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UNIP — Instituto de Ciéncias Juridicas — Campus Brasilia Curso: Direito Disciplina: TEORIA GERAL DO PROCESSO. Professor: Antonio Carlos Brum de Souza 2. AEVOLUGAO DO DIREITO PROCESSUAL NO MUNDO E NO BRASIL 2.1. Evolueao do Direito Processual no Mundo 2.1.1 — Autotutela - Nas fases primitivas da humanidade, ndo existiam as leis (normas gerais abstratas, reguladoras das relacdes entre os individuos), nem tampouco uma instituigao como 0 Estado (da maneira como ele & concebido nos dias atuais), que pudesse impor 0 direito, colocando-o acima das vontades dos individuos. Assim, os mais fortes acabavam impondo as suas pretensdes e decisdes aos mais fracos. “A propria repressdo aos atos criminosos se fazia em regime de vinganga privada... A esse regime chama-se autotutela (ou autodefesa)...”". - As principais caracteristicas da Autotutela sao: ~ a auséncia de um juiz; e - a imposicao da vontade (decisao), pela parte mais forte, a mais fraca. 2.1.2 — Autocomposi¢ao Na autocomposig¢éo, uma ou ambas as partes em conflito abrem mao de seus interesses ou de parte deles, resolvendo o litigio. - Formas de autocomposigao: - Desisténcia: rentincia pretensao; - Submissao: rentincia a resisténcia (ante a pretensdo); € - Transagao: concessées reciprocas. ~ Caracter partes envolvidas. comum: so solugées parciais, pois decorrem da vontade das 2.4.3 - Arbitragem Facultativa © = Com 0 tempo, os individuos passaram a preferir uma solugéo imparcial para os seus conflitos, surgindo a figura do arbitro (pessoa, da confianca de ambas as partes envolvidas, escolhida para dar uma solugao ao litigio). Em geral, os arbitros eram escolhidos entre os: = sacerdotes, pela crenga de que suas ligagSes com as divindades trariam solugées acertadas, conforme a vontade dos deuses; ou - ancidios, por conhecerem os costumes do grupo social ao qual pertenciam as partes: - Enquanto na Autotutela o mais forte impde a sua solugao pela forga, sem cogitar da existéncia ou nao de um direito, na Arbitragem a solugdo dada ao conflito se limita a definir se essé direito existe ou no, ficando o cumprimento da deciséo (execugao), nos "CINTRA ot a. Teoria geval do processo. p.27 raf, Antonio Carlos TEORIA GERAL DO PROCESSO 2 tempos antigos, dependente da sua aceitagao (pelo vencido) ou, como na Autotutela, do uso da forca (pelo vencedor), de forma violenta e parcial.” 2.1.4—O processo grego = Segundo Moacyr Amaral Santos®, naquilo que interessa ao direito patrio, o estudo da evolugéio do direito processual, bem como do proprio direito em geral, tem suas origens no direito romano‘. Todavia, antes de se passar a anélise da evolugdo do processo romano, € necessario destacar as observagées de Humberto Theodoro Junior, acerca do direito processual grego, pois foi *...a partir do mundo classico greco-romano que o direito processual... passou a ganhar foros cientificos...”* = Do pouco que a histéria registra sobre o proceso grego, sabe-se que ele era oral e que, em relacao as provas: ~era dominado pelo principio dispositivo (0 Gnus cabia as partes e so em casos excepcionais era admitida a iniciativa do juiz); = elas podiam ser testemunhais (0 testemunho de mulheres e criangas sofria restrigbes; no inicio, o juramento tinha grande valor, mas, com o tempo, perdeu prestigio) e documentais (os documentos tinham grande importancia, principalmente, nas questées mercantis); era dada grande importancia “...a livre apreciagao da prova pelo julgador, que exercia uma critica ldgica e racional, sem se ater a valoragées legais prévias em tomo de determinadas espécies de prova...”° (nosso grifo), ou seja, néo havia nenhum tipo de sistema de tarifa legal da prova. 2.1.5 - O processo romano’ 2.1.5.1 — Periodo das legis actiones (agdes da lei) ou periodo do direito romano arcaico - Este periodo vai de 754 a.C. (fundagao de Roma) até 149 a.C. (Lex Aebutia), incluindo a famosa Lei das XII Tabuas (450 a.C.). [ AGOES DALE! | [ gbes de Conhecimento Agées de Execupso ~ legis acto sacramentum (de mais larga aplicagao ®, porisso, a mais importante); “legis acto fudicis arbitrive postulato (ou acto per judicis postulationem), + legis acto per condictionem (ou condlto) - legis actio per manus iniectionem (ou manus iniectio) (mais antiga); e = legis. actio per pignoris capionem (ou pignoris capio). = O procedimento era denominado ordo iudiciorum privatorum (procedimento civil ordinario), dividindo-se em duas fases: - in iure, perante o magistrado (pretor urbano — aplicaco do ius civile) que, concedendo a ago, estabelecia a litiscontestatio (determinacaéo do objeto do litigio e assungéo do compromisso, pelas partes, de aceitar a deciséo prolatada; esse ZCINTRA tl, Teoria geral do proceso. 0. 28, 2 Primeiraslinhas de direit processual chil. v.1.p. 38. +O elreto brasileio & dito de origem romano-germanica, como se poderd concur a0 final deste estudo, Por isso, 6 importante register, por necesséro © oportuno, que aqui se trata do estudo das eigen @ da evoluslo do processo no ambito exclusivo do deta xstente nas ehilagGes octentai, som ee buscar conhecer os isttutos corelats, ceramente, existentes entre oUtF0s poves {eaipcos bersa,rraus et), o que estar icuso ra exere de atibuges do deo comporado. THECOORO JUNIOR. Curso de diteito processual civil. 