aspecto e difere de norte a sul. Falar da Borborema como um todo, 6 possivel para simplificar o ensino no curso primério, mas é uma maneira de ver muito simplista para ser admitida pela ciéncia e uma administracéo inte- ligente, Ainda ai o trabalho do gedgrafo ¢ 0 de distinguir oposicées e nuances e, depois do exame fisico, situar em seus quadros exatos os fatos de ocupagéo do solo e os problemas humanos, So unidades regionais désse tipo que foram analisadas pelos geégrafos fran- ceses como Faucher e Georges (duas teses de doutoramento sobre as planicies e ‘as bacias do baixo e médio Rédano) e Demangeon (a Picardia e as regiées vizi- nhas) . Entretanto, exemplos precedentes correspondem a situagdes relativamente simples, e também relativamente excepcionais. & preciso pols considerar 0 caso em que o problema da fixacio e da delimitagdo da regiao se coloca com maior complexidade. ‘Os exemplos citados parecem admitir que as atividades humanas se adaptam sempre perfeitamente a0 quadro natural; estado ideal na concepedo de uma Geografia estreita, mas que nem sempre é realizada. Se assim fdsse, o gedgrafo poderia raciocinar como outrora o fazia Cuvier, ao qual bastava um tinico frag- mento de osso para reconstituir um animal: um unico pedago de rocha, uma cota de altitude e um grafico climtico seriam suficientes para se descrever em segulda o povoamento e a economia da regio. & fazer multo pouco caso dos homens e de suas paixdes. Assim, no conjunto dos planaltos do interlor paulista e do norte do Parana, os elementos nao oferecem nunca contrastes multo mar- cantes: no conjunto, nao é impossivel de os considerar como formando uma regio natural. Por outro lado, os modos de ocupagio do solo séo multo mais varlados e, sobretudo, evoluem rapidamente. Em conseqiiéncia, torna-se mais dificil basear-se nos limites fisieos e nesse caso, como em muitos outros, a pes- quisa deve partir dos fatos humanos. ‘Ainda aqui, a biblografia geografica francesa pode fornecer modelos interes- santes: cltem-se as teses de Jules Sion sobre os camponeses da Normandia orl- ental, de Deffontaines (os homens e seus trabalhos na regiao do médio Garon- ne), de Cavaillés (a vida pastoril e agricola nos Pirineus 2 Gaves, Adour € Nestes). O volume que o Prof. Gilbert consagrou a “la Puri de Bourgone et Alsace” é especialmente interessante porque trata de uma zona cuja unidade reside no contacto de varias regides naturais e, por conseguinte, na fun¢do his- torica de via de passagem. Diante da variedade das unidades territoriais que se pode escolher com base, & pols indispensével comecar por dedicar o maior cukiado & sua escolha e & sua delimitacio. Para cada Estado do Brasil, foram fixadas divisbes fislograficas, trabalho de grande valor, que foi objeto de um excelente artigo do Prof. Fabio Macedo Soares Guimaraes. Mas nao é ainda um ponto de partida e em muitos pontos seria preciso proceder a uma revisdo ou, em iltimo caso, atingir uma fator preciséo. De mais 2 mals, a divisdo fixada pelos servicos administrativos no é ainda sendo fislografica, isto &, nao pretende corresponder a uma divisio humana; donde, mesmo aceltando essa divisio como ponto de partida (o que me parece vidvel) restar ainda um grande trabalho a realizar. # um campo de pesquisa quase inesgotdvel que temos & nossa disposicio. ‘Notar-se-4 que os referidos quadtos nfo séo quadros administrativos, limites de Estados ou de municipios. N&o porque seja necessério os repelir sistematica- mente, mas porque, na maioria das vézes, as fronteiras politicas concordam mal, quer com os limites fisicos, quer com os contactos histéricos ou econdmicos. Limitar-se @ priori aos quadros politicos seria arris.xr a perder de vista a reall- dade, e por conseguinte, chegar a conclusdes praticas erradas. Entretanto, por falta’ de trabalhos efetuados levando em considerecio as unidades naturals ow antropogeograficas, as monografias municipals «*-"scem um grande interésse. 18 BOLETIM GEOGRAFICO Um colaborador da Félhq da Manhé tinha plena raz&éo em lamentar, ha j4 algum tempo, 0 pouco entusiasmo apresentado na participagéo do concurso aberto pelo Diretério Regional de Geografia e a0 mesmo tempo pelo Conselho Nacional de Geografia. Bsse pouco entusiasmo mostra que todos aquéles que se interessam pe- Jas pesquisas geograficas deverlam coordenar seus esforcos, em lugar de trabalhar isoladamente. O colaborador da Félha frisava, com razio, o que se poderia en- contrar em boa vontade e colaborago no interior. Freqiientemente, no decorrer de minhas viagens de estudo, encontre! informantes que eram perfeitos conhe- cedores de seus pequenos rincées e que nfo eram desprovidos do senso critico necessério a uma pesquisa séria: seriam suscetivels de fornecer contribuicdes preciosas. Mas para isso é preciso que se sintam encorajados, e de todos os modos Possivels. Atualmente nao se tem o direito de solicitar trabalhos puramente gratuites. Do mesmo modo, nfo ha interésse em deixar-se empreender sem orlen- tagao precisa estudos que se arriscam a nao ser bem tratados quanto o poderiam ser. A colaboragdo é 0 unico processo indicado para que essas emprésas sejam frutiferas para todos. Ao lado das pesquisas regionals, restam ainda muitas outras a realizar, onde © ponto de vista do gedgrafo no seria intitil. Poderla ser a Geografla Urbana, que conheceu um extraordinario desenvolvimento tanto em Franca quanto nos Estados-Unidos; alguns dos alunos da Faculdade de Filosofia, Cléncias e Letras da Universidade de Sao-Paulo realizaram varias pesquisas bem desenvolvidas sdbre cidades.como Santo-André, Casa Branca, Franca, Campinas, Jabuticabal, Belo-Horizonte. & bem pouco, em relacéo com o que resta a fazer ou mesmo refazer, pois algumas dessas cidades j4 passaram por transformagées depois de 1938 ou 1939. Em um pais onde a populacao é distribuida tao desigualmente e onde esté em perpétuo deslocamento, ha uma série de problemas relativos as densidades, & evolugdo do volume des habitantes em unidades territoriais pre- cisas, & distribuic&o de elementos exdgenos. Mapas organizados segundo o recen- seamento de 1940 e concernentes As densidades de populacdo nos diferentes Esta- dos do Brasil, com andlises mais precisas para o Estado de Si0-Paulo, tornam mais tangivels fatos freqiientemente ignorados: por exemplo, 0 desequilibrio que se acentua entre as diferentes zonas paulistas. Essas representagdes cartograficas constituem complemento indispensdvel dos recenseamentos e devem ser efe- tuadas de acérdo com as anilises estatisticas. Poderia se dizer » mesmo das pesquisas de Geografia Econémica, que sao ainda raras no Brasi. Nao que faltem artigos de revistas ou mesmo livros con- cernentes 4s quest6e: ucondmicas e tratando dos diferentes produtos nacionais. Mas, a maioria déss Ciéncias de Paris, resol- veu fazer uma experiéncia definitiva, medindo 2 arcos de meridiano em lugares de latitudes muito diferentes, nas proximidades do pélo e do equador. ‘Acolhido favoravelmente o projeto por Maurepas, ministro de Luis XV, fo- ram organizadas dues memoraveis expedigées, a do Norte, integrada pelos aca- démicos Maupertius, Clairaut, etc., e a do Sul, pelos académicos Bonguer, Lacon- damine, Godin. etc., que deram ‘definitivamente o triunfo a Newton. Tais foram os primeiros trabalhos geodésicos do mundo que resolveram 0 problema apresentado muitos séculos antes pelos sdbios da antigiildade, sdbre a figure e as dimensoes da Terra. © valor do grau encontrado na LapOnia, exigla uma revisio dos trabalhos de Cassini, e foram comissionados para leva-la a cabo Cassini de Thury e La Callle, sob os auspicios da Academia de Ciénclas, de 1730 a 1740, designando tals trabaihos com o nome de “o meridiano verificado”. ‘Uma vez iniclados os trabalhos geodésicos, era dificll que nfo continuassem, dada a importancla que tinham para fazer bons planos e para resolver os novos problemas que se iam apresentando. E assim fol, com efeito, pois em 1750-55, mediu-se nos Estados da Igreja, en- tre Roma e Rimini, o arco de Maire e Boscowich, de 2° e 10’ de amplitude, com uma latitude média de 43°01’. ‘vem depois os dois arcos de Lieseganin (1750-65) na Austria, entre Waras- din e Brinn de 2°55’ de amplitude, com lstitude média de 47947"; e o da Hungria entre Czurock e Kisteleck de 1°02' de amplitude, com latitude média de 45°57’. # ae grande interésse o arco de La Caille (1750-63), pelas discussées a que deu lugar, pols a extensio ercontrada era bastante maior do que a que deveria ser, dada’ latitude; e naturalmente velo a duvida se a forma da Terra seria a mesma no hemistério norte que no hemisfério sul. ‘A sua, amplitude era de 1°13’ com latitude média austral de 33°19’, e tinha um érro de 8” por causa de um forte desvio da vertical na extensio astronémica do norte; mas a principio se acreditou que ere exata, dada a reputacio de La Calle. ‘A medida de arcos de um meridiano continuou aumentando com 0 arco de Becaria no Plemonte (1759), de 1°08’ de amplitude na latitude média de 44°57 e com o arco de Mason e Dixon na Pensilvania e no Maryland (1754) de 1°20' de amplitude com latitude média de 39°12’, cuja extens&o fol determinada medin- do-se diretamente sébre 0 solo. ‘Até aqui tinham sido medidos arcos de pequena amplitude; mas em margo de 1791 fol aprovado pela Assembiéia Constituinte da Franca o projeto apresen- tado por varios membros da Academia de Clénclas de Paris, entre os queis figuravam Laplace e Legendre, para que se aceltasse como padrio nacional de medida, com o nome de “metro” a décima milionésima parte do quadrante do meridigno terrestre; e se reslyeu medir o arco de meridiano compreendido entre Dunkerque a Barcelona, que teria uma amplitude de 9°40°, dos quais 6 caiam 0 norte de latitude média de 45°. ‘A parte norte do arco fol encomendada a Delambre e a do sul a Mechain, tendo comecado os seus trabathos em junho.de 1792, que serviram de funda- mento ao sistema métrico decimal, estando em todo'o seu desenvolvimento a Revolugéo Francesa. Foram medidos os fngulos de todos os triangulos com 2 circulos de repeti¢io construidos por Lenoir, e a base com duas bi-metdlicas postas uma em cima da outra, formando um termémetro metdlico, a inferior de platina e a su~ Perlor de cobre. Todo o equipamento fol construfdo por Borda, e a sua extenséio fol encontrada comparando-s com a toesa-tipo que serviu aos primeiros acadé- talegs que foram & Lapinia e ao Peru, ¢ que esta conservado no Bureau de Com os noves aparelhos, os trabalhos geodésicos 4 tinham conseguido grande preciso. ‘Ao ser publicada em 1838 = grande obra de Bessel, comegou uma nova era para a cléncia geodésica, pols o livro ers um modéio de precisio, da mesma forma que os trabalhos néle baseados. 