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BAe~ARD | 0. Core pohe Ase Le qu nes Atenes ?, GB? Eat Obp bes, 50), p-At- 109 Tero ny0 - Didodica CAPITULO II DIANTE DE UM PROFESSOR ONDE SE CONFIRMA, COM OS TIV, QUE NAO E NEM UM POUCO NECESSARIO TER ABERTO UM LIVRO PARA DAR A SEU RESPEITO UMA OPINIAO ESCLARECIDA, MESMO DESA- GRADANDO OS ESPECIALISTAS. Na qualidade de professor, vi-me mais vezes do que gostaria na situacdo, diante de um grande publico, de ter de comentar livros que nao havia lido, seja no sentido préprio — jamais os tinha aberto —, seja num sentido atenuado — porque no tinha feito senfo vé-los por alto ou porque me esquecera deles. Nao tenho certeza de ter me safdo mui- to melhor do que Rollo Martins. Mas muitas vezes tentei me tranqiiilizar dizendo a mim mesmo que os que me escu- tavam estavam provavelmente na mesma posig4o que eu, € numa situagao decerto tao critica quanto a minha. Pude notar ao longo dos anos que este tipo de situagdo no perturbava em absoluto os estudantes, aos quais acontece freqiientemente precisar i intervir com pertinéncia, por vezes ‘Com precisio, sobre os livros que nao leram, apoiando-se em alguns elementos que eu lhes comunico, involuntariamente ou nao. A fim de nao constranger ninguém no lugar onde eu 98 DIANTE DE UM PROFESSOR ensino, usarei um exemplo decerto afastado geograficamen- te, porém préximo quanto ao fundamento, o dos Tiv. Aida que os Tiv, que vivem na Africa Ocidental, nao sejam propriamente estudantes, é exatamente nesta situagao que eles se encontram quando uma antropdloga chamada Laura Bohannan decide fazé-los conhecer uma pega do re- pert6rio inglés da qual eles nunca ouviram falat, Hamlet.! A apresentacao da pega de Shakespeare nao é comple- tamente desinteressada. Laura Bohannan é americana e, tendo afirmado a um colega inglés — que suspeitava que os americanos nao compreendiam Shakespeare — que a natu- reza humana era a mesma em toda parte, viu-se desafiada por ele para fazer a demonstragao. E assim, partindo para a Africa, ela leva Hamlet na bagagem com a esperanga de provar que o ser humano permanece idéntico a si mesmo, para além das diferengas de cultura. Acolhida na tribo onde j4 passara um tempo anterior- mente, Laura Bohannan se instala nas terras de um anciéo muito s4bio que dirige um grupo de umas 140 pessoas, to- das mais ou menos aparentadas dele. A antropdloga adora- ria poder conversar com seus anfitrides sobre o significado de suas ceriménias, mas eles passam a maior parte do tempo bebendo cerveja. Isolada dentro de sua cabana, ela é obriga- daa se dedicar a leitura da peca de Shakespeare, para a qual consegue preparar uma interpretacao que lhe parece de uma evidéncia universal. 1. LF e LO++. COMO FALAR DOS LIVROS QUE NAO LEMOS? 99 Mas os Tiv notaram que Laura Bohannan passava mui- to tempo lendo o mesmo texto e, intrigados, propdem que ela Ihes conte aquela histéria que parece interess4-la tanto, pedindo-lhe que Ihes fornega aos poucos todas as explica- ges necessdrias e prometendo a ela serem condescendentes com seus erros de idioma. E assim se oferece a ela a oportu- nidade ideal de verificar sua hipdtese e de provar o carater universalmente compreensfvel da pega de Shakespeare. Os problemas comegam muito cedo quando Laura Bohannan, referindo-se ao comego da pega, tenta explicar como, uma noite, trés homens que montam guarda diante das terras de um chefe véem de repente o chefe defunto se aproximar deles. Primeiro motivo de desacordo, pois, para os Tiy, a forma percebida nao pode em nenhum caso ser 0 chefe desaparecido: — Por que ele nao era mais o chefe deles? — Ele tinha morrido — expliquei. — Foi por isso que eles ficaram perturbados e¢ assustados quando o viram. — Impossfvel — comegou um dos anciaos, pas- sando o cachimbo para o vizinho, que o interrompeu. — Claro que nao era o chefe defunto. Era um sinal enviado por um feiticeiro. Continue? 