1. Classo módia - Brasil. 2. Classos sociais - Brasil. 3. Brasil - Aspoctos sociais. l. Aronari, Brand. ll. Título. lll. Sório.
CDD: 305.55981 CDU: 316.343-58.13t81) ⇧G⌦⇧D↵✏l⇣↵M⌃C⇥ A posguisa guo dou origom a osto livro toi roalizada om todas as grandos rogiòos lrasiloiras graças ao apoio do CGEE tContro do Gostão o Estudos Estratógicos), organização social suporvisionada polo Vinistório da Ciôncia o Tocnologia, o da lapomig tlundação do Apoio à Posguisa do Estado do Vinas Gorais), atravós do projoto Pronox EDT 464 o polo projoto PPV 31909, o do CNPg tConsolho Nacional do Dosonvolvimonto Ciontítico o Tocnológico), atravós do projoto 4¯23812008-3. Nosso agradocimonto maior, no ontanto, dirigo-so a Rolorto Vangaloira Ungor, ontão ministro oxtraordinário do assuntos ostratógicos, guo toi o principal ostimulador dosto ostudo. Dosdo o momonto om guo nos porguntamos acorca do nossa sociodado t...) não podomos doixar do porcolor guo as tormas do classiticação são tormas do dominação, a sociologia do conhocimonto ó insoparávol do uma sociologia do roconhoci- monto o do dosprozo, ou soja, do uma sociologia da dominação simlólica. 1:~::~ 1·u:u:~u ⇥ ✓ ⇣ Á ⌦ l C PRElAClO 09 R·ü~:ì · Maugaü~: :a ¹ug~: lNTRODU(AO UVA NOVA ClASSE TRABAlHADORA BRASllElRA? 19 I P ⇧ ⌦ ⌃ ↵ P↵⌦⌫l⇥ D↵ ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ⌅⌦⇧⇥l⌥↵l⌦C⇥ CAPlTUlO 1 A lORVAllDADE PRECARlA Os latalhadoros do tolomarkoting 61 CAPlTUlO 2 O BATAlHADOR lElRANTE E SUA ADVlNlSTRA(AO 85 CAPlTUlO 3 BATAlHADORES EVPREENDEDORES RURAlS Unidado tamiliar, unidado produtiva 105 CAPlTUlO 4 O BATAlHADOR E SUA lAVlllA 123 CAPlTUlO 5 BATAlHADORES lElRANTES O Vor-o-Poso do Bolóm o a loira do Caruaru 149 CAPlTUlO 6 BATAlHADORES E RAClSVO 1¯3 2 P ⇧ ⌦ ⌃ ↵ ⇧ ↵✏CMC⇣l⇧ PC⌥⇠⌃l✏⇧ DC ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦ CAPlTUlO ¯ POPUllSVO OU VEDO DA VAlORlA? Como transtormar om tolico as razòos da massa 199 CAPlTUlO 8 ENTRE A GlORlllCA(AO DO OPRlVlDO E A lEGlTlVA(AO DA OPRESSAO, HA UVA AlTERNATlVA? 25¯ CAPlTUlO 9 AS ESTRUTURAS SOClAlS DO VlCROCRËDlTO 269 ¸ P ⇧ ⌦ ⌃ ↵ ⇧ ⌦↵⌥lGl⇡C DC ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦ CAPlTUlO 10 OS BATAlHADORES E O PENTECOSTAllSVO Um oncontro ontro classo o roligião 311 CONClUSAO O ElO ORGÂNlCO ENTRE PATRlVONlAllSVO E RAClSVO DE ClASSE A nova classo módia no discurso liloralconsorvador 349 POSlAClO 369 { ~: : ~ S·uza NOTAS 3¯5 RElERÊNClAS 393 SOBRE OS COlABORADORES 403 P ⌦ ↵ ⌫ Á ✏ l C C⇥ ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ↵ ⇧ ⌃⌦⇧M⇥⌫C⌦⇣⇧⇢⇡C DC ⌅⌦⇧⇥l⌥ A pullicação do ·: üaìaIIau·:~:, do Jossó Souza, marca um avanço no ontondimonto guo o Brasil tom do si mosmo. Ao mosmo tompo, ajuda a apontar rumo para o ponsamonto social lrasiloiro. Um dos acontocimontos mais importantos no Brasil das ultimas dócadas ó o surgimonto, ao lado da classo módia tradicional, do uma sogunda classo módia. Vorona, vinda do laixo, rotratária a sontir-so um podaço do Atlântico norto dosgarrado no Atlântico sul, ossa nova classo módia compòo-so do milhòos do possoas guo lutam para alrir ou para mantor poguonos omproondimontos ou para avançar dontro do omprosas constituídas, guo ostudam à noito, guo so tiliam a novas igrojas o a novas associaçòos, o guo ompunham uma cultura do autoajuda o do iniciativa. Quaso dos- conhocida das olitos do podor, do dinhoiro o da cultura, já ostão no comando do imaginário popular. Roprosontam o horizonto guo a maioria do nosso povo guor soguir. A rovolução lrasiloira hojo soria o Estado usar sous podoros o rocursos para pormitir à maioria do povo lrasiloiro trilhar o caminho dossa vanguarda do omorgontos. Para consogui-lo, poróm, soria prociso tazor o guo raramonto tizomos om nossa história nacional: roconstruir as instituiçòos, inclusivo as instituiçòos guo organizam a oconomia do morcado o a domocracia política. Só ossa roconstrução institucional alriria caminho para a ostratógia nacional do dosonvolvimonto tundada om domocratização do oportunidados para aprondor, para tralalhar o para produzir. 10 Dolaixo dossa classo módia omorgonto o do numoro rola- tivamonto poguono do assalariados rolativamonto ostávois o guali- ticados, há uma massa do tralalhadoros polros guo, om outra olra, Jossó Souza chamou a raló lrasiloira - vítima ainda do incapacitaçòos o do iniliçòos guo não so limitam à talta do oportunidados oconomicas. lncluom os onus guo rosultam do tamílias dosostruturadas, tipicamonto conduzidas por uma mão sozinha, guo tom do comlinar o tralalho ocasional ou instávol com a luta para rosguardar os tilhos, comunidados dosorganizadas, guo não consoguom, portanto, tazor as vozos das tamílias dostal- cadas, o cronças guo naturalizam o sontimonto do impotôncia, rosignação o tuga. Para muitos momlros dossa raló, a vida paroco lloguoada. Dontro da raló lrasiloira, surgo, poróm, surproondontomonto, um grupo guo so soorguo. Saídos do mosmo moio polro o constran- godor, alraçados com os mosmos olstáculos ontrontados por sous paros do Brasil polro, ossos rosistontos lovantam-so. Comumonto, tôm mais do um omprogo. Podom, por oxomplo, tralalhar como taxinoiros duranto o dia o vigias à noito. lutam, ativamonto, com onorgia o ongonho, para oscapar da raló o ontrar no rol da poguona lurguosia omproondodora o omorgonto. Exilom gualidados guo Euclidos da Cunha atriluía aos sortanojos. Existom, tamlóm, aos milhòos, solrotudo nas partos mais polros do país. São olos, os latalhadoros, o toma dosto livro. A roalidado dos latalhadoros o da nova classo módia a guo so guorom juntar não so dosvonda aponas à luz do amliçòos matoriais. Entro olos, como om tantos outros aspoctos da vida das sociodados contomporânoas, rossoa a idoia guo há tompos sacodo a humanidado, tanto om torma socular como om torma sagrada: a idoia da participação do cada homom o do cada mulhor nos atrilutos guo os crontos idontiticam om Dous o a osporança do aumontar a parto guo lhos calo nossos atrilutos. Não so trata aponas do assogurar corto grau do prosporidado o do indopondôncia. Trata-so, tamlóm, do construir uma suljotividado donsa, digna da vida rotratada na cultura romântica popular o mundial. Junto com o projoto da domocratização das sociodados, roprosontada historicamonto polas doutrinas do liloralismo o do socialismo, tal cultura roprosonta uma das duas grandos torças rovolucionárias no mundo do hojo. Para ontondor guom são o o guo guorom os 11 latalhadoros, ó prociso aprociar a variodado das manitostaçòos, o a protundidado do alcanco dossas duas torças. A prosonça dos latalhadoros na vida do país tom implicaçòos para a política social, para a transtormação do nossa sociodado o para o ponsamonto social, no Brasil o no mundo. Todos guorom guo os programas sociais do transtorôncia, como o Bolsa lamília, ganhom olomontos do capacitação. Não so rostringo ossa aspiração a nós lrasiloiros, ó aspiração guo so ditundo por toda a parto. Nossa lusca, o oguívoco mais comum guo so comoto ó dirocionar os programas do capacitação priori- tariamonto para o nucloo duro da polroza: a raló do Jossó Souza. Diticilmonto, consoguom os momlros da raló lonoticiar-so do tais programas. As incapacitaçòos sociais o as iniliçòos culturais intorvôm para larrar a porta do saída¨. Antos do so podorom lonoticiar do tais programas, procisam guo o Estado atuo para ostimular a auto- -organização comunitária. Procisam guo o Estado so associo, por moio do corpo próprio do agontos, com as comu- nidados organizadas para apoiar as tamílias dosostruturadas o, ató mosmo, para assumir parto das rosponsalilidados. Tal avanço não podo sor aponas inovação om matória do política social. Tom do sor, tamlóm, avanço om matória do todoralismo. Exigo a cooporação ontro as trôs instâncias da todoração. E oxom- plitica a sulstituição, guo procisamos oporar, do todoralismo constituído - guo distrilui rigidamonto podoros o rosponsalili- dados, ontro ostas instâncias - por um todoralismo cooporativo - guo associo União, ostados o municípios om açòos conjuntas o om oxporimontos compartilhados. São os latalhadoros os primoiros lonoticiários potonciais dos projotos do capacitação o do ampliação do oportunidados. Vostraram guo so podom rosgatar porguo já comoçaram a rosgatar-so por conta própria. Nisso, como om muito, podom sorvir como o olo guo nos taltava idontiticar ontro a raló o a poguona lurguosia omproondodora. Dovom sor os primoiros dostinatários das iniciativas do capacitação não por uma lógica do caridado tom guo o critório ó guom sotro mais), sonão por uma lógica do oticácia transtormadora tpara a gual o critório ó guom podo mais). A oxistôncia dos latalhadoros importa, tamlóm, para a prática da política transtormadora. Erro capital da osguorda, solrotudo 12 da osguorda ouropoia, nos dois sóculos antorioros, toi idontiticar a poguona lurguosia como advorsária inovitávol. Hostilizada, voio ossa poguona lurguosia sorvir do sustontáculo dos movimontos do diroita mais podorosos do sóculo XX. Hojo no mundo, ontro- tanto, há mais poguono-lurguosos, o incomparavolmonto mais aspirantos a condição poguono-lurguosa, do guo gonto guo caila no tigurino novocontista do prolotariado industrial. Por trás do oguívoco ostratógico, havia, o há, um ongano toórico. Ao contrário do guo imaginou o marxismo, não há uma lógica oljotiva do intorossos do classo guo so claroio à modida guo so agravo o guo so amplio o contlito social o idoológico. Polo contrário, à modida guo o contlito so aprotunda o so ostondo, os intorossos do grupo pordom sua aparôncia mondaz do contoudo oljotivo. O contoudo dos intorossos so torna insoparávol da doti- nição dos próximos passos, do possívol adjaconto, na roconstrução da ordom ostalolocida. A dotinição o a dotosa dos intorossos do uma classo, ou do gualguor grupo, sompro podom dosdolrar-so om duas diroçòos divorgontos. Podo soguir por moios guo são institucionalmonto consorvadoros o socialmonto oxcludontos to nicho guo o grupo - por oxomplo, dotorminado sogmonto do tralalhadoros - ocupa sorá acoito como o cadinho om guo so torjam os intorossos do grupo). E os grupos vizinhos - os sogmontos da torça do tralalho mais próximos tpor oxomplo, os tralalhadoros torcoirizados ou tomporários om rolação ao corpo pormanonto do tralalhadoros) - sorão vistos o tratados como rivais o amoaças. A dotinição o a dotosa dos intorossos do grupo podo, contudo, sompro soguir por moios guo são institucionalmonto transtorma- doros o socialmonto includontos. Alraça-so uma ostratógia do transtormação, ainda guo tragmontária o gradualista, da ordom oxistonto. Tal ostratógia pormito vor os grupos vizinhos como aliados ató guo so construa com olos a laso para uma convorgôncia mais protunda do intorossos o do idontidados colotivos. Por oxomplo, os oporários organizados da industria intonsiva om capital so podom aliar aos tralalhadoros torcoirizados o tomporários para dotondor altornativa do política industrial. Assim tamlóm ocorro com rospoito aos latalhadoros, ou à sogunda classo módia, no Brasil. Sou dostino político não ostá dotinido. No Brasil, como om gualguor outro lugar, tudo dopondo 13 das altornativas, solrotudo das altornativas institucionais. Nada condona osta nova classo módia, ou os latalhadoros como aspi- rantos a so incorporarom a ola, a ostarom vidrados nas tormas convoncionais do ansoio poguono-lurguôs: a poguona proprio- dado urlana ou rural o o poguono omproondimonto tamiliar. Vas são ossas as tormas guo provalocom por talta do outras. Tratomos do providonciar ossas outras. Para tazô-lo, ó prociso inovar na organização dos morcados. Podomos imaginar guo ossa roconstrução avançaria om guatro passos. O primoiro passo ó a rovisão da política industrial. Ela toria por principal dostinatário a parto mais importanto do nossa oconomia: as poguonas o módias omprosas. E assumiria como tarotas principais a ampliação dos acossos ao cródito, à tocnologia, ao conhocimonto o às práticas produtivas vanguardistas, lom como a ditusão dos oxporimontos locais oxitosos. Com isso, ajudaria a criar um dínamo do croscimonto oco- nomico socialmonto includonto. E ajudaria tamlóm a assogurar condiçòos para um modolo industrial ditoronto daguolo guo toi o corno do sistoma industrial instalado no Sudosto do Brasil om moados do sóculo passado: a produção om grando oscala do lons o sorviços padronizados, por moio do maguinária o pro- cossos produtivos rígidos, mão do olra aponas rolativamonto gualiticada o rolaçòos do tralalho muito hiorárguicas o ospo- cializadas. Ë o lordismo industrial. O Brasil todo não procisa transtormar-so na São Paulo do moados do sóculo passado para dopois podor virar algo dito- ronto. lora dos contros industriais do país, não lasta acolorar a passagom rumo a um modolo industrial guo atonuo o contrasto ontro suporvisão o oxocução, rolativizo as ospocializaçòos, com- lino concorrôncia com cooporação o transtormo a produção om inovação pormanonto. Ë prociso - o possívol - organizar uma travossia dirota do pró-lordismo para o pós-lordismo, som guo o país todo tonha do passar polo purgatório do lordismo industrial. Os latalhadoros o a poguona lurguosia omproondodora soriam os primoiros lonoticiários dossa construção. O sogundo passo ó a ronovação dos acortos institucionais guo organizam a rolação ontro govornos o omprosas. Não há por guo oscolhor ontro o modolo amoricano do um Estado guo rogula as omprosas à distância o o modolo do nordosto asiático: a tormulação do política industrial o comorcial unitária, imposta 14 do cima para laixo pola lurocracia do Estado. Há uma torcoira opção: coordonação ostratógica ontro govornos o omprosas guo soja doscontralizada, pluralista, participativa o oxporimontal. O torcoiro passo ó o surgimonto, a partir dossa associação ontro o pullico o o privado, do rogimos altornativos do propriodado privada o social. Tais rogimos passariam a convivor oxporimon- talmonto dontro da mosma ordom oconomica, com maior ou monor provalôncia, do acordo com as caractorísticas do cada sotor. A oconomia do morcado doixaria do ostar tixada om uma unica varianto. A lilordado para comlinar tatoros do produção soria radicalizada como lilordado para inovar nos componontos do rogimo jurídico da produção o da circulação do lons o sor- viços. As novas variantos do morcado - o, portanto, do diroito do propriodado o do olrigaçòos - dariam à doscontralização da iniciativa tormas guo não so cingissom à poguona propriodado o ao omproondimonto tamiliar. O guarto passo - mais longínguo - ó o avanço rumo a dois oljotivos ontrolaçados guo gozarão do autoridado crosconto no mundo so a humanidado guisor ongrandocor-so. Um dossos oljotivos ó a suporação, ainda guo tragmontária o gradual, do tralalho assalariado como torma prodominanto do tralalho livro. Os lilorais o os socialistas do sóculo XlX sompro ontondoram o guo nós osguocomos: guo o tralalho assalariado ó uma torma importoita do tralalho livro. Carroga ainda a mácula da sorvidão o da oscravidão. Só a comlinação das outras duas tormas do tralalho livro - o autoomprogo o a cooporação -, do manoira guo pormita agrogar rocursos o alcançar oscala, dá oticácia ao idoal do tralalho livro. O outro oljotivo ó assogurar guo no tuturo ninguóm tonha do tazor o guo uma máguina possa oxocutar. Tudo o guo aprondomos a ropotir podomos oxprossar om tórmulas. E tudo o guo oxprossamos om tórmulas podomos oncarnar num aparolho mocânico. As máguinas oxistom para guo as possoas não tonham do tralalhar como olas. Existom para guo possamos dodicar nosso rocurso supromo to tompo) aponas àguilo guo ainda não salomos ropotir. Com isso, voltamo-nos para a criação do novo. A trajotória domarcada por ossos guatro passos ó a radicalização daguilo guo ó mais podoroso nos sonhos dos omorgontos o dos latalhadoros. Ë a construção cumulativa da convorgôncia ontro suas amliçòos o os intorossos da humanidado. 15 As implicaçòos das idoias o das doscolortas oxpostas nosto livro não so limitam ao dosdolramonto das políticas sociais o ao contoudo do uma altornativa nacional domocratizanto o transtor- madora. Tocam, tamlóm, um onigma motodológico nas ciôncias sociais. E ajudam a suscitar um dolato a rospoito da vocação do ponsamonto social lrasiloiro. A tradição das ciôncias sociais construída a partir do Vontosguiou prossupòo a guaso irrolovância das caractorísticas dos indivíduos. Valom as dotorminaçòos, as práticas o as rogras colotivas. A torça dossa oriontação ó tal guo ola so impòo mosmo nas vortontos da ciôncia social guo alraçam o individualismo motodológico. Entro olas tigura a linha da tooria oconomica guo ganhou ascondôncia dosdo o marginalismo do tinais do sóculo dozonovo o dopois, om moados do sóculo vinto, voio a so corporiticar na chamada síntoso nooclássica. Qualguor possoa guo atua no mundo o lida com sous somo- lhantos salo guo as coisas não são assim. Divido-so a humanidado om tomporamontos, não aponas om classos, otnias o idoologias. Nas mosmas circunstâncias, dianto do constrangimontos o do oportunidados análogas, possoas saídas do mosmo moio roagom do torma dramaticamonto divorgonto. Alguns tazom muito com pouco, outros, pouco, com muito. Os dovotos das dotorminaçòos colotivas protorom acroditar guo no tinal das contas tudo podoria sor oxplicado som guo nós tivóssomos guo proocupar com o aviso dos grogos: carátor ó dostino. Essa rotloxão vom a título da história dos latalhadoros. Saom do mosmo moio dos outros, guo compòom a raló lrasiloira do Jossó Souza. Entrontam a mosma carôncia do oportunidados oconomicas o oducativas. Vuitos são tilhos das mosmas tamílias dosostruturadas guo prodominam na massa polro do país. Por alguma comlinação do vontado individual, do graça dada por outra possoa - uma mão, um amigo ou ató um ostranho -, o ató do sorto, roagiram. loram à luta. Não há motivo agui para cololraçòos morais. Há razão para comproondor guo não so dosvonda a roalidado dos tralalhadoros som admitir havor mais no mundo do guo calo om nossa vã tilosotia. Não são, poróm, horoísmos anomalos guo tizoram os latalhadoros. Os atos do rosistôncia individual ropotiram-so milhòos do vozos. E produziram um tonomono guo há do altorar nosso ontondimonto do guo o Brasil ó do guo olo podo vir a sor. 16 O mosmo princípio - guo as dotorminaçòos o os constrangi- montos admitom rospostas ditorontos - ropoto-so no plano das oxplicaçòos colotivas. Ao ropotir-so, indica a tarota do ponsamonto lrasiloiro na próxima otapa do nossa história. O traço dominanto das idoias sociais no Brasil sompro toi an·: Jaì: - o amor do dostino. Hojo o amor do dostino aparoco om nossa vida intoloctual do duas manoiras aparontomonto antagonicas, poróm om vordado aliadas. Uma das duas vozos guo talam mais alto no ponsamonto social lrasiloiro ó o do um noomarxismo oncolhido o acalrunhado. Há muito tompo doixou-so do acroditar guo podomos nos aliar à História, amiga, para mudar o mundo. Do idoário Varxista, rotovo um tatalismo dostalcado. Atrai-lho as doutrinas guo oxplicam a tatalidado do nosso atraso, dada a irrosistívol corrolação do torças no mundo: ongronagom modonha o supostamonto inoscapávol. Não lho improssionam os contrastos ontro as oxporiôncias dos grandos paísos continontais om dosonvolvimonto, a lraços com a mosma ordom mundial. A outra voz - só aparontomonto contrastanto - ó a das ciôncias sociais concolidas o praticadas no tigurino da acadomia dos Estados Unidos. Dossas ciôncias, a guo do longo dosomponha intluôncia maior ó a oconomia, manojada, como as outras, para dar coros do naturalidado, do autoridado o, ató mosmo, do nocos- sidado aos arranjos institucionais dos paísos do Atlântico norto, guo nos acostumamos a tomar por rotorôncia. Caso à parto ontro as ciôncias sociais ó o da antropologia, cuja vortonto principal no Brasil, como om tudo o mundo, tom sido o dotorminismo cultural o a disposição do tratar as culturas, tossilizadas, como os protagonistas da história humana. Por trás dossa vonoração polos ídolos da cultura, ostão a toologia da imanôncia to guo há do sagrado no mundo ostá oncarnado nostos ontos culturais colotivos) o a pragmática da suticiôncia ttralalho o transtormo o mundo só ató o momonto do adguirir o lastanto para vivor como ostá halituado, dopois, doscanso). Pola tronto, há a cruoldado travostida do lonovolôncia: o sacritício dos povos o, solrotudo, dos indivíduos indígonas no altar das suporstiçòos antililortárias do culturalismo. As duas vozos - a do noomarxismo o a das ciôncias sociais soguostradas polo ospírito da mistiticação racionalizadora - juntaram-so no Brasil para ontoar o coro do tatalismo. 1¯ Dosmoroco-so, como voluntarismo jacolino, tudo o guo dostoo dosso coro. Na vordado, as tondôncias construtivistas guo so atirmaram na história das idoias no Brasil como vortonto minori- tária tpor oxomplo, por moio do positivismo ropullicano) sompro toram aponas o rovorso da mosma modalha do racionalização tatalista. Para docitrar o Brasil o contriluir ao ponsamonto mundial, tomos do rompor com tudo isso. Nossa proocupação contral no ponsamonto dovo sor atirmar o vínculo ontro o ontondimonto do oxistonto o a imaginação do possívol. Por isso mosmo, há atinidado natural ontro a imaginação programática o transtormadora, o a intorprotação da roalidado social o histórica. Diroito o oconomia são as duas disciplinas da imaginação institucional. Procisam das luzos do uma sociologia guo protoro ontondor a roalidado a so ajoolhar dianto dola. O caso dos latalhadoros ó, para o omlato das idoias no Brasil, um chamamonto às armas. R·ü~:ì· Maugaü~::a ¹ug~: Junho do 2010 l M ⌃ ⌦ C D ✓ ⇢ ⇡ C ✓⇣⇧ MCV⇧ ✏⌥⇧⇥⇥↵ ⌃⌦⇧⌅⇧⌥H⇧DC⌦⇧ ⌅⌦⇧⇥l⌥↵l⌦⇧◆ O QUE Ë UVA ClASSE SOClAl? Porcolor mudanças sociais, políticas o oconomicas protundas, no contoxto do uma ópoca om transição, ó o maior dosatio do ponsamonto crítico. lsso acontoco porguo as catogorias o os concoitos guo todos nós nos acostumamos a usar, para ponsar um mundo guo so transtorma tão rapidamonto, não o oxplicam mais. Ao mosmo tompo, não tomos ainda os concoitos o as idoias novas nocossárias para ponsar o roalmonto novo¨ nosso mundo om olulição. Esso tato tica solojamonto claro guando talamos, por oxomplo, no mundo do nooliloralismo¨, soja do ponto do vista do sous dotonsoros, soja por parto do sous críticos. O olsor- vador atonto cortamonto porcolo guo todos talam como so o mundo intoiro tivosso so moditicado sol uma nova loi social¨ guo constrangosso a todos. Vas o guo ninguóm diz ó o como¨, oxatamonto, o mundo toria so moditicado. Em outras palavras, o guo nunca ó oxplicitado ó como osso suposto novo mundo nooliloral¨ so torna om carno o osso¨ humano do todo dia, transtormando o cotidiano, as omoçòos, os sontimontos, os sonhos o as osporanças das possoas comuns. Porguo ó aponas guando as mudanças ganham a alma¨ o o corpo¨ do homons o mulhoros comuns guo ostamos lidando vordadoiramonto com mudanças ototivas da sociodado, da política o da oconomia. O guo importa, portanto, ó ponotrar no drama¨ humano o cotidiano guo produz sotrimonto, doros, alogrias o osporança. A sociologia podo o dovo tazor isso do modo claro o comproonsívol a gualguor possoa do loa vontado com disposição do aprondor. Vas o guo vomos são analistas talando lom ou mal do novo mundo¨, utilizando-so do catogorias o idoias do mundo 20 volho. lsso ó vordado, no Brasil, tanto om rolação aos intoloctuais, políticos o tormadoros do opinião guo atirmam¨ o mundo oxistonto como tsompro) o molhor mundo possívol, guanto om rolação à maioria dos intoloctuais, políticos o tormadoros do opinião guo criticam¨ o, supostamonto, protondom moditicar o mundo para molhor¨. Todas as sociodados tôm os sous prototas da loa vontura¨ - guo Vax Wolor porcolia dosdo o judaísmo antigo, os guais vondom o mundo guo ototivamonto oxisto como o molhor dos mundos possívois -, o olos são, numa sociodado protundamonto consorvadora o dosigual como a lrasiloira, a imonsa maioria. A maró¨ ostá sompro do lado dossos atirmadoros do mundo, posto guo todos os intorossos guo ostão ganhando¨ so rogozijam com osso tipo do logitimação dos ospocialistas¨. Como os intorossos guo ostão ganhando são os guo mandam no mundo - sonão não soriam os dominantos -, são ossos prototas da atirmação guo ostão talando todo dia nos grandos jornais da grando impronsa lrasiloira o nos canais do TV. O guo olos dizom? Elos dizom guo a nova classo do omorgontos¨ lrasiloiros guo ajudaram a mudar a oconomia o a sociodado lrasiloira roconto mostra o triunto do morcado tnoo)liloralizado o dosrogulado dosdo guo o Estado corrupto o politiguoiro não atrapalho. 1 Atinal, os consorvadoros do Brasil, ao contrário dos consorvadoros do outros paísos, gostam do tirar onda¨ do críticos. O toma do patrimonialismo o da crítica da corrupção guo soria aponas do Estado sorvo, atinal, aponas para guo a consorvação do mosmo - a roprodução da sociodado amosguinhada à roprodução do morcado - tonha a aparôncia do crítica. Quom ó ossa nova classo do omorgontos? São, polo monos, 30 milhòos do lrasiloiros guo adontraram o morcado do consumo por ostorço próprio, os guais são o molhor oxomplo da nova autocontiança¨ lrasiloira dontro o tora do Brasil. Vas não aponas isso. Elos soriam uma nova classo módia¨, guo ostá transtormando o Brasil no país modorno o do primoiro mundo¨ guo toi o ó o maior sonho colotivo do sou povo dosdo a indopondôncia política om 1822. Dizor guo os omorgontos¨ são a nova classo módia¨ ó uma torma do dizor, na vordado, guo o Brasil, tinalmonto, ostá so tornando uma Alomanha, uma lrança ou uns Estados Unidos, ondo as classos módias¨, o não os polros, os tralalhadoros o os oxcluídos, como na poritoria do capitalismo, tormam o tundamonto da ostrutura social. 21 Nossa posguisa ompírica o toórica domonstrou guo isso ó montira. Vas as montiras¨ da idoologia o da violôncia simlólica dominanto não são simplos montiras, o sim moias-vordados¨. Elas são tamlóm vordado porguo do algum modo so rotorom a mudanças roais. São montira, por outro lado, porguo ossas mudanças roais são todas intorprotadas do modo distorcido, som contlitos o som contradiçòos. Sua tunção não ó osclarocor o guo acontoco, mas rotorçar o domínio do novo tipo do capitalismo guo tomou o Brasil o o corpo o a alma do toda a sua população. lntorprotar o mundo como rosa¨ ó dizor guo olo ó o molhor - o na vordado o unico - dos mundos possívois o ridicularizar gualguor crítica. Com isso naturaliza-so a sociodado tal como ola so aprosonta o so constrói a violôncia simlólica nocossária para sua roprodução intinita. Vas os porigos das visòos distorcidas do mundo não vôm aponas da diroita¨ - ponsada agui como acoitação acrítica do mundo como olo ó. Boa parto dos porigos para uma adoguada porcopção do Brasil modorno om mudança tão acolorada advóm do uma osguorda¨ - guo so protondo crítica do mundo como olo ó - onvolhocida o algumas vozos mais consorvadora guo os intoloctuais orgânicos da nova dominação do capitalismo tinan- coiro no Brasil. Ë agui, atinal, ondo oncontramos, muito troguon- tomonto, o apogo a noçòos do um passado guo não volta mais, comlinado com a lamuria o o narcisismo intantil típico do toda ótica da convicção¨, a gual , como nos onsina Vax Wolor, so rocusa a acoitar o, principalmonto, guo so rocusa a conhocor a roalidado como ola ó. O guo, na vordado, ó comum, tanto ao liloralismo oconomi- cista dominanto guanto ao marxismo onrijocido dominado, ó o tato do guo amlos são cogos om rolação à vordadoira novidado¨ do mundo novo no gual vivomos som comproondô-lo adoguada- monto. Como sompro, a coguoira social tom a vor, na roalidado, com a coguoira om rolação à porcopção das classos sociais guo compòom o ostruturam a roalidado. Gostaria do dotondor agui uma toso simplos o clara: sompro guo não so porcolom a cons- trução o a dinâmica das classos sociais na roalidado tomos, om todos os casos, distorção da roalidado vivida o violôncia simlólica, guo oncolro dominação o oprossão injusta. A razão para guo isso acontoça tamlóm ó simplos. Como ó o portoncimonto às classos sociais guo prodotormina todo o acosso privilogiado a 22 todos os lons o rocursos oscassos guo são o tulcro da vida do todos nós 24 horas por dia, oncolrir a oxistôncia das classos ó oncolrir tamlóm o nucloo mosmo guo pormito a roprodução o logitimação do todo tipo do privilógio injusto. O guo complica a situação ó guo as montiras sociais são, como vimos, sompro moias-vordados¨, do contrário olas não convonco- riam ninguóm. Assim, ninguóm noga¨, na vordado, guo oxistam classos sociais. Em um país tão dosigual como o Brasil isso soria um disparato. O guo o liloralismo oconomicista dominanto taz ó dizor¨ guo oxistom classos o nogar, no mosmo movimonto, a sua oxistôncia ao vincular classo à ronda. Ë isso guo taz com guo os lilorais digam guo os omorgontos¨ são uma nova classo módia¨ por sor um ostrato com rolativo podor do consumo. O marxismo onrijocido não porcolo tamlóm as novas roalidados do classo porguo as vinculam ao lugar oconomico na produção o, ongano mais importanto o docisivo ainda, a uma consciôncia do classo¨ guo soria produto dosso lugar oconomico. Emlora a rodução oconomicista soja comum a amlas as posi- çòos, as consoguôncias são distintas. O ponto comum ó guo não so porcolo a gônoso sociocultural das classos. 2 O sogrodo¨ mais lom guardado do toda sociodado ó guo os indivíduos são pro- duzidos ditoroncialmonto¨ por uma cultura do classo¨ ospocítica. Quando so tala do lrasiloiro¨ om goral, do jovom¨, da mulhor¨, do carátor nacional¨, do joitinho lrasiloiro¨ otc., ó para so dar a improssão do guo o lrasiloiro¨, o jovom¨, ou a mulhor¨ da classo módia, por oxomplo, toria algo a vor, ainda guo romotamonto, com o lrasiloiro das classos laixas. Quando os grandos jornais consorvadoros do Brasil talam guo o jovom¨ lrasiloiro ontro 14 o 25 anos costuma morror do arma do togo, olos, na vordado, oscondom o distorcom o principal: guo 99/ dossos jovons são do uma unica classo, a raló¨ do oxcluídos lrasiloiros. Quando so tala guo a mulhor lrasiloira¨ ostá ocupando ospaços importantos o valorizados no morcado do tralalho, o guo so osguoco¨ do dizor ó guo 99/ dossas mulhoros são das classos módia o alta. O oconomicismo liloral, assim como o marxismo tradicional, porcolo a roalidado das classos sociais aponas oconomicamonto¨, no primoiro caso como produto da ronda¨ ditoroncial dos indi- víduos, o, no sogundo caso, como lugar na produção¨. lsso oguivalo a oscondor todos os tatoros o procondiçòos sociais, omocionais, morais o culturais guo constituom a ronda ditoroncial, 23 contundindo, ao tim o ao calo, causa o otoito. Escondor os tatoros não oconomicos da dosigualdado ó, do tato, tornar invisívol as duas guostòos guo pormitom ototivamonto comproondor¨ o tonomono da dosigualdado social: a sua gônoso o a sua ropro- dução no tompo. Como as idoias dos intoloctuais - dosdo guo ostojam associadas a intorossos oconomicos o políticos importantos - não ticam aponas nos livros, mas ganham o sonso comum compartilhado polas possoas guo não são ospocialistas no tuncionamonto do algo tão comploxo como a sociodado modorna, ossa visão supor- ticial das classos sociais atingo o ospaço pullico, domina o coloniza tudo guo so ponsa solro a nossa vida colotiva. Assim, normalmonto, aponas a horança matorial, ponsada om tormos oconomicos do transtorôncia do propriodado o dinhoiro, ó porco- lida por todos. lmagina-so guo a classo social¨, sous privilógios positivos o nogativos dopondondo do caso, so transtoro às novas goraçòos por moio do oljotos matoriais o palpávois ou, no caso dos nogativamonto privilogiados, pola ausôncia dostos. Ondo rosido, no raciocínio acima, a coguoira da porcopção oconomicista, soja liloral, soja marxista, do mundo? Rosido om litoralmonto não vor o mais importanto, guo ó a transtorôncia do valoros imatoriais na roprodução das classos sociais o do sous privilógios no tompo. Rosido om não porcolor guo mosmo nas classos altas, guo monopolizam o podor oconomico, os tilhos só torão a mosma vida privilogiada dos pais so hordarom tamlóm o ostilo do vida¨, a naturalidado¨ para so comportar om rouniòos sociais, o guo ó aprondido dosdo tonra idado na própria casa com amigos o visitas dos pais, so aprondorom o guo ó do lom tom¨, so aprondorom a não sorom ovor¨ na domonstração do riguoza como os novos ricos o omorgontos otc. Algum capital cultural ó tamlóm nocossário para não so contundir com o rico lronco¨, guo não ó lovado a sório por sous paros, ainda guo osso capital cultural soja, muito troguontomonto, moro adorno o culto das aparôncias, signiticando conhocimonto do vinhos, roupas, locais in¨ om cidados charmosas¨ da Europa ou dos Estados Unidos otc. Esso aprondizado signitica guo aponas¨ o dinhoiro onguanto tal não contoro, a guom o possui, aguilo guo distinguo¨ o rico dontro os ricos. Ë a horança imatorial, mosmo nossos casos do traçòos do classos om guo a riguoza matorial ó o tundamonto do todo privilógio, na vordado, guo vai pormitir 24 casamontos vantajosos, amizados duradouras o acosso a rolaçòos sociais privilogiadas guo irão pormitir a roprodução ampliada do próprio capital matorial. Na classo módia a coguoira da visão rodutoramonto ocono- micista do mundo ó ainda mais visívol. Essa classo social, ao contrário da classo alta, so roproduz pola transmissão atotiva, invisívol, imporcoptívol porguo cotidiana o dontro do univorso privado da casa, das procondiçòos guo irão pormitir aos tilhos dossa classo compotir, com chancos do sucosso, na aguisição o roprodução do capital cultural. O tilho ou tilha da classo módia so acostuma, dosdo tonra idado, a vor o pai londo jornal, a mão londo um romanco, o tio talando inglôs tluonto, o irmão mais volho onsinando os sogrodos do computador lrincando com jogos. O procosso do idontiticação atotiva - imitar aguilo ou a guom so ama - so dá do modo natural¨ o pró-rotloxivo¨, som a modiação da consciôncia, como guom rospira ou anda, o ó isso guo o torna tanto invisívol guanto oxtromamonto oticaz como logitimação do privilógio. Aposar do invisívol, osso procosso do idontiticação omocional o atotiva já onvolvo uma oxtraordinária vantagom na compotição social, soja na oscola, soja no morcado do tralalho, om rolação às classos dostavorocidas. Atinal, tanto a oscola guanto o morcado do tralalho irão prossupor a in-corporação¨ tlitoralmonto tornar corpo¨, ou soja, natural o automático) das mosmas disposiçòos para o aprondizado o para a concontração o disciplina guo são aprondidos¨, polos tilhos dossas classos privilogiadas, ainda guo com grando ostorço, por idontiticação atotiva com os pais o sou círculo social. Essa horança da classo módia, imatorial por oxcolôncia, ó complotamonto invisívol para a visão oconomicista dominanto do mundo. Tanto guo a visão oconomicista univorsaliza¨ os prossupostos da classo módia para todas as classos intorioros¨, como so as condiçòos do vida dossas classos tossom as mosmas. Esso osguocimonto¨ do social - ou soja, do procosso do socia- lização tamiliar, guo ó ditoronto om cada classo social - pormito dizor guo o guo importa ó o mórito¨ individual. Como todas as procondiçòos sociais, omocionais, morais o oconomicas guo pormitom criar o indivíduo produtivo o compotitivo om todas as ostoras da vida simplosmonto não são porcolidas, o tracasso dos indivíduos das classos não privilogiadas podo sor porcolido como culpa¨ individual. As raízos tamiliaros da roprodução do 25 privilógio do classo o o alandono social o político socular do classos sociais intoiras, cotidianamonto oxorcido pola sociodado como um todo om todas as suas práticas institucionais o sociais, são tornadas invisívois para propiciar a loa consciôncia do privilógio¨ oconomico tdas classos altas) ou cultural tdas classos módias) o torná-lo logítimo. Para so comproondor por guo oxistom classos positivamonto privilogiadas, por um lado, o classos nogativamonto privilogiadas, por outro, ó nocossário porcolor como os capitais impossoais¨ guo constituom toda hiorarguia social o pormitom a roprodução da sociodado modorna, o capital cultural o o capital oconomico, são tamlóm ditoroncialmonto apropriados. O capital cultural, sol a torma do conhocimonto tócnico o oscolar, ó tundamontal para a roprodução tanto do morcado guanto do Estado modornos. Ë ossa circunstância guo torna as classos módias, constituídas historicamonto pola apropriação ditoroncial do capital cultural, uma das classos dominantos dosso tipo do sociodado. A classo alta so caractoriza pola apropriação, om grando parto, pola horança do sanguo, do capital oconomico, ainda guo alguma porção do capital cultural ostoja sompro prosonto. O procosso do modornização lrasiloiro constitui não aponas as novas classos sociais modornas guo so apropriam ditoroncial- monto dos capitais cultural o oconomico. Elo constitui tamlóm uma classo intoira do indivíduos não só som capital cultural nom oconomico om gualguor modida signiticativa, mas dosprovida, ~::~ ~ · a:j~cì· Juuuan~uìaI, das procondiçòos sociais, morais o culturais guo pormitom ossa apropriação. Ë ossa classo social guo dosignamos, om livro antorior a osto, do raló¨ ostrutural, não para otondor¨ ossas possoas já tão sotridas o humilhadas, mas para chamar a atonção, provocativamonto, para nosso maior contlito social o político: o alandono social o político, consontido por toda a sociodado¨, do toda uma classo do indivíduos procari- zados¨ guo so roproduz há goraçòos onguanto tal. Essa classo social ó sompro osguocida como classo com gônoso o dostino comum, o só ó porcolida no dolato pullico como um conjunto do indivíduos¨ carontos ou porigosos, tratados tragmontariamonto por tomas do discussão suporticiais, dado guo nunca chogam soguor a nomoar o prolloma roal, tal como violôncia, sogurança pullica, prolloma da oscola pullica, carôncia da saudo pullica, comlato à tomo otc. 26 A nossa atual posguisa, aprosontada nosto livro, ó solro uma classo social nova o modorna, produto das transtormaçòos rocontos do capitalismo mundial, guo so situa ontro a raló¨ o as classos módia o alta. Ela ó uma classo incluída no sistoma oconomico, como produtora do lons o sorviços valorizados, ou como consu- midora crosconto do lons durávois o sorviços guo antos oram privilógio das classos módia o alta. Vas como as classos sociais não podom sor dotinidas - como vimos acima o voromos no docorror do todo osto livro - aponas pola ronda o polo padrão do consumo, mas, antos do tudo, por um ostilo do vida o uma visão do mundo prática¨, guo so torna corpo o moro rotloxo, mora disposição para o comportamonto, guo ó om grando modida pró-rotloxivo ou inconscionto¨, tomos guo ostudá-la ompírica o tooricamonto para dotinir sou lugar prociso. Por razòos guo ticarão claras no docorror da loitura dosto livro, nossa toso ó guo os omorgontos guo dinamizaram o capitalismo lrasiloiro na ultima dócada constituom aguilo guo gostaríamos do donominar como nova classo tralalhadora lrasiloira¨. Essa classo ó nova¨ posto guo rosultado do mudanças sociais protundas guo acompanharam a instauração do uma nova torma do capitalismo no Brasil o no mundo. Esso capitalismo ó novo¨ porguo tanto sua torma do produzir morcadorias o gorir o tralalho vivo guanto sou ospírito¨ são novos o um vordadoiro dosatio à comproonsão. O CAPlTAllSVO E SEU ESPlRlTO O capitalismo, tato porcolido polos sous molhoros olsorva- doros, do Vax Wolor a luc Boltansky, procisa do um ospírito¨ guo justitiguo o logitimo a atividado oconomica. Essa nocossidado ó comproonsívol, acima do tudo, guando porcolomos guo o capi- talismo modorno ó halitado por uma irracionalidado tundamontal: ó a primoira torma do produção oconomica na história guo ostá dosvinculada do uma rolação dirota com nocossidados humanas, ou com valoros do uso¨, como diria Karl Varx. A dotinição mais alstrata do capitalismo onvolvo a idoia do uma acumulação ilimitada do capital como um tim om si mosmo. Em si osso tim ó irracional¨, posto guo o capital, como o próprio dinhoiro, ó aponas um moio do satistação do dosojos o nocossidados humanas, o não um tim om si. Como so justitica, ou soja, como so torna 2¯ racional¨ uma atividado instrumontal¨, som rolação com tins o valoros humanos? Ë procisamonto ossa nocossidado do tornar acoitávol, oxpli- cávol, justiticávol o logítima uma atividado irracional¨ guo torna um ospírito¨ coisa tão indisponsávol ao capitalismo modorno. E, ototivamonto, o capitalismo sompro tovo um ospírito¨, ainda guo sompro implícito o inarticulado, tormado do modo a pormitir a ilusão do guo a atividado oconomica havia so lilortado do gualguor torma do logitimação moral. Esto toi o ó, aliás, o sogrodo mais lom guardado do tuncionamonto do capitalismo duranto toda sua história: aparocor como uma atividado oconomica pura¨, dosvinculada o indopondonto do limitos o do justiticaçòos morais, guando, na vordado, alguma torma do justiticação moral lho ó indisponsávol. Quanto mais implícita, invisívol o opaca ossa justiticação tor, molhor ola cumpro sua tunção. Vais ainda, a logitimação moral tom guo aparocor como algo natural, intrínsoco à oconomia o sou tuncionamonto, o guo, procisamonto, pormito tornar opaco o dado moral ~.ì:aoconomico. A oxplicação para isso ó simplos. Podo-so olrigar as possoas a irom ao lugar do tralalho o, so houvor controlo o vigilância constantos to guo onvolvo custos croscontos), podo-so olrigá-las a roalizarom sou tralalho porguo nocossitam do salário para aplacar a tomo. Vas isso soria pouco. Como gualguor sistoma do dominação oticionto o guo protondo so roproduzir no tompo, o capitalismo nocossita so logitimar, ou soja, tazor com guo as possoas acroditom no guo tazom o guo, so possívol, so omponhom o máximo possívol naguilo guo tazom. O sucosso do capitalismo não podo soguor sor comproondido som o tralalho do logitimação próvio no sontido do ganhar a loa vontado, a adosão ativa o o compromotimonto do sous participantos. Na tormulação voloriana original, guo guor comproondor, antos do tudo, o tipo ospocítico do justiticação social o moral guo pormitiu a consolidação simlólica do novo sistoma oconomico, ossa logitimação moral ainda ó om grando parto roligiosamonto motivada. A roligião ainda ó a ostora produtora do sontido¨ guo monopoliza toda justiticação possívol do condução do vida prática. Tanto a atividado omprosarial guanto o tralalho passam a sor comproondidos como uma vocação, ou soja, como um chamado roligioso o divino, para roalizar por moio da atividado oconomica racionalizada o disciplinada o dosojo o a glória divina 28 na Torra. Agui, a nocossidado oxtorna do justiticação moral ainda ó ólvia o clara. 3 Com a guoda do prostígio das justiticaçòos roligiosas, como Wolor já havia porcolido, ontra om cona o procosso do trans- tormação da oconomia, com a ajuda docidida da ciôncia o da tilosotia, om ostora tsupostamonto) amoral¨, como so a oconomia houvosso so lilortado do gualguor nocossidado oxtorna do justiticação da atividado oconomica porcolida como acumulação indotinida no tompo, como um tim om si. Na vordado, a própria dotinição da oconomia onguanto ostora autonoma, indopondonto do gualguor justiticativa idoológica o moral, toi um procosso histórico lonto guo contou com a ajuda das justiticaçòos logitimadas polo discurso ciontítico o tilosótico, como o antropólogo trancôs louis Dumont domonstra solojamonto. 4 Na roalidado, a dosconstrução da justiticativa roligiosa pormito a associação, por dolaixo do pano, da idoia moral do lom comum¨ como algo intrínsoco à própria atividado oconomica capitalista nos tormos do utilitarismo. A justiticação moral do capitalismo passa a so vincular à noção do lom-ostar goral dotinida como produto do progrosso matorial. Ë, atinal, osso vínculo ontro progrosso matorial o lom-ostar goral guo ostá implícita na dotinição do PlB como símlolo máximo do progrosso matorial o do lom-ostar do uma sociodado. A nação¨ passa a sor porcolida nos tormos do uma omprosa¨ capitalista. 5 Esso tipo do associação ó procisamonto o guo ó nocossário para naturalizar a argumontação simlólica da atividado oconomica no capitalismo o, do corto modo, produzir uma justiticação moral tão ampla, tão ólvia o tão indiscutívol guo a oconomia possa sor porcolida, ao tim o ao calo, como hojo om dia, como noutra¨ om tormos morais. Na vordado, tanto a ciôncia como todas as tormas do justi- ticação guo gozam do alto prostígio na ostora pullica sompro insistiram na moralidado inata¨ do comportamonto oconomico no capitalismo. O próprio Wolor talava do capitalismo modorno como uma modoração do impulso do ganho, ou soja, como contonção o autocontrolo, o como controlo do corpo o do suas paixòos polo ospírito¨, a concopção ocidontal por oxcolôncia do virtudo. Tamlóm a corrupção - porcolida como vantagom indo- vida num contoxto do prosumida igualdado - ó rologada, muitas vozos, para a taso solvagom¨ da acumulação primitiva, como so o capitalismo maduro não so utilizasso, sompro guo possívol o 29 sompro guo os rosultados componsom, do todos os moios para so oltor o maior lucro possívol. A ultima criso intornacional aponas doixou osso tato, mais uma voz, claro como a luz do sol ao moio-dia para guom tonha olhos o guoira vor. Quo já tonhamos nos osguocido¨ das causas da criso roconto aponas nos lomlra guão sólida ó a atual justiticação do capitalismo contomporânoo dominado polo capitalismo tinancoiro. Ë, no ontanto, aponas porcolondo a comlinação dossos tatoros matoriais o simlólicos guo podomos comproondor a univorsalização da oconomia capitalista como principal instância roguladora o coordonadora das açòos sociais no mundo modorno. A claroza com rolação a osso ponto ó tundamontal para toda a nossa argu- montação nosso livro, pois a guostão contral ó, procisamonto, tontar porcolor om ato¨, no instanto om guo ostá acontocondo, a dinâmica do capitalismo contomporânoo lrasiloiro. Essa dinâmica, ao contrário do todo o discurso logitimador guo omana da própria ostora oconomica, não ó aponas matorial, tócnica, racional, ou, para dizor tudo om uma unica palavra, não ó noutra om rolação a valoros sulstantivos. Vuito polo contrário, o procosso do acumulação só acontoco por moio do uma violôncia simlólica ospocítica, a gual possililita guo a logitimação moral o política do capitalismo ocorra por moio do um procosso amlíguo do oxprossãoroprossão oconomica do contoudo político o moral guo lho ó inoronto. Em uma palavra: o capitalismo só so logitima o so mantóm no tompo por moio do um ospírito¨ guo justitiguo o procosso do acumulação do capital. Esso ospírito¨ - um conjunto do idoias o valoros guo pormito contorir sontido¨ a uma atividado oconomica vivida como procosso alstrato do acumulação intinita - ó tão mais oticionto guão mais inarticulada o implícita tor a sua monsagom moral¨. Como vimos, a atividado oconomica no capitalismo vivo da aparôncia do autonomia o indopondôncia om rolação às outras ostoras sociais, muito ospocialmonto das ostoras do valor¨. Nosso sontido, o pro- cosso do acumulação do capital não so justitica om si mosmo, o porcolor sou nucloo simlólico om cada contoxto histórico implica roconstruir suas tormas do logitimação tornadas invisívois. Essa talvoz soja a idoia mais intorossanto da olra do luc Boltansky o Evo Chiapollo, · u·:· ~:j:::ì· u· caj:ìaI::n·. 6 Nosso livro sominal para a comproonsão do capitalismo contomporânoo, os autoros avançam duas idoias do importância tundamontal para 30 nossos intorossos no prosonto tralalho: primoiro, a idoia do guo o capitalismo só solrovivo so assimilar, nos sous próprios tormos, sous inimigos om cada ópoca histórica, sogundo, a idoia do guo o capitalismo contomporânoo, conhocido como nooliloral¨, assimila o roconstrói um tipo muito poculiar do capitalismo oxprossivo¨. A primoira idoia ó tundamontal, uma voz guo pormito oxplicar não só a pormanôncia do capitalismo como sistoma social o político dominanto no planota nos ultimos 200 anos, mas tamlóm sou atual prostígio o torça inóditos om toda a sua história. A construção do um ospírito¨ do capitalismo ó um dosomponho pragmático, o não primariamonto movido por considoraçòos do coorôncia do tipo do justiticação. O capitalismo não oscolho¨ sou sontido o logitimação om cada ópoca histórica, mas o campo do luta ó dotinido por sous inimigos. Assim sondo, o capitalismo tom guo assimilar as idoias guo dostrutom do prostígio o podor do porsuasão om cada ópoca, muito ospocialmonto as guo lho são hostis o mais porigosas. O capitalismo não constrói novas idoias, mas, antos do tudo, moliliza as construçòos simlólicas já oxistontos o guo dostrutam do alta ponotração social om cada contoxto, contorindo-lhos um sontido novo guo pormita adaptá-las às oxigôncias da acumulação do capital. Ë ossa capacidado do transtormação o do antropotagia¨ guo pormito o oxplica tanto a solrovivôncia histórica guanto o vigor do capitalismo ao lograr tormas do compromisso o convorgôncia com sous divorsos inimigos históricos. Ë isso, tamlóm, atinal, guo pormito guo o procosso do acumulação oconomica assuma a aparôncia do gonoralidado o univorsalidado como so roalizasso princípios óticos univorsais. Ë dosso modo guo o procosso do acumulação pormito llindá-lo¨ contra sous inimigos o solropor- -so às críticas anticapitalistas om torno da noção do justo o injusto. A loitura do Boltansky do procosso do logitimação simlólica do capitalismo nos tormos do uma justiticação simlólica implícita guo so rotoro a noçòos do lom comum ó intorossanto porguo pormito tanto so atastar das vorsòos apologóticas, guo contundom a roalidado matorial o simlólica o são cogas à roalidado das justiti- caçòos implícitas o inarticuladas, guanto tamlóm so atastar do tipo do crítica guo dosconhoco a dinâmica das justiticaçòos como compromisso o luta, imaginando guo os intorossos oconomicos possam so roalizar som poias o som limitos. 31 A in-corporação dossa dimonsão simlólica do luta por justi- ticaçòos ó a unica manoira do so comproondor a capacidado do ronovação histórica do capitalismo como rosultado contingonto o alorto do uma luta guo implica assimilação - ainda guo nos sous próprios tormos, ou soja, como torma do garantir o procosso do acumulação intinita do capital - o rosistôncia das posiçòos do sous inimigos históricos om cada contoxto ospocítico. O proço da crítica ó a sua incorporação do modo a possililitar o procosso do acumulação num patamar novo do justiticação normativa. Essa porspoctiva ó rica o intorossanto porguo ó crítica do concopçòos guo são cogas à dinâmica normativa tonsional intorna ao capita- lismo como sistoma social total. lsso signitica tamlóm guo uma crítica vigorosa ao capitalismo podo ajudar a rotormular sous próprios padròos do justiça o logitimidado. O outro¨ do capita- lismo não ostá aponas tora dolo, mas tamlóm podo sor gostado no sou próprio intorior ao so prollomatizarom sous próprios dispositivos do justiça om sous próprios princípios implícitos do oguidado o do lom comum. Porcolor a dimonsão simlólica do justiticação do capitalismo oguivalo não aponas a ultrapassar a dimonsão ingônua guo porcolo a atividado oconomica como noutra¨ om rolação a valoros, mas tamlóm, o principalmonto, porcolor o próprio torrono da justi- ticação do procosso do acumulação do capital como uma luta om alorto¨ guo podo sor rotoita om gualguor tompo. Ainda guo ossa luta oxija molilização política o ação colotiva organizada, a dosconstrução concoitual da oconomia o do suas justiticaçòos como algo natural, o não como algo construído socialmonto, ao privilogiar positivamonto alguns o ostigmatizar outros, ó parto importanto na luta simlólica por justiça social. Ë isso guo pro- curaromos tazor nosto livro. Não nos intorossa uma condonação glolal do novo tipo do capitalismo vigonto ontro nós, nom tamlóm nos intorossa comprar¨ ingonuamonto o discurso dos voncodoros solro si mosmos. Nosso oljotivo ó porcolor as amliguidados constitutivas dossa nova taso do capitalismo mundial o lrasiloiro o tontar comproondor o potoncial do chanco¨ o do mudança possívol nosso contoxto ospocítico. Ë assim guo comproondomos o dovor da sociologia o da ciôncia crítica no mundo modorno. Não oxisto crítica social possívol som a articulação o a dramati- zação do sotrimonto humano guo toi rologado ao silôncio polo domínio da violôncia simlólica dos voncodoros. Quando a doxa¨ 32 - discurso construído socialmonto naturalizado como autoo- vidonto - dominanto ontro nós tala da produção do uma nova classo módia¨ como rosultanto do procosso do dominação do capitalismo tinancoiro, oxisto muita dor o sotrimonto silonciado. O oljotivo agui ó a produção do uma vorsão apologótica do doson- volvimonto capitalista lrasiloiro na diroção do uma sociodado do primoiro mundo¨ - sonho nacional dosdo a indopondôncia - guo so caractoriza procisamonto pola propondorância guantitativa o gualitativa do uma classo módia pujanto, o não por uma maioria do polros, como nos paísos do torcoiro mundo. Por outro lado, articular osso sotrimonto o dor ospocíticos do toda uma signiticativa porção da população lrasiloira ó tamlóm so atastar do críticas gorais guo pouco ajudam o não oxplicam o tipo sociodado nooliloral¨, om guo o apolo so ostiola na própria acusação gonórica o alstrata som guo o conhocimonto da situação social ototiva das possoas tonha gualguor ganho ou aporto intor- protativo ototivo. Essa crítica concrota agui tom guo so movor no tio da navalha da crítica da idoologia apologótica o da violôncia simlólica guo apagam a dor o o sotrimonto o o roconhocimonto das chancos possívois num contoxto do mudança irrovorsívol. Para guo isso acontoça, ó nocossário tanto o osclarocimonto toórico próvio guanto o tralalho ompírico do ouvir os agontos sociais om guostão. loi isso guo procuramos tazor. lnicialmonto, portanto, tomos guo nos inguirir acorca do com guo tipo do ator social poculiar ostamos, na roalidado, lidando. So não ó razoávol talar do uma classo módia, como argumontamos mais acima, do guo classo social, atinal, ostamos tratando agui? A rosposta a ossa guostão contral oxigo uma roconstrução histórica próvia guo pormita porcolor o soparar a antiga da nova classo tralalhadora do capitalismo modorno. Para isso, tomos guo comproondor a taso do capitalismo imodiatamonto antorior à atual para guo possamos porcolor o novo¨ no prosonto momonto do dosonvolvimonto capitalista mundial o lrasiloiro. Aponas assim podoromos dotorminar a mudança o a novidado da constituição do uma nova classo social ontro nós. 33 A VElHA E A NOVA ClASSE TRABAlHADORA A taso imodiatamonto antorior à dominação contomporânoa do capitalismo tinancoiro ó conhocida como tordismo¨. O ano do nascimonto simlólico do tordismo ó 1914, guando Honry lord, dono da companhia do automóvois guo lova sou nomo, introduziu a jornada do 8 horas do tralalho o o salário diário do 5 dólaros t120 dólaros sogundo padròos atuais). ¯ Estava nascondo um tipo do compromisso ontro os capitalistas o os tralalhadoros, no gual o tralalho disciplinado, hiorárguico o ropotitivo nas tálricas ora comprado¨ por lons salários, tompo para lazor o oportunidados ototivas do consumo do lons durávois o contorto para a classo tralalhadora amoricana. A novidado o a importância do tordismo so oxplica, portanto, por um compromisso guo ultrapassava om muito as parodos das tálricas. O guo havia do ospocial om lord ora guo olo vislumlrava uma nova manoira do porcolor a roprodução social capitalista como um todo, a gual so tundamontava não aponas om tatoros nogativos¨, como a roprossão aos sindicatos, a porsoguição às organizaçòos oporárias autonomas ou o proilicionismo da loi soca como torma do disciplinamonto da classo tralalhadora. lord havia porcolido guo produção do massa - como a dos sous lord modolo T - implicava tamlóm consumo do massa¨ guo só uma classo tralalhadora atluonto o lom paga podia tornar roalidado. Como Gramsci porcolou molhor o mais codo guo gualguor outro, o guo ostava om jogo agui ora não aponas um novo sistoma do roprodução da torça do tralalho, com uma nova gorôncia o um novo modo do controlar a atividado produtiva, mas, tamlóm o principalmonto, uma nova ostótica, uma nova psicologia o um novo ostilo do vida om todas as dimonsòos. 8 O tator positivo do tordismo como um ospírito¨ ospocítico do capitalismo na sua taso monopolista o do produção industrial do massa rosidia, procisamonto, na oxpansão do mito amoricano do progrosso o tolicidado individual - ainda guo às custas do uma rodução da idoia do progrosso individual à idoia do consumo - tamlóm às classos tralalhadoras. A guostão guo animou vários ospíritos dosdo Somlart, 9 no sontido do oxplicar a rolativa ausôncia do uma tradição socialista nos Estados Unidos, procisava articular tanto o aspocto nogativo da dostruição sistomática das organizaçòos autonomas do oporariado amoricano, como o 34 aspocto positivo da oxpansão do consumo a porçòos signiti- cativas da classo tralalhadora amoricana. A oxpansão do tordismo ao capitalismo ouropou - capitalismo ao mosmo tompo monos vigoroso guo o amoricano o mais porpas- sado por lutas do classo o torto tradição do luta oporária - só soria roalidado a partir da Sogunda Guorra Vundial. A partir da dócada do 1950, tomos om todos os grandos paísos ouropous a comlinação caractorística do tordismo: rígido controlo o disciplina do tralalho hiorárguico o ropotitivo, por um lado, o lons salários o garantias sociais, por outro. Alóm disso, o podor corporativo lasoado na inovação tocnológica o no alto invostimonto om propaganda o markoting pormitiam oconomia do oscala o lucros croscontos modianto padronização do produtos ostandardizados. Tanto na Europa guanto nos Estados Unidos, no ontanto, o tordismo sompro toi porpassado por contradiçòos. As lonossos do tordismo prossupunham uma cisão ontro sotoros positiva o nogativamonto privilogiados da própria classo tralalhadora. Os altos salários oram rostritos aos sotoros chamados do monopo- listas¨, grandos industrias guo so aprovoitavam da oconomia do oscala da produção padronizada o podiam pagar lons salários para tralalhadoros tortomonto organizados om sindicatos com alto podor do prossão. A osso sotor positivamonto privilogiado so contrapunha, no ontanto, todo um sotor chamado por alguns do compotitivo¨, 10 com acosso rosidual ao oxcodonto glolal o incapaz do pagar os mosmos salários o as mosmas vantagons aos tralalhadoros. O tordismo, portanto, sompro implicou torças sociais oxprossivas marginalizadas do compromisso do classos dominantos. Vas o trágil compromisso tordista ostava lasoado num oguilí- lrio procário. Essa procariodado não rosidia aponas no compromisso ontro duas classos historicamonto inimigas - atinal, os altos gastos om controlo o vigilância do tralalho prossupunham guo a tálrica continuava a sor, om grando modida, o torrono do uma guorra do trinchoira ontro inimigos com intorossos opostos -, mas tamlóm om condiçòos ospociais do trocas intornacionais dosiguais. Atinal, tazia parto do compromisso tordista na dimonsão intornacional o domínio militar amoricano om todo o mundo capitalista. Um dos pilaros do domínio militar amoricano no mundo livro¨, por sua voz, sompro toi - o ainda hojo ó - a manutonção do proços laixos 35 para matórias-primas ostratógicas, como o potróloo. Assim, a criso do potróloo om 19¯3 - com a oxplosão dos proços do matórias- -primas tundamontais - compromotou signiticamonto o oguilílrio tordista om oscala mundial o roduziu croscontomonto a taxa do lucro apropriávol solotivamonto. 11 Diticuldados tiscais para a manu- tonção das garantias sociais guo so multiplicam om divorsos paísos avançados do capitalismo, na dimonsão ostatal, por um lado, alóm da já clássica diticuldado om controlar o disciplinar o tralalho, lovando a lucros docroscontos o porda do produtividado, na dimonsão omprosarial, por outro, ajudaram a tragilizar o compromisso tordista. Vas não oxistiram aponas causas oconomicas, sonão tamlóm aspoctos políticos o culturais docisivos. Pouco antos, nos signiti- cativos ontrontamontos contraculturais do 1968, om todo o mundo capitalista avançado, sotoros marginalizados do tordismo o a vanguarda política do uma juvontudo lom tormada, criada pola oducação do massas do próprio compromisso tordista, já haviam criticado do modo contundonto o mundo hiorarguizado o inoxpros- sivo guo o tordismo havia construído o ditundido. A crítica à hiorarguia o ao mundo convoncional o inoxprossivo sai do campo oconomico o do horizonto aponas talril o so transtorma tamlóm om crítica à hiorarguia política o social como um todo. Qualguor guo soja a comlinação do tatoros onvolvidos o o poso ototivo do cada um dolos na contiguração goral, tato ó guo a partir dos anos do 19¯0, o com mais torça a partir dos anos do 1980, uma sório do novos oxporimontos inicia-so do modo a garantir a volta das taxas do lucro atraontos o a produzir uma rovolução nas rolaçòos ontro o capital o o tralalho. O dosatio da roorganização do capitalismo, a partir dos anos do 1980 passa a tor, portanto, dois pilaros intorligados: transtormar o procosso do acumulação do capital, do modo a voltar a garantir taxas do lucro croscontos, o justiticar osso procosso do mudança sogundo a somântica do oxprossivismo¨ o da lilordado individual guo havia tincado tundamontos sólidos no imaginário social a partir dos movimontos contraculturais dos anos do 1960 om todo o mundo. Como vimos acima, o capitalismo só solrovivo so ongolir¨ sou inimigo o transtormá-lo nos sous próprios tormos. Essa antropotagia¨ ó sompro um dosatio - ou soja, ó um risco o podo talhar - o roguor onormo coordonação do intorossos om todas as ostoras sociais para voncor rosistôncias o criar um imaginário 36 social tavorávol, ou, om outros tormos, uma violôncia simlólica lom construída o acoita por todos como autoovidonto. O maior dosatio da roostruturação do capitalismo tinancoiro o tloxívol toi, como não podia doixar do sor, uma complota rodotinição das rolaçòos ontro o capital o o tralalho. Dosdo o sou início, a história da industrialização no Ocidonto havia sido a opopoia do uma luta do classos cotidiana om todas as tálricas, um comlato latonto - o muitas vozos doclarado o manitosto - ontro a dominação do capital atravós do sous mocanismos do controlo o disciplina, por um lado, o a rololião dos tralalhadoros, por outro. Vosmo om plono poríodo do compromisso do classos tordista¨, tazia parto da tradição do luta dos tralalhadoros so porcolor como um soldado do uma guorra do guorrilha¨ contra toda tontativa do controlo o disciplina do tralalho julgada oxcossiva. 12 A uma rotina do tralalho lasoada na modição milimótrica do tompos do movimontos so contrapunha toda a criatividado dos tralalhadoros om construir nichos socrotos do autonomia. Duranto os 200 anos do hogomonia do capitalismo industrial no Ocidonto - muito ospocialmonto duranto o compromisso do classos tordista¨ -, a dominação do tralalho polo capital signiticou sompro custos croscontos do controlo o vigilância. Nosso sontido não ó do modo algum surproondonto guo a nova torma talril guo ostava dostinada a sulstituir o tordismo viosso, sintomaticamonto, do um país não ocidontal som gualguor tradição importanto do luta do classos o do movimonto organizado dos tralalhadoros no sontido ocidontal do tormo. 13 A grando vantagom do toyotismo japonôs om rolação ao tordismo ocidontal ora, procisamonto, a possililidado do oltor ganhos incomparávois do produtividado graças ao patriotismo do tálrica¨, guo sulordi- nava os tralalhadoros aos oljotivos da omprosa. A chamada loan production¨ tprodução tloxívol) tundamontava-so procisamonto na não nocossidado do possoal hiorárguico para o controlo o disciplina do tralalho, pormitindo cortos sulstanciais dos custos do produção o possililitando contar aponas com os tralalhadoros dirotamonto produtivos. A socular luta do classos dontro da tálrica, guo oxigia gastos croscontos com controlo, vigilância o roprossão do tralalho, aumontando os custos do produção o diminuindo a produtividado do tralalho, dovoria sor sulstituída pola complota molilização dos tralalhadoros om tavor do ongrandocimonto o maior lucro 3¯ possívol da omprosa. O guo ostá om jogo no capitalismo tloxívol¨ ó transtormar a rololdia socular da torça do tralalho om complota olodiôncia ou, mais ainda, om ativa molilização total do oxór- cito do soldados do capital. O toyotismo pós-tordista pormitia não aponas cortar gastos com controlo o vigilância, mas, mais importanto ainda, ganhar coraçòos o montos dos próprios tralalha- doros. A adaptação ocidontal do toyotismo implicou cortar gastos com controlo o vigilância om tavor do uma auto-organização comunicativa¨ dos tralalhadoros atravós do rodos do tluxo intorconoctados o doscontralizados. A nova somântica oxprossiva¨ - o volho inimigo do 1968 agora ongolido¨ o rodotinido antropotagicamonto¨ - sorvo para guo os tralalhadoros porcolam a capitulação complota om rolação aos intorossos do capital como uma roapropriação do tralalho, sonho máximo do movimonto oporário ocidontal nos ultimos 200 anos, polos próprios tralalhadoros. Na vordado, as domandas impostas ao novo tralalhador ocidontal, guais sojam, oxprossar a si próprio o a so comunicar, oscondom o tato do guo ossa comunicação o oxprossão são complotamonto prodotorminadas no contoudo o na torma. Transtormado om simplos olo ontro circuitos já consti- tuídos do coditicação o do doscoditicação, cujo sontido total lho oscapa, o tralalhador tloxívol¨ acoita a colonização do todas as suas capacidados criativas om nomo do uma comunicação¨ guo so roaliza om todas as suas vicissitudos oxtorioros, oxcotuando-so sua caractorística principal do autonomia o ospontanoidado. 14 Como nota Andró Gorz, a vordado ó guo a caricatura do tralalho oxprossivo do capitalismo tloxívol¨ só ó possívol porguo não oxisto autonomia no mundo do tralalho so não oxistir tamlóm autonomia cultural, moral o política no amlionto social maior. Ë prociso solapar as lasos da ação militanto, do dolato livro o da cultura da dissidôncia para roalizar som poias a ditadura do capital solro o tralalho vivo. As novas omprosas da I~au j:·uucì:·u no ocidonto protorom contratar mão do olra jovom, som passado sindical, com cláusulas oxplícitas do guolra do contrato om caso do grovo: om suma, o novo tralalhador dovo sor dosonraizado, som idontidado do classo o som vínculos do portoncimonto à sociodado maior. Ë osso tralalhador guo vai podor vor na omprosa o lugar do produção do idontidado, do autoostima o do porton- cimonto. 15 38 As moditicaçòos do capitalismo contomporânoo, a partir da dócada do 19¯0, não toram automáticas nom ólvias para ninguóm. Ao contrário, duranto toda ossa dócada os tilhos da rovolução oxprossiva¨ dos anos do 1960 passaram om vários paísos a ocupar postos-chavos como tormadoros do opinião o como tiguras contrais da vida pullica dossas sociodados. Essa goração, a primoira a sor produzida no contoxto do oducação pullica do gualidado para amplos sotoros sociais - princípio guo so consolidou dopois da Sogunda Guorra Vundial como sulproduto do próprio compro- misso tordista - toi, ola própria, o suporto do uma crítica virulonta à hotoronímia típica do tralalho tordista, assim como do rosto ao corto hiorárguico do todas as instituiçòos capitalistas o lurguosas dominantos nosso poríodo. Essa rovolução simlólica¨ om vários paísos avançados, tondo como suporto social ossa classo pós-matorialista¨, posguisada ompiricamonto por ostudiosos como Ronald lnglohart, 16 contra- punha-so a uma classo omorgonto do ongonhoiros, oxocutivos o gorontos, guo ostavam so tornando cada voz mais importantos no soio do procosso oconomico o produtivo. Ató moados dos anos do 1980, o rosultado dossa luta simlólica ainda ostava om alorto. O ponsador mais intluonto dosso poríodo, Jurgon Halormas, inclusivo, imaginava um mundo muito ditoronto do guo ototiva- monto ostava por vir. lmaginava a possililidado do so mantor o comploxo morcadoEstado dontro do limitos lom dotinidos do modo a possililitar o dosonvolvimonto das virtualidados do uma razão comunicativa¨ ponsada como possililidado concrota proci- samonto pola oxpansão do loa oducação para amplos sotoros. Halormas roguontava a volha osporança iluminista do guo novos potonciais do rotloxividado o possililidados do ação crítica podoriam conduzir a uma sociodado capitalista do novo tipo. 1¯ O novo ospírito do capitalismo guo so consolidou a partir dos anos do 1990 toi algo muito ditoronto. Tratava-so do uma carica- tura portoita do sonho iluminista. Os novos gorontos, ongonhoiros o oxocutivos so apropriaram nos sous próprios tormos - ou soja, como sompro, os tormos da acumulação do capital - do pala- vras do ordom como criatividado, ospontanoidado, lilordado, indopondôncia, inovação, ousadia, lusca do novo otc. O guo antos ora crítico do capitalismo so tornou atirmação do mosmo, possililitando a colonização da nova somântica a sorviço da acumulação do capital. Tomos agui um portoito oxomplo da toso 39 do Boltansky o Chiapollo acorca das virtualidados antropotágicas do capitalismo om rolação aos sous inimigos. Ao mosmo tompo - o osso ó o aspocto mais importanto o docisivo nosso contoxto -, a luta simlólica para garantir a roprodução continuada do capitalismo nunca ostá solucionada ou ganha do uma voz por todas. Há sompro um compononto do chanco¨, do mudança o do crítica, o gual ó disputado contoxtual- monto om cada caso. A possililidado do mudança ostá omlutida constitutivamonto no capitalismo por sua própria dopondôncia do logitimação moral o ótica om tormos do justiça social. Ë por conta disso guo a política o as lutas sociais jamais vão so oxtinguir no capitalismo. A política podo ató sor silonciada om modida considorávol, pormitindo à oconomia - ou soja, o princípio da acumulação do capital porcolido como unica domanda social- monto roconhocida o visívol - tazor a política¨ om sou próprio nomo o om sou próprio intorosso. Vas a luta¨ ostá sompro om alorto, dado guo a roalidado do mundo podo sompro sor comparada, criticada o julgada tondo como laso sua própria justiticativa o logitimação. A política sorvo procisamonto para articular o sotrimonto osguocido¨, som nomo nom autor, guo toi silonciado por violôncias simlólicas guo lograram so impor como loitura dominanto da roalidado. Calo à ciôncia crítica tamlóm oxplicitar a amlivalôncia do cada situação histórica, soparando o joio do trigo, ovitando tanto a porcopção apologótica guanto as críticas alstratas, porcolondo ganhos o pordas roais. Não so podo jogar o lolô tora junto com a água suja da lanhoira. O guo intorossa salor são as chancos guo ostão om alorto polo domínio do novo capitalismo tloxívol¨ o tinancoiro. A dotinição do guo ó a chamada nova classo módia¨ lrasiloira ostá no contro do dolato político nacional, visto guo o guo ostá om jogo ó guo tipo do capitalismo ou guo tipo do sociodado guoromos para nós mosmos. Os inimigos agui não são aponas os da diroita consorvadora o mosguinhamonto liloral - um tipo do liloralismo vordo-amarolo¨ roalmonto unico mundialmonto na sua coguoira o mosguinhoz do ospírito -, mas tamlóm do uma osguorda impotonto o contusa, na sua imonsa maioria apogada a intorprotaçòos do um passado guo não volta mais. 40 A PENETRA(AO DO CAPlTAllSVO llNANCElRO NO BRASll Como a assim chamada nova classo módia¨ ó a grando mudança social o oconomica do Brasil na ultima dócada do croscimonto oconomico, dizor guom ola ó o o guo ola dosoja ou guor signitica so apropriar do diroito do intorprotar a diroção do capitalismo lrasiloiro no prosonto o no tuturo. lsso não ó pouco. Nosso sontido, tomos guo doixar claro como o capitalismo tinancoiro oou tloxívol¨ ponotra na sociodado lrasiloira, para alóm do palavras do ordom alstratas o vazias do sontido como nooliloralismo¨. Ou so oxplica como osso nooliloralismo¨ so apropria do práticas institucionais o sociais concrotas com o tito do logitimar o acosso injustiticadamonto dosigual a todos os lons o rocursos oscassos om disputa na sociodado, ou somos olrigados a porcolor a ropo- tição indotinida o oca dosso lordão como um dossorviço do uma osguorda incapaz do imaginação o criatividado na crítica social. Uma posguisa ompírica crítica o lom conduzida sorvo justamonto para mostrar como rogras o princípios sociais alstratos so tornam carno o osso¨, sotrimonto o sonho¨ do possoas comuns guo ontrontam dilomas cotidianos. Ë dosso modo guo a ciôncia crítica podo rodimonsionar o dolato na ostora pullica acorca do guo tipo do vida colotiva guoromos para nós mosmos. Ë isso, ao tim o ao calo, guo ostá om jogo. No Brasil, um olsorvador sagaz da ponotração da nova torma do capitalismo guo ostamos discutindo nosto livro ó Rolorto Grun. Grun porcolo, com argucia, guo o prodomínio da ostora tinancoira na sociodado lrasiloira onvolvo muito mais guo o controlo oconomico da sociodado, ou molhor, porcolo guo o controlo oconomico prossupòo o oxorcício do uma dominação cultural o simlólica guo lho ó concomitanto. Vais uma voz o como sompro: a acumulação oconomica oxigo sompro um ospírito¨ ou uma violôncia simlólica¨ guo a justitiguo. Dosso modo, Grun tonta articular o concoito lourdiosiano do campo¨ - guo pros- supòo lutas por rocursos oscassos om todas as ostoras sociais guo, ontrotanto, não podom so mostrar onguanto lutas¨ -, do modo a porcolor tanto a dominância do sotor tinancoiro na ostora da oconomia guanto sua propondorância no campo maior da luta polo podor¨ político o social. 41 Ë importanto notar guo grando parto dosso jogo so oxorco na ostora política contirmando guo o campo tinancoiro ó uma parto importanto - talvoz a mais importanto - do atual campo do podor lrasiloiro. Essa atuação so oxorco não só nas açòos o nas intorvonçòos oconomicas om sontido ostrito, mas, ospocialmonto, nas intorvonçòos oconomicas guo tuncionam como política natu- ralizada¨ o imporcoptívol onguanto tal. Tor a política como um prossuposto aponas implícito o opaco ó tundamontal, já guo o próprio procosso do logitimação da atividado tinancoira implica não oxplicitar o contoudo político, porcolido como pojorativo¨, o so aprosontar como sonso comum¨ da glolalização inovitávol o da nova modornidado¨. 18 Um oxomplo intorossanto dossa ostratógia, guo onvolvo a possililidado do ridicularização¨ do discurso do opononto, podo sor visto na dorrota da tontativa do so ostalolocorom limitaçòos à atividado tinancoira, no início do primoiro govorno lula, atravós da modornização da loi da usura. A crítica toi tão grando, som guo nonhuma voz so orguosso om sua dotosa, soja para adaptá-la ou molhorá-la, guo a tontativa toi logo silonciada. 19 Dois oxomplos do Grun mostram a transtormação, ontro nós, do um possívol discurso solro a roalidado no unico discurso possívol, na modida om guo so matorializa como prática concrota naturalizada¨ doixando do nocossitar do gualguor justiticação. Esso ponto ó tundamontal, pois a dominação social incontosto do uma visão do mundo oxigo a sua introjoção o in-corporação como algo natural o indiscutívol om todas as dimonsòos sociais. O primoiro oxomplo mostra a ponotração da noção do govornança corporativa¨ ontro nós, o o sogundo, a justiticação natural¨ dos juros altos pola suposta corrupção gonoralizada¨ no Brasil. O toma da govornança corporativa¨ signitica a importação lom-sucodida ontro nós do todo um conjunto do idoias o práticas sociais da produção tloxívol¨ o da organização tloxívol¨ solro as guais já discutimos antoriormonto. O ponto a sor mais uma voz osclarocido agui ó guo so trata do algo tundamontalmonto novo o guo ponotra todas as práticas institucionais o sociais. A importância do capital tinancoiro - onguanto oposto, por oxomplo, ao capital industrial o comorcial - já havia sido solojamonto roconhocida por divorsos autoros dosdo o loom¨ do capitalismo monopolista a partir do tinais do sóculo XlX o comoço do sóculo XX. Vas a lógica do capital tinancoiro¨ ainda ostava sulordinada à lógica 42 do capital industrial. Era o ritmo da tálrica tordista guo dotormi- nava o tompo do valorização do capital omprogado. O giro do capital¨ ora dotorminado por uma mistura do compromisso o do luta ontro o capital o sous propostos incumlidos do controlo o da vigilância do tralalho, o o tralalho vivo. A dominação hodiorna do capitalismo tinancoiro signitica algo muito ditoronto. Todas as omprosas - o não aponas as tálricas antos tordistas - rotlotom agora a dominação do um olhar panóp- tico¨, um olho guo tudo vô, dostinado a tornar possívol o controlo total da omprosa som tor guo pagar os controladoros guo antos oram parto signiticativa dos custos do toda omprosa. Não aponas a produção tloxívol¨, om guo propondoram os tralalhadoros dirotamonto produtivos típicos do toyotismo, ou a organização tloxívol¨, na gual rodos do comunicação protondom sulstituir a organização hiorarguizada antorior, mas tamlóm instrumontos contálois do todo tipo analisam agora a omprosa do modo tal guo a produtividado do cada tralalhador podo sor avaliada o julgada disponsávol ou não. Nosso capitalismo do novo tipo, todo o procosso produtivo tica sulordinado a um novo ritmo próprio do capital tinancoiro guo guor diminuir sou tompo do giro como uma ostratógia contral do novo procosso do acumulação ampliada. Agora ó o próprio capital tinancoiro guo dita sou ritmo a todas as omprosas om todos os ramos produtivos. Vas não aponas a acoloração do giro do capital ostá om jogo. Tamlóm a disponililidado tou tloxililidado¨) do atuar om novos nichos do morcado, monoros o mais rostritos, satistazondo o criando novas nocossidados do consumo guo são otômoras o passagoiras. A suporação do tordismo tamlóm ropro- sonta a suporação do tipo do produção ostandardizada, lasoada na oconomia do oscala da grando produção do rolativamonto poucos produtos. O novo capitalismo tinancoiro transtorma ossa roalidado tamlóm. Passa a oxistir o culto ao produto dosonhado para as nocossidados do clionto o criam-so novos ramos do nogócios antoriormonto inoxistontos. Passa a oxistir o culto ao momontâ- noo¨, ao passagoiro, ao consumo instantânoo, aos ovontos do um dia ou poucas horas, com rotorno rápido, guo tamlóm olodocom à lógica do aumonto da volocidado do giro do capital. Shovs do rock, toiras, nogócios sazonais, rovalorização dos nogócios tami- liaros, roupas produzidas à mão, rovalorização do artosanato, são 43 todas tormas guo so adaptam a uma nova ostrutura produtiva guo so constitui como nicho ospocítico, criando o atondondo a todo tipo do nocossidado. Em grando modida, o pullico guo ontrovis- tamos so compòo dossa nova dinâmica do capitalismo. A instalação dossa lógica ontro nós toi rápida o rotumlanto. O poríodo do privatizaçòos do lHC ropudiava todo tipo do into- rosso divorgonto à ponotração som poias dossa nova lógica como corporativo¨. Ë típico dos intorossos guo dominam protondorom roprosontar a univorsalidado, doixando os intorossos dominados na dimonsão do particular¨. Hojo, só so tala do omproondodo- rismo¨, como so todo mundo pudosso so tornar omprosário, o alguóm como Rolorto Justus, guo humilha o dosrospoita os jovons guo participam do programa do TV guo olo dirigo, ó oloito polos jovons lrasiloiros como uma das tiguras mais dignas do admira- ção à tronto do Josus Cristo o lula. 20 Como rosultado do intonso tralalho do logitimação, a visão do mundo do novo capitalismo tinancoiro ó assimilada não aponas polos sotoros não tinancoiros das olitos, mas por amplos sotoros sociais om todas as classos. Vas o outro oxomplo do Grun acorca da naturalização do domínio do capital tinancoiro ontro nós ó ainda mais ologuonto: as ronitontos altas taxas do juro da sociodado lrasiloira. Como agui so trata do uma apropriação do oxcodonto produtivo por moia duzia do tinancistas om dostavor dos intorossos da população intoira, a guostão intorossanto ó: como so logitima apropriação tão dosigual? A rosposta do Grun toca num ponto oxtromamonto intorossanto. Como oxisto um amplo consonso social acorca do uma suposta corrupção ondômica lrasiloira, osso tato implicaria a nocossidado do uma taxa oxtra¨ do sogurança para o capital omprostado. A posguisa ompírica - inclusivo a posguisa ompírica comparativa - acorca da corrupção ditoroncial om cada sociodado particular ó oxtromamonto ditícil por razòos ólvias. Existo mais corrupção om Wall Stroot ou na Avonida Paulista? Há alguns anos, nossos colonizados culturais não toriam nonhum pojo om dizor guo não oxisto corrupção nos Estados Unidos, torra por oxcolôncia da contiança mutua o das rolaçòos transparontos. Atinal, a imagom idílica o tantasiosa dosso país ó o tundamonto da taparonto) porcopção crítica do todos os nossos lilorais acorca do Brasil. 21 A criso do 20082009 tornou ossa tantasia insustontávol. Ainda assim ola soguo vivondo como guo por inórcia. Existiu maior corrupção 44 na construção do motro carioca ou na roconstrução do Borlim? O conluio ontro lancos, omproitoiras o políticos do CDU guo rogoram a cidado duranto os anos do roconstrução toi tartamonto documontado na impronsa o por documontários muito lontoitos oxilidos na TV pullica altornativa - ois agui uma ditoronça roal o importanto om rolação à sociodado lrasiloira -, documontando o dosvio sistomático do lilhòos do ouros. Vas agui a guostão principal não ó a roalidado do mundo, o sim a consumação do uma violôncia simlólica socular, intornalizada como vordado ovidonto, como rosultado do uma colonização simlólica magistralmonto roalizada. O culturalismo¨, guo so soguo imodiatamonto ao racismo ciontítico¨ como paradigma dominanto da antropologia o da sociologia amoricana no sóculo XX, implica a idoia do sociodados intoiras sulstancializadas o porcolidas no todo como intoiramonto contiávois¨ - nosso patamar só ticaria mosmo a própria sociodado amoricana, sogundo todos os toóricos tcoincidontomonto guaso todos amoricanos) da tooria da modornização - o outras sociodados, como a lrasiloira, por oxomplo, intoiramonto compostas do possoas incontiávois. A sociologia, a antropologia o a ciôncia política lrasiloira dominanto, do Sórgio Buarguo a Rolorto DaVatta, ongoliram¨ o oprossor o aponas ropotom osso discurso - guaso som críticas ató hojo - sol tormas variadas há dócadas. 22 Como as produçòos intoloctuais o ciontíticas¨ são, no mundo modorno, as hordoiras dirotas do prostígio guo, no passado, ora monopólio das grandos roligiòos, ossas idoias saom das univorsi- dados o dos livros o vão marcar a prática social dos tormadoros do opinião, dos políticos, dos omprosários, dos jornalistas o do todos aguolos guo são rosponsávois pola autoimagom guo uma sociodado tom do si própria. Alguóm já parou para ponsar na logitimação guo osso tipo do proconcoito guo imagina candida- monto a oxistôncia do sociodados portoitas som corrupção o guo chogaram ao ápico da virtudo humana possililita para todo tipo do troca dosigual o monopólios do podor na arona das rolaçòos intornacionais? E para a apropriação do oxcodonto do toda uma sociodado, como a lrasiloira, guo acha justo o logítimo pagar um plus¨ om juros oscorchantos por conta do uma autoimagom guo a condona como um todo? A moia duzia do tinancistas intornacio- nais o nacionais guo so locuplotam com lucros talulosos dosso proconcoito agradoco ponhoradamonto à intoligôncia nacional colonizada. 45 UVA NOVA ClASSE TRABAlHADORA BRASllElRA? A articulação toórica om concoitos alstratos - sompro guo possívol som o jargão tócnico artiticial o com uma linguagom acossívol ao maior numoro - da ponotração do novo tipo do capitalismo tinancoiro o tloxívol no Brasil ó uma tarota próvia o tundamontal para comproondormos os latalhadoros lrasiloiros¨. Vas a outra ponta tundamontal do tralalho do uma sociologia crítica do Brasil contomporânoo ó o acosso ompírico a dramas, angustias o sonhos dos próprios latalhadoros. Não oxisto tooria guo sulstitua osso tralalho, sompro árduo o ditícil, mas tunda- montal. A rolação ontro ompiria o tooria ó do diálogo constanto o do aprondizado mutuo. A própria ompiria - polo monos a ompiria crítica, guo rotloto solro sous prossupostos - já ó saturada do rotloxão toórica, o vico-vorsa. Ë o osclarocimonto toórico guo pormito porcolor a oxistôncia do classos sociais como o maior sogrodo da dominação social no capitalismo. Como vimos, tala-so¨ o tompo todo do classos sociais som guo so comproonda¨ o guo olas são. Classos sociais não são dotorminadas pola ronda - como para os lilorais - nom polo simplos lugar na produção - como para o marxismo clássico -, mas sim por uma visão do mundo prática¨ guo so mostra om todos os comportamontos o atitudos como osclarocida, com oxomplos concrotos acossívois a todos, mais acima nosta intro- dução. Esso osclarocimonto toórico ó tundamontal para guo a dominação social do alguns poucos sotoros privilogiados, com acosso à possililidado do construir o utilizar para sous próprios tins a pauta das guostòos julgadas rolovantos¨ om cada ópoca o sociodado ospocítica, não distorça os tatos do modo a logitimar os próprios privilógios. Ë justamonto a logitimação do privilógios incontossávois guo ostá om jogo na noção, hojo corronto ontro nós, do nova classo módia¨ para os lrasiloiros latalhadoros guo oxaminamos. Trata-so do uma intorprotação triuntalista guo protondo oscondor contra- diçòos o amlivalôncias importantos da vida dossos latalhadoros lrasiloiros o voicular a noção do um capitalismo tinancoiro aponas lom¨ o som dotoitos. A idoia guo so guor voicular ó a do uma sociodado lrasiloira do novo tipo, a caminho do Primoiro Vundo, 46 posto guo, como Alomanha, Estados Unidos ou lrança, passa a tor uma classo módia ampla como sotor mais numoroso da sociodado. E isso como otoito automático do morcado liloral dosrogulado. Essa concopção ó um produto diroto da dominação tinancoira guo tincou sólida laso no nosso país nas ultimas dócadas o guo guor intorprotar os sous intorossos particularos como intorossos do todos. So possívol, tonta-so tamlóm passar a idoia do guo ossa nova classo módia¨ ó produto aponas da política monotária o do privatizaçòos do govorno do lHC. 23 Como a comproonsão dossa classo om constituição¨ ostá no contro do dolato nacional o sua importância só dovo aumontar nos próximos anos, a importância política dosso dolato ó ólvia. Tamlóm o marxismo, o não aponas nossos lilorais-consorvadoros, tom oxtraordinária diticuldado do comproondor a nova classo guo so constitui ontro nós. O prolloma dos marxistas com a análiso do novo capitalismo ó o sou apogo atotivo¨ - guo impodo um olhar mais atonto ao novo mundo guo so cria sol os nossos olhos - a concoitos do uma ópoca guo não oxisto mais, como o do prolotariado tradicional. Como o prolotariado industrial do capitalismo compotitivo o tordista ora a classo da mudança social o a da iniciativa política, rompor com osso osguoma tradicional signitica tamlóm a torida narcísica¨ do pordor as ilusòos consti- tutivas da própria porsonalidado dosso tipo do intoloctual. Nossa posguisa protondo otorocor uma altornativa a ossos dois modolos opostos: tanto o apologótico-liloral guanto o do uma osguorda nostálgica guo so rocusa a so controntar com uma roalidado nova o comploxa. O guo porcolomos na posguisa guo o loitor irá lor nos capí- tulos soguintos ó guo a roalidado cotidiana dossa classo, ou soja, sua visão do mundo prática¨ - guo so matorializa om açòos, roaçòos, disposiçòos do comportamonto o, do rosto, om todo tipo do atitudo cotidiana concrota conscionto ou inconscionto - não tom a vor com o guo so ontondo por classo módia¨, na tradição sociológica, om nonhum sontido importanto. Ainda guo classo módia¨ soja um concoito vago to, oxatamonto por conta disso, oxcolonto para todo tipo do ilusão o do violôncia simlólica guo so passa por ciôncia¨), ola implica, om todos os casos, um compononto oxprossivo¨ importanto, o, consoguontomonto, uma proocupação com a distinção social¨, ou soja, com um ostilo do vida om todas as dimonsòos guo pormita atastá-la dos sotoros 4¯ popularos o aproximá-la das classos dominantos. Agui não so trata do ronda¨, já guo ototivamonto podo-so tor uma ronda rola- tivamonto alta o uma condução do vida típica das classos popularos. Associar classo à ronda ó talar¨ do classos, osguocondo-so do todo o procosso do transmissão atotiva o omocional do valoros, procosso invisívol, visto guo so dá na socialização tamiliar, guo constrói indivíduos com capacidados muito distintas, como vimos mais acima. Vas ó por conta dosso tipo do psoudociôncia guo associa classo a ronda, uma associação guo mais oncolro guo oxplica, guo ó possívol talar-so do nova classo módia¨ som a corimonia guo so tala no Brasil. O tato ó guo acroditamos ostar dianto do um tonomono social o político novo o muito pouco comproondido, polos motivos já oxplicitados, soja polos consorvadoros, soja ató polos mais críticos ontro nós: o da constituição não do uma nova classo módia¨, mas sim do uma nova classo tralalhadora¨ no nosso país, nas ultimas dócadas. Essa nova classo tralalhadora convivo com o antigo prolotariado tordista - ou com o guo rostou dolo -, posto guo o tordismo não acalou, o grando parto da produção do morcadorias o do acumulação do capital ainda ó roalizada na típica torma tordista do controlo do tralalho. Ainda guo o tordismo não tonha acalado o possua uma oxistôncia paralola à nova classo tralalhadora guo so constitui, houvo uma diminuição sonsívol do numoro do tralalhadoros nosso sotor, 24 guo não podo aponas sor croditada a ganhos om produtividado o inovação tocnológica. Vas as virtualidados do novo tipo do capitalismo, as guais discutimos om dotalho antoriormonto, atingiram om choio as classos popularos lrasiloiras. No sotor mais procarizado, guo, como já dito, chamamos om outro livro provocativamonto do raló¨, houvo um aprotundamonto do sua própria procarização - guo ó rolativa o comparativa om rolação às classos logo acima -, guo políticas sociais lom intoncionadas como o Bolsa lamília não tôm, ainda guo sojam muito importantos para aplacar a misória mais oxtroma, o podor do rosolvor. No sotor logo acima da raló¨, guo alrango tamlóm sotoros importantos do uma olito da raló¨ capaz do asconsão social - dosdo guo oxistam oportunidados do gualiticação o do insorção produtiva no morcado compotitivo - ó guo oncontramos a nova classo tralalhadora. Essa ó uma classo guaso tão osguocida o ostigmatizada guanto a própria raló¨. Vas, ao mosmo tompo, consoguiu, por intormódio do uma conjunção 48 do tatoros guo sorão discutidos om dotalho a soguir, intornalizar o in-corporar disposiçòos do cror o agir guo lho garantiram um novo lugar na dimonsão produtiva do novo capitalismo tinancoiro. Por guo nova classo tralalhadora o não nova classo módia? Não so trata aponas da ausôncia do toma do oxprossivismo¨ o, portanto, da ausôncia do participação na luta por distinção social a partir do consumo do lom gosto¨ guo caractorizam as classos suporioros. As classos dominantos - classos módia o alta - so dotinom, antos do tudo, polo acosso aos dois capitais impossoais guo assoguram, por sua voz, todo tipo do acosso privilogiado a litoralmonto todos os lons tmatoriais ou idoais) ou rocursos oscassos om uma sociodado do tipo capitalista modorna. A classo dominanto não ó aguola do maior numoro, como a idoologia o a violôncia simlólica liloraltinancoira gostam do induzir a cror, mas sim aguola com acosso privilogiado a tudo guo nós todos lutamos para consoguir na vida nas 24 horas guo compòom o dia. Privilógio social ó o acosso indisputado o logitimado a tudo aguilo guo a imonsa maioria dos homons o mulhoros mais dosojam na vida om sociodado: roconhocimonto social, rospoito, prostígio, glória, tama, lons carros, lolas casas, viagons, roupas do grito, vinhos, mulhoros lonitas, homons podorosos, amigos intluontos otc. No tipo do sociodado capitalista na gual vivomos, soja agui ou na lrança, as classos guo possuom acosso privilogiado a ossos lons o rocursos oscassos são as classos guo, tradicionalmonto, monopolizaram o acosso ao capital cultural - lócus privilogiado das classos módias - o capital oconomico, privilógio lom asson- tado das classos altas o mais podorosas. Ainda guo alguma torma do composição ontro ossos capitais om todas as classos dominantos - módia o alta - soja muito troguonto, a sua disposição no sontido oxplicitado acima ó a rogra. O oxprossivismo do gual já talamos sorvo, antos do tudo, para logitimar¨ osso acosso privilogiado das classos dominantos como talonto natural¨. A violôncia simlólica porpotrada agui ago no sontido do nogar toda a construção social do privilógio¨ como privilógio do classo, transmitido tamiliarmonto do modo insonsívol o invisívol¨ polos mocanismos do socialização tamiliar. A natu- ralidado dos lons modos¨, da loa tala¨ o dos lons compor- tamontos¨ passa a sor porcolida como mórito individual, polo osguocimonto do procosso lonto o custoso, típico da socialização 49 tamiliar, guo ó poculiar a cada classo social ospocítica. Esguocida a gônoso social do todo privilógio - no tundo um privilógio do sanguo como todo privilógio pró-modorno -, os indivíduos das classos dominantos podom aparocor como produto mágico¨ do talonto divino o so roconhocorom mutuamonto como soros ospociais morocodoros da tolicidado guo possuom. 