94 BOLETIM GEOGRAFICO Bessel e 0 Gen. Bayer mediram um arco obliquo; mas como o referido arco equivalla 2 um de meridiano combinado com outro perpendicular a éste, dedu- ala-se a curvatura da superficie nas seccdes principais, podendo-se determinar os valores dos semi-eixos. Até a época de Gauss e Bessel cada calculador discorria com critério proprio como se empregariam e aproveltariam melhor os 4ngulos excedentes medidos nas trlangulagdes que executavam; mas o principio dos minimos quadrados demons- trou que @ cada Angulo observado poder-se-ia aplicar um sistema de correcses que harmonizasse todo o trabalho. © céleulo dos erros provavels serve para dar uma idéla. das precisdes alcan- gadas em todos os métodos de observacao, e, Inversamente, € possivel indicar 0 miimero de observagées’ necessrias para conseguir determinada precisio. ©, ano de 1824, em gue Gauss efetuou pela primeira vez, a compensacho de duas rédes geodésicas, é uma data memoravel na historia da Geodésia. Qs trabalhos geodésicos no mundo continuaram a ser feitos, medindo-se arcos de meridiano e de paralelo, néo s6 com o objetivo de determinar a forma e as dimensoes da Terra, mas também para que servissem de apoio A construgao de cartas geogréticas, tio necessarias nas nagoes clvilizadas, em imitag&o & Franca na construgéo da Sua carta geografica na escala de 1:80 000. Na Alemanha, Gauss, Bessel e Bayer, executaram importantes trabalhos que séo a origem do desenvolvimento da Geodésia alema. Na Africa Austral, Macler, diretor do Observatério do Cabo, reviu e prolon- gou, de 1840 a 1848, o arco de La Caille, desde a latitude sul de 34°21' até a Tatitude de 29°44”, com uma amplitude de 4°37’, com latitude média de 32°08". As triangulagées inglésas e francesas de um lado, e as espanholas e argelinas de outro, permitiram obter-se uma cadela nao interrompida de tridngulos desde as llhas Shetland até o Sara, A amarracio geodésica e astrondmica da Espanha com a Africa, sob a dire- s80 de Tbafiez © Perrier, fot efetuada em 1879 por melo de um quadrilétero, no qual o lado maior tinha’ 270 quilémetros de extensio, tamanho que 86 fol ultra- Passado multo recentemente nos trabalhos geodésicos do Coast and Geodetic Survey. Esta unido teve por objetivo prolongar até o Saara, o arco de meridiano que desde as ilhas Shetland, chegava até Formentera, alcangando assim uma amplitude de 28°, Os primitivos arcos de paralelo tinham o inconveniente da pouca precisio das longitudes, pots eram determinados por signals de fogo; mas, desde que fol empregado o telégrafo em tais determinagées, os arcos de paralelo podem e devem ser usados nas determinacées da forma e das dimenstes da Terra. De-1874 & 1883, a Itdlia reviu a triangulacao sobre o paralelo de Veneza, con- tinuada depois sobre territério austro-hingaro. © Servigo Geografico do Exéreito da Franca reviu de 1903 a 1905 o trecho de Paralelo comprendido entre os meridianos de Paris e Leon. © paralelo de Paris atravessa a Franca de Brest a Strasburg com uma am- plitude de 12°13’, que se fér prolongada até o mar Céspio chegard a 53° apro- ximadamente. arco do paralelo 62° iniciado por Struve em 1857, vai desde Valentia (Ir- Janda) até os Montes Urals com uma amplitude de 68°55’, e uma extenséo linear de 4 730 quilémetros. A triangulacéo que atravessa a Irlanda e a Inglaterra, segue na Bélgica, Alemanha e Russta, e nesta enorme cadela foram feltas 25 estagdes de longitude por meio do telégrafo, convenientemente repartidas. Na India existem varios arcos de paralelos, e o de latitude de 24° se estende desde Karachi até Calcuté com uma amplitude de 21°21"; o do paralelo 18° desde Bombaim até Vizagabatam com uma amplitude de 10°31’; o do paralelo 13° com uma amplitude de 5° 24’ se estende desde Monglare até Madras. Nos Estados-Unidos fol medido um arco de paralelo de 28°08’ de amplitude sbbre o paralelo 39°, que atravessa todo o territério americano do Atlantico a0 Pacifico. Merece Especial mengao o arco obliquo medido pelo Coast and Geodetic Survey desde a baia de Fundy até o gélfo do México, cujos trabalhos foram Publicados em 1901. TRANBCRICOES 938 Deve-se mencionar igualmente o arco de meridiano de 98° de longitude este de Greenwich que vai desde a fronteira mexicana até a do Canad4. Os trabalhos geodésicos dos Estados-Unidos foram estendidos até os Estados de New-York, Ohio, Indiana, Ilinois, Wisconsin, Michigan, New England, sul do Maryland, Estado de Virginia, Carolina do- Norte e Tennessee, compreendendo aproxima- damente 33 Estados da Uniao. As latitudes extremas sao: 48°47’ em Santo Inacio na praia norte do Lago-Superior, e 20°57’, em New Orleans, Louisiana; e as longitudes extremas so 67° 16’ em Calais, Maine, e 124° 24", no cabo Mendocino (California) . © prodigioso desenvolvimento da Geodésia no mundo, deve-se @ Assoclagéo Geodésica Internacional. 44 em 1850 tinham sido medidos muitos arcos de meridiano, e varlas trian- gulacdes cobriam uma grande parte da Europa Central, que se pudessem ser unidas poderiam ser feitas pesquisas do mais alto interésse. Era, pols, necessérla a cooperdeao dos paises civilizados, para lograr a formacao de uma assoclacéo clentifica que tlvesse por objeto oestudo da Terra. Essa fol a idéla do Gen. Bayer, colaborador de Bessel, e ao govérno prussiano coube a honra de sustentar e de levar a cabo tao brilhante idéia. ‘Trés anos depois, em 1864, teve lugar uma reunifo em Berlim e ficou for- mada o que se chamou a “Associacdo da Europa Média” aderiu, e em 1866, em vista dos trabalhos e gastos numerosos que era necessario sufragar, fol formada uma nova instituigéo com o nome de Associacdo Geodésica Internacional, com o manifesto desejo de que todo o mundo civilizado fizesse parte de tao interes- sante agrupamento cientifico. Durante vinte anos, o govérno prussiano manteve o Bureau Central, mas, na nova instituigéo formada, todos os Estados que féssem membros deviam ajudar nos gastos. So assuntos de sua investigacdo, todos os trabalhos geodésicos e os relacto- nados com éstes, como as varlagoes da latitude, determinacio da intensidade do peso, aberragéo da luz, nivel médio do mar, etce. Em 1889 aderiram & Assoclagio Geodésica Internacional os Estados-Unidos, e na Conferéncia de Paris foram representados por N. Davidson, do Coast and Geodetic Survey, o qual, ao detalhar os trabalhos dos Estados-Unidos, enume- rando todos os trabalhos feltos para o estudo da forma da Terra, anunciou que ‘a revisao do arco do Peru tinha sido discutida numa reuniéo em Washington, & qual assistiram varios delegados dos Estados americanos; e se expressou assim: “Acreditamos que convém & Franca fazer tal revisdo, j4 que a ela coube a honra da primeira medida”. A Comissio Geodésica Francesa, reunida em 1889, deliberou que ao govérno francés correspondia executar a medida do novo arco do Peru, numa amplitude de 5 ou 6°, e resolveu empreender tal trabalho; e, para ésse efeito, decidiu mandar dois oficiais para que preparassem tudo que fosse necessdrio, e o ministro da Instrugo Publica concedeu 20 000 francos para os gastos da expedicdo. Os suecos e os russos mostram-se muito ativos, e em 1896, o professor Rosen apresentou Academia de Ciéncias de Estocolmo um projeto detalhado para a medida de um arco em Spitzberg, e no ano seguinte conseguiu que a Academia de Ciéncias de Sao Petersburgo aderisse 4 sua idéia. Calculando uma elipséide de revolucéo pelo método dos minimos quadrados, baseando-se em arcos medidos sobre meridianos diferentes, admitimos implicl- tamente que todos os arcos pertencem a elipses meridianas tendo tédas por eixo menor comum a linha dos pélos, congruentes por rotacéo do seu plano em redor do seu elxo, 0 que nao é rigorosamente exato; por conseguinte, ao aceitar um elipséide de revolucdo calculado, a imica coisa que podemos dizer, é que éste elipséide é a superficie sobre a qual se aplicam, da melhor maneira possivel, os areas considerados de meridianos e parslelos, que servirlam para efetuat 0 caleulo. Os elipscides calculados foram os seguintes: o de Walbeck em 1819, Gehler em 1827, Schmidt (1828-31), Everest (1830-47), Bessel (1837-41), Airy (1849), James e’Clarke (1856), Clarke (1858-63-66), Bratt (1863), Fischer’ (1868), Klein (1869), e por witimo Clarke (1880) . 938 BOLETIM GEOGRAFICO ‘Os mais aceitos silo os de Bessel e de Clarke de 1866. O de Bessel fol det-.- minado em 1841, pela discusséio de 10 arcos de meridiano abrangendo uma ampli- tude de 50°,6 com os seguintes valores numéricos: 1 a = 6377397m; ~—b = 6356079"; achatamento O de Clarke de 1866, fol deduzido da discusséio de 5 arcos: o Inglés, o da tndia, ‘© Russo, 0 do Cabo e o do Peru, abrangendo uma amplitude de 76°,6. 1 a = §378206m; b = 6356584m; achatamento a A Grande Guerra (1914-18) suspendeu todos os trabalhos geodésioos na Europa ‘Associac&o Geodésica Internacional fot destruida. Com o triunfo das Nagdes Unidas sObre os Zmpérios Centrais Julgou-se necessdrlo que os trabalhos clentificos que tinham sido o objeto da Associacdo destrufda pela guerra tornassem a ser empreendidos o mais depressa possivel, e com tal objeto as Nagdes Unidas se feuniram em 1918 em Bruxelas pare formar uma nova organiza¢éo da qual n&o tomariam parte nem os Impérios Centrals. nem as nagdes que permaneceram neutras durante o conflito. Os discursos dos franceses foram candentes, e desejariam aniqiiilar a todos os que no ajudaram na guerra as Nacdes Unidas. A autoridade dos Estados- Unidos e a prudéncia dos seus delegados, que convidavam & conedrdia, aculmaram os Animos, e o eminente sabio americano Dr, William Bowie fés constar que na Rmnerica cnx trabaihos clentificos era indlspensavel contar coma cooperayso do govérno do México, e indicava, pelo mesmo motivo, a conveniéneia de que fosse convidada a Repiblica Mexicana para “1embro da nova assoclacio clentifica nas cente, que se denominou Canselho Internacional Aliado de Investigacées Clentificas. © México acettou, e eu tive a honra de asststir como representante da, minha patria & primeira reunido que se verificou em Roma, no més de maio de 1922, na qual além de dar uma informacdo dos trabalhos feitas do territdrio nacional, que nao foram interrompidos durante a Grande Guerra, e que continuaram apesar da tremenda revolucko social que sofreu o pais nessa época, apresentel 2 medida do “Arco Mexicano”, que abrange uma amplitude de pouco mals de 1° desde a baia de Chacégua no Pacifico até a fronteire nos Estados-Unidos. Em 1024 a nova instituigdc cientifica se reuniu em Madri para discutlr of trabalhos cientificos executedos, e fol felto um apélo a todo o mundo a fim de que féssem membros da referida tnstitutcdo tédas ax nagdes c!vilizadas. Na referida reuntéo em outubro de 1924, foi discutido o novo esferéide ealculedo por Hayford, eminente geodesista americanc, que fol aceito com 8 denominacéo de “Bsferéide Internacional”. Os parimetros aceitos que definem o elipsdide sho: semi-eixo maior (raic equatorial) a = 6378388 a—b 1 schatamento (elipticidads) oc =-——- = —— a 297 Na verdede, Hayfofd deu para valor do semi-eixo menor b = 6356909 metros que difere cérca de 3 metros do que se obtém pelo célculo direto partindo dos par&metros @ e oc , cujo valor 6 6356912, que fol o aceito na Seccho de Geodéala, Bem que por isso deixe de levar o nome do distinto geodesiste americano. Por motivo da adog&o do elipséide internacional, a Secgiio de Geodésia, assim expressa: “Néo se trata de forma-alguma de impor 4s nagdes que j& tenham 43 referidas a outro elipsdide, Telazet oe feu chicdioe pare refert-loe ‘0 novo eaferdide; e s6 se recomenda que se adote o ellpsdide internacional nos TRANSCRICOES ost paises que vdo principiar os seus trabalhos geodésicos, ou em investigagées clen- tificas, e muito particularmente no caso dos desvios da vertical para satisfazer As necessidades da Geodésta superior ao discutir a forma da Terra e suas irre- gularidades locais”. Hayford deu como erros provavels para o semi-eixo (b) + 18m, e para o inverso do achatamento ++ 0.5m. O valor do achatamento é o numero mais exato dos parAmetros do elipsdide; pols o valor encontrado por Helmert! deduzido das observacoes de gravidade 6 1:296.7 + 0.4; 0 obtido por Bowie é 1:297.4 + 1.0 e o de Helskanen 1:296.7 10.5. Veronnet deduziu do estudo da precessio 1:297.12 + 0.38; e Sitter depois de uma discusséo profunda dos trabalhos de Veronnet acelta 1:296.92 + 0.136. @ 8 maior parte do érro provavel deve ser atribuida & incerteza da massa ua. A figura matematica da Terra, ou superficie equipotencial, foi dado o nome de “gedide”, figura irregular, peculiar a0 nosso planeta e que esté definida por ser sua superficle em todos os seus pontos, normal & direcdo da gravidade, direcio definida pelo fio a prumo em cada lugar, e segundo as leis da hidrostatica ¢ claro que a superficie livre das 4guas em equilibrio sera paralela ao gedide. ~ Pode-se também definir a superficie do gedide como sendo a superficie dos grandes oceanos, fazendo-se abstragio do fluxo e refluxo das aguas, correntes, ventos, ondas e'climas. Debaixo dos continentes e das llhas pode ‘ser conce- bida esta superficie prolongada por canais ou tinels ficticios, e a superficie da gua déles ser4 sempre normal & direcéo da prumada, afetando por isso mesmo a forma do gedide. Hayford constituiu as curvas de nivel do gedide, nos