2. “Hamlet chez les Tiv”, tradugao francesa de Jean Verrier, em Re- vue des Sciences Humaines, LF+, Presses Universitaires de Lille, n° 240. 100 DIANTE DE UM PROFESSOR Perturbada pela seguranga de seus ouvintes, Laura Bo- hannan prossegue mesmo assim seu relato e conta que Ho- racio se dirige a Hamlet pai a fim de lhe perguntar o que precisa ser feito para que a paz se estabelega, e, dado que o morto nao responde, Horacio declara que é ao filho do che- fe defunto, Hamlet, que compete cuidar da questao. Novo movimento de surpresa na platéia, pois este género de ques- tao, para os Tiv, nao diz respeito aos jovens ¢ sim aos velhos, 0 defunto tem ainda um irmio vivo, Cldudio: Os anciéos resmungaram: aqueles sinais eram as- sunto para os chefes e os anciaos, nao para os jovens; nada de bom pode resultar do que se faz pelas costas de um chefe; estava claro que Hordcio nao era uma pessoa que soubesse das coisas. Laura Bohannan fica ainda mais perturbada por se perceber incapaz de esclarecer a questao de saber se Hamlet pai e Cldudio tinham a mesma mie, questéo no entanto fundamental aos olhos dos Tiv: — O pai de Hamlet e o tio tinham a mesma mae? Aquela pergunta nao teve tempo de penetrar em meu espirito; eu me senti bastante insegura, desnor- teada ao perceber que um dos elementos mais impor- tantes de Hamlet tinha sido despregado do quadro. pe a esa aR DOSS Ui eos co due Agradego a Jean Verrier por ter me permitido conhecer este texto, que eu j4 comentara em Enquéte sur Hamlet, op. cit. 3. Mie COMO FALAR DOS LIVROS QUE NAO LEMOS? 101 De uma maneira um tanto vaga respondi que achava que eles tinham a mesma mae, mas que nao tinha cer- teza, a histéria nada dizia. O velho chefe me disse gra- vemente que esses detalhes genealdgicos faziam toda a diferenca e que assim que eu voltasse para minha casa cu deveria interrogar os anciaos a esse respeito. Ele gritou para a porta, pedindo a uma de suas jovens esposas que lhe trouxesse sua bolsa de pele de cabra.4 Laura Bohannan passou entao & mae de Hamlet, Ger- trudes, mas as coisas nao correram melhor. Enquanto nas leituras ocidentais da peca é uma tradic&o chocar-se com a rapidez com que Gertrudes se casa depois da morte do ma- rido, sem esperar um prazo decente, os Tiv, por outro lado, ficam surpresos com o fato de ela ter esperado tanto tempo: — O filho Hamlet estava muito triste por sua mae ter se casado de novo tao depressa. Nao havia nenhu- ma obrigago para ela de fazé-lo, pois é costume en- tre nés uma vitiva nao aceitar outro marido antes de transcorrido um luto de dois anos. — Dois anos é tempo demais — objetou a esposa que acabara de aparecer com a bolsa de pele de ca- bra coberta de relevos do velho chefe. — Quem vai lavrar a terra para ela durante 0 tempo que nao tiver marido? — Hamlet — eu retorqui sem refletir — era su- ficientemente grande para lavrar sozinho o campo da mie. Ela nfo tinha necessidade de se casar de novo. 4, Ibid. 102 DIANTE DE UM PROFESSOR Ninguém pareceu convencido. Eu nao insisti.