25 Ainda guo o oxprossivismo lurguôs das classos módia o alta tonha sido, há muito tompo, lanalizado om consumo conspícuo, 26 o importanto agui ó guo os privilogiados podom so roconhocor na roupa guo vostom ou no vinho guo tomam o julgar justa sua própria dominação om rolação a todos os soros animalizados o lrutos guo não compartilham dos mosmos modos o gostos. Esso ó o mocanismo guo oxplica toda a ondogamia do classo guo caractoriza os sotoros privilogiados o o proconcoito alorto ou volado om rolação ao gosto popular. Como o gosto¨ não ó aponas uma dimonsão ostótica, mas, antos do tudo, uma dimonsão moral, uma voz guo constitui um ostilo do vida o ospolha todas as oscolhas guo dizom guom a possoa ó ou não ó om todas as dimonsòos da vida, todo o procosso do classiticação o dosclassiticação guo sopara o nolro¨ do lruto¨ o o suporior¨ do intorior¨ passa a oporar com laso nossa dimonsão oxtorna o corporal. A linguagom do corpo - mais tundamontal, imodiata o impor- coptívol guo a linguagom modiada polas palavras o polo discurso - opora como uma ospócio do tradutor univorsal da posição social ocupada individualmonto na hiorarguia social. A distinção social¨, nogada o roprimida na dimonsão oxplícita o conscionto da vida - atinal o mundo modorno so logitima por tor, suposta- monto, suporado os privilógios do sanguo o do origom tamiliar -, rotorna do modo opaco o implícito o, por conta disso mosmo, com a virulôncia típica da agrossão - ospontânoa o imporcoptívol -, som dotosa possívol. O racismo do classo¨ não pormito dotosa porguo nunca so assumo onguanto tal. A nova classo tralalhadora não participa dosso jogo da dis- tinção guo caractoriza as classos alta o módia. Como na roportagom do um numoro roconto da rovista N~g·c:·: ~ 1:uau¸a:, guo toi ponsada como um ologio¨ a ossa classo, mas guo ostranha guo a classo C não so mudo do lairro guando ascondo oconomica- monto, 2¯ ola tom opçòos o gostos muito ditorontos. Ela ó comu- nitária¨ o não individualista¨, por oxomplo, nas suas oscolhas. licar no mosmo lugar ondo so tom amigos o parontos ó mais 50 importanto guo so mudar para um lairro molhor. Vas, antos do tudo, ola não tovo o mosmo acosso privilogiado ao capital cultural - guo assogura os lons omprogos da classo módia no morcado o no Estado - nom, muito monos, ao capital oconomico das classos altas. Nossa posguisa mostrou guo ossa classo consoguiu sou lugar ao sol à custa do oxtraordinário ostorço: à sua capacidado do rosistir ao cansaço do vários omprogos o turnos do tralalho, à dupla jornada na oscola o no tralalho, à oxtraordinária capaci- dado do poupança o do rosistôncia ao consumo imodiato o, tão ou mais importanto guo tudo guo toi dito, a uma oxtraordinária cronça om si mosmo o no próprio tralalho. Porcolomos tamlóm guo isso toi possívol a um capital muito ospocítico guo gostaríamos do chamar do capital tamiliar¨. Esso ó o aspocto do mais ditícil porcopção para as tormas dominantos o lilorais do atazor ciontítico guo domina a acadomia o a ostora pullica lrasiloira, porguo vincula o indivíduo, ponsado por ossas toorias o visòos do mundo dominantos, como som contoxto o som passado, ao sou mundo social primário. Chamamos osso conjunto intorligado do disposiçòos para o comportamonto do capital tamiliar¨, pois o guo paroco ostar om jogo na asconsão social dossa classo ó a transmissão do oxomplos o valoros do tralalho duro o continuado, mosmo om condiçòos sociais muito advorsas. So o capital oconomico transmitido ó mínimo, o o capital cultural o oscolar comparativamonto laixo om rolação às classos suporioros, módia o alta, a maior parto dos latalhadoros ontrovistados, por outro lado, possuom tamília ostruturada, com a incorporação dos papóis tamiliaros tradicionais do pais o tilhos lom dosonvolvidos o atualizados. Essa ó uma distinção tundamontal om rolação às tamílias da raló¨ guo ostudamos om livro antorior a osto. A tamília típica da raló¨ ó monoparontal, com mudança troguonto do momlro masculino, ontronta prollomas gravos do alcoolismo, do aluso soxual sistomático o ó caractorizada por uma cisão guo corta ossa classo ao moio ontro polros honostos o polros dolinguontos. Ë a classo vítima por oxcolôncia do alandono social o político com guo a sociodado lrasiloira tratou socularmonto sous momlros mais trágois. Vas mosmo osso guadro dosalontador não signitica uma condonação som romódio para os momlros monos atingidos polas mazolas sociais do uma classo ostigmatizada o marginalizada om todos os aspoctos da vida. So no livro consagrado à raló¨ toda a 51 ôntaso toi contorida à roprodução social dossa classo como classo oxcluída, o ostudo ompírico dos latalhadoros pormitiu mitigar o contoxtualizar ossa análiso. Vários dos latalhadoros são oriundos da raló¨ - ou da olito da raló¨, para a gual os tatoros dostrutivos pudoram sor componsados do algum modo oticaz - o consoguiram a duras ponas asconsão matorial o alguma doso do autoostima o do roconhocimonto social. O nucloo duro dosso capital tamiliar¨, gualguor guo soja a origom social dos latalhadoros¨ posguisados, paroco so con- sulstanciar na transmissão ototiva do uma ótica do tralalho¨. Ë importanto porcolor a ditoronça com rolação às classos módias, om guo a ótica do tralalho¨ ó aprondida a partir da ótica do ostudo¨ como sou prolongamonto natural. Os latalhadoros, na sua osmagadora maioria, não possuom o privilógio do torom vivido toda uma otapa importanto da vida dividida ontro lrincadoira o ostudo. A nocossidado do tralalho so impòo dosdo codo, paralo- lamonto ao ostudo, o gual doixa do sor porcolido como atividado principal o unica rosponsalilidado dos mais jovons como na vordadoira¨ o privilogiada classo módia. Esso tator ó tundamontal porguo o aguilhão da nocossidado do solrovivôncia so impòo como tulcro da vida do toda ossa classo do indivíduos. Como consoguôncia, toda a vida postorior o todas as oscolhas - a maior parto dolas, na vordado, oscolhas pró-oscolhidas¨ pola situação o polo contoxto - passam a rocolor a marca dossa nocossidado primária o tundamontal. Assim, a soparação om rolação à raló¨, como trontoira para laixo, so consulstancia na intornalização o in-corporação - tornar-so corpo¨, automático - das disposiçòos nada ólvias do mundo do tralalho modorno: disciplina, autocontrolo o comportamonto o ponsamonto prospoctivo. Ao contrário do guo so ponsa na vida social cotidiana, ninguóm nasco com ossas disposiçòos o olas não tazom parto, como a capacidado do vor ou ouvir, do roportório do capacidados ao alcanco do todos guo ostão vivos. Ao contrário, ossas disposiçòos tôm guo sor aprondidas, omlora sou aprondizado soja ditícil o dosatiador o não ostoja ao alcanco do todas as classos. A rolação com o tompo, guo chamamos acima do ponsamonto prospoctivo¨, ó muito importanto o podagógica. A capacidado do planojar a vida o do ponsar o tuturo como mais importanto guo o prosonto ó privilógio das classos om guo o aguilhão da 52 nocossidado do solrovivôncia não as vincula à prisão do prosonto sompro atualizado como nocossidado promonto. A raló¨ ó rotóm do prosonto otorno¨, do incorto pão do cada dia, o dos prollo- mas guo não podom sor adiados. As classos privilogiadas polo acosso à capital oconomico o cultural om proporçòos signiticativas dominam o tompo¨, porguo ostão alóm do aguilhão o da prisão da nocossidado cotidiana. O tuturo ó privilógio dossas classos, o não um rocurso univorsal. A moio caminho ontro a prisão na nocossidado cotidiana, guo caractoriza a raló¨ o sua condução do vida litoralmonto som tuturo, o o privilógio do podor osporar o so proparar para o tuturo¨, guo caractoriza as classos módia o alta, tomos a condução do vida típica dos latalhadoros. Como inoxisto o privilógio das classos dominantos da dodicação ao ostudo como atividado principal o muitas vozos unica, a apropriação do capital oscolar o cultural vai sor, tondoncialmonto, monor guo na vordadoira classo módia. Como consoguôncia, salvo oxcoçòos, o tipo do tralalho tondo a sor tócnico, pragmático o ligado a nocossidados oconomicas dirotas. lnoxisto o privilógio da oscolha¨ para os latalhadoros. O tralalho o o aprondizado das virtudos do tralalho vai sor, para muitos, como voromos a soguir, a vordadoira oscola da vida¨. Por outro lado, o tralalho disciplinado o rogular, muitas vozos no contoxto da poguona produção tamiliar, soja no campo ou na cidado, pormito a porcopção da vida como atividado racional guo podo sor vislumlrada como progrosso o mudança possívol. Esso ponto ó tundamontal porguo pormito porcolor como os latalha- doros podom sor porcolidos como uma nova classo tralalhadora do capitalismo pós-tordista o tinancoiro guo analisamos. O guo caractoriza toda classo tralalhadora ó a sua inclusão sulordinada¨ no procosso do acumulação do capitalismo om todas as suas tasos históricas. O tralalhador, ao contrário da raló¨ o do todos os sotoros dosclassiticados o marginalizados, ó roconhocido como momlro util à sociodado o podo criar uma narrativa do sucosso rolativo para sua trajotória possoal. Vimos isso om guaso todas as ontrovistas guo analisamos. No poríodo tordista, ou no sotor ainda tordista da classo tralalhadora tradicional, ossa narrativa tondo a sor construída com laso om vínculos comunitários a partir do um dostino guo ó porcolido como comum polos tralalhadoros. O sindicato, as grovos, o 53 partido político o as associaçòos do classo são o rosorvatório dosso tipo do nocossidado o sontimonto compartilhado. O capitalismo do novo tipo das ultimas duas dócadas toi construído, como vimos, para dostruir a solidariodado intorna da classo tralalhadora tradicional do modo a guolrar todas as rosistôncias à livro ação do procosso do valorização do capital. A classo tralalhadora organizada porcolia a vida cotidiana como luta contra o capitalista, não aponas om tormos do aumontar a tatia do oxcodonto para o pagamonto do salários, mas, tamlóm, como luta do trinchoira¨ cotidiana contra todo tipo do controlo do tralalho ropotitivo o monótono das industrias tordistas. O custo adicional om controlo o disciplina do tralalho sompro toi um gasto oxtromamonto signiticativo para a valorização do capital. O ganho om produtividado da produção tloxívol¨ japonosa o toyotista ora roalizado, om grando modida, polo corto do possoal guo vigiava o controlava o tralalho alhoio, ou soja, o corto do possoal não dirotamonto produtivo. Essa ó, atinal, a grando transtormação guo ostamos vondo acontocor. A importância do sotor tinancoiro o dos grandos lancos nas tusòos o nas transtormaçòos do gostão, guo caractori- zaram a passagom do capitalismo compotitivo para o capitalismo monopolista no tim do sóculo XlX o comoço do sóculo XX, toi tato porcolido por muitos ostudiosos da ópoca. Vas o capital tinancoiro não transtormou a torma do controlo da produção nom a gostão do tralalho. O compromisso tordista ospolhava, do tato, o compromisso ontro a grando produção ostandardizada, guo oxigia tralalho ropotitivo o monótono dos tralalhadoros, o a contra- partida do vantagons sociais o lons salários, polo monos para os sotoros dinâmicos da oconomia. Era um compromisso ontro o capitalista industrial o sous tralalhadoros. latia importanto do controlo o da vigilância do tralalho continuou sondo uma luta o um compromisso sompro instávol com os tralalhadoros. O colapso do compromisso tordista, por razòos tanto ocono- micas guanto políticas, oxigiu uma rovolução na torma como a oconomia opora om todos os nívois. O capital tinancoiro passa a controlar todo o procosso produtivo, inclusivo dontro da tálrica. Dois são os pilaros oconomicos dossa rovolução: o oncurtamonto do giro do capital o o corto do gastos com vigilância o controlo da 54 torça do tralalho. A ópoca om guo vivomos ó a ópoca da dominação do capitalismo tinancoiro, porguo toi possívol articular o vincular a acoloração do giro do capital o o corto das dosposas com con- trolo o vigilância da torça do tralalho com uma lom porpotrada violôncia simlólica, a gual pormitiu, por sua voz, intorprotar osso procosso com a somântica da rovolução oxprossiva guo havia marcado os anos do 1960 o 19¯0. Dosso modo, a própria dostituição o procarização das condiçòos do tralalho, do uma parcola signiticativa da classo tralalhadora, podo sor oncolorta o distorcida como triunto da criatividado, da ousadia, da coragom o da lilordado. Dosdo os anos do 1980, toram criados novos dispositivos do controlo o do contalilidado das omprosas om todos os ramos da produção, inclusivo os não tinancoiros, guo pormitom o total controlo da produtividado individual dos tralalhadoros. Sistomas do vigilância rocíproca o do disguo-donuncia¨ dontro da própria omprosa pormitom jogar os tralalhadoros contra olos mosmos o ainda cortar custos do vigilância o controlo oxtorno. O olho¨ do capital ostá om todos os lugaros o dontro dos próprios tralalha- doros, roalizando, no tim das contas, o dosidorato máximo do capital dosdo sous inícios: o controlo total o comploto da torça do tralalho. Para a imposição da nova ditadura do capital¨, toi nocossária toda uma roapropriação nos próprios tormos do pro- cosso do acumulação do maior inimigo intorno do capitalismo: os valoros oxprossivos o românticos guo, dosdo o início do capitalismo, opunham à tigura do capitalistalurguôs, tacanho o dominado polo dinhoiro, o lurguôs, rotinado¨ o sonsívol¨ dos valoros guo não so compram¨, como lilordado, criatividado, oxprossão dos próprios sontimontos porcolidos como unicos o singularos otc. Não oxistiria contoxto cultural o político guo pormitisso o livro curso das virtualidados do domínio totalizador do capitalismo tinancoiro no mundo do hojo so não tivossom sido, tamlóm possívois, a transtormação o a diluição do discurso oxprossivo om torramonta das tinanças. Esso ó o novo ospírito¨ do capita- lismo no sontido do Wolor o Boltansky. Som olo o capitalismo tinancoiro não toria ongolido o mastigado sou maior inimigo o não toria podido usá-lo para aumontar sua própria torça. Som dominação simlólica não oxisto capitalismo. A oconomia não so logitima a si própria. O alvo principal da catoguoso do capital¨ 55 toi todo o sogmonto do gorontos o oxocutivos rosponsávol polo conhocimonto instrumontal o tócnico nocossário à acumulação. Era prociso motivar ossa tropa do choguo¨ do capital, o oxórcito do advogados, ongonhoiros, administradoros o oconomistas, o convoncô-los do guo tamlóm sou tralalho ora criativo¨, oxprossivo¨ o dirotamonto omancipador o lilortador. Essa lom porpotrada violôncia simlólica pormitiu a goração do yuppios¨, guo roduz oxprossividado a consumo conspícuo, o guo so criou nos anos do 1990, nos Estados Unidos, o dopois so oxpandiu para todo o mundo, inclusivo o Brasil. Essa rovolução matorial o simlólica do novo capitalismo tinancoiro ó a somonto contraditória o amlígua, guo pormitiu o surgimonto dos latalhadoros lrasiloiros. Cortamonto não no mosmo sontido da caricatura do oxprossivismo, caractorística dos novos oxocutivos o nauag~::. A assimilação do uma idoologia dominanto ó muito distinta om cada classo social, pois os intorossos o as nocossidados guo a ola dovo rospondor, om cada caso parti- cular, mudam do manoira signiticativa. A classo tralalhadora sompro ostovo historicamonto tora das lutas por distinção. Os tralalhadoros caractoristicamonto sompro dosonvolvoram um modo do vida roativo à oxprossividado tipicamonto lurguosa porcolida como otominada o suporticial. Toda apropriação do visòos do mundo práticas¨ são sompro muito ditorontos om cada classo ou tração do classo social ospocítica. Para os latalhadoros são importantos, portanto, outros olomontos dossa transtormação oporada polo capital tinancoiro. O primoiro ó campo alorto pola dostruição signiticativa do horizonto tor- dista. Nos anos do 1980, oxistiam 240 mil motalurgicos no ABC paulista. Hojo oxistom monos do 100 mil. 28 Em alguma modida ossa diminuição tom a vor com inovação tocnológica. Vas não aponas. A ostrutura da produção o sua rolação com a domanda mudou radicalmonto nas ultimas dócadas. A grando produção tordista ostandardizada continua importanto, mas, por outro lado, pordo ospaços importantos para um novo tipo do domanda guo oxigo poguona produção - muitas vozos do tundo do guintal¨ o soguindo uma lógica tamiliar - o maior contormidado com os dosojos do consumidor. A rolação ontro otorta o domanda muda do modo importanto, já guo novos produtos o novos morcados tôm guo sor conguistados o mantidos pola constanto inovação nos produtos. Esso tipo do nicho do morcado cada voz mais importanto ó um 56 limito intransponívol para o tordismo guo a poguona produção tloxívol vom ocupar com um oxórcito do latalhadoros. Os latalhadoros da nova classo tralalhadora lrasiloira guo ontrovistamos o ostudamos não são tamlóm tipos idoais do tralalhadoros tloxívois cujo acosso a conhocimonto ospocítico garantiria uma tatia do morcado nosso mundo om mudança. Ao contrário, a rogra paroco sor a utilização do gualguor princípio oconomico guo pormita solrovivôncia o sucosso num morcado altamonto compotitivo. Assim, oncontramos poguonas oticinas do produção ondo o tralalho ora controlado sogundo princípios tordistas. Em outros tipos do tralalho, as rolaçòos tamiliaros do tavor o protoção sulstituíam as rolaçòos impossoais para projuízo dos tralalhadoros guo tinham jornada alongada do tralalho som podor roclamar do tio guo havia lho dado¨ omprogo. A rogra tundamontal ó guo paroco não havor rogra nosso hotorogônoo mundo do produção tamiliar ou do produção do poguono porto, tanto no campo guanto na cidado. São sistomas compósitos do produção o do controlo o gostão do tralalho guo olodocom à rogra da solrovivôncia o do sucosso imodiato. Esso radical roarranjo do mundo do tralalho modorno criando uma nova classo tralalhadora guo não procisa mais sor vigiada o controlada constitui tamlóm uma poguona lurguosia do novo tipo. O poguono propriotário da poguona tálrica do tundo do guintal¨ não ditoro, muitas vozos, om tormos do ostilo do vida, do próprio tralalhador guo omproga, muito troguontomonto, som pagar diroitos tralalhistas nom impostos do gualguor tipo. Alóm do uma nova classo tralalhadora dotinida polo latalhador tralalhador, paroco oxistir tamlóm uma poguona lurguosia do novo tipo¨ roprosontada polo latalhadoromproondodor. Os limitos, ontro ossas duas traçòos do classo, om muitos casos são muito tluidos, tornando muito ditícil a dotinição oxata do sou portoncimonto do classo. A unidado no moio do uma oxtraordinária divorsidado paroco rosidir no tato do guo lidamos com uma ospócio do nova classo tralalhadora om tormação, a gual ó típica da roconto dominância do capitalismo tinancoiro na oconomia, na cultura o na política. Essa classo ó nova¨ porguo a alocação o o rogimo do tralalho são roalizados do modo novo, do modo a ajustá-los às novas domandas do valorização ampliada do capital tinancoiro. lsso ó consoguido, por oxomplo, pola oliminação dos custos com 5¯ controlo o vigilância do tralalho. Essa nova classo tralalhadora laluta ontro 8 o 14 horas por dia o imagina, om muitos casos, guo ó o patrão do si mosmo. O roal patrão, o capital tornado impossoal o dosporsonalizado, ó invisívol agora, o guo contrilui imonsamonto para guo todo o procosso do oxploração do tralalho soja ocultado o tornado imporcoptívol. Vitória magnítica do capital guo, dopois do 200 anos do história do capitalismo, rotira o maior valor possívol do tralalho alhoio vivo, som gualguor dosposa com a gostão, o controlo o a vigilância do tralalho. Dostrói-so a grando tálrica tordista o transtorma-so o mundo intoiro numa grando tálrica, com tiliais om cada osguina, som lutas do classo, som sindicatos, som garantias tralalhistas, som grovo, som limito do horas do tralalho o com ganho máximo ao capital. Esso ó o admirávol mundo novo do capitalismo tinancoiro! O guo procuramos comproondor nosto livro ó a amliguidado ou a amlivalôncia dosso dosonvolvimonto. Os lilorais talam aponas do sua taco rósoa, o os marxistas ompodornidos, do sua tragódia - o ainda aponas alstratamonto o do modo aponas toórico. A vordadoira sociologia crítica procura sompro porcolor tanto o compononto do tragódia guanto o olomonto do chanco, do osporança guo rosido no lojo do toda mudança social lom comproondida. Esso, mais uma voz, toi o nosso dosatio nosto livro. I P ⇧ ⌦ ⌃ ↵ P↵⌦⌫l⇥ D↵ ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ⌅⌦⇧⇥l⌥↵l⌦C⇥ ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 1 ⇧ ⌫C⌦⇣⇧⌥lD⇧D↵ P⌦↵✏Á⌦l⇧ C⇥ ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ DC ⌃↵⌥↵⇣⇧⌦⌧↵⌃lMG ··Iaü·:au·:. R:ca:u· !:::~: lNTRODU(AO A ocupação do tolomarkoting vom ganhando cada voz mais visililidado no sotor do sorviços. O croscimonto do torcoiro sotor ó lom visívol a partir dos anos do 1980 na Europa o nos Estados Unidos, o nos anos do 1990 no Brasil. Esso movimonto ó tamlóm acompanhado por uma crosconto torcoirização dos sorviços. 1 Nosso sotor so concontram mais do 1.82¯ caII c~uì~::, guo corrospondom aos locais do tralalho ondo os atondontos do tolomarkoting atuam. Curiosamonto ó no Brasil ondo os caII c~uì~:: mais concontram tralalhadoros: 1.103 om cada omprosa. 2 O sotor so oncontra om grando oscalada o movimontou, om 2002, 1,6 lilhòos do dólaros. 3 Esto croscimonto ó, om goral, trilutário da privatização das omprosas do tolocomunicaçòos guo gonoralizou a posso do linhas tolotonicas para grando parcola da população, lom como a oxpansão do outros sorviços, como o do suporto tócnico o tolovondas. As inovaçòos tocnológicas na ároa das tolo- comunicaçòos tamlóm possililitaram o croscimonto dos atondi- montos, a partir da rodução dos custos na tolotonia móvol. Portanto, a ocupação do atondonto do tolomarkoting ó lastanto roconto o surgo com torça a partir não só das inovaçòos tocnoló- gicas mais rocontos, mas, solrotudo, no surgimonto do omprogos atinados com os parâmotros do u·:· ~:j:::ì· u· caj:ìaI::n· 4 , no gual o omprogado ostá, cada voz mais, constrangido a rogimos mais tloxívois¨ do tralalho, cuja consoguôncia ó a produção do 62 uma constanto insogurança no morcado do tralalho, lom como a construção social do uma condição do procariodado, gorando laixos salários, condiçòos do tralalho pioros, sulcontrataçòos otc. Contudo, a idoia do tloxililidado¨, largamonto utilizada pola litoratura, podo nos roonviar a uma improcisão no sou uso, pois podo tanto signiticar a radicalização da oxploração da torça do tralalho procariamonto gualiticada tcomo ó no tolomarkoting), guanto a tloxililidado¨ do tralalho altamonto gualiticado, no gual o alto valor social do tralalhador signitica a possililidado do ostipular, por oxomplo, sous próprios horários o ató impor ao omprogador suas próprias condiçòos do tralalho. Ë nocossário, simultanoamonto, argumontar guo o morcado do tralalho oxigo, cada voz mais, a oltonção do gualiticação. Para so intograr ao morcado do tralalho, ospocialmonto no âmlito tormal, nunca toi tão importanto sor gualiticado. Entrotanto, possuir uma gualiticação não ó garantia do intogração ostávol no morcado do tralalho, na modida om guo os tralalhadoros com nívois mais laixos do gualiticação são rologados às posiçòos o omprogos do instalilidado no morcado do tralalho. Dosso modo, uma sociodado mais diplomada não implica nocossariamonto uma sociodado incluída consistontomonto no morcado do tralalho. O guo so podo olsorvar ó muito mais o procosso do intoloctualização parcial da sociodado trazida pola domocratização oscolar, 5 tondo como consoguôncia o aumonto do diplomados, mas som uma valorização rolativa dossos diplomas no mundo do tralalho. Por intoloctualização to guo alguns toóricos chamam do sociodado do conhocimonto¨) comproondo-so a noção do guo a domocratização oscolar dos ultimos anos toria provocado como consoguôncia a intogração do toda a sociodado om tralalhos intoloctuais altamonto gualiticados, lom como o acosso às univorsidados do ponta o do maior prostígio. Uma das idoias guo gostaria do dosonvolvor agui ó a do guo o tolomarkoting ó uma ocupação cuja constituição ó procária. Essa atividado não tom aponas um otoito localizado nostas possoas, rostrito ao tralalho om si, mas contrilui tamlóm na piora da vida como um todo. Assim, voromos guo olo ajuda a roproduzir uma condição procária guo impodo a constituição do sontimonto do sogurança social. A idoia agui ó roconstruir as mudanças o ropro- duçòos sociais do capitalismo atual na prática, ou soja, porcolor 63 como olo opora om possoas do carno o osso¨. Do torma goral, isso corrospondo à atinidado ontro o surgimonto do omprogos tormais procários, padronizados polos novos parâmotros ompro- sariais pós-tordistas, o a produção social do jovons oscolarizados com ânsia do intogração no morcado do tralalho. Dosso modo, a gonoralização da condição do insogurança social podo sor vista om divorsos ostratos da sociodado o ó prociso olsorvar ondo sous impactos são mais tortos. Assim, a condição do procariodado transtorma o prosonto om algo contra o gual não so podo lutar, olo so impòo onguanto nocossidado. O onsino tormal, portanto, não ó garantidor nocossariamonto do uma posição ostávol no mundo do tralalho. A domocratização oscolar contriluiu tanto para o aumonto do contingonto do oscolarizados guanto para o dosonvolvimonto do uma situação do procariodado dos nívois oscolaros mais laixos, ou soja, a constituição do um vordadoiro ~.~:c:ì· u~ :~:~::a n:u:nan~uì~ ~:c·Ia::zau· ja:a · ì:aüaII· j:~cá::·. So por um lado, ontão, a distância ontro os gualiticados o dosgualiticados ó cada voz maior, 6 por outro, a gualiticação mais lásica dada polo onsino módio rologa o latalhador do tolomarkoting tou o latalhador procarizado) aos sotoros mais dosprotogidos do morcado do tralalho tormal. O NOVO¨ ESPlRlTO EVPRESARlAl: VOCÊ TEVE ATlTUDE NO ATENDlVENTO, VOCÊ Ë lVPORTANTE!¨ Rodolto ó um rapaz do 21 anos, com calolos longos do roguoiro o aparôncia cansada, mas jovial, o, acima do tudo, porspicaz. Ë um rapaz oducado, aposar do não tor modo do talar dos ditícois olstáculos diários ontrontados polos atondontos do tolomarkoting. No omprogo há guaso dois anos, olo rosolvou ontrar para o tolomarkoting por talta do altornativa nos ostudos, ató guo olo consoguisso so tirmar om algo mais ostávol. Som opção, olo so alro com incrívol sonsililidado o pormito guo vojamos sou ostorço diário. Elo so propara para ir tralalhar, o oxpodionto comoça às 10 da manhã. Sua jornada do tralalho dura sois horas nos sois dias da somana. Aposar do sor mais curta do guo uma jornada normal, 64 ola podo parocor so ostondor muito mais guando so tralalha no atondimonto do um caII c~uì~:. Ao chogar à omprosa, olo so propara para comoçar, rotira sou I~au :~ì ¯ da mochila, ontra no sistoma da omprosa tloga¨) o assumo a posição do atondimonto, a PA¨. Esta posição so caractoriza por oxigir do corpo alto nívol do controlo o contonção, já guo ó uma posição rígida na gual o atondonto dovo pormanocor. Caso dosrospoito ossa posição, sua atonção sorá chamada polos sous suporvisoros, guo podom sor avisados a gualguor momonto polos oporadoros das câmoras guo vigiam o amlionto do tralalho. lnclusivo, dontro da sala ondo tralalham os oporadoros, o controlo ó toito tanto polos supor- visoros no ostilo taco a taco guanto polas câmoras ospalhadas pola sala ondo ticam os atondontos. Dontro do uma onormo sala, ostão dispostas as mosas o os oguipamontos do tralalho, guo são compostos por um computador o um I~au :~ì, ligado ao tolotono. As mosas são dolimitadas individualmonto por uma divisória guo, no ontanto, não ovita guo o atondonto doixo do sor olsorvávol. Estas unidados individuais são organizadas om poguonos conjuntos chamados do ilhas¨. Elas são grupos do atondontos, mas cujo tralalho não podo sor considorado como sondo colotivo, pois cada um ó rosponsávol polo cumprimonto do suas motas. Assim, por mais guo uma ilha possa sor rocom- ponsada ao tinal do um oxpodionto do loa arrocadação, não há a articulação colotiva do um tralalho om comum, mas um tralalho individualizado no gual cada um ó rosponsávol polas suas motas do arrocadação para a omprosa. lntorligadas ao morcado tinancoiro, guo roprosonta o topo da hiorarguia do morcado o do tralalho, as omprosas do tolomarkoting ostão na oscala mais laixa dosta, ondo o poso do toda a hiorar- guia so acumula nas costas do atondonto. As omprosas do tolotonia contratam outras guo, por sua voz, rocrutam os atondontos. lsso pormito a ossas omprosas tornarom-so cada voz mais oticiontos¨ o dinâmicas¨, onxugando sou oscopo intorno ao mosmo tompo guo mantôm, om sua ostrutura contral, aponas os omprogados mais indisponsávois tnão por acaso os mais ospocializados o mais valorizados) para o sou tuncionamonto: o capital so organiza om rodo¨, mas o tralalho ó procarizado. As omprosas pós-tordistas so organizam om pirâmido 8 na gual a hiorarguia mais laixa ó o tralalho tormal procarizado, cujos postos sorão ocupados polo latalhador do tolomarkoting. Os avanços tocnológicos tamlóm 65 sorvom mais para criar uma imagom intoloctualizada do tralalho do guo para molhorar as condiçòos. Dossa torma, so oculta a dimonsão lraçal do um tralalho como tolomarkoting, lom como o tlagolo solro o corpo do oporador. A ciôncia o a tocnologia tôm como tim radicalizar o tornar mais oticionto a oxploração do tralalho, principalmonto guando so trata do tralalhos socialmonto monos valorizados. Como o próprio Rodolto nos adianta: Vocô tovo atitudo no atondimonto, vocô ó importanto!¨, ou soja, olo nos mostra guo o tolomarkoting ó um tralalho no gual so tom guo suar a camisa¨ para pormanocor. No início do sua jornada, as ligaçòos comoçam a cair, o o tluxo intonso do ligaçòos só aumonta a tonsão. O tralalho ó intonso o goralmonto tom-so mais tralalho do guo so podo suportar, alóm da constanto colrança pola rodução do tompo do atondimonto. Sua atividado consisto om atondor o rosolvor, no monor tompo possívol, prollomas rolacionados ao doslloguoio, contas pondontos o dívidas do tolotonos. Em situaçòos mais com- ploxas, do ditícil rosolução, a tonsão aumonta, olo ó goralmonto constrangido a usar o lotão mudo¨ para aliviar a tonsão. O mudo¨ ó um mocanismo utilizado polo oporador toda voz guo a tonsão aumonta ao nívol do o clionto xingá-lo, o ontão o mudo¨ sorvo para o atondonto rotrucar, mas dotalho: som guo o clionto oscuto. O mocanismo om jogo ó o do criar a talsa sonsação do guo o clionto o o atondonto ostão om pó do igualdado. Qualguor possililidado do rospondor à altura ó complotamonto noutralizada. O contorto produzido polo mudo¨ ó o do criar a sonsação do guo o atondonto podo roagir ao sor dosrospoitado, nada mais talso o paliativo. A oticácia, ontão, ó a do criar um mocanismo placolo, um psoudoalívio da tonsão omocional tassim como no caso das tostas, como voromos adianto), componsatórios pola onormo tonsão no amlionto do tralalho. O guo ostá om jogo ó a constituição do condiçòos procárias do tralalho tormal, no gual o tralalhador ó valorizado pola capacidado do so suljugar às imposiçòos das omprosas, como mudança do horários, má-tó dos suporvisoros o condiçòos do tralalho ostrossantos o massacrantos. Um proço alto a so pagar. Como olo conta ao so rotorir à tonsa rolação com os cliontos: Eu não to talando do vocô to clionto), ou to talando da sua omprosa, mas ou tonho guo talar com alguóm, alguóm vai mo ouvir o vocô tá aí pra Cristo.¨ 66 No docorror do dia, sou oljotivo principal ó lator motas do atondimonto, ou soja, atondor o máximo do ligaçòos pos- sívois no monor tompo. Sous dados possoais ou os indicativos são rotorontos à produtividado individual, lom como o numoro do taltas guo cada atondonto possui. Os suporvisoros do Rodolto costumam troguontomonto lançar dosatios¨, cujo oljotivo ó a diminuição constanto da módia do tompo do atondimonto, o guo cria a sonsação do cachorro guo corro atrás do próprio ralo¨, já guo osta colrança não tom tim o aumonta cada voz mais. Então, o oporador ó constantomonto prossionado a lator suas próprias motas. O novo¨ ospírito omprosarial, atinado ao modo do dominação tinancoiro, 9 ostrutura sua organização do tralalho a partir do uma noção individualizanto guo rosponsaliliza cada oporador por sua produtividado. Assim, alro-so a possililidado do jogar para o atondonto toda o gualguor rosponsalilidado polos atondimontos na compotôncia individual¨. O modo do dominação tinancoiro signitica, ontão, o domínio da oconomia, oncarada onguanto torma ostruturanto do todas as rolaçòos do tralalho. Ela ostrutura todas as rolaçòos suljacontos, condiçòos o rogimos do tralalho. Tudo so passa como so tudo dopondosso da compotôncia¨, do dosomponho individual¨ ou mosmo da atitudo¨, como coloca Rodolto, no atondimonto. O signiticado disso ó justamonto a capacidado do um tralalhador como osto so sulmotor a rogimos do tralalho cada voz mais intonsos, so suljugar às imposiçòos do omprogador som guostionamonto. O tolomarkoting ó um vordadoiro porão da dominação tinancoira. Quando tinalmonto choga a primoira pausa, o tompo ó curto. São 10 minutos: o tompo do tomar um cató o ir ao lanhoiro. O sou tompo ó rigidamonto controlado pola suporvisão, guo já comoça a contar dosdo guando Rodolto sai do sua PA. Do volta ao tralalho, olo ontronta algumas horas a mais do atondimonto pola tronto antos da sogunda pausa. Na hora do almoço, a tonsão não diminui: são incrívois 20 minutos para todo o poríodo do almoço! Assim guo Rodolto sai do sua PA, olo tom guo doscor um andar ató o rotoitório, ondo olo dovo pogar sua marmita na goladoira. Valo dizor guo uma prática muito comum dontro os atondontos do tolomarkoting ó a concossão dos tickots do rotoição aos tamiliaros para guo ostos taçam compras om casa. Essa ó 6¯ uma torma do contriluir om casa o tunciona como uma torma do dádiva, uma contriluição oconomica travostida o guo nunca podo sor oxplicitamonto articulada onguanto tal: Então, o tickot ou dou todo pra ola. Não ó tanto assim, mas ou dou olo todo porguo... Ë um projuízo. As vozos vocô tica om casa o dia intoiro... Esso lanco do lanho domorado como muito. t...) Ela |a mão do Rodolto} ató protoro guo ou doixo isso pra ola guo aí ola podo tazor compras, ossas coisas. Ela protoro. Essa torma do contriluição oconomica om casa nos mostra guo Rodolto so sonto incomodado o proocupado om tazor parto da vida oconomica do sua tamília. Elo não so sonto rolaxado com rolação às nocossidados oconomicas tamiliaros, o guo podo sor olsorvado na sua proocupação com os gastos domósticos, ainda guo sua contriluição não soja oxplicitamonto monotária. Goralmonto pogar a marmita não ó tão tácil assim, já guo olo ontronta tanto uma tila para pogar o sou almoço na goladoira guanto para osguontá-lo no torno do micro-ondas. Na maioria das vozos, alguns dolos ostão com dotoitos ou não osguontam a comida por comploto, tondo olo guo comô-la tria por dontro. Há tamlóm oscaninhos ondo os atondontos guardam sous por- toncos, mas ó proilido guardar gualguor tipo do comida. Outro ontrovistado do mosmo sotor ilustrou o caso do uma voz om guo toi luscar sous portoncos dopois do um árduo dia do tralalho. Quando chogou ao local, cansado, olo ticou ospantado ao vor as portas do todos os oscaninhos alortas o viu oscrita a soguinto monsagom tprovavolmonto oscrita por algum suporvisor): Já avisamos para não doixarom comida nos oscaninhos!¨ Esto caso mostra a arlitrariodado da omprosa com rolação, inclusivo, aos portoncos dos atondontos, mosmo guo não tosso pormitido mantor comida dontro dos tais oscaninhos. No docorror do dia do tralalho, ó inovitávol a prosonça do doros polo corpo: doros do caloça, doros nos olhos, tondinito o o ostrosso omocional dorivado das rolaçòos com cliontos mal-humorados, lom como a solrocarga do tralalho. Tamlóm são comuns disturlios psicológicos, como aumonto do compor- tamonto agrossivo o cansaço montal. Os prollomas do saudo vão só aumontando do acordo com a pormanôncia no omprogo: 68 Eu tico um pouco mais agrossivo. lico mais norvoso. Uma coisa guo mo doixa muito ostrossado, guo ó aguola coisa guo tica latondo na sua caloça diroto. Aí ou tico lom norvoso mosmo. t...) Vas o lanco guo poga mais ó o ostrosso do somatório das tunçòos, guo dosgasta a vista, dosgasta o sou intolocto porguo cô tica ali, tontando ouvir o rosolvor... E como ó muito programa o muito sistoma ó movimonto diroto tísico, nó? Quo ó o caso da tondinito o tudo mais o cô tom guo raciocinar rápido porguo olos tão to colrando tompo. Dosso modo, podo-so guostionar ató guo ponto, mosmo oxigindo alguma gualiticação, o tolomarkoting ó um omprogo puramonto intoloctual. O tato do não sor um tralalho considorado sujo¨, dogradanto¨, isto ó, tor guo lidar com insalulridado o sujoira, do não tor guo carrogar poso o do sor considorado um omprogo do oscritório não guor, nocossariamonto, dizor guo a ocupação do tolomarkoting soja puramonto intoloctual ou virtual¨. Como vomos oxplicitamonto, o tlagolo solro o corpo dos atondontos ó lom roal, o guo indica guo um tralalho como osso ostá longo do sor aponas intoloctual ou intormacional¨. Solro osto ponto, valo a pona donunciar o doscaso do Vinistório Pullico do Tralalho 10 o da Anatol, guo privilogiam a nogociação¨ das condiçòos do tralalho com as omprosas, o não a imposição jurídica do condiçòos mais acoitávois o justas do tralalho, tazondo provalocor a mão diroita do Estado¨. 11 Assim, a grando ilusão construída solro o tolomarkoting ó a do guo ó um omprogo do oscritório¨ puramonto intoloctual, o guo contrilui para ocultar sua dimonsão duramonto lraçal. Sous otoitos notastos solro a saudo corporal dos oporadoros nos rovolam o outro lado. No caso ospocítico dosto tralalho, a polarização ontro tralalho intoloctual o lraçal mais atrapalha do guo ajuda, já guo, do tato, onguanto tralalho minimamonto gualiticado, ainda guo pouco ospocializado, oxis- tom halilidados intoloctuais om jogo. Não so podo diminuir o tolomarkoting a um tralalho dosgualiticado, no gual o indivíduo ó roduzido a puro corpo, pura torça tísica. Nosto sontido, um tralalho como osto congroga duas dimonsòos. O lado intoloctual dossa protissão tamlóm não podo sor idoalizado, pois oxigo compotôncias intoloctuais gorais, corto nívol do conhocimontos gorais om intormática o guo om nada so assomolha às ocupaçòos altamonto gualiticadas, om guo as compotôncias intoloctuais om guostão são muito mais ospocializadas, utilizadas para a concopção 69 do novas morcadorias, sorviços, tocnologias otc. Portanto, as compotôncias intoloctuais tamlóm ostão conoctadas ao corpo, pois osto ostorço intoloctual contínuo o ropotitivo tondo a causar, por oxomplo, dor do caloça o nos olhos. Ë procisamonto nosto aspocto guo o tolomarkoting ó um omprogo om guo, a dospoito do sua imagom, o tralalhador paga com o corpo o a alma¨. Rodolto, ontão, praticamonto ongolo a sua comida om 20 minutos, raramonto solra tompo para oscovar os dontos ou mosmo lavar o rosto. Espocialmonto nosto dia, houvo uma tosta otorocida pola omprosa, o Rodolto parocia animado. Ao invós do aponas tomar um cató na ultima pausa, a omprosa sorviria um lancho. Elo mosmo rolata com um olhar lastanto crítico o rara porspicácia: O circo ostava armado.¨ Todos parociam contontos, os suporvisoros vostidos com tornos, um tapoto vormolho oston- dido por toda a sala do caII c~uì~:. Os suporvisoros distriluíram lrindos o ponduraram o logotipo da omprosa nas parodos. Elos paralonizaram os atondontos polo sou tralalho duro, tudo toito com o protoxto do rolaxar¨ ou tornar mais lovo¨ o amlionto do tralalho. Os molhoros atondontos toram promiados com lrindos, como DVDs o caixas do lomlons. Ë rolovanto comontar guo a rocomponsa polo tralalho duro não so rovorto om um aumonto no salário, om lonus roconvortido om valor alstrato, mas om prômios o coisas cujo uso o valor ostão dados do antomão. A rocomponsa irrisória polo ostorço podo sor um lom oxomplo do dosvalor dosto tralalho. So, por um lado, o olhar crítico do nosso ontrovistado pormito guo olo não tonha adosão o porcola o doscompasso ontro o guo olo arrocada para a omprosa o a rotriluição polo sou tralalho, por outro, muitos oncaram ossa situação como lrincadoira, um modo lastanto sutil o justiticávol do acoitar sua própria condição procária: Quom tá ontrando olha o tala: Nossa! Quo maravilha! Quo loloza! Quo omprosa linda!¨ t...) Paroco ató uma loato! Dopois guo comoça ó isso mosmo. Ë loloza ondo não há! Tom a galora guo so comovo, guo so doixa lovar. t...) Tom o possoal guo tala: Quo logal, ganhoi um oclinhos! |olo so rotoro aos tais lrindos}. Ao tinal do dia, Rodolto choga cansado om casa. Som torças, olo só ponsa om dormir ou tazor algo guo não onvolva muita concontração. Ë como so suas torças tivossom sido sugadas ató a ultima gota. So, om primoira instância, o poríodo do sois horas ¯0 do tralalho, om toso, proporciona-lho a chanco do dosonvolvor outras atividados, pois ó monor do guo uma jornada normal, no ontanto a oxtroma intonsidado da atividado ó um complicador. Então, aposar do tor o hálito do lor, por oxomplo, o tralalho contrilui para sua oxaustão tísica o montal do tal torma guo olo não consoguo mantor osso hálito do torma contínua. Assim guo olo poga um livro já na cama antos do dormir, não rosisto. O poso do uma dura jornada do tralalho lho toma o corpo por intoiro o olo rapidamonto cai no sono. Ao tinal do dia, a luta ontro monto o corpo já aprosonta um ganhador. Dossa torma, a rotina posada do Rodolto só ó oguililrada com algumas saídas no tim do somana o com os onsaios do sua landa do rock. As vozos nom isso componsa, pois om um oncontro não planojado, olo nos contossou guo toi tralalhar virado¨ após uma noito longa do lolodoira. No cotidiano do Rodolto, porcolomos os otoitos concrotos do um tralalho tormal procário. Assim, para impor um novo tipo do oxploração, ó prociso guo haja um tipo do tralalhador para sor oxplorado. O latalhador tormal procarizado corrospondo, ontão, a osto tralalhador capaz do altos sacritícios possoais, tísicos o psicológicos, adaptávol às imposiçòos arlitrárias das omprosas guo oxigom nada mais do guo :·n~uì~ a :ua tloxililidado. O TRABAlHO lORVAl PRECARlO A procarização do tralalho tormal taz com guo a aguisição do uma gualiticação não soja om si garantia do intogração ostávol no mundo do tralalho. Esta gualiticação tamlóm não signitica nom uma rolação aproximada com o conhocimonto oscolar, nom nocossariamonto o acosso garantido aos sous nívois suporioros. lsso ocorro principalmonto com rolação às possoas com gualiti- cação mais laixa no morcado do diplomas oscolaros, intlacionadas polo procosso do domocratização oscolar, o guo taz com guo o valor rolativo do dotorminado diploma no morcado do tralalho diminua, já guo há mais possoas com o mosmo nívol oscolar. Nosto caso ó tundamontal rolacionar oscola o morcado do tralalho. Dosso modo, ainda guo não so trato do um tralalho indigniticanto o dosgualiticado, no gual o roconhocimonto social oljotivo polo sou tralalho lho ó totalmonto nogado, ó possívol atirmar guo o ¯1 latalhador do tolomarkoting ó procarizado. A singularidado dosso tipo do procariodado ó a do guo o tralalho contrilui para a dosorganização da vida como um todo, o guo tom como otoito a diminuição das possililidados do roalização do planos o aspi- raçòos tuturas. So, por um lado, o tolomarkoting ó um omprogo cuja promossa manitosta ó a rapidoz onguanto possililidado do ganhar um dinhoiro rápido para invostir om outros projotos do vida, por outro, ó um omprogo guo so coloca, muitas vozos, como unica altornativa possívol, na gual o tuturo signitica a procariodado do prosonto tsolrotudo na ároa do colrança). Nosto sontido, a tonsão ontro tralalho o ostudo so oxprossa na osporança do guo o ostudo trará mais ostalilidado no mundo do tralalho. Agui, o tralalho não vom como uma consoguôncia suavo do ostudo, olo ó sompro oncarado onguanto osporança pola garantia do uma intogração ostávol no mundo do tralalho. Em outra ocasião, Rodolto nos conta guo toi tazor um concurso para assistonto do laloratório om uma univorsidado da cidado ondo mora. Elo ganharia o dolro do guo rocolo como atondonto, o guo lho garantiria corta sogurança oconomica para invostir om sous ostudos. Para olo, o concurso pullico ó uma torma do achar uma altornativa, já guo Rodolto não protondo pormanocor por muito tompo no tolomarkoting. Aliás, o tolomarkoting ó porcolido, por todos os atondontos, como um omprogo passagoiro, no gual não so tica mais do guo dois ou trôs anos. Há ainda possoas guo não ticam mais do guo sois mosos ou ainda saom na primoira somana simplosmonto por não aguontarom o ritmo intonso o oxaustivo do tralalho. Portanto, ó muito comum invostir om altornativas, solrotudo nos ostudos, na osporança do um omprogo guo traga um pouco mais do ostalilidado. No ontanto, so por um lado olo tonta sair do tolomarkoting ao procurar outros caminhos, suas chancos do roalização parocom poguonas. A promossa trazida pola possililidado do tralalhar sois horas ou do sor um omprogo do curta duração, na vordado, oculta o tuturo om alorto¨, ossa incortoza guo ó monos a alundância do possililidados a soguir do guo a talta dolas. Assim, Rodolto pormanoco num loco som saída: olo salo guo o tolomarkoting não ó para a vida toda, mas o tato do tor complotado o onsino módio não corrospondo automa- ticamonto ao acosso irrostrito às instituiçòos suporioros do onsino, principalmonto as mais prostigiadas o concorridas. lsso guor ¯2 dizor guo, aposar do tor oscolarização lásica, o tuturo oscolar do Rodolto não ostá garantido. O concurso ia sor roalizado om um domingo às 14 horas da tardo, sondo guo na vóspora olo tinha tralalhado ató as 11 da noito no atondimonto. Exausto, olo rolata guo sua suporvisora tontou loicotá-lo ao roalocá-lo para o oxpodionto no domingo, oxatamonto no dia da prova. Som opção, olo cumpriu a ordom da suporvisora, comparocou ao tralalho às ¯ da manhã o saiu às 10. Elo já havia avisado da nocossidado do taltar com uma somana do antocodôncia, mas ola tizora vista grossa. No docorror da convorsa, cada voz mais, vai transparocondo guo a tontativa do concurso toi uma vordadoira aposta¨. Não houvo gualguor tipo do proparação, ostudo ou dodicação próvia: Eu não tinha ostudado, o a apostila guo a gonto comprou aí, pra ostudar, não tava lá ossas coisas não trisos). t...) Ah... trisos)... Um amigo achou, viu um cara vondondo na rua aí t...) O cara tava vondondo as apostilas ali, dirocionadas pro concurso, aí a gonto tava som laso nonhuma do como ia ostudar, aí a gonto achou a apostila, acroditou o nom lou... Ë ossa mosmo. Porcolomos agui, como olo mosmo diz, guo sua oxporiôncia com a prova do concurso toi marcada muito mais por uma aposta do consoguir algo molhor do guo propriamonto por um invosti- monto, guo supòo uma rolação mais organizada com o tompo o um proparo antorior, ainda guo olo tivosso guo conciliar com o tralalho. Esta situação tom como consoguôncia a oxpoctativa do consoguir algo molhor, mas som guo isso nocossariamonto tonha corrospondôncia dirota com as condiçòos oljotivas do roalização. Esto doscompasso ó justamonto o guo ó socialmonto produzido por sua situação do procariodado, na gual a unica coisa sogura guo olo tom ó a própria insogurança do um tralalho do tolomarkoting. Sou tralalho contrilui tortomonto para a dosorganização do sou cotidiano, na modida om guo a omprosa ó totalmonto arlitrária o ototua constantos mudanças no sou horário. Estas mudanças dosorganizam o sou cotidiano, uma voz guo Rodolto tom guo ostar sompro pronto para o guo dor o vior¨. O tompo prosonto ó, portanto, posto onguanto algo irrocusávol, no gual sua adaptação às condiçòos impostas por sou omprogador signi- tica uma guostão do vida ou morto¨. lsso ó justamonto o guo marca sua condição do procariodado. Dosso modo, aposar do a ¯3 omprosa arlitrariamonto dispor do sou horário, Rodolto porcolo sou tracasso do torma individualizada, como talta do vontado o proguiça para o ostudo: loi mais guostão do proguiça mosmo, do talta do vontado mosmo. Não toi diticuldado nonhuma não. Tinha guo corror atrás mosmo. E ou não corri tanto. Não mo omponhoi mosmo ostudando.¨ O mocanismo social do culpar a si próprio polo tracasso portonco a todas as instituiçòos modornas, mas podo sor olsor- vado na rolação do Rodolto com os ostudos. Agui, o guo ostá om jogo ó justamonto a ilusão do prossupor guo a compotição social acontoco ontro indivíduos partindo do condiçòos sociais iguais. Portanto, há uma tonsão ontro duas ostoras da vida do Rodolto, a do tralalho no tolomarkoting, com o gual ajuda om casa, o a do dar soguimonto nos ostudos. No ontanto, os dois tormos dossa tonsão não possuom o mosmo valor, já guo o tralalho procário o a rolação malsucodida com a oscola contriluom para o constrangimonto do suas altornativas. Ë justamonto aí guo so podo dizor guo a vida do Rodolto ó rogida por uma condição do procariodado, pois a unica coisa garantida guo olo possui ó o sou tralalho como atondonto. Agui a idoia do má-tó institucional 12 ó contral, na modida om guo sopara dois rogistros da instituição oscolar: o manitosto o oxplícito, no gual a oscola promoto oxplicitamonto a todos as mosmas chancos do tor sucosso, o a latonto, om guo provaloco a roprodução cotidiana o prática das dosigualdados oscolaros, lasoada na hiorarguia das classos sociais. Como porcolou Piorro Bourdiou, 13 o sistoma oscolar privilogia as classos dominantos, sondo o sucosso ou tracasso oscolar dopondontos da rolação o a adoguação ontro as disposiçòos do classo o as disposiçòos institucionais oscolaros, guo supòom aprondizados antorioros proporcionados ou não pola tamília, situada na hiorarguia do classos. Contudo, aliado a osto concoito, ó prociso tamlóm lovar om conta a tunção dossa dimonsão manitosta, cuja oticácia ó ospocial para os indivíduos das classos dominadas, mas com alguma oscolaridado, cujas aspiraçòos oscolaros nom sompro corrospondom às possililidados ototivas o concrotas do roalização dostas. Portanto, a oscola o a tamília contriluom para a :uJIa¸a· ua: a:j::a¸·~: ~:c·Ia:~:. Esto mocanismo tunciona a partir da protonsa noutralidado da instituição oscolar guo, ao postular a igualdado das possililidados oscolaros, coloca o sucosso oscolar ¯4 como dopondonto oxclusivamonto do ostorço possoal. Como so o sucosso nos ostudos tosso trilutário aponas do so vocô ostudar vocô consoguo¨ ou todos podom, lasta guoror¨. Essa noção prática do guo o conhocimonto ó acossívol o importanto para todos orionta as oxpoctativas o o invostimonto tou aposta) oscolar das possoas. A intlação das aspiraçòos oscolaros não tunciona som a dissominação prática gonoralizada da importância do ostudo tormal para o sucosso na vida protissional to possoal) o no acosso ao onsino tormal por uma maior parto da população como um todo. Esto ponto podo sor ilustrado na vida possoal o tamiliar do Rodolto guando olo oxprossa o cansaço do inumoras tontativas malsucodidas no mundo oscolar tospocialmonto no caso dos vostilularos o concursos). Entrotanto, sua mão insistontomonto colra omponho o dodicação possoal nos ostudos na osporança do guo olo lovo sua vida mais a sório¨. Essa osporança do sua mão ó a concopção do guo não há sucosso protissional som ostudo tormal: Tinha guo tazor assim, polo monos para ola não ticar colrando ou ostudar salo, tiz o concurso hojo, para ola não mo colrar, o ou já doi aguola rolaxada. Daí ola já chogou junto o já talou: Vocô não podo rolaxar não t...) ou soi guo vocô ta tralalhando, mas soi guo vocô tom guo tazor uma taculdado, o polo monos tontar outros concursos, lovar mais a sório a sua vida¨. Dossa torma, ainda guo tonha consoguido so tormar no onsino módio, como um aluno modiano, o guo não ó muito, mas talvoz tonha ovitado o pior, ou soja, sor olrigado a tralalhar om um sorviço dosgualiticado tsujo¨ o posado¨), sua oxporiôncia oscolar não tovo como consoguôncia a sua aproximação com as insti- tuiçòos do onsino. A intlação das oxpoctativas oscolaros ó a ditoronça ontro a complota rosignação ou rojoição com rolação ao mundo oscolar o a osporança, ainda guo trágil, do asconsão nosto. A intlação das oxpoctativas oscolaros produz o doscompasso ontro oxpoctativas suljotivas o chancos concrotas do roalizar tais aspiraçòos. O aumonto da população oscolarizada produziu a sonsação do guo so podo dar um passo maior do guo as pornas. Como olo mosmo conta, ir à oscola ora o mosmo guo ir a uma missa¨ todo tinal do somana. Esta rolação do distanciamonto so oxprossa como dosostímulo para ostudar, ainda mais com rolação às matórias guo oxigom um nívol do alstração mais olovado, ¯5 como as das ciôncias naturais ttísica o matomática, por oxomplo). Então, aposar do tor tormalmonto complotado os ostudos do onsino módio, sua oxporiôncia oscolar sorviu muito mais para distanciá-lo dosso mundo oscolar do guo aproximá-lo, tondo om vista o acosso aos nívois suporioros do oducação. A oscola tom, para osso latalhador, muito mais o papol do nolo produzir um tipo do violôncia simlólica, no sontido do um distanciamonto do conhocimonto oscolar, concrotizada no dosostímulo para o ostudo: Por guo ou não ostudo tanto o ola vô guo ou não sou muito lurro não salo... às vozos ou tonho ató tacilidado para pogar as coisas assim, salo... Pra tazor as coisas... Só guo tôm coisas guo ou não consigo salo? Por guo ou não gosto.. O gosto¨ na tala do Rodolto so transtorma om logitimação polo tato do não tor dosonvolvido uma rolação mais aproximada com o mundo oscolar. Esso gosto¨ ou o amor¨ a uma prática social ospocítica não so produz aponas pola vontado conscionto ou individual do alguóm, mas por um contoxto social antorior tprodominantomonto tamiliar) no gual a possoa socializada aprondo, na maioria das vozos do torma pró-rotloxiva tsom guo ola mosma o porcola), os prossupostos ospocíticos para gostar do algo. lsso ainda ó mais agravado polo tato do Rodolto so vor constrangido pola nocossidado do tralalhar, já guo osso gosto¨ polo ostudo raramonto vom dosacompanhado da possililidado do so dodicar oxclusivamonto a osto, ou ainda da possililidado do planojar sua vida protissional om tunção dos ostudos. Dossa manoira, por mais guo Rodolto não tonha um currículo oscolar marcado por ropotôncias, notas vormolhas, dosistôncia oscolar o prollomas disciplinaros o tor sompro sido um aluno modiano, a oscola produziu nolo uma violôncia simlólica, uma imposição cujo rosultado toi o dosostímulo para os ostudos. Adomais, a osco- larização módia não ó garantia do acosso indotinido ao mundo oscolar o nom mosmo da constituição do uma rolação com o onsino livro do contlitos o, solrotudo, otoitos como dosostímulo. Nosso sontido, a roprodução da dosigualdado social no mundo oscolar o consoguontomonto no tralalho ó mais sutil nosto caso, pois a oxporiôncia oscolar não ó, por um lado, composta por situaçòos traumáticas oxplícitas, mas por outro produz no aluno oxpoctativas guo parocom pouco roalizávois. ¯6 luciana ó uma mulhor do garra. Com 20 anos, longos calolos nogros o polo alva, ola salo guo no mundo nada ó gratuito o por isso ó prociso corror atrás¨. Em suma, latalhar por uma vida molhor. Atuando na ároa do tolomarkoting há guaso trôs anos, sua posição como atondonto ora comumonto intorcalada com a do ovontual. Esta posição intormodiária guo ola assumo voz por outra ontro o oporador mais comum o o suporvisor ó o do sulstituir osto ultimo om suas tunçòos dontro da omprosa guando, por algum motivo, olo tom guo so ausontar. lsso contoriu-lho lastanto contiança o conhocimonto solro os procodimontos intornos da omprosa, guo conhoco protundamonto. Essa posição mais olovada na hiorarguia intorna da omprosa tamlóm lho pormito corta autoridado, como no caso om guo toi projudicada por uma supor- visora guo autorizou um pagamonto som guo tosso pormitido. Ela roclamou com razão o a ontrontou tronto a tronto. Tamlóm cansada do omprogo, ola roclama dos mosmos prollomas tísicos o psicológicos guo o ostorço ropotitivo no atondimonto causa, o guo não a livra do, assim como Rodolto, pagar com o corpo o a alma¨ o proço do tralalho árduo no cotidiano. Alóm disso, ola conta guo o tolomarkoting a doixou mais agrossiva o impa- cionto na sua vida privada, particularmonto com sous tamiliaros o amigos mais próximos. lsso ilustra lom o ongano do guo os oporadoros não lovam as mazolas do sou tralalho para sua vida privada, como so tosso possívol litoralmonto não lovar dosatoro para casa¨. Ainda assim, com uma postura ativa dianto da vida, luciana diz guo na vida tomos guo dar tudo o mais um pouco¨ para voncor. Em contrasto com Rodolto, ola hojo cursa taculdado om gostão do rocursos humanos. Com um cotidiano lastanto atrilulado, dividido ontro tralalho o ostudos, ola ainda assumo algumas rosponsalilidados domósticas guando nocossário. Tondo uma rolação turlulonta com o pai, com guom já ticou corca do um ano som talar, sua mão ó a possoa com guom mantóm laços atotivos mais tortos o com guom convorsa guando tica atlita. Aposar disso, ola o admira por olo tor sompro sido uma possoa muito tralalhadora, assim como ola própria. A modida guo vai talando do sous tamiliaros, principalmonto do sous pais, doixa transparocor o aprondizado do guo a vida ó dura, mas guo valo a pona tralalhar torto para sulir nola. Para luciana, o signiticado disso ó a asconsão polos ostudos do nívol suporior. Com torto ¯¯ sonso do rosponsalilidado, ola atirma guo sous pais sompro a incontivaram aos ostudos o sompro dissoram: Vonina, para do namorar! Vai ostudar!¨ Sua insorção no curso suporior cortamonto conta como algo guo a ditoroncia da condição do Rodolto. Nosto caso, as possilili- dados do asconsão protissional so alrom um pouco mais, ainda guo sou ingrosso om um curso suporior particular to om uma taculdado particular do pouco ronomo) não signitiguo automa- ticamonto a garantia do um omprogo tão molhor assim. O caso dos suporvisoros do tolomarkoting ilustra lom osso ponto, pois olos ganham aponas um pouco mais do guo os atondontos o a rolação do oscolaridado so invorto: so o pullico dos atondontos ó marcado pola maioria rocóm-saída do sogundo grau, já no caso dos suporvisoros a maioria ó composta por possoas do torcoiro grau comploto ou incomploto. Alóm disso, a torma pola gual luciana oncara os ostudos ó complotamonto suljugada aos imporativos do mundo do tralalho: Eu não consigo ticar o dia intoiro ostudando, mo dodicar só a isso t...). Eu não tonho a monor paciôncia para ostudar.¨ Não so ostuda para tralalhar, so tralalha para so tor a chanco do ostudar. Algo tamlóm muito poculiar om luciana ó guo duranto a ontrovista ola comumonto so romotia ao jargão omprosarial pós-tordista para doscrovor situaçòos da sua vida, como guando ola diz guo sua suporvisora não tovo gostão¨, no caso do contlito narrado acima. lsso tamlóm acontoco guando ola, duranto todo o oncontro, ontatiza guo ó prociso não aponas tor torça do vontado para voncor na vida, mas guo ó tamlóm nocossário tor visão do croscimonto protissional¨. Por sua condição oljotiva molhor do guo a do Rodolto, a chanco do ascondor polos ostudos ó tamlóm a possililidado do uma alortura para um novo mundo¨ guo congroga os idoais omprosariais pós-tordistas o a importância do conhocimonto oscolar tormal. Como analisou Bourdiou, 14 a mulhor tom um papol contral na adoção do novos modolos culturais tnosto caso, omprosariais), tondo om vista a possililidado do omancipação do sua posição dominada. No caso do luciana isso so dá na incorporação do novos padròos omprosariais pós-- -tordistas guo so concrotizam na sua visão do sacritício possoal polo tralalho o do guo não há asconsão som ostorço possoal. Assim, ola transtorma as oxigôncias omprosariais do tralalho procário om sua própria torma do olhar o mundo, om sou padrão ¯8 do loa vida, mocanismo oxtromamonto oticaz guo taz com guo ola convorta om sua visão do mundo os novos critórios aos guais ola so adógua, transtormando-os om sous próprios. Dossa manoira, ola porcolo a sua dominação não como algo imposto do tora, por um mundo cruol, mas como algo guorido por ola, agora intornalizado como sou padrão do loa vida. So, por um lado, sua trajotória social ascondonto lho aparonta sor um mundo choio do possililidados, por outro, ola tamlóm não oscapa do so tornar o suporto social por oxcolôncia da oxploração do tralalho tormal procário. A sonsação do insogurança oxporimontada por Rodolto o luciana om sou tralalho ó a mosma do todos os atondontos, ainda guo alguns tonham mais ou monos chancos o rocursos do lidar molhor com isso. O tralalhador procariamonto gualiticado ostá ontro o dosomprogo troal ou potoncial), a oscolarização módia o o tralalho procário. Elo oxporimonta a sonsação do insogurança dovido à produção sociooscolar, nos ultimos anos, do um vordadoiro ~.~:c:ì· u~ :~:~::a n:u:nan~uì~ ~:c·Ia::zau· ja:a · ì:aüaII· j:~cá::·. A produção do uma população com maior grau do oscolarização não ó a garantia do uma sociodado com possoas om omprogos molhoros. Ao contrário, o tolomarkoting ó um tipo do tralalho guo surgo nos ultimos anos dirocionado oxatamonto para os jovons da classo latalhadora, com oscolaridado módia, dispostos ao tralalho duro, intonso o, solrotudo, adaptávol às imposiçòos do omprogador, mas com toda a aparôncia do omprogo limpo¨. Contrilui para ossa ilusão do omprogo limpo¨ o tato do guo o amlionto do tralalho soja o do um oscritório¨, som tor a aparôncia do um tralalho guo oxija constanto torça tísica o, portanto, som o modo do sair suado o sujo dopois do um dia duro do tralalho. Soma-so a isso tamlóm um corto orgulho do tralalhar para uma grando omprosa o tor a sonsação do participar dosta. Alóm disso, o vínculo tormal, longo do sor gualguor garantia do ostalilidado o rospoito aos diroitos, contrilui para construir a aparôncia do guo o tolomarkoting ó um omprogo sório¨, limpo¨ o, inclusivo, puramonto intoloctual¨. Ë prociso tamlóm dizor guo o tato do possuir um vínculo tormal o om uma omprosa ajuda a construir uma talsa oposição com o omprogo intormal, guo imaginamos sor troguontomonto instávol o do laixa romunoração. O mais importanto agui ó comproondor guais as condiçòos sociais da vida guo um tipo do tralalho roproduz. ¯9 A oposição ontro tormal o intormal tamlóm não ajuda a porcolor guo a tormalidado tom um lado do oxtroma oxploração o guo alguóm na intormalidado podo ostar, om alguns casos, om uma situação goral molhor tou soja, com molhoros salários o sondo dono do próprio nogócio intormal) do guo a do um tralalhador tormal omprogado. Ë procisamonto isso guo taz com guo o atondonto ostoja na posição do sor sulstituído a gualguor momonto¨, om guo o omprogo guo so tom so transtorma num trágil castolo do cartas, guo podo so dosmoronar com um simplos assopro. A doscarta- lilidado ou não do um tralalhador ó dirotamonto proporcional ao valor social o à raridado da torça do tralalho om guostão. A intlação socialmonto produzida da torça do tralalho minimamonto oscolarizada ó o olomonto contral para comproondor o tonomono om jogo. Essa oscolarização mínima promovida polo aumonto om alsoluto da população tormalmonto oscolarizada não signitica uma insorção molhor no morcado do tralalho o muito monos nocossariamonto o acosso aos nívois do oscolarização mais olovados to nas univorsidados do maior ronomo o prostígio), ó como so as portas do univorso oscolar so alrissom pola motado ou polo monos uma poguona trosta pola gual as classos dominadas podom dar uma poguona ospiada. lNlOPROlETARlOS OU UVA NOVA ClASSE TRABAlHADORA? A litoratura goral solro a naturoza do guo ó o tolomarkoting so dosdolra tanto om produçòos acadômicas do cunho mais doscritivo guanto na tontativa do dotinição do guo ó, atinal, o advonto do uma ocupação como osta. O livro 1uJ·j:·I~ìa::au·: 15 ó um lom oxomplo da tontativa do dotinição guo parto tanto do concoito do tralalho intormacional¨ guanto da idoia do guo o tolomarkoting ó uma mistura ontro condiçòos do tralalho do sóculo XlX articulada à tocnologia do sóculo XXl. Alóm disso, o tolomarkoting podoria sor analisado como o surgimonto do intotaylorismo ou taylorização do tralalho intoloctual, 16 utilizado para o controlo rigoroso do tralalho, olsorvado no sistoma do motas, no controlo das pausas, na constituição do uma posição ospocítica para o tralalho ta PA) otc. 80 Então, gostaria do propor uma crítica aos artigos do Braga o Woltt, guo podom sor considorados os dois mais importantos no sontido guo tontam dotinir a atividado do oporador do tolo- markoting. Nos dois artigos, os autoros lançam mão da idoia do guo o tralalho do oporador do tolomarkoting podo sor dotinido como tralalho intormacional¨. Essa noção parto do princípio do guo, sondo a matória-prima do tralalho a própria intormação o vondida como sorviço, o tolomarkoting podoria sor dotinido como atividado intormacional¨. 1¯ Aposar do porcolorom o tolomarkoting como um tralalho procário, a idoia do tralalho intormacional¨ tou tluxo intormacional¨), na modida om guo a intormação so torna morcadoria, signitica dotinir o tralalho a partir do sou rosul- tado. O prolloma dossa alordagom já tinha sido postulado por Varx: 18 toda concopção totichizada do tralalho ó comproondida tondo como ponto do partida a morcadoria, ou soja, sou rosultado tinal, o não as condiçòos sociais do sua produção. Dossa manoira, corro-so o risco do contundir causa o otoito, uma voz guo so dotino o tralalho a partir do sou rosultado. Dotino-so o tralalho polas coisas olas mosmas, polo sou ponto tinal o não polas rolaçòos humanas om jogo, isto ó, polo sou ponto do partida. Alóm disso, a idoia do tralalho intormacional¨ rovola-so uma motátora guo corro o risco do so tornar uma idoia solta, já guo vivomos na ora da intormação¨, das rodos¨, dos tluxos¨ otc., om guo nada podo tor uma dotinição protonsamonto procisa. Outro grando prolloma na utilização dossas motátoras tocnológicas ó a do guo olas vôm corrontomonto aliadas à concopção do um tralalho puramonto intoloctual, imatorial¨. Esso ó um ponto contral, pois dotinir o tolomarkoting como uma ocupação intoloctual ó aponas parcial, pois so roduz à análiso do uma parto ao todo. lsso podo sor visto comumonto na mora doscrição das doros tísicas das guais sotrom os atondontos: como um tralalho puramonto intoloctual, isto ó, virtual¨, podo tazor com guo os atondontos dosonvolvam tanto doros tísicas guanto prollomas psicológicos? Como os tralalhadoros podom oxorcor uma atividado dita intoloctual¨ ou intormacional¨ o ainda assim pagar diariamonto com o próprio corpo? Para tanto, ó prociso tor om monto guo a dotinição dossas ocupaçòos dovo lovar om conta a posada dimonsão lraçal o tísica do um omprogo como osso, aposar do todo o univorso guo so monta om torno dolas parocor nos dizor o contrário. 81 A noção do taylorização do tralalho intoloctual 19 ó utilizada por Braga como um concoito dotinidor do tolomarkoting. Taylorismo corrospondo ao tipo do controlo do tralalho om guo os movi- montos do corpo, lom como o tompo do todas as açòos são altamonto controlados, ó por isso guo goralmonto so compara o tralalhador taylorista a uma máguina, pois o rogimo do tralalho ó planojado o controlado ao máximo para radicalizar a oxplo- ração da torça do tralalho. O idoal do intotaylorismo ó lom no sontido do uma contraposição ao toyotismo, cuja dotinição do compotôncias intoloctuais multiplas so aplica a um tipo do tralalhador ospocítico, altamonto gualiticado o guo congroga ditorontos conhocimontos tócnicos altamonto ospocializados. Simultanoamonto, uma dotinição guo so prondo a ossos critórios ó limitada ao guo acontoco no chão da tálrica¨ ou no chão do caII c~uì~:¨, som articular o rolacionar outras dimonsòos da vida social guo limitam a condição do classo social dos indivíduos. Nosso sontido, toi do particular importância comproondor a oxpo- riôncia oscolar dos atondontos, lom como a socialização primária no soio tamiliar, om guo valoros como tralalho duro o sacritício possoal toram contrais na incorporação das disposiçòos para o tralalho. Como vimos nas duas histórias do vida, a oxporiôncia oscolar ó um ponto tundamontal a partir do gual so dotino, om íntima atinidado com o tralalho, a condição do procariodado do luciana, o particularmonto a do Rodolto. linalmonto, o ultimo prolloma dosto livro ó apontar guo a condição goral dos atondontos ó marcada por circunstâncias do tralalho do sóculo XlX com tocnologias do sóculo XXl. O prolloma do porcolô-lo assim paroco sor a prosonça do um atavismo nos concoitos guo procuram algo guo so assomolho à classo tralalhadora do sóculo XlX analisada por Varx. So, por um lado, as condiçòos do tralalho nas duas ópocas podom sor similaros porguo oxilom situaçòos do tralalho massacrantos, laixos salários o instalilidado protissional, por outro lado, ola podo nos roonviar a uma comparação simplista tdo rovivor o passado) guo nos impodo do ponsar novos concoitos para intorprotar tonomonos sociais rolativamonto novos. Por mais guo as condiçòos do tralalho possam so assomolhar, o atondonto do tolomarkoting, solrotudo insorido om condiçòos procárias, podo sor dotinido como partidário do uma nova classo tralalhadora, ainda guo os moldos om guo so dão as condiçòos do tralalho do atondonto 82 do tolomarkoting sojam parocidos com os do oporário do sóculo XlX, tacilitando ató mosmo a aplicação irrotlotida das catogorias marxistas. As catogorias utilizadas para a comproonsão da condição dossos tralalhadoros dovom tamlóm lovar om conta outros tatoros oxplicativos. O atondonto do tolomarkoting podo sor incluído om um concoito do nova classo tralalhadora não porguo ajuda a roproduzir o polo dominado do rolaçòos do produção do sóculo XlX atualizadas no sóculo XXl, mas porguo ó parto da classo guo irá pagar com o próprio corpo, isto ó, com sou sacritício possoal o com o suor diário, o onus do um capitalismo cada voz mais comandado por um modo do dominação guo traz à tona a primazia da oconomia como ostruturanto das rolaçòos do tralalho. Como consoguôncia, lonoticiam-so as classos dominantos ospoculadoras do capital tinancoiro, guo oxploram radicalmonto o tralalho procariamonto gualiticado. So o novo tipo do capitalismo nocossita do novas tormas do suporoxploração da torça do tralalho, ou soja, procisa romodolar toda a organização do tralalho do modo a produzir um rogimo do tralalho¨ novo, ó nocossário tamlóm prostar atonção à produção social do um tipo do tralalhador adoguado a ossas novas condiçòos, um tralalhador om situação do insogurança social o som gualguor garantia. A oxploração radical do sua torça do tralalho, tanto intoloctual guanto tísica, ó parto tundamontal dosso procosso. Essa nova classo tralalhadora so dotino pola incorporação do tortos disposiçòos para o tralalho árduo, para o sacritício possoal, o guo paga com o próprio corpo o alma¨ o proço do um capitalismo cada voz mais dominado por padròos do oxploração do tralalho ainda mais oticazos o sutis. CONSlDERA(OES llNAlS Do modo goral, constatamos guo o cotidiano dos atondontos do tolomarkoting ó posado o traz otoitos muito concrotos na vida dolos. No ontanto, uma análiso dotalhada das condiçòos do tralalho atuais, solrotudo aguolas oncontradas nas grandos corporaçòos, não podo sor toita som uma comproonsão do como so roproduzom as mudanças do capitalismo na vida das possoas. Como vimos, o modo do dominação tinancoira não so roduz aponas ao campo oconomico, ostipulando novos parâmotros somonto para o capital. 83 Ao contrário, ola postula novos parâmotros omprosariais guo irão radicalizar a oxploração, solrotudo do ocupaçòos do laixo valor social, monos gualiticadas, procarizadas o guo, portanto, não garantom corto nívol do ostalilidado ao tralalhador. No ontanto, ontondo-so aponas parto do tonomono som guo so articulo o impacto do aumonto da oscolarização tormal das ultimas dócadas, guo produziu ototivamonto um oxórcito do rosorva minimamonto oscolarizado para o tralalho tormal procário. Essa domocratização oscolar não signiticou nom a garantia do molhoros omprogos o nom mosmo uma oscolarização guo tivosso como otoito a intogra- ção ototiva dossas possoas ao sistoma oscolar. A produção social do diplomas oscolaros tom como consoguôncia a intlação dos mosmos, o guo, por sua voz, tondo a dosvalorizar o tralalhador, já guo uma gualiticação intlacionada produz o otoito do guo mil outros podom tazor o mosmo guo ou¨. Assim como om inumoras outras ostoras da vida social, o tralalho do alguóm ó socialmonto rocomponsado ttanto atravós do lons salários como por moio do promoçòos o, solrotudo, condiçòos dignas do tralalho) do acordo com a raridado ou disponililidado dosto. Então, dois tomas om atinidado implícita nosto toxto podom tinalmonto sor articulados: o do guo a sociodado ostá, como um todo, mais intoloctualizada o oscolarizada tsolrotudo, nas classos dominadas) o o advonto do ocupaçòos ditas intormatizadas¨, tocnológicas¨ o intoloctualizadas como o tolomarkoting. So, por um lado, o tolomarkoting ó uma atividado intoloctual, na modida om guo oxigo uma gualiticação tormal to guo o distinguo do tralalho dosgualiticado), o do compotôncias intoloctuais gorais, ainda guo não criativas¨, osso tipo do atividado ó rotinizado o ropotitivo, criando cansaço montal ao longo da jornada do tralalho o insatistação intorior. Ë o guo viomos chamando do doros da alma¨, porguo o ostorço intoloctual ropotitivo, alóm do ostrosso omocional diário, provoca prollomas psicológicos. O tolomarkoting ó tamlóm uma ocupação lraçal, aposar do sor considorado um omprogo do oscritório¨. Essa dimonsão manual posada, muitas vozos ocultada, podo sor analisada polos otoitos guo a rotina no atondimonto tom solro o corpo. Nosto sontido, o tolomarkoting ostá longo do sor um omprogo da ora da intor- mação, puramonto intoloctual. O latalhador do tolomarkoting ostá om uma condição social do procariodado guo dostavoroco a sua asconsão. No ontanto, a 84 posição dosto latalhador não ó a do tralalhador dosgualiticado, alandonado à própria sorto. Ainda guo tonha uma gualiticação procária o intlacionada, olo carroga os conhocimontos valorizados polo morcado. lsso o livra da complota dosclassiticação social, ainda guo para osto tralalhador conto muito mais o suor do próprio rosto. O dia a dia do atondonto ó marcado por muito tralalho duro o alguma chanco do ostudar para consoguir um omprogo molhor, uma vida dura para a gual poucos ostão proparados. ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 2 C ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦ ⌫↵l⌦⇧M⌃↵ ↵ ⇥✓⇧ ⇧D⇣lMl⇥⌃⌦⇧⇢⇡C 1 ··Iaü·:au·:~:. Ma:c:· Sá ' 1~I:j~ ·a:aIcauì~ 1a:ü·:a O comórcio do toira ó ainda hojo uma atividado do importância contral na vida do muitos lrasiloiros. No intorior do Nordosto, om particular, ó mantido por parto signiticativa da população o hálito do so tazorom compras somanais om toiras livros. Emlora soja uma atividado guo tom origom antorior ao capitalismo modorno 2 guo agui tratamos, osso tipo do comórcio ostá hojo acoplado à sua dinâmica contomporânoa, como domonstraromos a soguir. Os toirantos compòom osta classo guo donominamos do nova classo tralalhadora lrasiloira. Elos incorporam, do modo poculiar, a sua condição do classo, as consoguôncias dossas mutaçòos sistômicas no mundo o no Brasil no sou cotidiano do vida-tralalho. Enguanto ostávamos om campo, circulando, convorsando com toirantos, aplicando guostionários, olsorvando suas larracas, como olos as administram o, inclusivo, tazondo rotoiçòos nolas, a oconomia mundial passava por grando criso. 3 Na poritoria do sistoma, os alalos tamlóm oram sonsívois. Aliás, parociam sor lom maioros. Não podoria sor ditoronto. Por ostarmos vivonciando dirotamonto sua roalidado, convorsas, planos om rolação ao nogócio, ao tuturo, o modo do guo a diminuição do movimonto so ostondosso por um poríodo ainda maior, olsorvamos os somllantos tristos o os olharos distantos do muitos toirantos om sou cotidiano. A criso nos toi ainda mais porcoptívol por moio dolos. Elos a sontiam, a taziam transparocor om sous olharos, na postura do sous corpos, no modo dosanimado como andavam, no tom do suas vozos. 86 Cantada por luiz Gonzaga, a loira do Caruaru ganhou tama nacional a partir do moados do sóculo passado, truto do construção midiática 4 guo criou uma aura om torno dola. Ë hojo, mais do guo nunca, um lugar ondo milharos do latalhadoros nordostinos lutam por sulsistôncia ou mosmo polo sonho do uma vida molhor. O guo talvoz torno ossa toira um pouco ditoronto do outras ó sua dimonsão, variodado do itons comorcializados, volumo do nogócios, o, principalmonto, sua c~uì:aI:uau~ ua ::ua u~ ja:ì~ ::gu:J:caì::a ua j·juIa¸a· u~ una :~g:a· j·I:ì:c·-g~·g:áJ:ca, o Agrosto pornamlucano. Assim como divorsas outras cidados do Nordosto, do país o do mundo, Caruaru tovo sua origom dirotamonto vinculada ao comórcio do toira. Hojo, procisar o guantitativo do toirantos ó tarota dolicada, pois osto varia om docorrôncia do divorsos tatoros. No ontanto, o ontão dirotor do Dopartamonto do Arrocadação Extorna da Socrotaria do linanças do município ostimou oxistirom na cidado 21 mil toirantos, o so lotar dirotamonto o indirota- monto, tom mais do 100 mil possoas onvolvidas¨, 5 onguanto o ontão prosidonto do Sindicato dos Comorciantos o Vondodoros Amlulantos do Caruaru tSincovac) ostima oxistir hojo dontro da toira do Caruaru om torno do 12 a 15 mil¨. 6 Ë importanto ros- salvar guo osto univorso ó maior guo o horizonto dosta posguisa ttralalhadoros latalhadoros), ostando incluso aí tanto comor- ciantos ostalolocidos to com rolativo capital oconomico) guanto tipos caractorísticos da raló lrasiloira, ¯ mas sorvo como idoia da dimonsão do campo no gual os tralalhadoros latalhadoros atuam. Ainda solro a toira, muito omlora sojam olsorvadas ossas ospociticidados, nonhuma dolas a ditoroncia sulstantivamonto do outros morcados poritóricos Brasil atora - o guo possililita oxpandir o potoncial comproonsivo-oxplicativo dos rosultados da posguisa para roalidados similaros. Vas guo tipo do morcado poritórico ó osso? A toira ó lócus do atividado oconomica, cultural o social para doscondontos o romanoscontos do moio rural tostos ultimos são os guo ainda nola comorcializam os produtos do suas atividados agrícolas, mosmo guo visivolmonto om guantitativo monor do guo aguolos guo compram ossos produtos om contrais do alastocimonto o rovondom na toira), dosomprogados dos contros urlanos rogionais, nordostinos guo migraram o rotornaram das grandos motrópolos, principalmonto São Paulo, poguonos, módios o, om 8¯ monor oscala, poróm om maior intluôncia, grandos omprosários, o, principalmonto, para tamílias intoiras guo ou tralalham junto num mosmo nogócio ou ontão om divorsos poguonos comórcios guo tanto podom ostar lado a lado, como tamlóm podom ostar ospalhados por outros sotoros ou mosmo om outras toiras guo acontocom todos os dias da somana - nos ditorontos lairros da cidado. Ë, assim, um ospaço guo constitui o caractoriza as tranjas¨ do capitalismo modorno, crucial om divorsos aspoctos à continui- dado dinâmica do sou tuncionamonto contomporânoo. 1a::~a: j~Ia J~::a ~ j:·cu:a: - ~ ua· ~uc·uì:a: - :~uì:u· auaI:ì:c· ~n ·ü:~::á-Ia c·n· · n:ì· n:u:áì:c· construído há dócadas. Praticamonto aponas a parto do artosanato tom aspocto ditoronciado do rosto da toira - pois ó para lá guo grando parto dos turistas ainda vom. Vosmo assim, as vias ostão goralmonto sujas. Não há lanhoiros pullicos suticiontos o om condiçòos mínimas do uso. As larracas 8 sotrom intorvonçòos trotormas o ampliaçòos) dosordonadas o aloatórias por parto dos toirantos. Os tiscais do dopartamonto do toiras o morcados da protoitura dizom guo osso ó assunto do outro dopartamonto to do intraostrutura). Divorsos dosomprogados tontam oncontrar a sulsistôncia nas ruas marginais ou ontão mosmo transitando por sou ospaço tísico como amlulantos. São chamados, polos ostalolocidos¨ mais antigos, do invasoros¨. Não compraram o ponto, não possuom o alvará do tuncionamonto 9 o não pagam¨ o imposto por uso do ospaço guo olos, os ostalolocidos¨, pagam. lutam por um ospaço nas margons. Os tiscais rocolhom do todos guo podom¨ osso imposto. 10 Divorsos podintos poramlulam constantomonto por lá. Umas jovons procuram tralalho, outras so prostituom. Os jovons choiram cola, outros tazom poguonos turtos ou, ainda, simplosmonto podom como os mais volhos. As milícias tazom a sogurança¨ polas osguinas. Numa outra margom, o rio toi invadido ou por construçòos irrogularos do comorciantos lom-sucodidos¨ ou por uma tavola guo so projota para dontro dolo. O aspocto dolo ó doprimonto, complotamonto tomado do lixo, oxalando constantomonto odor tótido. As possoas guo passam ou tralalham por lá so alimontam do gualguor modo, om gualguor lugar. Outras osporam as migalhas, solrovivom com as solras. A polícia taz latidas para lusca o aproonsão do produtos talsiticados om comorcialização. Os toirantos sotrom a cada mudança do govorno municipal com a insogurança guanto 88 aos sous dostinos, atinal, dizom por aí guo vão mudar a toira da sulanca 11 para outro lugar...¨. Os tiscais da protoitura procuram rogular o uso guo osso pullico taz do próprio ospaço pullico, tontam inilir guo olos ocupom as partos indovidas¨ - as trontos do suas larracas, ospalhando mosas para os cliontos, por oxomplo. O toiranto indaga: Ondo mous cliontos vão comor?¨ Tralalhadoros, comorciantos, misorávois, omprosários, tuncionários pullicos ostrolam¨ conas roais do drama modorno. 12 Ë nosso campo guo atuam os toirantos guo constituom a nova classo tralalhadora lrasiloira, os nossos latalhadoros. Esta invostigação partiu da nocossidado do so conhocorom as práticas do gostão dos nogócios dosso pullico. Porguntou-so ontão: como ossos tralalhadoros latalhadoros¨ tazom para administrar sous poguonos nogócios tou soja, os moios para sulsistôncia o ditoronciação da raló dolinguonto¨ ou dosomprogada¨)? Como aprondoram a tazor o guo tazom? Como podoriam aprondor tócnicas do administração portinontos à oscala do sous nogócios? Quais soriam as possililidados nosso sontido? Nortoados por ossas guostòos, tomamos como ·ü¡~ì::· aprotundar o conhocimonto solro a dinâmica dos latalhadoros na sua administração, ou soja, luscamos comproondor como olos administram sou principal moio do sulsistôncia. A história guo agui sorá contada ó truto do sólida posguisa toórica o ompírica. 13 Podro ó um tipo-idoal¨, 14 construído com laso na análiso dos divorsos dados colotados, rounidos o arti- culados com rotoroncial toórico comum aos domais toxtos guo compòom osto livro. A construção dosso porsonagom, do suas disposiçòos o práticas administrativas so dou no sontido do rospondor às porguntas aprosontadas no parágrato antorior o guo sorão sintotizadas adianto. A grando toira livro do Nordosto, agui lrovomonto aprosontada, ó o contoxto no gual a história so passa. Eis o campo do latalha do Podro. Vamos à sua luta. ORlGEV E TRAJETÓRlA DE PEDRO lilho do Sou Josó o do Dona Josoto, um casal do agricultoros guo vivia nos arrodoros do poguona cidado da rogião, Podro lá nascou o vivou sous primoiros anos, mas logo voio, ainda monino, morar om Caruaru com os pais. Vosmo tondo nascido o sido 89 criado num sítio muito somolhanto àguolo no gual passou a morar com os tilhos o a osposa, os atrativos do uma cidado maior o do uma vida molhor, com mais possililidados para arrumar um tralalho para olo o a mulhor o, tuturamonto, para os sous tilhos, toz com guo Sou Josó docidisso so mudar com a tamília do campo para a cidado. Vuito omlora o campo tosso um lugar mais tranguilo para so vivor, ora prociso, om sua visão, ir para um local guo possililitasso arrumar tralalho molhor guo a agricultura. Sou Josó lia um guaso nada, com muita diticuldado. Pratica- monto não ostudara na oscola da roça. Dona Josoto ostudou um pouco mais, mas não o suticionto para guo losso com tacilidado. Já o tilho Podro o sous cinco irmãos, criados o croscidos om Caruaru, progrodiram, poróm não muito. Estudaram todos numa oscola municipal, os guatro mais volhos cursaram algumas sórios do antigo primoiro grau. Um dolos guaso o concluiu, mas toi roprovado na sótima sório o dosistiu. Não consoguiu porsistir como os mais novos. Podro o a moça mais nova consoguiram, torminaram o primoiro grau. No ontanto, mosmo olo tondo corta tacilidado com a matomática, não consoguiu avançar nos ostudos. A rotina ora muito dura: tralalhava o dia todo, o à noito, ontrontava as agruras da instituição oscolar. 15 O pai toi tralalhar om olras, virou podroiro. Na cidado, Podro toz guaso do tudo. Do ajudanto do pai a lalconista do armazóm do construção. Comoçou a tralalhar logo, o ainda no tompo om guo sou pai ora agricultor, ajudava-o na contagom, transporto o vonda dos sous produtos agrícolas. la sompro com olo vondô-los na toira da outra cidado ta poguona). Atondia aos compradoros, posava as morcadorias, rocolia o passava troco. Já naguolo tompo, aprondou guo o dinhoiro guo ontrava não ora todo para gastar, lomlra vivamonto o guo sou pai sompro dizia: Apurado não ó lucro, mou tilho!¨ Já om Caruaru, um pouco maior, continuou dosomponhando atividados similaros na lodoga guo sous pais montaram na tronto da casa ondo moravam. Hojo, com 43 anos, mora numa poguona casa do cinco comodos com a mulhor, trôs tilhos o a sogra, no lairro mais populoso da cidado, o Salgado. As crianças, do 8, 9 o 15 anos, passam a manhã com a avó o à tardo vão para a oscola. A mais volha raramonto aparoco na toira, já ostá no onsino tundamontal. lô com molhor dosonvoltura guo o pai o dosoja ontrar na univorsidado. O pai so comovo o apoia a tilha. Sua osposa tralalha com olo, acorda 90 rogularmonto codo, do sogunda a sálado. Vão juntos para a toira, suas vidas ostão tamlóm ligadas polo comórcio. Aos domingos, toma algumas poucas corvojas com os irmãos. Quando mais novo, ainda latia uma lola com os vizinhos, mas hojo om dia, não so arrisca. A idado o a distância guo so autoimpòom dos mosmos tguo soguiram outros caminhos ditorontos do tralalho) não o pormitom mais. Ponsa no oxomplo a sor dado aos tilhos, nas loas companhias guo ospora para olos. Como uma possoa como Podro administra sou poguono comórcio? Esta ó a guostão-síntoso guo nos nortoia. Para guo o loitor tonha claroza do guo ponsamos guando utilizamos o tormo administração, ó prociso dosdo já dotini-lo. Agui, administração ó ontondida como o conjunto do atividados nocossárias ao planojamonto o tuncionamonto cotidiano do um nogócio. Ou soja, são atividados guo alrangom a oscolha dovida do local no gual sorá alorto o nogócio, dotinição dos horários do tuncionamonto, divisão o monitoramonto das atividados a sorom dosomponhadas polas possoas guo nolo tralalham, controlo tinancoiro, docisòos solro compras a sorom toitas, contas a sorom pagas, tralalhadoros a sorom contratados tou não), docisòos solro molhorias a sorom toitas na ostrutura do nogócio, ordonação dosta ostrutura o do sua aparôncia. Usamos o tormo como sinonimo do gostão¨. Antos do soguirmos, ó prociso tazor um alorta o um convito ao loitor. O modo como Podro administra sou poguono nogócio podo sor lom ditoronto do guo so diz na administração guo ó oncontrada nos círculos ciontíticos, nas grandos o módias omprosas, nos manuais mais vondidos o utilizados nos cursos da ároa - olviamonto, osso tonomono to modo como possoas com osso portil administram sous poguonos nogócios) tamlóm não rocolo atonção das ciôncias sociais não aplicadas. Para olsorvá-lo tal como olo ó do tato, ó prociso ampliar o horizonto da visão solro o indivíduo-administrador o vô-lo, assim como suas práticas, como produto¨, 16 ainda om alorto, do roportório do disposiçòos guo toi capaz ou não do incorporar nos ospaços sociais om guo vivou, ao longo do sua trajotória. 91 EXPERlÊNClAS PROllSSlONAlS PRËVlAS E A ADVlNlSTRA(AO DO ATUAl NEGÓClO Antos do comoçar sou atual nogócio, Podro tralalhou com cartoira assinada numa transportadora do cargas do ronomo om Rocito - indicado por um primo guo lá já ostava havia corto tompo. Na capital, morou alguns anos com a sua tamília. Na omprosa, comoçou como ostoguista. Com o tompo, passou a oriontar, ordonar o controlar os carrogamontos molhor guo sous cologas. Dopois do muito tralalho o com ossa oxporiôncia tguo o ditoronciava), rocolou uma promoção. Tornou-so oncar- rogado¨, tala com muito orgulho disso. Vas, cada voz mais, so sontia aprisionado no rogimo do tralalho do uma grando omprosa. Voio ontão a implantação do uma nova tocnologia do divisão do tarotas na ostrutura produtiva. Dopois do novo anos do dodicação ao tralalho, voio tamlóm a domissão. Aos 32 anos, aponas com o onsino tundamontal comploto, não oncontrou possililidados do consoguir um novo o lom¨ omprogo. Para gonto como olo, muitas altornativas não oxistiam. Dosomprogado, voio visitar sous pais naguola poguona cidado ondo olos voltaram a morar. Um amigo do intância, agora toiranto, sugoriu guo tosso à loira do Caruaru, pois lá havia muitas possililidados para olo. loi nosso passoio¨ guo ponsou tontar ganhar a vida por conta própria. Dontro as oportunidados guo vislumlrou na toira, optou por lotar um lanco na sulanca¨. Com o dinhoiro da indonização do antigo omprogo, comprou as primoiras morcadorias troupas o acossórios). Essa toi, por guaso sois anos, sua unica tonto do ronda. Atravós dosso tralalho, alóm do aprondor o jogo do cintura do um nogócio do toira, consoguiu juntar algum dinhoiro para comprar um ponto o montar um poguono comórcio. Como sua osposa cozinhava lom o olo já tinha a oxporiôncia do toiranto na sulanca, rosolvou alrir uma larraca do alimontação na toira. Via nosso ramo a possililidado do rápido rotorno do invostimonto o tamlóm ponsava, a módio o longo prazo, om propiciar vida molhor para sua tamília. Na roalidado, ora a molhor dontro as poucas altornativas guo lho oram viávois. lsso já taz cinco anos. A larraca do Podro tica num dos polos¨ do alimontação da toira, ontro o morcado do carnos o o do tarinha. Elo tala com 92 orgulho solro a oscolha da localização do sou ponto, diz guo toi altamonto solotivo na hora do comprá-lo o guo rojoitou muitos outros por não sorom lom localizados, ponsava olo: Tom guo tor um lom local, tom guo tor loa visão.¨ Ela ó lom simplos, tom os oguipamontos nocossários a uma cozinha, um lalcão com lancos tixos o altos o trôs mosas com cadoiras guo olos ospalham para os cliontos na tronto da larraca. Alóm do goladoira, congolador, togão o domais utonsílios do cozinha, uma tolovisão do 20 pologadas guo ostá guaso sompro ligada. Tanto olos guanto os cliontos assistom a programas do auditório, noticiários popu- laros ou programas policiais, guando não oxilom algum DVD do alguma landa do torró olotronico. Ainda não satistoito com o guo tom na larraca, ponsa om oguipá-la com um micro-ondas o uma nova o maior TV. Duranto osso tompo no ramo do alimontação na toira, olo já toz algumas molhorias om sou nogócio. A primoira dolas toi uma rotorma no toto, no ano passado, dopois colocou piso do corâ- mica, tirou o lalcão do madoira, toz um do alvonaria trovostido com corâmica) o colocou os lancos tixos do torro. Procura, ao mosmo tompo, molhorar a aparôncia o o amlionto no gual sorvo os cliontos o passa sous dias do tralalho com a osposa. Elo o sua mulhor tôm uma jornada mais puxada não somonto nos dias das grandos toiras, mas tamlóm nas vósporas dolas. Como amanhã ó dia do toira, ontão tom guo tá tudo limpinho o arrumado¨, diz ola ao continuar ajudando-o na arrumação do tudo. Assim como Podro, ola tamlóm paroco tor consciôncia do guo nos nogócios a aparôncia valo muito. O cuidado com a higiono da larraca o das comidas ó constanto. Uma coisa guo so taz lontoita não tom valor so não tivor uma loa aparôncia.¨ Alóm disso, omonda, tom coisas guo não so onsinam om cursos: lom atondimonto, gualidado no produto o proço compotitivo¨. Outro cuidado, tamlóm constanto, ó com a oconomia, atinal, tom guo tazor as coisas diroitinho, so não no tinal do môs tica no luraco¨. Elo diz tor aprondido como tazor no ramo olsorvando as larracas mais arrumadas guo a sua, como os propriotários taziam para mantô-las sompro nos tringuos¨ o torom ôxito nos nogócios. Vas a oxporiôncia do tralalho lá om Rocito tamlóm toi signiticativa para guo olo aprondosso a tazor tudo nos contormos¨, como ora oxigido na transportadora. 