1.9.8 idem. " SANTOS. Primeiraslinhas de dirsito processual civil 1p. 98.244 Prof Antonio Carlos TEORIA GERALDO PROCESSO 18 compromisso era necessdrio porque, naquela época, a interven¢do ou ingeréncia, do Estado ou de quem quer que fosse, nos negécios de qualquer pessoa era completamente repudiada)®; e ~ in iudicio (ou apud judicem), perante o iudex (ou arbiter): particular escolhido pelas partes, que conduzia a instrucdo (apresentagdo de provas, depoimentos, debates entre as partes) e proferia a sentenca (que era irrecorrivel e cujo poder vinha da obrigacao assumida pelas partes). Essa escolha de um particular, pelas partes, para atuar como juiz da questdo, é entendida como sendo, ainda, uma forma de arbitragem facultativa ~ Caracteristicas do procedimento: ~ era “...excessivamente solene e obedecia a um ritual em que se conjugavam palavras e gestos indispensaveis. Bastava, as vezes, 0 equivoco de uma palavra ou um gesto para que o litigante perdesse a demanda."® (nosso grifo); -0 réu era trazido pelo autor: a convite ou in ius vocatio (a forca); - as partes deviam estar presentes, pessoalmente, durante todo 0 processo; - inteiramente oral (acompanhado por parentes e amigos); 2.1.5.2 — Periodo per formulas ou periodo formulario ou periodo do direito romano classico - Este periodo vai de 149 a.C. (Lex Aebutia) até 294 (extingo do procedimento formulrio, por Diocleciano) - A expansdo do império romano e o desenvolvimento do comércio propiciaram o ‘surgimento do pretor peregrino, que passou a aplicar o direito aos estrangeiros, por meio de formulas escritas (0 ius civile era privativo dos cidadaos romanos). Em 149 a.C., a Lex Aebutia estendeu procedimento per formulas aos cidadaos romanos (por ser menos formal), mantendo as legis actiones para alguns casos especificos. Por fim, em 136 a.C., as Leis Julias (lex judiciorum privatorum e lex iudiciorum publicorum), extinguiram, definitivamente, as legis actiones. - Caracteristicas do procedimento: = continuou com a denominacdo de ordo iudiciorum privatorum e se manteve dividido em duas fases (in iure e in iudicio), mas ambas isentas de solenidade; - exceto a formula (escrita), era todo oral, inclusive a sentenca; - as partes compareciam pessoalmente, mas podiam ser orientadas por juristas e assistidas por cognitores ou procuratores; = concedida a ago, aférmula era escolhida, pelo autor, no album do pretor, entre modelos publicados em editos. ~ na formula eram fixados: a litiscontestatio (compromisso das partes), o objeto do litigio, a nomeacao do juiz (iudex ou arbiter — escothido pelas partes ou do album iudicium) e a miss&o deste, isto é, como deveria ser o procedimento do juiz. Desta forma, para “...acilitar a sujeicao das partes as decisdes de terceiro, a autoridade piiblica comega a preestabelecer, em forma abstrata, regras destinadas a servir de critério objetivo e vinculativo para tais decisdes, afastando assim os temores de julgamentos arbitrarios e subjetivos.”'° Assim, se as partes acordassem quanto ao juiz a ser nomeado, tinha-se, ainda, um sistema de arbitragem facultativa: quando no, o juiz era escolhido pelo pretor e sua nomeagéo era imposta as partes, caracterizando a passagem a um sistema de arbitragem obrigatoria. SCINTRA ot of Teoria geral do processo.p. 28. "THEODORO JUNIOR. Curso de seito processual civil v.1.p. 10. (CINTRA et. a. Teoria geral do processo, 5.28 © 22. Pro. Antonio Caos TEORIA GERALDO PROCESSO 1% - 08 atos processuais eram realizados com audiéncia e contrariedade reciproca das partes (contraditorio); = 0 6nus da prova incumbia a quem fazia as alegagées; - 0 juiz podia apreciar livremente as provas (livre convicgao do juiz); - a sentenga, também irrecorrivel’', condenava 0 réu a pagar uma soma em dinheiro, mesma se a causa fosse por uma coisa (res) certa e determinada. .3 — Periodo da cognitio extraordinaria (ou cognitio extraordinem) - Este periodo vai de 294 (extingao do procedimento formulario, por Diocleciano) até c. §28/534 (codificagao de Justiniano: Institutas). “Depois do periodo arcaico e do cldssico (que, reunides, formam a fase conhecida por orto Jjudiciorum privatorum), veio outro, que se caracterizou pela invaséo de area que antes ndo pertencia ‘a0 _pretor: contrariando a ordem estabelecida, passou ‘conhecer ele pro} mérito dos. iglos entre os particulares, proferindo sentenga inclusive, ao invés de nomear ou aceltar a nomeacao de um arbitro que 0 fizesse.”** (nossos grifos) Caracteristicas do procedimento: desenvolvido totalmente perante o magistrado (pretor), em fase dnica; = eminentemente escrito (libellus conventionis, itis denuntiatio, libellus responsis ou libellus contraditionis e sententia); = a citagéo do réu (litis denuntiatio) era feita por um funcionario do Estado (auxiliar da justica); - havia a possibilidade da revelia; -a litiscontestatio servia, apenas, para marcar o fim da fase postulatoria, pois a forca impositiva da sentenca advinha do poder do Estad: =a interposigéio de recursos contra'a sentenga passou a ser admitida; € = a execugao da sentenca feita por meio de medidas coativas. do Estado (penhor de bens para garantia da execugdo — pignus ex causa iudicati captum). - Com a cognitio extra ordinem: completou-se 0 ciclo hist uodo da chamada justica privade para a justca publica 0 Estado, ja suficentemente fortalecido, impoe-se sobre os parficlares e, prescindindo da voluntaria submissdo destes, impde-thes autortativamente [assim no orignal] a sua solugdo para os conflitos de interesses.""