> Se Laura Bohannan tem dificuldade para explicar aos Tiv a situagao familiar de Hamlet, tem mais ainda para fazé- los compreender o lugar eminente que ocupam os fantasmas na pega de Shakespeare e na sociedade de onde ela vem: Eu decidi saltar 0 mondlogo. Mesmo que aqui se pensasse que Cléudio fizera muito bem em se casar com a vitiva do irmio, restava 0 motivo do veneno, e cu sabia que eles desaprovariam 0 fratricfdio. Prosse- gui com mais esperanga: — Naquela noite, Hamlet montou guarda com os trés que haviam visto seu pai morto. O chefe defunto apareceu mais uma vez, e embora os outros estivessem apavorados, Hamlet partiu na frente para seguir o pai morto. Quando ficaram sozinhos, o falecido pai de Hamlet tomou a palavra. — Sinais nao podem falar! — o velho chefe estava solene. — O pai morto de Hamlet nao era um sinal. Eles poderiam ter visto um sinal, mas ele nao era um sinal. — Meu piblico parecia tao confuso quanto eu ao fa- lar. — Era de verdade o pai morto de Hamlet. Era 0 que nés chamamos de “fantasma”.® 5. Ibid. 6. Ibid. COMO FALAR DOS LIVROS QUE NAO LEMOS? 103 To surpreendente quanto possa parecer, os Tiv nao acreditam em fantasmas, para nés familiares, mas que nao tém lugar na cultura deles: Eu era obrigada a empregar a palavra inglesa “ghost” nhas, aquelas pessoas nao acreditavam de nenhuma maneira na sobrevivéncia da pessoa apés a morte. — O que é um “fantasma”? Uma aparicao? — Nao, um fantasma é alguém que est4 morto mas que passeia e que pode falar, é possivel escuta-lo e vé-lo, mas nao tocé-lo. Eles objetaram: — Pode-se tocar nos zumbis. — Nao, nao! Nao era um desses cadveres que os feiticeiros reanimam para serem sacrificados ¢ comi- dos. Ninguém dirigia os passos do pai de Hamlet, Ele caminhava sozinho.” > pois, diferentemente de muitas tribos vizi- = O que nao adiantou de nada, pois, curiosamente, os Tiv sao mais racionais do que os anglo-saxGes e nao aceitam essa idéia de mortos que andam: fed — Os mortos nao podem andar — protestou meu publico como um sé homem. Eu estava pronta para um acordo: — Um “fantasma” é a sombra de um morto. Mas eles objetaram mais uma vez: — Os mortos nao tém sombra. — Muito bem, mas no meu pais eles tem — ob- servei secamente, 7. Ibid. 104 DIANTE DE UM PROFESSOR O velho chefe reprimiu o burburinho de desafio que se levantou na mesma hora e me aprovou com o ar falso e polido que se adota diante de elucubrag6es de jovens ignorantes supersticiosos: — E provavel que no seu pafs os mortos possam também andar sem serem zumbis. Ele tirou das profundezas de sua bolsa um pedago de noz-de-cola ressequida, mordeu uma ponta para mostrar que ela nao estava envenenada e me estendeu 0 resto em sinal de paz.® E assim toda a peca desfila no relato de Laura Bohan- nan, sem que esta, apesar de todas as concessGes que est4 disposta a fazer, consiga transpor a distancia cultural com os Tiv e construir com eles, a partir da peca de Shakespeare, um objeto de discurso relativamente comum. * | ~ Portanto, mesmo sem jamais ter lido uma linha de Hamlet, os Tiv tém uma razodvel quantidade de idéias pre- | cisas sobre a pega e se acham, assim como meus alunos que nao leram o texto sobre o qual estou dando aula, perfeita- mente capazes, e sobretudo desejosos, de discuti-lo e dar a propria opiniao. i De fato, ainda que suas idéias sobre o relato da peca sejam bem expressas, elas nao sao simultaneas ou posterio- res a ele e, levando-se ao extremo, nao tém necessidade dele. Seriam na verdade bem anteriores, no sentido de que cons- ) 8. Ibid. COMO FALAR DOS LIVROS QUE NAO LEMOS? 