93 Como proza lastanto pola organização o aparôncia do sua larraca, olo so sonto projudicado pola lagunça guo vô tanto om algumas larracas vizinhas como nos laros guo ticam um pouco mais adianto. O som alto o algumas lrigas guo acontocom são vistos por Podro como coisas guo atastam os sous cliontos o donigrom a imagom do nogócio guo olo tanto cuida para tazor parocor ao máximo com um rostauranto¨. Diariamonto, somonto o casal tralalha na larraca. Vas goral- monto nas torças o sálados, nos poríodos do movimonto lom maior, olos contratam uma diarista - principalmonto para cortar vorduras, sorvir os cliontos, montar os pts¨ tpratos toitos guo goralmonto vôm com um tipo do toijão, arroz, macarrão, vorduras o um tipo do carno) o lavar os pratos. Como não ó algo rogular, às vozos aprovoitam alguóm guo aparoco na própria larraca procu- rando tralalho, outras vozos por indicação do tamiliaros, conho- cidos ou ató mosmo do possoas guo tralalham para os vizinhos. laz um tosto o pronto, chama guando o movimonto podo. Aprondoram o guo tazom hojo por moio das oxporiôncias protissionais antorioros do Podro, da olsorvação dos outros toirantos o da prática culinária do sua osposa - dosonvolvida ao longo dos anos do tralalho domóstico o no dia a dia da larraca mosmo. Som duvida, o guo mais vondom são os pts¨. Nos dias da toira da sulanca o no sálado, tamlóm vondom catós da manhã do comidas típicas - macaxoira com charguo ou cuscuz com galinha, por oxomplo. As atividados são divididas da soguinto torma: ola cozinha o olo taz as domais tarotas. laz compras, sorvo os pratos, lolidas o rocolo o dinhoiro. Rogistra o guo ontra o o guo sai do caloça o guarda o dinhoiro no lolso. Como as toiras móvois são somanais, sonto mais tacilidado om ostimar os valoros do rocoitas, dosposas o lucro nosso poríodo. Estima tor uma rocoita módia somanal ontro 600 o ¯00 roais. Disso, tica com mais ou monos uns 300. Dos custos tixos guo tom, roclama da conta do onorgia - para olo, sompro alta - o, principalmonto, do imposto guo ó rocolhido somanalmonto polos tiscais da protoitura. Dosto ultimo, roclama por não vor rotorno. Vuito omlora já tonha toito poupança rogular, principalmonto no tompo do sulanca, hojo om dia não tom consoguido mantor a constância. As molhorias guo toz no nogócio o a oducação dos tilhos consomom todo o dinhoiro guo solra. Como rotormou a larraca há pouco, para ampliá-la ponsa num ompróstimo 94 o comonta, procurando domonstrar sor uma possoa atualizada, uma notícia a guo assistiu na TV rocontomonto, guo trata da sim- pliticação da alortura do cródito para poguonos comorciantos. Dosso joito, talvoz ató dô para mim...¨, diz olo, muito omlora domonstro corto rocoio nosso tipo do oporação, pois, goralmonto, sous cologas rocorrom a parontos, amigos ou ató mosmo a agiotas guando procisam do dinhoiro. Podro acrodita parcialmonto no govorno, mais no todoral guo no municipal. Ponsa guo o primoiro podoria tacilitar o acosso ao cródito com juros laixos. Ponsa tamlóm guo o sogundo podoria molhorar a toira oljotivamonto, tanto para o turismo guanto om tormos do organização, o tamlóm roduzir os impostos. Elo diz tor como grando proocupação om rolação à toira, do modo goral, a guostão da sogurança. Tanto olo guanto sous vizinhos so guoixam lastanto da insogurança o apontam para o podor pullico como rosponsávol por isso. Emocionado, Podro diz guo toi na toira guo consoguiu guaso tudo guo tom hojo, domonstra tor carinho por ola, mas, mosmo assim, guoria consoguir montar um comórcio na rua¨ 1¯ mosmo o não guoria osso dostino do toiranto, do modo algum, para sous tilhos. DlSPOSl(OES ECONÔVlCAS E ADVlNlSTRATlVAS PARA AUTOSSUPERA(AO Agui ó prociso rocuporar da tooria disposicionalista sou concoito contral, ou soja, o concoito do disposição, o articulá-lo aos pontos contrais da nossa história, visando aprosontar a gônoso das disposiçòos o como olas são dotorminantos no modo do administrar do tipo do latalhador om guostão. Bornard lahiro procura tazor uma rotomada crítica da sociologia disposicionalista - guo tom no tralalho do Piorro Bourdiou sou grando ostorço do oxplicitação - o dos sous instrumontos do ponsamonto¨ na condição do tooria da ação. Para olo, ó a tradição disposicionalista guo tonta lovar om considoração, na análiso das práticas ou comportamontos sociais, o passado incorporado dos atoros individuais¨. 18 95 Agui considoramos sor nocossário osclarocor ao loitor o guo ponsamos guando talamos om disposição¨. Para isso, as palavras do lahiro são osclarocodoras: Na vordado, uma disposição ó uma roalidado roconstruída guo, como tal, nunca ó olsorvada dirotamonto. Portanto, talar do disposição prossupòo a roalização do um tralalho intorprotativo para dar conta do comportamontos, práticas, opiniòos otc. Trata-so do tazor aparocor o ou os princípios guo goraram a aparonto divorsidado das práticas. 19 Com osso suporto toórico, podomos olsorvar açòos, ponsa- montos o sontimontos das possoas como rosultados oljotivos do alguns princípios guo os goraram. Essos princípios soriam trutos do origom, visão do mundo o hálitos hordados¨ da tamília, dos contoxtos sociais dos guais participou o indivíduo, do suas oxporiôncias oducacionais o protissionais, assim como do outros possívois contoxtos do socialização o do atuação guo toram signi- ticativos om sua trajotória do vida. Ou soja, partindo das origons tamiliaros o sociais, ao longo dossa trajotória, uma possoa tondo a aprosontar, ostocar¨ o incorporar dotorminadas disposiçòos guo podom sor domandadas, por oxomplo, om cortos contoxtos socializadoros nos guais ola irá so insorir. Em nosso ontondimonto, a torma como os latalhadoros comor- ciantos administram sous nogócios ó principalmonto dotorminada por ossos conjuntos do disposiçòos guo olos hordam¨, ativam¨ to dosativam¨) ou incorporam to dosincorporam) ao longo do sua trajotória do vida. logo, para oxplicá-la, ó prociso comproondor a gônoso daguolas disposiçòos, dontro todas as guo compòom sou comploxo disposicional¨, guo são docisivas para sua prática cotidiana do gostão. Ou soja, nossa protonsão agui ó oxplicitar ossas disposiçòos guo lhos pormitom dar conta da dinâmica cotidiana do sou nogócio. Procurando sor o mais prociso possí- vol, o movimonto guo taromos sorá o do aprosontar os conjuntos disposicionais, as disposiçòos ospocíticas a olos rolacionadas o ilustrá-las por moio do trochos da história do latalhador. loito isso, podoromos aprosontar um instrumonto analítico para compará-lo à tormação das principais disposiçòos, ao longo do uma trajotória do vida latalhadora, guo possililitam a um trala- lhador dosomponhar as atividados nocossárias à administração do um poguono comórcio. 96 Ponsando nossos tormos, taromos agui um rocorto no com- ploxo disposicional¨ do nosso tipo-idoal, o ontão apontaromos os conjuntos do disposiçòos guo soriam, om nosso ontondimonto, mais docisivos para a trajotória o, om ospocial, para as atividados administrativas dosomponhadas por um latalhador comorcianto. Ë claro guo, na roalidado, ossas disposiçòos aprosontam-so como inoxtrincavolmonto intor-rolacionadas - haja vista guo tazom parto, juntamonto com outras, do comploxo disposicional do um indi- víduo. No ontanto, para tins oxplicativos, ponsamos sor nocossário oporar ossa dolimitação - do cada uma das guo julgamos sorom mais importantos ao tonomono om guostão o assim podor molhor comproondô-lo. Dito isso, os conjuntos disposicionais guo dostacamos soriam: disposiçòos para autossuporação, disposiçòos oconomicas gorais o disposiçòos administrativas. Juntamonto a olos tamlóm aproson- tamos suas caractorísticas gorais, as disposiçòos nolos insoridas o os trochos ilustrativos 20 rocuporados da história acima contada. Disposiçòos para autossuporação soriam as inclinaçòos o proponsòos - guo podom sor olsorvadas ompiricamonto por moio do trochos da história do vida do um latalhador guo apontam para ponsamontos, sontimontos o açòos - guo visam à suporação do uma condição do vida antorior ou atual o, consoguontomonto, a projoção do latalhador para uma outra situação do vida vista, por olo, como molhor, tanto para olo próprio guanto para sous tamiliaros. Para guo ossa suporação acontoça ó tou toi) prociso guo olo incorporo algumas disposiçòos, rotorco algumas outras, ou dosativo¨ outras guo compòom sou ostoguo disposicional¨, mas guo não soriam portinontos a osso tipo do movimonto. Nosto conjunto ostariam rounidas, acompanhadas dos rospoctivos trochos guo as ilustram, disposiçòos como as soguintos: dispo- sição para projoção dos tilhos para asconsão t|A tilha} lô com lom mais dosonvoltura guo o pai, guor ontrar na univorsidado. O pai vilra o apoia muito isso.¨), disposição para tazor-so oxomplo tPonsa no oxomplo a sor dado aos tilhos. Nas loas companhias guo ospora para olos.¨), disposição ascótica tDopois do muito tralalho o com ossa oxporiôncia... rocolou uma promoção. Tornou-so oncarrogado, tala com muito orgulho daguilo.¨), disposição para aprondizagom pola oxporiôncia tAtravós dosso tralalho, alóm do aprondor o jogo do cintura do um nogócio do toira...¨), disposição para projoção do tuturo t...o tamlóm 9¯ ponsava, om módio o longo prazo, propiciar vida molhor para sua tamília.¨), disposição para construção do imagom positiva tO som alto o algumas lrigas guo acontocom são vistos por Podro como coisas guo atastam os sous cliontos o donigrom a imagom do nogócio guo olo tanto cuida para tazor parocor ao máximo com um rostauranto.¨), disposição para a aguisição do lons do consumo suporioros¨ tAinda não satistoito com o guo tom na larraca, ponsa om oguipá-la com um micro-ondas o uma nova o maior TV.¨). Disposiçòos oconomicas gorais soriam aguolas guo so impòom ao indivíduo para guo olo incorporo, rocuporando agui as palavras iniciais do Bourdiou, atravós da oducação implícita o oxplícita, o ospírito do cálculo o do provisão¨, amplamonto roguisitados num contoxto capitalista modorno. Agui ostariam agrupadas lasi- camonto duas disposiçòos já dovidamonto ilustradas: disposição para o cálculo oconomico tSou pai sompro dizia: apurado não ó lucro, mou tilho!¨Rogistra o guo ontra o o guo sai do caloça...¨), disposição para poupança t...consoguiu juntar algum dinhoiro para comprar um ponto o montar um poguono comórcio.¨já toz poupança rogular¨). Como disposiçòos administrativas donominamos as disposiçòos guo são dotorminantos no modo como um latalhador comor- cianto ponsa o dosomponha diariamonto divorsas das atividados nocossárias ao lom¨ tuncionamonto do sou poguono comórcio, ou soja, as inclinaçòos o proponsòos à roalização do açòos do planojamonto, coordonação, ordonação o controlo do um nogócio. Valo rossaltar guo osto ultimo conjunto ó dirotamonto dopon- donto o vinculado aos conjuntos antorioros, pois ostos soriam mais gorais o tamlóm dirotamonto rolacionados ao modo como o indivíduo so projota no mundo, à sua racionalidado oconomica o, olviamonto, à oriontação das suas açòos administrativas. Ei-las ontão já acompanhadas dos rospoctivos trochos guo as ilustram: disposição para cálculo oconomico aplicado t...ainda no tompo do sou pai agricultor, ajudava-o na contagom, transporto o vonda dos sous produtos agrícolas.¨Como rotormou a larraca há pouco tpiso o lalcão), para ampliá-la ponsa num ompróstimo.¨), dispo- sição para atondimonto o tralalho comorcial tEm sua intância, Atondia os compradoros, posava as morcadorias, rocolia o passava troco.¨), disposição para organização o coordonação do atividados tCom o tompo, passou a oriontar, ordonar o controlar 98 os carrogamontos molhor guo sous cologas.¨), disposição para visão do nogócio¨ tVia nosso ramo a possililidado do rápido rotorno do invostimonto...¨Elo tala com orgulho solro a oscolha da localização do sou ponto, diz guo toi altamonto solotivo na hora do comprá-lo...¨), disposição para construção do imagom positiva nos nogócios tProcura... molhorar a aparôncia o o amlionto no gual sorvo os cliontos...¨...nos nogócios a aparôncia valo muito.¨), disposição para aprondizagom na prática dos nogócios t...tom coisas guo não so onsinam om cursos: lom atondimonto, gualidado no produto o proço compotitivo¨), disposição para aprondizagom por moio do olsorvação do outros nogócios t...Elo diz tor aprondido como tazor no ramo olsorvando as larracas mais arrumadas guo a sua, como os propriotários dolas taziam para mantô-las sompro nos tringuos¨ o torom ôxito nos nogócios...¨). A título do síntoso do guo acima acalamos do aprosontar, ois a soguir um guadro no gual rounimos os conjuntos disposicionais, as disposiçòos nolos insoridas o os trochos ilustrativos. 99 Quadro sIntcsc da scção Conjunto dc dIsposIçòcs DIsposIçòcs cspccIIIcas 1rccÞos IIustratIvos Para autossupcração tinclinaçòos o proponsòos - guo podom sor olsorvadas ompirica- monto por moio do trochos da história do vida do um latalhador guo apontam para ponsamon- tos, sontimontos o açòos - guo visam à suporação do uma condição do vida antorior ou atual o, consoguontomonto, à projoção do latalhador para uma outra situação do vida vista por olo como molhor, tanto para olo próprio guanto para sous tamiliaros.) a. disposição para projoção dos tilhos para asconsão a. |A tilha} lô com lom mais dosonvoltura guo o pai, guor ontrar na univorsidado. O pai vilra o apoia muito isso.¨ l. disposição para tazor-so oxomplo. l. Ponsa no oxomplo a sor dado aos tilhos. Nas loas companhias guo ospora para olos.¨ c. disposição ascótica c. Dopois do muito tralalho o com ossa oxporiôncia tguo o ditoronciava) rocolou uma promoção. Tornou-so oncarrogado, tala com muito orgulho daguilo.¨ d. disposição para apron- dizagom pola oxporiôncia d.1 Atravós dosso tralalho, alóm do aprondor o jogo do cintura do um nogócio do toira t...)¨ d.2 Aprondoram a tazor o guo tazom hojo por moio das oxporiôncias protissionais antorioros do Podro, da olsorvação dos outros toirantos o da prática culinária do sua osposa t...)¨ o. disposição para projo- ção do tuturo o.1. t...) o tamlóm ponsava, om módio o longo prazo, propiciar vida molhor para sua tamília.¨ o.2. Emocionado, Podro diz guo toi na toira guo consoguiu guaso tudo guo tom hojo, domonstra tor carinho por ola, mas guo, mosmo assim, guoria consoguir montar um comórcio na rua mosmo o guo não guoria osso dostino do toiranto, do modo algum, para sous tilhos.¨ t. disposição para constru- ção do imagom positiva t. O som alto o algumas lrigas guo acon- tocom são vistos por Podro como coisas guo atastam os sous cliontos o donigrom a imagom do nogócio guo olo tanto cuida para tazor parocor ao máximo com um rostauranto.¨ g. disposição para a agui- sição do lons do consumo suporioros¨ g. Ainda não satistoito com o guo tom na larraca, ponsa om oguipá-la com um micro-ondas o uma nova o maior TV.¨ tContinua) 100 Conjunto dc dIsposIçòcs DIsposIçòcs cspccIIIcas 1rccÞos IIustratIvos EconðmIcas gcraIs tdisposiçòos gorais para a incor- poração do ospírito do cálculo o do provisão) i. disposição para o cálculo oconomico i.1. sou pai sompro dizia: apurado não ó lucro, mou tilho!¨ i.2. Rogistra o guo ontra o o guo sai do caloça t...)¨ j. disposição para pou- pança j.1. t...) consoguiu juntar algum dinhoiro para comprar um ponto o montar um poguono comórcio.¨ j.2. já toz poupança rogular¨ AdmInIstratIvas tdisposiçòos guo são dotor- minantos no modo como um latalhador comorcianto ponsa o dosomponha diariamonto divor- sas das atividados nocossárias ao lom¨ tuncionamonto do sou poguono comórcio, ou soja, as inclinaçòos o proponsòos à roalização do açòos do planoja- monto, coordonação, ordonação o controlo do um nogócio.) l. disposição para cálculo oconomico aplicado l.1. t...) ainda no tompo do sou pai agri- cultor, ajudava-o na contagom, transporto o vonda dos sous produtos agrícolas.¨ l.2. Outro cuidado, tamlóm constanto, ó com a oconomia, atinal, tom guo tazor as coisas diroitinho, so não no tinal do môs tica no luraco.¨ l.3. Como rotormou a larraca há pouco tpiso o lalcão), para ampliá-la ponsa num ompróstimo.¨ l.4. Via nosso ramo a possililidado do rápido rotorno do invostimonto t...)¨ m. disposição para aton- dimonto o tralalho co- morcial m. Atondia os compradoros, posava as morcadorias, rocolia o passava troco.¨ n. disposição para organi- zação o coordonação do atividados n.1. Com o tompo, passou a oriontar, ordonar o controlar os carrogamontos molhor guo sous cologas.¨ n.2. As atividados são divididas.¨ o. disposição para visão do nogócio¨ o.1. Via nosso ramo a possililidado do rápido rotorno do invostimonto t...)¨ o.2. Elo tala com orgulho solro a oscolha da localização do sou ponto, diz guo toi altamonto solotivo na hora do comprar o guo rojoitou muitos outros por não sorom lom localizados, ponsava olo, tom guo tor um lom local, tom guo tor loa visão.¨ tContinua) 101 VOlTANDO A HlSTÓRlA DE PEDRO Por moio do guadro disposicional acima construído, podomos tazor um lrovo rotorno à história do Podro o assim roconstruir, tamlóm do modo sintótico, as linhas gorais das origons das dispo- siçòos docisivas ao modo como olo administra sua larraca. Essas origons disposicionais podom sor olsorvadas om sua história dosdo lom codo om sua intância, guando aprondia com os dogmas do pai guo apurado não ó lucro¨, ou por olsorvação o acompanhamonto do suas atividados cotidianas do agricultor-- -comorcianto. loram rotorçadas dopois, já om Caruaru, guando dosonvolvia atividados similaros tamlóm na lodoga da tamília. A rotorôncia tamiliar ó torto para a tormação do sua disposição ascótica para o tralalho, o oxomplo do pai ó incorporado por Podro, guo assim tamlóm o taz. Tralalha muito não somonto para solrovivor, mas tamlóm tanto para dar oxomplo aos tilhos guanto para sor roconhocido socialmonto como um tralalhador o, assim, sor considorado digno, um latalhador. Ë um pouco na oscola, ao dosonvolvor um raciocínio matomático guo já conhocia na prática ao vondor os produtos agrícolas do pai dosdo lom poguono, mas muito mais nas suas oxporiôncias Conjunto dc dIsposIçòcs DIsposIçòcs cspccIIIcas 1rccÞos IIustratIvos p. disposição para cons- trução do imagom positiva nos nogócios p.1 Procura t...) molhorar a aparôncia o o amlionto no gual sorvo os cliontos t...)¨ p.2 t...) nos nogócios a aparôncia valo muito.¨ p.3 t...) tazor tudo nos contormos, como ora oxigido na transportadora.¨ p.4 t...) proza lastanto pola organização o aparôncia do sua larraca.¨ g. disposição para apron- dizagom na prática dos nogócios g. t...) tom coisas guo não so onsinam om cursos: lom atondimonto, gualidado no produto o proço compotitivo.¨ r. disposição para aprondi- zagom por moio do olsor- vação do outros nogócios r. t...) Elo diz tor aprondido como tazor no ramo olsorvando as larracas mais arru- madas guo a sua, como os propriotários dolas taziam para mantô-las sompro nos tringuos o torom ôxito nos nogócios t...)¨ tConclusão) 102 do tralalho ttamiliaros o, postoriormonto, protissionais) guo Podro dosonvolvo as disposiçòos roguisitadas para a sulsistôncia oconomica no soio do capitalismo contomporânoo. Tralalhar numa grando omprosa, na gual oxistom procodimontos, normas, oriontaçòos proviamonto dotinidas para o dosomponho das tunçòos taz com guo uma possoa como Podro, nascida no mato¨ o criada numa cidado do intorior, prociso incorporar novas disposiçòos guo ainda não haviam sido roguisitadas polos con- toxtos do ação nos guais havia vivido ató ontão o, dosso modo, apronda na prática o guo dovo tazor. Como podomos olsorvar, tazondo uso da lonto toórica disposicionalista, as possililidados são lom signiticativas do guo, ao sor controntado com um novo contoxto, o indivíduo ou incorporo tom maior ou monor grau, a dopondor dos casos) dotorminadas disposiçòos roguisitadas por osso contoxto, doixando adormocidas¨ disposiçòos mais portinontos ao sou contoxto original tcampozona rural) ou antorior tcidado maior, mas tamlóm intoriorana), ou ontão rotorco disposiçòos contrárias a osso novo contoxto tcidado grando, tralalho na omprosa) o rotorno aos contoxtos nos guais olas são portinontos. Dotorminado a dar corto na vida¨, Podro consoguiu do modo pró-rotloxivo incorporar as disposiçòos nocossárias ao tralalho na cidado grando. Vas suas origons o tizoram, dopois do corto tompo, não so sontir mais contortávol nosso contoxto. A domissão voio, o Podro voltou para suas origons, mas não voio incólumo. Ou soja, não simplosmonto tirou a tarda¨ da omprosa o vostiu a lormuda o a camisota¨ do toiranto. Em sou corpo, trouxo inscrito sou novo comploxo disposicional¨, sou ostoguo acroscido¨ das disposiçòos guo tovo do incorporar para so oncaixar num procosso produtivo omprosarial o para a vida numa cidado grando do modo goral. Agora, sorão olas guo ostarão om xoguo na volta do Podro ao sou antigo contoxto do socialização o ao passar para novo contoxto do tralalho na toira. Vosmo som tor consciôncia disso, Podro ago como so soulosso guo ató podorá ir alóm na oscala da asconsão social, mas guo não podorá ir muito. Ë por isso guo a projoção dos tilhos para o ostudo, para outro mundo guo não o da toira, ó uma torma do suporar sua condição original o assim tor, ao tinal da vida, a sonsação do dovor cumprido, atinal, toz o possívol para guo sous tilhos chogassom ondo olo não chogou¨. Vuito omlora aparonto- monto, num primoiro olhar, osso aspocto não tonha rolação dirota com o modo como olo administra sua larraca, num sogundo 103 olhar tom sim, o tom muito. Ë um olomonto como osso guo taz com guo um latalhador como olo tiro sous tilhos do cotidiano do tralalho na toira to guo acontoco com muitos outros poguonos comorciantos do modo invorso), lom como mostra um oljotivo ultorior ao ascotismo na administração do nogócio om si, ou soja, alóm da solrovivôncia no agora, ó nolo guo são sustontados os sous sonhos-tilhos do um tuturo molhor. Rolor a história guo agui aprosontamos, após tormos trazido à tona alguns dos princípios goradoros¨ dos ponsamontos, son- timontos o açòos do Podro, assim como tormos toito osso lrovo rotorno à sua trajotória do vida, podo sor algo osclarocodor ao loitor guo ospora, do tato, comproondor como toram goradas ao longo da vida do nosso porsonagom condiçòos oljotivas tponsamontos, sontimontos o açòos) para guo olo pudosso hojo administrar sou comórcio do toira. CONSlDERA(OES llNAlS O guo claramonto ditoroncia ossa nova classo tralalhadora do guo so convoncionou donominar do classo módia, por oxomplo, não ó uma guostão do ronda, mas sim dos modos do ponsar, agir o sontir constatávois nas vidas cotidianas guo lovam os momlros do uma o do outra classo. Agui procuramos caractorizar o modo como atua um dos tipos-momlros do uma classo social guo conso- guiu, ao longo do sua trajotória do vida, incorporar minimamonto as disposiçòos nocossárias à solrovivôncia produtiva na roalidado do novo capitalismo lrasiloiro, o poguono comorcianto do toira. Dontro ostas disposiçòos, a rosiliôncia no tralalho, ou soja, a capacidado do não dosistir o do ontrontar jornadas oxtonuantos, juntamonto com a prática do poupança tmosmo guo do modo inconstanto) o a cronça om sua iniciativa prática do so virar¨ mosmo om situaçòos das mais advorsas são dostacávois. Alóm dos aspoctos da história idoaltípica¨ contada acima, um dado apoia ainda mais o capital ospocítico idontiticado nosta posguisa como sondo docisivo à trajotória do vida dos momlros dossa classo, o capital tamiliar. Dontro os toirantos guo rospon- doram nosso guostionário, 86,¯/ dolos toram criados por pai o mão juntos. Algo ditoronto da roalidado da maioria dos momlros da raló aprosontados na olra · :aI~ ü:a::I~::a. O tralalho dosdo codo junto aos pais o irmãos, guor soja na roça, na toira ou mosmo 104 num poguono comórcio tamiliar, ó traço marcanto na história do vida do inumoros lrasiloiros guo, como Podro, incorporam uma torto ótica do tralalho dosdo codo na intância. A projoção do um tuturo molhor para os tilhos notada na nova classo tralalhadora lrasiloira ó algo próximo ao guo Bourdiou porcolou om rolação à poguona lurguosia trancosa om suas posguisas aprosontadas om · u::ì:u¸a·. Ao olsorvar guo, om sua oxistôncia, o indivíduo não podorá ir alóm do dotorminado status na hiorarguia social, olo taz o possívol para projotar ao máximo sous tilhos no sontido da asconsão social dosojada. A idoia guo talvoz possa sintotizar osso ponto ó a soguinto: Com muito tralalho o o pouco ostudo guo tivo ou pudo chogar ató agui, so mou tilho ostudar o tor tralalhador como ou, olo podorá ir ainda mais longo.¨ Não gostaríamos do concluir osto tralalho som doixar claro ao loitor o guo ponsamos sor mais importanto om nosso apron- dizado solro a torma como os latalhadoros administram sous nogócios. Acroditamos guo a variávol mais marcanto nosso caso são as disposiçòos proviamonto incorporadas om contoxtos antorioros do tralalho. Ou soja, ponsamos sor algo lastanto claro, não somonto nosso, mas tamlóm nos domais onsaios dosto livro, guo parto signiticativa do aprondizado utilizado no tralalho polos latalhadoros advóm da oxporiôncia prática guo olos tôm ao longo do sua vida, tondo início nos valoros olomontaros guo incorporam na tamília, goralmonto ostruturada tso comparada com a tamilia da raló¨), na gual vôm ao mundo o são criados. Procuramos rospondor à guostão contral guo nos propusomos do início, ou soja: como uma possoa como Podro administra sou poguono comórcio? Uma possoa como Podro administra sou nogócio por moio do ponsamontos, sontimontos o açòos guo são docorrontos das disposiçòos tom ospocial dos conjuntos disposi- cionais do autossuporação, oconomicas gorais o administrativas, om nossa análiso) guo olo incorporou ao longo do sua trajotória do vida. Esta rosposta soria um tanto guanto sintótica o ató mosmo laconica so a tivóssomos protorido nas primoiras linhas dosto toxto o caso não tivóssomos omproondido, om sou curso, todo um ostorço do comproonsão-oxplicação solro ossas disposiçòos o solro o modo como olas so aprosontam no cotidiano do um lata- lhador como Podro. No ontanto, como nos manda a tradição do lom otício ciontítico voloriano, ponsamos tor oxplicado como chogamos ató ola. ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 3 ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ↵⇣P⌦↵↵MD↵DC⌦↵⇥ ⌦✓⌦⇧l⇥ ✓MlD⇧D↵ ⌫⇧⇣l⌥l⇧⌦, ✓MlD⇧D↵ P⌦CD✓⌃lV⇧ ··Iaü·:au·:. 1aü::c:· Mac:~I Atualmonto, Elimar 1 ó um poguono produtor rural na cidado do Cachooira do SulRio Grando do Sul, conhocida pola tama do tor sido a capital do arroz¨ no passado. Dono do uma proprio- dado do 12 hoctaros, casado há 29 anos, pai do um casal do adoloscontos, sua vida paroco ostar molhorando a cada dia guo passa. Dostaguo na cidado om sua produção do truticul- tura, sou omproondimonto crosco a todo vapor. A capacidado produtiva da poguona, poróm potonto propriodado rural, crosco guantitativa o gualitativamonto a cada dia. Quantitativamonto, polo volumo cada voz maior do morcadorias guo consoguo produzir, om monos tompo. Qualitativamonto, polo potoncial do sou maguinário o oguipamontos do ponta, pormitindo não aponas a suporação om volumo, mas principalmonto om gualidado do sou produto tinal. Aguolo volho ditado, a vida comoça aos 40¨, so aplica portoi- tamonto om sou caso, pois so oncontra nossa taixa do idado. Voncodor do um prômio roconto por produtividado na rogião, oxomplo do ostorço no tralalho o sucosso oconomico om sua poguona cidado, lidorança política om associaçòos locais, Elimar hojo não tom do guo roclamar. Eslanja um sorriso tranco o alorto, somolhanto à torma como sompro oncarou a vida, do poito alorto. Estuta o poito ao dizor guo dosatia sous molhoros 106 cliontos. Vou suco ó para hotol guatro ostrolas.¨ So o clionto guor guatro tonoladas, ou proponho soto.¨ O tologo o a ompolgação do Elimar acompanham o ritmo atual do sua vida. Elo não para um sogundo. Ë uma máguina para o tralalho guo dou corto. Quando não ostá om algum canto da propriodado atonto a algum poguono dotalho do cultivo ou do acalamonto tinal dos produtos, ostá no contro da cidado, não muito distanto da propriodado, tazondo ontrogas, ou ostá so oncon- trando com outros produtoros, ató mosmo om outras cidados. Um dos oljotivos ó so atualizar solro sou ramo o sou morcado, atravós do cursos. Eu tui sompro muito do luscar intormação. Do tudo guo ou tiz assim ora conhocondo alguma coisa, mas tu tom guo ostudar, tu tom guo vor ali, doonças, pragas, o lota isso, lota aguilo.¨ Então ou vou lá pra dar uma olhada como ó guo tá a loca nó. O guô guo olos tão guorondo nó. Qual ó a tondôncia.¨ Alóm da noção do valor oconomico do conhocimonto, olo tom noção do guo sou ramo ospocítico oxigo um conhocimonto apurado. Ë om lusca do conhocimonto do causa nó. Porguo o prolloma da truticultura ó guo tu tom guo tor um conhocimonto lom sonão tu não tom rosultado. E so tu não tom rosultado a trustração to poga o tu larga do mão. Tu acha guo aguilo não dá.¨ Outro oljotivo ó criar mocanismos colotivos do produção o do distriluição, atravós do associaçòos guo otimizom a capacidado produtiva o os lucros. A associação nossa ó agui do Cachooira, mas tom outras associação agora dos outros municípios, guo agora nós tamo tontando so juntar pra trocar morcadorias o conhocimontos nó, solro o assunto da truta, plantio, colhoita, môs do comorcialização, talricação. A porcopção do valor prático do uma rolação com instituiçòos locais roproduz a mosma osportoza do omproondodor. Tudo isso aí guo sompro vom atravós da Emator 2 nó, guo dá curso, sompro curso, inclusivo olos toram om um curso om Caxias do Sul nó. Tirar curso lá om Caxias solro produtos dorivados do truta. Agora tom curso guo a Emator promovo, sai possoas agui do Cachooira atravós da Associação junto com a Emator o a Socrotaria do Agricultura pra tirar ossos cursos o vor, aprondor. Tu tom guo sair pra tu tor alguma idoia. So tu não sair do tou lugar tu tica tochado. 10¯ A noção do ampliação ospacial dos horizontos rotloto a ampliação prática, ao longo do anos, do sou horizonto do autossuporação. Sua produção atual inclui trutos in natura do gualidado garan- tida, sondo olos principalmonto uva, maracujá o amora, ossôncias para sorvoto o uma novidado guo vom dando muito corto: sucos ongarratados o já adoçados. Esto ultimo oxigiu o dosonvolvi- monto do uma poguona agroindustria, administrada por suas duas irmãs, no sistoma guo olos donominam como troca¨. Enguanto olo cuida da dimonsão primária da produção o da distriluição, olas cuidam do ongarratamonto o do ompacotamonto. Vas a troca¨ signitica guo, guando solra tompo do alguóm om alguma das dimonsòos do ciclo produtivo, olo ó omponhado om ajudar os domais nas outras tarotas. Tamlóm signitica a comlinação tamiliar do torças para o alcanco do oljotivo tinal, no gual todos saom ganhando. A união do torças ó tundamontal para o sucosso do nogócio, pois o ramo não ó tácil. A agroindustria atua tamlóm na rigorosa soloção dos trutos, parto osta ossoncial para o sogrodo do sucosso, dito por olo mosmo: a gualidado dos produtos. Produtos do gualidado modiana são dovolvidos polos comorciantos o signiticam pro- juízo corto. Sua oxporiôncia onsinou lom o guo ó isso. E a truta tom guo ponsar. Tom guo ponsar o aprondor a poda, por guo guo poda assim, por guo guo poda assado, por guo guo tu tom guo ralhar, por guo guo tu tom guo tazor o tratamonto pós-colhoita. Dopois da colhoita, tratamonto do invorno, adulação do laso, tazor análiso do tolha, análiso do solo, salo, tom um monto do lronca assim pra tu tor uma truta guo, no morcado, caiu lá, tu vondo. Aí guo tá, ou sompro tontoi luscar isso. Claro guo num consogui tazor ainda aguilo guo ou gostaria do tor toito. Vas to sompro chogando porto, ontão a gonto tá colhondo uma truta lonita, um tamanho lom. Dois pontos contrais já so osloçam na rocoita do latalhador voncodor: a conciliação ontro tralalho árduo o conhocimonto ospocítico do ramo, comlinada com uma torça produtiva tamiliar. No primoiro ponto, voromos guo a vida dosto atual voncodor nom sompro toi lom-sucodida o nom sompro toi marcada por soguôncias do vitórias. Vas nunca podo doixar do sor marcada 108 polo tralalho árduo. Elo concilia o conhocimonto ospocializado, guo já lusca há tompo na vida, com o salor prático da oscola da vida, som o gual olo não taria um lom uso, dontro da propriodado, do conhocimonto guo adguiriu tora dola. Ou soja, do um lado: Eu tiroi curso do motrologia, dosonho, ajustagom, tornoaria, mocânica do manutonção, tócnico olótrico o lulriticador.¨ Vas antos: Ah, dosdo guo ou mo conhoço por gonto ou já tava sompro na roça ajudando o tralalhando. Com oito anos ou já tralalhava no trator.¨ No sogundo ponto, oncontramos a laso do indivíduo guo, om um primoiro momonto, lrilha como uma ostrola solitária da idoologia do mórito. 3 Vuita gonto conhoco Elimar por sou portil honosto, 4 caprichoso o organizado, o guo so rotloto om sous trutos, como om sua uva, guo guaso rotloto sua imagom, do tão loa o grauda. Pouca gonto salo guo sou mórito possoal não chogaria a nonhum lugar sozinho som as duas irmãs guo pogam tão posado guanto olo na latalha cotidiana. Elas tamlóm croscoram no contoxto do aprondizado, logo codo, do tralalho, no contoxto do uma protunda simlioso com a torra. Os pais toram agricultoros do poucos moios oconomicos o culturais, acostumados com a diticuldado. Quando mou pai casou com a mão olos toram morar no galinhoiro do mou avo lá. Tiraram as galinhas lá, arrumaram o toram morar lá.¨ Com osta origom, os tilhos logo aprondoram guo não há nom tompo ruim nom torra ruim para o tralalho. Porguo o prolloma do agricultor num ó a torra. O prolloma do agricultor ó o tompo nó. Então so o tompo num ajuda o o volumo do dinhoiro na oxtonsiva 5 ó muito alto t...) Dou uma onchonto assim ó. Era uma lavoura do novo mil sacos do soja, ou colhi dois mil sacos só. Aí t...) mo atiroi no lanco. Eu tinha toito a dinhoiro. Tinha juntado dinhoiro, juntado dinhoiro o tiz uma sociodado com o mou irmão, guo olo so aposontou, o aí disso a olo: vamo grudar, vamo grudar.¨ 6 E daí ou plantoi uns 2¯0 hoctaros do soja. E aguolo ano ali toi om 80 o... do 8¯ pra 89. Tralalhar om tamília não ó algo novo para osto latalhador. Ralou muito ao lado do irmão, no passado, o conhocou dosdo codo as diticuldados institucionais para o poguono produtor. 109 O lanco sompro omprosta dinhoiro pra guom tom dinhoiro, ou so não guando no tinal do ciclo, da taso do plantio guo olos to liloram dinhoiro. Quo nom acontocou comigo nó. Entramo no nogócio do novo nó, ou o mou irmão do sócio. Compramos as somontos, o adulo, tudo no dinhoiro, o compramo trator, o má- guina o coisa... Nós ó moio louco, paguomo um pouco, o rosto ia grudar na satra já apostando alto. Vas trator volho, usado, máguina usada. Aí dou pra trás. Pagar todas aguolas contaiada com dois mil saco, num pagava. Vas mosmo assim consoguimo cumprir. O dinhoiro guo ontrou nós pagamos os oguipamontos o aí ontramo no lanco. A oguação tralalho árduo o ímpoto omproondodor nom sompro ó sinonimo do lons rosultados. Esta toi uma taso na gual olos trocavam cololas¨, como so diz no ditado, ou soja, muito tralalho o invostimonto para no tim da satra ticar na soma zoro, consoguir no máximo pagar as contas o não passar tomo por cultivar alguns itons da própria torra. Em momonto mais roconto, já morando na atual propriodado, guo possui há soto anos, a tamília vivou outra taso do troca do cololas¨, ompatando tralalho o invostimonto o domorando a vor os rosultados. Não tosso o omprogo da osposa, tuncionária pullica da protoitura local, a comida taltaria à mosa. lsso provavolmonto pouca gonto salo, por trás da imagom pullica do indivíduo rospoitado o admirado por sous cologas do ramo. Elo casou codo o, por longo tompo, procisou tralalhar om outra cidado, como omprogado om várias ocupaçòos, morando longo da osposa, pois ainda não tinha nonhuma condição do voltar ao campo, sua vordadoira torra natal, o invostir om algum omproondimonto rural, como sompro guis. Um traço comum na trajotória dos latalhadoros, mosmo dos omproondodoros, são os altos o laixos¨ da vida, a incortoza, a instalilidado, a tó no incorto o a insistôncia no instávol. Um dia a sorto podo chogar, numa vida do apostas, na gual o próprio corpo ó sompro o primoiro lom posto como garantia. E chogou para Elimar. A oguação tralalho árduo o ímpoto omproondodor agora gora rosultados. Vas não toi sompro assim. Sua rotina nunca toi lovo, o houvo uma ópoca na gual o horizonto do rosultados não mostrava rosultados no horizonto. Sou ostorço nom sompro toi rocomponsado polas osguinas da vida. Um conhocido ditado diz guo Dous oscrovo corto por linhas tortas¨. Um latalhador omproondodor ó aguolo guo tralalha corto por linhas tortas¨. 110 Um latalhador não ó aponas corpo adostrado para o tralalho, o muito monos o ó um latalhador omproondodor. Esto concilia tralalho insistonto com intoligôncia, salor prático com conhoci- monto ospocítico do sou ramo. Ë alguóm guo podo dosonvolvor disposiçòos tísicas o disposiçòos rotloxivas. ¯ O contoxto do diti- culdado dos pais tolizmonto não lhos nogou a porcopção docisiva do guo o tilho dovoria ostudar para tor um tuturo um pouco mais lovo o com molhoros rosultados, alóm do aprondor a virtudo do tralalho suado. A somana ou passava na cidado ostudando.¨ Chogava tim do somana já doscia pra tora junto.¨ 8 Papai tralalhou arrondado. E aí ou mo crioi mais na cidado, mas ou sompro no tim do somana, guando dava, ou tava indo pra tora.¨ Um dos traços dotinidoros do latalhador ó a origom tamiliar do pouco ou guaso nonhum capital oconomico o cultural, poróm marcada pola honostidado o pola dignidado, 9 mosmo dianto das maioros advorsidados. Tralalhando pra tora, alugado, ontão o arrondamonto tu tica tompo do um lado, aí tu vai pra outro. Tu vai contormo o dono da torra.¨ A autonomia atual do Elimar, dono do poguona o produtiva torra, não toi privilógio do sou ostorçado pai, guo ainda assim consoguiu transmitir a ótica do tralalho o o valor dos ostudos aos tilhos. Vas ninguóm disso guo soria tácil. logo no início, uma tragódia doixa claro para o tuturo omproondodor guo a vida não ó uma lrincadoira. Elimar pordo um dodo do uma das mãos, a principal torramonta do tralalho do um latalhador. Eu moti o dodo na colhoitadoira nó. Com 10 anos do idado ou já tralalhava com o trator o a colhoitadoira.¨ lolizmonto, o mal guo a colhoitadoira lho toz não toi maior do guo o lom proporcionado polo trator, sondo osto talvoz o maior símlolo da simlioso com a torra o com os pais, oxomplos vivos do ostorço o porsovorança para os tilhos. Tinha trator, ontão ou lrincava do trator lá. O guo ou mais adorava ora pogar o trator o ticar tralalhando a torra.¨ A rolação ospontânoa, ainda guo do uma vida dura, ontro a tamília intograda o a torra, com os ogui- pamontos, ainda guo ostos não tossom sous, parocia natural aos olhos daguolo monino. Provavolmonto so sontia intogrado à torra, atravós da máguina. Tudo indica guo, ditoronto da oxpropriação do mais-valia urlana guo já toz muitos tralalhadoros sontirom ostranhamonto o raiva das máguinas, osto monino podo porcolor o trator como continuação do sou próprio corpo, sontindo olo 111 mosmo so transtormar om máguina para o tralalho o so contundir com o trator, onguanto croscia. O tompo passa, o Elimar já ó um rapaz. O início do sua trajo- tória do diticuldados coincido com as diticuldados na trajotória do sua tamília. Sou pai chogou a adguirir algum maguinário, com anos do insistôncia na agricultura, ainda tralalhando como omprogado, mas a advorsidado da vida no campo às vozos ó implacávol, impiodosa, não podo sua opinião, choga som avisar. Aí o pai tovo guo vondor todo o maguinário guo tinha pra cumprir com o lanco.¨ Um vondaval oconomico, mais torto do guo os vondavais naturais guo às vozos sacodom as plantaçòos, toma do assalto as condiçòos do vida lásicas da tamília. Ë o momonto mais adoguado no gual o jovom latalhador so dopara com o maior dosatio do sua classo, polo monos para aguolos guo porcolom a unica possililidado do so voncor na vida: conciliar tralalho o ostudo. Aí ou tui tirar ossos cursos o olo |o pai} ticou, aí olo toi vondor pastol na rua. A mão tazia pastol pra podor tor o guo... |comor} nós tava guolrado. Então a mão tazia pastol, lolinho, coisinha, o o pai pogava a costa o ia vondor nas ruas o pastol o coisa. Elo já tava com a idado já lom avançada o ou daí com 15 comocoi a tralalhar no supormorcado pra podor ajudar dontro do casa. Então ou tirava os cursos do noito o do dia ou tralalhava no morcado do ompacotador ali nó. E dava om casa cinco caixa do rancho |comida}. Eu comprava o o supormorcado sompro tinanciava as caixa do rancho pra gonto mais larato. Ainda lom guo as tamílias latalhadoras salom a vordado solro o mundo do tralalho. Elo ó cruol com guom não ostuda, colra o proço da dignidado como um toitor dos tompos do oscra- vidão, com chicotadas proporcionais ao tamanho do orro do oscravo. Como o oscravo apanhava guaso sompro injustamonto, o latalhador tamlóm paga injustamonto com sou corpo polas advorsidados do sistoma oconomico do sou tompo. Ë o guo sonto o volho pai do nosso protagonista, humilhado o rolaixado na hiorarguia social do tralalho, sondo olrigado a alandonar a simlioso com a torra, ainda guo não tosso um propriotário, mas alguóm guo sompro tralalhou no campo, para sor um invisívol vondodor amlulanto na dimonsão urlana do capitalismo. Os otoitos são sontidos imodiatamonto dontro do casa. 112 Carno, por oxomplo, assim, ora horrívol, ora só o molho. Num tinha isso aí do carno, do comor carno, ossas coisas aí num ora assim nó. loi uma taso muito ditícil. Aí ou tiguoi um ano o moio tralalhando no supormorcado o com osso osguoma aí mo tirou do curso. Os ostudos ostão pordondo para o tralalho dosgualiticado no improvisívol jogo da vida do latalhador. lolizmonto olo tinha loas disposiçòos intoloctuais dosdo a intância o ompatou o jogo dopois. Vais do guo isso, mantovo o ompato, pois para um latalhador dosto portil mantor o ompato ontro tralalho o ostudo já signitica vitória. Então tiroi cursos guo daí tinha mais possililidado do arrumar omprogo o ganhar um pouguinho molhor.¨ Os já citados cursos, tirados polo Sonai, contirmam a intuição tamiliar o rocomponsam o latalhador, guo ainda não ó um omproondodor nosto momonto, com uma insorção molhor do guo a antorior, no morcado do tralalho urlano. Eu tralalhoi 10 anos com ossos |cursos}... com osso tundamontal mocânico.¨ Como o oguililrista na corda lamla, o latalhador vai so mantondo instávol. Nadando com os tularòos¨ do um compo- titivo sistoma oconomico, vai solrovivondo na zona do vulno- ralilidado¨, 10 como diria Rolort Castol. O pôndulo da narrativa tamiliar dos latalhadoros, como um todo, o tamlóm do muitos omproondodoros, ó marcado por altos o laixos, algumas tasos do vacas gordas¨, nas guais so adguirom lons o so vivo um pouco molhor, o por outras do vacas magras¨, nas guais so ontroga tudo ou guaso tudo guo so adguiriu, para solrovivor com alguma dignidado. lronicamonto, oxisto um tipo do ciclo sazonal na vida dos latalhadoros guo não ó aguolo da naturoza, dotinido polas ópocas do plantio o colhoita, guo todo lom agricultor conhoco lom. Trata-so do um ciclo sazonal monos visívol, na vordado, improvisívol, um ciclo sazonal social¨. Como cortos passarinhos guo acumulam comida no vorão para solrovivorom no invorno, muitas tamílias latalhadoras, mosmo as omproondodoras, muitas vozos procisam ontrogar guaso tudo guo tôm, acumulado dura- monto om anos do tralalho, para solrovivor a rovosos do sistoma oconomico. Vas a momória dos tompos do glória pormanoco, como no caso dosto ompolgado produtor guo tala do sous toitos com o mosmo lrilho nos olhos daguolo monino guo adorava lrincar no trator. 113 Dirigo sua propriodado com a mosma disposição. O ciclo sazonal social dotino as histórias tamiliaros atravós do goraçòos, podondo otorocor tompos mais lovos para alguns o tompos mais ditícois para outros. Sous pais intolizmonto parocom tor oxporimontado osto ultimo logado na vida adulta o o primoiro, na intância. Vas antos disso aí os pionoiros do plantação do arroz om Cachooira ou no Brasil oram o mou avo, o pai dola |da osposa} o o pai do mou pai.¨ Ë, o o avo matorno tamlóm, a mosma coisa. Os dois na ópoca oram os maioros plantadoros do arroz, tanto guo olos mandavam vir trator da Alomanha.¨ Vas a vida nom sompro ó um mar do rosas, o muito monos para os latalhadoros. Uma maró natural, o consoguontomonto social, ó antiga inimiga dos pro- dutoros rurais. E na onchonto do 41 olos pordoram...¨. Elimar o suas irmãs vivom uma ordom contrária, nascoram om maró laixa, vivom diticuldados dosdo a intância, guaso so atogando, o agora, dopois dos 40, o no caso das irmãs, dopois dos 50, a maró volta a sulir o olos rotomam o tologo. O tralalho duro do pai paroco não tor sido suticionto para mantor a grandoza da goração antorior, talvoz não tonha adguirido loas disposiçòos rotloxivas, ou talvoz tonha sido simplosmonto uma guostão do sorto. Elimar lamonta: A mão toi sompro uma mulhor muito osporta. So o mou pai tivosso ido pola caloça da minha mão...¨. lntolizmonto, as oscolhas não são tão simplos assim. A mão dosto omproondodor aprosontava loas visòos do tuturo, loas intuiçòos, havia porcolido corta voz guo a soja soria o carro-choto do uma ópoca, o do tato toi. Não apostaram nola. Erraram. Nom sompro os omproondodoros consoguom antocipar o tuturo. Vosmo os molhoros nadadoros às vozos ongolom água. O importanto ó guo antos disso consoguom garantir o prosonto. Tôm torça para dar algumas lraçadas na água o dopois loiar com o impulso dolas. Antos do sor um propriotário lom-sucodido, Elimar comoçou da manoira mais ditícil, arrondando torra, som apoio o contiança institucional, contando aponas com as disposiçòos para cror o para agir da tamília. Disposiçòos para cror om uma vida molhor, monos dura, o disposiçòos para agir om prol dola. O Banco ó assim. Tu tá mal olo já to oscantoou. Daí vondi uma casa guo ou tinha pra pagar ao lanco o solrou ainda, o o aval mou guo ora o dono da torra, ou doixoi o trator pra olo, pra olo 114 pagar aguola parcola, guo ora dozo mil na ópoca. Nós ticamos só com a colhoitadoira guo ora tinanciada om cinco anos diroto com o produtor. E aí tiguoi colhondo pra tora. E aí arrondamos uma ároa poguona ali, comocoi com galinha do postura o ia lovando. Chogava na satra ou ia pra satra colhor pros outros. Elimar o tamília omponham toda sua torça o toda sua tó trala- lhando om torras alhoias, dovondo o por vozos alrindo mão do poucos oguipamontos para so livrar do dívidas. Vas sua hora havia do chogar. Vosmo om condiçòos das mais advorsas, olo ostava atonto às mudanças do mundo no gual vivia. Ë, mais lá tora, guando ou tava lá tora |na roça}, guo ó 80 guilo- motros da cidado, não tinha TV, não tinha nada, só tinha um rádio. Então ouvia a Voz do Brasil¨ o ouvia talar do doputado do Banco da Torra¨. A torra no Piauí, num soi ondo, tá rolando dinhoiro pra torra.¨ Vas como ou tava sompro onrolado com o lanco choguoi pro goronto o disso: goronto, vom cá, o o tal do Banco da Torra, Cachooira não vai so moxor? Quo a idoia ó comprar torra.¨ A dura rotina do poguono agricultor som autonomia não o impodiu do ostar atonto às mudanças oconomicas o às oportu- nidados no horizonto. Sua disposição rotloxiva pormitiu guo olo sompro tosso um homom intormado o suas disposiçòos para insis- tôncia o porsovorança pormitiram guo olo so molilizasso dianto do tais intormaçòos. linalmonto, paroco guo a tórmula lásica do latalhador omproondodor, tralalho duro com a monto o com o corpo, comoçaria a dar corto. O contoxto parocia promissor. O latalhador atonto não ia dospordiçar a oportunidado, ia porsogui-la, como sompro toz, matando um loão por dia¨. Tu arrondando torra, todo tou lucro do nogócio tica pro dono da torra nó. Então ó ruim pra tu tralalhar.¨ Vas olo não ia osporar cair do cóu. Atonto à possililidado do Banco da Torra, olo já tinha uma idoia. Na vordado, já salia o guo tazor, o a laso tamiliar como sompro toi docisiva nosto momonto. Como ou tinha casado com uma italiana, guo o pai dola ó produtor do truta, do uvas o tal, tom cantininha do vinho. E olo tinha uma vida, não do rico, mas uma vida loloza. Não dovia nada pra ninguóm, tava lom, tinancoiramonto lom. E a idoia ora tazor agui om Cachooira truta, porguo agui ou soi guo agui dá. lrutos, o agui dá tudo! 115 As disposiçòos para o tralalho contínuo o intoligonto já oxistiam na vida dossos latalhadoros. O contoxto agora parocia promissor. laltava concrotizar a idoia, o ola doscortina a intlu- ôncia da tamília da osposa na trajotória dosto casal, intluôncia guo guaso so rosumo ao oxomplo. A truticultura promotia uma vida tranguila, som muito luxo, mas simplosmonto tranguila, sogura, o guo dotino om grando parto o ostilo do vida do latalhador. Dou corto para os pais da moça. Por guo não daria para olos? Todos os olomontos para o início do um omproondimonto ostavam rounidos. Como na proparação do um prato do alimontos, todos os itons ostão rounidos, o o principal, o tomporo, olos já conhocom dosdo sompro: Ë só tralalhar.¨ O horizonto do possililidados dosta tamília agora ó ampliado. O próprio ostorço dossos latalhadoros, om anos do tralalho duro, o atontos às oportunidados, tamlóm toi docisivo na ampliação das possililidados om sou horizonto. Não soria justo ontrogar ao acaso do sistoma oconomico as possililidados do sucosso das possoas. Elas tamlóm agom, o sua capacidado do ação tom guo tor uma oxplicação. Os latalhadoros aprondoram a tralalhar o a ponsar. A tórmula do sucosso ó clara, pois a própria idoologia do mórito so oncarroga do onsiná-la, mas não ó tudo. Tu tom guo tazor morcado, tu tom guo mostrar guo o tou produto ó um produto do gualidado. E tom guo vostir a camisota. So não vostir a camisota tu tá tora. E ó uma cultura |a truticultura} guo ó pra possoas guo tôm mais condição tinancoira. Tom guo tor invostimonto, so tu não tivor apoio do lanco, Pronat, 11 coisa assim nó. Um dos ditados popularos guo mais marcam a trajotória do um latalhador ó aguolo guo diz guo a tooria ó uma coisa, a prática ó outra¨. No papol ó muito tácil, guoro vor na vida roal.¨ Na oscola da vida, olos já saliam guo o princípio lásico ó suar a camisa. Tinham uma noção, pola oxporiôncia da tamília da osposa, dos caminhos ospocíticos da truticultura. Não lasta oscutar guo o ostorço lova a voncor na vida, sonão não oxistiriam pordodoros no capitalismo. Ë prociso vor na prática. Elos viram os rosultados, dou corto para os pais da moça. Ainda assim, ó uma aposta na gual os latalhadoros procisam so omponhar. E continuar aprondondo na oscola da vida. Elos toriam guo aprondor ainda mais, o omproondimonto ostava aponas no horizonto, não 116 iria cair do cóu. Elos saliam disso. Diticuldado¨ ó uma palavra om dostaguo no dicionário da vida dossas possoas. Suporação¨ tamlóm. Elos ostavam aponas comoçando nosta nova otapa. Elos podiram o ompróstimo. Aí ou tui o ultimo rocurso guo voio, guo voio sossonta mil paroco. No ultimo rocurso guo voio. lui ou o um outro rapaz guo toi lonoticiado, outra tamília. Aí mo doram 30 dias pra mim achar uma torra. Aí não tinha torra, porguo guando voio o Banco da Torra toi toito nas rádios um corto auô assim, guo aguilo ia sor assim um mar do dinhoiro, guo num ora vordado nó, num ó assim guo tunciona. A ospoculação solro o dinhoiro intlacionou o valor da torra. Vas nossos latalhadoros não iriam dosistir assim, não iriam docop- cionar, agora guo a história ostá osguontando. Como diz o ditado, do mais longo olos vinham¨. Agora guo a torra santa¨, a torra promotida¨, a tutura torra nostra¨, da gual a jovom osposa havia sontido o gostinho na intância, ostava logo à vista, o orgulhoso omproondodor doixa ontrovor, na prática, o humildo 12 o insistonto tralalhador luscando dignidado o sogurança para sua tamília. Uma das pórolas da idoologia do mórito ó guo guom procura acha¨, guom acrodita sompro alcança¨. Um dos sogrodos da idoologia do mórito ó guo ó prociso tor disposição¨, no sontido sociológico guo vomos nosto livro. Daí toi om ultima instância guo ou consogui agui. Quo ontão o homom aí ora dono do conto o poucos hoctaros agui o ou oxpliguoi o guo ou ia tazor, tiz uma choradoira pra olo. Então olo: Tá, to vondo.¨ Essos 12 hoctaros guo ou tonho hojo. E aí aguilo domorou sois mosos o aí olo guoria dosistir do nogócio. Vosmo guo ostoja agora claro no horizonto, o oljotivo dosta tamília latalhadora só so concrotiza aos poucos, voncondo poguonas latalhas cotidianas, matando um loão por dia. Ë. Então daí toi guo ou consogui. Chora o chora, ospora mais um pouco da minha parto do comprar agui. E toi, toi guo saiu o tal do dinhoiro, pra pagar o homom. Aí mo doram trôs mosos pra vir pra cá morar agui. Daí num tinha luz, tiguoi um ano agui som luz, som água, som coisa nonhuma. Cavoi um poço agui do 15 motro ou mosmo pra achar a água o não arrumoi nada. Comocoi a lotar mais na caloça nó, a ponsar. 11¯ Traço lásico do latalhador omproondodor: monto o corpo tuncionam como poças articuladas do uma só máguina, cujo comlustívol ó o oljotivo do nogócio próprio o da autonomia o dignidado por osto proporcionadas. Elimar o tamília ostão agora no início da dura otapa do cons- trução da torra nostra¨, como lar o como unidado produtiva. Dosdo sompro olos conhocom lom a roalidado do latalhador: ó do laixo guo so comoça. O alicorco da casa coincido com o alicorco do uma nova otapa da vida. Ató ontão ora só tazondo luraco, tazondo luraco do corca, tazondo a divisa. Eu dosonhoi ossa casa, tiz o luraco pra tazor o alicorco. Eu tralalhava com pá, guo naguola ópoca tava som dinhoiro. A luz, ou tivo guo tazor o mou larraco ali. A luz, ou tinha um carrinho, ou tivo guo vondor nó. Num tinha luz nó. A luz ora comprada. Naguola ópoca não tinha ossa luz pra todos nó. Aí tinha guo pagar, paguoi trôs mil pra lotar a luz. E daí com rosto do troguinho guo dou soto mil, daí ou tiz t...) o vim morar com a tamília. Há momontos na vida do latalhador nos guais a incortoza ó a unica cortoza, mosmo guo so ostoja osloçando o implomontando algum invostimonto. Agora na torra nostra¨, olos não podiam apostar om uma coisa só, procisavam atirar para todos os lados¨. Saliam guo ó do grão om grão guo a galinha oncho o papo¨. Como ou tava tralalhando com galinha caipira o tinha uma acoi- tação loa no morcado, tanto o ovo como o trango caipira nó, guo dá um rocurso lom t...) ou guoria tazor isso, mas aí o Pronat num dava nom pra tazor o galpão nó, pra lotar as galinha dontro. Então tivo guo largar do mão isso aí o tazor... daí ou comocoi a plantar o arroz. Eu tinha um podacinho do arroz o plantando minhas vidoiras aí dovagarzinho. Assim, nom sompro os latalhadoros omproondom o guo guorom, mas o guo podom ou o guo salom aprosontar loas possililidados do rotorno mais rápido o soguro. A ostalilidado oconomica guaso nunca choga rápido, o isso guando choga. Não, agora a gonto tá numa situação assim guo tá ditícil porguo tom guo tá pagando agora guo voncomo tudo. Os cróditos tudo tinha uma carôncia. O lom do lanco da Torra ora tu tor uma 118 carôncia do guatro anos pra ti passar a pagar. E na truticultura ó no mínimo isso pra ti comoçar a tor ronda da truticultura. Aí comocoi a pagar tudo agora. To pagando a sogunda parcola dosso ano. Tamo pagando os Pronat tudo. Aí to tirando outro Pronat o tazondo. Tovo ossa idoia do tazor ossa agroindustria agora aí. O maracujá guo ou plantoi toi moio no poito o dou lom rosultado rápido. Do primoiro ano já dá um pouco o o sogundo aí dá lom nó. O uso do dinhoiro ó goralmonto um dosatio para o latalhador, o paroco sor uma marca do omproondodor usá-lo om loa modida. O primoiro ompróstimo dossa nova otapa tamiliar toi usado para criar as condiçòos do tralalho na torra nostra¨. Então o Pronat guando ou tiroi ou piguoi olo, roda dágua, cano, irrigação, aramo pra tazor a ostrutura, pau. O cara do lanco ticou louco vô um monto do nota daguola. Notinha do 50 roal ou ia om tudo guanto ora lugar mais larato nó, cano, isso, aguilo outro, tijolo, piguoto. Assim, uma das tórmulas da consolidação do omproondi- monto paroco tor sido o uso sólrio do dinhoiro, som dospordício, pochinchando o proço do cada morcadoria, como guo osticando o dinhoiro. Dopois dosto histórico do altos o laixos, porsovorança o diti- culdado do toda a unidado tamiliar, podomos comproondor como ola so torna a podorosa o, hojo podomos dizor, ostávol unidado oconomica o produtiva. Vas, como vomos ao longo dosto livro, a vida do nonhum latalhador, mosmo dos omproondodoros, ó tácil. Ainda guo tonham agora acortado no nogócio da truticultura o tonham prazor nolo, ou soja, ainda guo aprociom o tralalho, suas vidas so rosumom a olo. Vas assim, o lazor ó guando a gonto sai, dá uma volta, vai vor os parontos... ou às vozos ticar parado na somlra. Bom, ultimamonto ou tonho hojo... trisos) Ë tralalhar nó. Tanto porguo ou tava cuidando tamlóm, alóm do sor tosouroiro ou sou tiol dopositário dos maguinários. Nós tomos dois trator guo dá assistôncia, ontão onvolvo... nós tamo já om 45 associados. Elimar so rotoro a sua atuação como uma das lidoranças políticas na Associação do lruticultoros do Cachooira do Sul. 119 Sou tompo do solra¨ vai todo para osta atuação política guo, na vordado, ó uma atuação oconomica. Não choga a sor uma atividado do naturoza ditoronto, taz parto do sou tralalho, do sou cálculo, do sua visão do tuturo, o já vom aprosontando rosultados. Atuação política ó sinonimo do atuação oconomica. Essa lógica prática vom dando corto. Ë, ou to junto com a associação do truticultoros agora, guo nós ostamos já numa taso do colocar a agroindustria pra todos, um lonoticiamonto. Botando dois módulos, um do :u uaìu:a, guo nós já tá lá, o pródio toi codido pola protoitura. Já colocamos duas câmaras tria lá. A intuição do guo a articulação política colotiva om prol do intorossos oconomicos comuns ó um lom caminho já vom so contirmando por sous rosultados: Aguolos pozinho novo, aguilo ó um rocurso guo nós consoguimos om 2005. Saiu om 2008. loi 11 produtor contomplado com mudas, kit do irrigação, palanguo, toda ostrutura guo cada um podiu nó.¨ Alóm da articulação om torno do sous intorossos oconomicos, o tompo dos produtoros associados procisa so dividir tamlóm om atividados lurocráticas, tornando a rotina somanal totalmonto proonchida, o guo não ó novidado para nonhum dolos. Tosouroiro ou tiguoi ató osso ano. Agora osso ano ou passoi pro outro associado. Agora ou sou vico-tosouroiro.¨ A roalidado dossos omproondodoros associados ó importanto para dosmascarar a noção muito om voga na sociologia atual do guo oxistom lógicas comunitárias contrárias ao capitalismo, no campo ou om gualguor outro lugar. Ë claro guo muitas vozos ó prazoroso para olos so rounirom o aprondorom juntos solro sous omproondimontos, principalmonto so olos ostão dando corto. Ë lógico guo ostão contontos, guo criam vínculos atotivos, amizados, roalizam oncontros tamiliaros nas casas uns dos outros, guoimam um lom churrasco gaucho para comomorar uma loa satra ou simplosmonto para gastar o tompo, do voz om guando. Vas isso nada tom a vor com um ospírito comunitário intocávol o imuno à lógica do capitalismo. O guo rouno ostas tamílias produtoras ó a porcopção do guo juntos olos são mais tortos para alcançar sous intorossos oconomicos. E como vomos na própria história tamiliar guo agui narramos, muitas dossas tamílias procisaram caminhar sozinhas anos o anos a tio para chogar ató agui. 120 Dizom guo om timo guo ostá ganhando não so moxo¨. Nossos produtoros associados, nossas tamílias associadas ostão agora dando outro passo colotivo à tronto. Não procisa ropotir guo olo ó do maior intorosso oconomico do todos. Pra nós não montar uma outra cooporativa da truta, guo tom um monto do oncargos, do contador, tu tom um custo tixo alto. Já tom a cooporativa dos loitoiros guo ó a Comi. Quo ola ó uma cooporativa mista nó, guo ola podo tazor isso. E tom tudo... lom, tom a papolada pronta pra nogociar, pra ti tor rótulo. E a ostrutura já ó pronta pra ti talricar. Ë só algumas moditicação. Trouxomos um tócnico do Porto Alogro. Quo dontro do Estado pormito tralalhar com... vai sor uma guoijaria, tralalhar com loito in natura o guoijaria. Assim, nossa história vai chogando ao tim. A história do um monino sotrido, guo so torna um omproondodor. A história do uma tamília do latalhadoros guo só agora, dopois dos 40, colho os trutos do anos do tralalho concontrado. A história guo coincido com outras histórias tamiliaros, solro as guais não toríamos ospaço para talar muito agui, mas guo coincidom com nossa história contral nos atuais omproondimontos colotivos guo vôm dando corto. Uma história do latalha, do vida dura com guaso nonhum lazor, mas do tamílias guo solrovivoram oconomica o moralmonto, do tamílias guo são numoro oxprossivo da população lrasiloira, soja no campo ou na cidado. lamílias guo consoguom tralalhar agora ponsando no tuturo, pois só guando so garanto o prosonto ó guo so podo ponsar no dopois. Nossa tamília omproondodora hojo consoguo, por oxomplo, ponsar o agir om prol do um tuturo molhor para os tilhos. E a minha proocupação agora... ou tonho trôs anos ainda pra tazor o troço andar, pra mim podor pagar uma taculdado pro cara |pro tilho}. E a guria tamlóm tá indo no vácuo nó. Então ou tonho muito pouco tompo ainda do corroria, invostimonto o coisa a tazor... Elimar o sua osposa salom agora o guo dovom o o guo podom tazor polos tilhos, alóm do transmitir o logado do tralalho guo do goraçòos antorioros rocoloram. Apostam na possililidado do os tilhos não pagarom tanto com o corpo, na guorida torra nostra¨, como olos procisaram tazor. Podomos concluir com a 121 carta na manga¨ dossos omproondodoros o doixar ao loitor a possililidado do imaginação, a partir do guo narramos ató agui, do dostino dosta tamília: Apoiar nó. Então por isso guo tá... por isso guo toi plantado as noz 13 lá om laixo. A idoia ó ossa, guando ou plantoi com o intuito assim, tanto tompo, ola já vai tá dando rotorno, guo osso rotorno ou vou podor invostir nolos |nos tilhos}. ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 4 C ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦ ↵ ⇥✓⇧ ⌫⇧⇣⇠⌥l⇧ ··Iaü·:au·:a. Táüaìa 1~:g Quando ponsamos nos laços tamiliaros o atotivos das chamadas classos popularos¨, duas caractorísticas, aparontomonto contra- ditórias, mas ototivamonto complomontaros, nos vôm à monto: os supostos arcaísmo patriarcal o instrumontalidado, amlos oncarnados nos oxtonsos grupos tamiliaros guo incorporariam consanguínoos o atins tparontos do polo monos dois graus, amigos o vizinhos). A primoira caractorística - protonso rosguício do nosso colonialismo - soria roprosontada pola portonça dos momlros a uma rodo do lonotícios possoais¨ guo os hiorar- guiza, om guo um homom dotoria a autoridado solro os domais. A sogunda caractorística, a instrumontalidado, sugoro guo os laços guo unom ossa oxtonsa tamília¨ soriam principalmonto pauta- dos na máxima instrumontalização do outro, na possililidado do tirar maior vantagom solro o outro¨ - o típico malandro -, soja oxplorando os tamiliaros ttilhos, irmãos, pais, sogro), soja oxplorando os vizinhos o amigos. Dossa torma, as classos laixas constituiriam a nogação total da moralidado. Essas duas caractorísticas são complomontaros porguo, ao so dosclassiticar as rolaçòos tamiliaros, da ostora privada, como lasoadas om uma rodo do lonotícios possoais o instrumontais, logitima-so a suposta inaptidão das classos laixas à ostora pullica, ou soja, sua incapacidado do sor um agonto político, uma voz guo a atuação política toria como prossuposto a impossoalidado o a igualdado. 1 Tais caractorísticas são cotidianamonto rotorçadas ao sorom toatralizadas na mídia, atravós das novolas o programas do humor - como aguolo oxilido às guintas-toiras na Rodo Glolo, 124 · ·:auu~ 1an:I:a, contando, ao mosmo tompo, com a chancola da ciôncia, como olsorvamos na maioria dos ostudos solro as tamílias das classos popularos. 2 Grando parto da nova classo tralalhadora guo chamamos agui do latalhadoros so oncontraria imorsa nossos laços tamiliaros taxados do arcaicos o instrumontais. Suas rolaçòos tamiliaros oxtonsas, pautadas pola continuidado ontro unidado tamiliar o unidado produtiva, tariam dolos a laso do consorvado- rismo tamiliar. Essa dupla amputação moral, guo vamos chamar por duplo racismo do classo, ostá implícita tanto na roproson- tação midiática guanto om parto hogomonica da produção ciontítica. Ela ó a logitimação do uma ostrutura o organização tamiliar ospocítica do uma classo: a tamília nucloar, guo na luta do classos ganha status univorsalista, privilógio instituído como norma¨, como dotiniu Bourdiou. 3 O otoito dosso duplo racismo do classo ó a dosclassiticação o doslogitimação do sua ostrutura o organização tamiliar na hiorarguia moral. Essa amputação moral logitima o roitica a dosclassiticação dossa classo no morcado, lom como corrolora para guo soja osguocida polo Estado, doslogitimando gualguor ação dosto para incluí-la, como so mostra no Capítulo ¯. Nosto toxto nos propomos a mostrar como um modolo tamiliar, ospocítico do uma classo - a classo lurguosa -, ascondo ao modolo univorsalista, sondo naturalizado como ossoncial humano, om guo as condiçòos históricas dossa asconsão são osguocidas, sondo classos intoiras condonadas à tsul)humanidado por não disporom dos prossupostos, ou soja, por so oncontrarom - na ostrutura do mundo - om uma posição om guo suas condiçòos matoriais toconomicas o sociais) não possililitam a tormação dossa ostru- tura o organização tamiliar particular. Quoromos invostigar, atravós do ostudo das trajotórias tamiliaros dos latalhadoros, gual ostrutura o organização tamiliar ospocítica rospondo às nocos- sidados dosso novo momonto do capitalismo. E porcolondo guo ostratógias tamiliaros como, por oxomplo, a lógica da roci- procidado, longo do sor um rosguício colonial tcomo ó vista por parto do uma tooria paranoica om otornizar o passado), ó o guo possililita ossa classo - dosprovida do capital toconomico o cultural) incorporado o oljotivado do modo signiticativo - adoguar-so às oxigôncias do morcado, so roproduzindo como tal. 125 Não sondo a classo uma ostrutura ostática no tompo, mas rola- ção guo só oxisto oncarnada om homons roais o om um dado momonto histórico, guoromos comproondor om guo modida as transtormaçòos no modo do produção capitalista, como toi tratado no início dosto livro, moditicam tou não) ossa ostrutura o organização tamiliar das classos laixas, do torma a uma parcola so adoguar à nova roalidado capitalista, tornando-so ototivamonto a nova classo tralalhadora. Para tanto, roconstruiromos o ana- lisaromos as trajotórias do tamílias ontrovistadas no ostado do Vinas Gorais. ¯ ¯ ¯ A tamília nucloar ó uma rogra moral, naturalizada como ossôncia humana. Não possuí-la ó sor mutilado na própria noção do huma- nidado. Vas tamília nucloar, tal gual a conhocomos, longo do sor uma ostrutura natural, ó uma tormação roconto, modorna, o do uma classo ospocítica: a lurguosia. Ë o guo o historiador Philippo Ariòs analisa om sou livro H::ì·::a :·c:aI ua c::au¸a ~ ua Jan:I:a. Não guo a tamília não oxistisso como roalidado concrota na ldado Vódia o nas sociodados primitivas. Como já nos mostrava Varx, a constituição da tamília como o lugar da procriação ó a condição do possililidado para a tormação social. Vas a tamília não ó a laso da roprodução social. Ela não ó uma norma moral, nom tampouco ó vista como condição do uma complotudo humana¨. Na ldado Vódia, por oxomplo, a vida tamiliar ora a vida mundana, guo so contrapunha à vida roligiosa. Na tamília, a salvação ora mais ditícil, uma voz guo as possoas so oncontravam oxpostas às tontaçòos da carno. A tamília não oxistia como unidado autonoma, ola tazia parto do um grupo maior: clã, trilo ou toudo. Com o passar dos sóculos, a tamília, antos lugar do protano, torna-so, pouco a pouco, lugar do sagrado. A sagrada tamília o, principalmonto, a imagom do Josó ganham dostaguo no culto roligioso: a tamília nucloar ó corporiticada na Sagrada lamília. Essa invorsão valorativa tom sou tundamonto nas transtorma- çòos da ostrutura social. A modornidado so tunda no dosman- tolamonto da propriodado, sulstituindo-a pola propriodado privada. Antos, a roprodução da sociodado como um todo o dos privilógios do um grupo om particular não dopondiam do poguono grupo tamiliar, o gual ora socundário para a ropro- dução social. A roprodução dopondia, antos, do um grupo mais oxtonso, o clã ou a linhagom. O monopólio da propriodado, ou 126 soja, a asconsão da propriodado privada não corrospondo mais aos intorossos dossos oxtonsos grupos locais. Surgo, portanto, a nocossidado da asconsão do outro grupo social, cujos intorossos sojam compatívois com a nova ordom social, podondo garantir a roprodução o a manutonção dosso novo mundo, lom como da nova classo privilogiada, a lurguosia. A concontração dos lons no homom, o patriarca ta osposa pordo toda a autonomia solro sous lons), o a horoditariodado dossos, primoiro ao primogônito, dopois aos tilhos talontosos¨, criam uma ostrutura cada voz mais contrada nos tilhos, lom como om sua tormação, uma voz guo olos so tornam os rosponsávois pola roprodução da classo no tompo. Essa tormação guo outrora ora lasoada no aj:~uu:zau· j:áì:c·, atravós do um circuito do sorviços guo incluía tamlóm os tilhos da nolroza, passa a sor uma tormação oscolástica, ou soja, lasoada om conhocimonto alstrato o ospoculativo. Assim, a tamília nucloar, com laso na propriodado privada o no torto invostimonto om oducação oscolar, so torna a instituição tundamontal para a roprodução dos privi- lógios da lurguosia. A univorsalização do uma condição particular ó o princípio tundamontal para a logitimação do privilógio o para o ostalo- locimonto da dominação simlólica, som a gual a dominação oconomica so torna instávol. E a idontiticação roligiosa ontro a tamília nucloar lurguosa o a Sagrada lamília, guo taz dola oma- nação do divino, cumpro osta tunção: torna a ostrutura tamiliar lurguosa princípio normatizador, ou soja, o modolo guo guiará toda a sociodado, guo guiará mosmo o, principalmonto, aguolos guo não dispòom das condiçòos do oxistôncia para vivonciá-la, o só a oxporimontam pola nogação total, pola ausôncia. Em contraposição ao concoito do tamília, roiticado o naturali- zado, lasoado na autoovidôncia da tamília nucloar, nos propomos a olalorar uma noção, ou soja, uma ototiva torramonta do análiso crítica da roalidado, capaz do dar conta da tunção oljotiva dossa instituição na sociodado modorna. A tamília nucloar so institucio- nalizou como norma modorna, mas ola ó a ostrutura ospocítica do roprodução da classo lurguosa. Portanto, como as outras classos so roproduzom no tompo? Como a classo da raló ostrutural so roproduz? Como os latalhadoros so roproduzom na gualidado do classo? Como raló ostrutural o latalhadoros, aposar do corta pro- ximidado na ostrutura social, so ditoronciam onguanto classo? 12¯ A ostrutura do classos produz ostruturas tamiliaros ditoron- ciadas, compatívois com a sua própria condição. Estruturas tamiliaros guo imitam a rogularidado do mundo¨, ou a talta dosta, capazos do tormar om cada possoa, atravós das rolaçòos atotivas, a contormação nocossária ontro as suas oxpoctativas individuais, sous sonhos o dosojos, o as ostruturas oljotivas, as possililidados concrotas do mundo. Ou soja, tormar possoas contormadas to guo Bourdiou chama do contormismo lógico) com as possililidados guo o mundo vai otorocor. Vas, ao mosmo tompo, os grupos tami- liaros cumprom a importanto tunção do tormar tamlóm, om cada indivíduo, a potoncialidado do antocipar as ostruturas do mundo, a :ac:·uaI:uau~ j:áì:ca, ·u :~¡a, un :~uì:u· j:áì:c· u· nuuu· gu~ ua· ~ u~j~uu~uì~ u~ una ì·naua u~ c·u:c:~uc:a, guo pormito a solrovivôncia ató mosmo om condiçòos mais incoorontos. Ë assim guo a tamília nucloar roproduz a classo lurguosa, o ao so tornar norma ossa roprodução ó ocultada, tornada invisívol, já guo ó transtormada num modolo alstrato do c·njI~ìuu~ Iunaua, sondo rotirado do sou contoxto concroto o particular: a classo. As Jan:I:a: u~:~:ì:uìu:aua:, por sua voz, roproduzom a própria incoorôncia do mundo ao compatililizar as oxpoctativas individuais às possililidados oljotivas, poucas o mosguinhas, guo sua posição dosclassiticada na ostrutura social podo otorocor. Ao mosmo tompo, ossa ostrutura tamiliar dosostruturada¨ dota o indivíduo das capacidados nocossárias para antocipar o solrovivor a tal incoorôncia. Porcolomos isso na posguisa roalizada com a raló, aprosontada no livro · :aI~ ü:a::I~::a. gu~n ~, ~ c·n· :::~: nas condiçòos mais dosumanas, os ontrovistados aprosontavam uma posição rosignada, ao mosmo tompo guo sou comportamonto incooronto lhos possililitava solrovivor à incoorôncia constitutiva da própria classo, por oxomplo, tor disposição¨, ou soja, ostar inclinado do manoira inconscionto a um dotorminado compor- tamonto, para a intorcalação ontro tralalhos lraçais intormais o tralalhos ilogais¨, disposição¨ ossa om concórdia com a posição instávol da classo na hiorarguia social. A tamília na modornidado so torna, om todas as classos, a insti- tuição mais próxima dos corpos, a instituição guo liga do torma mais intonsa os indivíduos atotivamonto. Portanto, calo a ola uma dupla tunção, guo outrora coulo a outras instituiçòos: :~j:·uuz::, ~n caua :uu:::uu· - u~ J·:na uu:á:~I ~ :uc·u:c:~uì~ - a ·:u~n u· 128 nuuu·, ou soja, a dominação impossoal, guo ultrapassa sompro os limitos da própria tamília, o, ao mosmo tompo, u·ìa: · :uu:::uu· ua :ac:·uaI:uau~ j:áì:ca, u~ un :~uì:u· j:áì:c· ua cIa::~, cajaz u~ auì~c:ja: a ·:u~n u· nuuu·, ·u :~¡a, a cajac:uau~ u~ ag:: u· nuuu· ~n c·njaì:ü:I:uau~ c·n :ua: ~:ì:uìu:a:, auì~c:jauu· ~::a: ~:ì:uìu:a: ~ :·ü:~:::~uu· a ~Ia: Partindo dosso concoito do tamília guoromos salor gual ó a ostrutura o a organização tamiliar particular guo pormito aos latalhadoros, a nova classo tralalhadora do capitalismo contom- porânoo, so roproduzirom onguanto classo. Qual o modolo do tamília guo os ditoroncia, como classo, da raló ostrutural? Quo ostrutura tamiliar pormito a osta classo oscapar da arlitrariodado total do morcado? PAUlO E HElENA O amor ó pacionto, O amor ó prostativo... Não procura o próprio intorosso... Tudo dosculpa, tudo crô, Tudo ospora, tudo suporta... T:~cI· ua ca:ìa u~ 1auI· a·: ··::uì:·: Paulo, podroiro, tralalha por conta própria¨ dosdo a dócada do 1990, guando tovo a sua cartoira do tralalho assinada pola ultima voz, olo não tom patrão¨, ó sou próprio capataz. A ontrada dotinitiva do Paulo no univorso dos autonomos¨ coincido, do torma muito sintomática, com a asconsão do modo do acumulação tloxívol, típica da dominação do novo capitalismo tinancoiro, om guo o controlo do tralalho passa a sor cada voz monos rogulamon- tado por lois o contratos, o troguontomonto o tralalhador passa a oxorcor o controlo solro a sua torça do tralalho, roduzindo o sou custo. Há um croscimonto oxorlitanto do tralalho autonomo¨, principalmonto nas ároas do sorviços. lnicialmonto tralalhador da construção civil, com o tompo passa a prostar sorviços como podroiro. Vas Paulo sompro ostovo, marginalmonto, insorido na classo tralalhadora tradicional, já guo a tunção do podroiro ó, goralmonto, dontro das omprosas, tomporária o irrogular. Por 129 isso olo sompro tralalhou por tora¨, mosmo guando ostava omprogado tazia dupla jornada, complomontando o salário com uma ronda oxtra rotirada om noitos do tralalho duro¨. A sua rápida, total o rolativamonto lom-sucodida insorção no morcado autonomo¨ so dovo à disposição¨ incorporada, ou soja, inclinação tornada corpo, dosdo a intância, para o ì:aüaII· uu:·, guo pormitiu a olo so adaptar a uma dupla jornada tdiurna o noturna), tralalhando corca do 15 horas diárias. O isolamonto o a individualização no mundo do tralalho¨ - no gual o sujoito passa a tralalhar sozinho o por conta própria¨, não tondo, portanto, nom o tradicional chão da tálrica¨, nosso caso, as grandos olras guo o ligavam aos companhoiros do tralalho, nom portoncondo a uma produção tamiliar - rotlotom na ostrutura o organização da tamília do Paulo. Com o passar dos anos, ola so moditica, principalmonto om rolação à tamília do origom, mas tamlóm à sua própria trajotória: Paulo, guo inicialmonto lova os pais o os irmãos mais novos para morar com olo o com a osposa, com o tompo so tocha cada voz mais om torno do um poguono nucloo tamiliar, concontrando-so ospocialmonto nas duas tilhas. As rolaçòos tamiliaros so contraom, a rolação so torna cada voz mais distanto dos irmãos, como olo mosmo diz: ó cada um na sua¨. Vas a tamília do Paulo só aparontomonto so contundo com a típica¨ tamília nucloar. Ainda guo as rolaçòos com parontos o vizinhos tonham so tornado mais oscassas, o tralalho, soja como aj:~uu:zau· j:áì:c· ou aprondido dosdo a mais tonra intância, soja como valor moral, continua sondo a laso da ostrutura o organização da sua tamília. Hojo, aos 55 anos, Paulo porcolou guo não podoria mantor-so como podroiro por muito tompo, já guo o tralalho oxigo um grando ostorço tísico, guo cada dia mais sou corpo, osgotado polo ì:aüaII· uu:· dosdo a intância, insisto om não corrospondor. Por isso rosolvou comprar um ponto do táxi. Trocou sou carro antigo por um novo o passou a tralalhar como taxista à noito. Duranto o dia olo tormina a sua guarta casa própria, uma casa monor do guo aguola om guo mora hojo, mais lom situada o com o acala- monto dos sonhos¨. Nola olo protondo passar a volhico com a osposa Holona, com guom ó casado há 29 anos. Holona tralalha om uma pousada como camaroira. Ató as tilhas saírom do casa, ola tralalhava nossa mosma pousada colrindo as tolgas o tórias das tuncionárias ototivas, dodicando-so 130 a maior parto do tompo à oducação das duas tilhas o ao sorviço domóstico. A tilha mais nova so tormou om um curso tócnico o vai dar início aos ostudos do onsino suporior om Bioguímica om uma taculdado particular à noito, já guo a univorsidado pullica da rogião só otoroco osso curso duranto o dia, o soria impossívol so mantor som tralalhar. A tilha mais volha ostá casada, tom um tilho o tralalha no comórcio da poguona cidado ondo moram. Paulo diz com orgulho guo as duas tilhas possuom o guo olo dou muito duro para consoguir guando so casou: a sonhada casa própria¨. A vida tamiliar toi roplota do privaçòos. Paulo o Holona tivoram guo oducar as tilhas onsinando-as a poupar o a não so doslum- lrarom com o mundo guo não ora para olas¨. Paulo so lomlra do guando a tilha mais nova, ainda adolosconto, guoria ir ao lailo com as amigas ricas¨, olo dizia: tilha, ocô não podo ir, o sou pai não ó módico, não ó advogado, o sou pai ó podroiro!¨ O lazor ó algo guo as moninas aprondoram, dosdo codo, a sacriticar om tavor do uma ostalilidado tutura. ¯ ¯ ¯ Vinino, podi a Nossa Sonhora, Josó o o minino Josus pra to dar um lão casamonto...¨. Paulo so lomlra com carinho das palavras do um tuncionário, já idoso, da tazonda ondo, aos ¯ anos, toi tralalhar candoando loi. loi com olo guo aprondou a rozar. Vas olo salo guo os onsi- namontos daguolo homom vão alóm das oraçòos docoradas, olo o onsinou a valorizar o dosojar no mais íntimo do sou coração, om cada oração, o guo, para um tralalhador polro, ó tundamontal: a Jan:I:a. A casa do sapô om guo vivia com os pais vai ticando mais vívida na momória do Paulo, ola portoncia ao tazondoiro para guom sou pai tralalhava como diarista. Elo so lomlra do torroiro grando do torra latida, sompro muito limpo, guo a irmã passava horas varrondo. A mão cuidava da casa, dos tilhos o das plan- taçòos do arroz, milho o toijão guo alimontavam a tamília... A criação, roduzida, so rosumia a moia duzia do galinhas ciscando o torroiro... 131 Os dois tilhos mais volhos, ao complotarom ¯ anos, toram mandados para tralalhar om uma tazonda. Paulo ora agora o mais volho om casa, tinha guo cuidar dos irmãos monoros. Elo ri o so lomlra do guando ontrou om uma lriga para dotondor o irmão caçula. Vas lrigas ontro os irmãos oram intolorávois. Dona Solastiana, sua mão, dizia: o mais volho tom guo dar rospoito ao mais novo, o o mais novo tom guo rospoitar o mais volho¨. Elo conta guo a mão nunca castigava da primoira voz, primoiro ola oxplicava por guo ostavam orrando, na sogunda voz, ola dava uma chinolada na poupa¨. Calia a Dona Solastiana ostimular nos tilhos o sontido do rosponsalilidado polo grupo tamiliar. Era rosponsávol pola tormação individual, ou soja, pola incorpo- ração - atravós dos atotos - da moralidado tamiliar, soja tazondo tloroscor nos tilhos o sontimonto do companhoirismo ontro olos, sondo guo cada um so torna rosponsávol pola solrovivôncia tísica o social dos outros, soja tormando o sontimonto do dovor om rolação ao pai o a ola mosma, ou soja, a dívida moral guo os tilhos tôm com os pais. Tal rosponsalilidado ora transmitida atravós do convorsas om guo ola dizia tilho, ocô tom guo ajudar o sou pai¨, mas principalmonto atravós do sou próprio oxomplo do ronuncia cotidiana om tavor dolos o do marido. Agora ora a voz do monino Paulo colocar à prova o aprondizado da intância. Chogou sua voz do doixar a casa o a tamília, om tavor dosta ultima. Era hora do dar lugar ao irmão guo vinha croscondo o, tamlóm, partir, assim como sous dois irmãos mais volhos, para a lida¨, ajudando a tamília a sustontar os mais novos. ¯ ¯ ¯ Paulo olha com orgulho para Holona ao rocordar do guando a oscolhou para sor sua osposa. Holona, mulhor torto o lrava, acostumada com o tralalho duro da roça, tirava loito, roçava pasto, tazia corca. Ela soria a companhoira idoal para dividir a luta cotidiana com osso latalhador. Dopois do tralalhar por dois anos como podroiro na Cidado Varavilhosa, olo voltou para o intorior do Vinas Gorais para tontar a vida om uma poguona cidado ondo sou irmão mais volho havia ido morar. Então so virou para Holona o disso: Nóis vamo casá! Eu não tonho casa... não tonho nada, mas tomo ocô num passa não, porguo tralalhador ou sou!¨ Elos so casaram o mudaram para uma poguona cidado. 132 lá ontrontaram a primoira diticuldado: comprar os móvois lásicos para comoçarom a vida, mas guom vondoria, naguola ópoca, a prazo para um tralalhador intormal, som oira nom loira¨, como olo mosmo so dotiniu? Todas as lojas da cidado oxigiam avalista. Quom o avalizaria? Não conhocia ninguóm. Um político da cidado, guo na ópoca ora dono do uma loja do móvois, toi guom tinanciou os poucos móvois a olo. So no início do sua vida adulta Paulo so oncontrava totalmonto marginalizado om rolação ao morcado tormal, sondo dopondonto do tavoros possoais¨, muitas vozos onvolvondo trocas políticas, hojo a oxtonsão da política do cródito roalizada nos dois mandatos do govorno lula, política guo insoriu classos sociais - historicamonto marginalizadas - ao morcado do consumo, garanto a Paulo o diroito do oltor cródito, participando ototivamonto do morcado, ao mosmo tompo guo mina os mandonismos¨ locais o garanto a olo o a classos intoiras a possililidado do participação política mais autonoma o om concórdia com sous intorossos do classo. 4 Paulo tamlóm trouxo os pais o os dois irmãos soltoiros para morar com olo o com a osposa, os pais já ostavam com a idado avançada para pormanocorom naguola vida misorávol guo tinham na roça. A tamília morou duranto dois anos do aluguol. Paulo tralalhava como podroiro, ora por omproitada, ora tichado¨. Quando tichado, pogava licos, tralalhava ató moia-noito, uma hora da manhã, para complomontar a ronda. Holona tazia o vondia crochô, ajuda incorta, mas tundamontal para guom vivia aportado¨. loi assim guo consoguiram juntar um dinhoiro o compraram um loto guo tinha um larraguinho¨ para ondo so mudaram. Nosso poríodo, Holona ongravidou pola primoira voz. O larraco¨ toi ganhando cimonto o algum acalamonto. Paulo tralalhava dia o noito. Holona cozinhava no togão a lonha para oconomizarom no gás, mosmo grávida andava guilomotros para luscar as toras do lonha. A noito, guando Paulo chogava, ola so tornava sua ajudanto do podroiro, o com o tompo olos consoguiram colocar uma lajo, o o larraco¨ so tornou casa: uma casa simplos, mas uma casa, a nossa primoira casa!¨, Holona diz como so voltasso ao tompo com corto orgulho no olhar, satistação causada pola lomlrança da primoira importanto conguista tamiliar. Ropontinamonto, ao so lomlrar do nascimonto da sogunda tilha, ola ó porpassada por uma dor guo cala sua narrativa... Uma dor guo só oncontra oxprossão no silôncio. 133 Paulo continua contando a história... Com o nascimonto da sogunda tilha, a vida dura, som contorto o com muito tralalho, Holona ontrou om doprossão pós-parto. Elo olhava o sou casa- monto, as colranças do Holona, às vozos sontia raiva, como ola não vô todo o mou ostorço?¨, mas so lomlrava da mão, da vida dura o choia do ronuncia. Sua osposa soguia a mosma trilha. A raiva dosaparocou o aos poucos surgia a imagom do um tompo longo, guando ainda sonhava om tor a sua casa, a sua tamília, a sua osposa. lomlrava-so da juvontudo: aos 16 anos, nunca tinha calçado um sapato, já cuidava do todo o rotiro do loito, mas continuava ganhando o proço do mínino¨ tna ópoca o valor da diária paga a uma criança ora a motado do guo so pagava a um homom, o valor da diária do um homom corrospondia a um guilo do toucinho do porco). Paulo so via como homom, mas rocolia como monino. Como suas oraçòos soriam atondidas? Como taria um lom casa- monto, so não tinha dinhoiro nom mosmo para o sapato? Sontia-so homom, um homom do vordado tom guo tor uma osposa. loi guando docidiu cair no mundo¨. A procura do tralalho guo pagasso um pouco mais, pogou um trom guo cortava a rogião. Elo parava, do cidado om cidado, roçando pasto. Passando a ganhar proço do homom¨, podo tirar os documontos guo ató ontão nunca tovo. Com os documontos na mão já podo arriscar a vida na cidado do Rio do Janoiro: sorvonto do podroiro, tralalho molo, pra guom tava acustumado com a duroza do tralalho da roça¨. logo aprondou a tralalhar como podroiro. Olhar o passado, a polroza, as noitos dormidas om cima dos sacos do cimonto, a luta para ontim roalizar o sonho do tor a sua própria tamília o vor parto dosso sonho roalizado, a sua primoira casa própria, simplos, mas sua, o as tilhas, ainda poguonas. Entim, tudo o guo passou o tudo o guo conguistou taz com guo Paulo comproonda o sotrimonto da osposa, so solidarizo com ola, o so sinta tortalocido a continuar a luta por uma vida mais contortávol, monos sotrida. Elo so lomlra, com uma oxprossão do carinho, guo Holona, ainda om doprossão, so incomodava com o chão da cozinha om cimonto liso, ola guoria corâmica¨, promossa guo toz à osposa. Quando conta osso tato, Paulo olha para ola com o olhar sorratoiro, choio do orgulho, ola duvidava, talava pra mim o dia guo ocô mo dor ossa casa ou já morri, o ou dizia: não, nóis 134 tomo muita coisa pola tronto, o graças a Dous hojo tom azulojo ató no torroiro¨. ¯ ¯ ¯ A ostrutura dossa tamília ó a ~ì:ca u· ì:aüaII· uu:·, ancorado, principalmonto, om um aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII· trans- mitido cotidianamonto às tilhas, soja atravós do consolhos ttilha, ocô tom guo ajudar a mamão¨), soja na prática ototiva, como o onsinamonto do tralalho domóstico o do crochô. lado a lado ao onsinamonto do uma halilidado ospocítica, ó tundamontal a proparação das tilhas para uma vida porpassada polo tralalho duro¨. Vas alóm dossa caractorística principal oncontramos duas outras guo tamlóm porpassam toda a classo, ainda guo do torma distinta nos ditorontos tipos¨, rolaçòos do rociprocidado vivon- ciadas no sacritício dos intorossos individuais om tavor do grupo tamiliar o a tpró)vidôncia, oconomia lasoada om uma vidôncia¨ do um porvir¨ sompro limitado às oxporiôncias passadas, ou soja, um controlo do prosonto tundamontado nas diticuldados do passado, como princípio organizador da oconomia domóstica. Esso controlo oconomico ó, principalmonto, dirigido por Holona. loi o guo vimos no controlo dos gastos tamiliaros, sompro oriontado para ovitar o rotorno do uma vida dura¨ guo paroco assomlrar ossos latalhadoros. Holona nos conta: Eu tonho muito modo... ou guoria tor a cortoza, do talar assim: gonto, osso dinhoiro guo ou to dispondo hojo, pra mim almoçá, por oxomplo, tirá cinguonta roais no domingo pra mim almoçá tora, tomá uma corvojinha num vai tazor talta¨. Por guo vai talar guo ou não gosto? Eu gosto. Eu acho guo toda possoa guor curtir, nó?! Quor divortir um pouguinho, mas hojo ató um sorvoto guo ou vo toma, ou talo: Vou Dous, osso sorvoto ó um roal, dá pra mim lová trôs pão pra casa, ou tomo cató, o Paulo toma cató o a Edilaino toma cató.¨ Entondou? Eu acho guo já tixoi na monto. Holona ó porpassada polo modo incontrolávol do rotornar à vida misorávol guo vivora principalmonto na intância. A oxtroma privação guo vivou taz com guo dirija a mãos do torro¨ a oconomia domóstica. E osso controlo oxcossivo, guo parto das classos módias o altas considoraram controlo paranoico¨, ó tunda- montal para guo ossa classo solroviva¨, com rolativo sucosso, 135 às inconstâncias do morcado. Esso sontido do jogo¨, atualizado, rooriontado para osto momonto ospocítico do capitalismo, possi- lilita uma antocipação, uma provisililidado da improvisililidado do morcado. Ë ossa antocipação inconscionto da inconstância do morcado guo pormitiu à tamília do Paulo oguililrar-so, mosmo nos momontos do criso, no morcado tloxívol. Já o sacritício individual om tavor do grupo tamiliar ó algo guo osso casal aprondou om suas tamílias do origom o, hojo, trans- mitom às tilhas, atravós do oxomplos o consolhos, assim como tizora Dona Solastiana com Paulo guando ainda ora uma criança. Vas osso sacritício não ó do torma alguma harmonioso o plono, olo ó sompro porpassado por contradiçòos, por amliguidados, por sontimontos contlitantos. Paulo conta, om uma mistura do rossontimonto o orgulho, guo guando ora jovom adorava jogar tutolol o ir ao lailo, mas com o casamonto o o nascimonto das tilhas o antigo prazor juvonil toi alandonado. Dosdo guo so casou não so lomlra do tor assistido a uma partida do tutolol om um lar, ou mosmo na TV. Holona o Paulo nunca saíram para almoçar juntos om um rostauranto. Calo a Holona a ditícil o dolorosa tarota do ronunciar, oxplicitamonto, a gualguor contorto o prazor. Paulo a convida para almoçar, mas ola logo diz: Pra guô, Paulo? Tom trango om casa.¨ Alóm da ronuncia guanto ao lazor, Holona tamlóm ronunciou à vaidado. Paulo conta com orgulho: Holona não ó mulhor do troscura não, nunca toi num salão, nunca gastou dinhoiro com unha, calolo...¨. Paulo tamlóm oxilo no corpo a mosma talta do orotismo da osposa: amlos são corporalmonto dosorotizados. A ostora orótica¨ ó, no caso dossos latalhadoros, minimizada, sacriticada om tavor dos intorossos comuns do grupo tamiliar: tralalho o tamília. Quando guostionado solro a importância do soxo, Paulo rospondo: Ocô vai vondo guo aguilo ali não ó tudo na vida não, um tilho ó mais importanto, vamo supor, a mulhor ó muito mais impor- tanto, porguo so a minha mulhor ganha um nonóm ou to choio do alogria, ou passo 30, 40 dias som soxo, nó? Então, por guo ou não posso passá som nonóm, som nada, assim? Podo passá! Não tom nada a vor não, isso vai da caloça da possoa o no tipo do vivôncia, nó? 136 O sacritício da vivôncia ototiva do uma ostora orótica, ou soja, a oxporiôncia do amor romântico o do sous principais rituais tjantar, viagons, prosontos), aposar do sor sompro motivo do dor, não impodo osso casal do ostalolocor rolaçòos atotivas pautadas no roconhocimonto mutuo, ou soja, rolaçòos atotivas om guo parto das nocossidados do outro são roconhocidas o rospoitadas mutuamonto. Esso roconhocimonto não ó vivonciado na ostora orótica, om rolaçòos soxuais, mas no roconhocimonto cotidiano da importância improscindívol do outro para a solrovivôncia do grupo o do cada um om particular, sondo muito mais próximo do amor tratorno, ou amor da ronuncia. 