* (nosso grifo) 2.1.6 - A Jurisdigao “A atividade mediante a qual os juizes estatais examinam as pretensbes e resolvem os confltos da-se 6 nome de jurisdiedo. Pela jurisdicao, como se vé, os juizes agem em substituicao as partes, que no podem fazer justica com as proprias maos (vedada a autodefesa); a elas, que nao mals esta a possiblidade dé fazer agir IACAO], provocando o exercicio da funcao (nossos grifos) ~ Ajurisdigao se manifesta no mundo conereto por meio do PROCESO: instrumento por meio do qual o Estado atua, exercendo a jurisdicao, para fazer cumprir 0 comando da norma juridica pertinente a cada caso concreto, de forma a eliminar os conflitos e, com isso, pacificar e preservar a ordem social. * Embore hala ciacordéneié na doutrina quanto a isso. ® CINTRA ot. Teoria geral do processo.p. 29, "om. * idem. Prof Antonio Carlos TEORIA GERAL DO PROCESSO 4s 2.1.7 - O processo germnico (ou barbarico) e o processo romano-barbarico - Aqueda do império romano do ocidente deu-se em 476, com a invasao dos povos germanicos que, além da dominagao militar e politica, impuseram aos vencidos os seus sos e costumes primitivos (por isso, chamados de barbaros) e 0 seu direito, inclusive o processual. Caracteristicas do procedimento germanico: = efa manifestamente rudimentar; inteiramente oral; e extremamente rigido (formal)"®; - © povo exercia a jurisdi¢ao, em assembleias populares, presididas pelos condes feudais ou seus, delegados; os juizes apenas dirigiam os debates e as provas, orientavam quanto ao direito e sugeriam a solugao a assembleia. - quanto ao sistema probatério: - era baseado nos juramentos das partes e nos juizos de Deus: ordalias e duelos; - 0 6nus da prova era do acusado; e - predominava o sistema legal (ou tarifado) de provas, no qual: “O valor de cada prova e sua conseqiéncia para o pleito ja vinham expressamente determinados pelo direito positivo...""’, sem nenhuma margem de liberdade para o juiz, quanto a produgdo e apreciagdo das mesmas; ~ no havendo poder acima das assembleias, as decisées eram irrecorriveis. - Assim, 0 processo romano foi sendo substituido pelo germadnico, sem, contudo, deixar de existir por completo, gragas 4 sua manutengdo em Roma e em Ravena, bem como @ contribuicdo recebida do direito canénico, que absorveu muitos de seus institutos. E, dessa coexisténcia do processo germanico com o romano, deu-se o surgimento de um processo misto: 0 processo romano-barbarico, no qual as instituicdes germanicas foram sendo recompostas sob a influéncia dos principios do direito romano. 2.1.8 - O processo romano-canénico e o processo comum”® - Além da resisténcia do direito romano e da aplicagao do direito canénico, a criagao das Universidades, no séc. XI, também se tornou um obstaculo a pratica exclusiva do processo germanico, contribuindo, decisivamente, para a evolugao do proceso. ~ Na primeira universidade, a de Bolonha (1088), surgiu a escola dos glosadores”. Os pés-glosadores, na pratica forense, procuravam adaptar o direito processual costumeiro, de fundo germanico, as interpretagdes (nem sempre acertadas) que davam as fontes romanas. Assim, pés-glosadores ¢ praticos forgavam a interpretacéo dos textos romanos, buscando encontrar neles o fundamento para justificar a manutengao das instituigdes germanicas, j enraizadas nos costumes da época, dando a estas uma nova aparéncia. Nesse periodo, ganhou-destaque a obra dos canonistas, na sistematizacao das instituigdes processuais. ® SANTOS. Primeira tinhas de dlrelto processual cll. 1.p. 45 647 “THEODORO JUNIOR, Curso de direte processual clit. p. 11 tem, 1 Humberto Theodor Jinior considera este periodo como incuso na rubcca do Provesso Comum, ® SANTOS. Primeiras linhas de direito processual civil. 1.p. 45 e47 ® Giosas: notas (anolages) tetas as margens ou nas enelinhas cos textos, na forma de comentérias ede interpretapbes dedes 208 texios romanos, adapiadas & prtica das insuigbes vgertes Prof. Antonis Carlos TEORIA GERALDO PROCESSO 16 - Guilherme Duranti (1237-1296), em seu Speculum judiciale, condensou a literatura processual dos glosadores, pés-glosadores, canonistas e praticos, marcando um momento em que a ciéncia processual, ajustando 0 direito costumeiro (de natureza germanica) ao direito romano e ao direito canénico, deu origem ao chamado processo romano-canénico. - A esse modelo somaram-se as legislagées comunais (estatutos e leis locais), disseminadas a partir do final do séc. XIll, por toda a peninsula italica, que foram integrando normas romanas, instituicdes - germanicas e outras novas, formadas naturaimente pelo uso. O resultado dessa integracao foi o surgimento de um proceso misto, que ficou conhecido como processo comum, *...porque se aplicava em tudo aquilo em que nao fosse derrogado por leis locais especiais.””' (nossos grifos). = O processo comum, em seu procedimento ordindrio (processus ordinarius — solemnis ordo iudiciarius), era escrito, lento, formalista e de pratica complicada e dificil Buscando torné-lo mais rapido e simples, foi instituido 0 procedimento_sumério (processus summarius), suprimindo as solenidades, reduzindo os atos e os termos (prazos), restabelecendo a oralidade e aumentando os poderes de direcdo do juiz. - Os Juizos de Deus (duelos e ordalias) foram abolidos, mantendo-se,.porém, as torturas, até 0 séc. XIX, como forma de obtengdo da verdade no processo, bem como o sistema da tarifa legal da prova, até o final do séc. XVIII. Somente a partir da Revolugao Francesa (1789), esse sistema foi combatido, retomando-se 0 livre convencimento do juiz, primeiro no processo penal, depois no civil.” 