Estados-Unidos, no seu primeiro trabalho sdbre a forma da Terra, e encontrou que as discrepAncias do gedide com. relag&o ao elipsdide de Clarke de 1866 seriam como de 38 metros. Lambert aceita que, em casos excepcionais, como no Himalaia e nas grandes fossag oceanicas, podem chegar a 100 e 150 metros. Embora Heiskanen acredite que um elipsdide de 3 elxos se aproxime melhor do gedide, ndo é posstvel que os geodesistas o aceitem devido & complicagio dos cAlculos; e além disso, ainda neste, a mAxima diferenca entre o gedide e 0 elip- sélde pode chegar a 172 metros, e s6 se conseguiria diminuir os valores médios de afastamento, o que absolutamente néo vale a pena. O Dr. Lambert da os seguintes dados numéricos para o esferéide internacio- nal, que também leva o nome de Hayford: Elementos fundamentais do elipsdide de referéncla internacional. a = semi-eixo maior (raio equatorial) = 6 378 388m ob oc =achatamento (elipticidade) = —= 0,008 367 000 34 a 207 Quantidades, derivadas: b=semi-eixo menor (ralo polar) = 6 356 911™,946 a'—b* e? = quadrado da excentricidade 0,006 722 670 0. Comprimento do quadrante do equador = 10019 148m,4. Comprimento do quadrante do meridiano 10 002 238™,3. Superficie do elipsdide 510 100 og4xmt Volume do elipsdide = 1 088 319 780 0ooKm* Raio da esfera com a mesma superficie do elipsdide = 6 371 227m,7, Raio de esfera tendo o mesmo volume do - My 6 371 221m3. elipsdide E= massa do elipsdide 5988 x 10“ toneladas métricas. BOLETIM GEOGRAFICO Relagdo entre a latitude geografica @ e a latitude geocéntrica — ° = 695",6635 sen 2p — 1”,1731 sen 4 @ + 0”,0026 gen 6 p = 695,6635 sen 2g’ — 1,1731 sen 4 @ + 0,0026 sen 6 @ A SU 2 re rt Tw ey y oon mg ; Formulas para intensidade tedrica do péso na si superficie equi-potencial: uperticie do elipséide, suposta > (I + 0,005.288 sen’ 2 — 0,000.006 sen’ 2 g) cm/sec’, — Ye (I — 0,002.637 cos 2 @ + 0,000.008 cos' 2 q) cm/sec’, TRANSCRIGOES 930 Coeficiente da relacéo que liga a diferenca dos momentos de inércia, equa- torial e polar, C — A, a massa E e o raio equatorial a: © — A = 0,001.092 Ea’. Aceitou-se como densidade média da Terra, 5.527. Os arcos meridianos de maior precisio medidos no mundo, séo vistos na figura anexa, devida ao General Perrier. Como € sabido, o esferdide de Hayford é deduzido discutindo-se os desvios da vertical, e como abrange uma grande superficie, o método especial de cél- culo foi denominado por éle “Método das Superficies”, mais exato que o de arcos de meridianos e paralelos.* 3 Ver o trabalho do mesmo autor “Figura y Dimensiones de la Terra”, (RH Amusimente o Consetho Nacional de Geografia realiza um concur de monografias de ‘aspectos geograficos municipals, com direito » prémios. Concorra com os seus estudos keogréticos, seus levantamentos, sua documentacko. Resenha e Opinides A contribuicdo dos engenheiros para a invasio da Europa A revista Engenharia, em seu no- mero de marco do corrente ano, trans- creveu, em sua sesso Stimulas e Recor- tes, um interessante comentario irra- diado pelo Sr. Raymond Gram Swing, e publicado na revista da Sociedade Americana de Engenheiros | Civis — Ctoil Engineering —, sobre os trabalhos realizados pelos engenheiros, para tor- nar possivel a invasio da Europa, na segunda guerra mundial. Pela oportu- nidade que oferece, no momento, trans- Portamos para as nossas paginas, a opiniéo daquele comentarista norte- americano. Para 6le os alemaes per- deram dos aliados porque nao souberam calcular exatamente 0 que os aliados seriam capazes de fazer, ao se lanca- rem ao assalto contra a “Muralha do Atlantico”, bem como os métodos que irlam empregar, para fazer chegar os suprimentos necessarios As praias onde féssem realizados os desembarques. © trabalho do Corpo de Engenhei- ros comecou muito antes da invaséo: pelo menos dois anos antes, quando comegaram a ser preparadas as bases americanas na Gra-Bretanha: mais de cem mil edificios foram construidos, ou adquiridos, em mil e cem cidades, e aldeias, da Inglaterra. S6 para a Forca Aérea ‘Norte-Americana foram cons- truidas vias de comunicacdo equiva- lentes a uma rodovia de concreto, de sels metros de largura, de Nova-Torque a Moscou. Foram os engenheiros que prepara- ram os mapas para a invasio. Desde @ época de Napoledo nao tinham sido feitos mupas do noroeste da Europa, apropriados para operagdes militares. Os engenheiros os preparam nao aos milhares mas aos milhées, num total de 16 milhées, e cem toneladas. Todos ape- nas para a invaséo. Havia mapas de campanha, de 25 polegadas por milha, e outros, ainda maiores, de 12 polegadas por milha, para mostrat com nitidez 6s pontos de desembarque. Havia ma- pas dos perfis das praias, com dados sdbre as marés, de maneira que se Pudesse determinar, 2 qualquer mo- mento, exatamente em que lugar uma barcaca de desembarque tocaria o solo Havia mapas de tal exatiddo, quan- to & distancia e & elevagdo, que torna- Tam possiveis tiros de artilharia, tanto & noite como durante o dia, sem que 0 inimigo os pudesse observar, o cue era considerado praticamente ' impossivel até agora. Foram os engenheiros que fizeram estudos exaustivos das 600 praias, para a escolha das melhores, Para os desembarques do dia da in- vaso. Depois, treinaram os seus pré- prios engenheiros de campanha, em reprodugoes exatas das pralas escolhi- das. Essas reprodugées foram feitas nas costas do Condado de Devon, na Inglaterra, onde os engenheiros’ de campanha se exercitaram v= limpeza das praias, na destruicdo das obstru- g6es debaixo d’4gua, em detonar minas, e em fazer com que o material desem- bareado fésse conduzido rapidamente para o interior. © principal elemento favordvel aos aliados, em 1éda a invasdo, foi a imn- eapacidade dos alemaes em’ calcular o trabalho dos engenheiros para uma distribuigéio ordenada do material e dos soldados, ao longo das praias. Os ale- mes estavam certos de que os aliados precisariam dum pérto de grande ca- pacidade, antes que a invastio pudesse se tornar uma operacdo de envergadu- ra. Sabiam também, que Cherburgo no era um porto aessas condigées, porque em tempos normais podia dar vazao a menos de 800 toneladas didrias, 0 que seria insuficiente para uma unica divisio. “Até hoje, escrevia o comen- tarista, os allados 86 dispéem do pérto de Cherburgo, o que torna admirdvel que possam combater onde atualmente se encontram, continuando a receber os suprimentos de que necessitam através das pralas. Apesar disso, até agora, mesmo com o mau tempo ‘oca- sional, as férgas aliadas nunca se sen- tiram_sem o equipamento necessario”. ‘So os engenheiros os construtores de estradas e de pontes. Para éles nada representa fazer uma estrada de meia milha de extensio em duas horas, ou para um tnico homem, com uma esc vadora, remover mais ‘do que o pod riam fazer quinhentos homens, com P&s, no mesmo espago de tempo. Os engenheiros preparam planos detalha- dos para a construg&o de todos os por- RESENHA & tos, ferrovias, estradas e servigos de utilidade piiblica, nas dreas atacadas pelos exércitos norte-americanos. Gran- de parte do material, principalmente © necessdrio As pontes e ferrovias, fol encomendado dois anos antes. Madei- ra, ago, trilhos, fios, ferro e material de construgao, tudo produzido de acérdo com especificagées exatas foi reunido na Gra-Bretanha, antes da invasio. Os engenheiros nfo se contentavam ent preparar as pontes para atravessar 0s tios, mas éles préprios organizavam a travessia para as fércas que avanca- vam, usando barcos de assalto e balsas, para depois colocar as pontes, fixas ou flutuantes. Um dos trabalhos que tiveram os engenhelros, fol o da construgéo dos postos pare’ distribuicéo de gasolina ¢ lubrificantes. Quando as forgas avan- gam com uma rapidez tremenda, é pre- ¢iso que os engenheiros as sigam, pro- videnclando para que disponham do combustivel necessarlo. Podem éles construir, em um dia vinte milhas de oleodutos de 4 polegadas de diametro, ou dex milhas de oleodutos de-6 pole- gadas. Nao seria razo4vel se disséssemos ser esta uma guerra de engenheiros, dando a éles tdda a gléria pelo sucesso aleancado na Normandia. Mas, nao ha diivida alguma, termina o autor, que éles merecem boa parte do crédito pela vitérla alcangada. * Onomatologia toponimica Nomes geogrdficos em ia Em artigo publicado, recentemente, na Revista de Portugal, Sérle A — Lingua Portuguésa, editada em Lisboa, sob a epigrafe “Onomatologia Toponi- mica — Nomes Geograficos em ia”, 0 Sr. I. Xavier Fernandes. ditundindo um assunto geogrifico e contribuindo are sua maior divulgacao, teceu con- sideragdes em toro da gratia e prosé- dia dos nomes geograticos terminados em ia. Iniciando o seu trabalho disse 0 Sr. Xavier Fernandes que do conhe- cimento da origem e significacéo dos nomes préprios, quer geograticos (topo- nimos), quer de pessoas (antropéni- mos), tem sempre despertado a curlosi- dade'de muita gente, néo admiranao, portanto, que os respectivos estudos te- nham ocupado a atengdo de individuos eultos, naturalmente closos de saber OPINIORS on cada vez mais, como é préprio de todos aquéles que encaram a vide com um tito mais elevado do que a simples con- quista de gozos materials, Sabldo 6, porém, que o referido co- nheclmento néo se limita apenas a sa- tisfazer um sentimento de curiostdade, alls legitimo, mas traz consigo vanta- gens multas vézes de utilidade imediata, or nos fornecer importantes elementos subsididrios do estudo das manifesta- ges da vida de qualquer povo. Assim, afirma o Sr. Xavier Fer- nandes, entendemos que téias as con- tribuigdes trazidas para éste estudo, em qualquer dos seus miltiplos aspec- tos, merecem sempre louvores, que nfo devem ser regateados a quem, com honestidade e bom critérto clent{fico, procura investigar e desvendar pro- blemas no vasto campo da filologia. Nestas cireunstancias e porque re- centes publicagées afastam um pouco daquilo que entendemos ser a melhor doutrina, parece-nos oportuno expor © que se nos oferece sobre o assunto, I~ mitando-nos por agora, a algumas con- sideragdes a respelto dos nomes pro- prios geograficos terminados em — ia, muitos dos quais andam tregiiente- mente adulterados, tanto na Iinguagem falada como na esecrita. De tato, esclarece o autor, tem-se revelado grande incerteza, sobretudo na prontineia de tais nomes, que uns proferem acentuando aquéle sufixo, en- quanto outros o fazem Atono, porque Tecuam a acentuagéo. ‘Jé em latim os substantivos em ia, pertencentes & primeira declinacéo, eram acentuados na antepeniltima si- laba, por ser breve o { pré-vocdlico: Campania, Etruria. Gallia, Italia, Lu- sitanta, et-., ete. Em grego, 0 caso passava-se dife- rentemente, isto 6, os nomes com & mesma terminacéo e também da pri- io (temas em “a”) tl na peniltima silaba, por ser longa a vogal f'1al: Alezan- dreia (Alexandria). Antiocheia (Antio- quia), Samareia (Samaria), etc., etc. No periodo cléssico, pu.ém, todos ésses nomes helénicos perderam. em latim a acentuagéo que tinham na lingua anterior, visto que eram pro- nunciados & latina, havendo, todavia, casos explicavels, em que se mantinha a ténica do grego, ou por causa do ditongo “ei”, que era Icago, ou porque havia formas dcplas na mesma lingua erega. 