105 tituem 0 conjunto de uma visaéo de mundo organizada em sistema, no qual o livro é acolhido e vem ocupar um lugar. Nao o livro, alids, mas os fragmentos que circulam em qualquer conversa ou qualquer texto, que os substituem na sua auséncia. E de um Hamlet imagindrio que falam os Tiy, sem que o de Laura Bohannan — embora mais instrufda do que eles sobre a pega de Shakespeare — seja mais real, pois também cle est4 encerrado em um conjunto organizado de representagGes. Eu proponho chamar de /ivro interior 0 conjunto de representages miticas, coletivas ou individuais, que se in- terpdem entre o leitor e todo novo escrito e que interferem em sua leitura sem que ele saiba. Muito inconsciente, esse livro imagindrio exerce fungao de filtro e determina a re- cepgao de novos textos, decidindo quais dos seus elementos setao retidos e como sero interpretados.? Objeto interno ideal, o livro interior — pode-se ver bem com os Tiv — é portador de uma ou varias histérias 9. Segundo dos trés “livros” estudados neste ensaio, o livro interior influencia todas as transformagées que infligimos aos livros para fazer deles livros encobridores. A expressio “livro interior” aparece em Proust, com um significado préximo do que eu lhe atribuo: “Quanto ao livto interior de signos desconhecidos (de signos em relevo, me parecia, que minha atengo, ao explorar meu inconsciente, ia procurar, se choca- va, contornava, como um mergulhador que sonda), em cuja leitura ninguém podia me ajudar com nenhuma regra, leitura que consistia num ato de criaggo no qual ninguém pode nos substituir nem mesmo colaborar conosco. [...] Esse livro, de todos o mais penoso para decifrar, é também o tinico que nos foi ditado pela realidade, 0 tinico cuja ‘im- pressito’ foi feita em nés pela propria realidade” (O Tempo Recuperado, e LOve). 106 DIANTE DE UM PROFESSOR lendarias que tém um valor essencial para seu proprietério, em especial por lhe falarem do nascimento e dos fins derra- deiros. No caso do livro interior coletivo ao qual sao ligados os Tiv, a maneira como Laura Bohannan |é Shakespeare se (oca com as teorias sobre as origens ¢ sobre a sobrevivéncia convidas Teles teorias que formam_o cimento do grupo. ~~ Assim sendo, nao ¢ a histdria de Hamlet que eles ou- vem, mas 0 que, nesta histéria, est4 conforme com suas re- presentag6es da familia e do status dos mortos e pode servir para conforté-los, E sempre que nao houver conformidade entre o livro ¢ suas expectativas, as passagens perigosas nao serao levadas em conta ou sofrerao uma transformacao para permitir a maior coincidéncia possfvel entre seu livro in- terior e Hamlet, ou, antes, a imagem que lhes estd sendo proposta, através de um prisma, da peca de Shakespeare. Os Tiv nao discutem a obra de que lhes quer falar Laura Bohannan, e nao precisam ter acesso direto a ela. As poucas referéncias que hes comunica pouco a pouco a an- tropdloga sao mais do que suficientes para lhes permitir in- serit-se num debate entre dois livros interiores, debate para o qual a pega de Shakespeare serve sobretudo de pretexto para ambas as partes. E como é principalmente a propésito do livro interior que cles se exprimem, suas intervengdes sobre Shakespeare, como as dos meus alunos em circunstAncias similares, po- dem perfeitamente comegar antes que tenham tomado co- nhecimento da obra, destinada de toda maneira a se fundir para desaparecer dentro do quadro de reflexao organizado pelo livro interior. COMO FALAR DOS LIVROS QUE NAO LEMOS? 107 O livro interior, no caso dos Tiy, ¢ mais coletivo do = = que individual. E feito de representagGes gerais da cultura que pressupdem uma idéia compartilhada das relacées fami- liares e do além, mas igualmente da leitura e da maneira como conyém abordar um livro, e, ainda, de como afastar 0 limite entre imaginagao e realidade. Nada sabemos sobre cada Tiv em particular — a nao ser sobre 0 velho chefe —, mas € verossimil que a coesao do grupo tenda a unificar as reagGes. Mas, se para cada cultura existe um livro interior coletivo, existe também, para cada pessoa, um livro interior