2.1.9 - 0 Cédigo de Processo Civil francés - Apesar das invas6es barbaras, 0 direito romano continuou vigente no sul da Franga fe, mesmo no-norte, onde vigorava o direito germanico, o direito romano se manteve vivo, por sua aplicagao nos tribunais da Igreja (direito canénico) = Desempenhando a fungao de érgéio central da jurisdicéio, 0 Parlamento de Paris, instituiu um processo prdprio, de base romano-canénica, mas impregnado de elementos germénicos. = Com base nesse proceso, surgiram as ordenangas régias, a partir do séc. XIV, dentre as quais, a mais importante foi a Ordenanga Civil de Luiz XIV (1667), que forneceu as linhas mestras para o Cédigo de Processo Civil francés (1806), 0 qual, apesar das muitas modificagSes sofridas ao longo do tempo, ainda se encontra em vigor. ~ O proceso civil francés aboliu as formalidades indteis e solenidades do processo romano-canénico, enfocando a simplicidade, a oralidade, a publicidade dos atos e o principio dispositive (este ultimo adaptado ao papel do juiz, como representante do Estado, com 0 aumento de seus poderes na admissdo, produgao e livre apreciacaio das provas). 2.1.10 - O processo civil na Alemanha e na Austria” Guuseppe Chiovenda apud SANTOS, Primeiraslinhas de dielto processual civil v. 1. p47 ®THEODORO JUNIOR. Curso de dirlto processual civil v.10, 12 © SANTOS. Primelras linhas de dielto processual ei. v. 1.9.47 48 % SANTOS. Primelraslinhas de dieito processual ell. v1. p. 48.648 Prot Antonio Carlos TEORIA GERAL DO PROCESSO 7 - O direito romano-canénico demorou cerca de dois séculos para ser recepcionado na Alemanha, por conta da acentuada resisténcia que sofreu e da tendéncia local manutencao dos direitos costumeiros. O proceso entéo elaborado continuou excessivamente formal. - Isso s6 mudou no inicio do séc. XIX, por influéncia do processo francés (1806) e “da profunda elaboracao cientifica do Direito Processual... com base no:direito romano puro...’%, resultando no Regulamento Processual alemao (1877) (Civilprozessordnung) que, apesar de diversas modificagdes, ainda se encontra em vigor, pautando-se pelos principios da oralidade, da concentraco, da imediatidade, da publicidade, da predominancia da atuaco. do juiz na direcao do processo e na apuracao da prova, a qual ficava sujeita & sua livre apreciagao. .Do modelo alemao, surgiu o Regulamento Processual austriaco (1895). - Estes dois modelos inspiraram diversos cédigos modernos, dentre os quais o do Brasil (1939), que vigorou até 1973, quando foi substituido pelo cédigo, atualmente, em vigor. 2.1.11 - O processo na peninsula Ibérica®™ ~ Apés seis séculos de dominagao romana, com a consequente adaptacao ao direito dos dominadores, a peninsula Ibérica’ foi invadida e, no séc. VI, finalmente dominada pelos visigodos. - Reconhecendo a autoridade moral dos bispos e a Superioridade das leis romanas, © rei visigodo Alarico determinou a elaboracéo de um “...extrato das leis contidas nos Cédigos Gregoriano, Hermogeniano,¢ Teodosiano, de algumas novelas, das institutas de Gaio e das sentencas de Paulo...’*’, que foi denominado Brevidrio de Alarico (506) (Breviarum Alaricianum ou Breviarum Aniani), para ser aplicado aos povos conquistados (0s visigodos continuaram utilizando o seu préprio direito costumeiro) - Com o passar do tempo, deu-se a integraco dos costumes germanicos aos locais, sob influéncia das instituigdes romanas, resultando na formacao do Cédigo Visigético (693) (Forum Judicum ou Fuero Juzgo), de fundo romano-gético, que, revogando o Cédigo de Alarico, foi aplicado a todos os povos da Ibéria (conquistados e visigodos), mantendo-se vigente, inclusive, durante os mais de sete séculos subsequentes da dominagao sarracena (arabe). 2.1.12 -O processo portugués” - O Reino Portucalense (1139), apesar da heranga castelhana, rapidamente instituiu um novo direito, baseado em cartas do rei ou de outros senhores, chamadas cartas de foro (forais), que, paulatinamente, substituiu o direito romano-gotico. Esse direito foraleiro, diferente em cada lugar, se tornou “...0 direito das justigas senhoriais, enquanto nas justicas eclesiasticas, cada vez mais influentes, se aplicava o direito canénico.” - Em face da grande diversidade normativa produzida pelo sistema foral e com vistas a fortalecer 0 poder real, D. Afonso Ill (1248-1279) organiza a justica, disciplina o processo e incentiva o estudo do direito romano pelos glosadores. Seu sucessor, D. = Giuseppe Chiovenda apud SANTOS, Primeiras linhas de direito processual civil v. 1.48 SANTOS. Primeiraslinhas de direio procossual civil v. 1p. 49 2 Jodo Mendes Jnr apud SANTOS. Primeiras Iinhas de direto processual civil. v. 1p. 49, ® SANTOS, Primeiras nas de direito processual evi. 1.p.50 € 51 * Idem. p. 50. Prof Antorio Carlos ‘TEORIA GERAL DO PROCESSO 18 Dinis (1279-1325), criou a Universidade de Lisboa (1308), onde se passou a ensinar 0 direito romano, bem como mandou traduzir a Lei das Sete Partidas (de Afonso X, de Castela), de esséncia romana, com reflexos na legislacdo portuguesa. A par desse embasamento romanista, 0 prestigio da Igreja fez com que o direito canénico também exercesse acentuada influéncia sobre o desenvolvimento do direito lusitano. - Ordenagées de D. Duarte (séc. XV): conforme manuscrito do inicio do séc. XV, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, durante o reinado de D. Duarte | (1433-1438), foi elaborada uma compilacdo das leis portuguesas, desde o reinado de D. Afonso Il (1211-1223) até o seu. - Ordenagées Afonsinas ou Cédigo Afonsino (1446): D. Afonso V (1438-1481) determinou uma compilaco de leis de direito canénico e direito romano, leis portuguesas