942 BOLETIM GEOGRAPFICO Posterlormente, no periodo da de- cadéncla latina, subsistiu a acentuacéo helénica na maior parte daqueles no- mes, 0 que levantou dificuldades na determinacio da boa proninela, ori- ginando solugées incoerentes e contro- versas nos gramaticégrafos medievais. E foi assim, com variedade prosédica, que tais nomes — ou grande parte déles — transitaram para os idiomas ro- manicos. Para a resolugaéo déste- problema, Filipe Franco de 84, 0 maior foneti- cista. brasileiro de todos os tempos, Propés que, como regra, se aproveitas- se a acentuag&o grega, sempre seguida em palavras novas e que ¢ mais con- forme & natural tendéncia da nossa lingua — preferir a prontncla paroxi- ténica — e que, como excegées, se to- massem as palavras recebidas do latim e em que prevaleceu o acento latino, embora assim se contrarie a referida tendéncia, visto adotar-se, em casos déstes, a prontincia proparoxiténica. Parece-nos muito aceitdvel esta resolucéo, j4 proposta ha mais de qua- tro decénios, até porque, com ela se harmoniza 0 uso culto, pelo menos de modo geral. ‘Nao obstante, diz o Sr. Xavie’ 7er- nandes, hé. nomes desta espécie, qu: 80 Ppronunciados vacllantemente por mui- tas pessoas, as quais hesitam sdbre a melhor maneira de os acentuar. Entre ésses nomes esto os topénimos Oced- nia e Sofia, a que julgamos oportuno destinar aqui referencias especials. A cada passo se depara a pergunta: “Deve-se dizer Oceania ou Ocednia?” A verdade & que a quase totalidade dos autores prefere a segunda forma, enquanto um ou outro opta pela pri- meira, referindo-nos apenas, é claro, Aqueles que do caso trataram e de que temos conhecimento. Assim, devemos acompanhar a maioria, nao simplesmente por ser maioria — o que alias, talvez jé fésse uma raziio — mas porque, de fato, a forma preferivel 6 Ocednia, com a acentuac&o ténica no primeiro a. Os nossos trés melhores vocabula- rios ortograficos, indicados pela ordem cronolégica das respectivas publicacoes, so o de Goncalves Viana, o de J. Peres Montenegro e o da Academia das Ci- énelas de Lisboa. Pols todos trés dao @ preferéncia a Ocednia, notando-se que o Vocabuldrio da Academia ver- betou assim o térmo: “Ocednia, topd- nimo feminino. Melhor que Oceania”. Candido de Figueiredo repetidas vézes se manifestou no mesmo sentido e no seu Novo Diciondrio da Lingua Portuguésa, 5.8 edigao, 2° volume; pag. 1294, 1é-se: “A pronuncla Ocednia é a preferida pelos glotélogos”. Também no Diciondrio de F. Torrinha, edigéo de 1942, pag. 857, se encontra a mesma grafia, Ocednia. Na moderna obra, 0 Grego Aplica- do a Linguagem Cientifica, pag. 230, refere o autor que Oceania esté em vez de Ocednia (sic) . © livro brasileiro. Questées de Por- tugués, publicado em 1921, regista 0 seguinte na pagina 321: “Muita gente diz, erréneamente, Oceania. Essa pro- nincia 6 injustificvel. Naéo. tolera a origem latina”. Outro livro brasileiro, A Lingua Portuguésa, publicado pdstumamente, em 1915 (o autor, Filipe Franco de 84, faleceu ‘em 1906}, diz, na respectiva pagina 129, que é “Oceania, nio Ocea- nia, como dizem muitos por influéncia do ‘francés”. Podem dar-se outros testemunhos, além dos oito apontados, mas néo pa- rece necessdrio, afirma o Sr. Xavier Fernandes. & exatissimo que o vocabulo se for- mou de oceano mais o sufixo latino, nominal e Atono, ia, como deixamos explicados na pagina 118 do primeiro volume da obra, Topénimos e Gentili- cos. Nio esta provada a alegaco, a que se referiu F. Franco de Sa e se- gundo a qual o nome seria simples im- portagéo lexical do francés Océanie, mas, ainda que, por hipdtese, estivesse, nem désse suposto fato se poderia con- cluir ser Oceania a genuina prontincia portuguésa, porque temos dezenas e dezenas de vocébulos, que entre nés nao mantiveram a acentuag&o da lin- gua donde os recebemos, isto 6, d francés, que. por sinal, nao tem pala- vras esdrixulas. ha mais: se devemos dizer Ocea- 56 porque os franceses pronunciam nie, seguindo-lhes assim a acen- co, também, ent&éo nos cumpre pro- nuneiar oceanico (nf), visto que éles dizem océanique, paroxitonamente ! Ou nao hé logica... Enfim, Ocednia é a tmica forma que devemos preferir de acérdo com todos os bons mestres da lingua. RESENHA E OPINIONS 943 Quanto ao nome da antiga capital da Bulgaria, é corrente, mesmo entre pessoas cultas, supor que a forma S6fia, com a ténica no o, constitul novidade de 1940, dada pelo Vocabuldrio Ortogréfico da nossa Academia, chegando um jornal (Os Sports, ntimero de 8 de setembro de 1944) a afirmar que tal prontincia tinha sido uma jnvengéo dp doutor Rebélo Goncalves ! ‘Mas, conforme ja 0 escrevemos nou- tra parte (ntimero XXIV do Portugués para todos, do Jornal de Noticias, de 1 de marco Ultimo), data de hé vinte- e-quatro anos a publicacéo de um yo- lume, em que se recomenda a prontin- cla acentuada na primeira silaba do nome daquela, cidade bilgara. E é possivel que nfo fésse o primeiro a tazé-lo... Por outro lado, ha quem confunda etimoldgicamente a origem do topéni- mo Séfia com a do antropénimo ho- mégrafo, Sofia, atribuindo aquele o mesmo étimo déste e, portanto, con- cluindo falsamente que em ambos os casos se deve dizer Sofia com o 1 to- nico. Ora o grego sophia, sabedoria, ci- éncia, etc., aplica-se ac nome de mu- Iher, mas nada tem que ver com o nome da cidade. Segundo um autor italiano, a deno- minagao da capital bilgara filla-se no sobrenome ou apelido do caudilho russo, Ivan Soff. que combateu contra os tur- cos na Romélia Oriental. Pela aposicio do sufixo latino, ia, a0 substantivo proprio Soff se formou © topénimo Soffia (em portugués, So- fia), tal como do antropénimo Cris- tano se tirou Cristiania (e nao Cris- tiania), nome amtigo da capital da Noruega. Concluindo diz o Sr. Xavier Fernandes: Conseqtentemente, nem se Justi. ca @ prontincia Sofia, apenas aplicével ‘ao nome de mulher, nem também se justifica a suposta grafia Sophia, pols no respectivo étimo nada existe que Possa explicar o ph. #, pois Sdfia na fala e na escrita, assentando-se que o ‘topénimo nao 6 de orlgem grega e apenas na aparéncia mérfica se pode relacionar com 0 co- nhecido antropénimo, que tem — éste, sim — étimo helénico. * II Reunigo Pan-Americana de Consulta sébre Geografia e Cartografia O Sr. Robert H. Randall, examina- dor-chefe dos Levantamentos e Carto- grafia do United States Bureau of the Budget, e representante dos Estados- Unidos-da-América na Comissio de Car- tografia do Instituto Pan-Americano de Geografia e Histéria, da qual é tam- bém presidente. escreveu para o nime- ro de fevereiro do corrente ano do Boletim da Unido Pan-Americaha, um minucloso artigo sébre a II Reuniio Pan-Americana de Consulta sobre Geo- grafia e Cartografia, realizada no Rio- de-Janetro, de 14 de agésto a 2 de se- tembro de 1944, Iniclando o artigo, afirma o Sr. Robert Randall, ter a aludida Reuniao dado um passo formidavel no terreno da cartogratia nas Américas. - do-se & I Conferéncia diz ter sido efetuada na cidade de Washington, de 29 de setembro a 14 de outubro de 1943, sob o patroginio da Sociedade Ameri- cana de Geografia — que agia em nome do govérno dos Estados-Unidos — coad- Juvada pela Comisséo de Cartografia do Instituto Pan-Americano de Geogra- fla_e Historia, que fol quem organizou a Conferéncia. Tracgaram-se, entao, as linhas gerais de um programa para me. Thorar o levantamento de mapas geo- graficos no hemisfério. Estiveram pre- sentes técnicos representando tédas as nagies das Américas. Na If Conferén- cla essas mesmas nacdes, com excecio de El Salvador, Haiti e Ni 82 fizeram representar. Patrocinada pelo govérno brasileiro e pelo Instituto Pan- Americano, essa conferéncia definiu melhor os’ pontos constantes do pro- grama J4 delineado, acrescentando re- comendagées especificas relativas a tra- balhos imediatos ou futuros. ‘As nag6es em sua matoria. conti- nua o Sr. Randall, tém sentido a ne- cessidade de mais 'e melhores mapas. Desde o inicio da segunda guerra tem sido muito sérla a situag&o no setor de mapas de certa categoria, especialmen- te no de cartas aeronduticas. Coriquan- to os excelentes mapas organizados pela Sociedade Géografica Americana se achassem, ao rebentar a guerra, pron- tos e a disposicéo da maior parte da América Latina, a necessidade de car- tas para o transporte aéreo e outros fins similares obrigou a sobrevoar-se © hemisfério meridional, vastas exten- s6es do qual foram fotografadas. Em algumas localidades da América do Sul foram encontradas cartas aeronduti- cas elaboradas antes da guerra pelos alemies, as quais, todavia, careciam de exatidao, parecendo mesmo que 0s erros faziam parte do plano concebido por seus autores. A falta de informagées cartografi- cas de certas zonas, e a exatiddo duvi- ‘dosa das existentes em outras, estavam a-exigir a organizagéo de cartas aero- nauticas. Encarregou-se disso a Forga Aérea dos Estados-Unidos, em conjun- to com as nagées americanas intere: sadas. A série que resultou dessa con- jugacao de esforcos foi elaborada em lapso de tempo surpreendentemente curto, e obedece a um padrio tao alto que nfo sdmente féz época no campo geografico do hemistério, como tam- bém no do mundo. Diga-se de resto que interésses € realizacdes cartogréficas nfo sio de modo algum fenémeno novo nas Amé- rieas. antes remontam a data antiga da histérla. As viagens de Colombo dos que hes seguiram tiveram como conseqiiéncia o levantamento cartogré- fico das terras em que tocavam, e em que breve penetrariam os Conquistado- res. Durante ésse periodo de penetra- ¢40, que fol a época colonial, redunda- Tam as viagens de exploracgo na acu- mulagdo de informagées, & luz das quais era possivel tragar em linhas gerais 0 mapa da maior parte do hemisférlo. Avolumaram-se essas informagoes du- rante o chamado Periodo de Reconhe- cimento, gracas aos trabalhos de Hum- boldt e de outros geégrafos e clentistas europeus. Ao conquistar sua indepen- déncia, cada uma das nagdes america- nas, cogitou com maior ou menor inten- sidade, de dar execugdo a programas de levantamento topografico do territério nacional. Prefaclando ésses trés perio- dos de desenvolvimento cartografico, damos de encontro com tentativas mais rudimentares, surgidas no selo das culturas pré-colombianas da América. © homem primitivo sempre se interes- sou em desenhar mapas. No nosso con: tinente, passaram éstes do estagio ini- clal, em que sao constituidos por toscos esquemas e figuras gravadas em pedra, Para o de mapas tracados em perga- minho ou em pano, como o fizeram os astecas. Tais mapas, acompanhados de seus sirubolos originais: que completa- vam notacces em espanhol, ainda se copiavam depois da conquista. s WES periodos y: lomblanos, has. An aerescentar um quart, BOLETIM GEOGRAPICO te que o desenvolvimento cartogréfico, depois de haver atingido a etapa na- cional, passara além, chegando a ‘um periodo internacional, em que os as- suntos relacionados com a cartografia serao consideradas em conjunto por tédas_as nac6es do hemisfério. Nem parardo aqui as modas, mas, claro esté, ter-se-4 de estender o interésse amer!- cano, sob diversos pontos de vista, a0 mundo intelro. As sessdes técnicas da II Conferén- cia giraram em térno de cinco tépicos principals de discuss: geodésta e as- tronomia; cartas aeronduticas; topo- grafia e aerofotogrametria; hidrogra- fia; cartografia e geografia. Cada t6- pico foi discutido em duas sessdes de tmelo dia cada uma. Tédas as sessdes: as quais seguiram os moldes das reu- nides abertas da Comissio de Carto- gratia, foram assistidas por membros da. dita Gomissio, e por outros delegados téenicos e observadores de diversas na- ges, assim como por delegados e ob- servadores téenicos do Brasil. Para & discusséo de cada um dos assuntos se escolheram os lideres dentro da delega- a0 brasileira, cabendo ao autor destas linhas, em sua qualidade de presidente da Comissio de Cartografia, desempe- nhar as fungoes de presidente em tédas as sessbes de discussio. Aos membros e pessoal do Conselho Nacional de Geografia do Brasil, de que € presidente o embaixador José Carlos de Macedo Soares, e secretarlo-geral o Eng© Christovam Leite de Castro, se deve a organizagio da Conferéncia, e a eficiéncia com que correram os trabaihos. O mesmo Conselho promo- yeu uma exposicéo de mapas e cartas, e de dados colhidos no decorrer de le- vantamentos realizados pelas varias na- ges americanas representadas, que fol um dos acontecimentos mais notavels da Conferéncia. Para se avaliar o que fol essa exposicio, pondere-se que pata abrigar todos os mapas e fotografias trazidos pelas diferentes delegacdes tor- nou-se necessario utilizar um andar inteiro do novo Edificio Serrador. Os delegados tiveram oportunidade de conhecer.o presidente Getiilio Vargas e outros membros do govérno brasilei- ro, e gozaram do privilégio de ver e ins- pecionar diversas reparticdes cartogra~ ficas oficiais. Além do Consetho Nacio- nal de Geografia visitaram o Depar- tamento de Geologia do Ministério da Agricultura, 0 Servico Hidrografico da Marinha, € o Servico Geografico do Exérelto, todos situados no Rio-de-Ja~ RESENHA E neiro, Facultou-se igualmente aos de legados uma excursio a 8i0-Paulo, a0 porto de Santos e a mais duas cidades no Estado de Sa0-Paulo: Campinas e Rio-Claro. Na capital do Estado, o Ins~ tituto Geografico e Geoldgico, assim como o Instituto Tecaoidgico, foram visitados. ‘Um dos aspectos mais interessantes dessa excurséo fol a chegada a Volta Redonda, a nova cidade do aco bra- siietra, onde os delegados tiveram o ensejo nao sd de visitar os escritérios e instalacées da Companhia Siderirgica Nacional, como também de examinar as moradias e a3 admiravels comodidades da localidade. No plenario com que se encerrou 8 Conferéncia, depois de findas as sessoes de discussio técnica, foram aprovadas diversas Resolugées, algumas delas de cunho especifico. Tanto essas Resolu- gées, como as discussdes em que se basearam, se acham atualmente em vias de publicacéo pelo govérno brasi- lelro, em colaboragéo com o Instituto Pan-Americano. Algumas das reco- mendagoes contidas nas Resolugdes so dignas de nota. Como expressio de real interésse que © progresso cartografico. relacio- nado com as diferentes regices da Amé- rica e com o hemisfério inteiro, merece de cada uma das nagées americanas, preceitua uma das Resolucdes que todos os paises, além das quotas regulares pagas ao Instituto, concorram com uma. soma destinada a levar avante a obra da Comisséo de Cartografia. Rogou- se instantemente que 0 Instituto ser- visse de centro e de apoio interna- cional aos varios trabalhos de levanta- mento topogréfico e de cartografia in!