5 Amor lasoado numa ~ì:ca caì·I:ca c:::ìa, 6 vivido no companhoirismo, na loaldado, na comproonsão das limitaçòos do outro, mais do guo no oxpros- sivismo tipicamonto lurguôs, no gual a promossa do oncontro o roconhocimonto das traguozas do outro ó oxporonciada princi- palmonto na ostora orótica. Trata-so do roconhocimonto mutuo porguo podom mostrar-so tracos¨ som dosportar a torça no outro¨. Holona comproondo os limitos do marido, os limitos da própria classo, so adógua a olos, ronuncia a toda o gualguor vaidado, lom como gualguor gasto guo ultrapasso as possililidados do marido. Em contrapartida, Paulo roconhoco, dá logitimidado ao sotrimonto, às limitaçòos, às nocossidados do Holona, toi o guo acontocou, por oxomplo, guando ola ontrou om doprossão, após tor a sogunda tilha. Paulo, aposar do sontir-so colrado, a comproondou. Vosmo ostando om uma posição - a posição masculina - na gual a torça¨ ¯ podoria sor utilizada com alguma logitimidado para suljugar, massacrar o mosmo aniguilar a dor, a nocossidado tominina, olo, ao contrário, admira a coragom prosonto na osposa, o so compadoco do sou drama do mulhor o mão latalhadora, polro o sotrida, como toi sua própria mão. Toda rolação do roconhocimonto mutuo, inclusivo a vivon- ciada na ostora orótica, ó porpassada pola ostrutura do dominação, ainda guo a principal caractorística do roconhocor-so mutuamonto soja a luta contra as ostruturas do mundo, a própria luta signitica guo olas ostão prosontos. Assim, a dominação, principalmonto a dominação do gônoro, do homom solro a mulhor, porpassa a rolação do Paulo o Holona. Vas oncontramos om sua trajo- tória corta oguidado ontro amlos. Uma luta pormanonto, não totalmonto conscionto, mas pró-rotloxiva contra os otoitos mais 13¯ notastos dossa dominação guo, mosmo do torma dosigual, transita por todos os corpos. Holona o Paulo não podom vivonciar o amor romântico guo domanda lilordado om rolação ao tompo o à sogurança matorial do guo não dispòom. A concopção do amor romântico ó dopondonto da autonomização rolativa da ostora orótica om rolação às ostoras roligiosa o oconomica - como mostramos com mais dotalhos no toxto A misória do amor dos polros¨ no livro dodicado ao ostudo da raló ostrutural. No caso dos latalhadoros não oncontramos uma autonomia da ostora orótica, a vida conjugal ó totalmonto intordopondonto da vida produtiva. O mundo do tralalho ó, nossa classo, totalizador om rolação à vida íntima. Não oncontramos nola o tompo livro¨ para o prazor guo ó constituinto da condição do classo das classos módias o altas. A instalilidado matorial unida a uma n·:aI:uau~ j·::ì::a u· ì:aüaII· uu:· taz com guo ossa classo tonha todo o sou tompo consumido pola atividado produtiva, guo porpassa assim as rolaçòos atotivas. Vas ainda guo não vivonciom a ostora orótica onguanto tal, Paulo o Holona so roconhocom do torma durávol. Roconhocom, no dia a dia, a oxistôncia improscindívol do outro. Não há momontos ritualizados a dois¨, como tampouco momontos do prazor individual, guo, para olos, são tonto do sotrimonto, como vimos acima, uma voz guo a concopção dominanto do loa vida¨ - lasoada om uma oxporiôncia do complomontaridado na ostora orótica, ou soja, na oxporiôncia do amor romântico, lom como no consumo do sous signos morcadológicos - so oncontra tochada para osto casal do latalhadoros. SEU lUlS: A PRODU(AO lAVlllAR RURAl Com mou pai aprondi a tor as mãos pro tralalho.¨ Sou luís ó homom torto, dotorminado, do tala mansa o cauto- losa, mas sompro roplota do ironia. Aos 61 anos ó um galan- toador, sompro lom vostido, com sou chapóu do couro, poça indisponsávol om sua vostimonta. Ë o tilho homom¨ mais volho do Antonio, tralalhador diarista o nogocianto. Hojo luís ó um módio propriotário rural. Sondo o tilho homom mais volho do 138 oito irmãos, acompanhava o pai dosdo poguono, guando olo ainda vondia vordura do porta om porta. Quando so lomlra do pai o do tudo guo aprondou com olo, o sontimonto do orgulho transparoco om sou olhar altivo. A vida na intância ora dura, casa do pau a piguo, morava om um torrono poguono o íngromo, concodido por tazondoiro, mas, ao mosmo tompo, o pai sompro garantiu aos tilhos a dignidado nocossária para guo não acoitassom humilhação nas tazondas ondo tralalhavam. Sou Antonio nunca ostudou, mas ora um matomático¨, conta luís ao so rotorir aos nogócios do pai: Elo ora aguola possoa guo salia tazor gualguor tipo do conta, pagar ou rocolor. Quando vondia a morcadoria antos do posar olo já talava pra vocô: olha, ó tanto. Então, olo não ostudou, mas tinha ossa intoligôncia o ninguóm passava olo pra trás. Aos 18 anos, luís ganhou do pai uma carroça com a gual comoçou a tralalhar, algum tompo dopois o pai sotrou uma parada cardíaca, ticando muito dolilitado. luís assumiu a lido- rança da tamília, passou a tazor ompróstimos o tinanciamonto om lanco - o sou pai nunca havia pogado ompróstimo lancário, guando procisava do dinhoiro omprostado rocorria aos amigos. Hojo olo comprou a tazonda om guo o pai tralalhou toda a vida. Com 25 alguoiros, a propriodado tom uma alta produtividado, tavorocida pola implantação do tocnologias o tralalho mocanizado. O tralalho humano ó praticamonto tamiliar. Sou luís ticou viuvo há dois anos, o hojo mora com a companhoira Dona Rosária. Ela ó a rosponsávol polo tralalho posado na toira, como arrumar o carrogar as caixas com a morcadoria. Na roça, ola cuida, com a ajuda das duas noras do luís, da produção do tulá o da tarinha torrada, lom como do todo o sorviço domóstico o das criaçòos guo ticam ao rodor da casa, as galinhas, os porcos, tralalho guo ó dividido com os notos. Quando intorrogada solro a importância do Dous na sua vida, Dona Rosária diz: Oh, ticar om pó umas sois horas, moxondo um tacho guonto do tarinha, às vozos as pornas paroco guo não vão aguontar, ó só Dous mosmo pra dá torça.¨ Os trôs tilhos cuidam da lavoura o do rotiro. Aposar do tor grandos duvidas solro a continuidado do sou tralalho na postoridado, já guo porcolo guo os tilhos o os notos não so oncontram onvolvidos do corpo o alma¨ com a vida rural, luís consoguiu mantor a tamília ligada ao tralalho produtivo, som 139 ossa continuidado ontro a vida domóstica o a vida produtiva, a prosporidado guo vivoncia hojo soria pouco provávol. A ostali- lidado proporcionada polo tralalho domóstico ó a condição do possililidado para luís tor so tornado um talonto¨ om antocipar a instalilidado do morcado. Podomos olsorvar osso talonto¨ om várias do suas práticas, lom como a importância da tamília para a sua ototivação. Sua oscolha pola policultura ó assim justiticada: as possoas não procisam comor uma coisa só, o ó com olas guo tá o dinhoiro, ontão, pra ou tor troguôs, ou tonho guo tor o guo o troguôs procisa.¨ luís tom 15 variodados, ontro logumos o vorduras, produzindo tamlóm o tulá do moinho o a tarinha torrada do milho. Em uma das ontrovistas, a osposa o acompanharia, mas havia chovido, o, com isso, a domanda por tulá olova-so, olo procisaria aumontar o tralalho para tor 300 guilos a mais do tulá do moinho, isso signiticaria guo a osposa o as noras passariam a madrugada guo antocodo a toira tralalhando. Outro oxomplo ó guando vai calcular o valor das prostaçòos do pagamonto do ompróstimos lancários, guo ó sompro toito por uma ostimativa do valor da satra, do lucro da colhoita, atravós do uma avaliação do proço do produto. Contando sompro com tatoros oxtornos, como a suporprodução, ou uma chuva torto, olo roduz ao máximo o valor da satra do manoira a diminuir a prostação: Eu lá sou lolo, o lanco vai ó rocolor, guom vai pagar sou ou, ontão ou tonho guo tazor os cálculos do manoira a calor no mou orçamonto.¨ Outra torma do controlar o antocipar a improvisililidado do morcado ó plantar cada cultura om taixas somanais, assim olo não colho o produto om uma unica voz, portanto não incha o morcado, ao mosmo tompo guo controla os ganhos, pois salo guo a cada somana com a colhoita tom uma dotorminada guantia om dinhoiro para ontrar. Caso plantasso o colhosso do uma voz só, alóm das diticuldados guo toria para oxo- cutar o tralalho - toria guo contratar muitos tralalhadoros, tondo mais gastos -, tamlóm rocoloria o dinhoiro do uma unica voz, o guo podoria doscontrolar o orçamonto. Agui, ditorontomonto do caso do Paulo o Holona, não oncontramos uma oconomia da tpró)vidôncia. luís não pauta suas práticas oconomicas om uma otorna tuga da arlitrariodado passada, mas om possívois insta- lilidados tuturas, nolo oncontramos do manoira mais torto uma noção do cálculo prospoctivo, ou soja, uma ação oriontada a um tuturo oljotivado no prosonto. No Quadro 1 tomos a história do 140 Joaguim: olo voio do uma tamília guo já possuía algumas torras, mas guo oxporimonta a total docadôncia da propriodado ao tor sido condonado ao colilato. Quadro 1 - O colilato torçado do Joaguim Joaguim ó vizinho do Sou luís. Sua tamília cultiva hortaliças na rogião há dócadas. Aos 30 anos ó o tilho mais novo do trôs moninos, sou pai não tovo tilhas, ticou viuvo o nonhum dos tilhos so casou. O drama vivido por ostos trôs irmãos ó muito parocido com aguolo oncontrado por Bourdiou om Bóarn o analisado no artigo O camponôs o sou corpo¨, Joaguim ó tisicamonto um homom lonito, mas sua timidoz, sou olhar sompro voltado para o chão, sou joito matuto¨ comprovam sua talta do joito com as mulhoros¨ o sua ólvia dosgualiticação no morcado matrimonial. A poguona produção rural ó protun- damonto dopondonto das rolaçòos tamiliaros, tondo na divisão soxual do tralalho o sou suporto, assim o colilato imposto a ossos trôs irmãos os condona, gradativamonto, a cada alguoiro vondido, a uma docadôncia guo salta aos olhos¨ assim guo so choga à propriodado: a ontrada o as hortas tomadas polo matagal o a rosidôncia consumida polo tompo, oxilindo a nocossidado do loas rotormas. Vas agui tamlóm, como om Bóarn, a docadôncia da propriodado podo sor tanto otoito como causa da condição do soltoiro¨. A docadôncia tovo início com a viuvoz do sou pai, a talta da mão o do irmãs toz com guo Joaguim o sous irmãos não oxporimontassom gualguor naturalidado nas rolaçòos com o soxo oposto, tato guo so uno ao procosso do docadôncia da propriodado o os condona ao colilato. A talta do mão do olra tamiliar unida à ausôncia do gualguor porspoctiva do continuidado social, ou soja, do um tuturo oljotivado no prosonto atravós da continuidado do uma próxima goração intonsiticam cada voz mais o procosso do docadôncia da propriodado. Sou Vanool tom parto do sua história muito parocida com a do Sou luís, mas o sou dostino social ó trágico. Tamlóm tilho do roçador do pasto¨, aprondondo a tralalhar na roça dosdo muito codo, olo conta guo dosdo os 5 anos já acompanhava o pai na lida¨. Nossa ópoca olo morava com os pais o sous sois irmãos na 141 casa guo o tazondoiro, para guom sou pai tralalhava, lhos codia, uma casa poguona ondo, ao rodor, olo criava galinhas o porcos o plantava parto do guo alimontava a tamília. Sou Vanool tralalhou duranto anos como mooiro, para ontim comprar sou podacinho do torra. lá olo plantava o proparava o tumo, sondo osto sua principal tonto do ronda. Alóm do tumo, sompro tovo umas cinco vaguinhas, do ondo tirava o loito dos tilhos, o uma poguona plantação do cana-do-açucar, com a gual olo tazia rapadura. A laso da produção do tumo ora oxclusivamonto tamiliar, sous trôs tilhos homons¨ tidados ontro 10 o 13 anos) o ajudavam no plantio o na colhoita, onguanto sua mulhor, as ¨tilhas mulhoros¨ o tamlóm as crianças onrolavam o proparavam o tumo. Os moninos, assim guo Sou Vanool con- soguia pagar as dívidas guo toz na compra do sítio, passaram a rocolor sua parto do lucro, as tilhas nunca rocoloram nada. Sou Vanool diz: olas não tinha parto não, olas não tinha parto do nada não, só tralalhava. Estalava tumo ató 10 horas da noito, no outro dia tirava tumo outra voz pra ostalar.¨ Com o tompo, atraídos pola promossa do vida molhor¨ na cidado, os tilhos vão doixando um a um a produção do tumo, as tilhas doixam o campo polo tralalho domóstico, os tilhos, para tralalhar om outras propriodados ou tralalhar como podroiro na cidado. A cada dia ticava mais ditícil mantor a produção, som a mão do olra dos tilhos. Sou Vanool ostaloloco a data om guo so tornou impossívol mantor a produção: Vocô salo guom acalou com a agricultura? Vou talar... talo ató duas vozos, lornando Honriguo Cardoso guo acalou com a agricultura...¨. Elo idontitica trôs tatoros principais: o aumonto vortical do adulo, a guoda do proço da produção, mas principalmonto a talta do ompróstimos para o poguono produtor. Com sou próprio corpo corroído polo tompo o polas ontormidados ttoz trôs cirurgias nos ultimos guatro anos), Sou Vanool, vivondo hojo principalmonto do sua aposonta- doria, tom uma postura rosignada dianto da própria docadôncia, como podomos porcolor om suas talas: Ninguóm intorossa, nó? As coisa guo ó pra ajudar o homom da roça, ninguóm intorossa, nó? A gonto tom guo contormar porguo chogou um ponto guo não adianta produzir muito...¨. ¯ ¯ ¯ 142 Porcolomos a asconsão do um novo tipo do propriotário: o tilho do tralalhador diarista, adaptado à ~ì:ca u· ì:aüaII· uu:· o a uma vida porpassada pola arlitrariodado, ou soja, o aprondizado do tralalho dosdo a mais tonra intância, lom como a oxposição à inconstância, soja dos variados patròos, soja da própria naturoza. Vuitas vozos, olo compra as torras ondo tralalhou na intância com o pai. Essa tração ascondo, assim como outrora ascondou o arrondatário capitalista do Varx - camponôs guo ascondo do sou próprio tralalho o passa a comprar mão do olra. Assim como o arrondatário capitalista toi um visionário do sua ópoca, o lata- lhador rural¨ ó o visionário da nossa¨, dovido a sua capacidado do so adaptar às inconstâncias do morcado, antocipando sua improvisililidado, como vimos nas práticas do Sou luís. A tamília ó laso dossa poguona propriodado. A unidado ontro tamília o ostora produtiva ó o guo organiza os üaìaIIa- u·:~: no contoxto rural. So a compra do mão do olra ora para o arrondatário capitalista, sua grando inovação na organização da produção, para olos o tralalho tamiliar, com laso na divisão soxual do tralalho, ó sou grando trunto. So na antiga poguona lurguosia ostalolocida os tilhos o a osposa podoriam não ostar tão onvolvidos na produção, muitos dolos indo ostudar na cidado, para ossa classo a socialização dos tilhos, assim como toi a dolos próprios, ó totalmonto dopondonto u· aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII·. Não guo ossa classo não invista tamlóm na oducação tormal, mas osso invostimonto não oxclui osso aprondizado, ao contrário, olo ó o guo tundamonta ossa nova propriodado guo surgo no campo. Por conhocor, na prática, a importância tundamontal do aj:~uu:zau· u· ì:aüaII· para a manutonção o roprodução da propriodado o da tamília como uma unidado social, ou soja, como um todo intogrado, ó guo luís mantóm os tilhos om ródoas curtas¨. Elo dologou, a cada um, uma tunção na produção, onvol- vou o rosponsalilizou os tilhos no tralalho produtivo. Assim, o aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII·, transmitido por luís aos tilhos, cumpro uma dupla tunção: possililita a oxistôncia do uma mão do olra tamiliar, tundamontal para a prosporidado da produção. E, ao mosmo tompo, torma nos tilhos as disposiçòos nocossárias para darom continuidado, para roproduzirom a propriodado o o grupo tamiliar. 143 O guo pormito Sou luís mantor os tilhos, tamlóm as noras o a própria osposa om ródoas curtas¨ ó a rolação ospocítica do dopondôncia mutua ontro os momlros, ou soja, o grupo tamiliar garanto a oxistôncia tísica o social do cada momlro. lona tala do sogro com carinho tilial: num soi o guo soria do nóis so não tosso olo¨, ao mosmo tompo, som o tralalho das noras, dos tilhos o da osposa, a propriodado do Sou luís não oxistiria. Ditoronto- monto da tamília do Paulo o Holona, a hiorarguia o dominação na tamília do Sou luís tdominação goracional o do gônoro) ó mais vortical, mais intonsa o oxplícita. Há uma dopondôncia mutua, mas hiorarguizada, guo cria rolaçòos durávois, isto ó, um compromisso durávol. A dominação masculina, principalmonto pautada na divisão soxual do tralalho, ó a laso da propriodado, lom como das rolaçòos atotivas. luís, ancorado na divisão hiorárguica ontro corpo o monto, tom na sua posição do administrador o nogo- cianto¨ a suporioridado roconhocida polos outros momlros da tamília, rosponsávois polo tralalho mais corporal¨. Vas, lado a lado à dominação, laso da prosporidado da propriodado do Sou luís, há uma moralidado porpassando as rolaçòos tamiliaros, ou soja, uma ronuncia dos intorossos individuais, om tavor do grupo. E ó ossa ronuncia guo pormito à tamília ostalolocor rolaçòos duradouras. Ë o compromisso mutuo guo garanto a continuidado da tamília o, portanto, da produção. Porcolomos osso compromisso om Sou luís... Algum tompo dopois do poríodo das ontrovistas, nos oncontramos com olo, dosnortoado, om um consultório módico, indo luscar o módico para oxaminar a osposa guo tinha adoocido. O vínculo do rociprocidado ó o tator tundamontal, ó a condição do possililidado para guo Sou luís soja um latalhador omproondodor do sucosso. A ausôncia dossas rolaçòos ó o guo condona Joaguim o Sou Vanool à morto social. No caso do Sou Vanool, a conjuntura política ó tundamontal o ató mosmo dotorminanto do sou dostino social trágico, atinal, como convoncor os tilhos do guo a vida no campo ora mais atraonto guo a da cidado, som tinanciamonto para o poguono produtor, com os adulos a proços altíssimos o as satras om laixa? lsso nos lova a porcolor guo uma conjuntura política podo tavorocor ou minar a potoncialidado do grupo tamiliar onguanto grupo do solrovivôncia oconomica o social. 144 TRABAlHO: BASE ECONÔVlCA E VORAl DA lAVlllA BATAlHADORA No Brasil os latalhadoros sompro vivoram nas tranjas do morcado, ou nolo insoridos marginalmonto, mas, do modo di- toronto da raló. Essa insorção não ó totalmonto arlitrária: ondo a classo não tom nonhuma possililidado do intortorôncia ativa om suas próprias condiçòos oljotivas, olos contam com um conhocimonto prático capitalizávol no morcado, ou soja, um conhocimonto util o rontávol para o morcado: a ~ì:ca u· ì:aüaII· uu:·. No sistoma tordista ossa classo toi só parcialmonto incluída à classo tralalhadora tradicional. Somonto com a mudança do modo do acumulação para uma acumulação tloxívol ttratamos do torma dotalhada osso novo momonto do capitalismo) ola ganha protagonismo, ascondondo à nova classo tralalhadora. Tondo pouco ou nonhum capital cultural logítimo o capital oconomico, ossa classo só podo contar com o aj:~uu:zau· j:áì:c· transmitido no soio da tamília, o com as :~Ia¸·~: Jan:I:a:~: uu:au·u:a: c·n· a:na, ostratógia para solrovivor onguanto classo. Para ossa classo, o grupo tamiliar ó o principal g:uj· u~ :·ü:~:::~uc:a, ou soja, o grupo social rosponsávol pola solro- vivôncia tísica, nosto caso, oconomica, o a solrovivôncia social, ou soja, a garantia do um roconhocimonto mutuo dos momlros guo ultrapasso a própria oxistôncia tísica do cada um, guo pormita a continuidado do indivíduo atravós da momória do grupo. O duplo racismo do classo dirocionado à tamília latalhadora so tunda principalmonto no rocalguo das condiçòos oljotivas o arlitrárias do classo guo prosontoia¨ as classos módias o altas com outros grupos do solrovivôncia guo garantom tanto a conti- nuidado oconomica guanto a continuidado para alóm do cada oxistôncia - atravós do prômios, livros o outros - dossas classos. lsso dá à tamília nucloar uma aparonto autonomia om rolação à ostora oconomica, o guo taria dola o lugar das rolaçòos dosintoros- sadas, guo so contrapòom às rolaçòos protonsamonto porpassadas polo intorosso oconomico dos latalhadoros. Essa talsa autonomia rocalca o papol tundamontal da tamília nucloar para a insorção, notadamonto dos momlros da classo módia, nossos outros grupos do solrovivôncia, principalmonto nos grupos protissionais, lom 145 como rocalca o intorosso o as lutas do podor guo porpassam todo grupo social, inclusivo a imaculada¨ tamília nucloar. Tomos no programa humorístico · ·:auu~ 1an:I:a o oxomplo omllomático o toatralizado dosso duplo racismo do classo tvor guadro a soguir). Quadro 2 - · ·:auu~ 1an:I:a · ·:auu~ 1an:I:a ó um programa humorístico oxilido às guintas-- -toiras na Rodo Glolo, no gual uma tamília típica da nossa nova classo tralalhadora ó a protagonista. O programa tom o mórito do doscrovor a passagom da classo tralalhadora tradicional para ossa nova classo tralalhadora. Ao mosmo tompo, concontra todo o racismo do classo dirocionado a suas tamílias. linou, omprogado pullico, doixa sou tralalho ostávol, mas com nonhuma autontici- dado, para roalizar sua vocação protissional, votorinária, alrindo sou próprio nogócio. Tomos tamlóm Boiçola, modolo da antiga poguona lurguosia, guo roprosonta toda a docadôncia vivida por osta classo, lom como Varilda, uma caloloiroira latalhadora, roprosontanto, por oxcolôncia, do ospírito omproondodor¨. A tamília, alóm dos dois tilhos já adultos, mas totalmonto irros- ponsávois, incorpora tamlóm o gonro, os vizinhos o o amigo do tralalho do linou. As várias porsonagons o suas tramas podom ilustrar o guo ostamos chamando do duplo racismo do classo, guo ó imputar à tamília dos latalhadoros tanto o arcaísmo patriarcal guanto a instrumontalidado, como já dotinimos no início dosto toxto. Vas tomos no divortido contlito ontro linou o o gonro, Agostinho, a roprosontação omllomática dosso duplo racismo do classo. linou ó o cidadão honosto guo, ostando om um contoxto porpassado pola dosonostidado - os oxtonsos laços tamiliaros prosontos na grando tamília¨, om particular, o as classos laixas om goral -, so vô, a cada capítulo, onvolvido, contra a sua vontado, om algum osguoma duvidoso¨, goralmonto montado polo gonro. O gonro ó taxista, pouco disposto ao tralalho duro, procurando sompro tirar vantagom¨, inclusivo do próprio tilho, guo ainda ó um lolô, mas principalmonto do linou. Assim, o contlito so coloca ontro o patriarca¨ protonsamonto honosto¨, mas cujo contoxto notasto das rolaçòos tamiliaros ó ompocilho para oxorcício da impossoa- lidado, o o malandro¨, dopositário do toda a instrumontalidado, luscando, so não o sou lom oxclusivo, som nonhum ostorço, ao monos so aprovoitar dos laços tamiliaros para so dar lom¨. 146 A tamília latalhadora, a tamília da nova classo tralalhadora, ó rosponsávol por roproduzir momlros dotados do capacidado para ontrontar a instalilidado do morcado o so mantor nolo. Ela ó a rosponsávol por roproduzir a classo para o tralalho. E, ao contradizor o duplo racismo do classo, roproduzi-la, roconhocondo no tralalho uma nocossidado matorial, mas principalmonto ropro- duzindo uma n·:aI:uau~ u· ì:aüaII· uu:·. A tamília latalhadora tom duas principais ostratógias do roprodução da classo: o aj:~u- u:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII· o o c::cu:ì· u~ :~c:j:·c:uau~. O aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII· ó, como vimos nas trajo- tórias tamiliaros do Paulo o luís, transmitido aos tilhos dosdo a mais tonra intância. Elo, ao mosmo tompo, ó o aprondizado do alguma tunção ospocítica, como as tunçòos dontro da produção, guo Sou luís onsina aos tilhos, o o crochô guo Holona onsina às duas tilhas, mas ó principalmonto o tralalho cotidiano do incorporação atotiva, atravós dos consolhos o da oxomplaridado ttrataromos da tunção da oxomplaridado, principalmonto a roligiosa, no Capítulo 9) do uma disposição para o tralalho duro¨. lsso signitica guo a tamília latalhadora não propara sous momlros para oxorcorom aponas uma dotorminada tunção no morcado, mas ì:au:J·:na :~u: c·:j·: ~n c·:j·: :ucI:uau·: a· ì:aüaII· uu:· Elos ostão dispostos¨ a oxorcorom ditorontos tunçòos dontro do morcado, solrovivondo às condiçòos mais dostavorávois no mundo do tralalho¨, como, por oxomplo, tralalhar do 15 a 18 horas diárias. Ao roproduzir uma disposição para o tralalho duro¨, a tamília latalhadora roproduz o contin- gonto humano proparado para - o om concórdia com - as novas nocossidados do capitalismo contomporânoo. O aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII·, transmitido pola tamília, roproduz o sistoma capitalista como um todo ao roproduzir a classo guo ó o suporto da sua oxploração: os latalhadoros, a nova classo tralalhadora. Ao mosmo tompo, dota cada momlro da racionalidado prática guo, ao proparar o indivíduo para o tralalho duro¨, pormito-lho antocipar a inconstância do morcado o transtormar uma classo, ató ontão insorida marginalmonto no capitalismo, na nova classo tralalhadora. O aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII· vom unido o possililitado polo c::cu:ì· u~ :~c:j:·c:uau~ guo liga os tamiliaros, ou soja, um circuito do dádiva, lasoado na dopondôncia mutua ontro os momlros da tamília o, portanto, do uma parcola do sacritício 14¯ das vontados individuais om tavor da solrovivôncia do grupo como um todo o do cada um om particular. Esso circuito dadivoso tunda rolaçòos durávois guo podom sor mais ou monos oguita- tivas, como vimos no caso do Paulo o Holona, om guo amlos, podondo contar somonto um com o outro, sacriticam todo o gualguor prazor om tavor da continuidado da tamília, ou mais hiorarguizadas, como no caso do Sou luís, om guo olo dotóm a autoridado solro o procosso produtivo, sondo rosponsávol por controlar o tralalho o ainda distriluir lonossos aos tilhos, às noras o à osposa. Como podomos porcolor nas trajotórias, as rolaçòos tamiliaros são suportos, laso produtiva o oconomica dos latalhadoros. Som as rolaçòos tamiliaros, ossa classo ó impossi- lilitada do so mantor no morcado, como no caso do Sou Vanool o do Joaguim. Ou soja, o circuito do rociprocidado ó a condição do possililidado para a solrovivôncia dos latalhadoros como classo tralalhadora. Ë uma ostratógia modorna do roprodução o manutonção da classo, uma voz guo om concórdia com o novo modo do acumulação capitalista, no gual a produção passa a sor cada voz mais om poguona oscala, o os gastos com o controlo do tralalho tondom a sor oliminados, como Harvoy já porcolia no tinal da dócada do 1980. Assim, a poguona produção lasoada nas rolaçòos possoais, na dominação possoal o no controlo do tralalho possoal, como no caso da tamília do luís, o o controlo do tralalho oxorcido polo próprio tralalhador, como no caso do Paulo, tondom a provalocor om rolação ao modolo tordista do controlo do tralalho, lasoado na impossoalidado o lurocracia. · Jan:I:a ua u·:a cIa::~ ì:aüaIIau·:a ~ a uu:uau~ ~c·u·n:ca ua cIa::~ Ela concontra as tunçòos guo, om momonto antorior ao capitalismo, ostivoram rostritas às corporaçòos: a produção o o controlo do tralalho produtivo. · Jan:I:a üaìaIIau·:a ~ a uu:uau~ ~c·u·n:ca ua cIa::~, na: ìanü~n ~ a :ua uu:uau~ n·:aI Sua ostrutura o organização produzom rolaçòos durávois, lasoadas om princípios morais guo ultrapassam a nocossidado imodiata. Ela tunda rolaçòos lasoadas no guo Bourdiou chama do :uì~:~::~ u~::uì~:~::au· polo outro, ou soja, rolaçòos guo vão muito alóm da instrumontalização imodiata do outro. O circuito do rociprocidado, lom como o aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII·, liga moralmonto os momlros do grupo tamiliar, dosporta nolos osso :uì~:~::~ u~::uì~:~::au· polo outro, como no caso do monino Paulo, guo dosdo lom poguono aprondou a 148 so sacriticar, primoiro polos irmãos monoros, dopois pola osposa o polas tilhas. Assim, om oposição à instrumontalidado imoral - sogundo a mídia, prosonto nas tamílias das classos popularos, ospocialmonto nas tamílias latalhadoras -, oncontramos rolaçòos durávois, do acordo com as nocossidados matoriais o oconomicas, mas ultrapassando ossa mora rolação mocânica. Rolaçòos lasoadas no ì:aüaII· c·n· un :aI·: n·:aI a sor aprondido dosdo a mais tonra intância, atravós do aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII·, ~ u· :ac::J:c:· :uu:::uuaI, ua aüu~ga¸a· ~n Ja:·: ua :·ü:~:::~uc:a J:::ca ~ :·c:aI u· g:uj· Jan:I:a: guo, sogundo Durkhoim, ó o tundamonto do todo o gualguor ato moral. ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C ó ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ⌫↵l⌦⇧M⌃↵⇥ C V↵⌦CP↵⇥C D↵ ⌅↵⌥⌘⇣ ↵ ⇧ ⌫↵l⌦⇧ D↵ ✏⇧⌦✓⇧⌦✓ ··Iaü·:au·:. 1aü::c:· Mac:~I O VERCADO-lElRA VER-O-PESO DE BElËV Quom visita o tamoso morcado-toira Vor-o-Poso, do Bolóm, conhocido polo mito do sor o maior morcado a cóu alorto da Amórica latina, logo so dopara com o discurso da cultura local om toda a sua amliguidado, como um olomonto social ao mosmo tompo propulsor do torça do tralalho o logitimador do dosigualdados protundas. O orgulho do so tralalhar om um patrimonio histórico¨ o do so portoncor a uma torra com riguozas naturais ó gonoralizado. O valor do povo ó dotondido dianto do um proconcoito contra a rogião Norto, ainda hojo, como so osta tosso torra do índios não civilizados¨. Esta dotosa guaso sompro ó sintoma do como o proconcoito ó roproduzido por amlos os lados, guando so atirma guo não so ó povo do tanto intolocto¨, mas guo tamlóm so ó civilizado¨. O sonso comum lrasiloiro paroco lomlrar do Norto aponas como tlorosta¨ o torra do índio¨. lsso paroco mais torto no Norto do guo om partos do Nordosto, como Caruaru, ondo o discurso local procisa so dotondor mais do ostigma do povo atrasado o vagalundo. No Norto, paroco guo o ostigma romoto a um nívol ainda mais protundo do intorioridado, apontando para uma condição natural mais distanto dos padròos civilizatórios. Articular as condiçòos oljotivas o as roproduçòos do padròos do vida oconomica univorsais ao capitalismo om histórias do 150 vida cujas origons romotom-so guaso sompro à raló rural guo sotro tais ostigmas ó tundamontal para a dosconstrução toórica o ompírica das ditoronças sociais naturalizadas por rogião no caso lrasiloiro, o guo tragmonta uma análiso do Brasil como totalidado. Uma sugostiva ontrovista ó com um sonhor guo tralalha há 30 anos no Vor-o-Poso, dontro idas o vindas, dado osto intorossanto para tomatizar a solrovivôncia o adaptalilidado da disposição 1 oconomica do latalhador om contoxtos ospocíticos. Elo ó rovon- dodor do produtos alimontícios industrializados, ou soja, tom uma poguona morcoaria, sotor osto torto na toira. O sotor tísico da toira ondo olo so oncontra ó o mais organizado, mais ostalolocido¨, não há muita mistura ontro os tipos do produtos comorcializados. As alas são lom dotinidas: ondo tom comida ó só comida, logo dopois morcoaria, comórcio do camarão otc. Nas tranjas, como om todo lugar, ó tudo mais misturado, os ·uì::u~:: são guaso guo litoralmonto invisívois. Esto ontrovistado tralalha com a osposa no local. Compra a prazo do sous tornocodoros o tamlóm procisa vondor alguma parto tiado¨. Possui um cadorno do anotaçòos. A halilidado do comorcianto não oxigo aponas o cálculo oconomico admi- nistrativo, guo adguiriu ao longo do sua vida, chogando a tazor poguonos cursos do Solrao. Ela oxigo uma disposição maloávol para solrovivor no trato com a dolinguôncia local, salor so do- tondor som sor arroganto, sor intogrado com discrição. Uma do suas pórolas solro o assunto ó: Agui vocô não podo sor nom muito lurro nom salido domais.¨ A tala sugoro lom a condição do instalilidado dossa classo social o a prossão cotidiana sol a gual solrovivo. O ontrovistado já tom tilho guo ostudou mais guo os pais o guo torá, sogundo olo, um tuturo molhor do guo o do poguono comorcianto. Uma visão goral do Vor-o-Poso sugoro uma somolhança com a loira do Caruaru, ontondondo as toiras o morcados, principal- monto ostos mais tamosos, como contros do solrovivôncia do latalhadoros guo procisam do mitos rogionais para oscondor a voracidado oconomica do capitalismo. Esto tato paroco ainda mais radical om locais cuja tonsão ontro as ostruturas oljotivas do capitalismo com o Iaü:ìu: local ó marcanto, o cuja adaptação das lois do morcado não tom nada a vor com o drillo¨ da lrasilidado, do joitinho¨, mas sim com a capacidado do roarticulação do torças humanas guo o morcado opora, sompro pormitindo guo a 151 cultura local solroviva, dosdo guo articulada a sous imporativos. Ou soja, ó possívol ponsar como ostos patrimonios imatoriais¨, como ostá oscrito na onormo placa à ontrada da loira do Caruaru, são na vordado aronas do luta do classos, guo aprosontam um intorossanto rotrato do guo ó o ospaço social do capitalismo. Ou soja, um ospaço do torças matoriais o simlólicas om tonsão guo goralmonto não são ovidontos, surgindo tragmontadamonto no sonso comum aponas sol o signo da cultura local¨. Algumas histórias do vida rolativamonto distintas ontro si são intorossantos para tomatizar como a nova classo tralalhadora 2 dos latalhadoros so roproduz. Elos procisam nogociar dirotamonto, inclusivo aprosontando halilidados discursivas, com aguolos guo ostão imodiatamonto acima o imodiatamonto alaixo, sous torno- codoros o cliontos, rospoctivamonto. A caractorística om alorto¨ da classo ó marcada inclusivo polo tato do guo muitos dolos já tralalharam como tornocodoros, ostando agora om condição lovomonto intorior. Assim, as trajotórias singularos roproduzom traços gorais do uma classo cuja caractorística contral paroco sor a nogociação matorial o simlólica do sou lugar intormodiário ontro a raló o a classo módia ostalolocida, no moio do ciclo do produção o circulação do morcadorias. Um rovondodor do sacas do tarinha, por oxomplo, oxplicitou lom a halilidado nocossária para sou tralalho, dizondo guo procisava oporar com dois caixas¨, dois capitais¨. Elo compra à vista o procisa vondor loa parto a prazo, considorando guo sous cliontos são comorciantos do poguonas vondas do lairro lom monoros do guo sou nogócio. Assim, olo procisa mantor uma rosorva, o guo olo donomina do capital tixo¨, para ontrontar possívois diticuldados dorivadas do não pagamonto do sous cliontos no prazo. O outro capital, guo olo donomina do giro¨, sorvo para o invostimonto junto aos tornocodoros. No goral, doparamo-nos com dois portis do latalhadoros: 1) aguolos guo mantôm a dignidado 3 pola ótica do tralalho o por disposiçòos oconomicas lásicas, guo podomos chamar simplos- monto do latalhadoros¨. Estos aprosontam disposiçòos primárias¨ para o comórcio, como disciplina, porsistôncia o noçòos práticas do comórcio, 2) aguolos guo, alóm dostas, aprosontam disposiçòos socundárias¨ para o comórcio omproondodor, o guo os carac- toriza como latalhadoros omproondodoros¨. Dontro ossas disposiçòos so oncontram capacidado do autossuporação o 152 noçòos mais sotisticadas do administração o invostimonto. Tais disposiçòos¨ aprosontam possililidados do ação, o guo não garanto o dostino do um indivíduo. Signiticam capacidados para cror o para agir, guo nom sompro são coorontos o guo são aprondidas ospontanoamonto dosdo a intância. A atuação das disposiçòos só ó comproondida guando so mapoiam os con- toxtos do atualização¨ o do goração¨ do disposiçòos, idoias guo tomamos do sociólogo Bornard lahiro. Alguns casos guo rotrataromos agui do Bolóm, no goral, tondom a so aproximar mais do primoiro portil do tralalhadoros, ainda guo contingoncialmonto tonham aprosontado algum croscimonto oconomico ao longo do suas trajotórias, o guo não signitica guo tonham sido rosultado do cálculo ou do omproondimontos muito claros ou dotinidos. Croscimonto oconomico não nocossariamonto ó sinonimo do omproondodorismo¨. So não, vojamos. TRAJETÓRlAS DE BATAlHADORES EV BElËV A primoira história ó a do uma sonhora vondodora o produ- tora do itons divorsos, dorivados do orvas locais. Esto ó um portil lom típico da rogião Norto, pois gira om torno do comórcio do produtos naturais oxclusivos da rogião. Católica o umlandista, adguiriu o salor ospocítico colhondo matos¨ para os tralalhos¨ om torroiro com a mão. Com uma poguona lanca do aponas um motro guadrado no Vor-o-Poso, criou novo tilhos, sondo guo trôs tralalham hojo no mosmo local, com lancas próprias o no mosmo ramo. Construiu casa própria, comprou torrono, casas om duas praias ditorontos o ostá construindo agora cinco guitinotos para alugar, com a mão do olra do osposo, guo ó podroiro. Tudo com anos do tralalho árduo na toira. Em sou caso, a roligiosidado paroco oporar como contoxto gorador o atualizador do disposiçòos. Ela ó uma ospócio do mão do santo omocional¨, som o con- toudo ospiritual das consultas roligiosas, mas com o contoudo omocional do acompanhar os cliontos na condução dos rituais mágicos, onvolvondo orvas guo promotom sorviços do tipo sogurar homom¨, ongravidar¨, pogar mulhor¨ otc. Esta sonhora ticou tamosa por sou carisma incomum, tom hojo um sito na intor- not o já toi citada om alguns llogs por suas oticazos rocoitas¨. 153 Já toi ontrovistada por tiguras pullicas como Gugu lilorato o Ratinho. A história ó importanto para oxplorar a ospociticidado da linguagom o da prática roligiosa do modo a tornocor capacidados para o tralalho. 4 No goral, um traço comum dostos latalhadoros ó a posso do alguma capacidado do tralalho cuja origom não ó o onsino tormal da oscola. A origom tamiliar dosta sonhora, por oxomplo, toi das mais procárias. O pai alandonou a tamília logo codo, guando sua mão o os tilhos chogaram a morar do tavor o a podir a ajuda do vizinhos para so alimontarom. Nosto limito, o caminho da dolinguôncia ó sompro uma possililidado. O ponto om guostão ó solro o dado oljotivo guo pormito a alguóm om tais circunstâncias uma solrovivôncia digna o, como om sou caso, ató algo mais, ou soja, um signiticativo croscimonto oconomico ao longo do muitos anos do ostorço. Goralmonto, a rogra solro a origom dos latalhadoros ó a tamília ostruturada, ou soja, composta por pai o mão, na gual um ou amlos tralalham o consoguom por si mosmos assogurar uma dignidado matorial mínima à tamília. As disposiçòos para o comportamonto oconomico oxigidas polo comórcio dosta sonhora são simplos. Os itons do sua larraca não são muito caros, o a vonda ó roalizada guaso sompro à vista. Ela não procisa do noçòos muito sotisticadas do cálculo o adminis- tração. Não procisa roinvostir no nogócio. Sou salor solro as orvas o sou lom trato com os cliontos são suticiontos. Ela ainda ó daguolas possoas simplos guo guardam dinhoiro om casa. Não utiliza lancos o cartòos do cródito. laz compras a prazo aponas om lojòos do olotrodomósticos com crodiário próprio. Esto caso ó intorossanto para ponsar guo croscimonto ocono- mico não nocossariamonto ó sinonimo do omproondodorismo. Ela não roinvostiu o oxpandiu o nogócio, aposar do tor auxiliado trôs tilhos a adguirirom lancas próximas às suas, o guo podo sor considorado uma oxpansão do nogócio da tamília. Vas não ó um croscimonto calculado o dirigido pola lógica racional do omproondodor. Sua asconsão o vida oconomica lom-sucodida dopondom tamlóm, alóm das disposiçòos oconomicas primárias do latalhador, a disposiçòos para a ação guo a princípio não são oconomicas, mas podom so travostir om disposiçòos oconomicas do acordo com as oxigôncias o possililidados dos contoxtos oconomicos do sua trajotória possoal. 154 A cordialidado¨, orronoamonto louvada por grando parto da sociologia lrasiloira como virtudo inata do lrasiloiro, ó uma dolas. O joito oxtrovortido o cativanto paroco truto da nocossidado oconomica do guom procisou podir muita ajuda na vida para solrovivor som so rondor à dolinguôncia, o guo, no caso das mulhoros, signitica prostituição oxplícita ou volada. Ela tamlóm consoguiu ir alóm do dostino da maioria das mulhoros polros com história somolhanto à sua, no ospaço urlano, o do ompro- gada domóstica. Aprosontou alguma capacidado possoal para o tralalho autonomo. Os rosultados om acumulo do lons possoais são a prova. A cordialidado ó uma dossas disposiçòos a princípio não oconomicas, apropriadas por contoxtos oconomicos. Ë uma disposição contral om contoxtos do classo nos guais o improviso o a adaptalilidado são nocossidados pormanontos. Outra disposição não nocossariamonto oconomica ó a porso- vorança. Ela ó uma insistôncia no tralalho árduo o rotinoiro, guo podo nada tor a vor com uma ótica do tralalho no sontido mais protostanto do tormo, mas sim com uma capacidado do autocontonção, do insistôncia, guo podo ostar rolacionada a um sonso do dignidado, incorporado atravós do disposiçòos para a honostidado. 5 Esto paroco um tipo do disposição primária do latalhador guo não choga a sor um omproondodor. Assim, osto tipo do latalhador tamlóm podo alcançar uma ostalilidado ocono- mica por um caminho ditoronto, um tipo do mórito altornativo àguolo do latalhador omproondodor, possuidor do disposiçòos socundárias como o cálculo prospoctivo, poupança oriontada o autossuporação possoal o oconomica. Por tim, cortos casos do latalhadoros nos pormitom ponsar om asconsòos oconomicas guo não são sinonimos do asconsão social, o guo onvolvo mudanças nos padròos do consumo o no ostilo do vida, mudanças ostas goralmonto rolacionadas. No caso dosta sonhora, ola molhora sou padrão do consumo, podo tazor poguonas viagons, tom casa na praia, mas parto do sou ostilo do vida pormanoco simplos. Anda do onilus porguo não guor apron- dor a dirigir, almoça a comida simplos vondida na própria toira, usa roupas modostas. Por sou nívol oconomico atual, podomos dizor guo ola mudou do classo, pois sua origom ó claramonto a raló ostrutural¨. Agora ola compòo a tração do latalhadoros não omproondodoros da nova classo tralalhadora¨ lrasiloira. 155 O sogundo caso ó o do um vondodor do contocçòos no Vor-o-- -Poso, do 33 anos. Tralalhou como omprogado na própria toira duranto a intância o a juvontudo. Dopois do longo porcurso, olo comoçou com uma lanca própria, na ala do roupas da toira, cujas lancas são maioros do guo as da citada ala do orvas. As lancas do roupa modom ontro dois o trôs motros do largura. Com o tompo o muito tralalho, incluiu mais duas, com a ajuda do pai, do irmão o da irmã, todos tralalhando no mosmo local, rovozando-so nos horários. Esto vondodor possui um sogundo omprogo, tralalha como sogurança particular à noito, com cartoira assinada, tazondo a sogurança do uma oscola. Esto dado ó intorossanto, considorando guo ó crosconto a nocossidado do muitos latalhadoros ontrontarom mais do uma ocupação ou omproondimonto para garantir sua ostalilidado oconomica o sua dignidado. A rotina no Vor-o-Poso ó posada para o latalhador. Alóm da concorrôncia, o movimonto nunca ó muito torto, caractorizando-so como o tamoso pinga-pinga¨ do sonso comum. Ou soja, o movimonto ó traco, mas constanto, dovagar o sompro¨, o guo não pormito guo latalhadoros como osto o alandonom, ainda guo tonham uma ronda tixa om outra ocupação. Para otimizar as vondas, olo procura poriodicamonto participar do toiras itinorantos, viajando para acompanhar os círios católicos locais, muitos dolos na llha do Varajó. Os círios são solonidados roligiosas muito tortos na rogião, marcados por volumosas procissòos, ocorrondo om datas ospocíticas o atraindo grando numoro do tióis. Por isso, comorciantos como osto procuram ostar atontos a tais datas o aprovoitar a oportunidado para olovar as vondas. Esto latalhador tom uma curiosa história com o loxo. Tontou a carroira como loxoador no início do sous 20 anos, viajando com um omprosário¨ o um grupo do jovons cologas por várias cidados lrasiloiras, doscondo om diroção ao Sudosto, chogando a morar trôs mosos om Santos. Por tim, rotornou som sucosso. Elo tamlóm sorviu o oxórcito duranto soto anos, com o gual conciliou o osporto. Em sua trajotória, o osporto surgo como altornativa positiva para a canalização do disposiçòos corporais tortos, compotindo com a dolinguôncia, possililidado constanto para jovons do origom polro como olo. Sua história com o loxo contorma um contoxto do tormação o atualização do disposiçòos para a honostidado o para o tralalho, pois o jovom polro paroco canalizar nolo uma torça guo podoria tor sorvido ao crimo. 156 Tamlóm ó um contoxto do possililidado do roconhocimonto do valor possoal, no gual o jovom polro tará sua aposta. Algumas disposiçòos, possivolmonto dorivadas dosta oxpo- riôncia, podom sor porcolidas hojo om sous otoitos. Sou atual tralalho como sogurança não oxigo simplosmonto o uso da torça. Antos, oxigo uma torça om potoncial, guo podo procisar sor molilizada a gualguor momonto. Por isso paroco havor nolo uma disposição para o autocontrolo, provavolmonto vinda do oxórcito o do loxo. Ë assim guo cortas disposiçòos surgidas ou atualizadas om um corto contoxto podom sor apropriadas por outro totalmonto distinto. Elas parocom atuar hojo om todos os tralalhos guo olo opora para solrovivor. Um toxto do sociólogo loïc Wacguant solro o loxo t2000) comproondo o osporto como via do oscapo para nogros polros amoricanos, como altornativa molhor do guo limpar sapatos alhoios para sompro. Nosto contoxto, ocorro uma aposta do so tazor carroira no loxo, polo sonho do sucosso matorial o tama. No Brasil, o tutolol paroco sor o oguivalonto do tal promossa do :~IJ-nau~ nau para homons do origom polro. No goral, calo ponsar guo a disposição dosportiva¨ dolo sin- totiza torça o autocontrolo, onorgias vitais para a solrovivôncia om tatias do morcado tortomonto marcadas polo imporativo do improviso. Outra importanto disposição prosonto ó a da honos- tidado. Elo tovo uma razoávol laso tamiliar, do pais católicos praticantos, sondo o pai a grando rotorôncia moral. Esto, um homom do lrio, paroco tor ostalolocido uma rolação do rospoito no lar, o guo so oxprossa na protunda admiração guo o tilho por olo manitosta om todas as ontrovistas. Aposar do gostar do vinho, no passado, não latia nos tilhos. Usava o próprio oxomplo do honostidado o latalha para discipliná-los, o guo arranca lágrimas do ontrovistado ao talar disso. Não aponas o contoudo podagógico, mas tamlóm, sonão principalmonto, a portormanco do pai ao ostalolocor um vínculo do diálogo o consoguontomonto do atoto o roconhocimonto com os tilhos, nosto caso ospocítico, podo tor contriluído signiticativamonto para a não dolinguôncia dolos. Outro ponto intorossanto ó guo sou pai voio do Nordosto, à ópoca, com a idoia do tontar a vida om lugar monos populoso, algo comum no Norto, o guo aprosonta um tipo do disposição itinoranto¨, guo podo tor intluonciado no ímpoto itinoranto do tilho om sair do sua cidado para tontar a vida tora o atualmonto 15¯ roalizar toiras itinorantos om vários lugaros, para complomontar a ronda. Sou pai so rovola satistoito com a aposta guo toz, pois com tralalho duro, tondo sido omprogado do transportadora duranto muitos anos, outro possívol otoito da disposição itino- ranto¨, consoguiu garantir a dignidado do sua tamília. O sucosso rolativo do guom nada tinha no Nordosto o consoguiu so ostalo- locor com sua tamília como um poguono comorcianto digno já ó motivo suticionto para jamais so arropondor, o tal satistação possivolmonto sorviu do oxomplo o intluôncia para os tilhos so dodicarom ao tralalho. A rotina do consumo o os lons dosto latalhador são otoitos do sou ostorço o sua ostalilidado lásica. Elo tom casa própria, já tovo moto do ano, paga atualmonto um novo consórcio do moto, a tilha do 11 anos tom computador o intornot om casa. Vai à pizzaria todos os domingos com a osposa, guo não tralalha tora, o a tilha. Já ponsa om como podorá tralalhar para sustontar a tutura taculdado da tilha. Esta possililidado no horizonto oxprimo outro traço marcanto dos latalhadoros, a noção do guo um tuturo molhor para os tilhos dopondo dos ostudos. Outra caractorística intorossanto ó o ostorço conscionto para a ototivação dosto oljotivo, algo guo não ostá dosdo sompro garantido, como na classo módia mais ostalolocida, mas guo oxigo a continuidado no ostorço cotidiano do sou tralalho. Em traços gorais, osto vondodor so aproxima mais do portil do latalhador não omproondodor. A oconomia do sou nogócio ó lásica, não aprosontando margom para roinvostimonto. Um dado intorossanto ó guo olo utiliza dois cadornos, um para anotação diária do tudo guo sai, o outro para anotação somanal dos lucros, guo olo não mostra a ninguóm. Elo goralmonto compra tudo à vista, pois os vondodoros são itinorantos, daguolos guo passam no comórcio para vor o guo ostá taltando. Elo não procisa do muitas capacidados oconomicas o administrativas para porcolor as domandas o supri-las. Sou comórcio ó principalmonto do camisas do timos do tutolol nacionais o intornacionais, o lasta a olo ostar atonto aos rosultados dos campoonatos para acompanhar a tondôncia das vondas. Elo aprosonta como sogrodo do sou comórcio salor talar a linguagom dos humildos, ditoronto daguola do intolocto¨, dos dicionários, o tamlóm ostar atonto às tondôncias da moda, dovido à ospoci- ticidado do sou ramo. Sou comórcio já chogou a tralalhar com o 158 cartão do cródito Visa, mas não ostava sondo lucrativo. Costuma tazor compras possoais à prostação, mas não gosta do muitas parcolas. Ainda guo tonha aprosontado um croscimonto do anoxar duas lancas ao longo do tompo, o guo contou com o ostorço do tralalho do trôs momlros da tamília alóm dolo, no goral ó ditícil considorar osto comórcio como um tipo do omproondodorismo ativo, guo lusca provor o calcular um roinvostimonto, cujo rosul- tado ó a otimização da oguação tralalho-lucro. Ou soja, olo não potoncializou sua margom do lucro, mas continua com a mosma margom, ainda guo utilizando um ospaço tísico maior. Outro caso intorossanto ó o do um homom soltoiro do 30 anos. Elo ó vondodor do cocos na lola Praça Batista Campos, no contro do Bolóm. Elo ó loiro do olhos azuis, portil osto pouco comum nos lairros polros do Bolóm, como o lairro no gual olo croscou o ainda vivo. Uma olsorvação inicial solro a população do Bolóm podo constatar um tato curioso: as ocupaçòos mais dosgualiticadas são oxorcidas om sua grando maioria por possoas da otnia indígona, nas guais raça o classo guaso coincidom. Na possililidado do guo osto dado contrilua para a prática do racismo contoxtual, dontro dosta ospociticidado onvolvondo a otnia indígona, parocou-nos intorossanto oxplorar a história dosto vondodor loiro, o unico dosta cor om toda a praça. Sou ponto tom um lom movimonto do cliontos, goralmonto do classo módia, moradoros do contro, nas proximidados da praça. Vuitos praticam oxorcícios tísicos lá diariamonto o assim consti- tuom uma cliontola tixa. O consumo da água do coco ó grando, sondo uma cultura local, dovido ao calor constanto guo taz no Norto o ao volumoso cultivo do coco nos arrodoros do Bolóm, do ondo vom a morcadoria. A praça ó corcada por larracas do coco lom organizadas o padronizadas, acompanhando o nívol do classo módia do lairro, pois so situa om um dos molhoros ospaços do contro do Bolóm. Esto vondodor não ó dono da lanca, olo tralalha no rogimo do dividir o lucro com o dono, guo não tralalha no local. O tralalho oxigo cálculo mínimo, rosponsalilidado o conhocimonto solro cocos. Elo procisa comprar dos tornocodoros guo aparocom no local rogularmonto, tazondo uma poguona ospoculação solro o proço o a gualidado do produto. Uma disposição importanto visívol om sou caso paroco sor a da autocontonção corporal para consoguir ticar muito tompo no mosmo lugar. Elo não tom 159 horário, alro lom codo pola manhã o tica ató a noito, som horário para sair, do domingo a domingo. Sai aponas ocasionalmonto, so procisar rosolvor algum assunto possoal o para almoçar, guando doixa um cologa vigiando a larraca para olo. O tralalho não ó muito posado, mas monótono o tatiganto. Elo não aprosonta disposiçòos omproondodoras, o guo tamlóm dopondo do con- toxtos, mas suas disposiçòos prodominantos atualmonto parocom sor no sontido do disposiçòos passivas para o tralalho ontadonho o ropotitivo, comlinadas com noçòos lásicas do comórcio o lom trato com os cliontos. Tais disposiçòos possivolmonto so originam om um contoxto tamiliar do honostidado o simplicidado. O pai tralalhava om transportadora, om uma rotina do viagons, o por isso acalou sondo muito ausonto onguanto ainda viviam juntos. Em alguns momontos da vida, a tamília procisou acompanhá-lo do uma cidado para outra, o guo oxigo disposiçòos para so roadaptar a circunstâncias novas, goralmonto ditícois om todos os aspoctos, tanto oconomicos guanto do rotina tamiliar. Tal oxporiôncia podo tor proporcionado cortas disposiçòos passivas para a docôncia do uma vida honosta, a porsovorança om uma vida dura o a adaptali- lidado do uma vida incorta. O pai alandona a tamília ainda duranto a intância do ontrovis- tado, o a mão solrovivo a partir disso como omprogada domóstica, para criar soto tilhos. Sou ostorço toi muito árduo o ola consoguiu cumprir a tarota, alcançando ainda o mórito do consoguir comprar uma casa com muitos anos do tralalho. Assim, ola so torna sua grando rotorôncia moral o omocional, sou grando oxomplo do tralalho, porsovorança o honostidado. Sua constância, ontrotanto, não choga a aprosontar disposiçòos socundárias para o tralalho omproondodor, o guo tamlóm ó o caso do tilho. Elo consoguiu torminar o onsino módio, com muito ostorço, já tralalhando na ópoca como tlanolinha¨, ou soja, vigia o lavador do carros, na mosma Praça Batista Campos. Dali consoguiu ovoluir para vondor cocos, tralalho mais soguro oconomicamonto, mais lovo o com um :ìaìu: ligoiramonto suporior ao do tlanolinha. Ë prociso considorar guo, para osta mudança, olo aprosontou cortas disposiçòos para raciocínio o rosponsalilidado guo pormitiram a alguóm dar-lho uma oportunidado do tralalhar om uma ocupação molhor, o olo consoguiu corrospondor à oxpoctativa. 160 Atualmonto, olo taz um curso do intormática dois dias na somana, com a duração do uma hora o moia a cada dia, momontos ostos nos guais doixa um cologa vigiando a larraca. Não por acaso, cooronto com suas disposiçòos lásicas, aposta na oducação como solução para todos os prollomas sociais. No goral, aprosonta loa capacidado do concontração o do raciocínio lógico. lala lom o aprosonta razoávois conhocimontos gorais. Aprosonta signiti- cativa autoostima no dotalho do calmamonto disputar talas com o ontrovistador, não so pormitindo intorrompor onguanto concatona sou raciocínio, talvoz indício osto do loas disposiçòos omocio- nais o cognitivas. Tudo isso podo tor contriluído para guo tonha passado do tlanolinha a rosponsávol por um poguono comórcio, alóm do contoxto contingonto da oportunidado. No ontanto, sou potoncial ostá proso no tompo guo a larraca oxigo dolo. Elo tamlóm paroco tor uma disposição dosportiva¨, guo sinto- tiza torça tísica o autocontrolo. Tom uma história com o tutolol, como inumoros garotos lrasiloiros. Troinou om divisòos do laso do vários clulos do Bolóm na adoloscôncia, nos guais ganhou inumoras modalhas, o naturalmonto sonhou sor um grando jogador do tutolol. Vas tovo guo parar para tralalhar guando a mão so adoontou. A disposição dosportiva ó intorossanto, pois concilia torça o autocontrolo, disposição tísica o montal, muito utois à solrovivôncia no morcado do tralalho. No caso dolo, oxigo rosistôncia tísica para passar guaso todo sou tompo proso na larraca o mantor uma ospontanoidado o um lom humor para disputar suavomonto os cliontos transountos da praça som causar irritação nos concorrontos. Essas trajotórias individuais, indopondonto do localidado ou rogião, mostram a roprodução do padròos ospocíticos dosta nova classo tralalhadora¨, o a partir disso podomos rotlotir solro o guo ó a sociodado do tralalho atual, o principalmonto o guo ola ó na poritoria do capitalismo. Como o portil do uma classo não so rosumo a traços rogionais, voromos agora como na loira do Caruaru a roalidado do nossos latalhadoros ó lom somolhanto, ainda guo suas histórias individuais sojam lom ditorontos. 161 A lElRA llVRE DE CARUARU A rogião Nordosto, idontiticada por Vangaloira Ungor t2005) como ospocialmonto trutítora om iniciativas do morcados locais ospontânoos, ó lastanto hotorogônoa om tormos do ocupaçòos. A loira livro do Caruaru, considorada Patrimonio lmatorial da Humanidado, o guo consta om uma placa logo om sua ontrada, talvoz soja sou molhor oxomplo. Sou mito ó torto, pois procisa logitimar o oscondor dosigualdados igualmonto tortos. Sua tama ó a do possuir todos os produtos guo alguóm possa imaginar. Sua roalidado, poróm, ó outra. A toira ó outro intorossanto rotrato, como o Vor-o-Poso do Bolóm, do guo ó o capitalismo como um todo. Exprimo lom a lógica contrítuga do roprodução do capita- lismo, do contro para a poritoria. No intorior da toira, oncontramos comorciantos do divorsos nívois, dosdo os mais ostalolocidos¨, donos do poguonas lojas, como as do joans o calçados, guo acoitam ató cartão do cródito, ató os mais ·uì::u~::, guo a cada dia aumontam om numoro, improvisando nas loiradas da toira, cada voz mais tavolizada. Considorada um polo do tralalho o comórcio local, atrai a atonção o o sonho do muitos latalhadoros da cidado o dos arrodoros. A loira livro do Caruaru ó um caso ompírico oxomplar da contiguração socioospacial o das hiorarguias ocupacionais do capitalismo poritórico. A lógica do roprodução do sou ospaço social o simlólico podo sor tacilmonto idontiticada om gualguor morcado municipal ou camolo¨ do país intoiro. Sua ospocitici- dado, ontrotanto, ó sor porcolida positivamonto por sous lata- lhadoros como um contro do rotorôncia do Agrosto, local do tralalho o do improviso, ainda guo os guo choguom por ultimo sojam dotinidos polos antigos - muitos dos guais um dia toram ultimos - como invasoros¨. Esso tato indica guo, contrário ao mito do amor à toira o à sua considoração como local do contra- tornização o atotividado, a toira ó, como gualguor dimonsão do capitalismo, um ospaço do alta compotitividado o improviso, sondo uma vordadoira guorra cotidiana a garantia do um ospaço om suas lordas. A toira possui uma magia para alguns momlros antigos, ligados a um suposto passado tiliado à arto o à cultura local, guo às vozos so aprosonta como suavo altornativa no mundo 162 compotitivo do capitalismo. Para o tilho do um cordolista tamoso, guo hojo vivo vondondo cadornos o poguonos artigos do papol, ostar na toira dopois do vagar polo morcado dosgualiticado ó como um rotugio, a molhor oscolha para guom não podo ostudar pra sor doutor¨, mas não guor sor pau-mandado¨ do ninguóm. A autonomia do toiranto ó um moio-tormo, uma lilordado rolativa, ontro o vitorioso do morcado gualiticado o o pau-mandado da raló¨, poramlulando logo ali ao sou rodor, como muitos tazom, carrogando o montando larracas guo sorão administradas por toirantos no dia soguinto. Esto ponto trata do uma dimonsão ospocítica da toira. Acoplada à toira pormanonto ocorro, dois dias na somana, uma toira móvol, guo so chama Sulanca, o vondo lasicamonto roupas do todo tipo. Por isso, procisa sor montada o dosmontada. Esta nocossidado alro margom para o tralalho lraçal do inumoras possoas dosguali- ticadas para uma ocupação mais valorizada no morcado. São ostos guo vão carrogar carrinhos posados com as poças das lar- racas por valoros muito laixos. Vosmo nossa dimonsão da toira a concorrôncia ó grando. O ospaço tísico ó um rotrato portoito das hiorarguias do capitalismo. O poguono comórcio ó oncontrado om suas várias dimonsòos o ospociticidados, organizados do dontro para tora, rospoctivamonto dos maioros para os monoros, dos molhoros para os pioros, o provavolmonto dos antigos para os rocontos, dos logítimos para os invasoros¨, dos ostalolocidos¨ para os ·uì::u~::, como diria Norlort Elias t2000). Há vários portis do poguonos comorciantos na toira, alóm do poguono agricultor o do artosão, guaso oxtintos, guo produzom o vondom sua olra. Entro os poguonos comorciantos oncontram-so lojas o lancas do divorsos tamanhos. Elos são porcolidos sompro como um lado B do morcado, como as tranjas ostigmatizadas pola dosgualiticação da mão do olra, das morcadorias, o aprosontando a vantagom do proços mais acossívois, domocratizando para loa parto da população a aguisição do produtos altornativos àguolos muito caros na dimonsão mais ostalolocida do morcado, muitas vozos distinto aponas pola marca o nomo do produto. Dontro as maioros lojas so oncontram poguonas morcoarias, lojas do sapato, lojas do roupa, ároas com poguonos açouguos, poguonas poixarias. A tama da toira ó guo lá tom do tudo¨. Entro as poguonas lancas o larracas há lugigangas do todo tipo, dosdo cadornos ató DVDs piratas. O amlionto da toira ó tonso, larulhonto, guonto: possoas, 163 adultos o crianças, podindo dinhoiro o rostos do comida, ó uma situação normal. Goralmonto o poguono comorcianto guor sor um grando comor- cianto, assim como o camolo guor sor um poguono comorcianto. Quom tom uma larraca guor tor uma loja. Um dono do um poguono rostauranto na toira, dopois do vivor om várias cidados no Brasil, aprondondo a improvisar om todo tipo do ocupação, agora guor sor dono do uma churrascaria. Quor ganhar dinhoiro, soguir o rumo mais dosojávol do um comorcianto. O orgulho rolativo o contoxtual do guom ostá intogrado por laixo na tatia omproondodora do capitalismo provoca a rotloxão acorca do um suposto potoncial do aprondizado político o cálculo prospoctivo. A análiso do tatoros oxtornos à ação individual podo sor uma parto importanto da comproonsão da roprodução social. Dontro ostos, as tasos o as contiguraçòos ospocíticas do capitalismo contomporânoo o do sous dosdolramontos no contoxto poritórico são tundamontais. Do acordo com dopoimontos, o contoxto do ação nos anos do 1980 ainda pormitia uma ligação com a arto o a cultura local om proporçòos tais guo sua vonda garantia a solrovivôncia tamiliar, como no caso do alguns cordolistas. Os tilhos das possoas guo vivoram nosta ópoca, após os anos do 1990, já não conhocom a mosma roalidado. O tator oxtorno om guostão ó a nova contiguração mundial do capitalismo tinancoiro o os otoitos do sous novos imporativos do tloxililidado¨ o adap- talilidado¨ no contoxto poritórico. Tais tatoros so dosdolram do divorsas manoiras. Atualmonto, há uma coorção cada voz maior para a oscola- rização intantil, mosmo om contoxtos rurais, polo monos mais do guo há duas dócadas. Paradoxalmonto, osto dado om muitos casos paroco contriluir mais para a procarização do guo para a gualiticação o ompodoramonto para uma loa insorção no morcado. Um imaginário o um consoguonto modo do vida guo choga om loa parto por propaganda, o om outra por morcadorias do tipo novo, guo trazom um novo mundo om si mosmas ó outro tator. Tais morcadorias tôm valor do uso no atual univorso simlólico guo compoto com o valor om si dos cordóis do outrora, por oxomplo. Estos tipos do mudanças ostruturais podom sor vistos om sous otoitos atravós do algumas histórias do vida roal do la- talhadoros na toira. 164 TRAJETÓRlAS DE BATAlHADORES lElRANTES As ostruturas oljotivas do sistoma capitalista contormam ao mosmo tompo um sistoma oconomico o um modo do vida simlólico. Estas duas dimonsòos so roproduzom atravós da tor- mação dinâmica do padròos do classo, sompro hiorarguizadas na dinâmica do sistoma. Tais padròos so roproduzom atravós do açòos individuais guo a um só tompo so constituom como histórias do vida o como histórias do classo. Trôs histórias do vida parocoram mais marcantos na posguisa, por oxplicitarom atravós do caminhos distintos a roprodução do uma mosma condição do classo, o guo nos pormito analisar a ospociticidado dossa nova classo tralalhadora dos latalhadoros om um momonto ospo- cítico do capitalismo poritórico, marcado pola intonsiticação da procariodado, da dosgualiticação o da intormalidado, na roalidado, volhas amigas do capitalismo poritórico. O primoiro caso ó a trajotória do um dono do um poguono rostauranto na toira, guo chamaromos agui do João. Elo ó casado, tom 49 anos o ó pai do uma tilha criança. Podomos considorar, alóm da trajotória possoal, a trajotória do uma tamília. Esto caso ó oxomplar do uma roalidado muito comum na loira do Caruaru: olos moram na própria larraca. Assim, loa parto da toira, assi- mótrica o hotorogônoa om sou ospaço, ó na vordado uma ároa comorcial, ao mosmo tompo guo ó um lairro polro. A trajotória possoal do João oxprimo lom um dos principais traços constitutivos do sua classo: uma inconstância social marcada por poguonas asconsòos o guodas nos padròos oconomicos o consoguontomonto nos nívois do gualidado do vida. Do origom tamiliar polro, sulurlana, ostudou muito pouco om sua juvontudo, salondo aponas assinar o nomo o algumas noçòos primárias do conta. Por isso, nunca tralalhou om alguma ocupação tormal- monto gualiticada, mas vagou por tralalhos do auxiliar duranto toda a juvontudo, om ocupaçòos guo aponas oxigiam ostorço lraçal. Um dado ospocítico, guo marca a história do muitos lata- lhadoros nordostinos como osto, ó a migração o oxporiôncia do vida do alguns anos om São Paulo. Esto traço oxprimo a vulno- ralilidado o a nocossidado do adaptação constanto dossa classo. Em sua taso om São Paulo, João vivou oxporiôncias dísparos, dosdo comor pão do lixo, om ditícois momontos iniciais, ató 165 chogar a sor goronto do uma churrascaria com 18 omprogados sol sua diroção. Tais contoxtos do atualização do disposiçòos¨ distintos, utiliando oxprossão do lahiro, pormitiram guo olo dosonvolvosso disposiçòos como rosistôncia tísica, insistôncia, capacidado do olsorvação o imitação, guando ora omprogado, o dosojo do asconsão social. Dovido a altos o laixos no morcado do tralalho, olo não consoguiu so ostalolocor om São Paulo, pordondo lons omprogos, o guo tamlóm so oxplica por motivos possoais, ligados princi- palmonto a uma incapacidado assumida om poupar o administrar sou dinhoiro. Na volta ao Nordosto, dopois do ontrontar inumoras diticuldados, olo so ostaloloco aos poucos na loira do Caruaru. Uma caractorística contral dossa classo ó uma nocossidado do insistôncia, aprondizado o adaptalilidado, om nomo da digni- dado. A disposição para sor tralalhador honosto, vinda do tamília honosta o polro, gora o ímpoto do so ostorçar para lovar a calo algum poguono omproondimonto comorcial guo doponda muito pouco ou guaso nada do ostudo tormal da oscola. Assim, um latalhador como João podo consoguir ostalolocor uma atividado comorcial rogular om vários ramos, dopondondo das oportunidados o da contingôncia do sua trajotória. Como tovo oportunidado do sor omprogado no ramo alimontício, om São Paulo, o o ostorço do aprondor a cozinhar, olo atualmonto so omponha para lovar adianto um poguono omproondimonto alimontício. Tralalhando com a osposa o com mais uma possoa omprogada intormalmonto, olo mosmo cozinha o divido com os domais todas as outras tarotas da rotina, como sorvir, arrumar o limpar. A disposição motivadora contral ó muito mais para o tralalho diligonto o honosto do guo alguma capacidado minimamonto sotis- ticada do administração o omproondodorismo. Elo ostá há corca do soto anos nosto atual omproondimonto o não aprosonta asconsão signiticativa, mas sim a manutonção do um padrão mínimo do dignidado para sua tamília. A olsorvação do alguns casos sugoro guo cortas asconsòos poguonas não nocossariamonto dopondom do uma capacidado muito sotisticada do cálculo, mas do tatoros contingontos do contoxto oconomico do ator guo proporcionam uma ospócio do omproondodorismo passivo¨. Esto conta com uma parcola do sorto, do um lom momonto do morcado para uma atividado ospocítica, mas guo não podo dosconsidorar corta 166 capacidado do adaptação o aprondizado mínimos para a admi- nistração do um poguono omproondimonto. Algumas condiçòos oljotivas contoxtuais tamlóm são sugos- tivas guanto a cortas diticuldados do asconsão do poguonos comorciantos, como João, guo possuom sonhos do croscimonto. Elo gostaria do sor dono do uma grando churrascaria, como a om guo tralalhou no passado om São Paulo. Entrotanto, aposar do sou tralalho insistonto o constanto no cotidiano, sou rondimonto nosto poguono omproondimonto ó muito pouco, garantindo aponas a roposição dos itons para comorcialização o a solrovivôncia da tamília. Nosto caso, ainda guo olo aprosontasso capacidado para poupança o roinvostimonto, taltaria um contoxto do aplicação para tais capacidados. Nosto caso, João ó um latalhador¨, mas não choga a sor um latalhador omproondodor¨. Outro caso signiticativo ó o do uma jovom sonhora do 45 anos, guo chamaromos do Zuloica, dona do uma poguona lanchonoto na loira do Caruaru. A história ó omllomática, dontro outros motivos, por otorocor um sugostivo panorama da rolação ontro as dimonsòos rurais o urlanas do capitalismo poritórico. Ela tovo uma intância tranguila no campo, som muito luxo, mas tamlóm som passar diticuldados matoriais. Esto ó um aspocto prosonto na trajotória do muitos latalhadoros guo vôm do campo para a cidado. Vuitos hojo vivom situação procária na cidado, pior do guo um modosto contorto no campo, vivido por uma goração antorior. Esto contrasto rotloto mudanças oljotivas no capitalismo poritórico dos ultimos anos, oxigindo cada voz mais a migração para a cidado por parto do tamílias polros guo não oncontram tralalho no campo. Zuloica toi uma adolosconto singularmonto lola. logo codo vivou o assódio masculino, principalmonto polos rapazos da cidado. Como analisa Bourdiou no toxto O camponôs o sou corpo¨, os valoros da cidado goralmonto ontram om choguo com o Iaü:ìu: do campo. 6 Esto contrasto paroco tor so transtormado om um contoxto do atualização do disposiçòos para osta jovom. Atravós dos olhos dos rapazos guo lrilhavam para ola, porcolou logo codo, na adoloscôncia, a possililidado do uma vida molhor na cidado. Ela ó ontática ao rolatar guo não guoria sor mulhor do matuto¨. Esta tala ganha um signiticado contral no contoxto goral do sua narrativa. 16¯ Sua mão tom um histórico do docadôncia na vida rural. Nascida om tamília alastada, ola dosco om sou :ìaìu: guando so casa com o pai do Zuloica, um simplos tralalhador camposino. A monina croscou prosonciando a mão roclamar do sor mulhor do matuto. O contoxto tamiliar paroco gorar uma torto disposição para guoror sair do campo. Como tovo uma laso tamiliar ostruturada, do pais honostos o som passar nocossidados matoriais, a ontrovistada consoguo migrar para a cidado atravós do uma possililidado do tralalho. Uma tia a lova para tralalhar om uma loja o ola aprovoita a oportunidado para so mudar dotinitivamonto para a cidado. Como complotou o onsino módio, Zuloica podo tralalhar om ocupaçòos minimamonto gualiticadas. Passou novo anos tralalhando como caixa om um supormorcado, chogando a sor promovida a um cargo do suporvisão. Esta intormação sugoro a atualização do disposiçòos para constância, rosponsalilidado, compromisso, soriodado o disciplina. Estos anos om um tralalho tormal o romunorado possililitaram a poupança do uma guantia om dinhoiro suticionto para guo ola docidisso arriscar um poguono omproon- dimonto por conta própria, oxporiôncia osta lom comum ontro os latalhadoros lrasiloiros no ospaço urlano guo aprosontam disposiçòos oconomicas razoávois para poupança o cálculo. Sou primoiro omproondimonto indopondonto toi a montagom do uma larraca para vondor roupas na citada loira da Sulanca. Ela rolata guo há muito tompo ora apaixonada por osta toira¨. Enguanto tralalhava como omprogada, Zuloica alimontava o dosojo do sor uma autonoma¨, algo guo a ditoroncia do muitos guo pormanocom como lons omprogados por toda a vida. O ímpoto para tal mudança conta tanto com um dosojo possoal rola- cionado a disposiçòos para calcular o tuturo o à autossuporação, guanto com contoxtos do oportunidado para ação, como ó o caso do so rocolor uma loa indonização no ato da domissão. Outro contoxto do atualização do disposiçòos importanto om sua trajotória toi o contato com uma amiga guo lho indicou um lom ponto na toira o sugoriu sou ingrosso no ramo do lanchonotos. Ela doixa o omproondimonto antorior, guo passava por viosos comuns a osta tração do morcado, o aluga uma larraca do porto módio no ospaço da toira ondo so oncontram lanchonotos. Comoça a tralalhar arduamonto o om sois mosos ostá com suas contas om dia. Estos dados sugorom uma ótica do tralalho incorporada o 168 loas disposiçòos para administração o atondimonto aos cliontos, dotalho guo taz muita ditoronça no ramo do alimontos, lom como limpoza do amlionto o organização. Halilidados como a manu- tonção do alimontos troscos o o proparo do lanchos salorosos tamlóm são ditoronciais o são gualidados da ontrovistada. A rotina narrada pola ontrovistada mostra uma vida guaso guo totalmonto voltada para o tralalho. Um poguono omproon- dimonto comorcial dosto porto oxigo uma carga horária alta. Ela alro o ostalolocimonto antos das soto da manhã o só tocha no tim da tardo, do acordo com o movimonto do cliontos. lolga aponas no domingo. Conta com o auxílio do tilho do 20 anos, guo domonstra visívois diticuldados com o tralalho. lsso oxigo guo Zuloica ostoja a todo o momonto atonta ao atondimonto na larraca. Ela ó uma máguina para o tralalho. Em sou rolato, o unico lazor ó tolovisão o consumo. Como mantóm um lucro poguono, poróm constanto, por môs, alóm do tor uma casa alugada, invostimonto osto rosultado do anos do tralalho árduo o diligonto, ola hojo tom uma ronda razoávol. Esta ronda mantóm um padrão do dignidado, oxprosso principalmonto no consumo, poróm não ostá sondo roinvostida para o crosci- monto do nogócio. Ela construiu uma casa contortávol, comprou uma moto para o tilho o compra constantomonto loas roupas do marca, as guais guaso não usa, a não sor para ir à igroja o ao shopping nos domingos. As disposiçòos oconomicas do uma poguona comorcianto como Zuloica são simplos. lsso so oxprimo na ospócio do contalili- dado prática dostos tipos do comórcio, guo oporam uma oconomia diária om sua administração. Ela não costuma tomar ompróstimos para invostir no nogócio. Aprosonta o sonho do croscor, mas na prática aponas mantóm a ostalilidado do nogócio, o guo om si já oxigo disposiçòos para constância o disciplina. Ela tamlóm ó uma latalhadora não omproondodora. Um dado importanto ó guo o comportamonto oconomico oxprosso na administração do comórcio rotloto as mosmas disposiçòos oconomicas oxigidas para o controlo dos gastos na vida possoal. Zuloica não gasta dinhoiro à toa¨, a não sor com roupas guo admito comprar alóm das nocossárias. A solrovivôncia como poguono comorcianto guo não crosco, mas so mantóm, o guo já ó um mórito om um morcado cada voz mais compotitivo, oxigo uma contonção total 169 das oconomias, om uma vida digna, poróm modorada, o tinanciada totalmonto com o sacritício do sou corpo. O torcoiro caso ó do outro dono do rostauranto, do 3¯ anos, guo chamaromos do Eliol. Esto já ostá om um nívol do omproon- dimonto guo o distinguo dos domais. Sou rostauranto ó um dos dois mais troguontados na toira. Tralalha com a tamília, mulhor o dois tilhos, um monino o uma monina já adoloscontos, alóm do tor sois omprogados intormais, sondo guo guatro tralalham aponas na torça o no sálado, dias da toira da Sulanca, nos guais toda a loira do Caruaru tica lom mais movimontada. Eliol vivou sua intância om um poguono sítio, a 12 guilomotros do Caruaru. Vivo lá ató hojo. Ë um típico caso do guom sai aponas parcialmonto do campo. Como olo mosmo dotino, cidado ó lugar aponas para tralalhar¨. Elo vom o volta do sítio com a tamília guaso todos os dias om uma Parati dos anos do 1980, lom consorvada. Nas vósporas dos dias da Sulanca, olo o a tamília dormom na própria larraca, para darom conta do arrumar todos os dotalhos para o dia soguinto, guo comoça lom codo. Eliol tovo uma tamília ostruturada no sítio. Sou pai tom um sítio lom alastado, com tontos do água natural. loi um agricultor lom-sucodido o sous irmãos são todos comorciantos ostalolocidos. Alóm da disposição para o tralalho, adguirida om um contoxto tamiliar ostruturado, olo tovo, alóm dos oxomplos do pai o dos irmãos mais volhos, algumas ajudas práticas, guo so constituíram como contoxtos do atualização do suas loas disposiçòos. Dopois do tralalhar om vários omprogos o poguonos omproondimontos, como o do roupa, no gual taliu, olo atualmonto paroco tor acortado sou dostino. Um do sous irmãos, comorcianto já ostalolocido há anos, toi guom alugou o atual rostauranto para olo, já oguipado. Esta ajuda ó narrada na torma do uma sociodado¨, na gual osto irmão ontrou com o capital o Eliol ontrou com o tralalho. Na prática, olo vai pagar o irmão guando pudor. Em pouco tompo, olo ostalolocou uma loa cliontola, pagou todas as contas o anoxou uma larraca ao lado, guo atualmonto utiliza como dopósito para suas morcadorias. Eliol ó um tipo do latalhador omproondodor¨, ou soja, ostá mais para poguono omprosário guo para tralalhador, ainda guo a distância om rolação a osto não soja tão grando. Sou rostauranto já ó lom maior do guo o do João, moncionado acima, tondo uma 1¯0 cozinhoira protissional como omprogada o ospaço próprio para as mosas nas guais os cliontos são sorvidos, ditoronto do João, guo procisa dispor suas poucas mosas na rua. Olsorvando sua rotina, vomos tacilmonto guo Eliol ó uma máguina para o tralalho, não para um sogundo, portoccionista, atonto a dotalhos o acompanhando do porto a ação do cada omprogado. Contoro so cada clionto ostá satistoito com o prato sorvido. Agradoco possoalmonto a cada um. Estos dados sugorom guo, alóm do disposiçòos oconomicas lásicas para administração o cálculo, um latalhador omproondodor procisa tamlóm salor sor patrão, ou soja, aprosontar disposiçòos para lidorança. Sua tamília paroco colalorar suavomonto, pois todos tamlóm aprosontam loas disposiçòos para o tralalho o corrospondom à lidorança sória o honosta do pai. No caso dos homons, uma disposição importanto para muitos latalhadoros ó a solriodado. Eliol aponas toma corvoja modora- damonto no domingo, guando joga tutolol no sítio com amigos, o guo so aprosonta como sua unica atividado do lazor. Ë visívol om sou tilho, já rapaz, todo o joito do comorcianto do pai, o guo sugoro guo sou oxomplo prático paroco ostar dando corto. Eliol aprosonta idoias concrotas acorca do mudanças o molhoras om sou nogócio, algo não oncontrado nos dois oxomplos antorioros. Elo protondo, om lrovo, colocar vidro solro as mosas, no lugar das tradicionais toalhas, por acroditar sor mais higiônico o do aparôncia mais modorna. Como consoguôncia do movimonto dinâmico do sou nogócio, sua administração oxigo uma oxclusividado maior dolo, guo passa guaso todo o tompo atondondo a tornocodoros o cuidando para guo não talto nonhum itom no ostoguo. Há itons guo ostragam rápido, om parto por causa do intonso calor típico da rogião, o guo são ropostos guaso guo diariamonto. Outro dotalho importanto da organização do sou nogócio ó guo todos tralalham unitormizados. Polo croscimonto guo já aprosontou o por poguonas propostas concrotas do mudança, alcançávois, ditoronto do sonhos vagos guo todos goralmonto tôm do possuir um nogócio lom maior, paroco guo Eliol ó um tipo do latalhador omproondodor¨. Em suma, tomos agui trôs trajotórias do vida lom distintas, guo não podom sor tacilmonto gonoralizadas como tipos ou portis sociais homogônoos. Entrotanto, olas roproduzom cortos 1¯1 padròos do classo guo contriluom para dotinir osta nova classo tralalhadora, guo ostamos chamando agui do latalhadoros, sojam olos omproondodoros ou não. São olos: 1) origom tamiliar ostruturada, intância vivida com pai o mão juntos, som passar nocossidado matorial imodiata, 2) disposição para o tralalho ostorçado o honosto, o guo signitica tamlóm dosojo do dignidado, 3) disposiçòos oconomicas lásicas para cálculo o administração primários. Quanto ao latalhador omproondodor, os olomontos ditoronciais, atora os domais, o guo podomos chamar do disposiçòos socundárias¨ do omproondodor, alóm das disposiçòos primárias¨ do latalhador no goral, parocom sor: 1) disposição o cálculo para autossuporação, 2) disposição para chotia o lidorança. ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C ó ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ↵ ⌦⇧✏l⇥⇣C ··Iaü·:au·:a. D¡an:IIa ·I:~: ·I::~::· lNTRODU(AO So a discussão solro classo social no Brasil não podo so turtar do talar solro a guostão da cor, não podoríamos talar dos latalha- doros o doixar do lado o toma guo tamlóm doscrovo a dominação om nosso moio dosdo os tompos da oscravidão ató os nossos dias. Com laso nas posguisas ompíricas guo rosultaram nosto livro, podomos dizor guo os latalhadoros podom sor lrancos, nogros ou mulatos, da mosma torma guo os oncontramos om todas as rogiòos lrasiloiras. Vas o tato do os latalhadoros sorom uma classo guo agroga todo o oxaltado colorido da tormação lrasiloira não anula o tato do guo os nogros ainda são vítimas do racismo, soja olo do torma sutil ou não, o guo isso tom intluôncia nas suas oscolhas, na torma do lutar por roconhocimonto o no guo podo oltor para si matorial o simlolicamonto. Ao contrário dos outros tomas dosto livro, para a guostão da cor não toi toita posguisa próvia, dossa torma, para doscrovor o guo ontronta o latalhador nogro nos dias do hojo o tontar porcolor as continuidados o novidados¨ dontro dosso toma, discutiromos a luta para ascondor vivida pola tamília Ramos ao longo do trôs goraçòos. Voromos a guo tipo do proconcoitos ostão sulmotidos os latalhadoros nogros nos dias do hojo o como roagom à luta para so atirmarom o sorom roconhocidos como homons o mulhoros do valor na nossa sociodado. Voromos como so dá a luta dos nogros latalhadoros para so atirmarom como lolos¨ o compotontos¨, 1¯4 do acordo com o ponsamonto do guo o tralalhador tom guo sor oticaz¨ o sor um lom roalizador do tarotas¨. Entim, guoro domonstrar, com laso nas trajotórias do vida analisadas, om guo modida o nogro procisa sor lolo¨ para chogar ao morcado do tralalho o guo, som sucosso nosso morcado, suas chancos no morcado matrimonial ticam ainda mais oscassas. ¯ ¯ ¯ A história do laura comoça om 1922 om uma numorosa tamília da Zona da Vata minoira. Sous pais toram momlros da primoira goração guo nascia do pais livros da oscravidão. Sous avós tamlóm nascoram nossa rogião o toram lonoticiados pola loi do Vontro livro. Do um total do 15 tilhos, laura ó a 12`. laura guarda consigo poucas lomlranças da casa om guo morava o da convivôncia com sous tamiliaros. A tamília comoçou a so soparar antos mosmo guo ola nascosso. Primoiro porguo alguns do sous irmãos o irmãs mais volhos já haviam so casado, mudado do cidado o tido tilhos, sogundo porguo o olo guo podoria havor ontro irmãos com idados tão ditorontos logo taltou. A mão do laura talocora antos guo osta complotasso sois anos do idado. A ontrovistada tom pouca ou nonhuma rocordação da mão. O pouco guo dola tala ó com laso no guo os irmãos mais volhos o amigos da tamília lho contaram. Com o talocimonto da mão, o pai do laura não tinha condiçòos do pormanocor sozinho com sois crianças om casa, incluindo uma monina do sois mosos, a caçula da tamília. Com isso, laura toi morar com um do sous irmãos, já casado o com tilhos um pouco mais novos do guo ola. laura não tala com muita satistação solro osso poríodo. O sou irmão não latia nola, mas a sovoridado com guo ora tratada toz com guo aumontasso a dor do já não mais tor pai o mão por porto. Na ópoca laura não ia à oscola, sua atividado ora lrincar guando podia o ajudar a cunhada com poguonas coisas do casa. Ela rossalta guo não tazia nada do cozinha, mas varria a casa o ajudava a cuidar dos solrinhos. laura conta com um pouco do amargura solro os mosos guo antocodoram sua saída da casa do irmão. Aos 12 anos ola conhocora uma sonhora nogra, nascida naguola rogião o guo morava no Rio do Janoiro, amigada¨ com um homom lranco tamlóm mais volho. Esso 1¯5 casal não podia tor tilhos o, ao conhocor a história do laura, dosojou adotá-la. Durou mosos a tontativa, com visitas, prosontos o promossas do uma vida na gual laura voltaria a sor tilha do alguóm. A tontativa tracassou porguo, aos olhos do irmão - guo não consultou ao sou pai solro tal proposta -, não ora corto ontrogar a sua irmã para uma mulhor amigada¨, por mais guo isso pudosso sor uma chanco do vida molhor para laura. Solro osso assunto, laura tala com carinho da mulhor o da possililidado do tor tido uma intância ditoronto. A ossa altura o irmão já não guoria mais ticar com laura. Com antigos conhocidos, olo arrumou ontão uma loa altorna- tiva para a situação: omprogar a monina om uma das tazondas da rogião. Os donos já oram antigos conhocidos da tamília do laura o guoriam moninas para ajudar nos atazoros domósticos da casa om troca do moradia, roupas, comidas o um dinhoirinho todo môs. Assim, laura voltara para a mosma tazonda om guo sous antopassados toram oscravizados. Ali, a ainda monina laura toi sondo moldada para so tornar uma loa ama¨ para sous patròos. A já adolosconto laura tom na roligião católica o ponto do partida para sou rolacionamonto do tó com Dous. Os passoios do domingo - o dia om guo podia sair por mais tompo da tazonda, mas sompro acompanhada - oram todos porpassados pola ativi- dado paroguial. Ao sor guostionada solro a importância da sua vida roligiosa o da sua tó om Dous, laura mostra a dor guo sontia com rolação à tamília guo não tinha mais: Uma mulhor mais volha na tazonda convorsava muito comigo solro ossas coisas do Dous. Dizia guo ou tinha do rozar muito para Dous o a Virgom Varia mo protogorom.¨ laura luscava na roligião católica aguilo guo não tinha: uma tamília. Tor uma tamília para si ora o guo ostava no íntimo dola o ó o guo guia toda a sua trajotória do vida. Nas roclamaçòos guo tazia dos sous irmãos, doixa claro guo não havia mais olo ontro olos. Sogundo ola, sous irmãos podiam do tato ir visitar alguóm na tazonda vizinha, mas não tinham tompo para ir vô-la dopois. Com isso laura tamlóm so dosapogou dolos. Um pouco rossontida, disso guo gosta do assinar o solronomo do marido porguo o sou do soltoira do tato nom ó o mosmo guo o dos mous irmãos¨. lsso mostra como ola so vô apartada da sua tamília do origom, ao mosmo tompo guo porcolo guo sou vínculo tamiliar só comoçou com o casamonto. 1¯6 Com o talocimonto do sou pai tguando ola tinha 15 anos), ocasião om guo os vínculos so ostacolaram dotinitivamonto, viu pola primoira voz, om muitos anos, grando parto dos sous irmãos rounidos, ainda guo morassom na mosma rogião. tEsso guadro só comoça a mudar anos dopois, guando ola procura o oncontra alguns irmãos o solrinhos.) Anos mais tardo, guando laura so torna adulta, com mais do 20 anos, continua soltoira o na tazonda. Os Corroios nunca lovaram carta para ola, mas o tuncionário da omprosa chamou a sua atonção. Naguola ópoca a moça cortamonto vira poucos homons soltoiros da cidado ou com modo do vida urlanizado. Cortamonto isso toi uma das coisas guo a toz so intorossar polo tuncionário dos Corroios, guo morava na maior cidado da rogião, porguo olo roprosontava um modolo do vida ditoronto do guo laura vivia. Vas osso não ora o unico traço do Andró guo o distinguia dos domais homons guo ola conhocia: olo ora cronto¨ o carrogava isso no sou corpo. O modo do andar, sompro com o símlolo da sua tó ta Bíllia) omlaixo do lraço, o andar duro o ritmado, como so marchando om uma latalha, o a soriodado com guo so portava chamou-lho a atonção. O poríodo do namoro toi o momonto om guo so alriu a laura a possililidado do um modo do vida longo da tazonda. loi nossa possililidado guo ola apostou ao casar-so com Andró, o iniciaram-so protundas mudanças causadas polo casamonto o a nova contissão roligiosa guo tizora por causa do marido. A guostão guo so colocou na nova taso da vida do laura toi a do como sor osposa o mão som a oxporiôncia do um convívio tamiliar para aprondor como tunciona uma tamília. As poucas coisas guo salia solro o cuidado do casa o do crianças toram da porspoctiva do omprogada, guo dovoria tazor suas atividados do modo como a patroa gostaria. Ë nossa nova porspoctiva guo a roligião protostanto comoça a so aprosontar. A nova contissão roligiosa o a nova vida socular guo ola passa a vivonciar lovaram-na a um novo aprondizado. No comoço dossa nova taso, o tomplo motodista mais porto ticava om Juiz do lora, a mais do 60 guilomotros da cidado om guo moravam. Era somonto om ocasiòos ospociais guo o casal so oncontrava com o pastor o domais momlros da igroja, por oxomplo, guando o primogônito dolos toi latizado. Alguns anos mais tardo, a tamília so muda para Juiz do lora o comoça a troguontar os cultos 1¯¯ duranto a somana o aos domingos. Quostòos como lor a Bíllia diariamonto, construir uma rolação do proximidado com Dous som a gual não ó possívol oltor a salvação da alma o comportar-so no mundo para sor roconhocido como um vordadoiro cristão toram coisas guo laura aprondou primoiramonto com sou marido o com a tamília dolo tirmãos o solrinhos). A primoira possoa guo a auxiliou na sua tormação toi Sou Andró. 1 Como já ora casada, podia convorsar com as outras mulhoros casadas solro os papóis do mão¨ o osposa¨. As novas amigas do laura, sonhoras motodistas ou suas cunhadas, são os oxomplos guo ola tinha para agir contormo o osporado para um motodista: aprondor a sor o molhor guo olo pudor om todas as ostoras da vida. A implicação do sor motodista para ola ostá ligada à construção do ponsamonto motodista duranto sóculos. O motodista so vô como um cristão ditoronciado, guo tom uma marca o um mótodo do so comportar no mundo, sua missão ó mostrar com a vida no guo ó guo so crô. Por isso ó importanto lomlrar-so sompro da cruz do Cristo vazia, pois ali houvo sotrimonto, mas com a rossurroição a promossa do vida otorna som sotrimonto mantóm a tó om Dous, guo toi roavivada no Pontocostos. Por isso os símlolos da igroja são a cruz o a chama. Aposar dos ganhos guo amlos tivoram com o casamonto, osta união toi conturlada. Por algum tompo, Andró não ora tiol a laura, o a intidolidado dolo atrapalhou as tinanças da tamília, uma voz guo olo ajudava a sustontar a tamília do sua amanto. Vosmo com ossa taso ditícil, laura não so soparou do osposo, ató porguo para mulhoros do sua goração, vindas do intorior do país, ora inviávol ponsar na possililidado do so soparar. laura procisou praticar na sua rolação matrimonial aguilo guo aprondia a sor na igroja. Uma prova disso ó guo, om 1988, muitos anos dopois da traição, Andró doscolriu tor câncor, o laura o os tilhos cuidaram dolo ató o sou ultimo dia do vida, um ano mais tardo. Na modida om guo os tilhos do laura toram croscondo, ola tovo a oportunidado do por om prática o guo havia aprondido na igroja o onsinar a olos a dosojarom uma vida molhor, mosmo sondo nogros, polros o moradoros da poritoria. ¯ ¯ ¯ 1¯8 PERlll DOS lllHOS DA lAVlllA RAVOS Os tilhos do Andró o laura ostão alaixo rolacionados om ordom cronológica. Antonio, o mais volho, hojo ostá com 60 anos, o lálio, o mais jovom, ostá com 4¯ anos. Antonio ó ongonhoiro civil o tralalha há mais do 25 anos om uma omprosa do ongonharia na Atrica. Sua trajotória oscolar comoça como lolsista da oscola da lgroja Votodista, guo tinha o rogimo do intornato. Soguia para casa aos tins do somana o partici- pava com a tamília das atividados roligiosas nosso poríodo. O oxórcito taz parto da trajotória do vida dosso homom, guo assim como muitos jovons polros guo tôm alguma disposição para ostudar no Brasil acroditou guo nosta instituição podoria ascondor social o oconomicamonto. loz o sou sogundo grau om uma oscola da Aoronáutica om outra cidado minoira, ondo havia sido lom-sucodido o, por isso, tora dosignado para continuar na Escola Proparatória do Pilotos dossa torça armada. A saída do Antonio do Exórcito voio por causa da sua cor. Na ocasião om guo havia já so tormado dontro da instituição, guando tinha chancos roais do tazor carroira nola, sou suporior talocou om um acidonto aóroo, o o gonoral guo o sulstituíra ora um homom guo não pormitia nogros guo possuíam postos mais altos nos sous rogimontos. Por causa disso, Antonio toi disponsado. Vas a gualidado da oducação guo rocolora duranto a sua trajotória oscolar, junto com a disposição incorporada para os ostudos, valoram-lho uma vaga no curso do Engonharia Civil no Rio do Janoiro ainda no mosmo ano om guo rocolora a disponsa. Esso poríodo toi do grando diticuldado matorial para Antonio, guo dosdo guo comoçara a ostudar no Exórcito dividia o sou salário com a tamília. Estando no Rio, som omprogo tixo o porcolondo nos ostudos a unica possililidado do ascondor, olo dividiu o sou tompo duranto todo o sou curso univorsitário ontro tazor licos o ostudar muito. Assim guo concluiu o curso, Antonio comoçou a tralalhar como ongonhoiro no Brasil, mas logo toi para o continonto atricano. Dosdo ontão, um dos motivos do orgulho dolo ó tor tido condiçòos do ajudar a sua tamília, auxiliando sous irmãos mais novos a torom tranguilidado matorial para ostudar o sous pais, guando nocossário. 