anteriores e normas de direito foraleiro e costumeiras, para aplicagao no Reino de Portugal, que resultou em um conjunto de 5 livros manuscritos. O terceiro desses livros foi dedicado ao Processo Civil e 0 quinto, ao direito penal (nao existia, na época, a ideia da necessidade de um proceso penal). - Ordenagdes Manuelinas (1521): foram organizadas por determinagao de D. Manuel | (1495-1521), em razio da necessidade de se adequar a administracao do reino a0 grande crescimento do Império portugués, na época das grandes navegagoes e dos descobrimentos. Com notada ascendéncia do direito. canénico, foram. as primeiras ordeniagées impressas em tipografia, mantendo a estrutura dos 5 livros (0 terceiro, mais uma vez, dedicado ao Processo Civil e 0 quinto, ao direito penal). - Ordenagées Filipinas ou Cédigo Filipino ou Ordenagées do Reino (1603): ~ Durante-o periodo da Unido Ibérica, buscando demonstrar respeito as leis ¢ tradig&es portuguesas, para cativar os novos stiditos, D. Felipe Il de Espanha (D. Felipe | de Portugal) (1581-1598) mandou elaborar novas ordenagdes, mantendo a estrutura e o contetido das Ordenagdes Manuelinas. Essas novas ordenacées sé entraram em vigor em 1603, jé durante o reinado de seu sucessor, D. Felipe Ill de Espanha (D. Felipe Il de Portugal) (1598-1621). - Com a manutengéo da esirutura dos 5 livros 0 terceiro continuou tratando do Processo Civil, agora de natureza romano-canénica, com preponderancia do direito canénico, e 0 quinto, do direito penal. - Caracteristicas do procedimento_civil: era _dominado pelo principio dispositivo; em forma escrita; desenvolvido em fases rigidamente distintas; e previa 08 seguintes ritos processuais: = processo ordinério, dividido em 4 fases: postulatéria (libelo, contrariedade, réplica e tréplica); instrutéria (produgdo de provas, com a. testemunhal ainda secreta); decis6ria; e executoria; - processo sumario (rito menos solene e prazos mais curtos); € = processos especiais (acdes possessérias, de despejo, executivo- fiscais etc.). =“ processo criminal, juntamente com o proprio direito penal, era regulado pelo tenebroso L. V [livro 5%] das OrdenagSes, que admitia o tormento, a tortura, as mutilagdes, as marcas de fogo, os agoites, o degredo [inclusive, para o Brasil] e outras praticas desumanas e irracionais...’*' (nosso grifo) ® FOUTO, A transformagio de conceito de traigSo medieval no contexto da recepeao do Direito Jutnianeu e a construgao do goneelto moderno de traigio. p10 © 1 SCNTRA ota: Teoria geral do processo.p. 11 Prof Antonio Carlos TEORIA GERAL DO PROCESSO 19 2.2. Evolueao do Direito Processual no Brasil 2.2.1 - Aplicagao e continuidade da legislacao portuguesa ~ No periodo do Brasil Colénia e do Reino Unido a Portugal e Algarves™, isto 6, do inicio da colonizacéo até a Independéncia (1822), vigoraram no Brasil as Ordenacdes Manuelinas (1521) e, depois, as Filipinas ou do Reino (1603).*? - Apés a Independéncia do Brasil, por meio do Decreto Imperial de 20 de outubro de 1828 “..foram mantidas em vigor as normas processuais das OrdenagGes Filipinas e das leis portuguesas extravagantes posteriores, em tudo que nao contrariasse.‘a soberania brasileira..."“, as quais, com muitas alteragdes ao longo do tempo, vigoraram até o advento dos cédigos, no séc. XIX, chegando, algumas delas, até o séc. XX, quando foram, finalmente, revogadas pelo Cédigo Civil de 1916. 2.2.2 — Inicio da legislacao brasil : OS primeiros cédigos - Em face da precariedade do sistema penal das Ordenages, jé na Constituigao de 1824, foram estabelecidos cdnones fundamentais como, por exemplo, a abolicdo imediata dos agoites*, da tortura e das demais penas cruéis, determinando-se, com urgéncia, a elaboracao de um cédigo criminal, fundado em bases de justica e equidade. - Assim, foram sancionados 6 Cédigo Criminal (1830) e 0 Cédigo de Processo Criminal (1832), este ultimo, contendo uma Disposigéo Proviséria Acerca da Administragao da Justiga Civil. - © Cédigo de Processo Criminal, inspirado no modelo acusatério inglés e no inquisitério francés, configurou um sistema misto ou eciético, com acentuada clareza, simplicidade, atualidade e espirito liberal, pelo que mereceu, a época, aprovacao geral. - "Com apenas vinte-e-sete artigos, a disposigao proviséria_simplificou o procedimento, suprimiu formalidades excessivas e iniiteis, excluiu recursos desnecessérios..."*, criando excelentes condigdes para um futuro Cédigo de Proceso Civil que, entretanto, ndo foi elaborado. Ao contrario, por meio da Lei n? 261/1841, que alterou 0 processo criminal, a disposi¢o proviséria também foi modificada, para pior, em verdadeiro retrocesso politico e administrative. "Na esséncia e na estrutura se manteve o processo das Ordenagées, de fundo romano-conénico.””” (nossos grifos) 2.2.3 — 0 Regulamento n° 737 = Algarve € a regio mes ao sul de Portugal aue, no tempo da dominecdo saracens na peninsula brea, ei denominads "AL-Ghrab™ (Go arabe: “0 oadente” ou “o que esta a Oeste", Como fo arexada 90 reine portugues posteioments, manteve-ce 9 5u2 senominagso, resulando ra exeressdo Portugal e Aganves ‘Shs Ordenapées Afonsinas (1446) erem as lis Vgortes em Portugal ra época do descabrimento do Bras (1800). Mas, na pra, nao chegaram a ser apicadas em solo bral, uma ver que foram substtudas pelas Orvenagdes Manuetnas, em 1521, © 8 Calerizegio do Bresl so comstou, de fat, com a chegada ca expodae de Marti Afonso Go Sousa (1800), no Paver, Save tMehor biz, que se felar em apicacSo do diet portugues, em solo wasievo, anes