- clado pela Comissio de Cartografia, por intermédio das I e II Conferéncias, e da obra de seu secretario itinerante, Eng.° André C. Simonpietri. Por oeasiio da I Conferéncia soli- citaram os delegados presentes que a Comisséo estabelecesse trés comités per- manentes, os quais, respectivamente, se ccupariam com geodésla, cartas aero- néuticas e cartas topograficas. Reite- rou a II Conferéncia ésse pedido, acres- centando-lhe o da criagao de um comi- té de hidrografia e de um comité de cartografia e geografia. Competira a éste estudar e estimular as relagoes, entre os dois setores, que redundarem em proveito mutuo. ‘Nas Resolugées, em matéria de geo- désia e astronomia, instou-se para que as nagdes representadas apressem o OPINIOES os possivel os trabathos dessa natu- e vinculem seus sistemas de trian- 240 e de nivelamento aos dos pafses Jas, de modo que, a breve tempo, se_ocssa ter o levantamento geodésico geral do continente. &m matéria de cartas aeronduticas, fol grande, como era de prever, o in- terésse manifestado. Louvou-se, com es- peciaiidade, o trabalho que, por inter- médio das Forgas Aéreas Exército, tem executado o govérno dos Estados- Unidos, recomendando a Conferéncia @ adogéo da carta aerondutica, da escala de 1:1 000 000 e, para ‘fins militeres, confecclonada em unta félha padrao de 22 polegadas por 29, como carta aerondutica oficial do hemisfério americano Cumpre salientar que, na recente conferéncia internacional’ de aviacio reunida em Chicago de 1.° Je novem- bro a 7 de dezembro, fol 2 mesma carta adotada com foros mundiais, por todas as nagdes. Um dos fatéres que influen- claram ao se dar ésse passo foi, por cei to, a sua aceitacdo pelas nacées ame- ricanas, inclusive o Canada, © levantamento de mapas topo- graficos fol igualmente centro de vivo interésse por, além do valor intrinseco désses mapas, servirem éles de base a quase totalidade dos restantes, como se- Jam os geolégicos, os de solo, e os do manto vegetal. O aeroplano, que tanto aproximou as nagoes do hemisfério, tor- nou também possivel a fotografia aérea, @ que se deve a celeridade dos atuals trabalhos cartograficos. Caleados nas informagées geograficas fornecidas pe- las cartas aeronduticas, mapas de maior escala podem ser elaborados. Outrossim, lancando mao das fotografias emprega- das na compilacdo das cartas aerondu- teas, e, se necessério for, de fotografias aéreas ‘adicionais, constroem-se mapas topograticos de major ‘escala, Ante: Ppam-se grandes progressos na carto- grafia topografica. Foi o Brasil um dos primeiros paises onde se praticou a fo- togrametria, a qua! é a arte de confec- cionar mapas com fotografias. Néo pa~ rece pairar divida s6bre o desenvolvi- mento rapido que. com a aplicagdo dés- se método, se observaré no Brasil. As realizacées brasilelras nfo se estendem com menos brilho & cartogra- fia hidrogrAfica, esfera essa em que os trabalhos foram executados em es- treita colaboracdo com o Gabinete Hi- drografico da Marinha dos Estados- Unidos e com entidades corresponden- tes nas outras nacées americanas, As. 6 BOLETIM GEOGRAFICO discussdes sobre cartas hidrograticas se concretizaram em Resolugdes que su- geriam que o Comité de Hidrografia da Comissdo prosseguisse em diferentes es- pecificas diregdes. Instou-se, por exem- plo, para que tédas as informagées es- senciais & navegacao, tais como pro- fundidade, perigos, avisos aos navegan- tes, féssem_classificadas como infor- magio publica, sendo prontamente di- vulgadas. Instou-se, ademais, para que se empregasse a aerofotogrametria na organizacéo de cartas das zonas costel- ras, assim como nas das zonas de pe- rigo ao largo. Tomando em considera- $80 0 fato de permitirem os modernos meétodos de cartografia hidrografica mator grau de exatiddo, recomendou-se que os levantamentos hidrograficos se estendessem a distancias mais conside- révels da costa, indo mesmo além dos socalcos continentais. Reconhecendo a estreita relagio existente entre os levantamentos e a cartografia, de um lado, a ciéncia geo- gréfica, do outro, instou a Conferéncia para que o Comité de Cartografia e Geografia, a ser criado pela Comissio, estude as relacdes entre ésses campos, € estabeleca métodos para se melhorar e ampliar o auxilio que a ciéncia carto- grafica pode prestar & geografia. Suge- riu igualmente a Conferéncia que o Ins- tituto Pan-Americano de Geografia e Historia criasse uma Comissiio de Geo- grafia aplicade com o fito de alargar a atividade nesse setor. Os resultados praticos da II Con- feréncla foram a um tempo gerais ¢ especificos, Estio assaz demonstrados ‘08 proveitos oriundos dos contactos en- tre pessoas interessadas em determina- da cléncia ou campo de agéo, tanto do ponto de vista profissional como oficial. ‘Travam-se destarte conhecimentos, tro- cam-se idéias e informagées, 0 que néo sdmente acresce a eficiéncia dos ind!- viduos a servico de seus paises, mas faz avancar a técnica, e intensifica sua utilidade entre as nacées. Fol em conseqiiéncia dos conheci- mentos assim formados, que se conse- guiu pleno acérdo para a elaboragio em comum de cartas aeronduticas. Esta também crescendo de ponto a pratica de dirigirem conjuntamente as nagées vizinhas, em suas fronteiras comuns ou perto delas, diversos trabalhos de le- vantamento, entre éles os de levanta- mento topografico. Nao se limitam tao pouco @ troca de idéias e informacées especificas sobre métodos técnicos, se- nao que também, em conseqiiéncia das Conferéncias e da continuagéo dos tra- balhos por parte da Comissio de Geo- grafia do Instituto, permutam as nacées instrumentos técnicos e diferentes apa- relhamentos. Jé se mencionou, em co- nexdo com as cartas aeronduticas, o valor das discussdes e de’ acordos no tocante aos padrées das cartas e ma~ pas destinados ao uso do hemistério. Outro tanto se poderia afirmar dos mapas topograficos cartas hidrogra- ficas, e de outros mapas basicos. Em vista do importantissimo papel que, em dias de guerra representam os mapas, tornou-se possivel, a despeito de tédas as restrig6es impostas as co- municagées pela situacdo bélica, reunir as Conferéncias. Espera-se que a IIT Conferéncia possa ser convocada dentro de um ano apés a reuniao da II. Conta- se que nessa ocasiao, gracas & operosi- dade dos comités que a Comissio esta a organizar nos cinco campos referidos, as discuss6es da III Conferéncia pode- ro versar sdbre questoes técnicas, apa- relhamento, colaboragao, instrugio e treinamento, néo menos que sobre a direcdo cientifica de vastas expedicdes de levantamentos. Destarte, o quarto periodo do desenvolvimento da carto- grafia americana, perfodo ésse caracte- rizado pela colaboragio entre as nagées, prosseguiré no afa de melhorar o mapa bésico, de onde se derivardo os demais. * Densidade demografica Nos artigos iniciais da série de con- tribuigdes & Geografia carioca — escri- ta pelo Prof. Everardo Backheuser para © Jornal do Brasil ja fol abordado 0 as- sunto da densidade demografica da cidade do Rio-de-Janeiro. Em sua edigio de 13 de maio do corrente ano, aquéle autor completan- do og dados relativos ao tema, esclarece inicialmente: Nao tinhamos entao, or- ganizado ainda o grafico das respectivas densidades distritais, ou antes, havia- mos esbocado para nosso uso individual seriacho diferente da ora apresentada no cartograma do presente trabalho. Ao escalonamento, em quatro etapas (me- nos de 1 000 habitantes por quilémetro N.R, — “O Distrito-Federsl ¢ a cidade do “zones urbana, suburbana © yneamento geografico e densidade Gemogréfica”. publicados reapectivamente nas edieves de 10 de aetembro, 1 e 8 de outubro do © préximo passado, RESENHA E OPINIOES oar dewsioaoe ox poruLagho DISTRITO FEDERAL UDMenos or 228 Ml Re s04 1000 Bovsa04 2500 quadrado entre 1 000 e 5 000, de 5 000 a9 000 e mais de 9 000) estdo ligadas as consideracées que formulamos na- queles artigos. Pareceu-nos, depois, conveniente aumentar os degraus da escada, estabelecendo-os como vao figu- rados no cliché junto. A nova gradacéo permitiraé — diz © Prof. Backheuser — seja mais clara visio do panorama da distribuicéo das massas de populacdo dentro da area do Distrito-Federal e melhor caracteri- zaré cada uma das reas classicas, ou seja; drea verdadeiramente urbana (denisidade acima de 5 000 habitantes por quilémetro quadrado), suburbana, entre 500 e 5 000 habitantes por quil- metro quadrado e nitidamente rural, com densidade inferior a 500 habitan- tes por unidade de superficie. Nao im- porta que dentro dessa area rural haja alguns micleos adensados como cam- po-Grande, Santa-Cruz, Jacarepagua e Pedra. Malgrado ésses’ adensamentos, permanece aquela area com cardter in- dubitavelmente rural, j4 pela disper- so geral do resto de populacao, ja pela natureza agraria das atividades da res- pectiva populacio. Observando-se o cliché — esclarece © Prof. Backheuser — nota-se que o mesmo. apresenta .as convencées em sels categorias, que se vao esbatendo desde o negro compacto (mais de 20 000 habitantes por quilémetro quadrado), correspondente ao 1.° Distrito (Centro), até as hachuras claras da zona rural (menos de 500 habitantes por quil- metro quadrado), ce Musa 20000 Fre 250045000 be 0000 420000 Entre os distritos da segunda cate- goria figura téda a area que vai de S4o-Cristsvao até Copacabana e Ipa- nema, com um salto pelo distrito de Botafogo, e uma exclusio, a Jatera cons- tituida pela parte nuclear do 1.° Dis- trito (a City). Formam a terceira ca- tegoria (de 5 000 a 10 000 habitantes por quilémetro quadrado), além des- sas duas areas a que vimos de aludir, os distritos da Tijuca (parte de baixa- da) Vila-Isabel e Méier, inclusive por- tanto, os bairros de Andarai, Grajai, Inhatima e Engenho-de-Dentro. A lar- Ba regio suburbana, que forma os atuais distritos de Penha e Madurelra. constitui, em esséncia, o dominio prin- cipal da'quarta categoria (de 2 500 a 5 000 habitantes por quilémetro qua- drado). O 5.