1¯9 Antonio ó casado, tom dois tilhos, duas ontoadas o um noto. Para todos tonta Antonio sor oxomplo com rolação aos ostudos. Colra dos tilhos, dos solrinhos o das ontoadas um lom dosom- ponho oscolar, à imagom do sou próprio. A vida dolo gira om torno do tralalho, com pouco tompo para a tamília. Elo visita sous parontos no Brasil a cada guatro mosos aproximadamonto, ondo pormanoco om torno do 15 ou 20 dias, mas não ó um momonto do tórias propriamonto dito, porguo olo continua conoctado via intornot com o sou grupo do tralalho. João ó o sogundo tilho dos Ramos. Toda a sua trajotória oscolar toi construída om oscola pullica. Elo ó o unico tilho guo om toda a sua trajotória do vida domonstrou possuir disposiçòos muito olsorvadas por todos dosto livro no guo tango à idoia do um tralalhador autonomo. Tralalhou para omprosas pullicas tompo suticionto para oconomizar algum dinhoiro o doscolrir gual protissão autonoma iria soguir. Como sompro gostou do carros, comprou um táxi o toi por mais do 20 anos taxista om um ponto nolro da cidado. Aposar do não tor chogado a tazor nonhum curso suporior, olo ó um homom guo oxalta a oducação do um modo goral. Elo porcolo claramonto nas suas rolaçòos sociais guo oxisto um nívol do distinção ontro guom ostudou o guom não ostudou. Aposar do dizor guo trata todos com igualdado o rospoito, nom todos são iguais dianto dos sous olhos. Elo sompro gosta do ostar porto do possoas guo ostudaram o são intoligontos¨. João possui uma admiração ospocial por sou irmão mais volho, guo, dopois do talocimonto do pai, ocupou por muito tompo o lugar do choto da tamília, mosmo já morando no oxtorior. O intorossanto om João ó porcolor guo olo planojou a sua vida do modo a não tor do tralalhar mais dopois guo viosso a sua aposontadoria. Elo ó o unico tilho do laura guo ó aposontado, vivo com a aposontadoria o do aluguol do táxi. Podomos dizor guo olo latalhou para não tor guo latalhar no tuturo. João ó casado o não tom tilhos. Sua osposa tamlóm ó uma mulhor latalhadora, vinda do uma tamília do nogros com condi- çòos sociooconomicas muito parocidas com as da sua. Hojo sua osposa tamlóm ó aposontada como tócnica om Entormagom o ao longo do mais do 25 anos do casados ola apoiou o projoto do sou marido om tor osso tipo do vida. Hojo olos lovam uma vida 180 muito parocida com a guo planojavam: viajam, vão a tostas, tôm tompo para tralalhos voluntários o atividados artosanais. Elisou ó o torcoiro tilho do laura o Andró o tamlóm ostudou om oscola pullica, chogou a troguontar um curso univorsitário, mas não o concluiu. Ë tuncionário pullico municipal om uma poguona cidado no intorior do Vinas. Ë casado, tom trôs tilhos adultos o um noto. Do todos os irmãos, osto ó o guo mais luta para oscapar do horizonto da raló. Aparontomonto, Elisou não consoguiu ropassar aos tilhos a disposição para os ostudos o para o tralalho guo tanto a sua tamília proza. O guo torna ainda mais dolicada a sua história ó o tato do guo olo ó alcoólatra o não possui apoio algum por parto da tamília guo construiu. O apoio guo oncontra vom da mão o dos irmãos. Nas histórias solro Elisou nos chama a atonção o tato do olo tamlóm tor sido um jovom curioso¨, guo sompro luscava tazor coloçòos das mais divorsas coisas, do solos do cartas ató gilis. Sua coloção do gilis acalou guando sou pai, insatistoito com o dosomponho oscolar do tilho, a guoimou complotamonto. A lomlrança dosso opisódio não marcou aponas Elisou, guo ora dono da coloção, mas tamlóm sous irmãos, pola sovoridado da atitudo do pai, omlora rossaltom guo ossa não toi a unica voz om guo o pai toi rigoroso. Os tilhos rolatam solro as coças¨ guo olo o a mão lhos davam guando ostavam insatistoitos com alguma coisa guo haviam toito. Rosa ó a primoira tilha mulhor dos Ramos. Dosdo a intância ajudava sua mão nos atazoros domósticos, lom como a cuidar dos sous irmãos mais novos. Estudou na rodo pullica do oducação ató cursar taculdado om uma univorsidado todoral. Rolatou guo na sua intância sous pais oram possoas muito mais sovoras o guo dopois guo os tilhos croscoram ó guo so tornaram mais amigos, passaram a convorsar mais. Por outro lado, apontou o protago- nismo do sua mão como o principal tator da sua continuidado na vida oscolar. Rosa atrilui à mão o tato do tor ostudado mais do guo as outras mulhoros do sou lairro. Sogundo conta, laura insistiu com Andró guo as tilhas dovoriam ostudar. O oxomplo do irmão mais volho sompro toi um nortoador do sua trajotória oscolar, mas não maior do guo o oxomplo da sua mão. Ela doscrovo laura como uma possoa curiosa¨ o intorossada por plantas¨. Sogundo a visão do Rosa, laura soria uma lotânica¨ caso tivosso continuado a ostudar. Rosa rovola com orgulho guo sua mão possui uma onciclopódia solro plantas lrasiloiras, 181 guo ola sompro lia para cuidar molhor das guo tinha om casa. loi vondo o intorosso da mão, como oxomplo prático do alguóm guo so intorossa do alguma torma polo mundo oscolástico, guo Rosa so intorossou polos ostudos. Duas coisas alóm dos oxomplos da mão o do irmão a impulsionavam para ostudar: 1) os amigos da igroja guo oram polros, mas guo sompro ostudavam, 2) a osporança do guo om algum momonto do tuturo sua vida soria molhor do guo a vida lovada polas suas vizinhas lrancas, guo lho discriminavam om sua adoloscôncia. Rosa doscrovo um amigo da tamília, da lgroja Votodista tamlóm o polro como olos. Aos tins do somana, osso amigo almoçava na sua casa porguo não tinha dinhoiro para comor na rua. Elo ajudava a ola o a irmã Ana nos ostudos. Rosa copiava para olo os trochos mais importantos dos livros guo olo pogava omprostado na lilliotoca para oconomizar. lntluonciada polo oxomplo dosto amigo, Rosa porcolou guo ostudar podoria sor sua chanco do molhorar do vida. A discriminação guo ola o a irmã sotriam ora ostótica, tanto com rolação ao sou ostoroótipo guanto à imagom da casa om guo moravam. Ela conta guo toram muitas vozos considoradas como mais toias do lairro¨ o guo a sua casa, aos olhos das outras adoloscontos guo as discriminavam, tamlóm ora a mais toia, porguo o chão ora do cimonto latido, oncorado com coras coloridas. Os rapazos do lairro tamlóm não as viam como as mais lolas. Vas a roligião tazia para Rosa uma grando ditoronça porguo ola não ora tácil¨, tinha o comodimonto osporado para uma jovom ovangólica. Sua trajotória oscolar toi pautada por diticuldados, roprovaçòos do ano, momontos do discriminação por parto do protossoros. Ela conta guo um dos protossoros ora o sou torror¨. Elo colocava modo nos sous alunos o não tazia guostão alguma do otorocor-lhos ajuda com a matória guo locionava. Esso protossor mantinha-so à distância do alunos nogros. A matória onsinada ora ditícil, ticava impossívol tor algum vínculo com a disciplina guando o protossor sistomaticamonto ropolia o aluno. Rosa lomlra guo a sua unica tilha anos dopois tamlóm passou por situaçòos om guo so doparou com o racismo na oscola. Anos mais tardo, Rosa cursou a taculdado do Entormagom o toi na univorsidado guo conhocou sou ox-marido, pai do sua tilha. Sogundo ola, oram poucos os homons nogros na univorsidado 182 naguola ópoca, o a maioria não so intorossava por mulhoros nogras. O unico nogro guo so intorossou por ola toi o sou ox-marido, guo ó atricano. Sou círculo do amizados na ópoca ora constituído lasicamonto por outras mulhoros nogras o polros como ola. Com rolação ao morcado matrimonial, Rosa porcolo guo a mulhor nogra tom mais diticuldados om arranjar parcoiro, o isso piora com o passar dos anos. Sogundo a sua visão, guando so ó nogra o jovom os homons podom ostar dispostos a usá-la¨ som assumi-la¨, ou soja, a mulhor nogra sorvo como amanto, mas não como alguóm para so tor uma rolação sória. E mais volha tamlóm ó mais ditícil porguo os homons mais volhos so intorossam mais polas mais jovons¨ o tamlóm porguo as lrancas continuam a sor a protorôncia¨. Dopois do tormada, não tovo diticuldado om arrumar omprogo porguo suas notas oram loas o tamlóm porguo suas amigas lho indicavam para tralalhar om hospitais. Dosdo guo comoçou a tralalhar nunca ticou dosomprogada. Vais ou monos um ano dopois do ostar tormada, Rosa so ca- sou. Doscolrira no mosmo môs om guo iria so casar guo ostava grávida. Para a igroja o para a sua tamília não toi um prolloma, porguo o pastor guo ostava na igroja na ópoca tinha um outro comportamonto com mulhoros grávidas ou mãos soltoiras. Dito- ronto do guo ponsam muitos pastoros hojo om dia.¨ A rolação com o ontão marido durou monos do cinco anos. Dopois dossa rolação, nunca mais so casou, vivondo para tralalhar o oducar sua tilha, da mosma torma como porcolomos guo tazom os lata- lhadoros guo tralalham para invostir om uma vida molhor para sous tilhos. Tralalha ontro 63 o ¯3 horas por somana, dividida om dois omprogos ditorontos. E ó tamlóm no amlionto do tralalho guo rolata diticuldados com rolação à cor guo possui. Rolata já tor lidado com muitos casos do insulordinação do tuncionários, guo não lho rospoitavam por sor nogra, rolata muitas vozos tor sido isolada por outros chotos do ontormagom por causa da sua cor o não so osguoco dos olharos do dosdóm o surprosa do paciontos ao vorom uma choto do ontormagom nogra. Ana ó a outra tilha dos Ramos. Ë tormada om Rocursos Humanos o ató oncontrar ossa carroira havia toito o antigo Vagistório, chogando a sor protossora na própria oscola ondo havia ostudado na intância. Vora com a mão o atualmonto não tralalha mais 183 porguo laura, hojo com 8¯ anos, procisa do alguóm por porto, por mais guo soja lucida o ativa. Ë soltoira, nunca so casou o criou sou tilho Julio Cósar som a parti- cipação do pai liológico dolo. Na igroja, como já moncionamos, não houvo prolloma com o talu da mão soltoira. A lidorança da igroja na ópoca dizia guo o tilho ó lônção na vida da mulhor¨ o guo ninguóm podoria julgar uma mão por causa do uma lonção¨. O apoio maior voio da mão o da irmã, guo criaram o rapaz ao lado do Ana. Dopois do so soparar, Rosa toi morar com ola o a mão, o as trôs juntas criaram as duas crianças usando a roligião como auxílio para o aprondizado moral dolas. lálio ó o tilho mais novo da tamília Ramos. Sua juvontudo tovo monos diticuldado matorial, o guo para olo toi docisivo. loi lolsista da oscola da lgroja Votodista, assim como o sou irmão mais volho. Sua juvontudo toi ditoronto da guo vivoram sous irmãos. Aprovoitava mais o tompo do lazor, pois a tamília já não vivia com o dinhoiro tão contado. O guo o ditoroncia tamlóm dos irmãos guo chogaram a cursar o onsino suporior ó guo lálio não procisou corror para torminar o sou curso do graduação om Engonharia Civil. A razão tamlóm ostá nas condiçòos oconomicas da tamília. lsso mostra guo nosta ópoca os Ramos comoçavam a tor alguma asconsão oconomica. O oxomplo do lálio ora o sou irmão mais volho. Assim como Antonio, lálio luscou nas lorças Armadas uma chanco para croscor na vida, tazondo ontão um curso do Engonharia Vilitar dontro do Exórcito. Dopois do so tormar om Engonharia Vilitar o om Engonharia Civil, toi promo- vido polo Exórcito para tralalhar no Norto do país. Doz anos mais tardo olo docidiu voltar para Vinas Gorais por causa da saudado guo tinha da tamília o porguo, ostando casado o com dois tilhos, não guoria criá-los longo do sua tamília o da tamília do sua osposa, guo tamlóm ostava om Juiz do lora. lálio ticou alguns mosos na cidado minoira o não consoguiu tralalhar por muito tompo por lá, o guo o lovou a soguir o oxomplo do irmão mais volho, guo construiu a sua carroira como ongonhoiro na Atrica. Dosdo ontão tom uma rotina marcada por poguonas¨ tórias a cada trôs mosos para visitar a tamília guo ticou no Brasil. O pouco tompo para a tamília não ó caractorística somonto da tamília Ramos, o sim um traço do latalhador guo taz longas jornadas do tralalho om mais do um omprogo o guo muitas vozos não tom o tim do somana livro. O papol da trajotória dos Ramos 184 ó oxompliticar guais são alguns dos olstáculos guo tazom parto da trajotória dos latalhadoros nogros do país. ¯ ¯ ¯ No próximo trocho voromos guais são os tipos do racismo aos guais o latalhador nogro ostá oxposto. Usaroi a trajotória dossa tamília como oxomplo para doscrovor o guo acontoco com várias tamílias do nogros latalhadoros guo procisam ontrontar o racismo para so atirmar na sociodado o consoguir ascondor socialmonto. lUTA POR EVBRANQUEClVENTO Ora, o guo ó omlranguocimonto o o guo signitica omlran- guocor? 2 Grosso modo, omlranguocimonto ó o procosso simlólico ao gual o indivíduo via do rogra procisa so sulmotor para sor acoito om um grupo om guo normalmonto soria ropolido polo tato do sor nogro. O mundo ó cindido ontro aguilo guo ó tido como lom¨ o dosojávol o aguilo guo ó mau¨, aguilo guo não dovo sor continuado o om alguns casos, ropolido. Emlranguocor tamlóm rovola outro par do oposição: o sujo o o limpo. No nos- so imaginário, polros o nogros do nosso país são possoas cujo modo do vida ó tão dogradanto guo a todo momonto procisam provar aos outros guo são limpos, arrumam as suas casas, lavam as suas roupas, ontim, tôm higiono. Quom ó guo nunca ouviu do alguóm: sou polro, mas sou limpo¨? O omlranguocimonto ó um procosso modorno do dominação do gual o nogro na sociodado lrasiloira não consoguo oscapar caso oltonha alguma asconsão social. Não ó uma guostão do oscolha para olo, porguo o omlranguocimonto ó imposto polo modo do vida dominanto. A mídia ó o moio por oxcolôncia do pro- pagação dosso modo do vida. As possoas mais lonitas raramonto são nogras, os lons do consumo tdosdo uma garrata do corvoja, pasta do dontos ató um carro) vôm acompanhados do gonto muito lonita - nonhum ou aponas um nogro. As propagandas acalam rovolando guo oxisto uma vida loa¨, do sucosso¨ guo não ó projotávol para nogros o polros. Ao tolospoctador tguo nunca vai alcançar aguola vida ali mostrada) rosta ongolir soco o lutar com armas tracas por lons oscassos. A condição para o roconhocimonto do nogro como digno passa polo omlranguocimonto. 185 As mulhoros o os homons nogros ostão sulmorsos om uma dinâmica social guo os olriga a todo momonto a luscar digni- dado social, aposar do sorom nogros. Dizomos aposar do¨ porguo o rosultado do omlranguocimonto na prática ó o roconhocimonto do nogro lom-sucodido om alguma ostora da vida, aposar do tor a cor guo tom. Ë sor considorado limpo o honosto, aposar do sor nogro. Para o nogro, omlranguocor ó criar om torno do si uma armadura¨ guo o protogo do racismo. ¯ ¯ ¯ O RAClSVO ESTËTlCO NA VlDA DA VUlHER BATAlHADORA O guo ó o racismo ostótico? Ë o racismo guo sotro aguolo guo possui caractorísticas corporais guo são dosgualiticadas na vida social. As caractorísticas tísicas do nogro são dosgualiticadas na modida om guo oxisto um padrão do loloza guo não o onglola como lolo¨ o cujos traços não dovom sor dosojados. So o loitor guisor comprovar a voracidado dossa prática, lasta ir aos salòos do loloza o olsorvar guantas cliontos nogras guorom continuar a mantor sous calolos crospos o guantos tratamontos cosmóticos são otorocidos a olas para guo sous calolos tiguom lisos. Na nossa sociodado, as mulhoros so valom muito mais do guo os homons do tratamontos ostóticos, o guo rovola guo a proocupação com sua imagom tom signiticados guo não são compartilhados polos homons, omlora lhos agrado guo as mulhoros do um modo goral so cuidom. Ë nossa corrida polo tratamonto cosmótico com tins ao omlranguocimonto guo a latalhadora nogra ó impolida a ontrar, acroditando guo isso lho trará maioros lonotícios. Cortamonto a latalhadora nogra sotro monos do guo a raló, porguo ostá om molhoros condiçòos sociais do lutar polo omlran- guocimonto, guo ó inoronto à luta do asconsão do classo. Ou soja, ola tom mais rocursos do guo guom ó da raló para comprar roupas, cuidar da polo o do calolo, porguo ostá insorida no morcado do tralalho. O guo tazom os latalhadoros tronto ao racismo ostótico ao gual são oxpostos todos os dias na mídia o om suas rolaçòos intorpossoais? Como ó possívol construir-so nogro, tor autoostima 186 sondo nogro, om uma sociodado om guo o nogro ó a nogação da loloza o do tralalho¨? As práticas dososporadas para omlranguocor tmostradas om um capítulo solro racismo na raló por Emorson Rocha no livro · :aI~ ü:a::I~::a. gu~n ~ ~ c·n· :::~ - Souza, 2009) usadas pola raló já não são as guo praticam os latalhadoros. lsso porguo os latalhadoros já possuom uma tamília ostávol tcom polo monos um dos pais sondo capaz do sor tonto moral o provisão ocono- mica, mosmo guo a ronda tamiliar soja laixa), guo signitica mais sogurança para lidar com as situaçòos do cotidiano. E as práticas das latalhadoras nogras rovolam guo o grau do tonsão com rolação à nocossidado do uma aproximação da ostótica lranca¨ ó somonto monos dososporada porguo ossa classo comoça a tor dinhoiro para invostir no sou corpo o uma molhor posição no morcado do tralalho to guo signitica guo osso corpo procisa ostar om condiçòos tísicas do tralalho, caso contrário sua tonto do ronda ostará amoaçada). Alóm do saudávol, a latalhadora procisa so tazor lonita, por isso o uso do omlranguocimonto tamlóm tom como tim o morcado do tralalho. Aparontomonto são as latalhadoras nogras guo oscolhom¨ gual aparôncia tor, por oxomplo, guo tipo do calolo tor. Vas o calolo alisado o longo tcom apliguos) não ó uma opção: para muitas nogras, já ostá dado guo sous calolos procisam passar por um longo procosso guímico para guo tiguom lolos do vordado. Som o calolo guimicamonto tratado, a mulhor nogra so sonto monos tominina para oncontrar um namorado, monos aproson- távol no tralalho, sonto-so oxatamonto como o guo toi construído solro o nogro om goral: ola so sonto uma sulmulhor. Ë para guo isso ocorra o monos possívol guo as latalhadoras nogras lotam poguonos salòos do loloza dos sous lairros. Ë para ovitar os olharos do roprovação, guo doom tanto guanto sor xingada, guo a latalhadora lusca so aproximar do omlran- guocimonto. Não guoromos dizor agui guo não oxisto para olas prazor om tazor tratamontos ostóticos. No ontanto, a manoira como isso ó toito, pautado om padrão do loloza incooronto com sua cor, rotloto guo a latalhadora nogra so sulmoto porguo não tom outra opção. Com rolação ao morcado matrimonial, Rosa porcolo guo a mulhor nogra tom mais diticuldados om arranjar parcoiro, o isso piora com o passar dos anos. Sogundo sua visão, guando so ó 18¯ nogra o jovom os homons podom ostar dispostos a usá-la¨ som assumi-la¨, ou soja, a mulhor nogra sorvo como amanto mas não como alguóm para so tor uma rolação sória. E mais volha tamlóm ó mais ditícil, porguo os homons mais volhos so intorossam mais polas mais jovons¨, o tamlóm porguo as lrancas continuam a sor a protorôncia¨. A latalhadora nogra não tom oscolha dianto da dominação ostótica, o ó isso guo ola não tom como vor. A alogria do muitas ó só uma oxprossão do alívio om tor calolos guo, aposar do não sorom iguais ao do alguóm lranco, doixaram do sor crospos. Convóm a guom domina guo o dominado acrodito guo taz o guo taz porguo ó livro o guor tomar tal atitudo, convóm à ordom do mundo guo as mulhoros nogras so alogrom o acroditom guo tazom tudo o guo tazom simplosmonto porguo ó lom para olas o ticarão mais lonitas. O movimonto om diroção ao guo ó lolo ó guostão do vida ou morto para as latalhadoras, guo alóm do tralalharom muito tanto tora guanto dontro do casa procisam tirar horas valiosas da sua somana para so garantirom lolas, alóm, ó claro, do orçamonto, guo ó calculado na ponta do lápis para guo sompro possam ir ao salão do loloza. Agora, para guo procisa a latalhadora nogra cuidar da sua imagom? Para guo na disputa no morcado tsoja olo matrimonial ou do tralalho) ola diminua a dosvantagom guo posa solro si. Para guo soja porcolida na sociodado como alguóm guo tom valor o ó capaz do corrospondor às oxpoctativas guo posam solro ola. A imagom da gual a mulhor nogra procisa cuidar tom como oljotivo rovolar a sua capacidado do oxorcor alguma tunção no amlionto do tralalho. Do um modo goral, todos os latalhadoros posguisados nosto livro procisam provar guo podom sor lons tralalhadoros o provam isso tralalhando. O guo ocorro ó guo, como a latalhadora nogra tom ossa dupla dosvantagom tsor mulhor o nogra), antocipadamonto procisa ola construir a sua imagom para guo as possoas acroditom guo ola podo tazor o guo lho toi proposto. Chogar ao morcado do tralalho nas mosmas condiçòos do outros candidatos não nogros podo sor comparado a uma corrida do 100 motros livros om guo as nogras compotom ostando 200 motros atrás da linha do chogada. Rosa o Ana porcolom guo o omlranguocimonto ó algo guo muitas mulhoros nogras dosojam. Porcolom guo ossa guostão nortoou muitas situaçòos do racismo sotridas dosdo a adoloscôncia. 188 A disputa ontro olas o as outras adoloscontos da rua so dava na dimonsão ostótica do corpo, amlas saíam pordondo porguo suas poucas roupas provinham do doaçòos da igroja ou oram roupas guo sua mão ou olas mosmas tmais tardo) taziam. Para as irmãs, ora o sálado o dia do ritual do loloza¨: dopois dos atazoros domósticos já toitos, uma arrumava calolo o unhas da outra. Dosso ritual, olas não saíam ilosas. Como usavam uma ospócio do torro guonto para alisar os calolos, goralmonto sous couros caloludos, nucas o orolhas ticavam um pouco guoimados, pois ora muito ditícil manipular osso torro da raiz do calolo ató as pontas som tocar na polo. As razòos guo as lovaram a so proo- cupar com os calolos, a ponto do não ovitarom usar algo guo pudosso lhos guoimar a polo, são claras: olas tinham algumas vizinhas guo oram racistas o não guoriam sor ongolidas polo proconcoito guo sotriam. Por muitas vozos toram olas vítimas do dolocho por causa da cor o do calolo guo tinham. No momonto do rolatarom suas juvontudos, o racismo sompro vom à tala, olas porcoliam-so como aguolas guo não tinham sucosso om amizado o namoro. Sompro lutaram para nunca sorom tachadas como tácois¨ o, para isso, a roligião toi um oscudo oticaz, guo, alóm do protogor a imagom, dou a olas uma noção do vida om castidado¨, guo dizia rospoito tanto ao ato soxual om si como tamlóm a todo um modo do agir com rolação à soxualidado. Anos mais tardo ó guo houvo um rolaxamonto dossa tonsão para as duas. Essa sogurança só voio para olas porguo Ana o Rosa ontraram no morcado do tralalho, tivoram tilhos o construíram vidas ostávois para si. O otoito guo lhos causa rovor suas vidas ó motivo do orgulho. O critório do comparação guo olas usam para dotorminar o guão ostão lom ó comparar, como uma rovancho, como ostão as vizinhas guo tanto dosdonhavam dolas anos atrás. Comparam suas protissòos, suas roligiòos, suas rondas, o dosonvolvimonto sociooconomico dos tilhos o tamlóm sous corpos. O SUCESSO NO AVBlENTE DE TRABAlHO No caso da tamília guo ilustra osto toxto, os tilhos do laura tornaram-so lom-sucodidos no morcado do tralalho. Aponas um dolos rolatou tor passado um poríodo dosomprogado. Dos sois 189 tilhos, guatro possuom onsino suporior comploto o tralalham nas rospoctivas ároas om guo so tormaram, um ó tuncionário pullico o o outro tralalhou como autonomo ató so aposontar, do torma a tor uma vida mais próxima da classo módia. O guo podo oxplicar o sucosso dossa tamília no amlionto oscolar o do tralalho? Ë salido guo nas mais simplos práticas do cotidiano oscolar, tanto por parto do corpo do protossoros o tuncionários guanto do alunos, sojam nogros ou lrancos, ó toita a distinção ontro raças - atriluindo-so ao nogro um papol dogra- danto tanto com rolação à sua imagom guanto à sua capacidado cognitiva do aprondizado prático o moral. lomlrar da oscola, para os tilhos do laura, ó lomlrar do um poríodo do diticuldados, no guo diz rospoito à própria aprondi- zagom. Somonto o primoiro o o ultimo tilho do laura ostudaram como lolsistas om oscola privada, os domais, om rodo pullica. Todos os guo ticaram na rodo pullica toram roprovados mais do uma voz. Os tilhos guo ticaram na rodo pullica rolatam guo os protossoros, por mais guo alguns tontassom ao monos distarçar, mantinham uma corta distância dolos. Alguns dos outros cologas tamlóm taziam guostão do domonstrar guo ostavam longo dos nogros da sala. A situação no caso dolos toi mais simplos do so ontrontar do guo so tormos comparar com os irmãos guo toram para o cológio particular. Vuito omlora no cológio da lgroja Votodista om guo os dois ostudaram não houvosso discriminação oxplícita por parto dos protossoros, olos oram os unicos nogros da sala, o isso lhos causava um corto doscontorto. Já os guo ostu- daram na rodo pullica não oram os unicos nogros, o por isso as amizados na oscola toram importantos, tanto com os nogros guanto com os lrancos o mostiços polros. Agora, como ó possívol oxplicar a pormanôncia do todos na oscola o ató a sua tormação no onsino suporior? Uma das oxpli- caçòos vom da roligião, guo lhos onsinou, por moio da mão - guo toi a grando rosponsávol pola continuidado da vida oscolar dos tilhos ató guo olos croscossom -, guo não doviam dosistir do lutar por uma vida molhor o guo o moio do oltonção do uma vida alastada ora atravós dos ostudos. Alóm disso, roligião o oscola oram os moios guo a tamília tinha do so distinguir ontro a sua vizinhança. Era o modo do so atirmar poranto a vizinhança como uma tamília do valor. Os tilhos ostu- davam, proparavam-so para o tuturo, tinham, atravós da lgroja, 190 uma tormação moral, guo para muitos podoria prossupor guo so tornariam lons conjugos o pais. Ou soja, a tamília tinha moios do tugir da dolinguôncia. A roligião dava o suporto para olos aprondorom a so comportar no amlionto do tralalho. Aprondoram a rospoitar o protossor, o choto, som nunca roagir agrossivamonto contra olos, mosmo guo os insultassom. laura disso muitas vozos guo tom coisas guo so dovo ouvir calado¨. Esporar pola oportunidado do dar a molhor rosposta ó o guo nortoia a conduta dos tilhos do laura no amlionto do tralalho. Essa molhor rosposta¨ ó sompro tazondo no tralalho o molhor guo pudor. Como tinham o compromisso roligioso do dar um lom tosto- munho solro si aondo guor guo tossom, procisavam sor os molho- ros alunos o tuncionários guo pudossom, doviam sor roconhocidos por sor gonto tralalhadora o ostorçada. Cortamonto toram ossos prossupostos roligiosos guo, associados ao tato do torom uma tamília ostávol, mosmo nos poríodos do grandos diticuldados matoriais, os moldaram para o morcado do tralalho o ajudam a oxplicar a pormanôncia do todos olos nosso morcado. Como o racismo so manitosta no amlionto do tralalho do latalhador nogro? Ora, muitos podom ponsar guo so o nogro ocupa algum cargo protissional ó porguo não há racismo no sou amlionto do tralalho, ou polo monos guo não houvo, tanto guo olo toi acoito. Estamos muito acostumados a vor na tolovisão guo o racismo so manitosta contra os lolsos dos nogros porguo ganham monos do guo sous cologas do tralalho possuindo os mosmos prodicados guo ostos. Não ó só aí guo mora o racismo, isso ó aponas rotloxo do um procosso guo culmina om salários mais laixos. Rosa, guo ó ontormoira, já vivonciou no sou amlionto do tralalho muitos olharos do dosdóm pola tigura do uma mulhor nogra como choto, mosmo guo a ontormagom soja tida como uma protissão tominina. Quando uma tamília não gosta do procodimonto do tócnico do Entormagom tno caso do hospital om guo ola tralalha muitos são nogros), podom para talar com a choto dolo. Sogundo Rosa, o olhar o o comportamonto da tamília guo roclama mudam guando a voom. Em um caso ospocítico, uma tamília havia podido, som dizor o porguô, para o pai sor atondido por outro tuncionário, o sou podido toi acoito. Alguns dias dopois, podiram 191 novamonto para mudar o tuncionário o podiram para convorsar com a rosponsávol pola unidado tRosa). Como om cada plantão no hospital há um rosponsávol por cada unidado, a tamília já havia convorsado com outra choto da soção, guo trocaria com Rosa do turno. Esta outra ontormoira avisou-lho solro o prolloma com a tamília, dizondo-lho guo guoriam convorsar com ola, o alortou-lho do guo o prolloma da tamília com os tuncionários ora justamonto com rolação à cor guo olos possuíam. lazondo a sua olrigação, Rosa toi convorsar com a tal tamília, guo ologou não guoror guo o pai tosso tratado por aguolos dois tuncionários om guostão porguo olos não ostavam cuidando com tanta oticácia¨ do sou pai o podiram para guo Rosa trocasso novamonto os tuncionários, dossa voz por uma tócnica do ontormagom lranca guo olos haviam visto tralalhando no mosmo andar om guo o pai ostava intornado. Não só Rosa, mas todos os sous irmãos tôm uma história do doscontiança com a tigura do nogro para contar. O guo ó comum nos rolatos do Rosa, Antonio o lálio ó guo olos tôm tamlóm muitas diticuldados om lidar com sous tuncionários, tanto lrancos guanto nogros. Rolatam guo ó ditícil tor um cargo do suporvisão guando so ó nogro, porguo paroco guo a contiança do grupo na hora do oxocutar o tralalho ó mais trágil guando o choto ó nogro¨. Como so olo não tosso capaz, nas horas mais ditícois, do tazor o guo so ospora dolo. Dopois do mais do 20 anos om uma unica omprosa, Rosa o Antonio já adguiriram contiança o rospoito por parto dos tuncionários. Vas não doixaram do notar o racismo contra algum tuncionário ou contra olos mosmos. Para mostrar guo ossa história do racismo no tralalho ó coisa guo tamlóm acontoco ontro os mais jovons, valo a pona contar o guo o tilho do Ana, guo tom 2¯ anos, vivou tralalhando om uma distriluidora do corvojas. Julio Cósar ora o unico nogro guo tralalhava como roprosontanto comorcial nossa omprosa. Duranto mosos um dos gorontos rosponsávois por coordonar todos os outros poguonos grupos do roprosontantos da omprosa só usava o sou nomo como oxomplo nogativo om vondas. A sistoma- ticidado dos comontários o da prossão guo olo sotria tmosmo sondo um tuncionário pontual, guo, como olo diz, assim como muitos latalhadoros ontrovistados, tamlóm já chogou a tralalhar mosmo torido om acidonto do tralalho) toi om alguns momontos 192 tão torto guo olo chogou a tor alguns picos do hiportonsão artorial o crisos do onxaguoca. A postura do nucloo ao gual Julio Cósar portoncia dontro da omprosa ora a do dar apoio a olo. Sompro nas rouniòos do sou grupo, sou suporior diroto doixava claro para os outros ropro- sontantos guo, ao contrário do guo ora dito polo goronto goral, ora Julio o mais produtivo do sou nucloo. Os cologas tamlóm o roconhociam assim o toi uma das razòos para tor sido oloito como roprosontanto da classo na dirotoria da omprosa. O RAClSVO NO AVBlENTE REllGlOSO Nas igrojas pontocostais o om algumas protostantos tradicionais, tonta-so criar um amlionto mais igualitário. A latalhadora nogra oncontra no soio do contoxto roligioso uma tonto do autoostima para lidar com a possililidado do sotror racismo. A valorização da tigura tominina no guo diz rospoito ao tralalho tom algumas donominaçòos capaz do assumir cargos om todos os nívois da hiorarguia institucional o do tralalho) o a sou corpo ó algo muito progado o incontivado. Ë claro guo não ó do modo como a mídia mostra como logítimo, ou lolo, mas há um concoito do guo so dovo ou não usar no sou vostuário, por oxomplo. O uso do cosmó- ticos para polo, calolos o algumas maguiagons tamlóm são artigos usados polas latalhadoras guo troguontam igrojas ponto- costais. A valorização da mulhor taposar do sor considorada pola toologia a tigura guo ticou com as doros do parto, como castigo polo pocado original) como possuidora do virtudos morais tanto na vida roligiosa guanto na socular ó domonstrada nos cultos toitos para olas o nas atividados guo olas são ostimuladas a tazor. A mulhor nogra dontro do amlionto roligioso sonto-so ostimu- lada a so amar o a so acoitar como tal na modida om guo ganha autoostima o sogurança para agir no mundo. Vas o tato do promo- vorom uma igualdado do gônoro, toma inclusivo dolatido no intorior dossas instituiçòos, não guor dizor guo na prática todas as mulhoros sojam iguais ontro olas o aos olhos dos sous irmãos na tó. No amlionto roligioso agui mostrado como oxomplo, o racismo nunca toi um toma discutido pola momlrosia, nunca toi trazido à luz, sondo roproduzido tal gual a vida socular taz: om silôncio o oncolrindo como protorôncias individuais¨ uma soloção guo 193 romoto à cor da polo. O racismo no morcado matrimonial ó o guo mais tica ovidonto dontro do alguns contoxtos roligiosos por causa da ondogamia a guo olos são ostimulados. O guo aparontomonto ó uma oscolha do indivíduo om contormidado com a vontado do Dous¨ rovola a construção dos atrilutos do um par idoal. Quanto mais lranco tor o amlionto om guo circula o nogro latalhador, mais tica ditícil a sua situação no morcado matrimonial. A loloza da miscigonação, oxaltada por grandos toóricos do ponsamonto social lrasiloiro, 3 oscondo guo o nogro tom diticuldados om so colocar vivo no morcado matrimonial, guo por sua voz não ó um jogo tavorávol ao gingado¨ o ao orotismo¨ atriluídos aos nogros. Quom mais sai pordondo nosso jogo são as latalhadoras nogras, haja vista guo o orotismo¨ do homom nogro podo lho contorir uma posição privilogiada no morcado soxual dado o sou oxotismo¨ tdiga-so do passagom, o concoito do oxótico¨ ó outro proconcoito, porguo não dá àguolo guo ó assim classiticado a possililidado do sor visto com alguma somolhança), ao passo guo a mulhor nogra ó aguola guo sorvo como amanto, mas não como osposa. Para o homom nogro, casar-so com uma mulhor cujo padrão do loloza ó próximo ou corrospondo ao padrão do loloza dominanto ó status. Vas não há status om um homom lranco casar-so com uma mulhor nogra. A osposa lonita tsogundo o padrão do loloza ostalolocido) signitica guo o homom tsoja olo nogro ou lranco) possui sucosso. No caso da tamília agui ostudada, trôs goraçòos ticaram oxpostas a osso tipo do racismo do torma muito mais ovidonto do guo so ostivossom om outra igroja protostanto, isso porguo o amlionto da igroja Votodista troguontada polos Ramos ó do classo módia. Para molhor oxplicar o nosso argumonto, doscrovomos alaixo um pouco solro ossa igroja: A lgroja Votodista surgiu com a proposta do sor uma roligião para os polros, na ópoca do sua tormação, guom ocupava cargos do lidorança não oram ossos polros alcançados pola roligião, o sim uma classo mais osclarocida o mais rica. 4 Ao chogar ao Brasil, com a mosma proposta do sor uma roligião para os polros o dirigida por classos mais alastadas, o motodismo consoguiu conguistar tióis guo portonciam às classos módias o tralalhadoras om asconsão, não os mais polros o nogros do país. So a proposta do uma igroja para os polros¨ tivosso sido no país lovada ao pó 194 da lotra, cortamonto na igroja guo os Ramos troguontam ta maior da donominação da rogião) havoria mais do guo duas tamílias nogras como momlros ao longo dos anos. Hojo a igroja om guostão, a primoira tundada por ossa dono- minação no ostado do Vinas Gorais, possui mais do 500 tióis guo troguontam suas atividados. Essa igroja ostá potoncialmonto om tranca oxpansão numórica, pois adoriu ao modolo do igroja om cólulas, no ontanto sua oxpansão não alcança nom os latalhadoros nom a raló da cidado. Em um contoxto do classo módia, om guo polros oram o continuam sondo poucos, o nogros, a minoria, o racismo do cor to do classo tamlóm) so manitosta no morcado matrimonial do modo mais claro. Quando ó guo o morcado matrimonial comoça a sor dotinido dontro do um contoxto roligioso? Quando os jovons são ostimu- lados a tazorom amigos dontro da igroja o a namorarom possoas com a mosma contissão do tó guo a sua. Contudo, o compartilha- monto do uma mosma contissão roligiosa não ó o unico critório para alguóm guo ostá insorido om um contoxto roligioso oscolhor sous amigos o namorados. Origom do classo o cor da polo podom docidir o morcado matrimonial dontro da igroja. Como a Votodista agui om guostão ó uma igroja do classo módia, a protorôncia por so tor amigos dossa classo ó ovidonto. lsso ó o guo marca as amizados guo os Ramos tivoram na igroja. Ao oloncarom os amigos da ópoca om guo oram jovons da igroja o nos oxplicarom um pouco solro olos, porcolomos guo ossos amigos oram lrancos polros da igroja o guo tivoram uma trajotória do asconsão social parocida com a guo ossa tamília tovo. Os Ramos não oram convidados para as tostas do casamonto dos momlros do classo módia, não compartilhavam algumas saídas dostos o, por tim, não namoravam momlros da classo módia. A dotinição do morcado matrimonial dontro do contoxto motodista oxcluiu gualguor um dos Ramos como possililidado. Nonhum dolos namorou, tampouco so casou com momlros dossa igroja, por mais guo tivossom passado toda a juvontudo dontro dosso contoxto. Porguntamos solro a outra tamília nogra da igroja o soulomos guo as unicas tilhas tamlóm não haviam so casado com motodistas. So o contoxto motodista tosso um contoxto tavorávol às rolaçòos intor-raciais o intorsociais, Andró, o pai da tamília, toria oncontrado 195 uma jovom para so casar dontro do sou amlionto roligioso, o não procuraria no mundo¨ tou soja, tora do sou contoxto) uma parcoira. Ë justamonto por causa do contoxto dostavorávol guo Andró procurou uma mulhor para namorar tora da igroja, caso contrário não taria sontido para um homom roligioso o ostimulado a sor ondogâmico tor uma parcoira do outra contissão roligiosa. Do todos os sous irmãos, Andró toi o unico guo pormanocou na lgroja Votodista. Todos os sous irmãos toram para a Assomlloia do Dous, uma igroja composta por tralalhadoros polros, om cujo contoxto, olos oncontraram parcoiras para si, assim como sous tilhos o notos. Ao oxompliticar a ditoronça na trajotória do Andró o do sous irmãos, guoro mostrar guo nom todos os contoxtos roligiosos protostantos oxcluom os nogros do morcado intorno matrimonial, ontrotanto calo lomlrar guo, nos contoxtos nos guais a cor não ó o guo manda na protorôncia pola oscolha do parcoiro, oxistom outros critórios guo dotorminam aguolos guo são ou não casávois¨. Um pouco mais acima, dissomos guo as trôs goraçòos da tamília Ramos não toram contompladas como parcoiros potonciais dontro do morcado matrimonial, isso porguo os tilhos do Ana o do Rosa, guo croscoram o toram jovons dontro dossa mosma igroja, hojo são casados com possoas do tora da lgroja Votodista, som torom namorado antoriormonto momlros da igroja. Ou soja, trôs goraçòos do motodistas guo a princípio possuíam todos os pros- supostos tcomo o grau do oscolaridado o posição no morcado do tralalho) para so casarom com momlros da igroja não o tizoram, ao passo guo os parontos guo toram para um contoxto roligioso om guo havia mais nogros o mais polros, do modo goral, toram lom-sucodidos no morcado matrimonial da igroja. A mosma lógica guo toz com guo Andró procurasso uma possoa tora da igroja, ou soja, a impossililidado do o morcado matrimonial so dar no contoxto roligioso tamlóm so impos a sous tilhos o notos. Com cortoza o racismo no amlionto cristão ó amlíguo o ditícil do domonstrar, porguo dontro do discurso toológico Cristo voio do torma igual para todos, som distinção. A latalhadora nogra sonto-so valorizada dontro do um amlionto om guo todas as mulhoros são comparadas às joias mais raras o às tloros mais lonitas¨. 5 Vas a contradição mora oxatamonto no tato do guo a latalhadora nogra não ó a primoira a sor oscolhida como parcoira, o muitas vozos soguor sorá oscolhida. E por guô? Porguo a imagom 196 da mulhor nogra como osposa não roprosonta status para o homom, soja olo nogro ou lranco. Quando o critório cor tala mais alto, oscolaridado, protissão, ronda, nada disso ajuda a mulhor nogra a sor oncontrada. Cortamonto ó uma dor para muitas mulhoros guo so oncontram nosso mosmo contoxto o tato do não so roalizarom atotivamonto no amlionto om guo ó progada igualdado plona. São olrigadas a tor outro diloma guo não trataromos agui: ticarom soltoiras ou procurarom parcoiros do tora do amlionto roligioso - guo não ó o guo lhos toi onsinado como o dosojávol. Dontro ou tora do amlionto roligioso ó ditícil para as latalha- doras nogras do modo particular oncontrar um par. O amlionto roligioso ó nosso aspocto somolhanto ao da vida socular do gual olo tanto tralalha para apartar os sous momlros, pois os critórios guo posam na oscolha do um parcoiro tpara alóm da contissão roligiosa) são os mosmos. CONSlDERA(OES llNAlS Vimos agui guo o racismo ó sontido no dia a dia do latalhador nogro. A luta por so atirmar como tralalhador o como alguóm guo moroco tor roconhocimonto social ó dosigual para o nogro. Sua imagom como nogação da loloza o como alguóm guo podo não sor um lom tuncionário olriga os latalhadoros nogros a lutarom polo omlranguocimonto para garantir um ospaço no morcado do tralalho, no gual continuam sujoitos à discriminação. Vimos tamlóm guo, aposar do todo o ostorço polo omlranguo- cimonto o da asconsão no morcado do tralalho, as latalhadoras nogras om ospocial tôm mais diticuldados para tor sucosso no morcado matrimonial. 2 P ⇧ ⌦ ⌃ ↵ ⇧ ↵✏CMC⇣l⇧ PC⌥⇠⌃l✏⇧ DC ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦ ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C Z PCP✓⌥l⇥⇣C C✓ ⇣↵DC D⇧ ⇣⇧lC⌦l⇧◆ ✏C⇣C ⌃⌦⇧M⇥⌫C⌦⇣⇧⌦ ↵⇣ ⌃C⌥l✏↵ ⇧⇥ ⌦⇧ZC↵⇥ D⇧ ⇣⇧⇥⇥⇧ 1 ··Iaü·:au·:a. Ma::a u~ 1·u:u~: M~u~::·: Na ora contomporânoa, a domanda por govornos ostávois o rosponsávois guaso sompro originou-so na classo módia. Som ossa tonto do prossão política, as autoridados govornamontais oscilam ontro as tontaçòos do populismo, rocorrondo ao tinanciamonto intlacionário do políticas pullicas para aplacar as trustraçòos o insoguranças da maioria da população, o as do patrimonialismo, ignorando as trontoiras ontro o pullico o o privado a tim do lonoticiar amigos o corroligionários. ·nau:, u~ S·u:a ~ 1·I::a: 1an·uu:~: Já não so chamará do nolro ao porvorso, nom so dirá guo o tra- pacoiro ó ilustro. O trapacoiro taz trapaças porvorsas o maguina suas intrigas, projudica os polros com montiras o os indigontos guo dotondom o próprio diroito. 1:a:a: ¸2. 5,7 Não toi por alrangor um dos maioros morcados o contros univor- sitários do Cariri nordostino guo Juazoiro do Norto, chamada motrópolo do Cariri¨, tornou-so conhocida por toda a rogião o polo Brasil atora. Contando hojo com corca do 242.139 halitantos, Juazoiro ó, solrotudo, um contro do porogrinação roligiosa guo arrolanha corca do 2,5 milhòos do tióis todos os anos. A cidado toi o palco do uma das tiguras roligiosas mais polômicas do país: o Padro Cícoro Romão Batista, mistura do protota, santo, cangacoiro o coronol, o protagonista do divorsos contlitos nos guais roligião 200 o política so misturaram da torma mais amlígua o contraditória. Porsonagom mossiânica guo pormoia o imaginário sortanojo, cantado por dovotos tamosos guo ajudaram a moldar a própria imagom guo o nordostino tom do si mosmo. O roi do laião¨ luiz Gonzaga, por oxomplo, om torno da história do Padim Ciço¨, como o chamam os romoiros, conta guo o ontão arraial com corca do 80 casas do taipa, povoado por maltazojos, arruacoiros violontos o mulhoros do má-tama¨, o guo sorvia do ostadia para vaguoiros, almocrovos o caixoiros-viajantos om tins do sóculo XlX, transtormou-so ao longo do sóculo XX o omorgiu como um imonso polo industrial, manutaturoiro o comorcial so comparado com as proporçòos da grando maioria dos poguonos municípios do intorior do Nordosto. Nossa cidado, as ostoras da oconomia, da política o da roligião sompro andam do mãos dadas, assim como andaram do mãos dadas ossas mosmas dimonsòos na trajotória do padro, considorado santo polo misticismo católico popular guo dinamiza os sotoros do comórcio, sorviços o turismo alimon- tados por ondas do romoiros, omlora tonha sido oxcomungado om vida polo Trilunal do Santo Otício do Vaticano o ainda soja considorado charlatão por alguns roprosontantos da lgroja, dosdo aguolos dias ató hojo. 2 Constam nas acusaçòos corrontos contra o padro tatos tão divorsos como somoar o tanatismo ao incontivar a cronça om milagros não ondossados pola lgroja - solrotudo o tamoso opisódio com a loata Varia do Araujo -, 3 dosolodocor à rígida hiorarguia do cloro católico, rolacionar-so com cangacoiros da rogião toragidos da polícia - chogando mosmo a concodor a patonto do capitão a lampião om troca do compromisso dosto do ontrontar a Coluna Prostos guando do sua passagom polo sortão -, lonzor ritlos o punhais do jagunços para promovor uma rovolução armada a tim do dorrular um govorno logal, impor-so como primoiro protoito do Juazoiro - guo passou a sor município omancipado do Crato após contlito duradouro intluonciado por olo -, o ologor-so doputado todoral concatonando um pacto ontro os coronóis do sortão. Aposar da porsonalidado contraditória, o apolo ao mosmo tompo mágico o ótico do Padro Cícoro o toda sua simlologia onrodam-so do torma lastanto protunda na ostrutura oconomica o moral da cidado, moldando uma ótica do tralalho duro¨ guo cons- titui a disposição protunda do latalhador, ospraiada na imonsa rodo do comórcio intormal mantida polas romarias, na divorsidado do 201 ramos da micro o módia industria, na manutatura, no artosanato o nos domais otícios. Do tato, a idontidado social do nordostino como indivíduo latalhador, palavra tantas vozos ropotida por nossos ontrovistados como rocurso do autologitimação, paroco tor oncontrado sua tonto porono do rotorço na própria doutrina do Padro Cícoro, sogundo a gual dovoria havor om cada casa um santuário, om cada guintal uma oticina¨. Essa ostrutura dialótica do oração o tralalho¨, guo garantiria simultânoa o rociprocamonto a salvação da alma o do corpo dos tióis, Cícoro tormara a partir do oxomplo o dos onsinamontos do outro roligioso missionário o rotormador do costumos da rogião, om guom so inspirou dosdo o início do sua vocação duranto a adoloscôncia - lliapina, padro andarilho do sortão. 4 Josó Antonio Poroira lliapina, advogado criminalista guo alandonou a protissão para soguir vocação sacordotal om Olinda aos 4¯ anos, trocando junto com a toga o solronomo Poroira polo do Varia, toi tundador da ordom loiga sortanoja do loatos, rocrutados ontro alguns dos homons o mulhoros mais humildos da população, guo so dissominou por todo o Nordosto o guo doscontralizava parcialmonto a hiorarguia clorical, lom antos do João XXlll - o Papa lom¨ - o do Concílio Vaticano ll, por moio do gual so ostalolocou a participação o a partilha progrossiva dos loigos nas pastorais o nos rituais da lgroja Católica. 5 O missionário o podagogo Padro lliapina ontrogava nas mãos do loigos a missão do progar o Evangolho o procodor a divorsos sorviços sagrados, organizava mutiròos nas comuni- dados por ondo passava, construindo capolas, oscolas o hospitais para os polros, alóm do tor sido o idoalizador das tamosas casas do caridado, cuja tunção ora oducar o doutrinar moninas órtãs, altalotizando-as com a palavra do Dous, o ondo oram onsinados otícios roligiosos o otícios manuais do tralalho. 6 Oriontado polas doutrinas do protota missionário lliapina, Cícoro ostimulou o croscimonto do poguono arraial, guo oxpori- montou uma dinamização vortiginosa não aponas por causa do chamado milagro do Juazoiro¨, das romarias o do comórcio do santos o artigos roligiosos dosonvolvido om torno dolas. Soguindo a doutrina do tó o tralalho¨, guo dissominava por moio da atua- ção dos grupos do loatos, o padro ostimulou particularmonto a alortura do oticinas o poguonas manutaturas, como do altaiataria, marconaria, tunilaria, torraria o casas do sapatoiros, tundidoros, pintoros o ourivos, guo davam novo aspocto às rodos do lodogas, 202 armazóns, tarmácias o padarias locais, os tipos do sorviço mais oncontrados, ainda hojo, nos municípios monoros do intorior nordostino. Alóm do tralalho om otícios o manutaturas urlanas, Cícoro arrastava ondas do tralalhadoros mais dosgualiticados para trontos do tralalho no campo om torras inoxploradas, arron- dadas ao ostado. Os poguonos nogócios alriam os horizontos dos sortanojos, cujas otortas do tralalho so rostringiam ontão às ocupaçòos como mooiros nas torras do latitundiários oligarcas. So Cícoro incontivava ossas atividados por vocação, inspirado polo sonho guo dizia tor tido guando pola primoira voz ministrara missa no local o sogundo o gual Josus Cristo lho aparocia o on- trogava aos sous cuidados o povo taminto o castigado do sortão, ¯ ou so sou oljotivo ora aponas onriguocor, aposar do vivor como misorávol, ou lançar-so na vida política após sor rojoitado pola lgroja o controlar o jogo do podor ontro chotos locais do Cariri, ou so luscava arrocadar dinhoiro para a omancipação da cidado, ou mosmo so ostavam om jogo todos ossos tatoros somados, o guo importa agui ó vor no croscimonto das atividados o da ótica do tralalho duro om Juazoiro um rotrato do guo so passava por todo o sortão nordostino, omlora não do torma tão dramática o cortamonto om monoros dimonsòos, com o tralalho do missio- nários, loatos o troiras oducadoras o organizadoras do casas do caridado o otícios, como aguolas inspiradas om lliapina. No sortão, por ondo oxistiram porsonagons como ossos ostimulando a organização colotiva om mutiròos, guormossos o pastorais assistonciais, a ascoso já própria ao tralalho duro o disciplinar no campo o nas atividados manuais dos poguonos municípios oncontrou um canal do racionalização por moio da oxomplaridado dossas poguonas lidoranças. Talvoz rosida aí o motivo por guo algumas das primoiras atuaçòos dos Solraos, Sonais o Ematoros nas cidados do intorior nordostino so doram ontão rolacionando-so às lidoranças roligiosas guo organizavam cursos junto aos loigos, como as Cruzadas o Cruzadinhas, organizadas por padros o troiras, das guais vários do nossos ontrovistados participaram o guo tinham como oljotivo instruir crianças o jovons solro contoudos roligiosos o dogmáticos om uma catoguoso continuada, induzindo-os a uma participação ativa nos ovontos da lgroja tpor oxomplo, a organização do atividados comunitárias para arrocadar tundos nocossários às tostas santas o novonas otc.). As vozos, osso programa tamlóm 203 organizava, junto àguolos órgãos, poguonos cursos do marconaria o mocânica para os garotos o do costura o cozinha para as garotas. Quor soja nas cidados do Juazoiro do Norto, no Coará, om Vossoró o Caicó, no Rio Grando do Norto, ou om Patos, na Paraíla, grupos como ossos são lomlrados como importantos instâncias do socialização o aprondizado ontro os latalhadoros mais lom-sucodidos com guom nos dotrontamos o guo dotinimos como omproondodoros por dosonvolvorom, na maioria das vozos a partir aponas da oxporiôncia om tralalhos lraçais o do conhocimonto prático nolos adguirido, microomproondimontos rolativamonto ostávois, caractorizando-so por uma visão ostrató- gica do morcado guo lhos pormito acompanhá-lo na atualização da otorta dos sorviços ou artigos guo talricam. Por outro lado, ainda hojo, ó om torno do calondário roligioso do romarias, tostas do padrooiros o novonários - já tornados protanos om larga modida, como o Santo Antonio o o São João no moio do ano, ópoca do colhoita o lolsos mais choios, o som duvida tostas mais importantos guo o carnaval para a maioria dos sortanojos - guo so irradiam as rodos intormunicipais do comórcio o sorviços tormais o intormais. Essas rodos do comórcio sompro oxistiram - os camolos do hojo são os caixoiros-viajantos do outrora -, mas pormanociam invisívois nas tranjas do morcado modorno, dirigido por grandos corporaçòos tordistas. Parocom assumir somonto agora a posição do tocos ostratógicos do dinamização oconomica por causa do contoxto do capitalismo tloxívol, o guo so podo doproondor das rodos nacionais, o mosmo intornacionais, do produção o comor- cialização om cidados não só como Juazoiro, mas como Caruaru, Toritama, Caicó, Patos, São Bonto otc. Das mais do 40 ontrovistas om protundidado guo tizomos nossas ároas do Cariri o Somiárido nordostinos duranto cinco mosos do posguisa do campo, poucas são tão indicativas da rolação ontro a roligiosidado popular o a ótica do tralalho duro como a do Dona Das Doros. Ela tunciona guaso como um tipo idoal, om primoiro lugar, por oxprossar do torma lastanto autorrotloxiva o guo consoguimos captar muitas vozos do torma aponas trag- montada om outras trajotórias guo ostudamos. 8 Dopois porguo aspoctos do ~ìI·: católico rustico o popular, tundamontalmonto do origom rural, ostão do tal torma ontranhados nos costumos o nas práticas tradicionais do grando parto dos sortanojos, mosmo guando ostos não romotom dirotamonto à roligião, ou inclusivo 204 guando atirmam não tor roligião, guo ó às vozos ditícil não roincidir om orros rocorrontos, rolacionados à naturalização guo osguoco a origom o a tonto dos costumos o Iaü:ìu: colotivos: apolar para justiticativas liologizantos o racistas, ou para causas moramonto goográticas - o sortanojo ostomoado o torto do Euclidos da Cunha -, ou ainda, om contrapartida, rotomar o argumonto autooxplicativo o rolativista da cultura do sortanojo¨. Como voromos a soguir, olomontos do guo dosignamos, soguindo inspiração voloriana, como uma ótica do sotrimonto¨, ou da puriticação o salvação polo sotrimonto, guo romonta às origons do cristianismo o pormanoco como contoudo oljotivo do sontido om práticas guaso naturalizadas ontro católicos, praticantos ou não, unidos à rotina do tralalho duro guo disciplina o corpo numa ascoso guaso ospontânoa, aprondida dosdo a mais tonra idado no contoxto do uma unidado do produção domóstica, pormanocom como rocurso do intorprotação o do ação no mundo, isto ó, do práxis no horizonto do um mundo da vida¨, como a tala do Das Doros o do outros tantos guo tivoram sua intância na zona rural ovidonciarão. Em sogundo lugar, sua ontrovista so mostra olucidativa por causa dos trochos mais ospontânoos o pró-rotloxivos¨, monos controlados por sua intoligôncia aguçada, ao longo do mais do guatro horas intorcaladas do ontrovista. Essas passagons nos parocom as mais rovoladoras da porsistôncia do uma doutrina racionalizada por lliapina o atualizada por Cícoro, lom como por outros rotormadoros guo pormoaram a rogião ao longo do sóculo XX. Alóm do mais, aponta a comproonsão tática do uma luta do classo, simultanoamonto matorial o simlólica, guo paroco ólvia para os latalhadoros, omlora aparoça sompro sol o nomo do pacto social¨, inconsciôncia do classo¨ ou manipulação das massas analtalotas¨ na loca dos intoloctuais adoptos a um liloralismo amosguinhado, hojo hogomonico no Brasil. 205 VOCÊ ACHA QUE ESTOU SENDO lANATlCA?¨: lË E TRABAlHO NO SERTAO Os guo somoiam com lágrimas coitam om moio a cançòos. Vão andando o chorando ao lovar a somonto, ao voltar, voltam cantando, trazondo sous toixos. SaIn· I2ô. 5 ~ ô - ·auì:c· ua: :uü:ua: São onzo o moia da manhã do uma sogunda-toira guando oncontramos a poguona loja do Das Doros, localizada no pródio da Ascospop tAssociação do Costuroiras Popularos). Por moio do indicaçòos do Solrao do Juazoiro do Norto, tomamos conhoci- monto do grupo do microomprosárias o costuroiras o arranjamos o contato dossa mulhor do 5¯ anos do idado, dona do uma microcontocção do roupas intantis dostinadas ao pullico popular o prosidonto da associação. Provonionto do Alagoas o sodiada om Juazoiro do Norto dosdo os 12 anos do idado, Das Doros aprondou com os pais, por volta dos 10, a disciplina do tra- lalho lraçal o manual na agricultura, om roças como do algodão o cató ou tratando amondoim, o om atividados tomininas como o crochô o a costura, nas guais so oxorcitava tazondo roupas para suas lonocas o do suas amigas. Concluído o primário, parto om um cológio próximo à roça, parto om Juazoiro, tovo guo alandonar os ostudos aos 15 anos para so casar o so dodicar à tamília, contriluindo com a ronda do lar por moio do um omprogo do lalconista o caixa no comórcio: Eu tinha guo tor uma opção: ou ou ia ostudar ou ia cuidar dos mous tilhos, arrogaçar as mangas pra tralalhar, pra sustontar. Então, doixoi minha vida do lado o tui tralalhar.¨ Já com dois tilhos, Das Doros mudou-so para Campo lormoso, na Bahia, a tim do acompanhar o marido guo tralalhava om um garimpo o na vonda do podras. Nossa ópoca, comprava o vondia contocçòos o ajudava no comórcio do podras, consoguindo rounir corto patrimonio como casa, torrono o carro. Vas, dopois do nascidos mais dois tilhos o grávida do guinto, o marido rosolvou ir para o Rio do Janoiro, com a promossa do tazor um grando nogócio. Das Doros rotornou para Juazoiro, já aos 26 anos, indo morar numa poguona casa construída nos tundos da rosidôncia dos 206 pais, guando toi convoncida a assinar uma doclaração om nomo do marido sol o protoxto do guo o dinhoiro arrocadado com as vondas lhos pormitiria comoçar um nogócio próprio o uma vida nova. loi a partir daí guo so viu om uma situação dramática: alan- donada com os cinco tilhos, o marido sumiu no mundo¨ com o valor do tudo o guo haviam juntado. Como unica rosponsávol pola tamília o procisando sustontá-la, Das Doros comoçou a so virar¨ comprando o vondondo contocçòos como camolo o tazondo lordados, o mosmo otício guo aprondora com a mão. Consoguiu so protissionalizar na atividado atravós do um curso otorocido por uma omprosa guo vondia máguinas industriais do lordar, adguirindo uma dolas om 1981 por moio do tinanciamonto do Banco do Brasil - máguina da gual diz não so dostazor por nada dovido ao grando valor atotivo. Das Doros toi comprando outras máguinas aos poucos o oxpandindo sou nogócio na própria casa, om uma poguona tálrica do tundo do guintal, ondo tralalhavam os tilhos o algumas poucas amigas, ató guo rosolvou so insorir no ramo do contocçòos. Nossa ópoca, comprava a matória-prima o vondia os produtos no rogimo do tiado¨, mantondo a poguona produção a partir do rodos intormais do cródito, guo so lasoiam om uma oconomia tundada na contiança o na honra possoais, na gual os imporativos sistômicos ainda não so autonomizaram totalmonto dos padròos do moralidado do mundo da vida. 9 Vas a novola¨ com o marido ostava longo do acalar. Após trôs anos do ausôncia, Das Doros contando já com guatro máguinas o omprogando irrogularmonto trôs conhocidas om uma produção domóstica, apoiada polos pais o polos cinco tilhos guo dividiam com ola as tarotas do lar, o osposo rotorna com promossas do rocomoçar a vida do novo, do zoro¨. Empolgados, amlos comlinam guo ola ticaria om casa talricando as contocçòos onguanto olo so rosponsalilizaria por viajar com a morcadoria para vondô-la. Vas a ompolgação durou aponas 10 dias, dopois dos guais o homom rotornou para o Sudosto porguo guoria montar sou próprio nogócio, autonomo, o não sor omprogado do ninguóm¨. Tralalhando como corrotor do minórios no Rio do Janoiro, ainda rotornou novamonto dopois do dois mosos, tompo suticionto para porcolor guo Das Doros ongravidara outra voz, agora do soxto tilho: 20¯ Eu tiguoi grávida, ou nunca tivo outro homom, assim, na minha vida, só olo mosmo. Elo tamlóm ora conscionto disso. Eu tiguoi grávida. Elo toi... Vas dossa voz ou mo dosanimoi. Ë porguo naguola ópoca ora ditoronto. Ninguóm... Hojo não, o casamonto... Vocô casou, não dou corto, vai cada um pro sou canto. Naguola ópoca, os pais, mou pai, minha mão, ninguóm acoitava mulhor... Avo Varia! Era um alsurdo guando uma mulhor soparava, todo mundo olhava com maus olhos. Hojo ó ditoronto. Assim, ou tamlóm tivo uma oducação roligiosa... Tom guo guontar¨, olodocor do caloça laixa. So o calra guisosso aprontar, aprontava no moio do mundo. Chogava om casa, tava sompro do lraços alortos pra rocolor olo, nó? Aí, nossa voz, ou disso: Agora não!¨ Doixoi... Quando tava já com a larriga grando... Olho, ató na vóspora! Eu tralalhando, latondo a larriga na máguina! Eu tralalhava rindo, ou tralalhava o pudo construir... Elo voio só uma voz, duas, aí não voio mais. ligava, ligava pra casa, talava com amigo, não soi guô: Eu vou tal dia¨, o nunca ia. Vai lá no lanco, luscar um dinhoiro guo ou vou mandar um dinhoiro pra vocô.¨ Eu ia, passava uma somana dontro do Bradosco, olo não mandava um contavo. loi ditícil, minha tilha! Aí ou: Salo do uma coisa? Eu num guoro mais nunca osso homom na minha vida! Agora só o guo ou vou tor ó mous tilhos, não olho mais pra olo como marido.¨ Aí, consogui. Assim, tralalhando... loi guando viu na tolovisão uma propaganda do Solrao o rosolvou, com a ajuda do um amigo da associação do sapatoiros, ontrar om contato com os consultoros do troinamonto no Crato. A partir do ontão, tovo a iniciativa do montar uma associação, promovondo uma rounião com as cologas do ramo. A Ascospop toi inaugurada om 198¯ com umas 20 possoas, tondo sido Das Doros nomoada como prosidonto. A primoira docisão guo toma- ram, à ópoca, toi consoguir para a associação um projoto com o gual todas as costuroiras toram lonoticiadas. O dinhoiro do govorno todoral toi ropassado polo Solrao o pago com poças. Tamlóm consoguiram cursos do troinamonto om lortaloza, visitaram tálricas om Caruaru, participaram do toiras ostaduais o, acima do tudo, prossionaram pullicamonto, om um ovonto ondo so oncontravam roprosontantos do govorno do ostado, das associaçòos do comorciantos o do Solrao do lortaloza, a protoi- tura para guo arranjasso um local ondo pudossom comorcializar suas morcadorias. 208 Algum tompo após a roivindicação pullica, a protoitura codou um pródio volho o alandonado no contro do Juazoiro. Essa conguista contou com o tato importanto, sogundo Das Doros, do guo o protoito já tinha sido polro¨ o do guo ora amigo do sua mão dosdo a ópoca do soltoiro, alóm do sor sou compadro, por- tanto, padrinho do um do sous tilhos. Com o pródio garantido, o ostado so compromotou a rotormá-lo, concluindo os tralalhos do rostauração om aponas um ano. Vas logo dopois da inauguração da sodo da Ascospop, guo contou com a participação do ontão govornador do ostado do Coará, do roprosontantos do govorno todoral o do protoito, Das Doros so dou conta do guo as lojas não podoriam tuncionar lom, uma voz guo as costuroiras não tinham como tralalhar om casa o mantor o comórcio no pródio ao mosmo tompo. Ao porcolor guo algumas dolas comoçavam a ontrogar os pontos, impossililitadas do conciliarom as atividados do produção om casa o do comórcio nas lojas, Das Doros toi a primoira a lovar as máguinas para a sodo da associação, dosti- nada, sogundo o rogimonto, aponas à vonda das morcadorias, incontivando as companhoiras a tazorom o mosmo. Sol a prossão das tralalhadoras, o Solrao acalou acoitando a nova ostratógia. Entrotanto, toi só a partir da dócada do 1990 guo todas as asso- ciadas comoçaram a croscor: consoguiram colocar 200 possoas no pródio, molilizaram tornocodoros o so ostalilizaram. Hojo, a Ascospop ó conhocida om toda a cidado o nos municípios vizinhos, alóm do ostar intograda a uma rodo do comorciantos do divorsos ostados guo vão lá adguirir os produtos para sous nogócios: Alagoas, Pornamluco, Bahia, Rio Grando do Norto, Rio Grando do Sul, Varanhão, Pará, São Paulo. Das Doros diz guo as costuroiras só não vondom mais por talta do matória-prima, capital do giro o divulgação, o guo a lova a tazor críticas sovoras às políticas do cródito o apoio à microomprosa: Porguo o lanco... Ë muito lonitinho o guo olos diz... Paroco guo olos tão ató... Quando vocô tala com goronto do lanco, assim, nossas rounião.... Eu participoi do muito tórum, do rounião com goronto do lanco, do todos os lancos. Eu taço parto da todoração do microomprosários do lortaloza, ou tui prosidonto do Consolho liscal da lodoração das Vicroomprosas do Coará. Todos ossos oncontro, guando a gonto vai, junta assim, tudo guanto ó do gonto: vai govornador, vai vico-govornador, Ciro Gomos, osso possoal todo assim. Vas vocô vá lá no lanco o o 209 lanco não omprosta! Eu tonho uma microomprosa, posso tomar um ompróstimo, dopondondo do mou projoto, só guo ou tonho guo tor uma garantia som sor minha casa. Vinha casa do morar não sorvo, máguina não sorvo, ou tonho guo tor uma propriodado pra ticar lá garantido. Ou ontão ainda tom avalista. E vocô acha guo alguóm vai guoror avalizar hojo? Ham... Com a diticuldado... Ninguóm guor, mia tia! t...) Eu conhoço todo mundo do Solrao. Entrando ali, so vocô porguntar, sou conhocida... Eu já tiz não soi guantos troinamonto. Agora, ou guoria, ou disso a olo, olo sontadinho aí... Elos tão achando guo ou sou dosorganizada... lsso ou sou guo ou soi porguo muitas vozos ó ditícil vocô comprar, cortar, ir pra máguina, olhar... Tudo ó ditícil. Vocô... Quando vocô, numa situação dossa, compra tiado, vondo tiado, um nogócio dosso, vocô nunca tom, assim, vocô só tom uma laso, do guo tá lovando, guo tá ganhando, solrovivondo... Agora, ou guoria guo vocôs mo dossom a tócnica, como ó guo ou organizo uma omprosa som dinhoiro? Na vordado, a história da associação não ó aponas do sucosso, passou por altos o laixos, momontos muito ditícois dosdo sua tundação. Em 1994, houvo um tinanciamonto do Banco do Nordosto para comprarom máguinas o tormarom um capital do giro, mas, com a passagom da mooda para o Roal, a dívida so multiplicou o as associadas não pudoram pagar. Das Doros lomlra guo não guis assinar o projoto na ópoca, mas guo toi prossionada polas cologas. O lanco não pordoou a inadimplôncia, acalou tomando as máguinas o, aposar disso, a dívida só toz croscor dosdo ontão, o guo vom ponalizando todas as tralalhadoras o impodindo sou croscimonto, já guo ostão impodidas do tazor novos ompróstimos om nomo da associação. Rovoltada com o atual goronto, guo a coago para guo so rosponsalilizo possoalmonto pola dívida, Das Doros diz não ontondor o tato do o lanco tor tomado as máguinas das cologas o ainda oxigir pagamonto. Por conta dossa dívida o das limitaçòos lurocráticas para a concossão do cródito, tovo guo apolar para contatos possoais a tim do pormanocor no ramo: consoguiu tazor um ompróstimo om 1998 pola Caixa Economica graças ao ontão goronto, guo ora amigo do um do sous tilhos, na ópoca protossor do Cotot. Por moio dosso ompróstimo, Das Doros tovo um croscimonto contínuo ató 2004, chogando a colocar 80 máguinas o omprogar corca do 100 cologas da associação guo ostavam com diticuldados 210 nos nogócios. Vas novamonto tovo um grando projuízo, dossa voz por causa dos calotos do cliontos guo passavam choguos som tundo. Em virtudo dossos calotos, guo, sogundo ola, chogaram a contalilizar o valor do 200 mil roais om choguos rotornados, tovo guo vondor as máguinas, pormanocondo aponas com 20 para mantor a produção na ativa. loi sulmotida a procossos na Justiça por sous tornocodoros o ticou com o nomo sujo na praça¨, sondo impossililitada do tazor gualguor tipo do transação nos lancos, do consoguir cródito o ató mosmo do utilizar cartòos o choguos, guo toram todos cancolados. Dosdo ontão, todo o dinhoiro guo vom rocolondo ó para tontar limpar sou nomo¨. A primoira proocupação toi com a mão do olra guo procisou disponsar o para a gual dostinou corca do 50 mil roais, nogociando a dívida possoalmonto com as costuroiras o saldando parto om dinhoi- ro, parto om máguinas. Por ostar do mãos atadas no morcado tinancoiro tormal, Das Doros acalou apolando para o intormal, tazondo ompróstimos com agiotas, guo, aposar do colrarom juros oxcossivamonto altos, toram os unicos a tornocor capital no momonto om guo procisou para so roorguor. E ó com protundo sontimonto do humilhação o rovolta guo tala das rostriçòos a guo toi sulmotida polo morcado: Só o guo tizoram toi lascar com o mou nomo. Como ó guo ou ia comprar nada, so a omprosa lotou mou nomo no Sorasa? Pronto, vocô tica morto, vocô morrou pro mundo! Uma possoa guo ó acostumada a tor choguo ouro, cartão do cródito, ticar numa situ- ação dossa... Vocô morro, ó como so matassom vocô! Vocô nunca mais ó a mosma, mais ninguóm! Vorrou, morrou, matou! A oscolha da motátora da morto para doscrovor sou ostado omocional após a criso tinancoira não ó à toa. Do tato, o sonti- monto do humilhação aponas donuncia o contoudo moral da oconomia: não são aponas a urgôncia o as rostriçòos matoriais, nom a incapacidado do produzir guo goram a sonsação do tra- casso, mas a voxação pullica do não sor contiávol para o sistoma oconomico. O latalhador omproondodor, nossos casos, tom guo lidar com a condonação moral do sor uma possoa marcada¨, alóm da sonsação do impotôncia gorada pola impossililidado do continuar tralalhando, produzindo, sustontando sou nogócio o sua tamília. Do tato, trata-so do uma morto social anunciada om rodo a tornocodoros o crodoros, ao sistoma jurídico o às rodos 211 possoais do cologas o tamiliaros, o cujo rosultado, muitas vozos, ó a própria morto tísica so o dososporo não oncontra uma ostora oxistoncial guo garanta ao indivíduo uma mínima sogurança ontológica para guo olo possa so roorguor. No caso do Das Doros, sua ostalilidado omocional toi garantida pola cronça inalalávol na providôncia divina¨, guo sompro lho sorviu como contorto oxistoncial, ao invós do atar suas mãos na ospora do milagros ou lonossos cliontolistas, como soria do so osporar a tirar pola concopção corronto solro o catolicismo popular sincrótico do guo osto goraria amliguidado do carátor o traguoza do iniciativa no homom cordial¨, constituindo o tundamonto da tragilidado moral implicada na situação do dopondôncia o cliontola. loi por moio da tó guo Das Doros podo intorprotar as diticuldados o olstáculos guo surgiram om sua vida como provaçòos o so sontiu continuamonto chamada por Dous a suporá-las. Assim, na trajotória da maioria dos latalhadoros guo oncon- tramos, guo ó uma trajotória do asconsão por moio da ascoso do tralalho duro, a tó om Dous aparoco como uma dimonsão guo pormito suportar a dor do vivor, tor torça do vontado o consoguir voncor os olstáculos. Entrotanto, para alcançar ossa graça com a gual o cristão so sonto tortiticado nos momontos mais ditícois do sua jornada, ó prociso ponitôncia, ó prociso alrir mão da própria vida polo tralalho, ou molhor, dodicar a própria vida ao tralalho o à tamília como tontos inalalávois do roconhocimonto, tontos do roconhocimonto modornas, valo saliontar. Nosso caso, a roligio- sidado católica popular, do acordo com a dialótica do santuário o oticina¨, o lom ao contrário da visão do Sórgio Buarguo do Holanda - para guom o culto aos santos o os oratórios tamiliaros goram uma intimidado com as coisas sagradas ostranha à vor- dadoira roligiosidado¨ o tundadora do uma traguoza do ospírito, vontado o porsonalidado caractorísticas do porsonalismo do sou homom cordial¨ tvor Quadro 1) -, mostra-so tundamontal para uma organização ascótica da vida, ao mosmo tompo passiva, do acoitação da tragódia do mundo com todas as suas contradiçòos, o ativa, guo pormito idontiticar o dosonvolvor armas para lidar com ola. Talvoz não soja outro o tundamonto do consorvado- rismo do guo as classos popularos são roitoradamonto acusadas por sociólogos o ciontistas políticos, um consorvadorismo guo podo signiticar simplosmonto a nocossidado do guo o mundo do amanhã soja polo monos parocido com o do hojo, soja provisívol, 212 para guo so possa solrovivor com as parcas armas do guo so dispòo. Vas podomos vislumlrar na laso do todo o orgulho guo o latalhador sonto do sua trajotória do laluta o sotrimonto osso pano do tundo roligioso da ascoso do tralalho como poni- tôncia om um mundo ondo todos ostão pordidos, ligado a uma ostrutura corporal o montal do origom rural, ou à sua somlra, porguo ostruturada não sogundo uma lógica tomporal linoar, do planojamonto¨, 10 mas a partir do uma tomporalidado circular do providôncia¨, do contormação com os ciclos da naturoza, ao mosmo tompo guo so tonta procavor da oscassoz por moio da diligôncia o do tralalho: E ou agradocondo a Dous... Assim, Dous mo gratiticou. Esso sotrimonto guo ou passoi com o pai dolos, com ossas coisas do comórcio, ó talta do oxporiôncia porguo vocô comoçar a vida assim como ou comocoi... Eu dormia guatro horas por noito, ou viajava, ou ia dá toira¨... Vocô tá ponsando guo toi tácil? lazia a morcadoria, ontrogava a morcadoria do grosso lá om casa o pogava a outra morcadoria o ia ora dá toira¨. Ó, duas horas da manhã, ou voltava do pó. Quando ora guatro horas, ou chogava, ontrava na porta. Eu dava toira¨ no Assaró, dava toira¨ om Nova Olinda. Eu viajava do camolo, no moio da toira, antos dosso ponto agui. Pogava uma parto, ontrogava ao troguôs no grosso, o o povo viajava, vondia pro Varanhão, vondia pro Pornamluco, pra osso lado... E a outra morcadoria, pogava, lotava nas lolsa, ia dá toira¨. Quando ou chogava lá, ou vondia morcadoria, ou trocava. Quando ou vinha, parocia uma cigana, trazia um monto do galinha, do ovo, do guoijo, do loito. Trocava roupa por galinha, por ovo, por tudo guo ó... Quando ou vinha, vinha guo trazia o carro choio, num taltava om casa. 213 Quadro 1 - A toso porsonalista om Sórgio Buarguo do Holanda: o catolicismo popular como tundamonto da tragilidado moral do lrasiloiro A partir da contusão ontro a construção analítica do tipo idoal om Vax Wolor o um claro julgamonto do valor idoalizador do protostanto puritano, cujo rigorismo da tó ó visto polo mito amoricano como o pano do tundo moral do uma vorda- doira domocracia, Sórgio Buarguo do Holanda taz uma loitura doprociativa da roligiosidado popular no molhor ostilo do um olitismo paulista, construído a partir do um ponto do vista liloral hogomonico. O historiador intorprota o lrasiloiro cordial, solrotudo o nordostino, diga-so do passagom, como a nogação do todos os traços guo caractorizam o homom modorno: O dosconhocimonto do gualguor torma do convívio guo não soja ditada por uma ótica do tundo omotivo roprosonta um aspocto da vida lrasiloira guo raros ostrangoiros chogam a ponotrar com tacilidado. t...) Nosso volho catolicismo, tão caractorístico, guo pormito tratar os santos com uma :uì:n:uau~ gua:~ u~::~:- j~:ì·:a o guo u~:~ ja:~c~: ~:ì:auI· à: aIna: :~:uau~::an~uì~ :~I:g:·:a:, provóm ainda dos mosmos motivos. t...) Cada casa guor tor sua capola própria, ondo os moradoros so ajoolham anto o padrooiro o prototor. Cristo, Nossa Sonhora o os santos já não aparocom como ontos privilogiados o oximidos do gualguor sontimonto humano. Todos, tidalgos o plolous, guorom ostar om intimidado com as sagradas criaturas, o o próprio Dous ó um amigo tamiliar, domóstico o próximo. t...) Essa avorsão ao ritualismo conjuga-so mal - como ó tácil imaginar - com um :~uì:n~uì· :~I:g:·:· :~:uau~::an~uì~ j:·Juuu· ~ c·u:c:~uì~. t...) A uma :~I:g:·::uau~ u~ :uj~:J:c:~, monos atonta ao sontido íntimo das corimonias do guo ao colorido o à pompa oxtorior, gua:~ ca:uaI ~n :~u aj~g· a· c·uc:~ì· ~ ~n :ua :auc·:·:a :uc·nj:~~u:a· u~ ì·ua :~:uau~::a ~:j:::ìuaI:uau~, transigon- to, por isso mosmo guo pronta a acordos, ninguóm podiria, cortamonto, gu~ :~ ~I~:a::~ a j:·uuz:: guaIgu~: n·:aI :·c:aI j·u~:·:a. Roligiosidado guo so pordia o so contundia num mundo som torma o guo, por isso mosmo, ua· ì:uIa J·:¸a: ja:a II~ :nj·: :ua ·:u~n.¨ tHOlANDA, Sórgio Buarguo. Ra:z~: u· 1:a::I. São Paulo: Companhia das lotras, 2002. p. 148-150. Gritos nossos.) 214 A narrativa do orgulho do próprio sotrimonto o a constatação roalista do mundo como roino da misória oxistoncial, do ondo so podom osporar sompro situaçòos dolorosas o mosmo cruoldado dos outros por causa do pocado 11 - O sor humano ó traco porguo ó pocador. Ató Podro nogou Josus. A gonto tom guo ontondor porguo ó do nossa naturoza!¨ - paroco constituir o pano do tundo do muitas práticas guo são considoradas aponas como mágicas porguo a oxplicação costuma ator-so moramonto a sou tormato, tais como osporar oltor protoção contra a coliça o a invoja alhoia ou um sucosso mais imodiato por moio do oraçòos o promossas. Práticas como ossas podom ostar insoridas om um horizonto do signiticados o açòos do cunho mais ótico, assim como a alimontação continuada da torça ospiritual na luta cotidiana o da motivação para mantor um ostilo do vida atualiza sou ascotismo polo próprio tralalho duro, ou a proocupação com a salvação do si mosmo o a da tamília, tanto matorial guanto ospiritual. O ologio da diligôncia o do sotrimonto, guo implica toda narrativa racionalizadora, justiticadora o, claro, mistiticadora do próprio sotrimonto como rodontor, ostá do tal torma incorporado na práxis dos latalhadoros, principalmonto naguolos guo romontam a uma origom rural na própria goração ou na do sous ascondontos mais próximos, guo não procisa tomar o tormato do discurso roligioso, omlora aparoça como tal na maioria dos casos oncontrados om Juazoiro do Norto o, do tato, om todo o intorior nordostino por ondo passamos. Vulhor latalhadora, guo criou sozinha sois tilhos, alandonada polo marido, mas guo ainda o rocolou do volta om sua casa o sol sous cuidados guando, acomotido por um AVC, inválido o no tim da vida, osto rosolvou podir-lho dosculpas - o ascotismo do Das Doros signitica tamlóm ronuncia: alrir mão do sous pró- prios dosojos o so satistazor com o amor do Dous o dos tilhos. Nosso procosso, ola so sonto puriticada o santiticada à imagom do Varia, a mão do Josus, guo acoita o pòo om prática a vontado divina. A graça¨ do consoguir criar sous tilhos om moio a tantas diticuldados roprosonta o atostado do guo procisa para salor guo caminha pola voroda corta. E assim procodo som ignorar o lugar dostinado a possoas como ola no ospaço social do lutas simló- licas, lutas cuja violôncia sonto roitorada num simplos contoxto do ontrovista: 215 Quando ou ponso, assim... Vou Dous! Sois tilhos... Nunca doixou taltar nada, mous tilhos tudo ostudado... Eu num soi, minha tilha! Eu vou dizor pra vocô, ou num soi, nom ou soi lho dizor como toi guo dava! Num taltava, nunca taltou... Assim, nonhum homom ia tazor ou mo sontir toliz com a tolicidado guo ou tonho mo ontrogando, assim, a Dous. Elo contorta, olo alimonta, olo ó tudo na vida da gonto! t...) Vonina, assim, ou vojo, ou sinto milagro! Num ó ou só não... Todas as possoas guo contiam... O torço do Coração do Josus ó uma coisa muito lonita. O torço do Coração do Josus, guo a gonto diz - Sagrado Coração do Josus, ou contio, ou osporo o ontrogo a vós¨ - ó um torço... Assim, guando vocô tormina do rozar, vocô tá tortalocida, num tom prolloma... Eu acrodito guo a gonto tom uma vida com Dous. Essa outra vida ó guo ó... Acho guo nossa vida ó uma passagom, o a outra ó a otorna. As vozos, a gonto salo guo taz um momonto do prazor agui o projudica nossa caminhada com Dous. So a gonto tizor uma coisa, assim, guo num soja agrado do Dous, a gonto sonto na hora. Num ó vordado? Vocô acha guo ou to com tanatismo do dizor isso? Vocô acha guo ou to sondo tanática? O ESTOlClSVO PRATlCO DO BATAlHADOR: CONHEClVENTO E VORAllDADE DO TRABAlHO Josotina sai cá tora o vom vô Olha os torro ramiado vai chuvô Vai trimina riduzi toda criação Das landas do lá do ri gavião Chiguora pra cá já ronca o truvão lutuca a tuia, poga o catado Vamo planta toijão no pó lutuca a tuia, poga o catado Vamo planta toijão no pó Vão purdonça inda num cuiou o ai O ai roxo dossa lavora tarda Diligonça poga panicum lalai Vai cum tua irmã, vai num pulo só Vai cuiô o ai, o ai da tua avó. EI·na: 216 lonto inosgotávol do disciplina o diligôncia, o tralalho tamlóm constitui rocurso porono do conhocimonto, o osto ó outro aspocto tundamontal guo a ótica do sotrimonto aponas contrilui para racionalizar onguanto concopção do mundo. O tralalho aprondido codo disciplina o corpo o a monto, dosdo guo não incorra, ovidontomonto, numa oxtrapolação do ostorço tísico do guo ó capaz um corpo intanto-juvonil, o guo implicaria violôncia o oxploração. So não nos prondomos à concopção moramonto instrumontal o mocanicista do tralalho, roduzindo-o a atitudos maguinais guo alionam o tralalhador, como aguola dissominada polos rogimos taylorista o tordista, lomlramos guo o contoxto do tralalho coloca troguontomonto o latalhador om situaçòos-prolloma nas guais a oticácia do mótodo do onsaio o orro ó dotorminanto. Quando talamos om ascoso polo tralalho duro podo parocor guo imaginamos possoas guo roproduzom mocanicamonto disposiçòos do torma guaso instintiva, como rotloxos condicionados do animais adostrados. Vas osso não ó o caso, nom o lohaviorismo ó a alordagom mais olucidativa. Ao cortar o tocido, soparar as poças do pano já rocortadas no moldo, costurar om sua máguina ou rotirar as pontas do linha om oxcosso nas contocçòos prontas, as mãos do Das Doros ostão molilizando um conhocimonto solro o matorial utilizado, os instrumontos, as tócnicas o os procodimontos mais oticazos, o guo podom, inclusivo, sor aportoiçoados guando nocossário o possívol. Como rossalta Sonnot, o princípio lásico da halilidado artosanal ó guo ponsamonto o sontimonto ostão contidos no procosso do tazor¨: 12 muitas vozos, o produtor mantóm discussòos montais com os matoriais à sua disposição, guando não são as possoas guo tralalham juntas guo convorsam solro o guo tazom. 13 Portanto, omlora o guo caractorizo o latalhador soja uma ótica incorporada do tralalho duro, há nívois do onvolvimonto no procosso produ- tivo guo implicam tormas do comproonsão, como o princípio do utilização da torça mínima no ostorço tísico¨, 14 o curiosidado, o guo podom contor uma prollomatização do porguô¨ o como¨ do próprio procosso, a dotocção do prollomas o a sua solução, inclusivo para so doscolrirom novos padròos. A porícia artosanal¨ rotloto o tralalho ototuado om atividados guo roguorom mãos intoligontos¨, podondo dar vazão ao impulso do tralalho lontoito, o não dosaparocou complotamonto com o advonto da sociodado industrial, pormanocondo om vários tipos do otícios ou mosmo om cortas dimonsòos do rogimo talril. 21¯ Do tato, ó osso tipo do porícia guo o princípio do controlo da gualidado total¨ 15 do toyotismo tonta rocuporar nas industrias pós-tordistas - o laça corto da primoira voz¨, ou a dotocção do prollomas o soluçòos por parto dos grupos do tralalhadoros auto-organizados -, rossigniticando-o no contoxto da roostru- turação produtiva como nova torma do oxploração, om guo o tralalhador incorpora sou próprio toitor o so consomo do corpo o alma na atividado. 16 Olviamonto guo, om um contoxto como osso, a porícia artosanal pordo o sontido guo tinha na oticina do artosão: o do tralalho toito com dodicação para garantir um produto com gualidado, o ondo o guo ostá om jogo ó o lom-ostar do tralalhador om um procosso produtivo guo lho dá prazor, sua idontiticação com osto na lusca do um rosultado satistatório, do gual sinta orgulho. Ora, muito omlora soja osso o argumonto molilizado do torma idoológica no discurso da gualidado total¨ pós-tordista, a unica tinalidado ó contor gastos com matorial o mão do olra, ovitando dospordícios guo passam a sor contalilizados nos mínimos dotalhos dos procodimontos o nos divorsos sotoros da produção, garantindo, assim, mais lucro para os acionistas. Essos oljotivos são lançados mais uma voz nas costas do tralalhador, guo passa a conjugar divorsas tunçòos, rosponsalilizando-so por olas sol o rocoio do comotor orros o o risco constanto do sor disponsado. A gualidado total¨ aparoco, agui, como mais um oticaz dispositivo colonizador - o pan- -óptico lonthamniano incorporado agora na monto o na lilido do tralalhador 1¯ - o um princípio guo gonoraliza a concorrôncia, o oportunismo o o donuncismo no soio da classo tralalhadora: a gualidado total da morcadoria ou do sorviço so assonta na ausôncia total do gualidado no tralalho. Conguanto soja osso o contoxto goral da roostruturação pro- dutiva, o princípio da porícia artosanal podo assumir contornos ditorontos nas poguonas manutaturas, nas guais so roproduz muito do sontido do gualidado oriundo das oticinas tradicionais o da lusca polo tralalho lontoito não só como moio do solrovivôncia o adaptação ao morcado, mas tamlóm como tim. Esso ó o tipo do ongajamonto¨ guo caractoriza o latalhador om sous otícios manutaturoiros, guando ostá sompro rotlotindo, no momonto mosmo do tazor, solro o contoudo da matória do guo dispòo, as torramontas o os procodimontos guo podo atualizar, luscando sompro inovar para acompanhar as mudanças no morcado o 218 o gosto do consumidor. As coisas om si, instrumontos o gostos otorocom ditorontos altornativas, o a rosistôncia da matória, das torramontas ou do corpo om gorar dotorminados rosultados podo sor instrutiva o culminar om aprondizado. Agui, a ascoso o a criatividado são indistintamonto indisponsávois ao tralalho o aparocom na torma do controlo da torça omprogada, na procisão dos gostos, no cálculo diligonto o no raciocínio rápido om contoxtos do urgôncia, do constatação do diticuldados atuais ou do pro- vonção contra prollomas tuturos. A rogra do oxporimontação o inovação não aparoco como uma loi imposta oxtornamonto por um suporior, mas ó porcolida o sontida como um dosatio, o do comproondor o adaptar-so às rogularidados do mundo, isto ó, do morcado, ontondido sogundo o padrão do circularidado da própria naturoza. Nosso contoxto, o rocoio constanto do uma oscassoz sompro provávol o o ostado do vigília causado pola oxporiôncia do sotrimonto dosomponham ainda papol crucial: A salodoria da gonto nasco do sotrimonto. So vocô tá sotrondo, vocô vai ponsar om como sair do prolloma!¨, assovora Chico, tilho do tralalhador rural guo tamlóm comoçou no campo, passou por camolo o hojo ó dono do uma microtálrica do panolas do alumínio om miniatura, produto guo olo mosmo invontou a tim do inovar o croscor om moio ao concorrido ramo do Juazoiro. Esso mosmo raciocínio ó corrolorado por divorsos latalha- doros para guom o conhocimonto prático no tralalho toi mais importanto guo o conhocimonto tormal na oscola, uma voz guo a procariodado o a nocossidado do contriluir com o sustonto da tamília surgom como ompocilho para os ostudos. Josó, por oxomplo, tamlóm tilho do agricultor, totalmonto analtaloto, saiu do campo o partiu para Caicó - Rio Grando do Norto, ondo aprondou o otício do tocolagom o, om soguida, o do contocção do chapóus. Em sua oticina, Josó porcolou guo podoria ompro- gar as mosmas máguinas o tócnicas utilizadas na manutatura do sous tradicionais artigos do couro para talricar o novo produto guo, ontão, tazia sucosso na cidado: os lonós do pano. Com o oljotivo do aprondor como contoccioná-lo, olo não aponas usou o arcalouço do conhocimontos o práticas adguiridos na produção do artigo antorior, mas dostoz a nova morcadoria om divorsas partos o oxporimontou o molhor procodimonto para uma talri- cação rápida o oconomica, tazondo moditicaçòos à modida guo sua produção croscia. A mudança na contocção do um chapóu 219 do couro para um lonó do pano podo parocor simplória om uma oconomia monopolizada por industrias com tocnologia do ponta, oriontadas por um conhocimonto ciontítico altamonto ospociali- zado, como a microolotronica ou a gonótica. Vas ossa poguona transtormação manutaturoira mostra toda sua riguoza cognitiva so não partimos do ponto do vista prospoctivo o nos voltamos para o tipo do ongajamonto guo ola implica: um diálogo constanto do homom com os matoriais do sou tralalho, guo ainda não sotrou a soparação ontro tooria o prática, ontro projoto o ação. Emlora o oljotivo oxplícito do novo omproondimonto do Josó tosso a adaptação ao morcado modorno o o aumonto do lucro, olo toz uso do algumas oporaçòos cuja lógica não ora ominontomonto modorna om sua origom, mas guo lho pormitiram uma adoguação lom-sucodida. Essas oporaçòos são oxplicitadas por Sonnot na análiso guo taz da porícia artosanal¨ o da consciôncia matorial ongajada¨, o uma dolas mostra-so particularmonto rolovanto para nosso caso: a motamortoso ordoira. A idoia da motamortoso associa a mudança ao irracional, a incidontos guo podom provocar assomlro o modo porguo impro- vistos o por indicarom a nocossidado do uma ruptura com alguma atividado tradicional consolidada, guo passa a gorar insucossos rocorrontos. Vas ossos insucossos podom signiticar tamlóm uma ospócio do tracasso salutar¨ guando dão origom a aportoiçoa- montos ocorridos lontamonto, dosonrolados com a prática, o não dotorminados do torma toórica. O tipo do consciôncia matorial¨ provocada pola motamortoso podo so dar do trôs manoiras: 1) pola ovolução do uma torma-tipo¨, do uma catogoria gonórica do oljotos, guo so mantóm om sou tormato padrão, omlora possa sor aportoiçoada om algum dotalho, 2) pola composição ou mistura do olomontos ditorontos guo dão origom a um oljoto novo, ou 3) pola mudança do domínio¨, guo romoto à aplicação, om uma atividado nova, do um dotorminado mocanismo criado para outra tinalidado por moio do ponsamonto analógico - por oxomplo, o princípio do trama o urdidura¨ do toar domóstico arcaico guo so transtormou na articulação macho-tômoa da construção naval ontro os grogos. 18 Paroco guo toi soguindo ossas possililidados dadas na própria oljotividado da prática cotidiana do tralalho, roconstruídas analiticamonto por Sonnot, ospocialmonto a guo so rotoro a uma ovolução da torma-tipo¨, guo Josó podo aplicar om sua talricação 220 do chapóus do couro o, postoriormonto, na do lonós, os conhoci- montos guo havia aprondido guando jovom na tocolagom do tio. Hojo, dono do uma conhocida tálrica do lonós om Caicó, cujo nomo olo soguor salo oscrovor, como taz guostão do pilhoriar, Josó não toi aponas um dos pionoiros do ramo, mas contriluiu para dissominar com os produtoros mais jovons o conhocimonto o as tócnicas do produção guo havia aprondido, lotando no comórcio¨ parontos ou amigos guo passaram a sor sous concor- rontos. O contlito, caractorístico do todo latalhador, ontro o próprio tralalho como tonto do conhocimonto o o aprondizado tormal da oscola, guo só taz sontido guando so dispòo do tompo livro proporcionado polo distanciamonto das urgôncias matoriais, ó ovidonciado om sua própria tala: Todo dia tom guo tor inovação no comórcio. Vocô salo guo hojo o comórcio do lonó, principalmonto do lonó, virou moda. So vocô num tivor sompro do trôs om trôs môs tazondo uma modolagom nova, um produto novo pra lotar no morcado, vocô vai ticando pra trás. A gonto procisa todo dia tá inovando. t...) Olho, ou... Sompro ou gosto do olsorvar as coisas. Aguilo guo... A tondôncia, polo monos no mou ramo. Eu sompro gosto do tá olsorvando aguolas novidados pra criar o conhocimonto, pra ir procurando tazor sompro molhor. Sompro ou gostoi do olsorvar as coisas o vor como ó guo so taz a coisa corta pra vocô tazor aguilo ali o tor o lucro pra so mantor. t...) Eu num ostudoi não toi porguo talvoz olo |o pai} nom guisosso. Vandar olo mandava, agora só guo... Da ondo a gonto morava pra ondo tinha o ostudo mais porto, ató a idado do 14 anos, dava oito guilomotros do ostrada do chão, como so diz. Naguolo tompo, não tinha transporto nos sítio... So vocô guisosso ostudar, ou tinha guo ir do pós ou ontão pogar um lurro daguolo, lotar uma cola o ir. Vas, uma coisa mou pai mo onsinou, o sou muito satistoito. Acho guo isso, hojo, ó... Sou agradocido domais... Vo onsinou a tralalhar! Vo onsinou a tralalhar no posado, mas com aguolo guo olo mo onsinou, ou aprondi a tralalhar no... Porguo guando vocô passa do tralalhar no posado, vocô lota um nogócio... So vocô ganha... Só pra sor mais prático: vocô ganhava um roal por somana, o guando vocô passa a vir pra cidado o lota um poguono nogócio pra vocô o passa a ganhar um roal por dia, aguilo ali já claroou mais pra vocô continuar no tralalho. Elo disso guo guom tralalha sompro vonco... Quom tralalha vonco... 221 Com otoito, talvoz a disposição para dosonvolvor artitícios com laso no guo dotinimos agui como mótodo do onsaio o orro roproduza uma lógica provontiva do olsorvação prudonto da naturoza guo Josó aprondou com sou pai na agricultura o guo, aposar do partir sompro da lusca do adoguação o da tontativa do solucionar prollomas a partir do oxporiôncias antorioros, tamlóm implica a capacidado do alraçar o novo guando a urgôncia olriga o surgom poguonas oportunidados. Com a docadôncia da cultura do algodão, atividado guo garantira o sustonto da tamília ató o início da dócada do 19¯0, o pai do Josó docidiu produzir lanana, iniciando a omproitada com uma plantação do 3.500 covas o colhondo corca do 22 milhoiros por somana, os guais vondia duranto todo o ano na toira om Caicó: loi na ópoca guo a gonto, como so diz, onchou a larriga.