disso. BTHEODORO JUNIOR. Curso de direlto processual civ. 1p. 13. * Enretanto, 0s agotes, come pera, contmuarem sendo apicedos, na isipina da Armada, até @ Revota da Chala, em 1910. Note- ‘22 que aqui se valam dos acoites como pene imposta pelo Estado, pois o castigo des chidaiaces, que era epicago aos escravos, no {Ri neu nesse ‘pacoe” nal de hunanisade. SINTRA ct a: Teoria geral do processo.p. "12. © SANTOS, Primeiras inas de dreto processul chil. 1.9.52. Prof. Antonio Carlos TEORIA GERALDO PROCESSO 2 = Complementando 0 Cédigo Comercial (1850), foi editado o Regulamento n° 737 (1850); para disciplinar o processo judicial nas causas comerciais. - Apesar de haver dividido os processualistas da época, se _“...examinado serenamente em sua propria perspectiva historica, o Regulamento n° 737 é notavel do ponto-de-vista da técnica processual, especialmente no que toca @ economia e simplicidade’do procedimento”®, a ponto de ter sido, posteriormente, estendido aos feitos civis, por meio do Regulamento n° 763, de 1890, no inicio do governo republicano™. - Observe-se, por oportuno, que alguns doutrinadores entendem que o Regulamento n® 737 foi o “...primeiro Cédigo Processual nacional..." ou “...0 primeiro cédigo processual elaborado no Brasil...""”. Todavia, em face da adogao, em 1832, do Cédigo de Processo Criminal, nos parece mais adequado dizer que 0 citado Regulamento foi o primeiro diploma Processual de natureza Civil e, mesmo assim, partindo-se da premissa de que a Disposigao Proviséria, do Cédigo de Processo Criminal de 1832, nao seja dado © status de diploma processual civil. 2.2.4 — A Consolidagao das Leis do Processo Civil - Em face do retrocesso trazido pela Lei n° 261/1841, desenvolveu-se prolongada campanha que culminou com a promulgacdo da Lei n® 2.033/1871, por meio da qual foi restabelecida a orientagao liberal da Disposicéo Provisoria do Cédigo de Proceso Criminal de 1830. No intervalo entre essas duas leis, as causas civis haviam sido reguladas pelas normas das OrdenagSes, com suas inumeras alteracdes. = Reunindo, em um conjunto Unico, toda essa legislagéo, foi elaborada a Consolidagio das Leis do Processo Civil (1876), na qual, além do trabalho compilatério, houve a atualizagéo de muitas normas, a luz de textos romanos e da doutrina de autores de renome na época. 2.2.5 — As modificagées republicanas - Como dito, em 1890, 0 govemo republicano estendeu as normas do Regulamento n® 737, com algumas modificacdes, as causas civis em geral, “...continuando, entretanto, a se regerem pelas OtdenagGes [e pela Consolidagao de 1876] os processos nao disciplinados pelo Regulamento, ou seja, varios processos especiais e os de jurisdigao voluntaria.”** - Em face da criago da Justica Federal (Decreto n° 848/1890), a Constituigao de 1891 dividiu @ compeiéncia legislativa, em matéria processual, entre a Unido @ os Estados. Disso resultou a Consolidacao das leis referentes a Justiga Federal (Decreto n° 3.084/1898), contendo a legislacao federal de processo, a par da elaboragao dos Cédigos de Processo Civil e Criminal estaduais que, de forma geral, baseavam-se “ano direito tradicional, tomando por modelo 0. Regulamento i? 737, de 1850, mais as linhas mestras do direito filipino, ambos de substdncia romano-canénica™*. A excegao foram os cédigos de processo civil da Bahia e de Sao Paulo, que ja incorporaram *_jinovagées inspiradas no modero direito processual europeu”*, traduzindo *...0 ® ginda, parcialmente, em vigor, mormerte no tocante ao cremado Direito Marto, CINTRA et.al Teoria geral do processo. p. 113 © THEODORO JUNIOR: Curso de direlto processus civil v1.18. Idem. © GINTRA oa. Teoria geral do processo. . 113. © SANTOS. Primeiras inhas de dielto processual ci “ SANTOS. Primeiraslinhas de dieito processual ci ““THEODORO JUNIOR. Curso de direto processual civil. 4.9.53. 11p.64 wtp. 1 Prot. Antoni Carlos TEORIA GERAL DO PROCESSO a pensamento renovador e cientifico que, desde meados do século passado [séc. XIX], se incutira ao processo na Alemanha.”* 2.2.6 — O direito processual civil - A Constituiggo de 1934 concentrou, novamente, na Unido, a competéncia legislativa em matéria processual.‘” - Em decorréncia dessa centralizacéo da competéncia legislativa em matéria processual, determinada na Constituigéo de 1934, foi necessaria a elaboracao de novas normas processuais, surgindo, assim, 0 Cédigo de Processo Civil (1939). Baseado em doutrinas modernas e tomando 0 processo como instrumento para o exercicio da jurisdigao pelo Estado, o CPC/1939 tintia como virtudes 0 fato de ser norteado pelos principios da publicidade e oralidade — esta considerada o sistema compreensivo da oralidade, da concentracao dos atos processuais, da imediacao do Juiz com as partes e os meios de prova, da identidade fisica do juiz no decorrer da lide — e, ainda, pela combinacao do principio dispositivo e do principio do juiz ativo. Mas, apresentava muitos © Teconhecidos defeitos, especialmente no concarente aos processos especiais, aos recursos e & ‘execugao..."* (nosso grifo) -Em outras palavras, este Cédigo era composto de "uma parte geral moderna, fortemente inspirada nas legislagdes alema, austriaca e Portuguesa e nos trabalhos de revisdo legislativa da italia, e uma parte especial anacrénica, ora demasiadamente fiel ao velho processo lusitano, ora totalmente assistemaitica.”