individual, da mesma forma ativo ou até mesmo mais ativo do que o livro coletivo na recep- Gao, ou seja, na construgao dos objetos culturais. Tecido com fantasias proprias de cada individuo e com nossas lendas privadas, 0 livro interior ‘individual tem influéncia no nosso desejo de leitura, ou 1 seja, na maneira objeto fantdstico de que todo leitor vive em busca, sendo que os melhores livros que o leitor encontrar4 durante a vida nao serao sendo fragmentos imperfeitos a incitd-lo a continuar a ler, Pode-se imaginar também que é para procurar e esta- belecer seu livro interior que trabalha todo escritor, perpe- tuamente insatisfeito com os livros que encontra, inclusive com 0s seus, por mais concluidos que sejam. Como come- Gar e continuar a escrever sem essa imagem ideal de um livro perfeito — ou seja, conforme a si—, incessantemente buscado e aproximado, mas impossivel de ser alcangado? Como os livros interiores coletivos, os livros interiores formam um sistema de recepgao de outros tex- 108 DIANTE DE UM PROFESSOR nizagao. Nesse sentido, constituem uma grade de leitura do mundo, e particularmente dos livros, dos quais organizam a descoberta dando a ilusao da transparéncia. So os livros interiores que tornam tao dificeis as tro- cas sobre os livros, por nao ser -possivel | unificar 0 objeto. do discurso. Eles fazem parte do que eu chamei na minha obra sobre Hamlet. de paradigma interior, ou seja, um sistema de percep¢ao da realidade tao singular que é impossivel dois pa- radigmas entrarem em uma real comunicagao.' ‘A existéncia do livro interior é, j junto com a desleitura, © que torna o espaco de discussao sobre os livros descont{- nuo e heterogéneo. O que tomamos por livros lidos é um | amontoado heteréclito de fragmentos de textos, remaneja- | dos-por nosso imagindrio e sem relagao com Os livros dos outros, mesmo que materialmente idénticos aos que ‘nos passaram pelas mos. ie O fato de os Tiv terem proposto uma leitura no mini- mo parcial de um livro que eles nao leram nao deve levar & conclusao de que essa leitura seja caricatural — no maximo ela acentua as caracterfsticas de toda leitura —, nem despro- vida de interesse. Muito ao contrdrio, essa dupla exteriori- dade dos Tiv em relagao a Shakespeare — eles nao o leram e sao de uma outra cultura — coloca-os numa situagao pri- vilegiada de comentdrio. Ao se recusarem a acreditar na histéria de fantasmas, os Tiv se aproximam de toda uma corrente, minoritdria po- 10. Op. cit. COMO FALAR DOS LIVROS QUE NAO LEMOS? 109 rém ativa, de critica shakespeariana, que duvida do reapa- recimento do pai de Hamlet e que sugere que o herdi possa ter sido vitima de alucinag6es.'' Hipdtese heterodoxa, mas que merece ao menos ser examinada, e que se encontra aqui facilitada pela estranheza dos Tiv em relagao 4 pega. Nao conhecer 0 texto — e diga-se, duplamente — lhes dé pa- radoxalmente um acesso mais direto, decerto nao a alguma verdade escondida na obra, mas a uma de suas multiplas riquezas possiveis. Assim, nada ha de surpreendente, na situa¢o que evo- quei mais acima, no fato de meus alunos, sem que tivessem lido 0 livro que eu comentava, conseguirem rapidamente captar certos elementos e nfo hesitarem em intervir a partir do conjunto de suas representag6es culturais e de sua histé- ria pessoal. Nem no fato de suas intervengées — por mais afastadas que pudessem parecer do texto inicial (mas o que significaria precisamente serem préximas?) — suscitarem, ao entrarem em contato com o texto, uma originalidade que provavelmente nao teriam, caso eles tivessem feito a leitura do livro.

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