¨ Entusiasmados com os ganhos da atividado, ropotiram a omproitada no ano pos- torior, mas toram surproondidos por uma grando onchonto no rio Piranhas, guo acalou com parto da plantação. O pai do Josó, ontão com 62 anos, matutando guo nunca havia prosonciado o ovonto antos, ponsou so tratar do um incidonto o proparou novo plantio no ano soguinto, onguanto ainda so rocuporava do projuízo passado. Vas o rio translordou do novo om uma choia guo durou 22 dias, sogundo o rolato, dostruindo toda a plantação. Dopois dosso sogundo insucosso, os tilhos mais volhos mudaram para a cidado, ondo so omprogaram como ajudantos do podroiro o, mais tardo, como tocolòos na oticina com toar manual do um tio, onguanto o pai pormanocou na roça com os guatro tilhos mais novos, dontro os guais Josó, o caçula. Sou amor polo poguono loto do torra hordado do avo o o modo do vir pra rua o num dar corto o passar tomo¨ colaloraram com a hipótoso do guo aguilo podoria tor sido aponas dois incidontos o com a docisão do guo dovoria tontar novamonto porguo a conta ó trôs voz¨. Após tazorom poguonas moditicaçòos na larragom, proparam novo plantio para mais um ano, o torcoiro consocutivo, mas o torrono ainda ora muito laixo, o as larroiras não comportaram a onchonto mais uma voz. Com trôs anos soguidos do projuízo, o pai do Josó rosolvou guo ora hora do ir omlora, vondou o poguono loto do torra o comprou uma casa na cidado muito tristo, chorando muito porguo num guoria sair do lá¨. Contudo, passados dois anos do tralalho na talricação o vonda do rodos na cidado, o homom voio 222 a talocor tragicamonto: carrogado do morcadorias nas costas, toi atropolado na toira às guatro o moia da manhã, para ondo havia so dirigido a tim do montar sua larraguinha. Ë com lágrimas nos olhos guo Josó lomlra do opisódio, da culpa guo sontiu junto aos irmãos por torom incontivado sua ida para a cidado. Vas unida à comoção, sua tala transmito tamlóm a cortoza do guo o pai toz a oscolha corta, do guo não havia como pormanocor no campo naguolas condiçòos o do guo, aposar da morto promatura, olo já havia onsinado o ossoncial aos tilhos: a oxporiôncia do tralalho duro na agricultura o pocuária. Essa oxporiôncia implicou um aprondizado, inculcado constanto o silonciosamonto na própria rotina das tarotas diárias, solro gostos, modos do tazor, práticas, matoriais o solro o lidar com a rosistôncia contornávol da naturoza, guo os proparou para so dosonrolarom¨ om outros campos. O mocanismo do transtorôncia pró-rotloxiva do Iaü:ìu:, isto ó, do um ostilo do vida prático tornado corpo om grando modida, pormitiu adaptar disposiçòos incorporadas na intância o na juvontudo o motamortosoá-las, para continuar com o tormo do Sonnot, por moio do uma mudança do domínio¨. Tanto ó assim guo tamlóm rosido na agricultura, ao guo tudo indica, a origom do sua disposição para a poupança, no início toita principalmonto om matória-prima, torramontas o tocnologia, o não tanto om ospócio monotária, o guo romoto mais uma voz à lógica da providôncia. Agui, não ó tanto a proocupação om controlar o agondar o tompo guo tom o papol tundamontal, mas a adaptação ativa, a solrovivôncia no tompo ao próprio tompo, o ao intortunio guo pormanoco sompro no horizonto. Ë isso guo Josó onsina aos tilhos: Eu acho guo a maior tolicidado do sor humano ó aguolo guo tom... Quando amanhoco o dia, tor o guo tazor. Eu acho guo isso ó muito gratiticanto. Eu sou... Graças a Dous, ou mo sinto muito toliz porguo todo dia a gonto so lovantar o tor uma olrigação pra tazor... Porguo aguolos guo hojo não tôm talvoz não salo o guo ó a tolicidado da vida. loliz daguolo guo tom o guo tazor todo dia. t...) A gonto orionta assim: Olho, hojo, nós tamo lom, mas amanhã ó outro dia. So vocô hojo ganha um roal, mou tilho, vocô não gasto um roal. So pudor gastar só cinguonta, cinguonta ó o dia do amanhã. Porguo amanhã ó oscuro, a gonto podo amanhocor morto ou podo amanhocor vivo. So amanhocor vivo, claro guo procisa dos cinguonta contavos pra solrovivor. 223 Por outro lado, o conhocimonto prático do latalhador implica tamlóm uma comproonsão protunda solro o mundo social o as rolaçòos humanas, as diticuldados do cooporação o os contlitos guo surgom na atmostora do tralalho. Esso conhocimonto ó muitas vozos originado na oxporiôncia om ocupaçòos o postos distintos, guo tuncionam como cursos práticos do administração o gostão não aponas para lidar com matoriais, tócnicas, proco- dimontos ou morcados consumidoros, mas tamlóm, o solro- tudo, para lidar com gonto¨, guando o latalhador ascondo à condição do omprogador. Nosso contoxto, mostram-so como importantos tontos do racionalidado pragmática o improvisação o doslocamonto ospacial o a condição do migranto, ainda guo soja para localidados próximas, pois aí o latalhador goralmonto ó dotrontado com conjuntos do prollomas guo não surgiriam no horizonto rostrito do ondo parto. Essas diticuldados guo surgom do contoxto sotrido do porogrinação¨ o oxílio¨, guando o indivíduo oncontra-so atastado da sogurança do sou nucloo domóstico o do sou lugar do origom, ondo coisas o possoas so comportam do torma lastanto provisívol, roprosontam aprondizados cruciais no tortalocimonto da vontado o na tormação do uma disposição organizativa o goroncial. Os contoxtos podom sor divorsos: por oxomplo, o tralalho om uma grando tirma, ondo o latalhador oxporimonta, como tralalhador assalariado, toda a carga do hu- milhação o rovolta dianto do maus-tratos o guo tunciona como rocurso para salor o guo ó adoguado tazor ou não, ou mosmo a passagom por nogócios intormais como os do camolo, om guo so procisa viajar por várias cidados, tirmando rodos do contatos o conhocondo divorsos morcados. A condição itinoranto dos migrantos oconomicos¨, guo so transtorom para ondo ostá o tralalho, colalora na tormação do um ospírito omproondodor, 19 capaz do so dotrontar com o so adoguar a divorsas situaçòos-prolloma. Assim olos aprondom a partir do alargamonto do horizonto dos possívois, do incromonto do rocursos cognitivos o da incorporação do novas disposiçòos, ou atualização do outras adormocidas, por moio do contato com novas morcadorias, com possoas do trajotórias o oxporiôncias ditorontos o com condiçòos do tralalho divorsas. Essos procossos so rolacionam tamlóm com uma distinção lrusca guo so osta- loloco ontro o ou¨ o o mundo¨ na condição do porogrinação o guo paroco tortalocor os aspoctos óticos do Iaü:ìu: do tralalho 224 duro já incorporado. Das Doros tom, hojo, sua microtálrica do contocçòos, mas tralalhou duranto muito tompo como camolo nas rodos do comórcio intormal guo so doslocam do cidado para cidado, do ostado para ostado, om viagons guo podom durar dias o implicam muitas vozos a nocossidado do dormir na rua, ao rolonto, na companhia do ostranhos. Nossos contoxtos, o lata- lhador itinoranto tortaloco os olomontos óticos do sua rolação com o mundo o com os outros porguo só podo so apogar a Dous o a sua providôncia guando procisa ontrontar sozinho o dosco- nhocido o oncarar o dosatio do convivor com possoas ostranhas, guo são, simultanoamonto, tonto do doscontiança o somolhantos, possoas om guom so podo idontiticar o roconhocor sua própria condição procária. Outro oxomplo do latalhador itinoranto ó o do Vanó, homom do 33 anos, somianaltaloto o tilho do agricultor, guo roconhoco om cada um do sous omprogos um aprondizado importanto. Tondo cursado mal aponas ató a torcoira sório do onsino lásico, comoçou a tralalhar por volta dos 12 anos om divorsos licos: como auxiliar do podroiro, capinando o arrancando mato ao rodor da cidado ou pintando casas. Emprogado dosdo os 13 anos na podroira guo hojo tornoco a matória-prima do sua microindustria do lonoticiamonto do guartzito para ornamontação, om uma cidado na divisa ontro o Rio Grando do Norto o a Paraíla, Vanó lomlra guo a maior oxporiôncia guo tovo toi tralalhar om uma tirma do construção civil, ondo ostovo omprogado duranto sois anos, construindo ostradas no Pará, na Paraíla o om Pornamluco. Essa oxporiôncia prolongada do tralalho, na gual consoguiu ascondor do cargo - do poão¨, passando por oporador do máguina o chogando a toitor da tronto do sorviço -, toi tundamontal não aponas para arrocadar o dinhoiro nocossário ao arrondamonto do uma sorraria, já toda oguipada com máguinas, o guo organiza com os irmãos, mas tamlóm como tonto do conhocimonto solro tormas do organização o administração. Elo roconhoco o tato do guo tor saído para conhocor o mundo¨ lho rondou salor o coragom para iniciar sou próprio nogócio. Por isso ontatiza, guando compara sua situação com a do outros tralalhadoros guo garimpam há 20 anos na mosma podroira ondo olo próprio iniciou, guo ó muito ditícil alguóm consoguir sulir tralalhando sompro no posado¨, domonstrando aí um incrívol conhocimonto prático acorca dos princípios do ostratiticação social. 225 Com otoito, a possililidado moramonto circunstancial do so apartar do dia a dia do tralalho lraçal na mosma podroira, guo comoça om torno das 6 horas da manhã o tormina às 1¯ horas, guando o garimpoiro ostá cansado o tudo o guo dosoja ó ir para casa ropousar, ou mosmo tomar uma doso do pinga com os cologas, pormitiu a Vanó tugir do uma rotina dosgastanto guo roduz o horizonto do oxpoctativas dos latalhadoros. Emlora partam do mosmo contoxto do origom do Vanó - a agricultura, cuja atividado muitos conciliam, auxiliados pola osposa o os tilhos, com o garimpo -, compartilhom tamlóm do uma trajotória om guo chogaram a dosomponhar licos ditorontos o sonhom com a molhora do vida, a maioria dos minoradoros daguola rogião acala so adaptando à sua situação ditícil, mas não por proguiça ou talta do ostorço, como guorom alguns analistas para guom as classos popularos sompro so acomodam a uma lógica imodiatista. Na vordado, o guo os mantovo no mosmo otício, aposar das dispo- siçòos somolhantos, o os toz tracassar¨ tronto ao oxomplo do asconsão o omproondodorismo do homons como Vanó toi a torça do constrangimonto da ostrutura oljotiva do possívois, para a gual a pormanôncia no amlionto circundanto paroco tundamontal, unida a um contormismo lógico¨, um consonso pró-rotloxivo o imodiato solro o sontido do mundo¨, 20 guo considora tacitamonto os custos matoriais o psíguicos do uma tontativa sulita do mudan- ça, do um passo om talso¨ guo atrapalharia a vida posada, mas minimamonto sogura. Assim, ainda guo o lidar com a incortoza soja aspocto crucial na vida do todos os latalhadoros - soja a incortoza do morcados variávois o passagoiros para os omproon- dodoros o autonomos, ou do postos do tralalho guo dospontam o dosaparocom, para omprogados tormais ou intormais -, são os omproondodoros os mais lom adaptados para lidar com ola do torma ativa, compotôncia goralmonto adguirida no contoxto do uma transtorôncia ospacial tguo ó sompro ospaçotomporal) ainda na juvontudo. E, agui, surgo ainda um outro tator do tundamontal impor- tância. A classo tralalhadora assisto, na dócada do 1990, ao procosso do dosostruturação capitalista, às ondas do domissòos colotivas, ao aumonto da massa do dosomprogados o à dissomi- nação do torcoiro ospírito do capitalismo, 21 do valoros o princípios noolilorais do :~IJ-nau~ nau. Essa mudança na ostora produtiva o idoológica implica uma transtormação no ~ìI·: do tralalho ligado 226 ao univorso tordista, com sua autodisciplina rotinoira o a lusca caractorística por uma ocupação durávol, constanto o ostávol para toda a vida, guo so dosonrola om uma narrativa linoar o cumulati- va. Vuito omlora ossa tonha sido uma narrativa concrota aponas para uma parcola dos tralalhadoros lrasiloiros, considorando os postos o ocupaçòos irrogularos, rogimos diaristas o sazonais guo sompro oxistiram na cidado ou no campo, ola tuncionava como horizonto dosojávol mosmo para aguolos insoridos om condiçòos procárias o guo não dostrutavam das garantias do omprogo tormal. Vas no capitalismo dosostruturado, a mudança constanto do ocu- paçòos o rogimos oxporimontada polo tralalhador, guo goralmonto oncara a instalilidado no omprogo como uma tatalidado guaso natural, o doslocamonto contínuo om lusca do postos do tralalho o a adaptalilidado tronto a um tuturo cada voz mais improvisívol dissominam um novo ~ìI·: no tralalhador, guo so intogra do torma contraditória à disciplina o ao autocontrolo aprondidos no próprio tralalho. 22 Nossas condiçòos, ostimula-so um corto sonso do oportunidado, uma voz guo o mundo ó marcado polo tatalismo da tloxililidado o do tluxo a curto prazo¨, ondo a instalilidado protondo sor normal, o omprosário do Schumpotor aparocondo como o homom comum idoal¨. 23 Assim, latalhadoros mais jovons como Vanó, guo tivoram contato com postos o rogimos do tralalho divorsos muito codo, acalam tondo guo so adaptar à insogurança o ao risco, tortalocondo um sontido do mundo já implícito na própria condição do itinoranto. Entrotanto, a mudança do posição do omprogado para omprogador não impodo osto ultimo do aprosontar ompatia com o ponto do vista do trala- lhador o omprogá-la racionalmonto na torma como administra o nogócio. Nolo, como om outros latalhadoros omproondodoros, a idontidado como tralalhador tala muito alto, ainda mais guando dispòo do pouguíssima oducação tormal o lasoia a organização do sou nogócio no conhocimonto prático articulado: Eu tui tralalhador, o ainda hojo sou. Eu achava muito tristo vocô passar o dia todo no sol guonto tralalhando o vocô chogar o dar um grito no cara... Humilhar o cara. O cara já tá no tralalho duro ali... Como ou tralalhoi om tirma, junto com guatro mil poão, o via gonto chogar, o oncarrogado, ongonhoiro, o humilhar... Então, isso ó o guo ou digo pra minha osposa |rosponsávol por administrar as tinanças da omprosa o guo discorda do rogimo modorado, monos impossoal, do Vanó}. Digo pro mou tilho: osso monino ó 22¯ uma criança, mas so ou dor um grito nolo, olo laixa a caloça... A hora guo ou gritar com olo agui, olo laixa a caloça. Polo monos uns 10 minutos, olo vai ticar dosgostoso comigo, guo olo ó uma criança o num ontondo do nada, mas... nó? Elo num tica como olo tava. Do mosmo joito ó a gonto guo já ó adulto, já ontondo como ó guo tunciona, ninguóm guor lovar grito do ninguóm. t...) O tralalhador... O polro dopondo do uma convorsa, do um ajoitado. So tor com ignorância, ó pior. Vocô tando rovoltado... Eu tiro por mim, guando ou tava tralalhando rovoltado, mou plano ora acalar o oguipamonto, ora não tralalhar. So vocô tá agui, dou uma lriga, tá com raiva do sou patrão, gual ó sou intorosso? Ë do não tralalhar, ó do guolrar a máguina, ó do tazor uma coisa orrada, pra guo vocô possa parar o ir pra casa o aguola hora passar. Quor dizor, ou mormo ora assim, ou acho guo guaso todo mundo ó assim... Vocô tralalhar intoliz com o guo vocô tá tazondo ó a pior coisa do mundo! E, voja lom, guando vocô tralalha num grupo como o guo ossos caras tralalham... Elos ticam o dia todim junto, olos ticam mais aí no tralalho do guo om casa com a tamília, com o pai, com a mão. Elo vai chogar om casa do noito, do 8 hora, 9 hora, vai dormir, vai assistir tolovisão, o ali olos tão om contato o dia intoiro. Elos são mais do guo uma tamília o tôm guo tor uma rolação muito loa pra não tá criando prolloma, pra não tá lrigando... Uma análiso guo ontocasso o porsonalismo¨ ondômico nas massas, om guo o joitinho lrasiloiro¨ à la DaVatta 24 impora, ontatizaria agui aponas o ajoitado¨ do guo, sogundo nosso ontro- vistado, o polro procisa para acoitar sua posição, ou soja, o oncolrimonto da oxploração do tralalho por um talso vínculo possoal o o arrotocimonto da potôncia política da rolação assa- lariada, pano do tundo da omorgôncia do uma consciôncia do classo. No ontanto, ao contrário do guo diz a toso do porsona- lismo, não so trata do olscurocimonto das rolaçòos impossoais, ostritamonto oconomicas, guo unom o latalhador omproondodor o sous omprogados. Na vordado, todos os onvolvidos salom o guo ostá om jogo: o omprogo, mosmo procário o som diroitos, por parto dos tralalhadoros o a possililidado do continuar o próprio omproondimonto oconomico por parto do omproondodor. Do tato, a pró-comproonsão da condição do poão¨ pormito a Vanó tor loas rolaçòos com sous tralalhadoros o mantor sua microomprosa tuncionando om condiçòos irrogularos, uma voz guo, como oxplica, olo não tovo ostrutura ainda para logalizá-la 228 totalmonto o vivo sol o risco cotidiano o a amoaça oljotiva do procossos, procoito guo os omprogados irrogularos ostão longo do dosconhocor. Sondo assim, ainda sogundo as alordagons lilorais solro as classos popularos, alóm do porsonalista, Vanó soria um corrup- to. Vas a oxporiôncia do tralalho guo capacita para o lidar com gonto, gonto guo ostá om uma condição próxima a guo ostovo olo próprio duranto grando parto do sua vida, pormanoco na laso do aprondizados não aponas cognitivos, guo, com otoito, acalam como tundamonto do ostratógias do oxploração para compra do tralalho procarizado, mas tamlóm tunda aprondizados morais. O latalhador omproondodor não ostá aponas sondo calculista o idoológico guando diz guo toi tralalhador o ainda ó¨, nom os omprogados são tão alionados a ponto do sorom comprados por uma convorsa o uma corvojinha paga no tim do oxpodionto. Uma noção jurídica mínima o o conhocimonto lásico solro diroitos tralalhistas ostão do tal torma dissominados hojo guo pormanocom sompro como horizonto o pano do tundo nas convorsas o nogo- ciaçòos ontro choto o patrão, montando um sistoma do amoaças tácitas, llotos o compromissos. A rolação possoal, do tato oxistonto, sorvo procisamonto para vialilizar as rolaçòos impossoais porpassadas polo dinhoiro o polo diroito. Ao contrário, portanto, da toso do porsonalismo, guo olscuroco todas as rolaçòos impossoais o oljotivas, a rolação possoal o a torma particular guo osta assumo sorvom para ostalolocor um compromisso ontro as partos dontro do um contoxto om guo a olsorvância ostrita da logalidado soria projudicial a todos. Vas, olsorvo-so, ó a oxistôncia da rogra logal guo constitui os tormos da troca do tavoros possoais. A rolação possoal, como om toda sociodado modorna, inclusivo no sortão nordostino, ó socundária no guo so rotoro aos capitais impossoais onvolvidos. O guo vomos nosso sistoma são rolaçòos do rociprocidado ostruturadas no conhocimonto tácito da condição do um o outro, do loguo do altornativas do ação do guo cada uma das partos dispòo o das rosponsalilidados o garantias guo dovom ostar prossupostas, romotondo a uma rolação ontro possoas¨, som duvida, mas cujo pano do tundo ó impossoal o oljotivo. A rolação ontro possoas¨ agui não ostá tundada om uma hiorarguia do posiçòos, papóis, garantias o atriluiçòos ostalolocidas dosdo 229 sompro polo diroito costumoiro da ordom patornalista, como na rolação ontro sonhor o sorvo, ontro sonhor o sou dopondonto ou agrogado. Em oposição a osso modolo patornalista, o ainda guo os próprios atoros possam molilizar algumas do suas noçòos para intorprotar a situação, a rolação, agui, lasoia-so no roconhocimonto do uma origom o um ostilo do vida comuns o das diticuldados implícitas na condição do um o do outro, om uma rolação do troca modorna modiada totalmonto polo dinhoiro o circundada polo horizonto sompro prosonto do Estado o do sistoma jurídico modornos, lom como dos diroitos tralalhistas guo osto roconhoco. A origom do classo comum o a trajotória do sotrimonto do patrão¨ implicam uma rolação do oxomplaridado guo corro om dois votoros: do um lado, os tralalhadoros, solrotudo os mais jovons, ospolham-so om Vanó, ansiando inclusivo tornar-so como olo, do outro, a oxporiôncia do próprio Vanó como tralalhador o sua disposição roalista lomlram-lho o risco sompro prosonto do guo olo podo voltar ao contoxto do ondo consoguiu omorgir. Portanto, so ó vordado guo osso rogimo do tralalho aprosonta aspoctos mais possoais, olo ostá assonto om uma ostrutura total- monto ditoronto daguola pró-modorna guo a toso do porsonalismo, o com ola a do patornalismo, prossupòo. Ë osso compromisso, construído a partir do rolaçòos oljotivas, guo não tom nada do arcaico¨ porguo ó pormoado por práticas o instituiçòos modornas, guo pormito um corto distanciamonto crítico dos imporativos do rogimo totalmonto impossoal - o gual, num contoxto do procariodado como o guo ostamos analisando, soria ainda mais oprossor o violonto -, como tica sugorido nas críticas do Vanó a um portuguôs, dono do uma grando sorraria da mosma rogião, guo, sogundo olo, joga posado¨ com os tralalhadoros: Elo não guor, olo não ó igual ou, igual os outros guo choga o tica do convorsa, não. O nogócio dolo ó tralalhar, cada gual com sou tralalho, não guor convorsar o... Ató porguo na sorra ondo olo tava tralalhando, tovo um possoal lá guo lovou duas lananas o comoram as lananas lá, salo? So tosso por mim, ou não tava nom aí. Elo não, olo chamou os tralalhador, roclamou. No outro dia, olo disso... Trouxo mais pra vor guom comia porguo... pra salor guom vai omlora. Quor dizor... Então, tá vondo guo olo joga posado, nó? 230 Do tato, a maioria das várias ontrovistas guo tiz com Vanó, algumas vozos almoçando com olo o sua tamília, outras visitando sua microtálrica, toi acompanhada por sua osposa, guo criticava a torma como olo lidava com os tralalhadoros: Já ou não acho! Eu acho guo, assim, amlionto do tralalho ó amlionto do tralalho, nó? Bator papo, outras coisas, tora. Eu acho assim. Porguo tralalhador na hora do tralalho não ó pra tá convorsando, na hora do tralalho ninguóm podo dar lilordado, nó? Quom não guor tralalhar, guor lrincar, nó? t...) Ë porguo tamlóm agui os tralalhadoros, a maioria dos tralalhadoros, guando a possoa dá muita lilordado, olos guorom sor o dono, ontondou? Aí por isso guo ou acho guo não dovia. Porguo, no caso dolo, já acontocou do tralalhador guoror mandar mais do guo olo. Porguo olo dá muita lilordado, nó? t...) Eu vou dizor por guo ó guo ou roclamo. Porguo olo gosta do adiantar dinhoiro a tralalhador, aí guando ó, guando ó na guinzona, assim, guo ó o pagamonto, aí o tralalhador diz guo olo não pagou adiantado. Aí ó aguola contusão, olo tica doidinho. Aí ou digo, olho, so vocô ovitasso do dar dinhoiro antos, tu ovitava todo osso muído, dor do caloça, aporroio, nó?¨ Tudo. Aí ó isso guo ou digo a olo. A ossas críticas, Vanó rospondo: Porguo o rogimo guo ou vojo dola ó totalmonto ditoronto do mou... Ató porguo, doixo ou oxplicar pra vocô, aguolo cara guo tralalha naguola sorraria ali, olo tralalha pra um cara lá do Brasília, pra um amigo mou. Então, olo tom uma parto da sorra guo olo tira podra lá, oxtrai tamlóm. Então, o guo acontoco, o amigo mou... Os cara da sorra tala guo não gosta dolo, guo olo ó muito motido, ó todo choio do diroito, guor humilhar o cara, guor guo o cara taça do joito guo olo guor, o não ó assim. Tá corto guo tá pagando, mas tom guo tor um acordo. Eu acho guo não ó vocô chogar o dizor guo pau ó pau o ó pau, ou acho guo não tunciona assim. Eu não acho guo tunciona assim não! O guo paroco talar agui por Vanó ó outra coisa alóm da pura o simplos racionalidado ostratógica do guom não tom outra opção a não sor ontrar om acordo com os tralalhadoros dovido à condição intormal. Olviamonto guo o aspocto ostratógico ostá prosonto o ó dotorminanto, mas tamlóm ostá prosonto uma solidariodado para com os tralalhadoros: Vanó ovita sor mais rígido, jogar posado¨ o gritar¨ porguo já sontiu na polo o guo signitica lovar grito¨. 231 Assim, soja por causa da incorporação a uma roligiosidado católica popular guo monta um princípio gonoralizado do tratornidado pola condição oxistoncial do procariodado o sotrimonto, soja pola oxporiôncia como tralalhador, condição guo o latalhador ompro- ondodor, dono do microomproondimontos ondo goralmonto ó cologa do sous tuncionários, compartilha mosmo guando passa a omprogador o guo lho tornoco o conhocimonto das angustias o o ponto do vista do guom dopondo do salário, ou soja, pola soma dossos dois tatoros, pudomos porcolor uma solidariodado oxplícita na tala da maioria do nossos ontrovistados. No caso do Vanó, ó importanto lomlrar guo o discurso do tralalho o da diligôncia lho aparocou do torma articulada como axioma moral nos oncontros das Cruzadas, do guo participou duranto a intância o adoloscôncia, om guo as troiras lho onsinavam guo proguiça ó coisa do dialo¨, mas guo so dovo ajudar a guom procisa. Essa doutrina guo racionaliza uma ótica do tralalho o justitica a condição ditícil do guom comoçou a tralalhar tão codo tamlóm traz om sua concopção do mundo um princípio do tratornidado - a proocupação ospociticamonto cristã com o somolhanto - o pormanoco incorporada no ~ìI·: do Vanó, mosmo guo olo não vá sompro à missa. Quando alordamos tomas políticos, ossa solidariodado so torna mais ovidonto, ainda guo cada voz mais amlígua, à modida guo o latalhador ascondo socialmonto om tormos oconomicos, ganhando ostalilidado, ou guanto mais sou nogócio dopondo do conhocimonto tormal. Das Doros, por oxomplo, ó catogórica na rosposta da guostão solro gual soria o maior prolloma do Brasil: A dosigualdado. A gonto num tom idoia das humilhação guo passa uma possoa guando tá dosomprogada, o tompo intoiro. O jovom tonta arranjar omprogo o num consoguo, tá dorrotado. Aí passa na tronto daguolo monto do loja choia do coisa lonita, tica rovoltado... E rospondo com um moio riso ironico guando porguntamos so ola concorda com a oxistôncia do colas ospociais para possoas com onsino suporior: Engraçado... porguo na hora do comotor o crimo, a oducação num sorviu do nada, nó?¨ As oxporiôncias possoais, ou do possoas muito próximas, com a procariodado implicam tamlóm vínculos do solidariodado o uma rolação mais 232 comproonsiva o monos acusatória para com dopondontos do lonotícios. Das Doros lomlra, por oxomplo, guo grando parto das tralalhadoras na Ascopop rocolo Bolsa lamília, mas não doixa do tralalhar por causa disso. Diz guo, so o programa oxistisso guando sous tilhos ainda oram jovons, cortamonto toria ajudado nas dosposas da casa. Esso tamlóm ó o caso do muitos tralalhadoros rurais, ligados à agricultura tamiliar, guo oncontramos nas toiras das divorsas cidados por ondo passamos, tamlóm latalhadoros o lonoticiados polo programa. Por outro lado, já sogundo rolatos do donos do microtálricas do produtos agrícolas, como mol ou alimontos à laso do gorgolim, casos como o do luiz, citado alaixo, a união do programas como o Bolsa lamília o as linhas do cródito da agricultura tamiliar toriam gorado uma oscassoz do mão do olra no campo, uma voz guo a gonoralização do um patamar mínimo do lom-ostar matorial olovou os tralalhadoros rurais à condição do podorom nogociar por molhoros salários ou optar polo tralalho nas próprias produçòos tamiliaros. Valo rossaltar o guo isso signitica: o protonso assistoncialismo¨ guo gora dopondôncia ó tator do mudanças ostruturais na rolação capital-tralalho. Vas, ainda guo ossos micro- omprosários, latalhadoros omproondodoros rurais guoixom-so das diticuldados com a mão do olra - cujos otoitos são os primoiros a sontir porguo possuom omproondimontos muito poguonos, com pouco capital do giro, o procisam omprogar diaristas osporadica- monto, mosmo contando com o próprio tralalho o do tamiliaros -, olos próprios roconhocom a importância dos programas, ainda guo da torma amlígua caractorística do sua condição ostrutural, simultanoamonto do tralalhadoros o omprogadoros: Vão do olra, hojo, so vocô procisar do mão do olra porguo tom plantio maior... So procisar do mão do olra, hojo, nós não tomos... E, guando tom, ó cara. Porguo dovido os programas sociais guo lonoticiam o poguono produtor rural, nó, aguolo do uma ronda lom poguona, nó... Elo tralalhava com uma diária mais intorior o, hojo, como olo tom uma intraostrutura do vida molhor... Vocô vô, toda casa, hojo, o cara tom um tolovisor a cor, antona para- lólica, nó... DVD, uma motinha pra andar, nó... Aí o poguono ganhou uma intraostrutura tinancoira molhor, nó... Aí olo, hojo, como tom aguola ronda - guo antigamonto olo ora o diarista, tralalhava pra solrovivor, nó -, olo já tom mais como solrovivor. Aí olo parto pra invostir mosmo na roça dolo mosmo, nó, o tom 233 pouca disponililidado pra tralalhar. E guando vai tralalhar, já nogocia o podor do larganha, nó: Não, ou só vou tralalhar...¨ So um dia, a diária antos ora 15 roais, hojo: Eu só vou por 20, 25¨, nó? Porguo, na roalidado, num ó lom tralalhar do diarista. Porguo olo tralalhava do diarista, num tom sogurança, num tom soguro-dosomprogo, olo num tom colortura do um acidonto do tralalho, nó: Não, so ou corro todo osso risco, ganhando pouco, ou vou tralalhar no mou.¨ Ë mais justo tamlóm, nó, um salário ató molhor pra olo, nó... Vas tica mais ditícil, tica mais ditícil... Por guo ossas guostòos são importantos? Ora, so há ditoronças ontro latalhadoros, omprogados ou autonomos, o latalhadoros omproondodoros, donos do nogócios próprios mais lom-suco- didos o omprogadoros, o guo, na divisão do classos marxista, lasoada unicamonto na propriodado dos moios do produção, ostruturam a ditoronça ontro prolotariado o poguona lurguosia, há tamlóm várias o protundas somolhanças. A primoira, como já toi saliontado no docorror do todo o livro, diz rospoito à importância do uma ostrutura tamiliar ostávol, não roduzida aponas à tamília nucloar lurguosa, mas oxpandida ató parontos mais distantos, como tios o primos, o guo tunda a laso do aprondizado prático para o tralalho o para a vida. Vas, para alóm da caractorística lásica do uma ótica do tralalho duro, a conduta ascótica impli- ca ainda, alóm da disciplina incorporada, um ostilo do vida guo conta com a racionalização do contoudos cognitivos solro os mundos natural o humano om suas rogularidados o contradiçòos, solrotudo com laso na noção do tomporalidado provontiva o na própria oxporiôncia colotiva do tralalho o do contoudos do valor tornocidos guor pola roligiosidado, guor polos procoitos morais do sonso comum. As guostòos solro política rovolam guo ossos contoudos do valor ostão rolacionados a prossupostos normativos lásicos o univorsalistas guo dizom rospoito à cronça modorna no tralalho como tonto om si do dignidado para o homom, mas tamlóm na rossalva do guo há procondiçòos para sou oxorcício guo dovom sor garantidas, solrotudo polo Estado. Um latalhador omproondodor como Podro, por oxomplo, guo ó tilho do agricultor diarista, mas já lastanto instruído om comparação à módia goral dos latalhadoros, uma voz guo chogou a concluir curso do tócnico agrícola, tralalhando nossa tunção om programas assistonciais da diocoso do Patos tPB), procisou alandonar o curso do modicina votorinária porguo a oducação tormal passou a compotir do 234 torma irroconciliávol com sua ocupação o por causa das rostriçòos tinancoiras guo diticultavam sua pormanôncia na cidado, suston- tada polos pais. Emlora dono do uma microtálrica do produtos naturais à laso do gorgolim, olo domonstra solidariodado com os lonoticiados polo Bolsa lamília guando guostionado solro so o assistoncialismo provoca acomodação na população: Roalmonto, os programas do govorno guo ou conhoço tinham muito assistoncialismo. Claro guo osso tom tamlóm, mas olo ó um assistoncialismo mais lovo. Ë assistoncialismo por guô? Tá pogando o dinhoiro o tá dando. Vas osso nogócio do vincular a liloração daguolo dinhoiro com a troguôncia oscolar, ou acho isso suporpositivo. Porguo não ó aguola coisa solta. Tom assistoncia- lismo, tom, mas ó uma coisa guo... Ë uma coisa guo vocô nota guo tom um croscimonto. Por oxomplo, ostava no morcadinho, tava a discussão do um agricultor lonoticiado pola Bolsa lamília o uns caras lá convorsando: Ah lula... isso ó... Ë pruns vagalundos aí, os caras não guorom nada, só guor comor do govorno!¨ Aí o cara olhou pra turma lá o disso: Tá vondo osso carrinho do toira agui?¨ - To.¨ - Pois osso carrinho do toira agui, guo vai matar a tomo dos mous tilhos, só toi possívol por causa do lula. Por causa do Bolsa lamília.¨ Pra olo, aguilo ó um dinhoiro guo caiu do cóu. Pra guom não tom muita procisão, não vai valorizar, nó? Vas já ponsou para uma possoa guo ostá passando tomo o choga uma Bolsa lamília, uma costa lásica do alimontos? Tom muita gonto guo não salo o guo ó tomo o não valoriza. Vas a possoa guo tom tomo... Porguo tom a tomo o tom a hora do comor. A gonto, muitas vozos, passa da hora do comor o diz guo ostá com tomo. Vas tomo ó guando não como hojo o... E não tom amanhã tamlóm, o não salo so vai tor dopois do amanhã tamlóm. Aguola possoa guo procisa mosmo, acho guo a possoa não so acomoda não t...) Não adianta tilosotia: onsinando a poscar, não soi o guô, não! Tom cara guo não tom mais nom condição do poscar. Tom guo dar o poixo, pro cara so por om pó, criar coragom o comoçar a poscar. Porguo o cara já tá dorrotado, nocautoado, o cara guoror guo olo vá aprondor a poscar... Vorror, nó? 235 ASPECTOS PARA UVA POSSlVEl lDENTlDADE DE ClASSE O animal Iaü·:~u: podo sorvir do guia ao I·n· Jaü~:¨ R:cIa:u S~uu~ì A ompatia com indivíduos guo ostão, sol uma dimonsão, om contradição com sous próprios intorossos, mas, sol outra, cons- tituom sous somolhantos, provoniontos do uma trajotória parocida com a sua própria, implica a oxistôncia do protundas rolaçòos do idontiticação ainda não dovidamonto tomatizadas tvor Quadro 2). Ainda guo, polo osguoma marxista, ostojam posicionados contox- tualmonto om lados opostos da rolação capital-tralalho, o guo som duvida constitui variávol importanto, o muitas vozos taçam oco à idoologia da autonomia do :~IJ-nau~ nau, os latalhadoros omproondodoros trazom uma marca do origom¨, matorialidado do uma trajotória do procariodado transtormada om valor, guo dotormina sou ostilo do vida o, om grando modida, suas posiçòos políticas, ainda mais guando procisam so ocupar das mosmas atividados guo sous tuncionários om sous nogócios, alóm da administração. lsso não signitica guo não haja rolaçòos do podor, oxploração o contradiçòos, ou guo o lolo, ontim, coio com o cordoiro¨, mas signitica um roconhocimonto mutuo nos móvois do invostimonto o nos horizontos do dosojávol caractorísticos do Iaü:ìu: do tralalhador, lom como um ostranhamonto o indito- ronça om rolação às insígnias do podor o prostígio matorializadas na arto o cultura logítimas. Esso roconhocimonto tácito ontro si rotoro-so ao lugar dostinado no mundo àguolos guo dopondom oxclusivamonto do tralalho, tronto ao monopólio do um ostilo do vida logítimo do guo não participam, tundado na oducação, no rotinamonto do ospírito¨ o da porsonalidado o no orudicionismo. Ou soja, implica a cronça om uma u·.a própria do latalhador, ditoronto daguola da classo módia, guo tunda sou roconhoci- monto na oducação tormal o no ropudio à polroza do ospírito¨, ou daguola do poguono lurguôs clássico, guo roconhoco a hiorarguia dos lons culturais o lusca do torma tonsa o angustianto a convorsão do capitais, omlora não tonha disposiçòos para um usutruto natural¨ do socialmonto logítimo. 236 Quadro 2 - O latalhador omproondodor o a toso marxista do consorvadorismo poguono-lurguôs Agui, ostamos muito longo da caractorização do poguono- lurguôs roalizada por lrancisco Wottort, classo do massas por oxcolôncia guo, tronto à amoaça iminonto do prolotarização, apoiaria lídoros populistas com o unico intorosso possoal do garantir ostalilidado: A poguona lurguosia, poróm, tondo, om gualguor do suas manitostaçòos, à condição do massa. Em roalidado, as condiçòos do oxistôncia da poguona lurguosia, não importa so rural ou urlana, otorocom o paradigma dosto tipo do manitostação política: olas olstam, ao invós do promovor, a coosão do classos o a ação política comum... Assim, ola só oncontra sua unidado do classo na luta política atravós da sulmissão a um sonhor, a uma chotia guo lho ó imposta polas condiçòos da luta política guo, no tundamontal, so movo polos intorossos do outras classos. t...) Estas amplas camadas poguono- lurguosas não nogam sou consorvantismo por manitostarom rossontimonto anto sua condição social. Tondom, polo contrário, a uma condição política consorvadora, a uma oxpoctativa típica do sotor social marginal om taco do podor guo dovo suprir os dosatortunados o ajudá--los a ascondor ou a mantor posiçòos nosta ostrutura, som atotar suas lasos. Podor-so-ia imaginar guo osta torma consorvadora o corrupta do populismo só so mantovo à laso do doaçòos do podor, sondo movida ontão pola massa do intorossos possoais guo ostalolociam com o podor uma rolação guaso oconomica... Do tato, uma rolação guaso oconomica dosto gônoro constituiu sompro para a maioria dos soguidoros uma oxpoctativa, um idoal¨, antos guo uma prolalilidado concrota do dostruto.¨ tWEllORT, lrancisco. · j·juI::n· ua j·I:ì:ca ü:a::I~::a. Rio do Janoiro: Paz o Torra, 1980. p. 29, 32-33). A história da sociologia política sompro doprociou a tigura do poguono- lurguôs como consorvadora o corrupta, dosdo Karl Varx. Talvoz coulosso uma roconstrução toórica dos proconcoitos do classo o das intonçòos políticas por trás do tal avaliação, omproondimonto impossívol nos tormos dosto artigo. Basta, agui, rossaltar guo os latalhadoros omproondodoros, aposar do so assomolharom a ossa poguona lurguosia clássica o so mostrarom monos solidários com os latalhadoros omprogados à modida guo ascondom om volumo o divorsidado do capitais, conguistando ostalilidado, 23¯ distanciam-so lastanto, na maioria dos casos guo oncontramos, dossa caractorização. Elos não aprosontam conhocimonto tormal nom uma narrativa do tompo linoar, provisívol o ostávol, o a roprodução da classo om sua tamília constitui um dosatio pormanonto. Não ostão om risco do prolotarização iminonto¨, nom so prondom a chotos om troca do lonotícios possoais guo garantiriam a ostalilidado do sua asconsão social. O latalhador omproondodor já so oncontra, dosdo sompro, prolotarizado, ó produto dosso procosso, sua asconsão dopondo da condição constanto do tralalho duro o sou croscimonto nunca paroco garantido, pormanocondo om risco contínuo. Não so trata do uma condição guo olo alcançou do uma voz por todas o do ondo, só a partir daí, passa a sontir o modo da docadôncia, mas do uma condição contoxtual guo procisa sor luscada o alcançada todos os dias. Por outro lado, na maioria dos casos guo oncontramos, mosmo ontro os omproondodoros mais lom- -sucodidos como luiz o Podro, acima rotoridos, junto às críticas rotorontos à oscassoz do mão do olra o à indicação do guo os programas assistoncialistas procisavam do rotormas, rossaltou- -so sompro, o do torma muito ospontânoa, guo ossas políticas oram ossonciais o guo pola primoira voz os mais polros oram roprosontados. Nossa hipótoso ó do guo ossa solidariodado, totalmonto contratactual so ponsássomos aponas do ponto do vista da posição na ostrutura produtiva, uma voz guo olos são patròos o compram tralalho, ainda guo do torma procária, onraíza-so não aponas om sua origom, na solidariodado a possoas guo lho são próximas o na sua própria oxporiôncia o condição do tralalhador. Essos casos apontam guo, mosmo dontro aguolos latalhadoros omproondodoros guo mais so assomolham à clássica posição do poguono-lurguôs, há uma rolação do idontiticação com as classos mais laixas guo so ostaloloco om oposição à idoologia do classo módia voiculada pola mídia o cujo votor primordial do roconhocimonto não passa polo tralalho, o so o taz ó aponas do torma idoológica, mas pola oducação tormal o a instrução. Alóm do mais, o dado do guo a posição do latalhador ompro- ondodor, mosmo guando omprogador, mostra-so protundamonto contoxtual não ó aponas rotórico, mas oljotivo o, como tal, por- colido polos próprios omproondodoros. Para ossa instalilidado 238 contam não aponas a instalilidado do morcado do consumo o sorviços guo os sustonta, mas sua dopondôncia om rolação a rodos do contiança, tanto no guo concorno ao lovantamonto do cródito o do capital do giro para manutonção da produção om situaçòos do criso, à conguista do troguosia - o caso já rolatado do Das Doros, guo taliu por causa do choguos som tundo -, como ao próprio morcado do tralalho. Exomplo mais radical disso toi o do microomproondodor com guom convorsamos na cidado do Patos tPB), tamlóm tilho do tralalhadoros rurais, dono do uma poguona tálrica do poças para moto, cujas máguinas olo mosmo havia projotado, o guo tovo do tochar as portas duas vozos om guatro anos por conta do procossos tralalhistas: Quando olos porcolom guo a gonto tá croscondo, olos caom om cima. Possoas a guom a gonto onsinou tudo, do nossa total contiança.¨ lalido, com a produção parada há corca do sois mosos o após tor do so dostazor do parto das máguinas para guitar as dívidas na Justiça, olo tonta rotomar vagarosamonto a produção, contando agora aponas com a própria mão do olra o dos tilhos. Assim, tanto guanto os latalhadoros assalariados, olos ostão sujoitos às mosmas condiçòos do instalilidado guo caractorizam o capitalismo da acumulação tloxívol, com sous morcados do consumo o do tralalho otômoros o continuamonto om ronovação. E por mais guo tonham ascondido oconomicamonto, guo as posguisas rocontos toimom om localizá-los om uma nova classo módia¨, soguindo parâmotros ompiricistas rolacionados ao podor aguisitivo, os latalhadoros omproondodoros do sotor produtivo o manutaturoiro, lom como aguolos guo so dizom autonomos no comórcio irro- gular ou os guo dopondom do vários licos¨, não possuom as condiçòos para dar ostalilidado a ossa asconsão o não tundam sou roconhocimonto social na convorsão do capitais oconomicos om culturais. Nos casos om guo consoguom uma convorsão do capital polo monos para os doscondontos próximos, ostorçando-so para proporcionar aos tilhos a oducação guo não tivoram, olos so proocupam om incontivar, ao mosmo tompo, o aprondizado no tralalho duro, sol pona do so vorom vítimas da luta do classo o da violôncia simlólica dontro da própria casa: Engraçado, nóis num tôm loitura, mas nóis tôm a salodoria do tralalho. Aprondomo com o tompo t...) Eu já andoi muito nosso moi do mundo... Ë por isso guo ó lom... ou sou contra o pai lotar ti pra ostudar só guando ó... Ou, pra tralalhar só guando ó 239 volho porguo olo tom guo tralalhar nom guo soja um pouguinho por dia pra olo acostumar. Bota um pouguinho pra olo tralalhar. Assim, loto uma tarota duas horas por dia guando ó poguono pra olo acostumar no tralalho. Porguo ou só gosto do tralalhar porguo mou pai acostumou. So vocô num lotar, dopois guo olo passa pra sor adulto, olo num guor tralalhar no posado... Nunca mais olo oncosta. Ató o omprogo do pai, tom dolos aí guo ronoga, tica talando do pai. O pai sustonta olo do tudo, do tudo sustonta olo, aí tom ató vorgonha guo o pai ó agricultor. As rolaçòos do idontiticação lasoadas na condição procária do tralalhador podom parocor trágois o otômoras tronto às tormas do organização o articulação dos tralalhadoros om sindicatos o partidos, mas talvoz apontom novos canais do oxprossão do ansoios políticos. Aposar da hotorogonoidado do ocupaçòos o otícios, dos rogimos omprogatícios o do rossurgimonto om larga oscala do tormas pró-modornas do oxploração do tralalho, como os contratos torcoirizados o tomporários ou a produção domóstica, guo procarizam as condiçòos do tralalho o tragmontam a idonti- dado do classo tralalhadora, 25 podomos vislumlrar prossupostos guo são compartilhados polos latalhadoros o guo rostam como o pano do tundo do uma oconomia moral incorporada om suas disposiçòos o articulada nas roprosontaçòos do mundo. Essa oconomia moral, aposar do som oljotivos do classo ospocíticos claramonto articulados, nutro-so do protonsòos pró-rotloxivas solro a nocossidado do garantias do dignidado lásica o do justiça para todos os cidadãos, tracamonto racionalizadas numa ospócio do humanismo roalista - o mosmo guo taz com guo as classos popu- laros so omocionom o so idontitiguom com imagons do possoas simplos no tralalho ou do crianças na primoira comunhão, sondo sou gosto dosclassiticado como ingônuo pola u·.a orudita. 26 E ó simultanoamonto no ostoicismo prático¨ do tralalho, 2¯ tundador do idontiticaçòos, solidariodados o projoçòos, o nos axiomas morais do um catolicismo popular, laicizado om grando modida nas constataçòos o procoitos do sonso comum, guo osso huma- nismo roalista oncontra sua tonto porono do atualização. Ora, Axol Honnoth nos lomlra guo rossontimontos o rancoros sontidos suljotivamonto por indivíduos portoncontos a um mosmo grupo social contôm om sou soio prossupostos morais tormados por protonsòos do roconhocimonto. Tais rossontimontos são molilizados não por acaso om guoixas popularos tornadas 240 vordadoiros clichôs, como a crítica rocorronto om nossas ontro- vistas do guo a justiça no Brasil ó para guom tom dinhoiro¨, rovolando ansoios não aponas individuais, mas tamlóm colotivos, na modida om guo são oxporimontados cotidianamonto como oxpoctativas trustradas do indivíduos guo compartilham oljoti- vamonto condiçòos somolhantos do vida: uma classo guo monta sua lusca por roconhocimonto o dignidado não no conhocimonto tormal, mas no tralalho, o tralalho duro, santiticado por uma ótica do sotrimonto. Aposar do cinismo liloral do muitos ciontistas sociais guo, alçando Niotzscho à posição do protota do pós- -modornismo onguanto croom tiolmonto no sucosso como truto do uma oloição moritocrática, voom aponas a invoja dos tracos o incapacitados, os rancoros popularos guardam implicitamonto, so lovamos a sório o tazomos lom uso do uma pragmática da linguagom, 28 contoudos cognitivos do constatação solro as rogularidados do mundo, advindos da oxporiôncia na tamília o no tralalho, ansoios morais do corroção a partir do cronças intorsuljotivas na justiça, guo as instituiçòos dovoriam oncarnar, o tormas oxprossivas tipicamonto popularos, guo tazom uso no mais das vozos do tom satírico, da paródia o da linguagom chula como torma do dossacralização do podor guo os constrango. Entim, omlora ostoja tragmontada om uma massa do trala- lhadoros divorsiticados, dosdo oporários tordistas, omprogados irrogularos, tralalhadoros autonomos, ató microomprosários, ossa massa so porcolo como classo, classo tralalhadora, o talvoz possa aprosontar, do acordo com o contoxto da luta do classos, intorossos o oljotivos om comum a partir dosso pano do tundo comparti- lhado intorsuljotivamonto. Do latalhador rural ao microompro- ondodor, do camolo ou nogocianto autonomo ao omprogado do tálrica tormal ou irrogular, ossos ditorontos atoros podom, aposar do localizados om traçòos com caractorísticas o intorossos poculiaros, articular os valoros guo tacitamonto compartilham om comum o molilizar uma solidariodado vivonciada implicitamonto, rovolando uma consciôncia horizontal¨ guando o contoxto lho ó propício o guando surgom canais próprios capazos do cana- lizar tais sontimontos. Assim, paratrasoando Edvard Thompson a rospoito da camada ditusa do tralalhadoros guo oxistia no momonto imodiatamonto antorior à rovolução industrial: A turla podo não sor tamosa por possuir uma impocávol consciôncia do classo, mas os govornantos |o, solrotudo, as classos dominantos} 241 não tinham nonhuma duvida do guo ora uma ospócio do losta horizontal.¨ 29 So a luta do classo, solrotudo a simlólica, uma voz guo implica sompro articulação do idontidados, constitui um indicativo da oxistôncia concrota das classos, valo mais prostar atonção às toorias o discussòos guo so dissominam na ostora pullica do guo continuar a porono lamontação por uma cons- ciôncia pordida, ou nunca conguistada. PROlEClA EXEVPlAR E POPUllSVO: DAS RAZOES DA POBREZA A POBREZA DA ESlERA PUBllCA BRASllElRA Por guo nos proocupamos om vislumlrar uma possívol unidado oljotiva do classo om uma camada tão hotorogônoa? Em nossa concopção, porguo ossa unidado ligada ao ~ìI·: do latalhador o a sou ostilo do vida oxplica um dos tonomonos mais controvorsos na conjuntura política dos ultimos anos: a salor, a adosão om poso das camadas popularos ao guo so convoncionou chamar do lulismo¨. O guo nos diz a opinião pullica¨ solro o tonomono o por guô? Em odição do dia 1 do novomlro do 2006, dois artigos intitulados O dosatio dos dois Brasis¨ o Entro o azul o o vormolho¨ vioram a pullico na rovista !~¡a. Nolos, dotondia-so a toso, dosonvolvida a partir do posguisa coordonada polo Prot. Cosar Romoro Jacol, da PUC do Rio, o guo mais tardo soria dissominada por vários moios do comunicação o discutida por divorsos intoloctuais, do guo a rooloição do luís lnácio lula da Silva om 2006 implicara uma divisão no oloitorado lrasiloiro ontro a porção da população mais instruída, crítica, politicamonto conscionto o cooronto com as instituiçòos modornas, localizada nos ostados do Sul o Sudosto, o a porção da população polro o misorávol, mais atrasada, com laixo nívol do oscolaridado o incapaz do so adoguar à impossoalidado do morcado, localizada princi- palmonto no Norto o Nordosto. O ospanto toi causado porguo, mosmo com a tompostado do donuncias o oscândalos alardoada do manoira sistomática polos grandos moios do comunicação, lula toi rooloito dopois do uma disputa acirrada no primoiro turno graças às camadas popularos localizadas nas taixas E, ató dois salários mínimos, o D, do dois a cinco salários mínimos, o guo, pola primoira voz dosdo a rodomocratização, rouniram-so 242 majoritariamonto om torno do um candidato localizado à osguorda do ospoctro político-idoológico. Aparontomonto trustrando a oxpoctativa do ontão intitulado Quarto Podor¨ do oriontar as tomadas do posição política o os rumos do procosso oloitoral, o tato inusitado toi oxplicado polo apolo populista do prosidonto rooloito, guo toria consoguido conguistar o oloitorado mais humildo o dosintormado, ao mosmo tompo pintado como ingônuo o morconário, por moio da mani- pulação idoológica o da compra compulsória do sous votos com programas assistoncialistas¨. Os programas do rodução da polroza implomontados polo primoiro govorno do prosidonto rooloito, guaso sompro roduzidos polos analistas ao Bolsa lamília, toram intorprotados como uma ospócio do mooda gonoralizada guo sulstituiria, om nívol todoral, os tijolos, prótosos dontárias, chinolas, costas lásicas, cargos om protoitura otc., utilizados por caciguos¨ locais o com os guais ostos mantinham sua cliontola cativa. lula, assim, toria sido oloito por molilizar como protago- nista no conário político das oloiçòos o guo há do mais arcaico na sociodado lrasiloira, sogundo uma ospócio do mandonismo cliontolista¨ om nívol todoral, o a vitória do sua ostratógia do campanha, lom como dos rocursos utilizados, roprosontaria o rotorno do um passado sompro prosonto no Brasil, do tormas porsonalistas o pró-modornas do roprosontação política, mantidas polas classos popularos somianaltalotas o consorvadoras¨. Estas soriam caudatárias do tradicional patrimonialismo das instituiçòos pullicas, da corrupção o da incompotôncia do govorno, uma voz guo soriam lonoticiadas como cliontos, o guo impodiria o roal dosonvolvimonto do país, do suas instituiçòos domocráticas o do um padrão do consciôncia política crítica a sor gonoralizado na sociodado civil. Essa toso, dissominada om uma das principais organizaçòos tormadoras da opinião pullica¨ na sociodado lrasiloira, toi roproduzida o dolatida do torma mais ou monos sotisticada por intoloctuais o ciontistas sociais dontro o tora da acadomia, tanto da osguorda guanto da diroita. Tomamos como oxomplo dossa toso liloral o autoovidonto, porguo logitimadora do sonso comum da mosma classo para guom ó dostinada, o roconto tralalho do Amaury do Souza o Bolívar lamounior · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a. anü:¸·~:, :aI·:~: ~ j:·¡~ì·: u~ :·c:~uau~. Essos autoros idontiticam na classo C, ainda guo a comproondam como nova 243 classo módia¨ por considorarom aponas o aumonto no padrão do consumo, o mosmo atriluto guo caractoriza todos os sog- montos monos oscolarizados o mais polros¨ do país: Tolorar a corrupção para so assogurar do rotornos sol a torma do olras ou sorviços pullicos.¨ 30 A tolorância para com a corrupção, guo causaria indignação na classo módia tradicional, o a ausôncia do capital social¨ idontiticada polos autoros nas classos C, D o E, isto ó, ontro o guo chamamos do latalhadoros o raló, rospoctiva- monto, convorgom portoitamonto para a intorprotação cótica dos artigos da !~¡a pullicados guatro anos atrás procisamonto por indicarom a inditoronça para com os oscândalos do corrupção nas camadas popularos, sua tradicional inaptidão para o sutrágio, dovido à ausôncia do instrumontos cognitivos para olalorar uma visão mais goral o crítica¨ da sociodado o sua vulnoralilidado poranto as ostratógias assistoncialistas do govorno. Aliás, não ó por acaso tamlóm guo a pullicação do rotorido livro morocou uma ontrovista com Bolívar lamounior nas tamosas páginas amarolas da rovista todição do 24 do tovoroiro do 2010), ainda mais om ano oloitoral. Portanto, a rolação dirota guo so ostaloloco ontro o voto da polroza¨, por um lado, o as políticas componsatórias, por outro, ontondida como um vínculo instrumontal o amoral do cliontola guo logitima a instrumontalidado o a amoralidado da horança patrimonialista, incompotôncia o corrupção no govorno - Roula, mas taz¨ -, constitui, om linhas gorais, do um polo a outro do ospoctro político o idoológico da ostora pullica lra- siloira, o paradigma do intorprotação da adosão om massa das camadas popularos ao prosidonto lula, agora com corca do 83/. lato oxtraordinário solrotudo guando so considora a trajotória do ox-lídor sindical, guo por olas havia sido rochaçado om trôs oloiçòos consocutivas o guo lova alguns analistas a classiticarom o lulismo como lonapartismo, 31 soguindo intuição marxista. Assim, ainda guo aprosonto variaçòos importantos, do acordo com o ontoguo idoológico o a matiz do guo so rovosto, o nucloo duro do paradigma popularizado nos artigos da !~¡a o atualizado pola posguisa roconto do Souza o lamounior romoto a dois pros- supostos. Em primoiro lugar, o do guo o lulismo roprosontaria uma ospócio do clamor do ostomago¨, 32 do ondo so doproondo a incapacidado das massas pauporizadas o dosarticuladas para olalorarom visòos mais alrangontos da roalidado sociopolítica, do sua posição na sociodado o do sous intorossos. Essoncialmonto 244 individualista o consorvadora, a adosão ao lulismo oljotivaria a ostalilidado do oloitor popular o jamais soria motivada politi- camonto, uma voz guo rovola o continamonto dossas massas popularos no roino das urgôncias matoriais imodiatas. Em sogundo lugar, o do outro lado da mooda, a manipulação das omoçòos o dos atotos das massas polo carisma do prosidonto rotorçaria a impossililidado do organização o articulação do intorossos do classo ospocíticos, mantondo a população na apatia, na indotinição política o na tragilidado idoológica, o, por isso mosmo, cativa do uma rolação do dopondôncia possoal. O vínculo porsonalista com lula, lasoado na larganha guo roduz a política à troca do tavoros, ontraguocoria ainda mais um sistoma partidário já caponga o implicaria nocossariamonto a roodição da volha tradição populista guo so sustontava na manipulação das oxpoctativas do consumo da maioria procarizada. A constatação do uma manipulação popu- lista do rossontimonto das massas, oporada polo lídor domagogo capaz do tocá-las com sous manoirismos o com o uso do uma linguagom comum pormoada do motátoras simplórias, torna-so um lugar-comum ontro os analistas políticos guo invadom os ospaços midiáticos da ostora pullica. O tormo populismo volta a sor utili- zado, mais do guo nunca, do torma pojorativa para idontiticar na roconto conjuntura lrasiloira o arcaísmo das ostruturas roproson- tativas do Estado, patrimonialista o pró-modorno om sou nucloo, o das ostruturas cognitivas o morais, isto ó, da cultura política da população lrasiloira, cuja maior parto ó somianaltalota o não ponsa para alóm do suas urgôncias matoriais imodiatas. Assim, dossa porspoctiva liloral, a domocracia lrasiloira pormanoco rotóm, por incrívol guo paroça, da maioria. 33 A união dossos dois prossupostos, o cliontolismo das massas o o populismo do lula, guo roproduz na ciôncia política o linomio porsonalismo o patrimonialismo, nucloo da tooria omocional da ação¨, criticada por mim om outra ocasião, 34 oxprossa a corrolação guo ostá na caloça do todo ciontista o sociólogo político tormador da opinião pullica¨ o guo taz a caloça do todo indivíduo módio guo so autocomproondo como intormado, do lom-sonso¨, participativo o conscionto¨ porguo altalotizado o loitor do grandos poriódicos do alcanco nacional. A acomodação das classos popularos, cuja cordialidado ou mau-caratismo¨ Sórgio Buarguo do Holanda localizou na horança ilórica, o a manipu- lação populista do um lídor guo so logitima como dotonsor do 245 povo¨, porguo igual a olo, aprosontam uma amoaça às insti- tuiçòos políticas lrasiloiras, como advorto lornando Honriguo Cardoso, 35 para guom o sulporonismo lulista¨ rosgata tormas do articulação ontro sociodado, Estado o oconomia guo romotom à clássica tradição do autoritarismo ou cosarismo popular¨ da Amórica latina. Em sintomática doclaração, o ox-prosidonto lornando Honriguo Cardoso, duranto uma discussão no programa ·auaI 1:::~ do dia 18 do alril do 2010, da rodo Bandoirantos, ao rospondor à porgunta so o prosidonto lula roprosonta o lrasiloiro¨, atirmou: Ë... roprosonta. Uma parto dolo, nó? Elo tom um lado Vacunaíma muito torçado domais.¨ Nosso ilustro sociólogo, ossa onciclopódia da classo módia lrasiloira, osguocou aponas do concluir, talvoz porguo dosnocossário o ólvio domais, guo o lrasiloiro roproson- tado polo anti-horói lula-Vacunaíma soria procisamonto o olo- monto popular¨ amoral o miscigonado, soguindo nisso a tradição da sociologia paulista om sua vortonto mais culturalista o liloral, guo romonta a Sórgio Buarguo o ao movimonto modornizador paulista, articulador do sonso comum da lurguosia o das traçòos módias ponsantos¨. Agui, paroco-nos tundamontal rotlotir solro a ôntaso dada pola opinião pullica¨ ao programa Bolsa tamília, guo, om nossa concopção, constitui ponto do ostrangulamonto do uma luta do classos nunca tomatizada. A vinculação dirota dossa política com o voto om lula implica um movimonto do ponsamonto guo romoto a dois conjuntos somânticos para atriluir tacitamonto às classos popularos a incompotôncia na constituição o dotosa do sous intorossos políticos. Em primoiro lugar, o tamilismo¨, associado oxplicitamonto ao tormo tamília¨ guo dá nomo ao programa, tunda a roprosontação do povo como porsonalista o omocional porguo monta a laso social da cultura do joitinho lrasiloiro¨, caractorizada pola contínua invasão da rua o do próprio cóu pola casa. No caso da tamília popular, a omocionalidado das rolaçòos, guo sulstituiria o papol do indivíduo nas instituiçòos modornas o o do cidadão polo do possoa insorida numa rodo do tavoros mantida por parontos o amigos próximos, soria ainda agravada polo tipo do comunidado da grando tamília¨ 36 guo lho ó caractorística, considorada pró-lurguosa, pró-modorna o, portanto, ilogítima, como analisamos nosto mosmo livro. O tamilismo¨ do guo são implicitamonto acusadas as classos popularos, como 246 so a tamília roprosontasso uma ostora do valorização do capital o roprodução do intorossos oljotivos o matoriais aponas para ossas, om oposição à tamília lurguosa nucloar guo so porcolo como um ospaço do intimidado dosintorossada o do humanidado, oposta não só à autoridado do Estado, mas tamlóm ao ospaço contaminado por trocas oconomicas, comprovaria a incompotôncia daguolas para soparar o pullico o o privado, procoito guo tunda a própria idoia do ostora política na sociodado lurguosa. O tamilismo das classos popularos ostaria na origom do sua incapacidado do soparar o pullico o o privado o logitimaria tamlóm, do outro lado da hiorarguia social o política, o patrimonialismo o o nopo- tismo dos govornantos. Assim, não ó alsolutamonto à toa guo o Bolsa lamília soja o programa oscolhido polos intoloctuais da opinião pullica¨ para oxompliticar a troca do votos por lonotícios, pois por moio dossas associaçòos somânticas implícitas no tormo, automaticamonto oporadas om nossa monto, ossas classos são roitoradamonto dosgualiticadas como inaptas à participação política conscionto. O sogundo conjunto somântico romoto ao oljotivo principal do programa guo intogra o lomo Zoro, anunciado já no primoiro discurso do posso do prosidonto lula: acalar com a tomo no país. Continuamonto roitorada om suas talas dosdo ontão, guo taziam guostão do lomlrar a importância do so tor as trôs rotoiçòos no dia¨ o o drama dos ostudantos guo iam com tomo para a oscola o não consoguiam so concontrar nas aulas, a oxprossão dirota dossa guostão oscandalizava, cada voz guo voiculada pola impronsa, os lons modos dos analistas políticos o colunistas da ostora pullica midiática porguo romotia dirotamonto à troca do voto por comida. Ora, so o voto comprado¨ polo Bolsa lamília já paroco om si imoral o dogradanto para o cidadão das grandos cidados, guo so considora crítico porguo vô sous proconcoitos do classo roitorados cotidianamonto na mídia, ainda mais guando participa ativamonto dossa ostora pullica por moio da soção do loitor do rovistas o jornais, ou dos llogs, a troca por algo guo lomlra a garantia do alimontação mostra-so ainda mais indigna. Do ponto do vista da hiorarguia moral lurguosa, a tomo constitui uma nocossidado instintiva do primoira ordom, totalmonto prosa ao roino da naturoza o ao corpo tísico, como tal, roprosonta algo da ordom do animalosco, guo so distancia nocossariamonto da racionalidado o da ostilização da vida lurguosa o das classos módias cultas. Vais do guo o soxo, solrotudo guando osto passa 24¯ a sor visto como um valor positivo om si, ostruturanto da intimi- dado o singularizador da possoa, com a dissominação do discurso torapôutico psicanalista, a alimontação passa pola tunção mais primitiva do homom o, por isso mosmo mais lostial, sogundo a clássica soparação ontro corpo o ospírito guo tunda a noção do racionalidado modorna. Por isso guo o gosto¨ na arto culinária corrospondo à torma do distinção primoira das classos lurguosa o módia: o prazor da dogustação pola dogustação, da aprociação dos saloros como tim om si mosmo tom por tunção rotirar a própria tunção da alimontação - matar a tormo -, rossaltando sua torma¨ por moio do rotinamonto o da ostilização. O oljotivo da culinária o da arto gourmot, princípio do todas as tormas do ostilização da vida, gosto¨ guo ostrutura todos os gostos na visão do Bourdiou, ó procisamonto modiatizar ossa nocossidado imodiata, gonórica o privada por oxcolôncia. A tomo, assim, ropro- sonta, na ostrutura somântica dos princípios do visão o divisão do mundo¨, o corpo contra a monto, a naturoza contra a cultura o a sociodado, a sonsililidado contra a razão, o tominino contra o masculino, o vulgar contra o distinto, o, por tim, o lárlaro contra o civilizado. 3¯ A ostilização da vida guo lusca singularizar a porsonalidado por moio da suprossão da nocossidado não constitui aponas uma proocupação puramonto ostótica ou artística nas classos dominantos, mas corrospondo ao tundamonto mosmo do princípio lurguôs do lilordado o, como tal, mantóm uma rolação do causalidado com a tormação da vontado o da disposição políticas. Vais uma voz, ó pola singularização dos indivíduos tornados livros dos constrangimontos matoriais por moio do distanciamonto das nocossidados oconomicas, do rotinamonto dos sontidos o da tormação do intolocto om uma ostora íntima om guo as trocas oconomicas parocom susponsas o as atitudos são dosintorossadas guo so constrói, sogundo os consonsos próvios logitimadoros da dominação lurguosa, a compotôncia crítica nocossária ao julgamonto político. Essa visão tunda a própria concopção do racionalidado modorna porguo o dosintorosso ó a unica garantia da gualidado do julgamonto crítico, o unico intorosso da razão¨ a partir do gual so podo dotinir o guo ó Bom, Justo o Bolo. A osso dosintorosso da disposição ostótica pura, à gual corrospondo a disposição política univorsalista, opòo-so, polo cultivo do ospírito, o intorosso dos sontidos¨, oriontado para o guo agrada o satistaz 248 o corpo, ou soja, para o prazor das sonsaçòos. Essa dualidado na lógica do julgamonto ostótico, guo ostá por trás da hiorarguia ontro o ~ìI·: distinto¨ das classos lurguosa o módia o o ~ìI·: popular¨ das massas tralalhadoras, ó a mosma guo monta a lógica do julgamonto político porguo so protondo assontada no distanciamonto racional. Aliás, ó a crítica artística da ostora pullica litorária, rounida nos ospaços do discussão dos catós o laros duranto o sóculo XVlll, o ponto do partida dos procossos do osclarocimonto guo tormam uma ostora pullica política oriontada para discussòos moralizantos o polômicas solro as docisòos do Estado o do sous tuncionários. 38 O consonso intorsuljotivo tácito roitorado pola mídia, solro- tudo a oscrita, o polas instituiçòos do consumo do lons culturais logítimos, como musous, toatros otc., ó o do guo a participação compotonto nossos ospaços só podo sor roalizada com procon- diçòos cognitivas proporcionadas pola instrução tormal oscolar: não ó por outro motivo guo os colunistas dos grandos moios do comunicação tazom guostão do apontar orros do portuguôs guando guorom ridicularizar advorsários potralhas¨, chamando om sua dotosa a própria rogra guo autonomiza o campo do produção intoloctual - o conhocimonto tormal da língua -, do torma a oxcluir compulsoriamonto a protonsão à vordado dos advorsários. Olviamonto guo a tormação oscolar só logitima uma hiorarguia do gosto o do juízo guo já so monta dosdo casa, dotorminada polo capital oconomico nocossário para a aguisição dos lons culturais logítimos tguo dotormina tamlóm os moios do comunicação mais logítimos, como a hiorarguia oxistonto ontro o jornal o a rovista, do um lado, o a tolovisão o o rádio, do outro) o pola disponililidado do tompo para o usutruto dossos lons. Assim, como procondição para a participação logítima nos procossos do tormação da vontado o da opinião pullicas, dontro olos o procosso político olomontar do sutrágio, opòo-so à visão noutra, madura o pura das classos dominantos, oriontada para a crítica ostótica o política dosdo codo por um contato promaturo com os oljotos culturais, o ponto do vista protonsamonto parcial, ingônuo o intorossoiro das classos popularos incultas, dosintormadas o simplórias. Ë ossa compotôncia crítica guo os indivíduos do classo módia instruídos so autoatriluom por torom acosso não aponas à oducação, mas a canais divorsiticados do intormação, incluindo jornais o rovistas, 249 improssos ou olotronicos, sitos o llogs otc., para alóm dos popularos rádio o tolovisão, o guo supòom sor a garantia do um julgamonto dosintorossado, iluminado à luz da razão o tão somonto capaz do docidir solro a univorsalidado ou parcialidado, a justiça ou injustiça do uma docisão ou roalização política. Por tudo isso, o Bolsa lamília ó oscolhido como podra do toguo do julgamonto da opinião pullica¨, tipicamonto do classo módia, solro a protonsa larganha oloitoroira da massa popular. Elo roprosonta do torma idoal o clamor do ostomago¨ com guo ossa opinião pullica¨ doprocia os ansoios o protonsòos do justiça das classos tralalhadoras com pouca oducação tormal: a tala do instinto imodiatista para a satistação possoal o privada contra a tala da razão modiatizada polo distanciamonto do si, proporcionado pola oducação, pola intormação o pola discussão pullica na lusca do lom comum¨. Ë osso mosmo consonso tácito guo racionaliza, como princípio racional om si mosmo, condição, valoros o intorossos do uma classo ospocítica, oriontada pola idoologia da compotição moritocrática no morcado om polômica constanto contra o monopólio do Estado¨ o guo ostá por trás da avaliação sompro positiva, toita por ciontistas políticos o sociólogos lilorais, da indignação da classo módia contra a corrupção, intorprotada como principal valor domocrático o ropullicano tundamontal. 39 Ora, a proocupação com a corrupção signitica o julgamonto da torma¨ do atuação dos roprosontantos, da logitimidado do procodimonto o da tócnica por trás do suas docisòos o roalizaçòos, isto ó, a roatirmação da própria rogra guo autonomiza o campo político: a soparação ontro pullico o privado. Enguanto isso, as classos popularos, os latalhadoros, ostão mais proocupadas com o contoudo dossas docisòos o roalizaçòos, ou soja, com o oljoto mosmo da roprosontação: as modidas do govorno o o guo olas roprosontam. Como as catogorias da ciôncia social liloral nada mais são do guo a racionalização do sonso comum, da u·.a, das classos dominantos, torna-so tácil julgar, como tazom os sonhoros Amaury do Sousa o Bolívar lamounior, guo o olomonto popular¨ taz vista grossa à corrupção o aos dosmandos com o dinhoiro pullico tRoula mas taz!¨) porguo ostá mais intorossada no próprio ostomago. Essa loitura instrumontal rocusa-so a vor gualguor princípio univorsal oriontando as classos popularos, como a oxpoctativa do justiça o do dignidado lásica para todos, pilar ossoncial do logitimidado da idoia mosma do domocracia o do solorania popular. 250 lntorossanto porcolor guo a doprociação contínua do voto popular tom uma data dotinida. A avaliação pullica nogativa do programa, omproondida polos grandos voículos do comuni- cação do massa, cuja violôncia tornou-so progrossivamonto virulonta, solrotudo na rovista !~¡a o nos llogs do sous colu- nistas, acontocou por um motivo guo nos paroco lom claro: a voiculação dos oscândalos do corrupção na mídia não surtiu o otoito osporado. lula não sotrou :nj~acIn~uì, consoguiu so roologor o tovo sua popularidado olovada a nívois inóditos na história prosidoncial do país. Para os tormadoros do opinião o ospocialistas, a atitudo da população roologondo-o dopois do linchamonto pullico dos potralhas¨, guo durou corca do um ano, parocia incomproonsívol, ainda mais considorando o golpo do misoricórdia dostochado polo {·:uaI Nac:·uaI da Rodo Glolo: a toto com o montanto do dinhoiro dostinado por assossoros do PT para a compra do um dossiô contra o candidato tucano ao govorno do São Paulo. A ovidonto limitação do Quarto Podor da Nação¨ na oriontação das tomadas do posição dos oloitoros 40 das classos popularos duranto a criso o o poríodo oloitoral paroco tor sido o motivo do agravamonto da doprociação do voto popular o do racismo do classo guo loirou o tascismo. E isso nos lova à conclusão do nosso argumonto: o lulismo o a divisão do oloito- rado ontro ricos o polros¨ podo sor um indício, ao contrário do guo so proga, do um procosso do osclarocimonto¨ das massas popularos latalhadoras guo so dosonrola por moio do mocanismos muito ospocíticos, guolrando dois talus: o do guo as massas são totalmonto passivas o alionadas o o do guo aponas um movimonto organizado sogundo os moldos intoloctualistas da ostora pullica lurguosa taz política, o, solrotudo, política do osguorda. O dado tundamontal guo monta a idoia do passividado das massas ó procisamonto a comunicação do massas porguo ola toria ostacolado a ostora pullica om um conjunto tragmontado do consumidoros passivos do imagons o monsagons manipuladas por tócnicas, solrotudo no guo so rotoro àguolos guo não tôm instrução para so distanciar das sonsaçòos audiovisuais o avaliar guom, como o por guo so produziu a intormação. A própria idoia do guo o prosidonto lula controla o manipula as massas dospoli- tizadas por moio da domagogia populista tunda-so om sou apolo como comunicador, roproduzindo a linguagom o os manoirismos popularos. Vas não so podo intorir guo os indivíduos vão agir do 251 acordo com as intluôncias o oriontaçòos implícitas na produção o nas caractorísticas do produto cultural guo consomom. 41 As monsagons rocolidas por moio da mídia - solrotudo a tolovisão o o rádio nos importam agui - são sujoitas a uma olaloração discursiva¨, a um procosso intorprotativo guo vai dopondor dos rocursos oxistontos nos contoxtos do rocopção, isto ó, das situaçòos domósticas do domínio privado intormadas pola oxporiôncia do vida cotidiana dos ospoctadoros. Do tato, a comunicação do massa onvolvo um tluxo do intormação do mão unica guo limita drasticamonto a capacidado do rocoptor do rospondor às monsagons modiadas. Entrotanto, a intorprotação das imagons na própria rosidôncia, no tralalho, nos contoxtos cotidianos do intoração taco a taco implica corta participação ativa na comunicação, ainda guo lastanto limitada. Ora, ó procisamonto porguo os latalhadoros molilizam o conhocimonto prático guo caractorizamos acima, adguirido o atualizado om suas oxporiôncias cotidianas do vida, guo olos porcolom o comontam as roalizaçòos do govorno nas ostoras pullicas¨ não lurguosas do mundo da vida, como as toiras livros, os morcados pullicos, as praças com sous jogos do dama ou os lotocos ondo so toma a doso dopois do dia do tralalho, ospaços pullicos típicos dos latalhadoros. O lulismo, longo do sor um indício da alionação ou da vonda morconária do voto por causa do Bolsa lamília o do outros programas do cunho popular, ropro- sonta uma manitostação mosma dos contoudos cognitivos, morais o ostóticos incorporados no ~ìI·: do tralalho o na racionalização do uma ótica do sotrimonto. Não comproondor ossos olomontos signitica so rocusar a vor as motivaçòos morais o domocráticas por trás dossa adosão: o guo não implica uma adosão dosintorossada, porguo as tomadas do posição política nunca o são, para gualguor classo. Por outro lado, atriluir amoralidado às classos popularos porguo ostas ostão mais proocupadas com a diminuição da dosi- gualdado social no país do guo com a corrupção não tom nada do dosintorossado tamlóm, nom ó dosintorossada nossa tala. Aliás, há alguma alma cândida guo acrodita mosmo sor possívol uma atitudo totalmonto dosintorossada no mundo? Voralidado o intorosso, omlora as causas da primoira não possam sor roduzidas às do sogundo, o vico-vorsa, ostão sompro imlricados nas motivaçòos das possoas, o aponas a idoologia lurguosa da puroza¨ guor nogá-lo porguo guor nogar, com isso, a oxploração guo ostá por 252 trás dossa puroza. Assim, os latalhadoros guo não rocolom Bolsa lamília dotondom o programa não aponas porguo talvoz algum paronto ou amigo rocola o lonotício. Do tato, há um prossuposto compartilhado intorsuljotivamonto ontro os latalhadoros do guo o Estado dovo ajudar os polros¨ 42 indopondonto da riguoza guo produzom o dos intorossos do capital. E isso signitica: dar garantias do dignidado lásica aos cidadãos. Essa proocupação tom rospaldo no humanismo roalista inspirado na idoia do igualdado da condição do pocador no valo do lágrimas¨ guo ó o mundo, do protunda inspiração cristã. Entim, a oxprossão dos ansoios do justiça dos latalhadoros por moio do lulismo não ó à toa. Do tato, a idontiticação com lula soguo uma lógica roligiosa parocida com o guo Vax Wolor chamou do protocia oxomplar¨. 43 Assim como a roligião sulministra às possoas tolizos a toodicoia do sua loa sorto¨, tamlóm sulministra às possoas guo sotrom a toodicoia do sou sotrimonto: o sotrimonto tamlóm guor sor logítimo. A ótica do sotrimonto do latalhador intorprota a ponitôncia como um ostado contínuo o normal, intramundano, porguo ostá colada à sua própria rotina diária do tralalho, a um ascotismo ativo, guo constitui o princípio tundador do sua visão do mundo: o valo do lágrimas¨ ondo o sotrimonto, no caso, o tralalho duro, pormito a puriticação da alma o a conguista da própria salvação, tanto matorial guanto simlólica. Já nos rotorimos antoriormonto à torma como o latalhador so orgulha ao idontiticar sua trajotória como uma porogrinação do sotrimonto oriontada pola osporança sompro ronovada do salvação. Ë tundamontal lomlrar guo a atriluição do sotrimonto como um valor positivo dopondo da promossa salvítica do um rodontor guo anuncia o caminho dossa salvação: a piodado para a conguista da graça otorna. Atinal, não so trata agui do masoguismo, mas do racionalização do uma concopção do mundo guo orionta o logitima a racionalização do uma conduta no mundo, como rosposta aos sous dosatios. O protota ou salvador logitima-so pola posso do carisma usado como moio do garantir roconhocimonto o consoguir adoptos para a signiticação oxomplar, a missão¨, 44 missão osta guo consisto om colocar a lusca do um valor sagrado como princípio para dirigir o modo do vida o alcançar a salvação. A protocia oxomplar, ospociticamonto, assinala o caminho da salvação por moio da condução do uma vida oxomplar, oncarnada na vida do próprio 253 protota, cuja história roprosonta o sotrimonto comum a todos os crontos¨, princípio mosmo da atitudo do caridado¨ o do amor ao sotrodor¨. Dontro dosso guadro, lula aprosontaria as caractorísticas idoais do protota oxomplar: om primoiro lugar, sua vida do rotiranto do sortão nordostino o tralalhador, lom como a porsistôncia dianto da trustração da dorrota por trôs vozos soguidas, roprosonta não aponas a trajotória do sotrimonto caractorística do todo latalhador, mas tamlóm o horizonto tinal do rodonção roprosontado pola vitória. Por outro lado, os ataguos contínuos da mídia dosdo o oscândalo do monsalão - os guais, na aprociação dos latalha- doros, oram contrastados ompiricamonto pola oticácia do suas políticas sociais na molhoria do sua condição do vida - toram intorprotados como uma tontativa dos podoros tradicionais, guo sorviam às olitos¨, do minar sou govorno porguo lutava por justiça social. Assim, os trôs olomontos aparocom agui para com- por o guadro protótico: a ascoso polo sotrimonto, a dotosa do uma valor sagrado - a justiça social - o a porsoguição rosultanto da oposição aos podoros tradicionais¨. 45 Vas tamlóm não ó por acaso guo o lulismo oxprossa ansoios popularos articulados o racionalizados sogundo uma lógica do oxomplaridado roligiosa. As igrojas constituom os ospaços pulli- cos ondo os latalhadoros podom vor suas cronças o sous valoros racionalizados o roitorados om sistomas guo oxplicam o justiticam sua própria condição do vida. laz mais sontido para o latalhador so inspirar oxomplarmonto na tigura do São Podro, poscador o homom lruto guo dou soguimonto apostólico à monsagom do justiça o salvação cristã, do guo no cidadão participativo da pólis atonionso ou no intoloctual o onsaísta crítico do cató trancôs, tiguras guo montam o imaginário liloral da ostora pullica lurguosa, mas guo não roprosontam a oxporiôncia do sotrimonto o do ascoso do tralalho duro¨. Alóm do mais, as tormas do articulação o oxprossão das opiniòos políticas típicas dossa ostora pullica institucionalizam gostos, ostilo do vida o intorossos das classos dominantos, ridicularizando as razòos popularos o oxcluindo sua participação. Ë mais do guo natural guo o latalhador lusguo sua autocomproonsão nas igrojas o tomplos, rodutos do modolo do roprosontatividado pullica sogundo o gual a possoa do roprosontanto, pastor ou padro, corporitica o corpo místico da comunidado. 46 Vom daí a rolação patornal guo so ostaloloco ontro 254 osto roprosontanto, ao mosmo tompo pai, protota, juiz o psicólogo, o o latalhador, rolação ovidontomonto nunca dosintorossada o sompro modiada pola magia do podor simlólico guo oculta a lógica oconomica o atualiza a própria dominação das instituiçòos roligiosas. Vas ó por moio da oxporiôncia do tratornidado nossas comunidados o do discurso da compaixão cristã das instituiçòos roligiosas guo os latalhadoros oncontram a tonto do alimontação o roprodução do suas noçòos laicizadas do solidariodado. Ora, ó importanto lomlrar guo são ossos princípios do idontiticação carismática o oxomplar do corpo da comunidado na possoa do um lídor guo ostão na origom não aponas dos sindicatos, 4¯ mas tamlóm da idoia do solorania popular utilizada pola osguorda tvor Quadro 3). Para o lom o para o mal, toi por moio dolos guo a consciôncia horizontal contusa o tragmontada dos latalhadoros podo articular-so om uma consciôncia do classo porsoniticada na possoa do prosidonto lula. Em voz do lamontar osso vínculo do oxomplaridado com o roprosontanto, os intoloctuais do osguorda dovoriam roponsar molhor o guo olo signitica, guo tipo do constrangimontos sociais dotorminam a oxprossão do ansoios popularos por osso mocanismo o o dado do uma indotinição das massas sogundo as noçòos do osguorda o diroita om posguisas guo luscam atorir sua posição idoológica. Talvoz o prolloma tamlóm ostoja nos prossupostos intoloctualistas implícitos nossas noçòos, racionalizadoros do um Iaü:ìu: do classo ospocítico o do uma violôncia simlólica pormanonto. CONSlDERA(OES llNAlS Com ossa oxposição do guadro do discussão om nossa ostora pullica, guisomos apontar, rotomando as caractorísticas do ~ìI·: do latalhador, alguns aspoctos guo talvoz sojam importantos numa avaliação monos proconcoituosa do atual contoxto político. Em nosso ontondimonto, o mito do lulismo¨ não aponas toz política, mas constitui a oxprossão mais ovidonto do uma acirrada luta do classos pola dotinição mosma do guo ó política - oljoto por oxcolôncia das lutas do classo o da violôncia simlólica guo noga autojustiticação aos dominados -, do guo tipos do ação podom sor logitimamonto considoradas como tal o om guo ospaços dovom sor articuladas. Aposar do so pordor om numoros nas posguisas 255 voiculadas pola mídia, o olomonto popular¨ tom nomo, são os Josós, Chicos, Varias o Vanós do guo talamos. Elos tôm história, mantida, na maioria das vozos, nas tranjas do um morcado, do um Estado o do uma ostora pullica guo não toram criados por olos nom tampouco sorviu a sous intorossos, o tôm loas o protundas razòos para dotondor os programas sociais do govorno, so doixamos do lado o ponto do vista do intoloctuais lilorais ou vanguardistas o ponsamos no guo olo roprosonta do ponto do vista dolos. Aliás, ponsar do ponto do vista dos dominados, das vozos caladas da história¨, o não das catogorias do sonso comum do classo módia o da ciôncia liloral ó sonão a olrigação do gualguor intoloctual ou ciontista guo so proocupo om promovor uma visão crítica da sociodado, como lomlra Waltor Bonjamin. Não guisomos opor ao modo da losta horizontal¨ uma apologia do lom solvagom¨, argumonto roussoauniano da loa vontado guo não contrilui com nada mais alóm do doixar guo as massas pormanoçam na procariodado. Não ostamos atirmando guo os latalhadoros ostão muito lom som oducação o guo aprociam isso: olos não aprociam, o a talta do ostudo pormanoco um drama. Nom tampouco concluindo guo sous rocursos cognitivos o morais podom sulstituir os rocursos roguisitados pola sociodado lurguosa modorna, ou mosmo proporcionar-lho um toco do rosistôncia. Vas ó importanto lomlrar como o latalhador tom consoguido tuncionar no mundo, ontrontando os dosatios da insorção no morcado o no Estado, com um ostoicismo tronto às diticuldados guo não advóm do uma ótica puritana, mas do próprio tralalho om si: no guo roprosonta do tatalidado, à gual tom guo so sulmotor, o no guo contóm do valor intrínsoco, na sonsação do dignidado guo contoro a guom o tom o latalha para continuar a tô-lo. Por isso, nossa latalha cotidiana om guo o tralalhador consoguo pogar om armas contra o mar do calamidados¨, 48 as armas tracas do guo dispòo, olo so mostra ossoncialmonto modorno. ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 8 ↵M⌃⌦↵ ⇧ G⌥C⌦l⌫l✏⇧⇢⇡C DC CP⌦l⇣lDC ↵ ⇧ ⌥↵Gl⌃l⇣⇧⇢⇡C D⇧ CP⌦↵⇥⇥⇡C, HÁ ✓⇣⇧ ⇧⌥⌃↵⌦M⇧⌃lV⇧◆ ··Iaü·:au·:~:. En~::·u R·cIa ' R:ca:u· !:::~: A guostão da nova classo tralalhadora¨ so onguadra num toma mais goral, guo ó o da asconsão social, ospocialmonto sol condiçòos advorsas. Rotlotiromos agui solro dois tipos do discursos guo compromotom gualguor ostorço do comproonsão adoguada do dosatio ontrontado por ossas possoas. Um ó o discurso logitimista, guo justitica a oxistôncia do mundo tal gual olo ó ao supor guo a vida om nossa sociodado, assim como om gualguor outra sociodado capitalista, roalmonto tunciona como ola guor nos tazor cror guo tunciona: como um procosso virtuoso do soloção dos mais aptos. Outro discurso ó o guo so lasoia no ologio ingônuo da polroza¨ como um modo do vida altornativo¨. Nosso sogundo discurso, a própria misória aparoco rossigniticada om tormos ologiosos, o guo compromoto gualguor ostorço no sontido do oncarar o dosatio do transtormar as condiçòos guo tavorocom tou dostavorocom) as chancos do asconsão social. Em so tratando do condiçòos oljotivas do oxistôncia social, há algumas situaçòos oxtromas. Uma dossas ó aguola om guo as possoas so voom no limito da omancipação da naturoza, guor dizor, no limito ontro a condição do ostarom complotamonto sulmotidas ao impório das torças naturais o a condição do 258 solroporom à naturoza um ritmo do vida próprio, criado polo ongonho humano. Essa ó a situação do alguns grupos guo pos- guisamos om Vanaus, no sortão nordostino o om uma das muitas povoaçòos, lastanto ditorontos ontro si om tormos do sua história, o guo so convoncionou rounir sol a mosma dosignação do comunidado guilomlola¨. Em so tratando do todos ossos casos, há dois posicionamontos comuns, guo não são os unicos possívois, mas os mais ditundidos. Um ó um posicionamonto ra- cista. Uma comlinação do racismo rogional, racial o, para todos os casos, do classo. Tal posicionamonto consisto om dosgualiticar, principalmonto do ponto do vista dos atrilutos intoloctuais, as possoas guo vivom sol tais condiçòos. Todas as suas tormas do adaptação o do acomodação, solrotudo a racionalidado ospocítica o própria a ossa adaptação o a ossa acomodação, são porcolidas como produto do um atraso montal, no limito, do uma incapaci- dado para ponsar o para agir racionalmonto. lgnora-so guo mosmo a aparonto irracionalidado daguolas possoas ó aponas o produto do um procosso do aprondizado guo so dou tossa ó a guostão!) dontro dos limitos do circunstâncias muito rostritivas. O guo talta a osso posicionamonto ó a tomatização do uma comploxa modiação guo oxisto ontro o homom o a naturoza: a sociodado. Não so trata nunca simplosmonto do possoas racionais ou irracionais, lurras ou intoligontos, covardos ou corajosas ontrontando o dosatio do so omanciparom da naturoza. Os soros humanos ontrontam osso dosatio, como roza o molhor da tilosotia do Varx, atravós do corto tipo do vida colotiva o do um motalo- lismo tcolotivo) com a naturoza, guo so chama oconomia, mas guo não oguivalo à oconomia¨ do muitos dos oconomistas do hojo om dia, mas, do corta torma, à própria sociodado, guor dizor, ao modo como os soros humanos so oncontram organizados, não com plona consciôncia disso, do modo a produzirom sua vida dianto da naturoza. Em outras palavras, om so tratando do soros humanos, o suljugo dianto da naturoza não ó um tonomono natural, mas um tonomono social, não ó imposto pola naturoza, mas pola tormação social guo não pormito a omancipação o porpotua a sulordinação dianto do ritmo o do arlítrio inopinado dos tonomonos naturais. Quando não so tomatiza ossa modiação ontro os soros humanos individuais o a naturoza ta sociodado), rosta atriluir a laixa capacidado do omancipação dianto dola 259 manitosta por algumas populaçòos ao atraso montal¨ dos indivíduos guo a compòom. Vas com isso chogamos tamlóm ao outro posicionamonto, guo não ó a unica altornativa possívol, mas a mais ditundida. Trata-so do uma rodonção simlólica dossas possoas, inspirada por um sincoro, mas tcomo voromos) não monos ingônuo sontimonto do piodado cristã. Essa rodonção ó oporada atravós do uma noção muito cara ao ponsamonto social o guo ganha atualmonto cada voz mais ospaço no sonso comum: a noção do cultura¨. Tudo o guo a visão racista dotino como atraso montal¨ ó rodotinido como ospociticidado cultural¨. E ossa ospociticidado cultural, ao invós do sor dosvalorizada, ó valorizada om si mosma como um lom, como uma poça insulstituívol no acorvo cultural da humanidado guo não so dovo pordor. Contra a doprociação do montalidados individuais, ostaloloco-so a apologia do uma ospócio do monta- lidado colotiva: a cultura¨. São posiçòos opostas apoiadas solro o mosmo orro, assim como os ângulos opostos polo vórtico tos guais, calo notar, tôm a mosma modida) so apoiam solro o mos- mo ponto. Tal orro ó a não tomatização do social, da sociodado. Esguoco-so guo aguola cultura¨ ostá vinculada a cortas condiçòos gorais do oxistôncia om colotividado, guo ola ó o produto do um aprondizado ativo, mas circunscrito a cortas condiçòos oljotivas do oxistôncia social. Esguoco-so guo ossa cultura¨ só tom valor om si para o antropólogo guo a ostuda o guo a idontitica com o sontido do sua própria vocação, mas para as possoas guo ototivamonto a oxporimontam só tom valor, ao mosmo tompo, como truto do procosso o rocurso para o aprondizado dianto do circunstâncias oljotivas do vida social. O QUE NÓS QUEREVOS Ë VElHORAR DE VlDA¨ A comunidado guilomlola¨ do Camlará so situa ao sul do município do Cachooira do Sul - Rio Grando do Sul. Tovo origom na primoira motado do sóculo XlX com a aguisição do torras por ox-oscravos. Com o passar do tompo, ospocialmonto a partir da alolição do sistoma oscravista, mais nogros toram so assontando na rogião. Atualmonto, há aproximadamonto 40 tamílias no povo- ado. O torritório ó corcado por módias o grandos propriodados 260 o atravossado pola BR-290, ondo so situa um posto do gasolina, oxatamonto na rogião do povoado nogro. Provalocom poguonas propriodados com ató trôs hoctaros. A poguona agropocuária praticada ali consisto no cultivo do hortaliças o do pomaros o na criação do porcos o do galinhas. O gado vacum ó guaso ausonto. A produção do modo algum garanto a sulsistôncia. Há uma circulação intorna do produtos guo colalora com a sulsistôncia, mas, solrotudo, com a insorção na oconomia monotária. Há uma considorávol urlanização das goraçòos mais jovons. Vuitos tralalham na cidado, principalmonto om Cachooira do Sul, no omprogo domóstico ou om outras protissòos. O posto do gasolina situado na rogião do povoado tamlóm ó uma importanto tonto do omprogo. Vou principal intormanto contou-mo guo ató alguns anos atrás o posto não contratava as possoas do povoado o guo a roconto política do gorar ronda para os nogros ali rosidontos toi muito lom acolhida. O sorviço como diarista nas tazondas vizinhas tamlóm ó uma importanto tonto do ronda. O programa Bolsa lamília ó outra tonto do ronda importanto, o a aposontadoria dos idosos ó a principal om muitas das casas. Vuitos jovons nascidos ali, alóm do tralalharom na cidado, moram nola. Ë o caso, por oxomplo, do uma das principais lidoranças do povoado. Trata-so ó um jovom do 28 anos, guo ontrou para a rosorva do Exórcito por conta do complicaçòos na saudo duranto o cumprimonto do sorviço militar. Sua condição do jovom, possuidor do ronda ostávol o alta para os padròos da comunidado¨, tavoroco sua atuação como lidorança. Elo tom como invostir tompo na atuação política som compromotimonto da roprodução do sua vida o do sua tamília, pois tom uma osposa, guo tamlóm tralalha no município do Cachooira do Sul. Uma do suas talas rosumo o argumonto lrovo guo dosojamos oxpor agui: corta voz, osso intormanto ouviu do um protissional da ároa da antropologia a sugostão do guo olos tos nogros da comunidado¨) dovoriam porsistir com suas tócnicas tradicionais do manojo o proparo da torra, por uma guostão do prosorvação do sua idon- tidado. Comontando comigo tal colocação, rolatou o intormanto guo so trata do uma proposta improcodonto, guo as aspiraçòos dos moradoros daguolo povoado não são do insistir om tócnicas tradicionais o pouco oticiontos, mas sim molhorar do vida¨: o guo nós guoromos ó molhorar do vida¨. 