* - Em razao das deficiéncias dese Cédigo, levantadas pela doutrina com base na sua aplicagao pratica, bem como do surgimento de diversas leis extravagantes que passaram a complementar e modificar esse estatuto processual ao longo do tempo, fez-se necessaria uma reformulacéo das leis processuais. Nesse sentido, o anteprojeto de Alfredo Buzaid, apés numerosas emendas no Congresso, foi convertido no Cédigo de Processo Civil (1973). Este Cédigo, com as modificages introduzidas por dezenas de leis extravagantes, desde a sua promulgaga6, é o que ainda se encontra em vigor. - Em face dos principios do Estado Social e das suas consequéncias sobre a ordem constitucional vigente, novas concepgses de valoracao do social e de reconhecimento de direitos coletivos e difusos, passaram a substituir 0 carater individual do direito processual civil. Nesse diapasdo, 0 ordenamento juridico vem sendo renovado, com a ampliagao da assisténcia judiciéria e a criagdo de novos remédios juridicos de natureza coletiva, tais como a ago civil publica, o mandado de seguranca coletivo e os juizados especiais. As reformas realizadas (com destaque para as modificagdes ditadas pela Constituigdo de 1988 e pela EC n° 45/2004, chamada de ‘Reforma do Judiciario") tsm como objetivo principal tornar a prestagao jurisdicional mais célere, econémica, desburocratizada, flexivel e efetiva em garantir resultados praticos ao alcance dos jurisdicionados.° 2.2.7 - 0 direito processual penal “¥ SANTOS. Primeiraslinhas de direito processual civil v. 1p. 54. © Esta concentagéo ce mantove até @ Constiuicdo de 1988, que atrbuiu competéncia concorrente aos Estados para legisla sobre ‘procesimentos em motéra processval, 9 quel, erretanio,n6o i exeride por nentum deles até o momento. ‘SANTOS. Primeiraslinhas de deo processual elvl v7. p. 56. # Seipio Bermuds apud THEODORO JUNIOR. Curso de dreito processual civil v. 1. p. 14 * THEODORO JUNIOR. Curse de dircto processual civil. 1-0. 16. Prot. Antone Carlos TEORIA GERALDO PROCESSO 2 = Também como decorréncia da centralizagéo de competéncia, determinada pela Constituigéio de 1934, foi elaborado 0 Cédigo de Processo Penal (1941), que ainda se encontra em vigor. : - Pelos mesmos motivos que determinaram a reforma do processo civil, o Cédigo de Processo Penal também passou a carecer de atualizacdo, mas 0 anteprojeto, elaborado por José Frederico Marques e encaminhado ao Congreso em 1975, apesar de aprovado pela Camara em 1977, acabou sendo retirado pelo Executivo. Em 1983, novo anteprojeto foi encaminhado ao Congresso e aprovado pela Camara, mas, até o momento, se encontra parado no Senado. Dessa inércia do Senado, acabou resultando que, em face de certos posicionamentos assumidos pela Constituigao de 1988, esse anteprojeto de 1983, hoje, se encontra completamente desatualizado. - Assim como no proceso civil, nas ditimas. décadas, dezenas de leis extravagantes vem disciplinando diversos assuntos de natureza penal, paralelamente ao Cédigo de Processo Penal, bem como introduzindo modificagSes significativas nesse processo, a exemplo da admissdo da transago em matéria penal. 2.2.8 -O dit ito processual do trabalho - As transformagées sociais ocorridas nos séc. XVIII e XIX (revolugao industrial, aboligéio da escravatura, imigracdes etc.) fizeram deslocar, do campo para as cidades, uma consideravel massa de trabalhadores. Esse aumento do proletariado urbano gerou a necessidade de se regulamentar as relagdes de trabalho e, ao mesmo tempo, de se conceder certa protecdo aos trabalhadores, resultando no surgimento de normas esparsas sobre o assunto, que foram se multiplicando em fins do séc. XIX e inicio do séc. xX. - A par dessa legislago, érgaos estatais foram criados para a gestéio dos conflitos de interesses, oriundos da relagao de trabalho, entre empregados e patrées. Nesse contexto, foram instituidas as Juntas de Conciliacao e Julgamento (1932), de natureza administrativa, compostas por Juizes Classistas (representantes das classes patronais € trabalhadoras), sob a direcdo de um Juiz Presidente, indicado pelo Governo. -A Constituigdo de 1934, a0 tratar da Ordem Econémica e Social, previu, em seu art. 121, normas de protecdo ao trabalho e, no art. 122, a criagdio de uma Justi¢a do Trabalho. que, entretanto, também ndo integrava o Poder Judiciario, tendo natureza administrativa (natureza esta mantida, ainda, na Constituicéo de 1937). - Apesar de a sua criagdo ter sido prevista desde a Constituigao de 1934, somente com 0 Decreto-Lei n° 1.237/1939, a Justiga do Trabalho foi efetivamente crganizada, sendo encontradas, no Titulo Ill desse diploma, normas processuais especificas para a condugdo do Processo na Justiga do Trabalho. = Compilando ¢ atualizando as normas relativas & protegao do trabalho e a solucao de conflitos oriundos da relacao entre empregados e patrées, foi elaborada a Consolidagao das Leis do Trabalho (CLT/1943), a qual, com diversas alterag6es, ainda se encontra em vigor. Em seu Titulo X — Do Processo Judiciério do Trabalho’, a CLT especifica as normas do Direito Processual do Trabalho. F Opeenve-se que 0 processo trabalhista, exoressamente aldo & condigdo de proceseo de natureza judicaia, continuava sero conduzigo no ambite de Grgaos esiatais de natureze administstiva, pos somerte com @ Consttugso de 1946, @ Just¢a do Trabalho ‘ebou de tor natureza acministratva, passando & condi¢go de 6rgaojusiediconal,integrante do Poder Judciro, raf. Antonio Carlos TEORIA GERAL DO PROCESO Ey - A Emenda Constitucional n? 24/1999 modificou significativamente o proceso do trabalho, instituindo as Varas Federais do Trabalho e os Juizes do Trabalho, como 6rgaos jurisdicionais de 1* instdncia, em substituigao as Juntas de Conciliacdo e Julgamento e aos Juizes Classistas. - Por fim, a Emenda Constitucional n° 45/2004 (“Reforma do Judiciario”) ampliou, consideravelmente, a competéncia da Justica do Trabalho. 