° degrau do escalonamento compée-se de parcelas adrede prepa- radas sob a base do confronto das ta- belas de densidade demografica forne- cidas pelo Servigo Nacional de Recen- seamento, consoante a atual e anterior divisio administrativa do D.F.. Cons- tam dessa quinta categoria, além das ilhas, certas pores hoje pértencentes a Madureira e que figuram encorpo- radas a Realengo, ou seja, mais ou me- nos 0 antigo distrito de Anchieta, bem como a parte semi-rural da Gavea, em- bora essa parte seja computada’ esdri- xulamente sob o titulo oficial de dis- trito de Botafogo. ‘Na distribuigéo grafica das densi- dades de populacdo ora apresentada no croquis junto, tivemos, portanto, de zer varias adaptagées na diviséo ad. 4s, BOLETIM GEOGRAFICO ministrativa atual em 15 vastos distri- tos conformando-a 4 anterior dentro da qual existiam nada menos de trinta e cinco distritos. Embora, as vézes, com © mesmo nome na divisao antiga e mo- derna, ésses distritos sio de fato fun- dameritalmente diversos. Essa supe- Tabundancia de leis e decretos sobre divisdes terr'toriais e administrativas complica o exame dos fatos antropo- geograficos, faz confusio no leitor in- cauto e acarreta dificuldades intimeras aos estudiosos. Nao fol pequeno o traba- Tho que tivemos para proceder aos rea- justamentos demograficos que conduzi- Tam ao cartograma do presente artigo. Quem, portanto, compara-lo com a_tabela ‘numérica ‘abaixo transcrita, no se deixe levar pelas aparéncias ¢ néo busque concordancia entre um e outra. Pareceu-nos, no entanto, que dar maior elasticidade & representacdo gré- fica, redundaria em melhor impressio visual para a percepedo da dispersdo da Populacio no Distrito-Federal. * Apenas para mais um tinico aspecto do cartograma pedimos a atencio de quem nos ler. Dentro do perimetro do 1° Distrito atual, chamado oficialmente Centro (fi- gurado em negro fechado) destacamos Propositadamente a parte mais carac- teristicamente nuclear (City), parte que abrange os antigos distritos de Santa-Rita, So-José e Ajuda, e que val mais ou menos desde a praca Maua até ao Passelo-Piblico. Como se vé, essa Pequena porcio da cidade pertence & nossa_terceira categoria demografica, isto é, tem densidade muito menor que a do distrito central em seu con- junto. Parecerd estranho o fato de ser me- nos denso 0 coragéo da cidade em re- lagdo a outras zonas da nossa metré- pole. Todavia, é natural que assim acon- teca, pois o ‘recensearento é dos que residem no local (havitantes morado- res), @ nao entre os que ai negociam, comem, se divertem ou passeiam. Ora, © centro do Rio-de-Janeiro, tal como o de muitas outras grandes ‘cid=de, nado 6 senao excepclonaimente, luga. de ha~ bitagio. Agiomera-se aia populagéo durante ¢ dia, mas déle foge & tar- dinha. Gragas aos valiosos estudos de Nél- son Rodrigues sobre os movimentos da populacao carioca, aos quais j4 nos temos referido e aos quais de novo vol- taremos ‘em futuro proximo, ser-nos-& Possivel dar cifras numéricas exatas da popuiacéo diurna do centro nuclear da cidade e assim pé-la em comparacaio com os dados dos recenseamentos, que se referem sempre 4 populacio resi- dencial, isto é, & populagdo noturna da cidade. Esta curta aluséo serve apenas de antinclo a um futuro trabalho. * Para conhecimento geral julgamos ‘Util divulgar dados fornecidos pelo Ser- vigo Nacional de Recenseamento, cujo brilhante e competente diretor profes- sor Dr. Carneiro Filipe sempre se mos- tra solicito em atender nossas impor- tunacées. HABITANTES DiSTRITOS =a ‘er km 1% wat 10 185, Botafogo 3 oe Copacabana 16 70 Sto Cratoeio. 032 4 300 Vile Teabel 2 aR Mer 59 Meliwcice 38 ie — Paha’ £819 ds — Jacarepagua. 0 Rea 82 Campo Grande nat = Santa Crus 135 TOTAL. 1a A propésito de emigragin Quando {a se achava prestes a en- cerrar-se a Assembiéia Geral, que lhe traga anualmente o programa de tra- balhos mais aconselhéveis na’ ocasiio, © Conselho Nacional de Geografia pro- moveu novo tipo de reunido de coope- radores, a que deu titulo de seminario. © nome lembra, sem divida, “a casa onde se educam mancebos nas le- tras humanes e divinas”, consoante de- finigdo registrada no diciondrio de Mo- rals, e repetida, com leves alteracoes, nos'demais. Mas também se vai.am- pliando gradativarienie, mercé da in- fluéncia _ universitaria,’ para designar modalidades especiais, de pesquisas, acompanhadas de fecundas discussoes. Distinguen:-se das conferéncias, pois que nao hé orador principal, qué explane exaustivamente 0 assunto e3- colhido. RESENHA E Nem se confunde com as tertiilias, em que sao permitidas interrogagées @ quem se incumba de versar o tema de sua escolha. : Diferentemente, o seminério, abre- viagio de “Investlgacao coletiva em se- minario”, atua mediante colaboragéo de quantos desejam opinar em materia que Ihes seja do conhecimento. O di- retor dos trabalhos limita-se a expor a questo escolhida, para que os sabe- dores, cada qual por sua vez, opinem doutamente, conforme as suas convic- des amadurecidas. Como seja a res- pectiva assisténcia constituida em mai- ria de especialistas, pois que enunciada, ainda que de manera geral, a tese, so avisados os estudiosos de seus pro- blemas, os pareceres refletirio doutri- nas diversas, que se contradizem em alguns pontos, e se harmonizam em ou- tros, por maneira que seja possivel a concluséo de alguns postulados. Assim ocorreu por ocasiéo de inau- gurar-se 0 promissor processo de estu- dos em colaboracéo. Sob a presidéncia do embaixador José Carlos de Macedo Soares, que expos claramente os moti- vos da’ sesso isenta de ceriménias, en- contraram-se personagens que se’tém devotado com afinco ao exame dos pro- blemas relacionados com a imigragéo. ‘Compareceu 0 ministro Joao Alber- to, ue vai realizando a mals audaciosa tentativa de implantar hébitos civill- zados no recesso dos sertées, onde che- fia os empreendimentos da Fundagao Brasil Central. Jamais houve ensejo semelhante de erlar povoagées além das frentes plo- neiras, com *tamanhos recursos, que permitem por assim dizer a transplan- tagéio de culturas, em condigdes meté- dicas, independentes do lucro imediato. As localidades que de costume aflo- ram nas clareiras das florestas, ou em meio dos cerrados, até onde se mani- feste a ocupacdo humana, em progres- siva expansao, geralmente se abeiram dos rios navegdveis ou das vias faceis de comunicacao, que hes estimulam o desenvolvimento. ‘A experiéncia criadora do Brasil Central vale-se principalmente do melo mats rapido de ligacéo, que se ajusta as maravilhas 4 enormidade territorial do pais, onde 4 aviacdo caberé papel dominante no sistema de interligacio dos niicleos sociais dispersos por todos os lados. 86 ela poderla garantir o éxi- to das investidas expedicionérias a ocidente do Araguaia, em cuja margem OPINIOES a9 abrolhou uma cidade, ainda diminuta, mas dotada de elementos de vitalidade, que Ihe garantirao pleno desenvolvi- mento, Certo, no séo desconhecidos exemplos de saltos colonizadores para além da faixa anteriormente ocupada. Fatéres econémicos, porém, atua~ ram como chamariz das multidées arre- batadas pela esperanga de enriqueci- mento rapido. Cuiabé, distante mais de quinhen- tas léguas do povoado de Araritaguaba, onde os viajantes se desligavam da ci- vilizagao litorénea, para se engolfarem nos sertées bravios, gerou-se, no século XVIII, do ouro dos seus cascalhos. © Acre, mergulhado nos confins da Amazénia, ‘onde provocaria impressto- nante sublevacdo popular, a principio condenada pela diplomacia brasileira, que afinal se viu obrigada a defendé- la, resultou da atracéo exercida, a mais de um século, pelos seus seringais afa~ mados, ao tempo em que a borracha se mantinha valorizada. Em ambos os casos, a iniclativa particular, isenta de planos prévios de condensagéo demografica, empreendeu ocupacao efetiva do territério devas- sado, para onde afluiram povoadores de rija tempera, capazes de superar os obs- téculos naturais que se lhes depa rariam. Na regido xinguana, porém, nao consta, ao menos até que surja a pri- meira descoberta de valia, a ocorréncia de nenhuma estonteante riqueza mine- ral ou vegetal, que exerca extraordind- ria ago atrativa. Espontaneamente, como futura conseqiiéncia da marcha colonizadora para oeste, somente seria desbravada depois da saturagéo demografica das paragens orientais, quando se despe- jasse a onda humana para aquelas bandas. Mas, surgiu a Fundacéo_ Brasil Central,’ com 0 vigo de instituigéo opu- Ienta a desejosa de assimilar a sua atuagao construtiva por obras cons!- deradas inexeqiiivels. Pelos meios ordinérios, a0 cogitar da, criagdo de povoados, devia escolher sitio contiguo & zona habitada, ou pelo menos em continuidade & zona pio- neira, com a qual se comuntcasse inin- terruptamente. As vézes, a sua diretoria preferiu o avanco aos ‘saltos, que. féz lembrar a :Atica do paraquedismo. Servida pelo avido, escolhe prévia- mente o local, orienta’as estradas que serdo eb.y as para as necessarias arti- 980 BOLETIM GEOGRAFICO culagdes com as povoagées distantes empreende a marcha pelos sertées des- conhecidos. Néo apenas para Ihes ex- Plorar as peculiaridades topograficas, em mera expedic&o de reconhecimentos, que virdo desvendar os segredos de vas- ta regido nunca dantes penetrada por observadores civilizados. Predomina o intuito de conquisté- la efetivamente, pontilhando-a de ni cleos humanos, dotados de meios efi- clentes de subsisténcia, que lhes garan- tam o desenvolvimento previsto. A experiéncia de vastas proporgdes acha-se em pleno andamento, como prova da possibilidade realizadora de colonizagéo dirigida, desde que nao minguem os elementos necessarios. Em tals condigdes, qualquer discus- sdo que se trave em térno de assuntos relacionados com a “ocupacdo efetiva e morada habitual”, como dizia o Re- gulamento de 1854, das terras distantes, nao poderia prescindir da opiniao dos dirigentes da Fundagéo Brasil Central, a cuja frente se acha o ministro Joio Alberto. Entre outras informages com que empolgou a atencao dos ouvintes, fri- sou o paralelo entre meios varios de comunicagao de que se utiliza. Da cidade nascente & margem do Araguaia, com os requisitos de con- forto moderno, ao acampamento & beira do rio das'Morte:, que se trans- formou em outro pove~'Jo, a articula- so pratica-se por terrd, pelos rlos e pelo ar. © custo de %.ducio das merca- dorias por quilo monté a Cr$ 1,80, quan- do os tropeiros as levam pela estrada de servico dos expediciondrios. Embarcadas, desenvolvem maior percurso por 4guas abaixo, no Ara- guaia, e contra a correnteza, em seu afluente da margem esquerda. Do longo desenvolvimento, resulta subir frete a Cr$ 2,00. Opostamente, de avido, em reta, a ligagéo abrevia-se ao extremo, causando a surpreendente diminutcdo ‘do preco unitarlo do trans- Porte a Cr$ 1,50, menor do que por ou- tro qualquer processo existente. © conhecimento que possul da vida sertaneja espelhou-se por outros as- pectos, quando velo @ baila a interro- gacdo a respeito do processo mais acon- selhavel ao Brasil para atalhar a rare- facao demografica da hinterlandia, fa cilitada porventura na quadra atual de reajustamentos, pela natural tendéncia de muitas comunidades européias deixar as regides devastadas, onde tat to sofreram os horrores da guerra. Nao haveria presentemente carén- cla de candidatos @ imigracio. Téc- nicos de varlas habilidades industrials, lavradores, operarios comuns, e até ma- landros se’ apressaram em tentar vida nova em regides distantes do seu pré- prio torrao. Compete acdo oficial, por meio da sua fiscalizagéo rigorosa, evitar que, de mistura com elementos sadios e destl- nados a prosperar pelo trabalho, se in- sinuem os indesejaveis, que virlam per- turbar a assimilagao gradativa dos re- cenvindos pela massa geral da popula- go brasileira. Para tanto as preferéncias tédas se manifestaram a favor dos povos latinos, aos quais se deve franquear a entrada, & medida que forem organizados os ni- cleos destinados a acolhé-los, sem pre- fuizo dos nativos, que merecem carinho- so tratamento, #-Ihes conhecida a de- ficiéncia organica, resultante da subnu- trigdo, responsavel pelo diminuto rendi- mento do seu trabalho. Desprovido de ferro, de calcio, de iodo, além de outros elementos, o seu organismo, por mais que se esforce, jamais conseguiré completar grandes tarefas, Abandonados, como andam, vi- verio penosamente, perdendo a pouco e pouco as fortes qualidades que her- daram dos ancestrais. Faz-se mister acudir a tempo, e de forma adequada, para eficaz utilizago do melhor colono, que sera sempre 0 nacional, j4 aclimado, desde que nao Ihe falte’a assisténcia ‘sanitaria e edu~ cativa. De qualquer maneira, porém, o em- preendimento intensivo do povoamento do solo, por alienigenas ou pelos nati- vos, pressupde a escolha conveniente das terras em que se fixardo, e projeto racional de loteamento, que facilite a distribuicdo das 4reas a cada familia. Na vastidao territorial do pais, po- rém, onde melhor se justificaré. 