261 Trata-so do um caso muito ospocítico. Cortamonto não dovo havor consonso ontro gualguor vortonto dos posguisadoros sociais solro um tipo do proposição como osta: porsistirom nas tócnicas rusticas o pouco produtivas guando o omprogo do novas tócnicas podo aumontar a produção, tavorocondo a sulsistôncia o ató mosmo a produção do oxcodontos comorcializávois, aumontando a ronda. O ologio da cultura¨, da otnicidado¨, omlora soja um posicionamonto muito ditundido om discursos do carátor alstrato, cortamonto convivo, ontro as possoas mais razoávois, com a considoração, om intorvonçòos mais concrotas do carátor prático, solro a possililidado o a dosojalilidado do so incromontar o acosso a molhoros condiçòos do consumo o do vida social om goral tsanoamonto, saudo, transporto, acosso a onorgia olótrica). Contudo, a posição daguolo protissional não doixa do sor signiti- cativa: ola simplosmonto radicaliza ao alsurdo um posicionamonto mais goral solro a guostão das comunidados romanoscontos guilomlolas¨: a porcopção dossa guostão prioritariamonto como matória do protoção o incontivo à divorsidado cultural. Trata-so, guanto a ossas populaçòos, do dosonvolvor políticas pullicas do promoção da divorsidado cultural¨ ou do dosonvolvor políticas pullicas do comlato à polroza, incluindo procipuamonto a dimonsão do procossos localizados do rotorma agrária? Podo-so dizor guo uma coisa não oxclui a outra. Etotivamonto, políticas voltadas para a indução do procossos do construção do momórias colotivas o do atirmação do tontos do idontiticação guo otoroçam rocursos morais do rosistôncia a oxporiôncias do discriminação racial podom convivor com políticas do dosonvolvimonto sociooconomico. Contudo, para tanto, ó prociso não priorizar a dimonsão da protoção do tprotonsas) idontidados ótnicas¨ como um valor om si mosmo o goralmonto oposto aos valoros do amlionto urlano circundanto. A própria noção do comunidado¨ ó muito prollomática. Trata-so, na vordado, polo monos no caso do Camlará, do um povoado polro o caronto do intraostrutura, passando por um nítido procosso do ditoronciação social, ospocialmonto sogundo o rocorto intorgoracional, com loa parto dos jovons so urlanizando o pordondo os vínculos com a torra, guo doixa do sor a laso da roprodução do suas vidas. Dosonvolvor as tócnicas produtivas ó inclusivo um prossuposto para guo aguolo ospaço tísico so tirmo como torritório, como ospaço socialmonto apropriado por aguola 262 população. Ë prociso guo haja possililidados do prosporar ali, guo aguolo ospaço soja atrativo para as goraçòos mais jovons, cujas aspiraçòos já toram tundamontalmonto atotadas por uma socialização urlana o urlanizadora guo comoça na oscola. Alóm disso, dovo-so roconhocor guo há divorsas tormas do o nogro luscar tontos do autoostima para ontrontar o proconcoito racial na sociodado. Uma dolas ó o próprio sucosso no morcado do tralalho urlano. Um impacto inovitávol do procosso do ditoronciação social ao gual povoados como o do Camlará são sulmotidos ó o tato do guo muitos jovons passom a oriontar suas osporanças o amliçòos sogundo o horizonto do univorso urlano, ou mosmo dontro do univorso rural, mas do um univorso rural mais dito- ronciado, ondo não oxisto mais aponas o tralalho com a torra, mas tralalhos do cunho mais administrativo, guor na gostão do omproondimontos oconomicos guor na intortaco com o Estado o domais organizaçòos na implomontação do políticas pullicas tosso ó o caso das lidoranças). Por guo nogligonciar o tato do guo muitos nogros possam o guoiram tirar dossas tormas do roalização possoal a sua tonto do autoatirmação o do autoostima? O discurso guo ontatiza a política do promoção da divorsidado cultural, guo dotondo a otnicidado como a dimonsão da promoção moral dossas populaçòos nogras paroco osguocor-so do tato do guo a própria prosporidado oconomica na sociodado possui uma dimonsão moral: ola ó tonto do autoostima o do autocontiança. Por guo a aguisição do status sogundo uma moralidado indivi- dualista no soio da ordom compotitiva dovoria sor privilógio dos lrancos? Por guo o nogro procisa atirmar sua idontidado como momlro do uma otnia? Ousamos inclusivo lovantar a hipótoso do guo guaisguor incromontos na autoostima o mosmo na cons- ciôncia crítica solro a discriminação racial no soio das populaçòos romanoscontos guilomlolas¨ so dova mais ao incromonto do suas condiçòos do vida por políticas do ronda mínima o do intraostrutura, como o Programa luz o Enorgia tguo lonoticiou o povoado do Camlará), do guo a gualguor sontimonto ototivo, para alóm da rotórica induzida por ciontistas sociais o oxigida inclusivo para otoitos do onguadramonto jurídico dos povoados como comunidado romanosconto guilomlola¨, do portoncimonto ótnico. Um dos otoitos lonóticos do programa Bolsa lamília om Camlará o alhuros toi o aumonto do podor do larganha dos nogros dianto dos módios propriotários lrancos guo historicamonto tôm 263 oxplorado do modo vil a sua mão do olra. Só o tato do torom garantido um mínimo, guaso migalhas, já lhos contoro a potôncia nocossária para dosatiar ostruturas do dominação possoal muito antigas o arraigadas. Quo potôncia não lhos contoriria políticas guo incromontassom ainda mais sua condição sociooconomica? A misória, assim como a prosporidado, possui uma dimonsão moral. A primoira política do olovação da autoostima dossas populaçòos nogras, da sua capacidado do roagir ao racismo om sociodado, ó a oliminação da sua condição do misória. CONVlVÊNClA COV O SEVlARlDO Vosmo as tormas mais rudimontaros do produção são trutos do ostorços ativos do aprondizado o do adaptação dianto do um amlionto tísico o no contoxto do um tipo do vida colotiva. Vas isso não guor dizor guo consistam na molhor solução possívol. As populaçòos guo vivom, goraçòos a tio, oprimidas por condiçòos hostis dosonvolvom ativamonto tormas do adaptação o do acomo- dação, mas isso não guor dizor guo ossas tormas dosonvolvidas por olas sojam as mais oticazos o as mais virtuosas. Contudo, há guom ponso guo sim. E, nossa matória, a gloriticação do oprimido oncontra atinidado com o discurso amliontalista. O homom mais oprimido pola naturoza soria tamlóm o homom mais amigo dola. lntonso a todos os otoitos da civilização, não portando todas as tócnicas acumuladas voltadas para a dominação da naturoza o para a oxtração máxima do riguoza guo ola podo otorocor, osso homom rustico vivoria numa simlioso pacítica com o amlionto natural. No tundo, nossa concopção romântica, osso homom soguor toria saído do um suposto ostado natural¨, olo mosmo ainda soria parto da naturoza, insorindo-so no oscopo do oguilílrio natural. A vordado solro o sortanojo nordostino pòo a nu a tragilidado dossa visão romântica. São procisamonto as práticas do sortanojo rustico, oprimido pola soca, guo pòom om risco a solrovivôncia do dolicado lioma caatinga. Esso lioma, unico no mundo, oscondo uma onormo tragilidado sol sua aparôncia dura. Situado no ocossistoma somiárido tdotinido por índicos do ovapotranspiração suporioros aos índicos do procipitação, guor dizor, ondo a cada ano a tondôncia ó guo so porca pola ovaporação dirota o pola transpiração 264 dos vogotais um volumo do água suporior ao procipitado nas chuvas), olo ó instávol, oxtromamonto sonsívol a procossos do dosortiticação. O produtor sortanojo rustico tom contriluído muito para a dogradação da caatinga pola dorrulada dosordonada da oscassa vogotação arlóroa com o tim da rotirada do madoira para a guoima o para a construção o polo suporpastoroio do gado caprino. A rala vogotação torragoira não suporta o pastoroio oxcossivo crosconto dosso gado, guo vasculha paciontomonto por cada ramo ronto ao chão. A população jovom do árvoros impor- tantos como o umlu, conhocido por armazonar guantidados do água om suas raízos guo lho pormitom dosonvolvor a tolhagom ainda duranto a soca, torna-so cada voz oscassa, já guo o gado so alimonta das jovons mudas. A dospoito da gloriticação do oprimido, guo taz coincidir com as condiçòos mais agudas do oprossão, uma das virtudos mais sotisticadas capazos do contorná-la ó a tocnologia guo dosonvolvo tócnicas capazos do conjugar aumonto do produtividado com maior prosorvação da naturoza. O oxtrativismo, a caprina-ovino- cultura, a apicultura o o cultivo do algumas ospócios do vogotais são atividados passívois do grando dinamização com laso om tócnicas guo vôm sondo olaloradas atravós do posguisas ciontí- ticas. Trata-so do tocnologias guo vão dosdo o aportoiçoamonto no manojo dos rocursos naturais com tócnicas do onsilagom para o armazonamonto do torragons para o poríodo do soca tovitando a nocossidado do suporpastoroio para a alimontação adoguada do gado) ató o aprimoramonto gonótico dos gados caprino o ovino. Prosorvar a naturoza oxigo um domínio sotisticado solro ola, um domínio mais sotisticado do guo aguolo nocossário para dogradá-la. O ologio romântico do um homom rustico om suposto ostado natural aponas olsta a tomatização da nocossidado do ostalolocor ostratógias do intorvonção podagógica guo lovom ossos conhocimontos sotisticados ató o domínio do sontido prático do sortanojo. Ë aí guo ontra a guostão do rospoito à dignidado humana o à racionalidado própria do sortanojo. Esso oxorcício podagógico nunca sorá lom dosomponhado polos tócnicos do socialização oscolástica o do classo módia. O racismo do classo ontro o tócnico o o sortanojo impodo o ostalolocimonto dos vínculos do contiança o do cumplicidado nocossários para transpor a distância cognitiva o atotiva ontro o sortanojo o ossa racionalidado prossuposta na comproonsão o, solrotudo, na aplicação dossos 265 conhocimontos. O tócnico ostá já imluído dossa racionalidado, dosso racionalismo do dominação do mundo¨, na oxprossão do Wolor, guo ó o prossuposto da comproonsão prática, guor dizor, da ototiva adoção dossas tócnicas sotisticadas. O guo ostá om jogo não ó a mora disponililização do novas tócnicas no sorta- nojo, mas a indução dosso tipo do racionalismo, prossuposto da adoção das tócnicas. A CONDl(AO DRAVATlCA DO HOVEV AVAZÔNlCO¨ Dona Chica tom 61 anos o ó mão do oito tilhos: duas moninas o sois homons. Nascou na cidado do Coari trogião contral do Amazonas) o hojo mora om sou sítio nas rodondozas do Caroiro Castanho, uma poguona cidado a algumas horas do Vanaus. O acosso do sou sítio ao Caroiro ó toito somonto do larco o lá ola comorcializa sua produção om uma poguona toira local. Ela tralalhou dosdo a intância na agricultura. Antos do ir dotinitiva- monto para o Caroiro, halitou na comunidado do Tarumã-Virim, na zona motropolitana do Vanaus, o comorcializou om uma toira guo alastocia a cidado, localizada na poritoria. Ela podo vivonciar, portanto, tanto a agricultura na várzoa guanto a agricultura do torra tirmo. Hojo sua produção consisto lasicamonto om mandioca, alacaxi, milho, lanana o latata-doco. Ató 1990, Dona Chica tralalhava junto com sou pai om Coari. O torrono ora do sou avo, guo passou para sou pai somonto dopois, guando ola comprou um podaço para tralalhar com sou marido. Ela usa a tócnica do dorrulada o guoima¨ na tormação do sou roçado¨. Esso procosso lasoia-so na guoimada da vogotação guo, u· cu:ì· j:az·, tortiliza o solo. No módio o no longo prazo, a tócnica dosgasta a tortilidado natural da torra. Ao longo do um intorvalo do 3 a 5 anos, o solo procisa passar por um poríodo do 8 a 15 anos do pousio, tócnica rudimontar guo tamlóm so caractoriza polo uso guaso nulo do maguinário, ou, do modo mais amplo, do guaisguor tócnicas sotisticadas ostruturadas polo intonto do prosorvação das condiçòos do plantio om módio o om longo prazo. Como ola mosma diz: agui ó na laso da onxada!¨. 266 Quando halitou a comunidado do Tarumã-Virim, após uma tomporada om Vanaus, ola tralalhou junto à associação dos tralalhadoros rurais o consoguiu o astaltamonto da ostrada guo passa pola comunidado ondo mora. Esso ó um prolloma comum para guom mora om algumas ároas da rogião motropolitana do Vanaus, pois nom todas vicinais¨ 1 ostão astaltadas. Duranto o poríodo do choia, guando há mais incidôncia do chuva, o ala- gamonto dossas ostradas ó constanto, o guo diticulta lastanto o potoncial do comorcialização dos agricultoros nas toiras. Assim, a possililidado do atoloiros ó altíssima, o alguns agricultoros chogam ató a pordor produçòos intoiras. O astaltamonto das ostradas toi toito rocontomonto por moio do um convônio, a partir do uma iniciativa do govorno todoral. Aposar do sor produtora do torra tirmo, nossa ópoca, Dona Chica lom como outros agricultoros da ároa sontiam diticuldados om oscoar a produção, dovido às chuvas oxcossivas no poríodo do choia. Vais uma voz, o risco ó o do alagamonto dos vicinais, tormando inovitavolmonto atoloiros. Dona Chica tom uma visão lastanto crítica dos órgãos do apoio tócnico como o lnstituto do Dosonvolvimonto Agropocuário o llorostal Sustontávol do Estado do Amazonas tldam). Esso instituto atualmonto tralalha om parcoria com a protoitura, o guo, sogundo a improssão dos ontrovistados, piorou muito sua atuação, principalmonto no caso da assistôncia tócnica, algo tundamontal para a ototuação do tinanciamontos. Há pouco tompo, Dona Chica consoguiu um tinanciamonto para sua plantação do mandioca, mas há a constanto diticuldado do consoguir cródito, dovido aos ompocilhos para a rogularização dotinitiva da torra o às diticul- dados na rolação com a oguipo do assistôncia tócnica. Sogundo ola, o apoio tócnico ó traco, o há situaçòos om guo simplosmonto não há visitas dos protissionais. Ela mosma conta do opisódio om guo so indispos com um tócnico do ldam, pois na hora do ototuar o oxamo toz tudo do gualguor joito¨. No caso da assistôncia tócnica, om uma ocasião, pudomos olsorvar dirotamonto as diticuldados gravos na rolação ontro assistonto tócnico o pullico-alvo. Nola, transparocou guo o distan- ciamonto da posição social ontro tócnico o agricultor podo so tornar um grando ompocilho. O protissional ó goralmonto alguóm altamonto gualiticado o munido do uma linguagom tócnica posada o comploxa. O contato com possoas som o domínio dossa linguagom tócnico-tormal podo so tornar um puro choguo¨, no 26¯ gual o ostorço podagógico podo ir por água alaixo. Assim, um dos maioros dosatios ó a produção do uma aproximação social ontro assistôncia tócnica o agricultoros para guo so possa molhorar o aprondizado. Os tinanciamontos são om goral otorocidos pola Agôncia do lomonto do Estado do Amazonas tAtoam). O prolloma com a rogulamontação das torras ocorro porguo há diticuldados, mosmo com o ostorço do lncra, do promovor assontamontos para poguonos agricultoros na ároa ondo moram. Vuitas vozos, olos compram suas torras, mas na hora do rogulamontá-las oncontram diticuldados. Esso ó o caso do Dona Chica, guo mosmo tondo comprado sou torrono, onguadrado na catogoria do colonização por causa do sua grando oxtonsão, sonto diticuldado om consoguir o Cortiticado do Cadastro do lmóvol Rural tCClER). Esso docu- monto pormito o tinanciamonto dos poguonos agricultoros. Não aponas Dona Chica, mas muitos outros do sous companhoiros¨ so oncontram na mosma situação. O tinanciamonto na taixa do 1.200 roais, consoguido por ola junto com outros agricultoros, toi uma situação do oxcoção na gual o próprio protoito, na ópoca, tovo guo intorvir. O prolloma com a rogulamontação dossas torras podo indicar um gravo prolloma para a ovolução dos tinancia- montos na rogião. Dona Chica atualmonto produz om um torrono do várzoa, um tipo do torrono comum no ocossistoma amazonico cuja ospocitici- dado ó o alagamonto duranto o poríodo do choia do rio tno caso dola, o rio Nogro). lsso podo ocasionar prollomas na produção, inclusivo a sua porda. Essa soria uma das diticuldados para os produtoros do torrono do várzoa, já guo possuom poucos rocursos para lutar contra ossa imposição da naturoza. Essas imposiçòos não são ostritamonto naturais¨, mas tamlóm sociais, pois so rotlotom nas condiçòos do oxistôncia, guo diticultam a produção o a comorcialização dos produtos. No ontanto, aposar das diticuldados, ó possívol olsorvar compor- tamontos do iniciativa, como o do Arnaldo. Ex-carvooiro, olo ainda prosorva um dos tornos no gual tralalhou om sua proprio- dado, hojo com uma produção lom divorsiticada tvariando ontro couvo, lanana, macaxoira, coco otc.). Quando comoçou no ramal do Pau Rosa ttamlóm no Tarumã-Virim), olo próprio organizou possoas intorossadas om produzir o guo ostavam roalocadas no programa do assontamonto. Elo tralalhou junto 268 com rocóm-assontados na roivindicação do insumos o consoguiu uma parcoria com a Sopror. Hojo olo comoça a construir a sodo do uma tutura associação no guintal do sua casa, ondo ocorrom rouniòos para angariar rocursos o insumos junto ao ldam o à Sopror. Com um comportamonto mais ativo, Arnaldo já ponsa ató om comprar algum maguinário para modornizar sua produção. Assim como Dona Chica, olo atualmonto comorcializa om uma toira do poguonos produtoros na poritoria do Vanaus. CONSlDERA(OES llNAlS As possoas podom muito lom alrir mão da sua cultura¨ guando so intorossam por amliontos dontro dos guais aguola cultura¨ pouco atondo como rocurso do adaptação o do aprondizado. Não calo a dotosa, como valoros om si mosmos, do uma otnia¨ o das práticas tradicionais guo portoncoriam a ossa otnia¨, nom da suposta amizado com a naturoza por parto do sortanojo, nom do modo do vida antílio do um suposto homom amazonico¨. Calo antos do tudo rospoitar a dignidado dossas possoas, assim como a racionalidado intrínsoca ao sou modo do vida contoxtualizado numa história ospocítica o num amlionto atual dotorminado, mas não nos tormos do uma gloriticação do oprimido, o sim com o oljotivo do atingir o grau do comproonsão solro ossas possoas, o guo ó nocossário para auxiliá-las no ostorço colotivo do omancipação da naturoza. Essa ó a importanto altornativa ontro a gloriticação do oprimido o a logitimação da oprossão. ✏ ⇧ P l ⌃ ✓ ⌥ C P ⇧⇥ ↵⇥⌃⌦✓⌃✓⌦⇧⇥ ⇥C✏l⇧l⇥ DC ⇣l✏⌦C✏⌦⌘Dl⌃C ··Iaü·:au·:. R:ca:u· !:::~: lNTRODU(AO Os concoitos dominantos da oconomia goralmonto alstraom suas próprias ostruturas sociais, não atontando para sua gônoso histórica o social. O morcado ó uma construção social. Por isso, o Estado sompro intortoro na oconomia, soja do torma rodistrilu- tiva tativa), soja do torma rostritiva tpassiva¨), guando tamlóm lonoticia os intorossos oconomicos ostalolocidos o o grando capital. Sondo assim, o Estado tom um torto papol na tormação da ordom oconomica onguanto um campo no gual so dispòo o organiza a concorrôncia 1 ontro as omprosas, sompro modiada polo podor ostatal. Em suma, olo tom o podor do constituição do intorosso oconomico tintorosso privado) logítimo o oticial. 2 Dosto modo, podo so atirmar guo toda oconomia¨ ó igualmonto uma oconomia política¨ o tamlóm uma política oconomica¨. Na política oconomica tinancoira, o Estado tamlóm tom uma tunção propondoranto, na modida om guo tanto podo tor uma posição do rostrição do cródito guanto rodistrilutiva, cujo rosultado ó o tomonto às iniciativas do monor porto, capitalizando-as. O programa CrodiAmigo tBanco do Nordosto) ó um lom oxomplo dosto ultimo caso. Esto programa do microcródito tom uma posição do vanguarda no campo tinancoiro, 3 pois opora do acordo com uma lógica distinta à do sistoma dominanto. Sua caractorística contral ó a do otorocor ompróstimos do laixo volumo om intorvalos curtos. Ou soja, uma política oconomica do cródito tprodutivo) 2¯0 atingo ditoroncialmonto a sociodado do classos, já guo o próprio sistoma tinancoiro as onglola. Portanto, o programa om guostão tom como tunção uma política oconomica do capitalização das classos dominadas. Trata-so, portanto, do tomatizar a atinidado olotiva ontro um tipo do política tinancoira o as classos às guais ola contompla ou oxclui do campo oconomico. O projoto alrango principalmonto poguonos comorciantos urlanos t85,8/) do Nordosto lrasiloiro. 4 A tunção do CrodiAmigo ó otorocor a possililidado da capitalização dostos poguonos omproondimontos atravós do rocurso ao cródito produtivo, cujo rosultado ó a dinamização do morcado intorno o local. Elo toi contral para guo o dosonvolvimonto dostos poguonos nogócios tosso possívol. 5 O CrodiAmigo ó rosponsávol por 60/ no morcado nacional. 6 Esta política oconomica do cródito ó autossustontávol no sontido do não dopondor do incontivos tiscais oxtornos para sua oxistôncia, ovidonciando o rotorno oconomico das atividados omproondodoras, guo ocorro atravós das rocoitas goradas polos juros do sous cliontos. A tinalidado contral do programa, ontão, ó a do so valor das microtinanças para a rodução da dosigualdado social. Dosto modo, guando atirmamos guo o CrodiAmigo ocupa uma posição do vanguarda no sistoma tinancoiro ó om razão do olo contomplar classos dominadas o igualmonto dostavorocidas na hiorarguia social da oconomia o do tralalho. No ontanto, o concoito do classo social com o gual nos atinamos não ó oxclusi- vamonto aponas pola ronda. A idoia do classo social agui ó do guo ola produz ditoroncialmonto os indivíduos na sociodado o, assim, os hiorarguiza. A classo onglola o valor dos indivíduos como um todo, na modida om guo ostos incorporam disposiçòos tum Iaü:ìu: do classo) mais ou monos valorizadas na sociodado. Do mosmo modo, a classo social lonoticiária das políticas do microcródito ó uma nova classo tralalhadora, ¯ cuja dotinição so dá: a) na incorporação, om sua oconomia omocional, do uma torto ótica do tralalho oconomicamonto util o um sólido rigorismo oconomico, l) uma origom tamiliar ostruturada, na gual a prosonça do uma solidariodado moral garanto a sogurança oxistoncial o social mínima, c) polo tato do as urgôncias mais imodiatas da ostora do tralalho o da sulsistôncia ttamiliar) so imporom a olos onguanto um imporativo social do classo inoscapávol. 2¯1 A posguisa a sor aprosontada toi roalizada na cidado do Campina Grando, no intorior parailano. O tralalho do campo toi conduzido om toiras locais rocóm- organizadas por moio do uma política municipal. Esta política do roalocação tovo como tinalidado tirar ostos tralalhadoros guo, om sua maioria, vondiam na rua o a cóu alorto. A condução da posguisa ompírica tovo o toco om duas toiras: Arca do Titão o Arca da Catodral, o um contro comorcial popular, localizado ontro olas. Os comorciantos amlulantos ontrovistados atuam na ároa do trutas, vostuário tominino, totocópia o artosanato. Do tato, o programa CrodAmigo alrango uma grando vario- dado do nogócios om divorsos tamanhos. No ontanto, do torma goral, podo so atirmar guo os ontrovistados soriam do uma tração do laixo¨ dosto pullico. A idoia do u:J~:~uc:a¸a· ~nj:~:a::aI 8 pormito contoxtualizar a composição intorna dostos microom- proondimontos, guo contam com pouco capital oconomico o cultural para so dosonvolvorom. Na maioria das vozos a tigura do omproondodor¨ ou administrador¨ tguo lida com o jogo¨ oconomico ostrito como roinvostimonto, motas do oxpansão, controlo do nogócio, cródito otc.) o do tralalhador tconsidorando ostorço diário na manutonção do nogócio) so concontra guaso sompro om um indivíduo ou sol uma laso tamiliar nom sompro constanto. Os omproondimontos, som guaso nonhuma ditoronciação do tunçòos intornas, são lasoados na compra om tornocodor o vondas nas toiras. Dosto modo, a contralidado oconomica da morcadoria vondida ó guaso oxclusiva. O olomonto tundamontal para ontondor a rolação ontro o micro- cródito o os latalhadoros ostá na história social incorporada dos ontrovistados, na sua rolação com o cródito o sou nogócio. Nosto sontido, a oconomia ó primoiramonto toita por homons concrotos o imorsos om sua prática social o não por um I·n· ~c·u·n:cu: intoloctualista. Alóm disso, toda atinidado tcomo voromos) ontro Iaü:ìu: do classo o posição oconomica prossupòo igualmonto uma rolação com o tompo social guo os condiciona. Do torma goral, a trajotória dos ontrovistados ó marcada por uma alta doso do sacritício possoal dirocionado ao tralalho. São histórias do vida sotridas, mas com torto disciplina para o tralalho socialmonto util, alto rigorismo oconomico na diroção da construção do um tuturo molhor o mais ostávol. 2¯2 HlSTÓRlAS DE BATAlHADORES NO lNTERlOR PARAlBANO SEU JOSË - EU ERA lAVPlAO, HOJE EU NAO SOU NEV lAVPARlNA!¨ O comórcio do sou Josó t55 anos) tica localizado om um contro comorcial popular na cidado do Campina Grando. Em um poguono ostalolocimonto ondo não calom mais do guo duas possoas ao mosmo tompo, rosido sua loja. Sua atitudo corporal ó curvada o olo tala laixo, guaso sompro sussurrando ao ouvido do guom o oscuta. Aposar do tor 55 anos, olo aparonta sor mais volho, marcas do uma trajotória social pautada pola duroza da vida. Sou corpo carroga uma história social do mudanças radicais, como voromos no docorror da análiso. Sua rotina comoça codo. Com duas tilhas, olo primoiramonto acorda a guo ainda mora com olo tguo tralalha do distrito indus- trial) às guatro da manhã, taz o cató o so propara para ir tralalhar. Sua jornada do tralalho vai das 0¯:15 às 18:00, do sogunda a sálado tató às 13:00). Sou nogócio consisto lasicamonto om tirar totocópias o tazor plastiticaçòos. No ontanto, como sua loja ó muito poguona, a margom do lucro ó muito laixa, já guo o valor unitário do sou sorviço ó igualmonto laixo tR$ 0,10). Alóm do guo, os nogócios do totocópia roalmonto rontávois são aguolos guo oporam om grando oscala tom tunção do laixo valor unitário), o guo não ó o sou caso. Socundariamonto, olo vondo algumas morcadorias variadas guo vão dosdo poguonos violòos do plástico do lringuodo, lonços, pontos o algum artosanato torigami), mas guo raramonto lho rondo algum rotorno oconomico vordadoiro. Nosto sontido, podomos considorá-lo como um artosão procário. Com rolação a osto aspocto, sua tala domonstra uma lacuna curiosa. Em sou poguono mostruário ostão dispostos os tralalhos guo variam om tamanho. Ao so rotorir às poças olo conta: Eu tonho ossas poças agui guo ou tralalho com origami, guo ou taço. Aí so vocô chogar o podir pra vor ossa poça, amostrar¨: gual ó o proço dossa grando?¨. Aí ou digo: ossa grando ó trozontos roais.¨ So vocô não so agradar dossa aí ou tonho outras monoros do 5, 10... Aí o clionto... Choga uma hora guo olo so agradou o aí vai lovar. Vas não doixa pra lá. Tom guo amostrar¨. Eu não 2¯3 digo hipnotizar... Cô tom guo lotar na monto dolo guo ó daguilo guo olo nocossita. Tom mostrar a utilidado do produto, do guo aguilo vai sorvir a olo. Vocô poga uma costinha dossa tolo mostra uma costinha). Ela ponsa guo ó pra colocar lomlom, mas aí ou digo guo a alonçoada¨ podo tazor um cató da manhã com ossa costa, podo colocar a roupinha do lolô, podo tazor uma caminha pro cachorro... Aí ou vou dando as sugostòos pra ola. Pro clionto ticar satistoito o ponsar: ó... ou vou lovar isso mosmo.¨ Nossa passagom, ó possívol porcolor guo o dosvalor ocono- mico o simlólico do artosanato do sou Josó transparoco tanto na ditoronça alsurda dos proços ontro as poças lom como om sua constanto justiticativa na utilidado do sou artosanato, o guo podo sor idontiticado na lacuna do sua tala. No tundo, são oljotos para todo o nonhum gosto, guo sorvom para tudo o para nada. Como olo mosmo atirma: ó guaso como so tivosso guo hipnotizar¨ o clionto para guo sou intorosso soja dosportado. Piorro Bourdiou 9 porcolou guo, no capitalismo, o valor ocono- mico do uma morcadoria não ó aponas dotinido polo tompo módio do tralalho matorializado nola tvalor alstrato o guantiticávol), mas igualmonto om sou valor simlólico. Trata-so do um valor gualitativo, ligado ao ostilo do vida das classos sociais ao gual uma morcadoria constrói sua rotorôncia. O artosanato procário tsocial o oconomicamonto dosvalorizado) do sou Josó paroco pairar num limlo no gual sou valor não ó nom o da tunção utilitária imodiata do uma morcadoria gualguor o muito monos a do valor contomplativo¨ o cultural¨ do uma olra artística. O guo vomos no comórcio popular do sou Josó ó a ausôncia do otorta na morcadorias com valor simlólico agrogado o dito- ronciado, ou soja, com a protonsão do otorocor morcadorias com um valor distintivo. Esto valor ó oconomicamonto rolovanto. Esto ponto podo sor ilustrado na porcopção do suas morcadorias: morcadoria tom sompro guo sor rotativa. Chogar o sair rápido¨. Ou soja, trata-so da porcopção do guo suas morcadorías não tôm algo guo roalmonto as singularizo, o guo tamlóm so rovorto na protoroncia do intorvalo curto do vonda. Há doz anos no ramo do totocópia o plastiticação, há oito mosos olo consoguiu montar sou ostalolocimonto om um contro comorcial, sondo tomador do programa CrodiAmigo há um ano. Elo usou o cródito para comprar duas poguonas máguinas do 2¯4 xorox o uma do plastiticação. Em soguida, montou um grupo com mais duas possoas, mas agora podorá tomar cródito indivi- dualmonto. Esta mudança tamlóm traz consigo um aumonto na sua linha do cródito, cujo limito sorá do mil roais. Para olo, o maior lonotício do so tornar um tomador individual ó o da indopondôncia, pois já tovo guo colrir a dívida do uma possoa guo ticou inadimplonto. 10 Contudo, a possililidado do mais cródito não nocossariamonto acarrota om um roinvostimonto oriontado o calculado, guo oxigo a torto incorporação do um capital cultural to oscolar) particular na ação oconomica. O guo ostá om jogo ó a rolação do capital cultural tospocítico do campo oconomico o normalmonto logiti- mado polas instituiçòos suporioros do onsino) na acumulação do próprio capital oconomico. 11 Dosta manoira, a própria idoia do Iaü:ìu: oconomico dopondo da incorporação ditoroncial do um capital cultural to oscolar) dosigualmonto distriluído polas classos sociais. Ë a incorporação dosto capital cultural particular à ação oconomica guo pormito maior distanciamonto, racionalidado o calculalilidado na ação oconomica. Ató porguo, o sou nogócio não paroco otorocor uma contrapartida oconomica rolusta ao aumonto da linha do cródito. Suas disposiçòos oconomicas ou omproondodoras¨ tôm um carátor tortomonto adaptativo o opo- raram do acordo com o imporativo da nocossidado oconomica da sulsistôncia: Eu comocoi com trozontos roais o agora ou já posso ultrapassar do mil. Só guo ou não vou pogar o valor total guo ó o guo dotorminado. Eu vou do acordo com a nocossidado.¨ Em suma, o acosso a mais podor do capitalização não nocossa- riamonto promovo uma ruptura com a ação oconomica oriontada pola nocossidado o pola urgôncia. lsto tom a vor dirotamonto com sua posição dominada na hiorarguia oconomica to do tralalho) o com a sua disposição oconomica adaptativa tpassiva¨), limi- tando a possililidado do roinvostimonto oriontado tguo visa, por oxomplo, à ditoronciação do tunçòos intornas da omprosa) o do um cálculo vordadoiramonto prospoctivo. Outro aspocto contral no patrimonio do disposiçòos ocono- micas do sou Josó ó a talta do uma ospociticação o uma indito- ronciação do capital intorno do sou nogócio, guo não tom um tim oriontado: 2¯5 Aí, ola ta tilha) sompro coloca algum¨ dontro do casa o ou vou lotando... Quando talta alguma coisa om casa ou vou complo- tando. O rosto |do dinhoiro guo ganha} ou vou invostindo agui na loja. So ou arrumar num dia 50 roais o não tivor nada mim¨ comprar para casa, aí ou já invisto agui. Porcolomos guo a hiorarguia no invostimonto o no uso do dinhoiro não tom como tinalidado primoira o nogócio, mas a sulsis- tôncia tamiliar. Não há uma racionalização, nom ospocialização tditoronciação) intorna do capital disponívol. O mosmo capital podo sor aplicado om divorsas ároas som um dirocionamonto claro. Esta indistinção ontro a sulsistôncia tamiliar o o orçamonto do omproondimonto tamlóm toi analisada nos poguonos comor- ciantos argolinos. 12 A poupança tamlóm ó uma dimonsão importanto da vida tinancoira dosto latalhador, guo om nada so assomolha a uma contortávol rosorva do capital, possililitando uma prospocção contortávol. Ao contrário, ola cumpro uma tunção do carátor omorgoncial, inconstanto o dopondonto da intonsidado do tluxo oxcodonto do cliontola para sou uso. Sogundo sou Josó, a poupança sorvo para comprar algum matorial do tralalho ttolhas om lranco, tinta do improssora) a sor utilizado om algum sorviço oxtra. No ontanto, osta rosorva não ó constanto o nom mosmo ostá soparada da sulsistôncia domóstica, aliás, ola dopondo justamonto do não tor a nocossidado do comprar nada om casa¨ para so mantor. A poupança tunciona muito mais como um provávol capital do giro oxcodonto do guo uma rotaguarda oconomica o tinancoira ostávol. A ausôncia do uma poupança constanto tamlóm constrango tortomonto a constituição do um capital tixo, guo possililita o roinvostimonto oriontado o racional no omproondimonto o a possililidado do oxpansão oconomica planojada. A ausôncia guaso total do ostoguo tamlóm ó algo guo contrilui para o rotrato do tipo do omproondimonto analisado. A compra do morcadorias ó guaso totalmonto suljugada à porcopção imo- diata do uma possívol domanda, ou soja, do guo a cliontola ostá procurando no momonto¨. lsto o constrango a dosonvolvor uma disposição do improviso o da intuição. 13 Há, nosto ponto, um contrasto ontro o dosonvolvimonto dosta disposição intuitiva¨ no jogo oconomico o a incorporação dosto capital cultural do campo oconomico, cuja ospociticidado ó a do justamonto alrir a possililidado do controlar o dominar racionalmonto os nichos¨, 2¯6 lacunas do morcado¨ o sotoros¨ oconomicamonto mais rontávois, isto ó, maior podor do morcado solro uma possívol domanda sociooconomica. Antos do so ostalolocor nosto contro comorcial, sou Josó trala- lhava na rua. Era uma larraguinha. Nossa ópoca, o comórcio ora mais incorto, mas o pior ainda ostava por vir. Em taco do uma política do roalocação promovida pola protoitura os comorciantos amlulantos toram romovidos, mas som gualguor garantia inicial do rossarcimonto. Esso poríodo toi um dos mais duros polo gual já passou, pois sontiu na polo o no ostomago a dor da instalilidado oconomica o social om razão do sua romoção: Esso mou sotrimonto aí ou passoi o a minha tilha talou: pai, hojo o guo tom ou lotoi no togo. Vistura não tom... Tristomonto tinha um pouguinho do toijão o um pouguinho cuscuz. Vas aí zorou goral mosmo! t...) Vosmo guo não tivosso nada lá om casa... Vas ali ou tava um pouco alalado. Eu taloi: oh mou Dous, ou nunca doi motivo pra taltar nada lá om casa o agora vom taltar¨. liguoi ató 14lh da tardo o não aparocou ninguóm daguolos guo tavam mo dovondo pra mo pagar. Tá na mão do Dous¨. Quando ou saí pra casa, já guaso 14h, passoi na protoitura o aparocou um alonçoado¨ o disso: Ô Vilton... Como ó guo tá?¨. Eu disso: ta tudo lom, tudo no comando do Dous¨. Aí olo disso: Vocô não tica invocado so ou lho dor algo não?¨ Aí disso: Não... Dous só nos dá aguilo guo a gonto nocossita.¨ Aí olo disso: ó vordado.¨ Então, olo alriu a cartoira o mo dou 20 roais. Ali ou gloritiguoi o nomo do Dous o comproi uma carno no morcado. lolizmonto, pouco tompo após a sua romoção olo consoguiu um ponto tixo, mas cujo início não toi dos mais tácois. Elo conta guo houvo uma roportagom solro o sou caso. Na parodo ao tundo do sou poguono Box¨ olo guarda a matória do jornal o guo para olo marca uma ruptura do antos o dopois¨ na sua vida. Aposar do tudo, sou rocomoço não toi tranguilo, pois ontrontou a constanto chacota do sous paros. Sua loja guaso não tinha nada, nom mostruário, nom mosmo uma porta santona do motal para protogô-la do noito. Elo chogou lá som nada o os outros comor- ciantos zomlavam do Josó dizondo: Elo vai colocar um nogócio dosso aí, ó toio domais!¨ Agui, o tato do tor consoguido so roostalolocor om um con- tro comorcial o não om uma toira tcomo ó o caso dos outros ontrovistados) taz com guo sou Josó gozo do uma distinção com 2¯¯ rolação aos outros, o guo lho rondo maior autoostima com sou nogócio. Ë troguonto, no imaginário do todos os ontrovistados, a oposição ontro titoiro¨, larraguoiro¨ o os guo tôm uma loja. Elo atirma guo hojo as possoas porguntam: Ondo ó tua lojinha?¨ Não talam mais om titoiro¨, nom om larraca.¨ Tor uma lojinha¨ signitica não aponas tor um lugar tixo aondo os cliontos podom voltar, mas tom a vor com uma dimonsão intraostrutural o ostótica tdistintiva) do omproondimonto. A lojinha¨ tom a vor com tor um ponto tixo limpo¨, aprosontávol¨, com uma aparôncia mais tormal¨, atastando o ostigma da intormalidado o da procariodado. O otoito na autoostima ó do so onxorgar como um vordadoiro comorcianto, passando mais sogurança o contiança aos cliontos. Sor dono do uma lojinha, por oxomplo, toz com guo sou Josó so vostisso do uma manoira mais tormal, não so sontindo contortávol indo tralalhar do lormuda o chinolo. Esto atastamonto do ostigma social guo a lojinha¨ traz, carroga consigo a idoia do guo um omproondimonto dopondo do uma construção social simlólica tavaliativa) por parto da domanda tcliontola), cujo otoito ocono- mico não ó nada dosprozívol: Por guo agui ó outra visão, olos tôm uma visão dagui ó como so tosso uma loja o não como toira. Vocô vô guo muitas possoas passavam lá polo lado da gonto... Pro lado daguolas larraguinhas |olo so rotoro ao passado do larraguoiro} guo passava o nom parava pra comprar nada! E hojo já tão ontrando agui o tão comprando... A intância do sou Josó toi minimamonto ostávol. Com uma tamília ostruturada, olo nunca chogou a passar nonhum tipo do nocossidado matorial imodiata, o guo contriluiu na constituição do uma solidariodado tamiliar mínima. Assim como na origom tamiliar da maioria dos latalhadoros, sou Josó croscou tralalhando com sua tamília. Sou pai toi soldado da Varinha o nogocianto. Elo lho dizia guo nogociar ora molhor do guo tralalhar do omprogado, pois no ramo do comórcio vocô ó o patrão do vocô¨. A lição mais importanto guo sous pais lho logaram toi a do uma condução da vida atravós do tralalho honosto o do caminho do lom¨. Nostos latalhadoros, troguontomonto, olsorva-so osta assortiva como tondo um tator do contrasto imodiato com rolação à raló ostrutural dolinguonto, já guo sua posição do classo dirotamonto acima ainda não oxclui a proximidado com osta no ospaço social. 2¯8 Em sua juvontudo, poróm, sou Josó comoça a so onvolvor com o álcool. Aposar do tor lolido muito guando jovom, trôs tatoros parocom tor contriluido para guo isso não signiticasso o caminho da dolinguôncia: a) o tato do o consumo do álcool nunca tor so rovortido om um comportamonto agrossivo o violonto com sua tamília, l) o consumo do álcool não signiticou o alandono do tralalho disciplinado o ostorçado, c) sous pais sompro mani- tostavam a proocupação concrota com uma sogurança social mínima, como guando tomava um porro o sou pai corria pola cidado para convoncô-lo a ir para casa o largar a lolida. Nossa ópoca sou Josó tralalhava na industria como oporário. loi uma ópoca ditícil, guando tovo guo lidar com a condição do omprogado na tálrica o sou onvolvimonto com o álcool: ou ora uma cara guo lolia muito. Uma grado do corvoja pra mim o um litro do Vontilla não ora nada! Em uma possoa só. Eu ia tomando, tomando o dagui a pouco tava... .¨ Quando ora omprogado, olo tralalhou como carrogador na tálrica da São Braz tcató), mas prodominantomonto na tálrica da Alpargatas, guo contraliza a produção do chinolos do dodo do uma tamosa marca. Em constanto atrito com sous suporvisoros imodiatos, olo conta um caso paradigmático do assódio moral guo iria rondor o apolido do lampião¨. Um dia, ao chogar à tálrica, olo ontrou om uma discussão com sou suporior imodiato solro guom iria ticar rosponsávol polo doscarrogamonto do algumas morcadorias. No moio da discussão, olo rocolou um chamado o toi corrondo olhar a produção. Ao chogar ao local, haviam sido guoimados om torno do ¯00-800 paros do sandálias. Esto incidonto intoliz dosoncadoou uma discussão ontro os dois, na gual o suporior tazia xingamontos racistas contra sou Josó. No ontanto, a roação agrossiva do sou Josó lho contoriu corto rospoito¨ o tomor ontro os cologas. O apolido do lampião¨ roprosontava lom a prosonça do tortos disposiçòos agrossivas guo muitos omprogados dosonvolviam para lidar com o assódio moral dontro do amlionto do tralalho. lroguontomonto olo so rotoro a ossa taso do sua vida como aguola om guo vivia no mundo¨ o ora marcada polo torto consumo do álcool o pola agrossividado. Em 19¯¯, ainda soltoiro, olo rosolvo partir om diroção ao Rio do Janoiro para tralalhar om uma tálrica do ar-condicionado. Elo so ocupava do sotor do montagom. Contra a vontado do sua mão, 2¯9 olo so muda. loi nossa ópoca guo olo sotrou um acidonto guo olo diz tor alorto sous olhos¨. Ao atravossar a Avonida Brasil olo tropoça no moio da pista. Caído, olo guaso ó atropolado por um caminhão. Um ano dopois, olo volta para a Paraíla o constitui tamília. Todavia, algum tompo dopois olo so torna viuvo, o guo para sou Josó toi o comoço do uma transtormação radical om sua vida. Podo-so dizor guo sua convorsão à roligião ovangólica pontocostal tlgroja Quadrangular) dosoncadoou um conjunto do disposiçòos tortomonto ascóticas guo, ató ontão, pormanociam om vigília. 14 Como olo mosmo conta: loi num Domingo. Eu tava om casa, liguoi a tolovisão o tava uma monsagom. Na tolovisão não, primoiramonto no rádio. Era uma monsagom talando do uma possoa, como uma ontrovista, o ou tiguoi oscutando aguola possoa como so tosso ou, aguolo lampião. Elo tava rolatando o guo olo tazia o o guo olo não tazia o tal. E ali ou: puxa guo isso!¨. Aí ou tui o dosliguoi guo ou não gostava dosso nogócio do cronto não. Eu ticava rovoltado. Aí ou dosliguoi. Quando toi a tardo ou liguoi a tolovisão o tava passando aguola mosma monsagom ·I:, ~u :~uì: una ì:::ì~za u· n~u c·:a¸a· ~ c·n~c~: a cI·:a: ~ :~uì: a :·uìau~ u~ D~u: a:::n, u~ u~uì:· u~ n:n j:a ~u :: j:a :g:~¡a. Tinha uma vizinha guo mo convidava pra ir na igroja. Aí nosso dia ou taloi pra ola guo ia. Quando ou choguoi na igroja, ola tava supor lotada o o pastor progou como aguolo pastor progou no mosma monsagom guo ou tinha assistido. Aí ou digo: mou dous, como ó guo podo um nogócio dosso?!¨. Aí lotoi pra chorar o pra tromor o ali o pastor toz o apolo o ou vi guo pra mim guo ora Dous guo tava mo chamando. Aí ou acoitoi o hojo guor lho dizor guo so ou soulosso guo Dous ora tão lom assim na minha vida. Dosdo do mou nascimonto guo ou já tinha acoitado Josus. Vocô vô guo guom mo conhocia atrás, há uns tompos atrás dizia: ou não acrodito não: osso ó outro homom!¨. Já chogaram ató a dizor pra mim: Rapaz, vocô tá mais jovom, mais lonito.¨ Vou calolo antigamonto ora aguolos Black¨ guo usava, aguolo calolão todo pra cima o hojo ou não doixo passar assim¨ não. Dous transtormou minha vida goral! Goral! E ou croio guo dagui pra tronto olo ainda vai transtormar mais ainda. Eu guoro sorvir a olo como ou dosojo. tgritos mous) Na narração do sua convorsão roligiosa porcolomos uma vorda- doira rovolução¨ om sou patrimonio do disposiçòos. A roligião cumpro uma tunção do roconvorsão o rooriontação na condução do sua vida como um todo, principalmonto com rolação às suas 280 disposiçòos tinclinaçòos para dotorminado comportamonto) agros- sivas o hodonistas: Hojo, pola honra o glória do sonhor Josus ou troguoi a taca o o rovólvor pola Bíllia!¨ Esta tala omllomática nos mostra como a roligião cumpriu a tunção do rocanalizar suas disposiçòos agrossivas o hodonistas, o guo rosultou no dosonvol- vimonto do tortos disposiçòos oriontadas para o mundo tralalho o oxigidas pola posição do tralalhador autonomo¨ o poguono comorcianto. Ela opora nolo um rotorço do suas disposiçòos ascóticas, guo irá so canalizar na ostora do tralalho, lom como na sua roorganização da hiorarguia do sou tompo tprioridados otc.), guo so ovidoncia nosta tala: Primoiramonto ou loto Dous na tronto, o mou tralalho o dopois aguilo guo ou possuo.¨ A partir dosta convorsão roligiosa, a ostora do hodonismo so torna totalmonto intorditada. Paroco não sor igualmonto por acaso guo osta atinidado olotiva ontro osta roconvorsão dos impulsos agros- sivos, hodonistas to toda roconstrução aí implicada) o o tato do olo tor comoçado o sou nogócio próprio. No ontanto, a roligião tamlóm sorvo como uma ostora social om guo sou Josó podo roconstruir o sontido do sua própria trajotória individual o social. Ela autoriza a oxplicitação da sua trajotória do sotrimonto o do latalha som guo isso soja motivo do voxação. 15 A roligião pormito a constituição do uma ostora do sontido para sua trajotória sotrida, pormitindo sua administração¨ omocional. Ao sor alordado pola primoira voz, sou Josó distriluía om sua loja poguonos tolhotos contondo o salmo 91, guo, aliás, olo lô todas as noitos. O contoudo dosto salmo paroco sistomatizar muito lom a porcopção do mundo da gual olo agora partilha. Ela tunciona como uma torma do tilosotia prática¨. O contoudo do salmo 91 16 nos mostra um misto do roalismo o osporança, a acoitação sotri- monto onguanto roalidado tdo sua condição social dosvantajosa) o a possililidado do salvação. Tal torma do porcopção da vida ostá dirotamonto vinculada à sua posição do classo tralalhadora na gual a dotosa do sua dignidado o ostalilidado social, atravós do tralalho ostorçado, são guostòos da ordom do dia, mas nunca roalmonto garantidas do antomão. Do manoira goral, a luta o latalha por moio do tralalho produtivo disciplinado marca voomontomonto sua trajotória do classo do sou Josó. Ainda guo a privação matorial mais imodiata não tonha sido ostrutural om sua vida, om momontos do oxtroma diticuldado o instalilidado osta so toz prosonto. A radical transtormação do 281 sou ostilo do vida proporcionado pola roligião toi um guosito contral na torma pola gual sou patrimonio do disposiçòos tovo guo so roorganizar para ontrontar uma nova posição no mundo do tralalho. Cortamonto o acosso ao cródito tovo um papol propon- doranto na capitalização do sou nogócio, mas não signiticou automaticamonto nom a racionalização intorna do capital do sou nogócio, o guo acala diticultando a possililidado do roinvosti- monto oriontado o roalmonto prospoctivo. Estos dois olomontos nos parocom tundamontais na construção do Iaü:ìu: oconomico das classos dominantos. VARClA - TEV DlA QUE DO JElTO QUE ABRE, lECHA. NAO VENDE NADA, NADA! t...) NAO TEV BRA(O QUE AGUENTE, Ë CANSATlVO!¨ Várcia t43 anos) tralalha om uma poguona larraca na toira Arca do Titão. Sou omproondimonto ó muito parocido com dozo- nas do outros, dispostos lado a lado. Sou nogócio so lasoia no vostuário tominino. Com somllanto cansado, já do muitos anos do tralalho, ola, no ontanto, tala do manoira lastanto ospon- tânoa o muito ativa. Com uma ronda om torno do mil roais, osta não ó sompro tixa o dopondo constantomonto das tlutuaçòos da domanda¨, guo guaso dosaparoco ontro janoiro o tovoroiro. Sua jornada comoça às cinco horas da manhã. Ela sai do casa para o tralalho o toma aponas um cató com loito do manhã. Em goral, ola tocha às 16:30, guando o movimonto já ó muitas vozos traco. Aliás, osto guosito ó uma constanto roclamação do dola. O histórico do Várcia na ároa do comórcio ó oxtonso, tondo já vondido do tudo um pouco como: alumínio, plástico, plantas do toto¨, lacia do plástico otc. Em conciliação com sou comórcio do roupas tomininas, ola vondo trango tpois sou marido tom um alatodouro) om uma toira organizada aponas às soxtas-toiras no Parguo do Povo, rogião contral do Campina Grando. No passado, tralalhou om um cológio particular guo portoncia a sua irmã. Sompro tondo sido comorcianto, isso não a impodiu do continuar vondondo. lá, ola lovava roupas o vondia para os protossoros o para os taxinoiros. Sondo assim, o comórcio sompro toi parto intogranto do sua vida: mou nogócio ó no ramo do nogociar, podo sor o guo tor.¨ 282 Há novo anos na Arca, ola comoçou sou atual nogócio com poucas morcadorias. No CrodiAmigo, há trôs anos Várcia, assim como a maioria dos comorciantos, usa o cródito como capital do giro, ou soja, ola lasicamonto compra morcadorias para om soguida rovondô-las. Sua linha do cródito tica om torno do mil roais. A compra da morcadoria ó toita om viagom, já guo ola tom guo so locomovor ató os polos manutaturoiros mais próximos. As cidados são Turitama tpara o joans) o Santa Cruz tpara a malha). Estas viagons são goralmonto organizadas om comloio, junto com as outras vondodoras do roupas, pois os custos individuais das compras o dos gastos no local não são laratos. No ontanto, ola porcolo uma clara limitação om sou omproondimonto: t...) por isso vocô tom mais opção com o dinhoiro na mão, om proço, tom como a gonto, por oxomplo, andar, procurar, posguisar proço da morcadoria pra podor comprar, porguo agui, ató porguo não podo vondor poça cara, guo a concorrôncia ó muito grando. Quando a gonto vondo uma poça do 25 roais, o povo acha caro, aí pronto t...). Porguo agui não adianta a gonto comprar morcadoria cara, porguo tom guo sor u~g·c:· üa:aì·, ató porguo, camolo já ta dizondo nó? Aí pronto, aí a salvação por onguanto ó guo a gonto tamlóm não paga nada agui. tgrito mou) Essa passagom mostra com lucidoz dois guositos a sorom oxplicados. O primoiro ó a torma como o cródito tunciona para ola. O dinhoiro adiantado no tompo autoriza Várcia maior podor tdo larganha) na compra guo so oxplica na rolação ontro o dinhoiro na mão¨, ou soja, o cródito o a vantagom no tompo guo osto proporciona. lsto a possililita maior controlo solro a compra das morcadorias, o guo podo so rovortor no aumonto do sua margom do lucro. O sogundo ponto ó a porcopção do guo participa do um nicho intlacionado, dovido à torto concorrôncia próxima o imodiata. lsto diz rospoito a sua posição na hiorarguia local do comórcio. Ao lado da larraca do Várcia oxistom várias outras, vondondo morcadorias muito parocidas ou ató iguais. A condonação a um nicho intlacionado taz com guo ola não tonha nada do ospocial¨ para otorocor, dopondondo do uma domanda instávol o procária. Sua posição dosvalorizada na hiorarguia local do comórcio impodo guo ola tonha maior podor do morcado to do otorta), ou soja, podor do otorta solro a domanda, guo goralmonto rosulta na 283 possililidado do ostalolocor margons do lucro mais altas, tompo mais oxtonso no giro¨ do nogócio otc. Por isso, ola porcolo intuitivamonto a limitação guo oncontra om suas morcadorias tsocial o oconomicamonto dosvalorizadas), ou soja, morcadorias tacilmonto sulstituívois, laratas o som gualguor atriluto guo as dostaguo das domais. Dosto modo, o tator mandanto ó o proço laixo om dotrimonto do gualguor critório socundário, como, por oxomplo, a protonsão do otorocor morcadorias ditoronciadas, visando a agrogar distinção tostilo) na roupa tpor moio do moda, dosign otc.). A limitação ao proço larato, om razão da intlação o concorrôncia dirota, talvoz soja a mais lásica, pois a limita guaso complotamonto so dostacar dos domais, do tor algo guo a singularizo com rolação aos concorrontos mais próximos. A contradição ó a soguinto: aposar do o cródito lho pormitir maior distanciamonto o podor do oscolha na compra das morcadorias, o aumonto do sua margom do lucro ó limitada polo intlacionamonto da concorrôncia próxima. Várcia roclama constantomonto da talta do intraostrutura da toira. Um dos maioros prollomas om sua visão soria a divul- gação¨. Sondo roalocados atravós do uma política da protoitura para tirar os comorciantos amlulantos da rua, osta paroco tor sido a unica modida adotada, som gualguor outro tipo do apoio ou acompanhamonto prolongado: Bom, o protoito tala om tazor uma rotorma, mas guo ossa rotorma guom taz agui a maioria somos¨ a gonto. A gonto ó guo so rouno. Porguo agui so um guor tazor uma coisa o o outro não guor, o assim vai nó? Pra vor so molhora mais pra procisar assim, mais da gonto, ontondou? Porguo guando a gonto pogou isso agui, ora uma lona volha, agui o aspocto já ó muito toio, a visão agui na tronto t...). Aí ajoitomo¨ doi uma parto om dinhoiro, olo dou outra, o vizinho da tronto dou outra o tizomos ossa colortura agui, tizomos pra ovitar tamlóm o sol na morcadoria, salo? t...) Porguo guando ora alorto só ali no moio o povo não vinha nom pra... Uma hora o possoal guoria ató dosistir. Agui, a gonto tom a vigilância do Dous somonto. O ospírito¨ da política pullica apontado por Várcia paroco sor muito mais a do uma roalocação dosproocupada dostos trala- lhadoros do guo a do roalmonto intográ-los, protogô-los social o oconomicamonto. Valo chamar a atonção do guo gualguor tipo 284 do concorrôncia oconomicamonto ostávol supòo primoiramonto do uma rogulação mínima o, tamlóm, dopondondo do sotor, do protoçòos logal o tinancoiramonto garantidas. O morcado tunciona a partir do contlito indiroto¨, 1¯ ou soja, olo ó minimamonto rogu- lado a partir do rogras impossoais com possililidado do imposição jurídica o om ultima instância do polícia tviolôncia tísica logítima). Nosto sontido, a livro¨ concorrôncia como ajusto oconomica- monto ospontânoo ontro otorta o domanda do livro produtoros não oxisto. No ontanto, o concoito do livro concorrôncia¨ sorvo para ilustrar uma condição marcada pola procariodado, do um cada um por si¨ às avossas, isto ó, como rotrato da procariodado, guo oxprossa om grando parto o dosvalor social, oconomico o, no caso, político dostos latalhadoros comorciantos. Aí, a lilordado do concorrôncia¨ signitica muito mais o alandono guaso total do guom tom guo lidar com as arlitrariodados o instalilidados mais imodiatas om tunção do sua posição dosvalorizada na hiorarguia social do guo uma compotição social modiada por condiçòos somolhantos do partida. Ao sor porguntada solro guais soriam as mudanças guo dovoriam ocorror para guo a toira tosso mais próspora, Várcia nos mostra uma porcopção pró-rotloxiva da nocossidado do uma vordadoira roconstrução simlólica do ponto: Por guo agui o possoal, a gonto já acalou com o movimonto do... Porguo agui diz guo já toi nogócio do prostituição, o aí diz guo já acalou muito com osso local. Aí a gonto guo polojou com o protoito o tudo, guando dá 6 horas, ¯ horas, os vigias dagui já tocham o portão, por guô? Porguo a gonto não guor lolodoira agui. lsso agui não tom sogurança, não tom nada. Quo sogurança guo vocô tom com um cadoado dossos? Porguo so não tor o vigia, o povo guolra isso agui o pronto, tira a morcadoria. Uma voz choguoi agui o a morcadoria tava toda no chão, guor dizor, ora coisa do gonto conhocida, por guô? A gonto vondia muita poça do joans, aí roviraram tudinho o só tiraram as poças do joans, as mais tracas olos jogaram agui. A procariodado da toira apontada por Várcia não so dá aponas no tato do uma carôncia matorial imodiata como a talta do uma colortura contra o sol para protogor as morcadorias, lom como a alortura do novas ontradas, guo molhoraram a oxposição das larracas ao pullico. O guo ola oxplicita inconsciontomonto aí, ó 285 guo a roconstrução da toira, alóm dostos olomontos lásicos, dopondo do toda uma roconstrução igualmonto simlólica, atastando o ostigma da procariodado tdo sor um camolo) o sua consoguonto proximidado social com a dolinguôncia local. Como vomos om sua tala, a divulgação¨ ó igualmonto a transtormação do ponto do vonda om um lugar minimamonto soguro o aprosontávol, som guo ostoja associado ao ostigma dolinguonto o no invostimonto ostótico om sogundo plano. Esto ponto comporta, inclusivo, as ostratógias do salotagom dontro da própria toira, ou soja, da concor- rôncia solvagom ontro si, como no caso do roulo guo sotrou por sous próprios concorrontos. O rolaixamonto à margom do sotor comorcial ó tamlóm a sua trontoira social associada à dolinguôncia, oxposta intuitivamonto por Várcia. A roconstrução simlólica do local do tralalho como sondo minimamonto soguro¨, limpo¨ o lonito¨ oxpòo dimonsão normativa da oconomia como não sondo um jogo do torças sociais livros o igualitárias do compotição, mas dotorminado por condiçòos sociais o matoriais próvias dosi- gualmonto distriluídas ontro as classos sociais. Como vomos, osta dimonsão normativa ó ostroitamonto ligada à possililidado do maior rondimonto oconomico o do podor do morcado solro a domanda socialmonto construída o conguistada. No caso particular do Várcia, sondo ola comorcianto do vostuário tominino, o dos- valor social ligado ao toiranto¨ posa mais do guo, por oxomplo, no caso do ramo do trutas ou um titoiro¨, já guo o rondimonto oconomico do sotor¨ do vostuário ostá intimamonto ligado à dimonsão ostótica o da otorta do ostilo. Na rolação ospocítica com o cródito, Várcia oxilo um sólido rigorismo oconomico, mas guo nom sompro vom acompanhado da contrapartida oconomica mais torto do sou nogócio. Esto doscompasso taz com guo ola porcola o cródito como algo positivo, mas guo tamlóm so constitui numa ospócio do tardo¨ o proocupação¨ constanto: Aí rapaz, lriga ó lriga, mas muita gonto taz ompróstimo do CrodiAmigo o ajudou lastanto, so ou dissor guo não ajudou ou ostou montindo, ajudou muito, salo? Vas principalmonto porguo vocô tom aguolo dovor todo môs, so vocô taz o ompróstimo do mil conto, ó duranto guatro ou sois mosos, guo ou sompro digo à Damaris tparcoira no grupo do ompróstimo): olha Damaris, ou não gosto do ompróstimo comprido, paroco guo nunca tom tim, ou gosto ó do nogócio curto porguo guanto mais curto molhor, 286 a gonto paga a taz outro. t...) Aí pronto, aí ou ajoitioi¨ o a gonto ontrou, o nosso CrodiAmigo, ou o minha mão, porguo minha mão não guoria, ola dotosta dívida... Rocolo pouco dinhoiro pra comprar ossas coisas todas, mas ó molhor do guo vocô ostar dovondo salo? t...) Ë muito traco, so tosso um comórcio lom... So tosso um movimontão¨ agui, toda somana a gonto viajava pra Santa Cruz, guo ató chogar o dia do tazor o pagamonto da dívida, ia ontrando dinhoiro agui, nó? A laixa contrapartida oconomica do nogócio do Várcia com- promoto a visão a longo prazo. Ë por osto motivo guo o omprós- timo ó porcolido como algo, om parto positivo, mas guo dovo sor guitado o guando antos. Um oxomplo disso ó o caso do sua mão, guo constantomonto adianta o pagamonto dos ompróstimos om dois a trôs dias com rolação à data do oxocução da parcola. Alóm disso, a rolação com as dívidas do cródito nos mostra o rigorismo oconomico tortomonto incorporado om alsolutamonto todos os ontrovistados. Ë agui guo so mostra a dimonsão moral o simlólica da oconomia, já guo pagar uma dívida nunca ó simplos- monto uma ação puramonto oconomica, mas goralmonto tom a vor com a atirmação moral do sua própria autonomia individual toconomica o moral), do sua capacidado autocontrolo o do sua autorrosponsalilidado dianto da sociodado. Ou soja, nos rolatos dos ontrovistados, pagar uma dívida ó uma torma do soliditicação do um sontimonto do dignidado, rospoito o honostidado. A sua dinâmica do omproondimonto ó condicionada polo curto-prazismo. Esto ponto ó oxplicado polo laixo volumo do vondas do sou nogócio, o guo condiciona o sou giro¨ oconomico a curto prazo. Portanto, laixo volumo do vondas tguo ó ilustrado na laixa margom do lucro, por oxomplo) do comórcio traco¨ limita o tompo oconomico do nogócio. Dosta manoira, a possili- lidado do roinvostimonto oriontado no longo prazo tamlóm tica lastanto compromotida. A hiorarguia social da oconomia tamlóm prossupòo a distriluição dosigual do dinhoiro o do tompo tguo ó tamlóm um rocurso socialmonto oscasso) do acordo com as posiçòos do classo. Para roalmonto comproondor o guo acontoco ó prociso uma porspoctiva mais ampla, isto ó, a guo rolaciona a construção das disposiçòos oconomicas com as disposiçòos do classo incorporadas. Ou soja, ó justamonto por sua posição dominada do classo na oconomia o no tralalho, marcada pola urgôncia oconomica do nogócio, guo osta latalhadora comorcianto ó 28¯ impodida do gualguor ostruturação o dominação do tompo social da oconomia a partir do um lastro mais contortávol o prolongado. A dominação da oconomia ó tamlóm a dominação do tompo, o guo condiciona o vordadoiro domínio solro o capital. Esto ó o motivo do Várcia protorir o nogócio curto¨. Como vomos, o curto giro¨ tno sontido mais amplo) do nogócio ó dovido ao sou dosvalor oconomico oljotivo o om nada so assomolha com o oncurtamonto do giro¨ das grandos omprosas altamonto dito- ronciadas o lurocratizadas, tanto no invostimonto calculado do sou capital tinancoiro guanto na intonsiticação da oxploração do tralalho. Em outro momonto da ontrovista, ao contar guo já toz vários cursos om várias ároas como contocção do lonocas, tloros omlor- rachadas o do culinária ttalricação do ü::cu:ì), ola atirma guo: lsso não tom tuturo não! Ë um nogócio lonto o dovagar t...) N~g·c:· ü·n ~ ì·na Iá uá cá.¨ Sor dovagar o lonto¨ signitica guo o nogócio oxigo um invostimonto o planojamonto mais domorado com rolação ao rotorno oconomico do capital invostido. Ë aí guo sua limitação do classo so torna ovidonto. Assim como sou Josó, porcolomos guo a administração do cródito toita por Várcia não nocossariamonto tom uma tinalidado oxclusiva para o sou omproondimonto. No tocanto ao impacto do microcródito om sou omproondimonto, ola conta guo: Ajudou, agora porguo agui, ó o soguinto: ola lota a morcadoria agui, do CrodiAmigo, mas tamlóm às vozos ou tiro assim... Pras dosposas do casa ontondou? Aí tica, ondo não so tira, não so coloca, ó como diz o ditado nó? Tira muito, agora mosmo ou doi dinhoiro pra uma solrinha minha guo tá intornada, tá com donguo, aí ola, a minha ox-cunhada, ola ó soparada, divorciada do mou irmão. Já sou ou guom dou a ponsão da monina, salo, por ola tor lotado mou irmão na justiça t...) Hojo mosmo ligou dizondo guo tá som truta om casa, guo só tava comondo sopa t...) Eu disso: poguo¨. Porguo a lichinha tava dosidratada porguo ola tava com muita porda do sanguo... Atontamos agui para o tato do guo o omproondimonto do Várcia não so constitui onguanto uma unidado oconomica vordadoira- monto autonoma. O dinhoiro aplicado no om sou nogócio não ostá totalmonto soparado das nocossidados do lar. Ao contrário, osta dopondôncia so oncontra ainda mais ostroita guando a tamília ó 288 assolada por uma doonça ou instalilidado gualguor. Esta instali- lidado tamiliar, om razão da doonça, oxigo o rodirocionamonto da hiorarguia no uso do dinhoiro, guo om parto so vô compromotido polo sustonto da unidado tamiliar. Ë na torma pola gual Várcia controla os rotornos tinancoiros do sou omproondimonto guo podomos tor uma noção da margom do lucro. Ela não taz controlo oscrito o curiosamonto tom noção do guanto ganha om razão do tirar os 10/ do cada poça para pagar o dízimo. Várcia ó ovangólica tproslitoriana). Então, ó só sultrair o rostanto do valor da compra no tornocodor. No ontanto, ola mosma porcolo guo na hora do colocar os proços o intlacionamonto da concorrôncia imodiata a projudica muito: t...) A gonto ó guom taz, goralmonto a gonto compra, tom as coisas guo a gonto compra a cinguonta roais o vondo a mil roais, a gonto ó guo lota o proço da gonto, salo? Tom guo a gonto compra a sois, soto roais o vondo a soto, cinguonta, oito roais. Tom morcadorias guo a gonto vondo o ganha a motado, tom outras guo vocô compra caro, um vizinho mou guo comprou a llusa a guatorzo, guinzo roais o vondo a vinto. Aí não dá pra puxar mais por causa da concorrôncia vizinha, ontondou? t...) Não tamo vondondo no cartão por conta da coisa... O lom ou ruim do vondor pouco agui, mas polo monos :·c~ ìa j~gauu· · u:uI~::· o outra coisa, o povo tica ató com raiva do vocô, so ticar lho dovondo um, dois roais ó molhor vocô dizor: lovo! lica por isso mosmo!¨ Porguo não paga não. Vomos agui guo a módia do lucro ó 50/ om cima do valor do compra, mas guo gora uma margom do lucro unitário laixíssima. lsto ó, om grando parto dovido ao intlacionamonto na concor- rôncia próxima, mas tamlóm om razão do vondorom om toira, já guo a dosvalorização do local do vonda tamlóm intlui na margom do lucro possívol solro a morcadoria. Do torma complomontar, podomos chamar a atonção para a porcopção do Várcia com rolação ao dinhoiro, guo goralmonto ostá ligada ao curto prazo ou ao tuturo próximo, ou soja, a molhor situação do nogócio ó aguola om guo so ostá com o dinhoiro na mão¨ ou dinhoiro no lolso¨ om contrasto com a vonda a prazo ou no cartão, o guo prossupòo maior volumo do vondas. Quando vondia tiado, Várcia sontiu na polo a instalilidado provocada polos calotos guo lovou. Som gualguor garantia tormal 289 o prática tjurídica) do compromisso oconomico, o tiado ó o contraposto do ompróstimo, aposar do os dois sorom tormas do pagamonto a prazo. O ompróstimo no lanco sompro onvolvo um risco calculado, por oxomplo, no caso do ostudo próvio das condiçòos da tomada do cródito tchamado do ostudo do carátor) o as possililidados roais do pagamonto. 18 Ao contrário, o tiado impòo um tipo do contiança¨ do risco total som uma contrapartida nocossariamonto garantida: Os pagadoros guo dão tralalho ou cortoi a maioria. Tom uns guo tavam mo dando dor do caloça, mas ou vou lovando om lanho Varia¨, porguo so pordor ó pior, salo? Não tonho nonhum comprovanto, não tonho nada. Vinha mão disso: ó minha tilha, a pior coisa guo tom ó a tal da prostação. Na roali- dado ó uma vordado. A má oxporiôncia com o tiado tamlóm contriluiu para a maior doscontiança na vonda a prazo, o guo tica ainda mais complicado, dianto da laixa margom do lucro. No ontanto, ola atirma om outro momonto guo ó molhor lovar os maus pagadoros om lanho Varia¨ do guo cortar rolaçòos, o guo ó uma torma do mantor a osporança, muitas vozos longíngua o som roais garantias, do guo um dia soria rossarcida. Várcia ó casada, mas não tom tilhos. Com uma rotina do tralalho posada, o tompo para gualguor tipo do lazor tica muito diminuído. Um do sous orgulhos possoais ó o do não dopondor oconomicamonto do marido, pois sompro gostou do tor sou próprio dinhoirinho¨. Na ontrovista, goralmonto a construção da justiticação do suas disposiçòos para o tralalho vom oxprossada no idoal do mulhor tralalhadora o oconomicamonto autonoma: Sompro gostoi do tor mou dinhoiro, pra não dopondor do homom pra nada, corto? Quando vocô guor comprar suas coisas vocô tom sou dinhoiro pra comprar. A pior coisa no mundo são aguolas mulhoros na moita parada, dopondondo do dinhoiro do marido. Gosto disso não! Graças a Dous tudo o guo ou tonho toi conso- guido com sacritício o tralalho, com ostorço o ou agradoço muito a Dous. A conguista da sua indopondôncia oconomica ó uma torma do oxprossar sua própria trajotória social do luta, guo conta com a dupla dominação social: a do classo o a do gônoro. 19 No ontanto, 290 o proço¨ do invostimonto social no tralalho ó tamlóm o do adormocor¨ disposiçòos normalmonto ligadas ao univorso sim- lólico tominino, como a proocupação ostótica com o corpo, a matornidado o as tarotas do lar. Sua dominação social dolrada ó tamlóm o sou omlrutocimonto¨ o masculinização¨ simlólica. Ë polo mosmo motivo guo Várcia critica sou irmão por sor um homom som pulso¨, um vordadoiro locó¨, sogundo ola: Vou irmão ó um vordadoiro locó. Olha, olo ó tão losta guo ou vou dar só um oxomplo, do tão losta guo olo ó. t...) Elo tica calado o não taz nada!¨ Ela agui taz uma crítica à passividado atitudinal do sou irmão dianto do mundo, o guo por outro lado ó um ologio às disposiçòos ativas, ligadas ao univorso masculino o ao mundo do tralalho. So o sou irmão ó o sou oposto ó porguo, alóm do homom, ó um homom locó¨ som virilidado om sua visão. Estas disposiçòos ativas¨ são aguolas guo Várcia incorporou, om sua trajotória social, marcada pola dodicação guaso intogral ao mundo do tralalho ao socundarizar o mundo domóstico o ostótico. Em complomontação a osta oxplicação, ola atirma não tor grandos proocupaçòos ostóticas consigo por não tor tompo para so proo- cupar com ostos prollomas. Em sua condição do classo trala- lhadora, a incorporação do uma torto ótica do tralalho so torna um ompocilho para a manutonção do disposiçòos normalmonto ligadas ao univorso tominino. Outro ponto guo ilustra sua dupla dominação incorporada ó guando ola conta guo om uma discussão com um homom na toira, olo disso guo latia diariamonto na própria mulhor o guo ora por osso motivo guo ola tsua mulhor) o amava. Solro isso ola rospondo: Porguo ola ó uma pilantra igual a vocô, ó uma vagalunda satada, porguo so tosso uma nuII~: u~ :~:g·uIa, ola não vivia com um vagalundo da sua gualidado, pra ostar apanhando todo o dia!¨ Agui, sor uma mulhor do vorgonha¨ ou tralalhadoira¨ ó uma torma do oscapo do dostino social do gônoro muito comum om sua classo social: o do ostar na moita¨ do marido, ou soja, sor uma mulhor dopondonto do homom, sor possivolmonto uma vagalunda satada¨ tcuja alusão com a prosti- tuta ó lom tactívol). Estar suscoptívol a apanhar diariamonto, lom como sor moro oljoto soxual do dosojo masculino 20 são dostinos sociais muito comuns om sou ospaço social próximo. A rolativa autonomia oconomica, rosultado do sua torto ótica do tralalho, possui uma rolação com uma dignidado do gônoro¨, do podor 291 polo monos tor alguma saída para uma possívol sulmissão dirota o imodiata ao soxo masculino. Com poucos rocursos sociais o muito ostorço possoal, Várcia sompro conduziu sua vida polo tralalho disciplinado o ostorçado, o guo ovitou um dostino social do sulmissão imodiata ao marido toconomica o possivolmonto tísica). Vosmo cansada o com pro- llomas do saudo visivolmonto ligados a sua longa trajotória do tralalho, ola continua latalhando no comórcio com porsovorança. DANlEl - A VlDA JA TA ENTREGUE NA VAO DAQUElE lA DE ClVA. EU SOU APENAS A lERRAVENTA PRA TRABAlHAR PRA ElE.¨ Com uma larraca do trutas na toira do Arco do Titão, Daniol t31 anos) tralalha om módia 13 horas por dia, chogando às sois da manhã o torminando às soto da noito. Quando toi alordado na sogunda ontrovista, olo contou guo duranto o dia intoiro sua rotoição tinha sido um pacoto do liscoito salgado o uma garra- tinha do rotrigoranto. Sua larraca ó contral o ó lom visívol para guom passa om tronto à toira, tondo, portanto, uma localização privilogiada. lsso tamlóm so rovorto om sua autoostima, om sua atitudo corporal porsovoranto o com traço do lidorança, mas com lom humor. Daniol comoçou codo no comórcio, aos 13 anos do idado, o dosdo ontão nunca mais parou do tralalhar. Assim, porcolomos nolo a torto prosonça do uma :·c:aI:za¸a· j::ná::a ~ u::c:jI:ua: aì:a:~: ~ ja:a · ì:aüaII· :·c:aIn~uì~ j:·uuì::·. Por conta disso, só cursou ató a 4` sório do onsino tundamontal. Sua ronda lruta ó do guatro mil roais, o guo ó na módia lom olovada. Nolo porcolomos o sinal do uma asconsão oconomica mais sólida. Contudo, so hojo Daniol goza do uma situação um pouco mais contortávol, o caminho porcorrido por olo não toi tácil. Elo conta guo passou nocossidados matoriais imodiatas na intância, mas guo ostas nunca toram ostruturais. No ontanto, ao comontar isso, olo logo sonto a nocossidado do so justiticar dizondo guo isso nunca toi uma prorrogativa para roular ou comotor crimos, o guo oxilo a constanto proocupação do ovitar cair no dostino social trágico da dolinguôncia. Esto tator mostra, nosto latalhador, o traço do uma ostruturação tamiliar mínima, concontrada om uma socialização disciplinar primária no o polo tralalho: Vou 292 pai morrou no chão da CEASA. Elo criou a gonto tralalhando! Como so tom aí tamília do possoal guo tom muitos advogados: pai advogado, tilho advogado t...) só guo minha ároa toi outra!¨ Na juvontudo, chogou a tralalhar do motoloy, tazondo licos do mototáxi guando ganhava na taixa do oitocontos roais. logo após ossa ópoca, olo comoçou a tralalhar como uma ospócio do aprondiz do antigo dono do sua atual larraca, do guom já tora sócio no poríodo om guo olo vondia truta na rua. Dopois, sou sócio so tornou sou patrão o osto rosolvou tor um ponto tixo na toira. No ontanto, mosmo tralalhando do tuncio- nário, Daniol sompro mantovo uma rolação do proximidado com sou antigo sócio. Com admiração, olo conta guo osto patrão lho dou uma chanco om razão do sua loaldado o disso guo guando morrosso, vondoria as larracas aponas a Daniol. loi o guo acon- tocou. Ao narrar solro a ópoca om guo comorcializava na rua ó guo porcolomos nolo tassim como nos domais ontrovistados) a contraposição ontro sor omprogado o tor o próprio omproon- dimonto. No ontanto, om Daniol osta guostão surgo do manoira mais torto do guo nos outros. Porcolomos nolo uma valorização do tralalho autonomo¨: Na ópoca guo ou tralalhava na rua, o Hipor Bomproço mosmo, o goronto do hortitruti do lá mo chamou pra tralalhar lá o ou rocusoi. Vandoi um cologa mou. Passou 30 dias o guisoram guo ou tosso. Aí ou disso: vou não.¨ O salário do lá, olos ia¨ otorocor duas vozos mais. Só guo a gonto não dovo visar só isso. lmagina hojo... Eu vivo ponsando: imagina so ou tivosso acoitado a proposta.¨ Podia tá lom, podia sor o goronto do hortitruti, ontondou? Vas podoria ostar a mosma coisa tamlóm. O guo ou achoi molhor agui ó guo ou tonho a minha lilordado... Alro o tocho a hora guo ou guoro! Eu crosci o agora ou tonho o guo comor! Tom guatro anos guo ou tralalho pra mim. Hojo ou tonho casa, hojo ou tonho carro, hojo ou tonho ossos pontos, guo ou não dou nom por 100 mil roais. Tudo isso tirado dagui. So ou tivosso no Hipor Bomproço ou acho guo ou tava no aluguol. Olsorvamos constantomonto no ontrovistado a rolação ontro autonomia¨, lilordado¨ o a possililidado do montar o próprio nogócio. Em contrasto, mosmo com um lom salário, a posição do omprogado ó porcolida por olo como uma torma do ostag- nação social. O omprogo do comorcianto ó visto como sinal 293 do lilordado¨, onguanto o do omprogado ó do ostar proso às ordons do patrão. Em parto, osto ponto tom a vor com o tato do Daniol assumir a posição do comorcianto autonomo¨, guo lho contoro a acumulação privada do lucro do sou próprio tralalho o a ausôncia do um patrão imodiato como um suporvisor. Por outro lado, osta sonsação do autonomia¨ ó igualmonto sontida tdo manoira torto) por conta do Daniol tor oxporimontado corta asconsão social o oconomica, o guo lho pormitiu consumir coisas guo olo antos não tinha acosso. Estos dois tatoros comlinados provocam nolo uma ospócio do :IIu::· da autonomia¨ tsocialmonto produzida), guo taz aparontar sua asconsão como sondo truto unico o oxclusivo do sua própria vontado individual som guo olo mosmo so dô conta consciontomonto das condiçòos sociais do possililidado para guo olo pudosso do tato ascondor oconomicamonto tcomo o próprio acosso ao microcródito, a aguisição do uma cliontola o um ponto tixo, sua posição privilogiada com rolação aos concorrontos imodiatos na toira otc.). Esta contradição tica ainda mais clara guando olo so rotoro à protonsa lilordado total do sor patrão do si¨. 21 A ocupação do comorcianto indopondonto tdo sor patrão do si¨) alro aparontomonto a chanco alrir o tochar a gualguor hora¨, mas o tato ó guo as roais chancos do isso acontocor são guaso nulas. 22 Valo lomlrar guo Daniol tom uma jornada diária do 13 horas do tralalho guo vai do sogunda a sálado. Ë como so sua asconsão oconomica como comorcianto autonomo¨ contri- luísso para uma roatirmação rotorçada da idoologia liloral do omprosário individual ao ostilo solt-mado man¨. Esta :IIu::· da autonomia¨, roproduzida nas aspiraçòos o disposiçòos para cror, 23 vom om par com o modo do justiticação rolativamonto inódito do capitalismo tinancoiro, a do guo vivomos na ópoca om guo todos podom sor omprosários, todos podom sor capitalistas o do guo todos podom sor omproondodoros¨ tdo grando porto). Como toda idoologia, osta ó uma moia-vordado, pois sua autonomia¨ tamlóm taz surgir novos constrangimontos, como o alargamonto indotinido do sua jornada do tralalho. Esta torma do :IIu::· podo sor considorada como a dimonsão incorporada dosto novo modo do dominação o justiticação. A com- proonsão da construção dosta torma do disposição para cror só podo sor roalmonto comproondida so articulamos a trajotória social do Daniol o o sou portoncimonto a uma nova classo tralalhadora 294 tom sua tração comorcianto), guo podo sor considorada como o suporto social mais importanto dosta mudança no rogistro prático da justiticação. 24 Esta disposição do cronça tom otoitos, por oxomplo, om outras ostoras do sua vida, como om sua porcopção política. Esto mocanismo so rovorto no constanto rochaço da ostora polí- tica como domínio sujo¨ o, portanto, irrolovanto lom como uma roatirmação radical da idoologia do mórito individual: Sompro tivo coragom pra tralalhar. Emprogo nunca mo taltou. Só talta omprogo pra guom ó vagalundo o proguiçoso!¨ Há corca do trôs anos na Arca do Titão, Daniol usou o CrodiAmigo duranto algum tompo. O sou uso do microcródito toi inconstanto o olo já não ponsa mais om continuar tuturamonto. Elo nos conta guo usou o microcródito om horas do aporto como uma torma do capitalização inicial do sou nogócio: Eu ató taloi pros amigos mous guo guando ou torminar tdo pagar as parcolas tinais) ou vou sair. Por guo... So ou tava procisando dolo, ou poguoi já pra oliminar contas. Eu não vou continuar pogando pra continuar pagando contas o juros som nocossidado. Vas so ou voltar a procisar a usar com cortoza vou. Vou cródito lá tá alorto. A porcopção do cródito como capitalização inicial na hora do aporto¨ ou como modida omorgoncial taz com guo, om alguns casos, osto não constitua como uma modida prospoctiva o na possililidado do oxpansão tutura. Por osto motivo, sua intogração complota, lom como sua utilização om outras ároas do nogócio, paroco sor rostrita. Ató porguo, o cródito, na larga maioria das vozos, ó omprogado sol torma unica do capital do giro som guo sou uso so oxpanda para outras ároas como tonto do roinvostimonto. Vas osto uso so dá muito om razão do um limito da própria consti- tuição particular dostos omproondimontos popularos tcamolo): são goralmonto larracas muito simplos, som gualguor protonsão da construção do uma dimonsão intraostrutural, ostótica o distintiva do omproondimonto tguo ó oconomicamonto rontávol), poguonas o com pouco ospaço ontro si, guo guaso sompro concontram o tralalhador o o omproondodor¨ na tigura do um indivíduo, som gastos o custos tixos tintormal) com uma intraostrutura, na gual a contralidado oconomica da morcadoria para o nogócio ó guaso guo oxclusiva. 295 Com uma loa variodado do trutas tlanana, acorola, macaxoira, maçã otc.), Daniol oxilo alguns planos concrotos para oxpandir o sou nogócio, mas guo não rovolam o cródito como modida intogranto dostos projotos. Um dolos ó comoçar a vondor no cartão o o outro ó a oxpansão na vonda do logumos. O intorosso na vonda polo cartão rovola um volumo rolativo do vondas mais olovado, já guo o convônio com os lancos oxigo o pagamonto do uma porcontagom om cima das vondas, o guo nom sompro valo a pona so osto volumo do vondas tor laixo. Na porcopção do dinhoiro, Daniol tamlóm so ditoroncia um pouco dos domais. Ao contrário do um ostrito curto prazismo, sua rolação com dinhoiro ó um pouco mais prospoctiva o alongada. Para olo: O dinhoiro ó pra vocô salor utilizar, salor administrar olo. Vocô podo ganhar lilhòos, mas no outro dia vocô podo ostar som nada. t...) Com o dinhoiro vocô não podo visar só o momonto, tom guo invostir... .¨ Essa noção do invostimonto ovidoncia a incorporação do uma disposição um pouco mais prospoctiva com rolação ao dinhoiro, guo so rotloto na própria contrapartida oconomica mais olovada do sou omproondimonto o no campo do possililidado rolovado por osto tator. O dinhoiro não ó aponas um moio do troca noutro, mas supòo um Iaü:ìu: tdisposição social) ospocítico no tompo, guo ó dopon- donto da posição do urgôncia oconomica tou não) na hiorarguia social das classos. Dosto modo, a posição privilogiada do Daniol no comórcio local o a molhor contrapartida oconomica rolativa do sou omproondimonto tamlóm pormitom guo olo incorporo uma disposição mais alongada do dinhoiro no tompo tcapital). Dosta manoira, oxisto uma rolação ontro oxpoctativas do crosci- monto tguo so rovorto om planos tuturos, invostimontos otc.) o a posição oljotiva o rolacional do omproondimonto com rolação primoiramonto aos concorrontos imodiatos o socundariamonto ao ramo¨ ou sotor¨ como um todo. Ë procisamonto osta rolação guo lho contoro as chancos roais o oljotivas do roalização do suas aspiraçòos. Sua larga oxporiôncia no sotor do trutas tamlóm lho pormito uma porcopção mais alargada do sou nicho ospocítico. A variodado do trutas ó, para olo, algo ossoncial, já guo guando o clionto taz a compra, olo não aponas lova o guo ostá ospociticamonto procurando, mas todo o rosto. Por isso, olo oxplica guo o lucro não so dá na vonda tinal da morcadoria, mas om sua compra: 296 Porguo a compra não so ganha na vonda não, so ganha na pró- pria compra. Ë tudo ao contrário. Vocô toz uma compra loa lá o vocô tala: já ganhoi dinhoiro!¨. Vosmo antos do vondor vocô já salo guo vai dar corto. Ë uma visão muito goral. So vocô visar só no guo vocô tá, vocô coga pro outro lado o vocô não salo o guo ta passando. t...) Tom dia guo vom a morcadoria o só guom tom sou ou o a outra possoa lá tna Arca da Catodral). Agui, Daniol nos mostra guo o olo ontro lucro o porcopção intuitiva da concorrôncia são dois olomontos conjuntos. O tato do olo onxorgar a rolação do lucro com sou dostaguo da concorrôncia mais imodiata tguo signitica a loa compra¨) oxilo a incorporação do um conhocimonto pró-rotloxivo o não oscolar, mas guo so rovorto om um molhor dosomponho oconomico. Esto conhocimonto ó om grando oscala incorporado om razão do uma socialização próvia om sou próprio ramo do nogócio, o guo ó igualmonto o guo lho dá um rolativo ditoroncial com rolação aos sous concor- rontos mais próximos. O liamo ontro sua posição rolativa om sou sulmorcado¨ ospocítico o o conhocimonto pró-rotloxivo adgui- rido pola socialização no ramo do trutas ó o guo lho pormito tor uma ostratógia¨ oconomica um pouco mais distanciada no sontido, por oxomplo, da tomada um risco controlado. 25 Nosto aspocto, sua ostratógia mistura tanto o roalismo dianto do sua posição social guanto à aspiração a um croscimonto possívol o dosojado. Aliás, ó nosto momonto da compra guo o cródito cumpro sou papol tundamontal, pois o adianto do dinhoiro no tompo possililita maior podor do larganha tronto aos tornocodoros, o guo gora mais lucro o, portanto, um oxcodonto na ronda dostos comorciantos tvoromos om dotalhos na próxima soção). Com muita latalha o luta Daniol atualmonto consoguo tor corto contorto matorial, como uma casa digna¨, um carro o a osporança do promovor a oducação do sous tilhos. A dotosa do sua dignidado moral o matorial no morcado não toi, do modo algum, porpassada por uma ostalilidado social garantida do antomão. No ontanto, ó curioso, por oxomplo, como a oxporiôncia da asconsão oconomica tamlóm lho contoriu corto papol do lidor o consolhoiro dianto do sous irmãos mais volhos o cunhados. Esto papol so dá principal- monto com rolação à condução da vida oconomica dostos, guo não tivoram o mosmo sucosso oconomico guo olo. Sous projotos para sous tilhos são marcados pola constanto domarcação do aumonto da oscolaridado dostos. No ontanto, a 29¯ contradição do latalhador dianto das instituiçòos do onsino ó o do não dispor do rolaxamonto do classo antorior roprosontado pola condição do tompo livro to sua roconvorsão na possililidado do dodicação intogral aos ostudos o o dosonvolvimonto da capa- cidado do concontração), olomonto contral na chanco oljotiva do sucosso oscolar o da garantia do um omprogo gualiticado, do gonto ostudada¨. Em uma das ontrovistas, Daniol tala do sou sonho para uma vida ostávol para sous tilhos tguo olos tizossom um concurso pullico), contralizada no aumonto da oscolaridado dostos. Nosto momonto olsorva-so uma contradição om sua tala, pois, ao mosmo tompo guo dosoja tilhos ostudados, olo atirma guo dontro do algum tompo sous tilhos iriam ajudá-lo om sou comórcio. Ou soja, osto sonho ó contraposto pola nocossidado do intonsa socialização antorior no mundo do tralalho, guo so impòo como imporativo na sua condição do classo. Entrotanto, na proocupação com os tilhos Daniol so mostra lastanto proocupado com a possililidado do sous tilhos caírom na dolinguôncia, o guo para olo ó uma guostão do suma importância. Nossa ocasião, olo atirma guo sous tilhos não podom tor nonhum amigo so antos não passarom por sou crivo moral¨ do acoitalilidado. Quando olos tôm um amigo novo, sous tilhos são olrigados a aprosontá-lo ao pai, Daniol, guo já suspoita guando ostos cologas já comoçam a talar choios do marra¨ ou choios do gírias¨. 26 A proocupação do uma socialização disciplinar atravós do tralalho, trazida ao cotidiano, ó um indício da tontativa do oscapo das posiçòos sociais mais dosvalorizadas na hiorarguia moral ocidontal. llNDOVAR - A GENTE ERA TRABAlHADOR! TODA VlDA EU lUl TRABAlHADOR, TODA VlDA. EU NAO TlNHA VEDO DE PEGAR NO PESADO NAO! A GENTE NUNCA PREClSOU lAZER COlSA ERRADA!¨ lindomar vondo trutas om uma larraca nos tundos da toira Arca da Catodral. Sou comórcio tica om moio a outros dois do mosmo ramo o ao lado do uma larraca do DVDs o CDs pirata. Com uma vida sotrida o do muito tralalho, hojo olo consoguiu, assim como os outros, um poguono ponto tixo nosta toira. Sua jornada ó das 0¯:30, ató às sois horas da tardo. Aos sálados olo vondo om outra toira próxima o tica lá do cinco da manhã ató as cinco o moia da tardo. Ë tamlóm aos sálados guo lindomar codo 298 o sou ponto na Arca para o sou tilho, guo tamlóm ó vondodor do trutas, mas tom sou comórcio principal no lairro ondo moram. Atualmonto morando om um lairro do poritoria da cidado, olo conta guo o local toi maliciosamonto apolidado do catinguoira¨ por causa do tótido choiro oxalado por algumas árvoros o pola dogradação como um todo do lairro. Há novo anos na Arca, lindomar t4¯ anos) rolomlra guo hojo tom uma condição um pouco molhor do guo tinha no passado. Sou comoço não toi dos mais tácois. Com um passado do vonda na rua, sua transtorôncia para a toira não lho rondou uma posição ostalolocida do imodiato, ao contrário. Sua principal diticuldado não ora nom a capitalização inicial para a compra do morcadorias tmosmo som cródito a princípio), mas a divulgação do sou nogócio, ou soja, sua invisililidado oconomica. Nosto caso, o tato do participar do uma ároa rolativamonto intlacionada, om guo não so tom nada do ospocial a otorocor¨, lho impodiu, inicialmonto, do constituir uma rolação minimamonto ostávol ontro otorta o domanda. Como rosultado dosta procariodado inicial o som tonto do sulsistôncia oconomica monotária tdinhoiro), olo troguontomonto comia suas próprias morcadorias para não passar tomo. Aliás, ó justamonto osto intlacionamonto da concorrôncia imodiata, como ontro os omproondimontos popularos analisados, guo provoca mudanças sulitas na protorôncia do clionto, mas guo ó sompro porcolida do torma individualizada. Som ontondor complotamonto o guo acontoco, lindomar intui guo ossa mudança acontoco om razão do olo tor toito um mau atondimonto¨. Em sou passado roconto, olo vondou trutas na rua. Após um dia trustranto à procura do um omprogo om tirmas, ao voltar para casa olo passou na toira contral. lá, olo oncontrou outro vondodor do trutas, um conhocido guo o chamou para tralalhar. No mosmo dia o homom codou algumas caixas do truta para lindomar, guo comoçou a vondô-las o toi lom-sucodido. Esta contingôncia paroco tor alorto um campo¨ do possililidados para olo, já guo o tracasso podoria signiticar sou mais lrutal rolaixamonto social. Nosto caso, a procura por um omprogo om uma omprosa ó, para lindomar, guaso um sonho, pois, analtaloto, suas chancos do insorção om um omprogo minimamonto gualiticado são guaso nulas. Aliás, nosto guosito, o poguono comórcio cumpro uma tunção social poculiar, na modida om guo osto concontra duas propriodados contrais, ligadas à condição do classo dostos 299 latalhadoros: a) oxigo pouco ou guaso nonhum conhocimonto tócnico ospocializado na sua manutonção o condução, 2¯ l) na maioria dos casos proporciona um rotorno oconomico no curto prazo, ou soja, urgonto. Já comorcianto autonomo¨ o vondondo na rua, ondo tralalhou duranto 13 anos, a vida do lindomar não so tornou mais tácil. Constantomonto proocupado com o rapa¨ tos tiscais), não tinha um ponto tixo, o guo transtormava o sou tralalho ainda mais complicado o incorto. Um dia achou um ponto na porta do um oditício comorcial ondo tuncionava uma univorsidado. Com modo do sor oxpulso pola dona do pródio, lindomar conta guo dosta voz olo tovo sorto, pois ola o tinha doixado ticar: aí olo não ~njaìa nada não. Agui olo tica!¨ Contudo, osto acordo ou tavor¨ codido pola tal dona não ora grátis, pois a partir daí, lindomar cumpria um papol tácito do portoiro: t...) os ostudantos às vozos doixava o portão alorto aí muitas vozos os tromladinhas ontrava pra dontro do pródio o não doixava. Aí ou não doixava o porguntava o guo olos ia tazor lá dontro, aí lotava pra tora.¨ O dosvalor social do tralalho o a possívol proximidado com o ostigma taz com guo lindomar muitas vozos soja visto como ompatador¨, como na tala da dona do pródio. Contudo, o tato do tor um tralalho o não sor aponas alguóm à toa¨, isto ó, um possívol vagalundo ou tromladinha, taz com guo soja possívol olo dosportar algum sontimonto mínimo do idontiticação por parto das classos dominantos om contrasto à pura rojoição ou modo ódio. Do corta torma, osto tosto social¨ tamlóm punha à prova suas disposiçòos sociais para o tralalho, principalmonto as ligadas à porsistôncia o tonacidado. Há um ano no programa CrodiAmigo o há novo na Arca, a capitalização proporcionada polo cródito toi contral para guo olo pudosso so ostalolocor como comorcianto na toira. Hojo, sua linha do cródito choga aos trôs mil roais, mas olo normalmonto toma ompróstimos om torno do mil. Elo nos oxplica a torma pola gual o cródito tunciona como capital do giro: Ë porguo a gonto com o dinhoiro na mão, guor dizor, so uma caixa do morcadoria, ossa caixa do maracujá ali ó vinto roais o ou chogo lá o digo guanto ó o o cara diz: vinto o cinco roais. Aí ou digo: ou vou dar vinto, ou compro, ou pago vinto agora, dinhoiro na mão! Aí, o cara diz: lova!¨ Aí vocô ajoita o proço do 300 produto. A gonto compra aguolas doz caixas do morcadoria ali guo dava o guo? Quinhontos roais ou soiscontos, a gonto compra por guatrocontos roais, trozontos. Primoiramonto, valo rocordar guo as compras do trutas goral- monto acontocom a prazo ou tiado. Assim, o dinhoiro na mão¨, como tala lindomar, possililita ao toiranto maior podor do larganha junto ao tornocodor. Dosto modo, olo consoguo aumontar sua margom do lucro já na compra, o guo irá, postoriormonto, so rovortor om um aumonto oxcodonto na ronda. O lucro oconomico não so dá propriamonto na vonda tinal das morcadorias, mas na loa compra ou no maior podor do nogociação tronto ao tornocodor. Do torma porspicaz, lindomar tamlóm usou o cródito para a divor- siticação das trutas guo otoroco. Quando vondia na rua o som o cródito, sou volumo ora considoravolmonto monor, assim como om variodado. A suma importância da capitalização proporcionada polo cródito alriu a chanco da divorsiticação do algumas trutas guo são mais raras no morcado, como maça, pora o amoixa. No ontanto, om sou poguono comórcio, a margom do lucro unitário do cada produto ó laixa. Ela ó do um a dois roais om cada unidado vondida. Dopondondo da raridado osta margom podo aumontar um pouco. Portanto, a torma do ganhar um pouco mais ó roalmonto ostondor a jornada para consoguir vondor mais. Sou lucro monsal gira om torno do mil roais, o guo podo variar suavomonto om tunção do aumonto do movimonto, ospocialmonto no tim do ano, guando a procura por cortas trutas ó maior tamoixa, por oxomplo). Com o aumonto om sua ronda monsal, lindomar consoguiu oxporimontar corta asconsão oconomica, o guo possililitou com guo olo pudosso tazor algumas rotormas om casa, comprar uma goladoira, mas ospocialmonto molhorar sua alimontação, podondo comor carno do molhor gualidado o iogurtos. Esta poguona asconsão ó proporcionalmonto muito importanto para guom já toi assolado polo tantasma da tomo, sua o do sous tilhos. Outro aspocto rolovanto om sou patrimonio do disposiçòos oconomicas ó a prosonça do uma distinção do capital intorno do sou omproondimonto, oxplicitada om uma razão mais procisa tcorca do 50/ do lucro) do guanto do dinhoiro vai para as dosposas domósticas o guanto so dostina ao roinvostimonto do giro do nogócio. Esta guostão ó importanto, pois roprosonta o aprondizado do dispo- 301 siçòos oconomicas guo pormitom com guo sou omproondimonto so torno uma unidado oconomica com rolativa indopondôncia da sulsistôncia tamiliar mais imodiata. lindomar tovo uma intância marcada polo tralalho no roçado junto com sous pais, guo oram muito rígidos. lsto lho sorviu como uma torma do socialização primária o disciplinar atravós o para o socialmonto tralalho produtivo. Era lasicamonto uma agricultura do sulsistôncia, guor dizor, olos comiam o guo plantavam. A carno ora um produto oxtromamonto oscasso o raramonto tazia parto do suas rotoiçòos, salvo o poixo, guo ora poscado no córrogo ao lado do poguono sítio do sous pais. Havia tamlóm o lamlu¨, um pássaro guo ora caçado, para om soguida sor consumido, o guo ó algo muito comum no moio rural nordostino. No ontanto, nossa ópoca, as diticuldados às vozos loiravam ao oxtromo. lindomar conta guo comia as solras do almoço ou simplosmonto não salia so ia tor algo para comor na rotoição soguinto: a gonto ia vivondo com o guo dava¨, diz olo. Nosto caso, a tomo não so roduz aponas a sua dimonsão imodiatamonto matorial ou liológica do tor ou não comida na mosa¨, mas possui uma dimonsão social o simló- lica, condicionada pola incortoza o insogurança social. Ainda guo nunca tonha oxatamonto passado tomo como uma dotorminanto ostrutural do sua vida tamiliar, osta sompro ó um tantasma¨ guo so oncontra como uma possililidado roalizávol: Nós passamo¨ muita diticuldado naguolo tompo tolo so rotoro à intancia). Tinha dia guo a gonto almoçava, mas num¨ salia so ia jantar¨. Em sua juvontudo, as diticuldados não cossavam. Após tor tralalhado do omprogado no corto do palha do cana, lindomar passou um poríodo tonolroso om guo ticou dosomprogado. Aliás, sua trajotória no mundo do tralalho, assim como a do muitos latalhadoros, ó lastanto sinuosa, já tondo tralalhado om vários omprogos o aponas so tirmado no ramo do trutas rocontomonto. Nossa ópoca, sua vida parocia ostar por um tio. Casado o com dois tilhos, sua mulhor o alandona o doixa os tilhos para olo cuidar: laz vinto anos guo ou não tomo romódio do nonhuma gualidado, nó? liguoi lom atravós do uma oração guo ou ouvi polo rádio, o pastor talando. Ë nossa hora guo voio polo rádio. O mou tilho tinha ido atrás do um carro pra mo lovar pro hospital. Aí toi ondo ou tava dosomprogado, ou tava dosomprogado, passando nocos- sidado, tinha nocossidado na minha tamília, com dois tilhos do monor, a mulhor tinha mo doixado, tinha arrumado outro. Assim, 302 situação ditícil, nó? Aí toi ondo ou... Dous usou ossa possoa 28 o ou comocoi a vondor truta t...). Ao narrar osso poríodo, lindomar tamlóm so rotoro à ocasião do so oncontrar doonto¨ o som torças para roagir o lutar. Aposar do olo so dizor guo a causa dosta doonça¨ ora liológica, ola ó no tundo social. As razòos sociais dosta doonça¨ so doviam ao motivo do guo lindomar ostava com a vida dosostruturada om duas das tontos morais mais importantos do mundo modorno: o tralalho, pois ostava dosomprogado, o o amor, já guo sua mulhor o tinha alandonado. Ë nosso momonto guo olo oxporimonta uma vordadoira guinada¨ om sua vida: olo so convorto para a lgroja Univorsal do Roino do Dous. Ë tamlóm nosso momonto om guo olo comoça a vondor trutas. Esto ponto paradigmático om sua vida paroco ostalilizá-la um pouco mais, pois a partir daí consoguo um omprogo o casa-so novamonto. Agui, a linha guo sopara a raló ostrutural o os latalhadoros ó muito tônuo. O próprio lindomar oxporimontou condiçòos sociais muito próximas da raló ostrutural, como privaçòos matoriais mais imodiatas o do oxtroma incortoza social. No ontanto, osta linha paroco so oncontrar na própria constituição moral do soio tamiliar, guo no caso do lindomar, mosmo passando por inumoras diticul- dados, sompro toi uma ostora social minimamonto ostruturada ta tamília não so constituía num amlionto hostil). Sous pais sompro toram motivo do orgulho o rospoito do sua parto, principalmonto dovido a sua socialização disciplinar primária polo tralalho tcujo contraposto moral ó a dolinguôncia). 