2.2.90 direito processual penal militar - Apesar de raramente lembrado pela doutrina, é preciso registrar que o direito patrio. comporta, também, 0 ramo do Direito Penal Militar, em razdo do qual a organizagao do Poder Judiciario é contemplada, entre as justicas especializadas, com a Justica Militar, tanto no émbito da Unido (para as Forgas Armadas), quanto dos Estados (para as Policias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares). - Ainda que possa haver quem acredite ser a Justiga Militar um resquicio da “ditadura’, recentemente vivida no Brasil, a historia universal registra que jé 0s povos civilizados da antiguidade (India, Pérsia, Macedénia e Cartago) possuiam nogdes de delitos tidos como militares. Cerca de 2.100 anos a.C., 0 Cédigo de Umammu, a mais antiga lei escrita conhecida, ja’ tipificava condutas que, nos tempos: atuais, sdo consideradas crimes militares. E o Direito Militar, propriamente dito, materializou-se e consolidou-se na antiga Roma, com o De Re Militare, no Digesto do Corpus Juris Civils. - A legislagao penal militar no Brasil, tem sua origem na legislagao portuguesa dos Artigos de Guerra do Conde de Lippe (1763), famoso pela crueldade de suas penas. Esses Artigos vigoraram até o advento do Cédigo Penal da Armada (1891), ja sob regime republicano, que foi estendido ao Exército, em 1899, e & Aeronautica, em 1941 Posteriormente, no lugar do Cédigo Penal da Armada entrou em vigor 0 Cédigo Penal Militar (1944) que, por sua vez, foi substituido pelo Cédigo Penal Militar (1969) (Decreto- Lei n? 1.01/69). Este ultimo, com as alteragdes introduzidas ao longo das tltimas décadas, é 0 que se encontra ainda em vigor. - JA 0 Direito Processual Penal Militar brasileiro tem sua origem no Cédigo de Justiga (1938), que também englobava a organizagao Judicidria Militar, tendo vigorado até a criagéo do atual Cédigo de Processo Penal Militar (1969) (Decreto-Lei n? 1,002/69), - Quanto Justiga Militar, cabe registrar que, no Brasil (recém-algado a condigao de Reino Unido a Portugal e Algarves), foi criado o Supremo Conselho Militar e de Justica (1808), 0 qual, com 0 advento da Repiblica, passou a Supremo Tribunal Militar (1893), chegando ao atual Superior Tribunal Militar (1946). Disso resulta a conclusao de que o STM 6 0 tribunal mais antigo do pals, ou seja, a mais antiga Corte Judiciéria do Brasil 2.2.10 — O direito processual eleitoral é o direito processual penal eleitoral - Um ramo do direito que, com base no critério do direito substancial da classificagao de Candido Rangel Dinamarco™ e sob o respaldo da doutrina de Moacyr Amaral Santos™, figura no universo do direito processual brasileiro é 0 Eleitoral. & SOUZA. A Justia Militar da Unio. ® ginstrumentalidade do processo.p. 74a 78. (Ver nota 6e ula do Porto 1) % Primeiraslinhas de direlto procecsual civ. p. 1, Prot Antonio Carlos TEORIA GERAL DO PROCESO 2 - 0 Cédigo Eleitoral brasileiro (Lei n° 4.737/65), além das normas “...destinadas a assegutar a organizacdo e o exercicio de direitos politicos precipuamente os de votar e ser votado” (Art. 1°), estabelece procedimentos especificos para a solugao de conflitos de interesses, bem como para © julgamento dos chamados crimes eleitorais, ocorridos durante a realizado dos pleitos eleitorais (em qualquer uma de suas fases), regulando a atuagéo-de natureza jurisdicional dos Juizes e Tribunais Eleitorais. Tais normas tratam de institutos tipicamente processuais, .tais como: impugnagées, recursos ordinérios, embargos de declaracao, agravos de instrumento, prazos processuais, prevengao, competéncia etc. = Disso se conclui, sem embargo, pela existéncia de um direito processual eleitoral, de natureza jurisdicional, cujos procedimentos so conduzidos, em sede judicial e sob competéncia exclusiva, pelos érgaos da Justiga Eleitoral (Juizes Eleitorais, TREs e TSE), ramo especializado do Poder Judiciario brasileiro™. = Como dito, 0 Cédigo Eleitoral estabelece, também, normas de direito penal”, sendo apenas subsidiaria a aplicacdo do direito penal comum (Art. 20), bem como normas de direito, processual penal eleitoral, reguiando o processo das infragdes penais nele tipificadas™”. ORIENTAGAO PARA ESTUDO = CINTRA et. al. Teoria geral do proceso. p. 26 a 30; 111 a 143. - THEODORO JUNIOR. Curso de direito processual civil. v. 1. p. 9 a 16. - SANTOS. Primeiras linhas de direito processual civil. v. 1. p. 37 a 62. | Cécigo Eleitoral Parte Segunda — Dos Orgios da Justica Eletoral Parte Quarta, Tituo V, Segao il — Das Impugnagtes & dos Recursos: e Parte Quinta, Tuo I~ Dos Recursos. E Gocigo Eletora: Parte Quinta, tuo lV ~Disposicses Penais. ° Cecigo Elelloral: Parte Quinta, Ttuo V, Capitulo il~Dos Crimes Eletorais; @ Capitulo Il ~ Do Processo das ifragbes. Prof. Antonio Carlos TEORIA GERALDO PROCESS 2s REFERENCIAS - ALVIM, José Manoel Arruda. Manual de direito processual civil. 12* ed. Sao Paulo: RT, 2008. v. 1 - ARAGAO, Egas Dirceu Moniz. Comentarios ao cédigo de processo de Janeiro: Forense, 2005. - CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 10° ed. rev. atual. S40 Paulo: Saraiva, 2003. = CINTRA, Antonio Carlos de Aratjo ef. al. Teoria geral do processo. 25° ed, rev. atual. Sao Paulo: Malheiros, 2009. - DINAMARCO, Candido Rangel. 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