0 co- méco da aplicagéo dos postulados a que deveré atender a colonizacéio ra- cional? De principio, a regio sub-tropical merece maior atencio, pois no lhe es- tranhardo grandemente o clima os po- vos mediterrfneos, entre os quais se encontrarao as mais numerosas comi- tivas emigratérias. RESENHA & Restringindo afnda mais, convie- ram os entendidos em apontar as fer- rovias, como linhas forcadas de conden- sacdo, & margem das quais deveriam ser projetados os micleos coloniais. Nao basta, porém, que determinada porgdo de terras se inclua na faixa sub- tropical e seja atravessada por alguma estrada'de ferro ou de rodagem, para garantir 0 éxito dos seus posseiros. ‘A exigéncia da fertilidade aprecié- vel do solo, ou facilidade em complet- la, a abundancla de aguadas, de ma- deira, se possivel, séo outras tantas qualidades, que a0 gedgrafo competiré examinar amplamente, antes da esco- Tha que indicar, para mais minudencio- sas investigagdes dos especialistas em solo, em cultura, em profilaxia rural. Fol essa a conclusio a que chega- ram os iniciadores das discussées a res- peito do magno problema do povoa- mento das paragens ainda escassamen- te habitadas. A operacao preliminar inclui-se en- tre as maiores tarefas do gedgrafo mo- derno, a quem toca nao somente obser- var 08 aspectos varios do local exami- nado, como ainda as suas possibilidades econémicas, pelo racional aproveita- mento dos recursos naturais da regiao. E a imigracao, afinal, nada mais seré que um dos mais interessantes ca- pitulos da Geografia Humana. Virgilio Correia Filho. * Problemas de Mato-Grosso © Sr, Pimentel Gomes, escreveu, re- centemente, para o Correio da Manha, um. artigo intitulado “Problemas de Mato-Grosso”. Reportando-se, inicial- mente as suas viagens pelo Estado, diz 0 Sr. Pimentel Gomes: “Atravessel ‘Mato-Grosso, duas vézes, em todo o seu comprimento e emi téda’a sua largura. Ful, das selvas do norte aos campos e ‘cafézais do sul, passando pelo cerrado e pelo Pantanal. Estive em Ciceres, na longinqua Caceres, em Trés Lagoas e em Campo-Grande — a cidade cogume- lo do extremo este. Demorei em Co- rumbé, & margem do amplo e barrento Paragual, a dois passos das duas repu- blicas que ndo ha muito disputaram o Chaco com as armas nas maos. Corum~ ba, brasileira 100%, é uma das portas do Brasil, a porta dos fundos. Para- guaios e bolivianos ai se encontram e se confundem com a populagéo local. Das terras altas da margem direita, que dominam o rio de talvez vinte me- OPINIOES 9st tros, a vista se alarga pelo Pantanal que se inicla, amplissimo, nos barran- cos baixos da margem esquerda e se estende por centenas de quilémetros. Temos o maior chavascal do mundo! Habitel por alguns dias Culabé, cidade boa e simpatica, modesta e promissora, posta no coracdo geografico da Amé- tica-do-Sul. Vi florestas e campanhas, planaltos e charcos, los e serras, reba- nhos ¢ lavouras, garimpos e seringals, pesquisei, anotel’e trouxe daquelas pla. gas distantes um grande amor a terra matogrossense e uma grande confianca em sua futura prosperidade. Ha quase tudo na terra farta, generosa. Hé com que viverem bem cem milhées de cria- turas. © maior problema de Mato-Grosso — afirma o Sr. Pimentel Gomes — 6 0 dos transportes. A solugao deste mag- no problema solucionaré, em grande parte, todos os outros. Sem transpor- tes mais faceis, rapidos e baratos, sem estradas de ferro e rodovias, sem mals vapores nos rios navegavels, que sio mulitos e importantes, sem mais avides nos céus, sobrevoando a gleba fecunda, tudo seré precdrio, incompleto, pouco eficiente, por maior que seja o esférgo realizado. & initil ter milhoes de me- tros cubicos d’dgua no alto da monta- nha se ha falta de canalizacdo para a turbina que a aguarda 14 em baixo. Um exemplo. A cidade de Culaba, relativamente grande e em fase de ressurgimento, liga-se a0 mundo pelos avides da “Cruzeiro do Sul” e da “Pa- nair do Brasil” por um éntbus que vat semanalmente a Campo-Grande, depois de atravessar 980 quilmetros de cerra- dos e campanhas por estrada precéri mal conservada e pela navegacao fh vial. As cargas vém pelos vapéres de Miguéls & Cia., vapdres velhos, sem conforto, absolutamente insuficientes. ‘Até ha bem pouco tempo, Culaba r cebia 250 a 300 toneladas de merca~ dorias por més. A navegacéo 1a dando para tao minguado transporte. Hoje, Culaba recebe de 1 200 a 1 500 tonela- das, trazidas, num esférgo supremo, pelos barcos antiquados e carcomidos de que dispée, Essa mercadoria, porém, 4 nao atende as suas necessidades. Em Porto-Esperanga, hd sempre montées de mercadorias aguardando transporte, embora, vez por outra, quando o acumulo se torna muito grande, a No- roeste suspende brusca e sumariamente todo o despacho de carga que se des- tine & capital matogrossense. £ possi- vel prosseguir nestas condigées? Expli- ca-se assim, facilmente o pouco pro- 92 gresso do centro matogrossense, em- bora talvez dispondo ce maiores poss!- bilidades econémicas do que o sul. Prover 4 navegacio de vapéres melhores e mais rapidos é uma das necessidades maiores do Mato-Grosso Central. Sem isso continuara como os és das chinesas antigas nos sapati- nhos apertados: sofrera, deformar-se-& de tanto esférco e ndo crescera. Talvez © proprio govérno do Estado pudesse criar uma companhia de navegacao fluvial, a exewplo do que se fez em Guaporé, auxiliado pelo govérno da Unido. Sem um forte amparo nacional pouco podera fazer um Estado com duas ou trés dezenas de ‘mithdes de cruzeiros de rendas, enfreniandy pro- biemas vitais de resolucae varissima Dragar o rio é uma necersidade gri- tante. Durante sels meses navegacac se faz com certa regularidade. Ha agua suficiente. No periodo mais agudo da estiada a navegacéo torna-se infernal Vez por outra, s6 com o emprégo do guincho é possivel deslocar # embar- cagéo num leito onde escnsse:am as Aguas e sobram os bariens = aveia Em Cuiabé um amigo mostrava-me entusiasmado artigos nus ailimos nu- meros do Correio da Manhd ai chega- dos. Othei a data. Trés meses de atraso! E ésse tremendo atraso é comum. A na- vegago precarissima explica-o. Por quc © transporte das malas nao se faz pela estrada Campo-Grande—Cuiabé, mes- mo que o Departamento dos Correios e Telégratos precisasse dispor de um veiculo novo e bem aparelhado? Os seringais matogrossenses se es- tendem para o norte, além de Cuiabé, depois que as aguas comecam a desi zar em busca do grande rio Amazonas Néo ha rios navegavels, a0 contrario do que sucede comumente, O seu apro- veitamento deve ser precedide pela abertura de estradas. Atualmente se encontra uma rodo- via em construcéo, rodovia que partin- do de Culabé iré'a Porto-Velho, pas- sando por Vilhena, Jé hé trechos, lon- 0s, prontos nas duas extremidades, maigrado quase todo o percurso ser feito na selva equatorial, onde as difi- culdades téenicas se acumulam. Con- cluida, seré uma demonstragao da ca- Pacidade de nosso esférgo. Da estrada Principal partem alguns curtos ramais. Conversei com varios seringalistas. 840 homens audaciosos que se enter- ram na selva com dezenas ou centenas de operarios, enfrentando a floresta virgem, os insetos, o impaludismo e mo- bilizando grandes capitals. A animagao BOLETIM GEOGRAFICO j@ fol maior. Acreditaram em lucros mais remuneradores de tanto esférco despendido. Tontinuam, porém, a tra- balhar. Julgam que o Banco da Bor- racha poderia pagar melhor o seu pro- duto. A produgdo de borracha tende a aumentar a proporgdo que as estradas aumentem, © melhoramento da rodovia Cuta- ba—Campo-Grande é outro empreendi- mento imprescindivel. A estrada foi aberta pelo govérno do Estado e pelo 49 Batalhéo de Engenharia. Bste féz 4 ponte sobre o Taquari. O Estado constralu as que atravessam o Sao- Lourenco eo Vermelho. Ha muita obra de arte de emergéncia, precisando de pronta substituicao. E os consertos da estrada consertos anuais indispens4- veis, tardam a falta de recursos nos ‘co- fres estaduais. A estrada entra em de- cadéncia acentuada. O trafego tornar- se- cada vez mais di tendendo & suspensio. * © rio Sio-Francisco © destino do Brasil dependeu, em certo momento histérico, da direc&o das Aguas de seus rios: eram éles a tnica estrada desimpedida, que somente a indiada dispersa pelas margens pode- ria perturbar. Mas, pelo contrarlo, os indios constituiram, em principio, mo- tivo de sua navegacao, porque represen- tavam o -ecurso do’ operario mais & mao. Tolhidos pela barreira da serra do Mar, de um lado, e, de outro, pela mu- raiha da Mantiqueira e suas ramifica- cdes para o interior, os escoadouros Gas ‘guas do sul s6 encontraram cole- tores favordveis na diregao leste-oeste; estas estradas movedicas, porim, leva~ vam os homens para o mistério e para a aventura sublimada mais tarde em Potosi. Transposta a Mantiquelra, os eu- ropeus encontravam a serra bifurcan- do-se em forma de V e separando no- vamente as diregdes das aguas. Sé uma. bacla coletora era possivel no centro dessa bifurcacéo e havia de correr pa- ralelamente a costa por centenas e cen- tenas de quilémetros em pleno planalto central. A um rio, cuja_diregao com- portava tamanha divergéncia, caberia, Por certo, fungao especial; era'a fungao nacional do Sao-Francisco. A densa floresta, que aderiu & mon- tanha litoranea, acompanha-a por toda parte, até os confins da Bahia nordes- ‘ina, Encontramos nestes fatores dois RESENHA E elementos da formacéo sertaneja: a montanha opés um divisor de muito préximo da costa, diticultando 0s cursos grandes e tranqiilos. O maior désses Tlos, 0 Doce, apresenta tals di- ficuldades ‘de navegagéo que um go- vernador, ao tempo de Eschwege, anun- clava a sua abertura ao transito com apenas 23 baldeacées. ‘A direcd&< das 4guas em tal trecho da costa era hostil & nova civilizacéo, que vinha do mar amigo, trago de uniao perpétua das duas margens atlanticas. ‘De outro lado, a floresta separava © litoral do sertéo de forma definitiva, Ninguém ousava devassar-Ihe a espes- sura, carregada de perigos, nem ilu- minar-Ihe @ penumbra tiuida, prenhe de olhos vigilantes e de cipés vivos ex- pectantes. Sob a protegio da montanha e do mato virgem, o sertao cresceu fora da influéncia do elemer..o oficial. O pla- nalto, independente por férga do d terminismo geografico, desenvolveu-: sob a indisciplina das’ colsas esponta- neas, entregue ao seu proprio arbitrio, Dii.a 0 cronista: “fste vasto territério, maior do que alguns reinos da Europa, ainda é muito pouco conhecido; serel, portanto, al- guma coisa prolixo descrevendo-o. Per- Maneceu muitos anos, por assim dizer, entregue 2 si mesmo, governado por capitées-mores irresponsdveis, cuja, yontade era lel; em 1815, porém, fol elevado a comarca com um corregedor que em verdade pouco melhorou o seu esta‘o”. (José Bernardo Fernandes Gama): Peiado pelo relévo, o home: do sertéo nao pode recorrer & via terres- tre; € impossivel dominar os espigées, onde o mato virgem impera de forma indeclindvel. O inico recurso é 0 rio e 8 direcdo das aguas determina 0 ca- minho da civilizacdo. Poder-se-ia dizer, entio, que caminha no sentido da gia- vidade, o que € exato pelo menos para a indiada, que desceu das montanhas andinas para os planaltos e para as planicies. rio de Sao-Francisco, correndo do sul para o norte, através de todo o pla- nalto, representa, assim o tinleo pont» de unido entre as povoagées dos ex tremos do sertéo. Depois, escapo da vertigem da descida da serra no Iitoral, que faz dos rios cascatas, o Sao-Fran- PRB 05, EDITORES: fate “oletin” ato faz, publleldade rem ia ow de intertase ‘ao Conselho Nacional de Geogratia, concorrendo désse modo para mais ampia ‘comentard as contribuicées sobre seo referente A geografia brasileira. OPINIOES 983 cisco dorme ao longo do planalto, sere- no e convidativo, através de milhares de quilémetros, oferecendo uma viagem trangiilla e segura. Realmente, se es- tudarmos o perfil magistral dessa ba- cia coletora, verificaremos que a suavi- dade da descida é impressionante. De Pirapora e Jatoba, numa distancia de 1 400 quilémetros a diferenca de nivel 6 de 174 metros apenas, constituindo um enorme trecho francamente transi- tavel, ao qual se poderiam acrescentar alguras centenas de quilémetros mais, a montante das corredetras de Pira- pora. © rio sé deixa de ser navegdvel quando comeca a transpor o muro da serra, em busca do litoral. Ai inflete para leste e corre na mesma diregao dos outros; perde o interésse do sertao. Mesmo assim, a muralha de Paulo Afonso, represando as aguas em. mais de 250 metros de altura, representa um papel nacional, insubstituivel. £ ela que nos garante a navegabilidade do rio, impedindo a velocidade da corren- teza e pondo & disposigio do sertéo imenso uma imensa estrada, que une, quase em linha reta os dois pontos ex: tremos do interior. & o seu primetro se1 vigo efetivo prestado ao pais, facultan- do-lhe passagem ao largo da floresta e da montanha. ‘Além disso, a civillzagéo européla instalou-se com éxito em pontos do ltoral extremamente distante; Sfo- Vicente, Pernambuco e Bahia, que se isolaram_no espago, sem meios de co- municagao terrestre. Expandindo para © interior, os colonos conquistaram serra e com ela se Ihe abriu a amplidio de. planalto unido pelo rio Séo-Fran- cisco, onde as ragas haveria::. de mistu- rar-se, a sociedade constituir-se-ia através de uma circulacdo ativa e inin- terrupta, livre das pelas da lel e certa de que nao encontrarla o mistério nos dois extremos do rio. Os que desciam do sul sablam que no iam para o desconhecido e os que sublam a corrente, empurrados pelo vento permanente ‘da costa, estavam certos do convivio humano e comercial da frerj.esia longinqua de Sa0-Vicente; o rio mostrava, assim, desde o princi- plo, a sua vocagdo para estradi do Brasil. Orlando M. de Carvatho Contribuigaéo ao ensino O Clima Através dos Tempos Axe: Lércren Chefe da Secgio de Topogratia © Carta Geoldgica da Divissio de Geologia do ‘Mintstério da Agriculture Descrever sumdria ou pormenorizadamente os climas do passado oferece, a quem o tente, quase tanta dificuldade quanto descrever o do futuro. Ora, € bem conhecida a filosOfica verdade do nosso caboclo quando afirma: “quem quiser mentir que fale do tempo”... A previséo do tempo, todos o sabemos, é baseada na observacdo e interpretacéo de indicios e ocorréncias do momento, ninguém ignorando o quanto é falha e pouco segura, uma vez que ésses dados e observacées sejam insuficlentes e precarios. Para se estabelecer as condicées climaticas pretéritas, também se tera de Tecorrer unicamente aos escassos indicios delxados nas rochas e camadas geo- logicas, principalmente e quase exclusivamente representados pelos fésseis que, assam assim a assumir a importancia de verdadeiros termémetros das idades geologicas, © acurado exame dos sedimentos fornece, conforme vamos em ligetra sintese expor, alguns indicios cuja interpretagao nos permite tirar conclusdes sobre o clima’ reinante por ocasiao da sua deposicio, A guisa de comprovacao, passamos @ exemplificar: a auséncia de fésseis em depésitos e sedimentos marinhos ou lacustres nem sempre significa que ndo havia vida, mas sim, que as aguas nao eram favoraveis a vida talvez por se acharem excessivamente turvas ou pelo excesso de salinidade, ou ainda, devido a uma temperatura muito baixa, Os sedimentos acusando um elevado teor de caulim dio idéia de que as rochas da area de onde provieram deverlam ter passado por um periodo de pro- nunclada decomposigéo, sob ‘a influéncia de um clima relativamente quente e ‘famido. Jé a presenca de componentes minerais soliveis evidencia uma decom- Posicao gradativa e portanto contraria a suposi¢éo de um clima quente e tmido. Devemos antes atribui-los & abrasdo pelas gelelras ou ao ataque pelos ventos, de modo que, no primeiro caso, indi¢ariam um clima frio e no segundo um clima 4rido ou semi-arido. ‘Um clima semi-Arido, em muitos casos, nos é revelado pelas rochas ou fendas da lama (mud cracks), pegadas ou rastros de animais, etc., tracos ésses que sfio melhor conservados onde houve longos tratos de sécas esporadicamente interca- Jados de aguacelros fortes, uma outra vez cada ano, por ocasiio de uma estacéo yuvosa. ‘As regides desérticas nos so assinaladas pelos arenitos de grande espessura e Sormagéo edlica, juntamente com os depésitos das playas dos lagos além da vaza das inundagées ainda entremeadas de leltos salinos, de gésso, nitratos, etc. A cér avermelhada dos sedimentos que antigamente.era dada como indicagao certa de um clima desértico, hoje j se acha averiguado ser a caracteristica de alguns produtos de decomposicéo fartamente difundidos nos climas quentes e temperados tmidos. Arela com gros de quartzo arredondados, recobertos de ume camada de éxido de ferro vermelho é geralmente o atributo de um clima desérvico. Os arcésios © arenitos fortemente feldspaticos indicariam um clima relativa- mente séco, tanto quente como frio. Os depésitos glaciais denotam clima fresco ou trio com excesso de precipi- tagéo sob a forma de neve, e assim por diante. CONTRIBUIGKO AO ENSINO 935, © estudo das floras e faunas extintas e sua comparagio com as atuais, dominio absoluto da Paleontologia, fornece elementos e dados cuja interpretagéo tem trazido alguma luz sdbre o ‘assunto em apréco, embora havendo sempre muita controvérsla entre os autores, Contudo e apesar dessas divergéncias, ainda mesmo afrontando o provérblo caboclo, isto 6, correndo o risco de passarmos por mentirosos, vamos tentar apre- sentar em linhas multo gerais um sumérlo do clima,relnante nas varies fases of, que passou a Terra, Segundo nos ensina a geologia, a histérla do nosso planeta se desdobra em cinco capitulos, aos quais os técnicos denominam eras, ajuntando-lhes as res- pectivas deslgnacdes: arqueoz6ica, proterozéica, paleozdica, mesozdica, cenozélca, seguindo a ordem por antigilidade. Para melhor entendimento, recordaremos ainda que algumas eras também so subdivididas em periodos e outras divisées menores, das quais nao trataremos, pois 86 faremos referéncias aqueles. ‘Assim 0 paleozdico, que os velhos tratadistas chamam primério, nos textos atualizados aparece com os sels periodos: cambriano, ordoviciano, siluriano, devo- niano, carbonifero, permiano. © mesozdico ot secundario dos saudosistas, apresenta-se habitualmente com os trés periodos: tridssico, Jurdssico, creticeo'e por ultimo o cenozdico que se subdivide em eoceno, oligoceno, mioceno, plioceno, mais o pleistoceno e holoceno ou, recente, constituindo 0 quaternario’e os quatro primelros o terciério dos antigos. | * Feltas essas pequenas consideragdes passemos ao que nos interessa. Do clima reinante no arqueozéico, de cuja duracio dizem os gedlogos em geral ter sido a mais longa igualando, ou mesmo, ultrapassando tddas as demals eras reunidas, bem pouco se tem a dizer, sendo de supor que pelo menos uma certa parte déle teria sido favoravel A vida, nfo se chegando a precisar quanto nem quando. Para afirmar que houve vida s6 temos provas indiretas pela ocorréncia de camadas de caleéreo e de sedimentos grafitosos, sendo que os tinicos organismos supostos aptos a viverem em melo tao indspito serlam certas bactérlas, que se nutrem diretamente de elementos quimicos: as sulfobactérias, as bactériss nitri- ficantes e as das fontes ferruginosas. Admitindo-se, entéo, como varios preferem, que essas plantas unicelulares geraram-se nas 4guas quentes de origem vuleanica, idéia essa que € apoiada pelo fato de alguns tipos mais primitivos de algas (al- gas verde-amuladas © bactérias) viverem hoje nas aguas quentes das fontes fermo-minerais, teremos que optar pela predominancia do calor no melo retnante. ‘Na era proterozdica, a qual representa cérca de 25% do total do tempo , pelos tragos até hoje encontrados nas grandes massas dos sedimentos que, alias apresentam grande analogia com ‘os das eras posteriores, conclul-se com seguranca a existéncia de vida, trazendo assim a quase certeza de ur clima cujas caracteristicas néo divergem intelramente das verificadas nas ¢ geolégicas relativamente recentes. Assim, pelo menos, levam a crer os registros eneontrados denunciando as Algas, Diatomdceas e Moluscos que, allds, desem- penharam importante papel na formacdo da crosta terrestre e deviam pulular hos mares continentals pouco profundos dos tempos primitivos como ainda se verifica nas costas hoje em dia. S4o as plantas Algonqulanas — as algas, que nos prenunciam um estagio mais evoluido da vida e de fato vamos encontrar em camadas superiores da sua era, varios braquidpodos, crustéceos, vermes e radiolarias fossels ostentando, alguns déles, tipos de organizacéo bem completa, Daf se infere entéo que as condigdes climatéricas eram niio s6 favordvels & vida, mas também a sua evolucao. (© clima durante o paleozéico apresenta, segundo as observagées e dados atuais, uma certa variagao através dos seus varios periodos, de forma que quase nao se pode fazer um resumo de suas caracteristicas gerais correspondendo a0 conjunto todo, forgando-nos assim ao exame das partes componentes de acérdo com a divisio ja assinalada. ‘A existéncia, das geleiras no inicio dos tempos cambrianos constatadas na China, na Australia e na Noruega, velo abalar profundamente a antiga suposicao de uma tniformidade climatica absoluta naqueles tempos tho recuados, # por 8 BOLETIM GEOGRAPICO assim dizer quase indtil querer menosprezar a significacéio désses depésitos glaciais que evidenciam nao ter sido o clima em todo 0 inicio do Paleozdico, considera- Felmente mais quente, mais imido e mais rico em bidxido earbénico do que je. Os téssels do cambriano até hoje encontrados so exclusivamente de latitudes temperadas no indicando portanto grande variacdo de temperaturas nos oceanos, nao havendo também provas da existéncia de 4guas mais quentes do que as das atuals zonas torrida © temperada quente. Assim sendo, temos que atribulr ac elima désse tempo uma cetta semelhanga ao que agora caracteriza as partes mais quentes do mundo a‘ual, = 0 periodo ordovicians, pelos seus depésitos de gésso, sal e arenitos vermelhos no norte da Sibéria e outros pontos da Asia que claramente indieam um elima &rldo e rude e mais ainda pela distribuicdo dos {isseis, condicées geografieas € eardter das rochas, teve um clima de caracteristicas bem mals uniformes que © atual. —- No siluriano inferior no se encontra nenhuma evidéncia de diversidade acentuada de zonas climaticas. Entre as regides polares e as temperadas provavelmente néo havia malor diferenca que a temperada fria e a temperada quente, entretanto, nota-se pelos tésseis ter havido certa variacdo, porquanto algumas espécies do noroeste da Escécia apresentam mais semethanca com as do Canada do que com as da Inglaterra, A temperatura amena das aguas do Artico é evidente pela ocorréncla de varlas espécies, sendo que fui sugerida a existéncia da Corrente do-Gélfo (Gulf Stream), por alguns autores, ja desde o cambriano. Quanto ao siluriano superior nao se pode afirmar que tivesse um clima aspero ou rigoroso em conseqiiéncia dos ventos frigidos, nem que a temperatura dos Oceanos fésse muito alterada pelas correntes polares. As espécies féssels que viviam nas Aguas entre os paralelos de 30° e 45° eram Por assim dizer as mesmas que freqiientam os paralelos de 65° e 80°. Dai se deduz, Pols, que os mares deveriam ser quentes ou pelo menos temperados. ‘Assim, também pela presenca drs formagées coraliferas sob as mais diversas latitudes, ‘se chega a admitir um

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