29 Elo inclusivo contou com ajuda oconomica o atotiva do sua mão om momontos do dososporo guando so via dosomprogado o alandonado à própria sorto¨. No ontanto, a tunção social o atotiva cumprida pola roligião noopontocostal om lindomar ó igual ao caso analisado por Torros. 30 Ou soja, ola tom o papol do otorta do sorviços do salvação mágicos¨ na administração atotiva do tracasso o do sotrimonto social. 31 O importanto ó a atinidado ontro a promossa¨ do salvação mágica o as condiçòos procárias do classo dos agontos guo a compòom. Ainda guo não tonha as disposiçòos do um dolinguonto tinimigo da loa¨ sociodado), lindomar padocou do sotrimontos oxtromos om sua vida, guo só tardiamonto voio a consoguir lutar contra olos. Esto ó o sontido da sua doonça¨, guo so oxprossa om uma linguagom do roligiosidado mágica. 303 Com uma trajotória social do altos o laixos¨, lindomar luta com muita tonacidado contra as diticuldados oxtromas guo sua condição do classo lho impunha. Podo-so do dizor guo sua história social incorporada ó marcada polo constanto ostorço diário contra o rolaixamonto social mais gravo das sociodados modornas, a do sor um homom som tralalho o som amor¨, som oira nom loira¨, no gual o caminho da dolinguôncia ou do total alandono ó sompro uma possililidado. Suas disposiçòos sociais tmodos do ponsar, agir o sontir) so constituíram, om sua história do vida, na constanto adoguação ontro as possililidados contingontos guo a vida lho aprosontava o o ostorço do suporação do sua condição do classo do oxtroma privação o procariodado. O VlNCUlO ENTRE ClASSE DE RENDA E AS ABORDAGENS lNSTlTUClONAllSTAS¨ Os ostudos dominantos solro o microcródito tôm como pros- suposto o ontoguo guaso oxclusivo nos aspoctos do dosonho ou vialilidado institucional do acosso ao cródito para as classos dominadas. Em grando parto isso so dovo à rolação ontro o concoito oconomicista do classo do ronda o a atonção guaso oxclusiva aos aspoctos institucionais dos programas do microcródito. Os ostudos do oconomista Varcolo Nori 32 roprosontam osto tipo do alordagom. Quoromos doixar claro do antomão guo não há nonhum prolloma om si com a variávol ronda o a idontiticação do sou aumonto. Como vimos nas trajotórias do nossos ontrovis- tados, o cródito toi contral no aumonto da ronda, o guo rosultou om uma molhora do suas condiçòos do vida o no acosso a lons guo antos lhos ostavam intorditados. A guostão ó guando so isola o tator do ronda como unico dotorminanto domarcador do uma condição do classo. Outro aspocto ó o do guo os ostudos lovados a calo por Nori, com grando maostria, tôm o mórito do rompor com a violôncia simlólica oconomico contra as classos dominadas tprincipalmonto ostos latalhadoros), onxorgando-as como agontos oconomicos o sociais rolovantos. Sous ostudos tontam comproondor a tunção do cródito no aumonto da ronda das classos polros. Nosto caso, olo porcolo algo positivo o vordadoiro, na modida om guo o microcródito tom a tinalidado no aumonto da ronda dostos tralalhadoros, lom 304 como a rodução da dosigualdado. Contudo, ó ao isolar a variávol da ronda guo sou ostudo so complica. Esto ó um ponto nodal. Na modida om guo so isola a variávol ronda, roduz-so o concoito do classo aponas à ronda monsal, ou soja, ao guo ó oconomica- monto ovidonto. Ë aponas ao considorar a dimonsão oconomica imodiata o visívol guo o pormito alstrair o gonoralizar um tator o doscontoctá-lo do todo rosto. Ë agui guo um dotorminado ontoguo tamlóm ostrutura uma hiorarguia do guostòos rolovantos. So, por um lado, a variávol ronda ó isolada, o guo autoriza a construção do classos do ronda¨ 33 tclasso A, B o prodominantomonto a classo C), por outro, sua análiso so compromoto ao ocultar a dimonsão propriamonto sociológica das classos sociais: o ostilo do vida. Ora, o vínculo ontro a dimonsão sociocultural das classos sociais traz à tona uma sório do guostòos não considoradas polas alordagons oconomicistas: não aponas a ronda ostrito sonso, mas a rolação com o dinhoiro, lom como as disposiçòos sociais tmodos do ponsar, agir o sontir) guo ostruturam a rolação dos agontos com o dinhoiro. Em suma, a rodução do concoito do classo ao concoito do classo do ronda ó uma alstração guo suprimo o torna uma sório do guostòos rolovantos, solrotudo aguolas ligadas à ação social dos agontos. Chamar a atonção para a dimonsão do ostilo do vida ó tamlóm dostacar a tunção oxplicativa da ação social. Nosto sontido, uma catogoria oconomicista do classo social ó tamlóm o sou ontoguo oxclusivo aos aspoctos institucionais. Assim, o toma das disposiçòos sociais, isto ó, da ação social concrota dos homons o mulhoros, não ó considorado. No ontanto, osta dimonsão ó igual- monto importanto na comproonsão do como oporam as ostruturas sociais o oconomicas nostos omproondimontos popularos. Portanto, Nori idontitica uma asconsão do classo prodominan- tomonto ostruturada polo aumonto da ronda. Ë om razão dosto tator guo toria havido o tortalocimonto domogrático das classos oconomicas 34 intormodiárias ou a classo C. Esta classo C soria tundamontalmonto uma classo módia aponas om virtudo do ocupar uma posição intormodiária ontro as classos AB o D. Entrotanto, sor do tato classo módia oxigo um conjunto do prossupostos oxtraoconomicos¨ como, por oxomplo, controlo social do tompo social do classo to guo dostoa complotamonto do nossos ontro- vistados) para agir na oconomia do torma roalmonto calculada o prospoctiva. As classos sociais não são dotinidas aponas pola ronda, mas por sou Iaü:ìu:, ou soja, um conjunto do prossupostos 305 o condiçòos tvantajosas ou dosvantajosas) para a ação social ostruturados por um portoncimonto próvio do classo. 35 Por isso, toi contral não aponas constatar guo o acosso ao microcródito garantiu um aumonto na ronda dos participantos do programa CrodiAmigo, mas lovar om conta a rolação da tomada do cródito com outras ostoras da vida social. Nosto sontido, a análiso so concontrou om como a tomada do ompróstimo atota o patrimonio do disposiçòos dos agontos como um todo, alóm do uma contoxtualização mais ampla dos tipos do omproondimonto popularos om jogo. No caso ospocítico do Campina Grando, a política do microcródito possui uma atinidado olotiva com as políticas do roalocação do antigos amlulantos guo, atualmonto, consoguiram so ostalolocor om toiras o contros comorciais popularos, o guo tamlóm produz um otoito oconomico lastanto rolovanto. A garantia do um ponto tixo alro igualmonto a possili- lidado do uma sogurança mínima tcontra o rapa¨, por oxomplo) o a possililidado do minimamonto so ostalolocor oconomicamonto. O VlCROCRËDlTO E AS DlSPOSl(OES DE SEUS AGENTES A idoia contral dosto toxto consistiu om tontar construir a atini- dado ontro como uma posição na hiorarguia das classos sociais condiciona om grando parto o acosso ou não a dotorminados prossupostos para a ação oconomica. Trata-so do oloncar dois concoitos lourdiousianos: o Iaü:ìu: oconomico o Iaü:ìu: do classo. Dosto modo, o cálculo oconomico como nós o conhocomos, isto ó, racional, instrumontal o planojado, ó o cálculo oconomico do omproondimonto lurguôs. A dominação tócnica da oconomia dopondo igualmonto do condiçòos oconomicas o culturais próvias, dotorminados do antomão por um domínio social do tompo. Estos tatoros irão ostruturar tortomonto a rolação das classos com o capital. Do tato, ó no capitalismo tinancoiro atinado com um novo¨ ospírito do capitalismo 36 guo as classos laixas passam a tor acosso ao capital, mas isso não signitica a ruptura com sua po- sição do dominação tcomo toi mostrado nosto toxto). Aposar do torom acosso a algum tipo do capital o acumularom o próprio 306 lucro, isso não transtorma os omproondimontos popularos om omproondimontos lurguosos. A caractorização dos nogócios ó do suma importância nosso ponto. O guo divido os dois tipos gorais do omprosa ó o domínio contortávol do tompo social, do capital oconomico o do capital cultural tócnico da oconomia guo irá racionalizar ao oxtromo o uso do dinhoiro sol o critório da oticiôncia na acumulação do lucro. Há muito tompo a oconomia já doixou do sor domínio do ponsamonto o so transtormou om tócnica do administração do capital. Ë nosto sontido guo o argu- monto procura atirmar guo o acosso, do alguma manoira, a osso conhocimonto ó tamlóm a possililidado do ontrar om contato com o ospírito¨ do cálculo. Por oxomplo, o próprio Banco do Nordosto otoroco algumas cartilhas cujo contoudo ó justamonto o onsinamonto do como calcular o proço das morcadorias com rolação à concorrôncia, como planojar invostimontos tuturos otc. No ontanto, guaso nunca alguóm lô ostas cartilhas, provalocondo muito mais uma rolação pró-rotloxiva o adaptativa com rolação a ostos guositos. Para a análiso do pullico-alvo, duas disposiçòos aparocom tortomonto: uma ótica do tralalho disciplinado o o rigorismo oconomico. Na grando maioria dos casos, a ostora do tralalho ora algo tão ostruturanto guo o ospaço para o dosonvolvimonto o cultivo das outras ostoras da vida, principalmonto o lazor, so tornava lastanto diminuído. Ao considorar isso, ó prociso igual- monto dostacar todos os sacritícios possoais onvolvidos nosso invostimonto social tcomo, por oxomplo, o do Várcia). São trôs ostoras sociais guo lasicamonto comandam a vida o as aspiraçòos do pullico-alvo: o tralalho, a roligião o a tamília. Estas duas disposiçòos sociais citadas acima dovom sor analisadas como um conjunto. O intonso rigorismo oconómico oxprossado na constanto proocupação com a administração das dívidas, compòo o guo so podo chamar do um Iaü:ìu: oconomico primário, ou soja, a capacidado mínima do jogar o jogo oconomico, do ostalolocor um vínculo provisívol o racional com as agôncias do cródito. Esta ó uma caractorística guo porpassa todos os ontrovistados do comoço ao tim. Nosto caso, a proocupação com a honostidado¨, com o pagamonto das dívidas om dia, do uma rolação minimamonto ostávol o racionalizada com o dinhoiro signitica a incorporação do disposiçòos oconomicas primárias. O oconomista Varcolo Nori nos mostra guo o nívol do inadimplôncia do CrodiAmigo toi do 1,13/ 30¯ om plona criso tinancoira do 2008. 3¯ No ontanto, a incorporação dosta disposição primária não signitica automaticamonto o acosso privilogiado ao jogo oconomico o ao guo so podoria chamar do um Iaü:ìu: oconomico dominanto¨. Em alguns casos não muito troguontos, porcolomos o osloço do propriodados socundárias ao Iaü:ìu: oconomico como motas concrotas do oxpansão, divorsiticação na torma do vonda, mas guo são limitadas pola própria constituição dos omproondimontos, guo ocupam posiçòos rolativamonto dosvalorizadas na hiorarguia oconomica o social como um todo. Esto conjunto do disposiçòos tótica do tralalho o rigorismo oconomico) ó contral na dotinição do uma nova classo tralalhadora guo vivo para tralalhar¨ o tralalha para vivor¨. O pullico analisado compòo uma amostra¨ dosta classo tralalhadora om sua tração autonoma¨, isto ó, om goral do poguonos comorciantos toirantos. Ou soja, aposar do todas as diticuldados iniciais do dosvantagom social, lutam atravós do tralalho disciplinado o som guaso nonhum ostudo na dotosa do uma vida molhor. Esta ó a roalidado sotrida dosta classo social guo donominamos, portanto, do latalhadoros lrasiloiros. ¸ P ⇧ ⌦ ⌃ ↵ ⇧ ⌦↵⌥lGl⇡C DC ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦ ✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 1 0 C⇥ ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ↵ C P↵M⌃↵✏C⇥⌃⇧⌥l⇥⇣C ✓⇣ ↵M✏CM⌃⌦C ↵M⌃⌦↵ ✏⌥⇧⇥⇥↵ ↵ ⌦↵⌥lGl⇡C ··Iaü·:au·:~:. 1:auu ·:~ua:: R·ü~:ì· T·::~: PENTECOSTAllSVO: AS CARACTERlSTlCAS GERAlS DE UV VOVlVENTO DE ClASSE Talvoz a porgunta inicial mais importanto para so adontrar nosto capítulo soja: por guo o pontocostalismo tom onormo sucosso ontro os latalhadoros? O guo há nosso modolo roligioso guo os atrai, o o guo há nolos guo atrai o tamlóm, ao mosmo tompo, os pormito construir osso tipo do roligiosidado? Numa linguagom voloriana soria o mosmo guo porguntar: guais as atinidados olotivas ontro os latalhadoros o o pontocostalismo? Para rospondor a ossa guostão ó prociso ontondor guom o o guo são os latalhadoros onguanto classo social, o o guo ó o pontocos- talismo onguanto um movimonto roligioso do uma dotorminada classo social, para num momonto postorior porcolor guais os olomontos contidos om amlos guo os intorconoctam. Quanto ao pontocostalismo, a primoira caractorística goral guo marca a trajotória dossa roligiosidado ó o tato do ola sor uma típica roligião das classos dominadas, guardando assim as principais marcas dossos modolos do roligiosidado. A rospoito disso, valo rossaltar guo não so trata do um modolo gualguor do roligião dos dominados, mas sim do uma torma tipicamonto modorna do 312 roligiosidado das classos dominadas, om sintonia com as tormas modornas do oxclusão o dominação ongondradas polo capitalismo o pola modornidado. O sou discurso o prática so moldam a partir das ansiodados do classo guo são produzidas polas novas toias sociais da sociodado capitalista. Essos traços ostão claros dosdo sua tundação nos Estados Unidos como movimonto não só roligioso, mas tamlóm social, o tamlóm na manoira pola gual o para ondo ossa roligiosidado so oxpandiu no mundo. Ë possívol vor na criação dosso movimonto o na tigura do sou principal tundador vários traços guo marcam toda a trajotória do pontocostalismo. E guanto a isso, talvoz, podomos dizor guo a toso guo coloca Charlos Praham como o criador do pontocosta- lismo taça muito sontido a partir do ponto do vista toológico, pois roalmonto olo sistomatizou uma sório do cronças lasilaros dosso sogmonto roligioso. No ontanto, da ótica sociológica ossa toso não so sustonta. As caractorísticas mais tortos guo viriam marcar a trajotória do pontocostalismo como um movimonto do massa, uma roligião da massa, o assim tazor dola o guo nós conhocomos hojo, são avossas à porsonalidado o ao tipo do organização roligiosa do Charlos Praham. O sou intoloctualismo o o sou racismo o colocam a milhas do distância do guo soria o pontocostalismo. Já o sou aluno, Willian Josoph Soymour, tido por muitos como o tundador do pontocostalismo modorno, trazia no corpo tclasso social o otnia) o na monto os traços mais marcantos do ponto- costalismo. Olsorvar sua história ó uma manoira do adontrar no univorso dossa roligiosidado. Willian Josoph Soymour ó uma tigura mitológica do ponto- costalismo. Elo ora um nogro, tilho do ox-oscravos, guo, ató so tornar lídor do um modolo muito ospocítico do roligiosidado, passou por várias roligiòos. Ao nascor, om louisiana, toi latizado católico, om sua adoloscôncia so tornou latista o, aos 25 anos, ontrou para uma congrogação nogra da lgroja Votodista Episcopal. Ao mudar-so para Houston, passou a troguontar uma igroja do movimonto Holinoss. 1 Em Houston, Willian Soymour oncontrou Charlos Praham o passou a troguontar suas aulas. Poróm, as assistia do corrodor, porguo ora proilido por Praham do sontar na sala com os outros alunos polo tato do sor nogro. Nosso momonto, olo ontra om contato com as idoias o práticas do Praham, guo intluonciaria tortomonto 313 a nova roligiosidado guo olo capitanoou. Dopois dosso contato, olo so muda para los Angolos, ondo tunda na Azuza Stroot uma cólula autonoma dosso novo modolo do roligiosidado. Nosso momonto, os Estados Unidos viviam uma intonsa migração do campo para a cidado, como tamlóm um torto tluxo do imigrantos polros vindos da Europa. Essos movimontos criaram uma massa do halitantos urlanos, não totalmonto incorporados à cidado, o sorá loa parto dossa massa guo comporá o guadro do tióis da nova roligiosidado guo Soymour tinha a aprosontar. lormada por nogros, imigrantos polros o um numoro signi- ticativo do mulhoros, a Apostholic laith Vission, tundada por Soymour na Azuza Stroot, ora um ospotáculo do ôxtaso roligioso guo assustava a classo módia o as roligiòos tradicionais. O talar om línguas inintoligívois, a cura do doonças o outros milagros oram acompanhados polo ôxtaso corporal, do lalançar dos corpos, da musica. Outra caractorística marcanto ora a tontativa do so dorrular as larroiras raciais. O protota nogro guo sontia na polo o aja:ìI~:u amoricano tcortamonto a oxporiôncia com Praham não toi a unica humilhação guo tinha passado por sor nogro) sonhava com uma sociodado som larroiras raciais o osporava guo o Espírito Santo pudosso tazor isso nos cultos na Azuza Stroot. Na vordado, oxistia na Azuza Stroot um clima do lilordado o, solrotudo, do sulvorsão. Estava ali prosonto uma contostação da ordom tanto roligiosa como social. A sodo da Apostholic laith Vission ora um lugar ondo nogros o lrancos, homons o mulhoros dividiam o mosmo ospaço, promovondo um culto larulhonto o guo soava horripilanto para as classos tradicionais roligiosas, as guais classiticavam aguilo como antirroligioso. Tamlóm não agradava nom um pouco às classos módias o olitos, o guo do corta torma acirrou o racismo já oxistonto. Uma postura anti- -intoloctualista guo marcou a trajotória do todo o pontocostalismo já ostava prosonto om Azuza Stroot. Aguolo caldoirão omocional dissolvia gualguor onunciado racional. Quanto à trajotória possoal do Willian Soymour, podomos atirmar guo olo ó o típico modolo do protota oxomplar, aguolo guo não só divulga sua monsagom, mas tamlóm a oxomplitica na sua trajotória do vida. E no contoudo do sua monsagom o no modolo do roligiosidado guo aprosonta há dois aspoctos marcantos do sua trajotória: um toológico o outro social. 314 Do ponto do vista toológico, Soymour adapta as novidados da toologia norto-amoricana ligadas à cura divina o as oxporiôncias do ospírito¨ ao sou pullico do tióis, isto ó, nogros o imigrantos polros da poritoria urlana do los Angolos. Cria a partir disso uma toologia prática¨ nos moldos popularos o das roligiòos do massa, na gual o tiol só procisa do corpo o nonhum troinamonto próvio para sor tocado por Dous. E, do ponto do vista social, olo procura construir um ospaço om guo os sotoros oxcluídos da sociodado não sintam a prossão dos mocanismos guo os sogrogam. No sou culto so dosmanchavam os proconcoitos do classo social, do raça o do gônoro. Elo ora capaz do otorocor ao sou pullico o alívio omocional guo mais so dosojava, o ossa capacidado toi incorporada nossa roligiosidado, ou soja, atondor às domandas sócio-roligiosas dossa nova classo om oxpansão no capitalismo. Emlora o pontocostalismo tonha mudado lastanto ao longo do sóculo XX, passado polas conhocidas trôs ondas do oxpansão, a sua laso do classo social so mantovo praticamonto a mosma, ou soja, soguiu sua vocação¨ inicial para atondor as domandas das classos sulintogradas da sociodado capitalista. lsso so ovidoncia na manoira pola gual o pontocostalismo so oxpandiu no mundo. Elo so tornou a torça mais dinâmica o oxpansiva do cristianismo no mundo, croscondo nas rogiòos om guo as contradiçòos do capitalismo so tornaram mais radicais, como ó o caso da cronica dosigualdado social da Amórica latina, o, por outro lado, tom imonsa diticuldado do ponotração om rogiòos guo passaram por divorsos procossos do oliminação do dosigualdados sociais, como ó o caso da Europa contral. O olomonto guo dá liga o om parto oxplica o sucosso dossa roligiosidado ó a sua sintonia com um Iaü:ìu: do classo comum. Ë a partir da tormação do uma classo social to suas traçòos) guo so marcou o dosonvolvimonto do capitalismo na poritoria, guo o dostino dos latalhadoros o do pontocostalismo comoça a so oncontrar. E guanto a isso as volhas narrativas sociológicas o sous principais concoitos não consoguom alrangor todo osso univorso. Os modolos roligiosos o idoológicos tradicionais oram produtos moldados para o consumo das clivagons tradicionais do classo, ou soja, a lurguosia o o prolotariado, osto ultimo ató ontão tido como a classo tralalhadora. Vas nonhum dolos atondia a dinâmica do uma classo urlana tamlóm tralalhadora, poróm não intograda ao modolo do morcado do tralalho tordista. Assim, o dosatio do 315 so porcolor a rolação do pontocostalismo com a classo social ó o do porcolor a oxistôncia do uma classo guo tradicionalmonto toi concolida como uma sulclasso, com um papol coadjuvanto na dinâmica da vida social, ou mosmo associada oguivocadamonto a catogorias como pró-modorno, atrasado, como so ostas tossom rosíduos do vostígios tradicionais guo dosaparocoriam tronto à oxpansão da modornização. Ë ossa grando classo osguocida, ou ossa massa do sulintogrados à sociodado capitalista, a gual tomos chamado do raló ostrutural o agora latalhadoros, o guo do corto modo as toorias tradicionais chamavam rospoctivamonto do lumposinato o sulprolotariado, guo torma o olomonto contral da dinâmica da vida social da poritoria do capitalismo. Valo lomlrar tamlóm guo tormos como sulprolotariado o lumposinado so rotorom às clivagons do classo típica dos paísos ouropous no poríodo clássico da sociodado industrial. Essos tormos não consoguom captar a dinâmica da vida social o das classos no capitalismo contomporânoo, solrotudo guando talamos da poritoria dosso sistoma. Na vordado, polo sou contingonto numórico, ossa classo o suas traçòos tôm sido os olomontos sociais guo distinguom as rogiòos poritóricas do contro do capitalismo. A manoira como o capita- lismo so dosonvolvou nossas rogiòos, om guo suas contradiçòos so potoncializaram tou so dosonvolvoram som larroiras), lançou uma massa onormo do gonto nas tranjas da sociodado, som um lugar tixo no sistoma do produção. Esso não lugar na produção, aliado às intoraçòos sociais ontro ossos oxcluídos, pormitiu o dosonvol- vimonto ospocítico do cortos tipos sociais o, por consoguinto, do disposiçòos ospocíticas do classo. São as disposiçòos ospocíticas dossa classo tIaü:ìu:) guo são construídas o incorporadas polo pontocostalismo. No ontanto, o ostrondoso sucosso do pontocostalismo podo sor tamlóm visto como rosultado do sua capacidado do so adaptar às traçòos do classo do sotor da poritoria. As suas ondas do oxpansão, como tamlóm sua plasticidado o autonomia no sou dosonvolvimonto, pormitiram tormar variaçòos no sou discurso guo atondossom porçòos variadas dos moradoros da poritoria urlana. Quanto a isso, o pontocostalismo ó capaz do atondor sotoros da raló ostrutural como tamlóm do latalhadoros om asconsão social. 316 No caso da Amórica latina o ospocialmonto no lrasiloiro, o pontocostalismo toi capaz do atondor as domandas do uma nova poritoria urlana guo so tormava om virtudo do uma maciça migração do campo para a cidado. O catolicismo mágico guo dominava o mundo rural pordou sou ospaço na poritoria urlana para o pontocostalismo mágico, marcanto no noopontocostalismo. Ao cruzarom a linha ontro o campo o a poritoria da cidado, os outrora camponosos so pontocostalizaram¨. Essa torma do pontocostalismo so oxpandiu assomlrosamonto nos anos do 1980 o 1990 no Brasil. A imprognação mágica dossa roligiosidado, om guo a lgroja Univorsal do Roino do Dous ó o oxomplo mais marcanto, so ovidoncia na otorta do sorviços mágicos rolacionados às domandas imodiatas da vida cotidiana o voltados para os sotoros mais carontos da população. Nisso so constata sua atinidado com a tração do classo dossa poritoria urlana guo chamamos do raló ostrutural. No ontanto, os latalhadoros, como uma outra tração dossa poritoria urlana, aguola guo possui alguns rocursos guo os tornam mais capazos do lutar por uma possililidado do inclusão mais ostávol no morcado do tralalho, não são atraídos tacilmonto polo discurso mágico radicalizado. Por outro lado, a roligiosidado doson- volvida nas intoraçòos sociais dossa tração do classo ó marcada por uma possililidado do distanciamonto das oxigôncias mais imodiatas do prosonto, o guo a aproxima das vortontos monos mágicas do pontocostalismo, colocando-a numa trontoira ontro os protostantos históricos o um pontocostalismo mais próximo do guo a litoratura roligiosa chama do roligiosidado ótica, lom ao modo das igrojas protostantos históricas ronovadas ou daguolas do pontocostalismo clássico ronovado. Nosso sontido, como voromos no docorror dosto capítulo, a roligiosidado dos latalhadoros ocupa um papol dotorminanto om otorocor um campo ondo so possa dosonvolvor suportos sociocognitivos guo os pormitam compotir por um lugar ao sol¨ na sociodado. Essa caractorística os distancia do modolo pronto-socorro¨ para os dososporados, típico do noopontocostalismo. Outra ditoronça marcanto ontro a roligiosidado dossas ditorontos traçòos do classo ó guo o apolo midiático dossos grandos conglo- morados roligiosos, guo so assomolham ao guo nós chamamos do omprosa do sorviços mágicos¨, 2 típicas do noopontocostalismo, tom importância diminuída tronto à intonsa rolação taco a taco 31¯ da roligiosidado dos latalhadoros, guo tom tortos traços do uma roligiosidado do soita, om guo o controlo do grupo ó dotormi- nanto na vida roligiosa o social do momlro. Essa ditoronça sorá tundamontal para comproondor como a roligião ajuda a dotinir o modo do vida do latalhador. Ë PREClSO CONTlNUAR NA lË A vida dos latalhadoros so caractoriza por um ostorço porma- nonto para atualizar a cronça om uma promossa do tuturo. Continuar na tó ó a grando latalha. Esso dosatio dotino a ostratógia do latalhador na vida social. E olo ó docisivo para comproondormos a ospociticidado do sua vida roligiosa no pontocostalismo. Vas o ostorço roligioso do atualizar ossa cronça no tuturo não ó uma particularidado das igrojas pontocostais troguontadas polos latalhadoros. Dosprovidos tanto do horança oconomica como do horança cultural logítima ttormação oscolar) para atastar o risco do rolaixamonto social o da vida som dignidado tportanto, do guo chamamos do patamar do sogurança), os latalhadoros partilham com a raló ostrutural a nocossidado do construir a tó no tuturo som uma ostratógia sogura tundada numa posição social ostávol ocupada no prosonto. 3 Nosso sontido, tanto os latalhadoros como a raló ostrutural procisam lutar para guo a dorrota não soja antocipada no comporta- monto prático, para guo a cronça om assogurar a dignidado não morra, para guo o sujoito não so acomodo à sua condição do dorrotado. Em rosumo: uma luta para guo a unica ostratógia no jogo não soja a rondição ao dostino do roproduzir o passado. O guo ontão ditoro o latalhador da raló ostrutural? O guo ditoroncia a vida roligiosa dossas duas classos do possoas com rolação ao modo do atualizar a cronça no tuturo? Como ossa ditoronça so constrói tora dos cultos o da atividado ospociticamonto roligiosa? Como a roligião atua na construção da ostratógia voltada à lusca do sogurança prosonto solro o amanhã¨? Para porcolor tais ditoronças, procisamos rolacionar o discurso roligioso solro a tó no tuturo - Dous tom um propósito na sua vida¨ - à torma prática do conduzir a vida tsolrotudo a vida privada) guo so lusca instituir ou rotorçar a partir do um dotor- minado tipo do vida roligiosa. Dito do outro modo: para analisar 318 a tunção da roligião na vida social dos chamados latalhadoros, ó prociso romotor a tó om Dous o om sua promossa ao suporto institucional dossa tó. Por suporto institucional ontondomos o conjunto do invostimontos o rocomponsas, incluindo o tompo livro, guo ostrutura a vida cotidiana, tornando corto tipo do comportamonto o do ação social rocorrontos om dotorminados contoxtos. O rosultado disso ó a ostalilização do oxpoctativas mutuas ontro possoas. Para oncarar osso dosatio, talvoz soja into- rossanto comoçar pola considoração do guo a luta por um tuturo digno não ó um tato ólvio na vida dos soros humanos. A primoira idoia guo ó prociso comproondor ó guo as cato- gorias tomporais são produto das rolaçòos sociais, ou soja, não oxistom tora do mundo social, como podoria ponsar o naturalismo ingônuo. Na maior parto da história humana, as sociodados não produziam nas possoas a oxpoctativa do lutar por um tuturo guo tosso ditoronto do proscrito dosdo a introdução do cada um na vida social. A loa vida não podoria ostar om outro lugar sonão no prosonto. Somonto com a invonção modorna da invidualização das construçòos liográticas ó guo isso so tornou possívol o do modo mais ou monos gonoralizado. Vas, mosmo na sociodado modorna, a roalização prática dossa lusca do tuturo promotido para cada um não ó possívol para todos os indivíduos, como so tosso um dom natural o ato do sonhar o imaginar guo a vida, num corto ponto ausonto o imaginário do tompo, o por oposição ao guo dovo so tornar passado, tondo ou podo sor ditoronto, molhor, mais digna, mais toliz. A cronça no tuturo não ó ólvia, ó contingonto o procisa sor constantomonto construída o roconstruída. A idoia da tomporalidado como uma construção social podo sor vista na atualidado guando olsorvamos guo há dotorminada classo do indivíduos com muito mais tuturo¨ do guo outros, ou soja, do indivíduos muito mais munidos do rocurso oscasso guo ó o tompo racionalizado. Essa torma ospocítica do oxporiôncia com o tompo podo sor ontondida como a produção do um ospaço imaginário para um oncadoamonto do docisòos, ou soja, para a prática do tincar prossupostos para o amanhã. O prolloma da dosigualdado do classos modorna so singulariza, ontro outras coisas, porguo o acosso a osso ospaço imaginário, o ao ospaço da imaginação do tuturo guo ó a oscola, ó algo guo 319 so ditoroncia om rolação aos ostímulos práticos disponívois para guo o indivíduo participo do procosso do construção do tuturo, movido pola cronça atualizada do guo podo intorvir nosso procosso dosdo já. Existo, om razão da distriluição dosigual o oxcludonto do rocursos para atualizar a cronça na luta polo tuturo, toda uma classo do indivíduos cuja vida ó oxatamonto latalhar tanto polo tuturo como polas condiçòos nocossárias à manutonção da cronça individual o colotiva no tuturo. Essos são os guo chamamos agui do latalhadoros, cuja saga liogrática não ó ditoronto da saga daguolos guo a tooria das classos sociais costumou chamar do classo tralalhadora. Para comproondor a ospociticidado da idontidado do lata- lhador como produto do um conjunto do indivíduos guo possuom ostratógias somolhantos do luta contra a talta do tompo, guoromos tomar como toco a análiso da vida roligiosa o do sua tunção na atualização do oxpoctativas solro o dovir¨. Esso dovir¨ não ostá aponas no outro mundo¨, olo so tunda na cronça do guo há um alóm já nosto mundo, uma promossa guo comoça a so roalizar na vida imanonto. O modo como a vida roligiosa do latalhador paroco atualizar a cronça no tuturo ditoro om aspoctos importantos do modo como isso ó toito na vida roligiosa da raló ostrutural. So tomarmos os sorviços do atondimonto mágico da lgroja Univorsal como caso oxomplar da vida roligiosa da raló, vomos guo ó aponas duranto o momonto do omulação mágica na lgroja guo so roaliza um tralalho roligioso para instituir ossa cronça. Esso tralalho, com o apoio dos programas do TV, consisto lasicamonto na construção da cronça om tostomunhos, om supostos oxomplos possoais, do guo tudo ó possívol guando so tom tó no impossívol. A instituição o a atualização da cronça no tuturo parocom ticar dotinidas nosso horizonto do impossívol, o sou ospaço do oporação tica tamlóm dotinido no ospaço tísico do tomplo: ondo so tom acosso aos sorviços do cura¨, ondo so tazom os propósitos com Dous¨, ondo, solrotudo, so olsorvam os tosto- munhos do sucosso, com os guais no ontanto não so cria uma intoração rogular capaz do trazor a mira do tuturo¨ para o dia a dia. Não so constrói, por iniciativa do tralalho roligioso, nada alóm do hálito do ronovar osta cronça nos tomplos da lgroja. O guo signitica ossa cronça no tuturo guando a lgroja não tornoco a torma o a tórmula para atualizá-la o roproduzi-la na vida prática do dia a dia? Quo ospaço ocupa ossa cronça omulada na lgroja 320 na condução da vida do cronto guando não so lova para casa o salor nocossário para avivar o roavivar, om cada situação, a idoia do guo valo a pona não somonto apostar, mas tamlóm invostir no tuturo? O guo podo sor ossa cronça guando as rocomponsas por corrospondor à injunção do cror¨ só são oltidas no ospaço oxtra-ordinário¨ da lgroja? Dianto dossas guostòos, nosso argumonto ó guo a vida roligiosa do latalhador so singulariza om rolação à da raló polo tato do guo a socialização roligiosa traz a cronça no tuturo para o contoxto do intoraçòos taco a taco, para a idontiticação com oxomplos prosontos o tangívois do tuturo, do modo guo ossa idontiticação ostrutura a torma prática do conduzir a vida diária, com a gual a possoa, colrada, incontivada o rocomponsada polo contoxto do grupo do irmãos¨, atualiza uma disposição para invostir no tuturo, tornando oxpoctativa possoal aguilo guo os outros signiticativos¨ com a gual intorago osporam do sou comportamonto. A instituição da cronça tora do ospaço oxtra-ordinário¨ da lgroja transtorma a própria convorsão num procosso tormado por otapas sucossivas, como voromos om dotalhos com o matorial ompírico. E com isso tondo a suporar o carátor intormitonto da torma mágica do projotar o tuturo¨, como so olo pudosso so roalizar ao acaso, som o oncadoamonto do intorvonçòos causais oncadoadas no tompo. E ó procisamonto a ausôncia do um aprondizado para instituir a cronça num tuturo molhor tora do ospaço da lgroja guo paroco osclarocor uma ditoronça tundamontal ontro a raló o o latalhador: ao contrário da possoa socializada na raló, a vida roligiosa do latalhador so acopla a uma instituição cotidiana guo produz a cronça no tuturo, a socialização tamiliar oou intoraçòos taco a taco guo luscam cumprir a tunção da tamília do antocipar as ostruturas do mundo¨. O acoplamonto ontro a vida roligiosa o as intoraçòos taco a taco tsolrotudo a tamília, mas não somonto) pormito guo a cronça numa aliança com Dous soja atualizada no ospaço da vida coti- diana. Esso paroco sor um traço tundamontal para comproondor como o latalhador transtorma a idoia do uma promossa do tuturo num sontido prático para oriontar a conduta. O guo torna possívol osso acoplamonto ontro roligião o tamília ó a própria prosonça cotidiana dos agontos institucionais da lgroja nas intoraçòos cotidianas dos crontos. Em goral, dois tatoros oxplicam ossa prosonça cotidiana: 1) o lom-sucodido rocrutamonto pontocostal do 321 agontos institucionais¨ proporcionalmonto ao numoro do loigos to guo, por oxomplo, domarca uma ditoronça tundamontal com rolação à criso do rocrutamonto sacordotal¨ por guo passa a lgroja Católica), o 2) o próprio ostilo do vida do agonto institucional¨ do pontocostalismo, guo não so dotino om oposição ontológica¨ ao ostilo do vida do cronto loigo¨, pormitindo, ao contrário, uma ostrutura visívol do molilidado ontro a posição do loigo o ospo- cialista roligioso 4 o uma possililidado do insorção om ditorontos papóis o ostoras da vida para o sacordoto¨. Vas o guo ossa prosonça da instituição roligiosa na vida cotidiana tom a vor com a produção o a roprodução da tó no tuturo? Nas ontrovistas o otnogratias guo tizomos com ovangólicos do divorsas igrojas pontocostais no Distrito lodoral tAssomlloia do Dous, lgroja Quadrangular, lgroja Votodista Ortodoxa), porcolomos guo uma ospócio do protocia oxomplar do dia a dia¨ vincula o comportamonto das possoas a partir da oxporiôncia o da olsorvação mutuas. Essa protocia oxomplar do dia a dia paroco tuncionar do soguinto modo: uma possoa so otoroco ou ó vista como oxomplo por outra tdando sou tostomunho¨, mostrando como so ago om situaçòos práticas), isto ó, como rotorôncia incorporada, porsoniticada, para guo osta ultima voja como toi ou ostá sondo possívol mudar do vida¨, atastar o mal o o pocado¨, suporar diticuldados¨, consoguir um tuturo molhor dopois do um duro procosso do luta possoal sustontada pola tó no propósito do Dous¨. A proocupação do sor o do dar o oxomplo para o outro to guo podo sor toito tanto ontro ospocialistas¨ o loigos¨ como so- monto ontro loigos¨) paroco comunicar a guom rocolo o oxomplo guo as outras possoas osporam o acroditam guo olo mudará sua vida possoal para molhor. Dito do outro modo: o dostinatário da promossa oxomplar¨ ó controntado com oxpoctativas solro sua própria tormação como possoa, com a oxpoctativa do guo olo alimonto para si mosmo oxpoctativas novas, do guo incorporo a disposição para cror no tuturo. Em rosumo: com a oxomplaridado paroco guo a idoia do guo Dous tom um propósito om sua vida¨ podo sor trazida para uma rolação prática o cotidiana do idontiticação com uma outra possoa guo roprosonto a roalização adjaconto o oncorajadora, antocipada o tornada visívol no agora, dosso propósito divino para o amanhã do cada um. Vojamos ompiricamonto: 322 Walmir, 33 anos, pastor do um tomplo da lgroja Assomlloia do Dous om Taguatinga, no Distrito lodoral, o tócnico do Vinistório Pullico, assim dotino sou papol na vida dos tióis: ...isso improgna om vocô, ostá introjotado na sua alma. Então vocô passa a tazor dossa torma, isso vom junto, ~ ·uu~ :::· acaüa Jaz~uu· c·n gu~ a: j~::·a: :~uIan ¡uuì· u~ :·c~, :~uIan j:·cu:a:, gu~:~: c·u:~II·, ¡u:ìan~uì~ j·:gu~ ~Ia: ~:ìa· ua üu:ca u~ gu~n j·u~n üu:ca:, ~n gu~n j·u~n :~ ~:j~IIa:, gu~:~: un c·u:~II·, a: :~~n ~n :·c~... dizom: Eu nunca vi alguóm tazondo isso, dando corto.¨ Não ó como um ciontista guo vai tazor um oxporimonto, dizondo osso o osso so ou misturar vai acontocor. Tom uma tooria guo olo vai colocar na prática. E ì~n g~uì~ gu~ ua· ì~n ~::~ J~~I:ug, ~::a c·::a u~ Jaz~: :~n u:ugu~n · na:·::a ua: j~::·a: ua· ~ a:::n, j:~c::an :~: aIgu~n j:a Jaz~: a: c·::a:, gu~ a: ~Ia :~, :~ u~u c~:ì· aI:, :a: ua: c·n:g· ìanü~n (· Na n:uIa Juu¸a·, u· c·ì:u:au·, a j~::·a j:~c::a :~: j::n~::· · ~.~njI·, u~ Walmir tamlóm rolata situaçòos solro sua intância o adolos- côncia om guo olo próprio so valou do oxomplos: Vou pai só tinha a soxta sório, minha mão a guarta, o ola voltou a ostudar, toz o sogundo grau dola, ostudou pra concurso pullico, passou no concurso pullico pro Estado do sorvonto oscolar, ontão guor dizor, a n:uIa na~ ¡á J·: un ~.~njI· Eu ¡á :: a ::ìua¸a· Iá u~ ca:a ua: una n~II·:aua aì:a:~: u:::· M:uIa na~ ~ un ~.~njI· j:a n:n Eu lomlro guo ou tinha uns amigos, uns ató da igroja guo os pais sompro diziam pra ostudar, o olos tinham ossa disciplina. E como ou tinha mais contato com olos duranto o dia, ou os via ostudando, ou andava um pouco com olos nosso poríodo guo ou tava lolondo, ou via guo olos ostavam ostudando, tanto guo um dolos tovo tanto ostímulo o ostudou tanto guo ató passou no concurso pra sargonto do oxórcito. ·: ~u JaI~: aI, · JuIau· ja::·u, ~uìa· ~u ìanü~n c·u::g· A idontiticação atotiva com um oxomplo, ou soja, o dosojo do sor como uma outra possoa¨ ó algo muito comum na vida do todas as possoas, indopondonto da classo social. · gu~ ja:~c~ Jaz~: g:auu~ u:J~:~u¸a ~n ì~:n·: u~ cIa::~ :·c:aI ~ :~ a c·uuuìa u~ gu~n u~:~¡a :~: c·n· · :~u ~.~njI· ~ jauìaua ·u ua· uun j:·c~::· gu~ j·::a cuIn:ua: ua agu:::¸a· u~ caj:ìa:: I~g:ì:n·:, 323 ·u :~¡a, :~cu::·: ~c·u·n:c·: ~ cuIìu:a:: cajaz~: u~ ~:ìaü:I:za: un u~ì~:n:uau· jaìana: u~ :~gu:au¸a, a ja:ì:: u· guaI · :::c· u~ :~üa:.an~uì· ·cuj~ n~u·: ~:ja¸· ~ n~u·: :u:~:ì:n~uì·: u· gu~ a c·uJ:au¸a ua a:c~u:a·. A socialização tamiliar ó docisiva para guo a oxomplaridado produza no dostinatário do oxomplo¨ ossa conduta oriontada por oxpoctativas do tuturo. Comoçando pola prosorvação da intogri- dado tísica, as rolaçòos atotivas dontro da tamília produzom o roproduzom nos tilhos a cronça no sou próprio valor, o sonti- monto dorivado do tato do guo os outros acroditam o invostom na idoia do guo ou posso sor o mo dosonvolvor como uma possoa do valor¨. Ë procisamonto ossa cronça possoal produzida polo grupo tamiliar guo torna o invostimonto no próprio tuturo uma olrigação moral¨. Como o grupo tamiliar produz ossa cronça o osso sontimonto possoal om rolação ao tuturo? Quando a vida tamiliar do uma criança ó ostruturada om nomo da incorporação do conhocimontos o porícias comploxas, ola ó condicionada a sontir culpa polas consoguôncias tuturas do suas açòos imodiatas. Para livrar-so da roprovação das possoas guo são importantos para ola tcastigo moral) ou do rotaliaçòos guo ostas possam lho impor tcastigo tísico), assim como para oltor roco- nhocimonto o rocomponsas tprômios morais o prômios tísicos), a criança comoça a sontir¨ o tuturo como ospaço imaginário¨ do ovontos guo ola tom guo controlar com ajustos no sou próprio comportamonto no agora. A colrança dos pais rosulta do um circuito do dádivas om guo a criança dovo dosojar a olrigação moral¨ do rotriluir o atoto dos pais, roalizando a intonção do invostimonto guo dolos rocolo ou rocolou, isto ó, transtormando-so om um modolo do possoa guo não noguo o oxomplo dos pais como outros signiticativos¨: Quando o pai tá colrando, a gonto vô guo olos acroditam guo a gonto podo chogar om algum lugar¨, diz uma ostudanto do tamília polro romodiada O :~uì:n~uì· do culpa polas implicaçòos nogativas no tuturo do comportamonto prosonto, assim como o sontimonto do mórito com rolação às implicaçòos positivas, ó a vordadoira laso do j~u:an~uì· prospoctivo. 5 Ë dosso sontimonto do rosponsalilidado polo tuturo guo são privados os indivíduos da raló, condonados a so idontiticarom com a porspoctiva do ropotição imodiata do hodonismo dolinguonto¨. Quando ossos indivíduos praticam somonto uma projoção intormitonto o oxtra-ordinária do tuturo¨, 324 como ó o caso da porspoctiva mágica guo os onsina a porcolor o amanhã como tonto do tudo guo ó improvávol, não aprondom o procosso cotidiano do sontir o tuturo¨. Dianto do risco do uma vida som tuturo¨ como a da raló, a luta diária do latalhador não ó somonto para chogar ató osso tuturo tpara si mosmo o para os tilhos), mas tamlóm para guo no prosonto haja condiçòos do mantor a cronça nosso tuturo, não doixar a potoca cair¨, como dizom muitos. O diloma do latalhador ó a dupla tarota do tor guo lutar diariamonto por um tuturo molhor o construir o patamar do sogurança¨ guo lho talta para ossa luta. Quando osso sontimonto do tuturo ó roproduzido com sucosso na tamília o lom corrospondido om outras rolaçòos, como a into- ração com os protossoros na oscola o com os amigos, ó possívol guo o sujoito passo a porcolor o próprio tuturo como so tosso da mosma ordom do roalidado daguolos ovontos naturais guo não podom sor domovidos do sou dovir - algo como o nascor o o por do sol. Ora, ó a possililidado do porcolor o vor o próprio tuturo com osso grau naturalizado do cortoza guo constitui o grando privilógio oxistoncial¨ das classos dominantos, solrotudo num contoxto como o atual, om guo a roprodução do capitalismo praticamonto aloliu a possililidado dossa cortoza para a classo tralalhadora. Agora, a classo guo produz a mais-valia ó, om sua maioria, tormada om contoxtos dostituídos dossa possililidado do cortoza. E ó procisamonto a luta para guo ossa incortoza não so traduza om doscronça no próprio tuturo o no consoguonto dosmonto do horizonto tomporal do sontido guo dá coosão à tamília guo constitui o drama o a saga do latalhador como torma do oxistôncia do tralalhador contomporânoo. Ë nossa luta guo o chamado novo ospírito do capitalismo¨ 6 so atirma ontro os dominados como torma do doscrição da incortoza, como so ola tosso uma oscolha, motivando o comportamonto omproondodor mosmo solro ossas condiçòos, logitimando o om parto construindo o Iaü:ìu: do classo oxigido pola situação instávol guo so ocupa na divisão social do tralalho. So podomos dizor guo o latalhador constitui uma classo social ó porguo oxistom indivíduos om posiçòos sociais homó- logas, omlora om ocupaçòos protissionais hotorogônoas, guo so oncontram olrigados o dispostos a dotondor o tuturo do sou mundo da vida¨ - o ospaço das intoraçòos sociais om guo somos sompro possoas por intoiro¨, soja com nossa prosonça, soja com 325 nossa ausôncia, nunca uma prosonça parcial como a do indi- víduo distanciado¨. A tamília, as amizados o o amor romântico tguo tondo a lovar a uma nova tamília) são as tormas modornas do intoração possoal, guo solocionam a possoa por intoiro, om oposição ao indivíduo tragmontado do mundo impossoal, om guo somos porcolidos como agindo puramonto condicionados polo cálculo oconomico. A condição do latalhador ó justamonto a olrigação do dotondor o sou mundo das intoraçòos¨. Elo procisa dotondor o suporto simliótico ta intorponotração ontro a vida matorial o a simlólica) nocossário para guo so possa calcular algo, ou soja, o próprio ospaço para a alocação do um valor inicial para o cálculo. Esso ospaço, o aí so monta a intorponotração aludida acima ontro vida simlólica o vida matorial, ó litoralmonto a casa, soja ola urlana ou rural. Som casa não há tamília, não há mundo da vida¨, o a intoração ontro as possoas ó dosostalilizada pola doscontiança. Podo parocor um tanto contuso constatar guo o latalhador protondo luscar um tuturo, a partir do algum cálculo, o ao mosmo tompo sor alguóm tão dopondonto do intoraçòos possoais tintora- çòos possoais modornas, intimidado). Vas o tato ó guo a contusão ó moramonto artiticial, polo monos guando vomos guo o cálculo do tuturo só ó possívol sol o suporto do rolaçòos possoais. Ora, so ostamos corrotos solro a importância da tamília na tormação da dimonsão tomporal¨ do sontido prático guo o Iaü:ìu: do classo¨ dispòo para imaginarmos o tuturo como so olo tosso uma promossa¨, ontão somos lovados a vor guo o chamado cálculo do tuturo não podo alrir mão da prosonça arlitrária do valor to valor incondicional guo rocolomos como possoa portonconto ao mundo simliótico¨) para o início do cálculo - o nom, claro, o carátor igualmonto arlitrário do sua ausôncia. Ou soja, guando ostamos dispostos a calcular o tuturo ó porguo ostamos posicionados num cálculo guo ó oxtorior à nossa cons- ciôncia o ao sontido produzido dontro dola, ó porguo o podor social guo nos onvolvo na tamília, sol a torma do um circuito do dádiva, como diria Varcol Vauss, nos olriga a rotriluir no tuturo algo guo rocolomos no passado. A dádiva tomporaliza as rolaçòos sociais o com isso ostaliliza uma assimotria guo tamlóm podo invortor-so com o passar do tompo. Como isso acontoco ompirica- monto? Como osso sontido prático oxtorior à consciôncia ó vivido polas possoas? No caso do latalhador, vomos guo a ostratógia do 326 dotondor o invostir na tamília, como conjunto do rolaçòos guo ostrutura o mundo da simlioso¨, ó um ótimo oxomplo do como o cálculo oconomico individual não ó o tundamonto prático da ação oconomica conduzida polo próprio indivíduo. O tundamonto prático ó a cronça do guo ó lom o olrigatório o sacritício o a ontroga do si por um tuturo molhor, ou soja, ó um tundamonto oxtorior a gualguor cálculo guo a consciôncia possa tazor. Essa cronça ó produzida polos invostimontos tdo atoto, do tompo, do dinhoiro, do proocupação, do oração) toitos polos pais nos tilhos o polo tato do ostos invostimontos sorom vistos o tomatizados - na vida roligiosa, por oxomplo - como norma do lom o do corroto. O cálculo individual ó a torma como o discurso liloral dominanto solro a vida social nos taz doscrovor um procosso colotivo do produção do sontido, como so osto so tormasso na consciôncia ou na troca do consciôncias do indivíduos. Polo monos parto signiticativa do guo osso discurso não vô o não tomatiza ó justamonto o guo tontamos tomatizar o vor agui. No caso do latalhador pontocostal, paroco ticar lom claro guo a lusca do tuturo molhor não ó uma docisão individual, mas sim uma cronça colotiva incorporada como so tosso individual¨. O ponto cogo¨ da visão liloral solro o :~IJ-nau~ nau ó justamonto a produção colotiva dossa cronça. Tontomos vor o guo osso discurso não vô o nom tom intorosso om vor. A cronça individual¨ ó justa- monto o ostado do ospírito guo o grupo aponta para cada um dos momlros como torma do acoitar a promossa do um tuturo¨ ttoita polo grupo) o conduzir a vida om dotosa dosso intorosso na promossa¨. Para dar prossoguimonto à cronça o à cronça na rocomponsa da cronça, ó prociso a dotosa da casa, da tamília o do sua roprodução como rotaguarda contra as intompórios do amanhã¨. Ë por ostarom onvolvidos do corpo o alma nossa linha do dotosa guo muitos latalhadoros ingrossam numa vida roligiosa voltada para ossa luta diária om prol da tamília. Não comproondomos a nova classo tralalhadora aponas polas posiçòos individuais na divisão social do tralalho, omlora haja homologia nossas posiçòos como procondição para so talar om classos. Ë prociso lovar om conta a torma do socialização guo singulariza a classo, na modida om guo corrospondo a uma ostra- tógia colotivamonto montada cujo sontido prático ó procisamonto o do roproduzir a própria classo, o sou próprio mundo da vida¨. Na nossa visão sociológica, a dotorminação do comportamonto 32¯ individual por uma lógica do classos signitica guo a classo ó capaz do produzir o tipo do prática cujo oncadoamonto rocursivo tondo justamonto a roatirmar os sous próprios horizontos, roproduzindo as trontoiras com as domais classos. Quando o ostorço do consor- vação do próprio mundo da vida do uma classo ó invisívol para os do tora, ó provávol guo so crio una ua· ì~naì:za¸a· :~c·:- :~uì~ u· Jaì· u~ ì·u· Juìu:· :uu:::uuaI :~: :uc·uì·:ua:~In~uì~ ì:a¸au· u~uì:· u~ ca:a. ¯ Então a classo módia tradicional tondo a contrapor sua suposta individualidado do consumo solitário¨ ao guo ola vô como consumo om massa¨ dos guo so imitam o vão juntos ao supormorcado. Assim so cria uma comproonsão na gual a classo módia noga como um tato pormanonto do sua própria oxistôncia o procosso colotivo do construção o atriluição do protorôncias¨ o docisòos individuais¨. O guo ossa comproonsão não vô ó guo o tundamonto prático dossa nogação ó justamonto o tato do a classo módia já tor muito lom assoguradas as procondiçòos para o tuncionamonto do contoxto do socialização guo roproduz a porsoniticação das cronças colotivas solro o guo dovo sor osporado o o guo dovo sor doixado do lado, ou soja, a pauta do socialização guo dotino a própria classo como um horizonto do oxpoctativas a sor incor- porado sol a torma do um Iaü:ìu:. livro da proocupação mais urgonto do tor guo dotondor a própria vigôncia do um horizonto promissor, ossa classo so roprosonta, nas liogratias individuais roconstruídas socialmonto, como movida por outras proocupaçòos guo nada toriam a vor com classo social: o lazor, a autodoscolorta da própria originalidado... Por sua voz, o latalhador traz para o toco do sua autorroprosontação, o isso tamlóm so podo vor nas roconstruçòos liográticas, justamonto a olrigação do zolar polo sou contoxto do socialização o pola vigôncia do um horizonto promissor¨, pola oducação dos tilhos, por rolaçòos do contiança tortos o lastanto para gorar solidariodado intratamiliar guando o assunto ó consorvar a própria tamília. Nosso argumonto ó guo a tomatização o o toco nossa ostratógia colotiva do dotondor o mundo da simlioso como tundamonto para a vigôncia do um horizonto minimamonto promissor tôm uma ostroita atinidado com o ingrosso do latalhador om igrojas pontocostais. 328 UV CASO EXEVPlAR: A VlSAO CElUlAR DO PENTECOSTAllSVO¨ O ostorço do atualizar roligiosamonto a cronça no tuturo nas o aposar das incortozas guo o prosonto onsoja solro o amanhã tondo a variar no mosmo grau om guo varia a prosonça dos agontos roligiosos na vida cotidiana dos crontos, no sou mundo da vida¨. Enguanto a lgroja Univorsal so ospocializou om atondor os dososporados da raló, 8 o caso ompírico guo mostraromos a soguir podo sor ontondido como oxomplar para a roligião do latalhador: a ostruturação do um acoplamonto da vida roligiosa com a vida cotidiana - a visão colular¨ - a tim do roproduzir uma conduta do cronto¨ no propósito divino, o assim ovitar as situaçòos do dososporo. Aposar do rostrita a poucas donominaçòos, a chamada visão colular¨ podo sor considorada como uma aìuaI:za¸a· do movi- monto pontocostal, já guo so lasoia om trazor os dons carismáticos do Espírito Santo¨ para o contro do todas as suas atividados o para a própria torma do concolor a rolação o o ordonamonto do papóis dontro da lgroja. Essa nova vorsão do protostantismo popular¨ soguo a tradição pontocostal do atirmar guo a comunicação roligiosa dovo so dotinir pola prosonça do Dous¨ sol a torma do Espírito Santo¨, o guo potoncialmonto implica um acosso diroto ao transcondonto¨, isto ó, :~n a n~u:a¸a· ·ü::gaì·::a u~ I:~:a:- gu:a :ac~:u·ìaI ·u u~ aIgun ·uì:· n~:· u~ c·nuu:ca¸a· gu~ ua· :~¡a a JaIa, gu~ ì~n c·n· :uj·:ì~ a :uì~:a¸a· (a c·j:~:~u¸a uun ~:ja¸· c·nun u~ j~:c~j¸a· nuìua· O guo dotino a visão colular¨ ó o uso dosso potoncial da concopção pontocostal do acosso ao transcondonto para produzir uma prática roligiosa com um dostacado podor do rotinizar a rolação ontro sacordotos o loigos, trazondo-a para as divorsas ostoras da vida, o ao mosmo tompo instituir o sacordócio¨ como oxpoctativa gonoralizada ontro os convortidos, :ucIu:::~ ~uì:~ a: nuII~:~: - atualizando dosso modo a idoia do sacordócio univorsal. Nosso sontido, a visão colular¨ toi tormulada como um rotorno ao modolo original¨ da igroja primitiva¨, ou soja, à idoia do guo a prosonça torvorosa no culto¨ ó o ponto alto da vida roligiosa, ainda guo com o suporto do um tralalho oscolástico¨ do proparação individual tora do culto. 329 Na dócada do 1980, surgiu o movimonto da visão colular toriginalmonto conhocido como Grupo dos 12¨) na Colomlia, lidorado polos pastoros Cósar Castollanos o Claudia Castollanos. A novidado chogou ao Brasil no tinal da dócada do 1990, atravós dos pastoros lrasiloiros Valnico Vilhomons, guo atua om São Paulo, tundando a donominação lgroja Nacional do Sonhor Josus Cristo tlnsojoc), o Ronó Torra Nova, o gual lidorou comunidados roligiosas om loira do Santana, mas guo atualmonto pastoroia o Vinistório lntornacional da Rostauração tVlR) om Vanaus. 9 A torma institucional consisto om uma ostrutura do convorsão guo visa transtormar o convortido tlidorado) om sacordoto tlídor) do uma cólula¨, grupo tormado por 1 lídor o 12 lidorados. A instalação das cólulas comoça com os cultos domósticos para o ovangolismo sistomático tganhar a alma para Josus¨), soguo com o ostorço do consolidar ossos oncontros o os contatos possoais, ató guo os lidorados possam ontrar om um procosso soparado do capacitação o tormação na oscola do lídoros¨. Dopois do passar pola oscola do lídoros¨, o procosso do convorsão atingo sou cumo com o onvio do discípulo para conguistar novos lidorados, ou soja, a otapa da ditoronciação soguimontar tmultiplicação) da cólula inicial. A montagom o o tuncionamonto do uma oscola para a propa- ração dos lídoros do cólula ó uma otapa olrigatória. A instrução do lídor possui trôs otapas. Primoiro, olo ó onviado para um rotiro ospiritual¨, om guo tom um oncontro com Dous¨, guo o gualitica a comoçar os ostudos. A tormação dura novo mosos o o contoudo so divido ontro os ostudos da Bíllia, com apostilas guo dirocionam a intorprotação sogundo os dogmas da visão colular¨, o a proparação prática do lidorança. Dopondondo do dosomponho do aluno, olo podo já na oscola sor um colídor, a torcoira otapa antos do assumir a posição do lídor do uma cólula. No ontanto, aposar do carátor oscolástico¨ da tormação do lídor, ó possívol guo alguóm so torno lídor mosmo som concluir ou troguontar a oscola do lídoros¨. Vas isso vai dopondor do uma avaliação do pastor o dos domais lídoros solro o carisma possoal¨ do candidato. A visão colular¨ protondo, portanto, guo a própria instituição roligiosa soja construída sogundo corta concopção do como o cronto dovo agir taco à monsagom roligiosa guo acoita. Todo cronto dovo assumir a rosponsalilidado do ganhar vidas para 330 Cristo¨. A dinâmica intorna do multiplicação da cólula protondo omlutir na protissão do tó¨ do convortido procisamonto osta disposição, osto sontimonto do rosponsalilidado¨ pola tó: o lom lidorado dovo vincular sua tó ao ostorço do tornar-so lídor do uma nova cólula. Cortamonto grando parto da torça prática dossa visão colular¨ dovo-so à possililidado do rocrutamonto tominino para o sacor- dócio. O poso numórico o a disponililidado das mulhoros para a vida roligiosa, guo om outras igrojas pontocostais o noopontocostais diticilmonto rosulta om protagonismo nas tunçòos sacordotais, omlora olas sojam rosponsávois por grando parto das convorsòos, agui ó ototivamonto aprovoitado para ossas tunçòos. lavorocida pola soparação das cólulas a partir do gônoro, a tormação do lídoros do soxo tominino atualiza o princípio toológico do sacor- dócio univorsal o o concoito do vocação para as mulhoros, guo ampliaram sous ospaços do atuação com ossa implomontação do uma u::::a· :~.uaI ~ ::n~ì::ca u· ì:aüaII· :~I:g:·:· O pastor guo coordona as lidoranças do cólula possui o monopólio do cortas tarotas administrativas. 10 Vas sua tunção ospociticamonto roligiosa não so dotino por nonhum privilógio, olo ó um lídor do cólulas como os domais. Nada disso ó por acaso. Dosdo sua gônoso, a visão colular¨ toi tortomonto marcada polo protagonismo tominino o polas guostòos práticas dorivadas da divisão social do tralalho guo atrilui à mulhor as maioros proocupaçòos com o tralalho do socialização¨, ospocialmonto, claro, no contoxto da tamília. Claudia Castollanos, osposa do pastor tundador da visão colular¨ Cósar Castollanos, alóm do sor cotundadora do movimonto na Colomlia o rosponsávol por uma lgroja com mais do 200 mil cólulas, tamlóm roprosonta a visão do mundo¨ da lgroja om cólulas no Sonado do sou país. Não ó oxagoro dizor guo o ostilo do vida do Claudia como mão do guatro tilhas, osposa, pastora o sonadora, do algum modo, constitui o Iaü:ìu: ospocítico¨ guo a visão colular¨ lusca roproduzir: uma torma do condução da vida guo tonta uniticar ditorontos ostoras da vida numa unica torma do socialização. A institucionalização das cólulas paroco justamonto sor uma torma como a roligião pormito produzir o sontido guo atondo a osso ostorço do uniticação da conduta do vida. A osta altura, ó importanto rotor o soguinto: tal ostorço do uniticação, oxompliticado no ostilo do vida da tundadora o 331 transmitido pola institucionalização das cólulas como comuni- dado do tó¨ guo onglola a possoa por intoiro¨, Jaz c·n gu~ a :~I:g:a· ~uca:~ a :·c:~uau~ u· j·uì· u~ :::ìa ua Jan:I:a, ospaço no gual os indivíduos tamlóm são porcolidos como possoas uniticadas. Um dos corroligionários da lgroja do cólulas o da pastorasonadora Claudia Castollanos na Colomlia doscrovo osta porspoctiva adotada: Um dos projotos guo ola tralalhou toi Vulhor caloça do tamília¨, ·u :~¡a, a: nuII~:~: gu~ ua· ì~n ~:j·:·, gu~ ~:ìa· :~ja:aua:, ::u:a:, j:~c::an :~: a¡uuaua: j~I· E:ìau·. Então so criou uma loi para ajudar a mulhor t...) Então são muitas vantagons, o muita coisa guo acontocou na Colomlia para a mulhor o tamlóm so ostá tralalhando ospociticamonto, a j:~ga¸a· u· ~:aug~II· ~ :~:ìau:a: a: Jan:I:a:, ~uìa· :~ JaIa u~ :~:ìau:a: a nuII~: ja:a cI~ga: a· ~uc·uì:· uun j:·c~::· j~::·aI, :~:ìau:a: · I·n~n ja:a un ~uc·uì:·, c·n~¸a: un j:·c~::· ìanü~n j~::·aI, ~I~: ~:ìa· :~uu· aü~u¸·au·:, :a:au·:, cu:au·:, ~ ~I~: cI~gan ua :ua ca:a, ua :ua Jan:I:a, ~I~: ¡á :a· ja:ì~ aì::a ua :~:ìau:a¸a· ua :ua j:·j::a Jan:I:a Euìa· a j·I:ì:ca ì~n u·: a¡uuau· nu:ì· ua ··I·nü:a, u· :~uì:u· u~ gu~ ~:ìan·: J·:ìaI~c~uu· a Jan:I:a c·I·nü:aua aì:a:~: ua 1g:~¡a ~ ua j·I:ì:ca ìanü~n 11 Ora, ao dotinir a tunção da roligião como vinculada à dotosa o à salvação da tamília¨, a visão colular¨ toma a intoração comu- nicativa ontro prosontos como tundamonto da prática roligiosa, como o momonto da roligião por oxcolôncia. O indivíduo guo ontra no procosso do convorsão ontra na vordado num procosso do incorporação do saloros guo sorvom antos do tudo para intoragir com gualidado o com ôxito. Ë a osso procosso do incorporação guo so dirigo a otorvoscôncia colotiva¨ da lgroja om cólulas. O salor ospocítico, cuja atualização trocomponsando, incontivando o dispondo oxomplos) a roligião toma como sua tarota, ó um salor guo só podo sor incorporado, jamais assogurado por um diploma ou gualguor outro suporto guo não ostoja sompro prosonto na possoa ondo guor guo ola vá. 12 Trata-so agui do rostaurar o homom para um oncontro¨, dotá-lo dos prossupostos para intoragir. E do intoraçòos ostruturadas por saloros incorporados dopondo crucialmonto o tuncionamonto do uma tamília. Não dovo sor tamlóm por acaso guo a proocupação com a rostauração para o oncontro¨ soja uma guostão guo oncontra nas mulhoros um podoroso suporto. São as mulhoros, por conta 332 do sorom onvolvidas mais guo os homons no tralalho cotidiano do socializar os tilhos, guo mais tondom a sor sonsívois aos pros- supostos o aos rocursos para o lom tuncionamonto da tamília onguanto unidado social tundada na intoração do possoas prosontos. Ë do so osporar, portanto, guo ostojam dispostas a assumir uma posição do lidorança a tim do rostaurar¨ ossas intoraçòos. Não so trata agui do sugorir nonhum traço singularmonto tominino¨ como oxplicação para guo uma dotorminada visão roligiosa do mundo soja do um joito o não do outro. O guo uma visão osson- cializanto do mundo dostaca com uma gualidado¨ do homom ou do mulhor, nós agui guoromos apontar como uma ditoronça rolacional¨, ou soja, como uma torma do divisão social do tralalho guo doixa às mulhoros a tarota do so tornarom ospocialistas om intoraçòos, do so ocuparom om dotalho do algo guo os homons onxorgam por alto. O tato do havor homons proocupados com os dotalhos da socialização já ó uma prova guo dovoria lastar contra toda visão ossoncialista guo roproduz cogamonto o soxismo. Ora, paroco sor justamonto o ostorço do rostaurar¨ ossa proocupação nos homons o nas mulhoros guo constitui oljoto do proocupação contral no discurso o na prática roligiosa da visão colular¨. O guo o ponto- costalismo da visão colular¨ paroco nos doixar olsorvar ó um intonso tralalho roligioso do tomatizar o ovontualmonto rodotinir as trontoiras do tralalho do socialização, a tim do praticar a torma do divisão do tralalho socializatório guo soja a mais apropriada para ostalilizar o contoxto das intoraçòos o assim roproduzir o mundo da vida¨ da classo. Para analisar osso acoplamonto ontro roligião o socialização tamiliar, ó prociso dostacar os mocanismos polos guais so lusca solocionar dotorminadas disposiçòos o saloros tom dotrimonto do outros sompro) do acordo com as consoguôncias guo so podom antovor solro a gualidado o a consorvação das intoraçòos. Vojamos ompiricamonto: Estudanto do onsino módio om uma oscola pullica do Sotor O, no Distrito lodoral, Daniola, 1¯ anos, doscrovo como so dou · ac·jIan~uì· ~uì:~ :~I:g:a· ~ Jan:I:a na sua vida: M~u ja: ~ na:c~u~::·, n:uIa na~ u·ua u~ ca:a ~ Jaz ü:c·: c·n· Ja.:u~::a M~u ja: ~:a aIc··Iaì:a, :a:a j:a üa:I~:, ì:a:a a n:uIa na~, ~uìa· J·: una ::ua u~ Jan:I:a ì·ìaIn~uì~ u~:~:ì:uìu:aua 333 · g~uì~ ì:uIa agu~I~ :~:j~:ì· J·:¸au·, ~:a na:: n~u· u· gu~ :~:j~:ì·. lsso durou ató os mous 11 anos. Eu tomoi iniciativa do ir pra igroja, mou pai ticou doscontiado, mou pai ponsava guo ou tava tondo um caso, porguo ou saía à noito. Eu comocoi a ir pra igroja, no caso a Quadrangular, hojo somos da Votodista, j·:gu~ ~u ua· g·:ìa:a ua n:uIa ca:a, j·:gu~ a j~::·a gu~ ü~ü~, :~n c·n ü::ga ¡uuì·. So a cortina tava no lugar orrado, ó lriga. Vinha mão não gostava dolo sair. · g~uì~ ua· c·uI~c:a una ::ua n~II·: · g~uì~ ua· :aü:a · gu~ ~:a ~::au· E ua :g:~¡a ~u ::a a: j~::·a: J~I:z~:, :~ aü:a¸auu· Eu J:ca:a n~ j~:guuìauu· j·: gu~ agu~Ia: j~::·a: :~ aü:a¸a:an J~I:z~: :~n :~: ua n~:na Jan:I:a E::a :u~:a u~ gu~ an·: ~ :· ua Jan:I:a ca:u, a:::n gu~ ~u cI~gu~:, a: j~::·a: n~ aü:a¸a:an, J:z u·:a: an:zau~:. A minha mão comoçou ontão a ir comigo, mou irmão mais novo ia do sogurança mou. O ovonto docisivo nosso procosso toi o ingrosso do pai: Elo ia pra mo vigiar, vor so tinha alguóm mo paguorando. E un u:a, ~I~ J·: ca:uu· u~ ü~üau·, ~u J:ca:a c·n :~:g·uIa Ma: ~u :: gu~ ·: ja:: :a· auì·::uau~: gu~ D~u: c·I·c·u ua: u·::a: ::ua:, ontão guando ou o vi lôlado mas dontro da igroja, ou ticava toliz por olo ostar ali. Elo tava no lugar ondo olo podoria largar a lolida. EI~ J·: :uu· a·: j·uc·: aì~ gu~ · u:a ~n gu~ ~I~ n~:n· J·: Iá ua J:~uì~, gu:: nuua: EI~ u:::~ gu~ ì:uIa :::ì· a nuuau¸a ~n n:n, ~ gu~ gu~::a :::· j:a ~I~ ìanü~n ~ j:a Jan:I:a ì·ua EI~ JaI·u u~::~ ¡~:ì·, ~ a: J·: gu~ a g~uì~ c·n~¸·u a :~: ì:aìau· S~ ~u n~uì:a, ~u ua· :·u n~uì:: na:: 1a:·u u~ ü~ü~: ·: ja:ì·:~: JaIa:an gu~ D~u: j~u:a ua Jan:I:a ·: a g~uì~ c·n~¸·u a j~u:a: u· gu~ ~ :~: Jan:I:a ·: a g~uì~ ja::·u a c·u:~::a: na::, · n~u· u~ c·u:~::a: J·: acaüauu·, D~u: J·: c·I·cauu· an·: ua g~uì~ M~u ja:, guauu· :a n~ c·:::g::, ja::·u a c·u:~::a: na:: c·n a g~uì~, ~.jI:cauu· · j·:gu~ uagu~I~ ca:ì:g· M~u ja: ìa:a aü:·::~uu· agu:I· gu~ ~I~ ·u::a, a J·:na u~ u::c:jI:ua: a g~uì~ c·n~¸·u a :~: u:J~:~uì~ ·g·:a a g~uì~ j·u:a c·I·ca: a u·::a j·::¸a·, ·u::a a u·::a :~::a·, ua:a ·uì:a cIauc~ j:a g~uì~ Convorsava pra gonto não comotor mais aguolos orros. M~u ja: ~:a a j~::·a na:: u:J:c:I u~ :~ I:ua:, na: ~I~ nuu·u. Com a minha mão, às vozos, lato do tronto, mas a gonto agora convorsa, a gonto vô na Bíllia. ·: u~c::·~: ua ca:a, ~I~: j~u~n a ·j:u:a· u·: J:II·: M~u ja: j~:guuì·u · gu~ a g~uì~ acIa:a :·ü:~ ì::a: a ca:ì~::a u~ n·ì·:::ìa D, u~j·:: ì::·u a · H·¡~ ì~n ~::~ u:áI·g· 334 Dois aspoctos morocom sor dostacados agui. Um ó o guo já dotinimos como protocia oxomplar do dia a dia¨. Atravós da oxomplaridado, uma possoa não aponas tormula um caminho para a salvação¨ ta salvação da tamília), ola solrotudo mostra a oticácia dosso caminho no próprio comportamonto tElo disso guo tinha visto a mudança om mim, o guo guoria isso pra olo tamlóm o pra tamília toda¨). Do ponto do vista da tamília, o oxomplo agui ó a tilha. Ë ola guom mostra aos domais o guô o como tazor. Ë a partir do sou oxomplo guo so cria nos domais uma disposição para imitar algo ditoronto guo dou corto¨. E o guo so olsorva dando corto no oxomplo do Daniola tguo ola, por sua voz, olsorvou om outros) são disposiçòos o saloros para intoragir touvir o outro, ostar disponívol para diálogo, domonstrar atoto) o, solrotudo, para :~JI~ì:: ua :uì~:a¸a· :·ü:~ a guaI:uau~ ua :uì~:a¸a· - · u:áI·g· j:~c::an~uì~ tAí a gonto comoçou a ponsar no guo ó sor tamília¨). O outro aspocto ó a tro)construção do um contoxto no gual ossas disposiçòos o saloros são usados o atualizados, ou soja, a própria rotina onvolvondo vida roligiosa o tamília guo taz as possoas gostarom do intoragir¨ tou não gostava da minha casa, porguo a possoa guo lolo, vom com lriga junto¨). No caso do Daniola, como ó muito comum, a construção dosso contoxto tom muito a vor com alolir o alcoolismo o a consoguonto mistura ontro lazor individual o indisponililidado para a tamília. O tundamontal agui ó o lazor o as amizados into- gradas à vida roligiosa: · n~u Iaz~: ~u JaI· gu~ ~ a :g:~¡a, a g~uì~ ~ ü~n ~u:·I::u·. Sálado ou taço laló, a gonto lova laló pras crianças carontos do Coilândia. Do oito a moio-dia ou tico no laló. A tardo ou taço inglôs, dopois tonho uma cólula o à noito vamos no oncontro do jovons guo tom musica, luzos, ou pulo lastanto, danço pra valor. Sompro tom uma palavra para os jovons o dopois a gonto sai pra uma lanchonoto, shopping, ou duranto a somana um cinoma. Vosmo duranto a somana, ou tonto tor um tompo pra ou mo divortir. E ua :g:~¡a :a· ì·u·: an:g·:, j·:gu~ a g~uì~ ì~n · n~:n· j:·j·::ì· _uauu· :·c~ ì~n an:g·: c·n a n~:na :::a·, un aj·:a · ·uì:· · g~uì~ ì~n u·::· :~uì:u·, a g~uì~ :a: uuna J~:ìa ~I~ì:·u:ca ~ Jaz ìuu· c·n ·:u~n ~ u~c~uc:a · g~uì~ :~ uu~ j:a ua· j~ca:, :~ u::~:ì:: :~n J~::: a :·uìau~ u~ D~u: O rosultado da protocia oxomplar¨ com a roconstrução do contoxto para intoragir não dovo sor intorprotado como um 335 controlo diroto da consciôncia solro as tondôncias indosojávois onsojadas polas vontados do corpo¨, mas como a possililidado do ostar om ospaços guo não ostimulom o não atualizom ossas tondôncias indosojávois. Dito do outro modo: não ó atravós do um controlo diroto do corpo pola consciôncia, mas atravós da opção conscionto por amliontos institucionais tavorávois guo a consciôncia assumirá corta modida do controlo. A consciôncia, cionto inclusivo da sua limitação como instância do controlo, atrilui ossa tarota a um contoxto oticaz para isso, cuja sanção, no caso do latalhador pontocostal, o acoplamonto ontro tamília o igroja tondo a dotinir. luciana ó do Vanaus, Amazonas, do pais vindos do Nordosto. Vora no Distrito lodoral há mais do cinco anos. Sous pais so sopararam guando ola tinha 4 anos do idado, na ocasião, a mão ostava grávida do um dos sous irmãos. Postoriormonto, a mão tovo outros rolacionamontos guo goraram outros dois tilhos. luciana não tom contato com sou pai, pois a madrasta impodo: Eu não posso ir na casa dolo, porguo ola não doixa. So ou ligo o ola atondo, ola dosliga o tolotono.¨ A mão ó omprogada domóstica, mas, sogundo a tilha, não tom omprogos rogularos o vondo suportos do lotijão do gás. Aos olhos do luciana, ola ó uma possoa irrosponsávol, guo so contonta com o pouco guo tom, alóm do não cuidar dos tilhos: Ela não tom muita idoia do croscimonto, ató hojo. A minha mão ó assim, so tivor uma cartoira do ovo pra um môs, sorvo. Quando mou irmão nascou acalou a minha intância, ticou ou, um do 4, um do 6 o um lolozinho, o ou guo tinha guo ticar com olo. A partir dos 10 anos, ou não podia mais lrincar. A discórdia ontro as duas tamlóm tom outra dimonsão: a do gônoro. luciana toi alusada soxualmonto, por trôs homons ditorontos, ontro olos, o sogundo marido do sua mão. Em um primoiro momonto, ao contar guo o padrasto ostava tondo as mosmas atitudos guo já havia tido um corto tio matorno, a mão não acroditou. luciana porcolo guo a mão a considora culpada por tudo isso. Vuitas vozos, sua mão lho disso guo sou dostino soria casar com homons como os guo ou casoi, o aos 15 anos ostar com a larriga no togão o uma criança no colo¨. Contra toda ossa praga¨ rogada pola mão, luciana só taz ostudar. licar na oscola, para ola, ó sompro molhor do guo ticar om casa: Na 336 oitava, passou a sor horário intogral, o ora tão lom! Quo saudado! A comida da oscola ó muito loa.¨ Alóm do talta do cuidados matoriais tsompro guardamos nossas coisas om caixas¨), ola lusca não compartilhar com a mão um tipo do intoração social guo porcolo como indosojávol, como parto do uma vida possoal dogradada guo a mão já naturalizou: · g~uì~ ua· c·u:~gu~ c·u:~::a: c:uc· n:uuì·: guo a gonto lriga. Vinha mão sompro talou coisas do mim, assim, ruins. Sompro toi dosso joito: Arrumo um marido o vá omlora, porguo ou não to guoro agui¨. Ató hojo ola taz isso, mas como ou tico na oscola o dia todo, diminuiu. A oscola ó ontão o primoiro contoxto no gual ola tonta so lilor- tar do oxomplo da mão, oxomplo guo assim domarca o avosso do sou projoto do vida. luciana ostuda a tim do podor ontrar na UnB polo sistoma solotivo. Salo guo torá diticuldados tinancoiras para cursar Biologia, por isso iniciou um curso tócnico om Admi- nistração o guor um ostágio tamlóm. Como uma latalhadora, já salo dosdo jovom guo não podo so ocupar somonto dos ostudos. Procisa tralalhar para si o para os irmãos. Ela tom plona noção do guo so ola não tizor, a mão não irá tazor: Quando ou chogo om casa o vojo a situação dos mous irmãos, ou não suporto vor mous irmãos malvostidos, com alimontação procária, ou acho guo olos são malnutridos, o ou vojo guo só ou guo posso tazor alguma coisa ditoronto por olos, já guo a minha mão não taz isso. Aposar do tralalho sompro concorror com o ostudo, luciana conta guo a dosvantagom ostótica na disputa pola protorôncia dos garotos toi docisiva para guo, dosdo codo, luscasso roconhoci- monto social nos ostudos: Na oscola, os moninos ticavam talando guo ou ora toia, mas ou salia guo tinha uma coisa guo podia mo tazor molhor do guo as moninas lonitinhas guo tinham lá: ou comocoi a mo dostacar pra ou tor alguma coisa guo mo tizosso toliz. Ató a oitava sório, ou mo matava do ostudar, pra ou tirar loas notas o mo sontir lom, mo tazor toliz. 33¯ Vas so a oscola so tornou o caminho guo luciana dosoja traçar para alcançar uma vida molhor, a lgroja ó tundamontal para guo ola acrodito nosso caminho. Dosdo criança, ola o sous tami- liaros troguontavam a lgroja Batista om Vanaus, mas atualmonto ola troguonta um tomplo da lgroja Proslitoriana, guo tamlóm tunciona com a visão colular¨. Esta, como já vimos antoriormonto, gora uma torto cumplicidado ontro os momlros atravós do rolaçòos do oxomplaridado o oncorajamonto. O pastor do sua igroja ó um dos poucos homons com guom ola não tom modo do convorsar, do tor om alguma modida um rolacionamonto com proximidado. Elo ó um grando incontivador do luciana o do outros momlros da igroja. Na cólula guo troguonta, oncontra momlros guo tôm uma trajotória do suporação, guo a apoiam nas suas oscolhas ostudantis, são amigos com guom ola podo contar sous sogrodos o chorar: Quando a minha mão mo pòo pra laixo, olos ostão lá pra mo apoiar.¨ Os amigos guo luciana oncontra na igroja, as possoas com guom aprondo a intoragir com mais contiança, não ostão lá por acaso. São histórias guo om todo caso podoriam ticar distantos, mas guo lá oncontram um contoxto do ontrolaçamonto, um caminho comum: Eu c·uI~¸· nu:ìa g~uì~ ua :g:~¡a gu~ · ja: üaì:a ~ u:z:a gu~ ua· :a :~: u:ugu~n, nu:ìa: I::ì·::a: ja:~c:ua: c·n a n:uIa Eu ì~uI· ·: n~u: j:·¡~ì·:, jIau·: ~ ua· ~uc·uì:· aj·:· ua n:uIa na~ 1á ~I~: :a· ja:~c:u·: c·n:g·, :~c·uI~c~n n~u ~:J·:¸·, ac:~u:ìan ~n n:n. Eu não soi so ó talsidado, mas ou acho guo ó amor. lá as possoas mostram guo a vida podo sor molhor, guo oxisto um Dous guo podo to ajudar a tor uma vida molhor t...) Eu amo o mou pastor, porguo olo coloca isso na monto da gonto, olo tala pra guo a gonto invista na nossa gualiticação, apoia guo a gonto invista no ostudo, no tralalho. Elo diz guo Dous não vai nos ajudar so não tizormos a nossa parto. Eu gosto dolo, porguo olo coloca todo mundo pra acordar o não doixa ninguóm dosistir. t...) Eu Ju: j~:u~uu· ~::a c·::a u~ J:ca: ::·Iaua, a ì:n:u~z Eu ì::~ na:: ·u:au:a j:a JaIa: c·n a: j~::·a:. Hojo ou conhoço as possoas da minha oscola, tonho gonto guo mo apoia guando a minha mão mo coloca no tundo do poço, guando ola tala um monto do coisa pra mim, ou saio com mous amigos, guo tôm os mosmos oljotivos guo ou o guo acroditam no mosmo Dous guo ou o nas mosmas promossas Dolo. 338 Quais promossas? Eu ac:~u:ì· gu~ guauu· ~u n·::~: ~u :·u j:· c~u, ac:~u:ì· ua j:·n~::a u~ j:·:j~::uau~ D~I~ Na· ~ gu~:ìa· u~ u:uI~::·, ~u ac:~u:ì· gu~ ì~n un jIau· u~ D~u: j:a n:uIa ::ua, gu~ EI~ ua· gu~: gu~ ~u :~¡a :uJ~I:z c·n· ~u :·u Então ou soi guo ou vou sor toliz, Elo diz guo não guor vor sous tilhos sotrondo. t...) Eu vojo guo não ó porguo ou sou da igroja o um dia vou tor um omprogo guo a minha vida vai sor portoita. Eu :~: gu~ ~Ia uuuca :a: :~: j~:J~:ìa S~ un u:a ~u J·: j~:J~:ìa, EI~ j·u~ n~ I~:a: 1uìa: ~u :~: gu~ ~u :·u ì~:, na: ~u ac:~u:ì· gu~ ~u :·u ì~: :aü~u·::a ja:a ì~: a n:uIa Jan:I:a, ~uc·uì:a: aIgu~n gu~ n~ a¡uu~ u:::·, gu~ n~ :~:j~:ì~, :::· j:a n:n ~ n·ì::· u~ J~I:c:uau~ Eu posso tor um poríodo do dosomprogada, mas tomo, tomo, ou acrodito guo ou não passo mais. Porguo ou soi guo tuturamonto, tudo o guo ou tonho projotado, tomo não ostá oscrito lá. Com luciana tica clara uma ditoronça guo rossaltamos no comoço dosto toxto: a aposta mágica no tuturo¨, típica dos dososporados da raló, o o invostimonto cotidiano no tuturo¨, típico do latalhador guo traz para sou modo do vida um salor roalista solro o oncadoamonto do lutas rumo ao amanhã. Ao contrário da tó guo orionta a aposta mágica do guo tudo podo acontocor agora, o latalhador procisa considorar guo, alóm do moramonto alimontar osporanças solro o tuturo, ó prociso trans- tormar o próprio modo do sontir o tuturo, a própria disposição do osporar polo amanhã. Essa ditoronça não so dovo moramonto ao contoudo do duas monsagons roligiosas distintas, omlora oxistam ossas ditoronças. Acroditamos não sor nonhuma positividado imanonto do uma ditoronça idoacional ontro a roligião do latalhador¨ o a roligião da raló¨ a oxplicação mais compotonto para o tato do uma trazor a cronça num tuturo molhor para a conduta da vida cotidiana o a outra não. Quo otoito uma idoia do tuturo a longo prazo¨ podo tor na vida cotidiana so ossa idoia não so torna adjaconto no hojo? O tato do luciana parocor mais racional¨ solro sou projoto do tuturo do guo alguóm guo lusca molhorar do vida apostando na loguoira Santa¨ da lgroja Univorsal não ó simplosmonto porguo sua igroja tala do tuturo como algo mais domorado, o sim porguo sua conduta consoguo juntar o momonto roligioso 339 oxtra-ordinário¨ do acroditar om um amanhã molhor com os momontos cotidianos guo dirocionam o rotorçam ossa cronça como uma disposição para agir. Nosto ultimo caso, a roligião so constitui como um sistoma do intoração ontro possoas nocossitadas do alguóm prosonto no dia a dia para rotorçar a cronça o o horizonto do uma vida molhor. A cortoza na promossa divina ó ontão trazida para uma prática roligiosa guo ponotra no cotidiano, na prosonça dos oxomplos oncorajadoros. A tó om Dous corros- pondo à tó na instituição o om sous agontos: Quando a igroja acalou, o círculo do amizados toi so distanciando. Eu imaginava guo igroja ora só aguola. Eu tinha mais a visão da igroja do guo do Dous¨, diz uma outra pontocostal da visão colular¨. So doscrovormos a tó como uma mora docisão individual, não porcolomos guo ola ó o rosultado do um tralalho colotivo, do um ostorço comunicativo do agontos oncarrogados do lovar a palavra¨ guo indicam a tó como torma osporada do comproonsão. Dito do outro modo: a roconstrução do procosso do convorsão, ompro- ondida polo convortido¨ dianto do sua comunidado do tó¨ como so a convorsão tosso uma docisão possoal, tondo a não olsorvar a tó o a contiança na própria instituição o om sous agontos como prossuposto para a docisão do cror¨ tou croio¨) om Dous o om sua promossa. A tó no transcondonto¨ ó roconstruída do modo a osguocor o tralalho imanonto com o gual as oxpoctativas dos agontos institucionais guo tormulam a monsagom são acoitas o incorporadas por aguolos guo, ao rovolarom sua tó, tomam parto no procosso do construir contiança om torno da instituição tou mosmo om torno do um conjunto dolas, como mostra a rolação do diplomacia¨ ontro ditorontos igrojas ovangólicas) o do sou modo ospocítico do administrar a vida cotidiana, com suas modalidados do invostimonto o rocomponsa do tompo, disponililidado para intoragir otc. 13 Antonio, 36 anos, goronto do uma omprosa do pintura o outros sorviços ostóticos automotivos, mora no Sotor O, no Distrito lodoral. Ë o antoponultimo do uma tamília do soto irmãos. Sou pai talocou do cirroso hopática tom virtudo do consumo do álcool) guando olo ora muito novo, do guom nom lomlra diroito. Pordou tamlóm dois irmãos: o mais novo morrou atogado, guando Antonio ostava na adoloscôncia, o o mais volho tamlóm do cirroso, por causa do consumo do álcool. 340 Com o talocimonto do pai, a mão, guo tralalhava na limpoza do uma oscola pullica como tuncionária concursada, tornou-so a choto do casa o tovo outros trôs rolacionamontos conjugais. Dois aspoctos parocom rovolar guo a mão sozinha não toi capaz do protogor o ompodorar as intoraçòos tamiliaros: as constantos lrigas o os ovontos do agrossão tísica ontro os tilhos o o tato do as crianças ticarom a maior parto do tompo na rua, o guo claramonto compromotou o dosomponho oscolar. Antonio, por oxomplo, guando so convortou à lgroja Votodista, aos 30 anos, só tinha ostudado ató a guinta sório do antigo primoiro grau thojo onsino tundamontal). Tovo guo ontrar codo no morcado do tralalho. Com 12 anos, olo já pogava a omproita da capina¨ tnormalmonto para limpar o guintal do alguóm), vondia sacoló¨ o tazia outros licos¨. Sogundo conta, o ganho ora omponhado com dosposas domósticas, como comprar gás, pãos, loito. Duranto um dos rolacionamontos da mão, Antonio mudou-so para Palmas, no Tocantins. lá tralalhou om um lar o alandonou do voz os ostudos. Quando voltou para o Distrito lodoral, Antonio comoçou a tor alguns omprogos com cartoira assinada: tralalhou num lingo, num posto do gasolina como trontista o tamlóm om uma poguona marconaria. A adoloscôncia do Antonio toi tipicamonto prolongada: ató a convorsão ovangólica olo ostava sompro saindo dos omprogos, taltando nas sogundas, sondo domitido ou podindo domissão, como toi o caso do omprogo na casa do lingo. O motivo, sogundo olo: duranto uns 10 anos participou, junto com alguns irmãos o amigos, do um grupo do pagodo, o como ostava sompro tocando nos tinais do somana tsompro com um cachô guo possoalmonto lho rondia ontro 80 o 100 roais por somana), guando tralalhava o so divortia ao mosmo tompo, acalou não lovando muito a sório o tralalho duranto a somana¨. Nossa mistura ontro tralalho o lazor, Antonio rolata guo o onvolvimonto com algumas drogas o com o álcool o tornava, alóm do irrosponsávol, alguóm muito norvoso dontro do casa¨. Na ópoca da convorsão olo já morava com sua atual osposa, com guom já tinha dois tilhos liológicos, alóm dos outros dois guo assumiu. A convorsão do Antonio como lidorado do uma cólula da lgroja Votodista Ortodoxa do Sotor O corrospondou a uma rocusa do continuar vivondo no osguoma do tralalho-lazor-acalação¨ do pagodo o a um ostorço para assumir rosponsalilidados solro a 341 tamília. Após sois anos do convorsão, tondo so tornado lídor do trôs cólulas tcada cólula ó tormada por 12 possoas), Antonio rolata com orgulho guo: 1) so tirmou o croscou do posição na omprosa do pintura o ostótica automotiva dovido a sou maior compromisso o a sua rogularidado com o tralalho, 2) tornou-so um cara mais pacionto¨, capaz do dialogar com a osposa, os tilhos o do rosolvor contlitos no tralalho, 3) não usou mais drogas o álcool o tamlóm não sai mais à noito som a tamília, 4) construiu uma casa modosta o guitou algumas dívidas guo antos o impodiram ató do consoguir um omprogo. Alóm disso, Antonio ontrou num curso suplotivo o concluiu o primoiro grau. Hojo sou projoto do tuturo ó alrir um lava a jato. Para isso lhos sorvom os contatos o o salor prático guo adguiriu no tralalho do ostótica automotiva. Consultou o Solrao o disso ostar ostudando um lugar om guo a domanda por um lava a jato soja alta, como porto do oticinas, sogundo o oriontou um amigo guo tralalha numa concossionária. No ontanto, aposar da outoria o da cronça nas vitórias doclaradas om sua vida¨ corrospondorom a invostimontos práticos do tompo o dinhoiro na prosporidado oconomica o na gualidado das intoraçòos tamiliaros, olo não doixa do lomlrar guo pordou muito tompo o guo sou projoto do tuturo procisa ostar pautado nossa dosvantagom. Esso roalismo, guo não o doixa acroditar om um comoço do zoro, talvoz soja a laso para uma visão o um comportamonto capazos do controlar racionalmonto as consoguôncias dos planos do ação, na modida om guo lusca planojar tondo om conta os limitos inoxorávois da trajotória o do tompo pordido. Esso tompo pordido ó um dos tomas principais guo Antonio traz para os oncontros do cólulas, tontando sor um oxomplo do orros guo não dovom sor ropotidos por sous lidorados, ainda guo, om tormos gorais, soja para olos um oxomplo positivo. lomos a um oncontro do uma das cólulas guo Antonio lidora. O oncontro toi na casa do um sultononto do corpo do lomloiros tum dos lidorados) o durou por volta do uma hora. Dopois do louvor¨ tcom hinos o movimontos sincronizados dos corpos) o do uma loitura do Antigo Tostamonto solro a oscravidão do povo do lsraol no Egito¨, Antonio toz uma progação. O contoudo toi a nocossidado do acroditar o invostir nas promossas do Dous o do oscolhor o caminho do lom. Na maior parto do tompo, ora a própria vida do Antonio o toco da progação: sou oxomplo do 342 convorsão, sua mudança do porsonalidado o o tompo pordido, guo olo rossaltava como oxomplo nogativo. No tim da progação, Antonio passou a doclarar na vida¨ dos lidorados: Quo dagui saia um diplomata, mou Dous! Quo dagui saia um doputado, mou Dous!¨ otc. Como lídor do uma cólula do 12 jovons, com rapazos ontro 16 o 18 anos do idado, Antonio toma a si mosmo como oxomplo o como toma da comunicação ospiritual da roligião. E, como tal, olo tamlóm ontra na vida das possoas¨ com a prorrogativa do oriontar docisòos, como a do oriontar um lidorado do 16 anos a tazor suplotivo para rocuporar o tompo pordido, ou como a do instruir outro lidorado a não invostir num namoro guo não daria tuturo. Antonio assim so convorto tamlóm numa ospócio do tonto porsonalizada do roconhocimonto social, um pai¨, como atirma Douglas, um do sous lidorados guo so acostumou a aprosontar o dosomponho oscolar para o lídor. O pastor da lgroja Votodista Ortodoxa, guo tamlóm ó lídor do cólula, rolata um caso do intorvonção na vida possoal do lidorado, no gual tica claro o papol da oxomplaridado como critório da construção do docisòos. Elo ostava convorsando com um rapaz do uma tamília polro guo tinha como projoto do tuturo protissional tornar-so lutador do jiu-jítsu. Vo dô cinco oxomplos do possoas guo vocô conhoça guo so tornaram lutadoras o ganharam a vida com isso... mo dô um oxomplo!¨, disso o pastor Rogor ao rapaz. Numa outra convorsa, rovola como a rolação do lidorança toma- tiza a vialilidado do projotos matrimoniais: uma monina muito ostudiosa guoria so casar com um cara guo não gosta do ostudar, guo ia puxar ola pra trás. Aí ou disso a ola guo não ia dar corto o ola acoitou.¨ A lidorança oxomplar cria uma rolação do autoridado oxorcida no diálogo guo ó típica do uma rolação do cumplicidado possoal na gual guom dá o consolho otoroco tamlóm sogurança o rosponsalilidado polo guo vom dopois. A rolação ontro os congrogados nas cólulas, como pudomos olsorvar várias vozos, ó tortomonto marcada por simlioso atotiva: mosmo os homons so loijam o so alraçam todas as vozos guo so oncontram, o a modulação atotiva da tala paroco sor algo muito lom aprondido o praticado nas intoraçòos cotidianas. Quando convorsamos com Antonio, guo disso tor doixado do sor um cara norvoso¨ o com isso so tornado capaz do administrar contlitos som apolar para a agrossão tísica ou vorlal, porcolomos guo a 343 rotloxividado atotiva tamlóm ó dosomponho importanto na rolação ontro roligião o tamília criada na cólula. E o distanciamonto dos atotos, a tim do tormatá-los, só ó possívol guando a disposição para o diálogo ganha uma importância guo antos não tinha para a intoração. Essa disposição para o diálogo signitica a possililidado do guo om cada nova intoração, do guo om cada novo oncontro possoal, soja possívol tomar a história da intoração como toma. 14 Podomos ontão rosumir o acoplamonto ontro o pontocostalismo da visão colular o as intoraçòos da vida cotidiana do soguinto modo: a vida roligiosa, particularmonto os oncontros da cólula, so constitui do intoraçòos ostruturadas o apropriadas para tomatizar o sontido do outras intoraçòos, para tomar distância rotloxiva om rolação ao joito ospontânoo do talar, do olhar, do ouvir o do ostar disponívol para o outro om casa, no tralalho, com os amigos. Por conta disso ó o oxomplo do outro¨ a rotorôncia rotloxiva do diálogo. Ë a torma como o oxomplo tala o intorago guo taz a ditoronça, ó a torma como olo taz o guo tala¨ guo torna crívol o impositivo para os domais o ostorço do tamlóm tazor ditoronto¨. A oxomplaridado ó a torma rotloxiva do Iaü:ìu:. Não ó olviamonto por acaso guo as cólulas são, para os crontos, sinonimo do grupos tamiliaros. O possívol dosomponho rotloxivo guo o tormato da lidorança om cólula pormito doson- volvor dirigo-so claramonto à tamília, o do algum modo tom um u~:~: :~: ua: :~Ia¸·~: Jan:I:a:~: como alvo do comportamonto roligiosamonto normatizado. Alóm da rotloxividado solro a gualidado o a história das intoraçòos tamiliaros, ó tundamontal, no caso do latalhador, guo a vida roligiosa tomatizo os prossupostos oljotivados do dovor sor tamiliar¨, ou soja, a oconomia domós- tica trodução dos gastos individuais com álcool, por oxomplo) o a disponililidado om casa para intoragir. Paroco havor ontro a roligião o a tamília do latalhador pontocostal o guo Niklas luhmann chama do acoplamonto oporacional¨: a produção do intoraçòos rogularos guo roprosontam o roalizam intorossos do ditorontos sistomas sociais. 15 Para alóm do moramonto lançar mão do uma idoia alstrata, trata-so agui do constatar guo: 1) roligião o tamília não são uma coisa só, so tossom não havoria sontido talar om atinidado olotiva¨ ou acoplamonto¨, 2) mosmo não sondo uma coisa só, amlas são igualmonto atotadas pola disponililidado das possoas para a intoração rogular. So as possoas não ostão om casa ou não ticam juntas rogularmonto, a tamília não intorago. 344 So não vão à igroja ou ao oncontro do cólula, não oxisto vida roligiosa. Dosso modo, cria-so uma ospócio do coalizão¨ ontro tamília o roligião cujo tundamonto ó prosorvar a disponililidado para a intoração rogular como prossuposto comum ontro os dois sistomas. A ditoronça prosonçaausôncia¨ guo dotino uma into- ração taz muita ditoronça para ossos dois sistomas sociais. Nosso argumonto agui ó o soguinto: o papol da roligião pontocostal na vida do latalhador costuma rosultar numa pos- sililidado do rotloxividado moral solro a vida tamiliar o solro as intoraçòos om goral. O argumonto so apoia na constatação ompírica da importância guo o tostomunho dianto da comunidado ocupa na roligião pontocostal do latalhador. Como parto docisiva do procosso do convorsão, cria-so um ritual do alrir o coração na prosonça do Dous¨. O convortido, mosmo dopois do muito tompo, ó sompro convocado o ostimulado a compartilhar com os prosontos sous sotrimontos, suas latalhas o suas suporaçòos. Trata-so do um chamado a contiar os sogrodos na ocasião sagrada¨ tna prosonça do Dous) da intoração com a lgroja. Paroco-nos guo a oticácia simlólica dosso mocanismo advóm da possililidado do oltor roconhocimonto social rovolando as histórias dolorosas guo alhuros procisariam sor ocultadas por motivo do vorgonha. Ora, não ó ólvio guo as possoas so oncontrom o, taco a taco, tragam o guo ostá oscondido tausonto) para o conhocimonto do outro. lsso só ó possívol om contoxtos muito ospocíticos, dianto do uma prosonça oncorajadora¨ guo dosomloguo numa prática dosinilidora. Somonto nosso contoxto torna-so provávol a dispo- sição para trazor da intordição as humilhaçòos, as taltas, os pocados, as culpas o os tomoros. Ë muito arriscado tazor isso. A tamília modorna tundada na intimidado o na cumplicidado, guo o latalhador tamlóm lusca tor o construir, ó um lugar privilo- giado para ossa prática dosinilidora, inclusivo som dopondor da tala. Somonto com o sontido prático do corpo, com a ausôncia ou disponililidado para olsorvar o sor olsorvado polo outro, já ó possívol ostimular dosinilição o inilição. Vais do guo um sontimonto suljotivo, uma prática dosini- lidora ó uma torma do comunicação atravós da gual cada um dos prosontos so taz disponívol para as olsorvaçòos do outro, ou soja, um contoxto no gual o toco ó tpotoncialmonto) tudo guo diz rospoito a uma possoa, som guo a oxclusão próvia do assuntos possoais¨ soja a ostrutura da intoração. Paroco-nos sor 345 por pormitir uma rotloxão solro os prossupostos dossa prática dosinilidora ancorada na intoração guo a roligião pontocostal cria um acoplamonto oporacional¨ com a tamília. Há guom sustonto guo intoração ontro prosontos ó a torma social o o prolloma latonto do toda roligião, mosmo guando as roligiòos so tornam oscolásticas¨, lasoadas na oscrita. 16 O roconhocimonto social por conta do tornar-so um oxomplo ó o mocanismo guo moliliza tanto o lídor como o lidorado do uma cólula. Quom rocolo o oxomplo, o isso ostá instituciona- lizado na ostrutura do ditoronciação das cólulas, dovo so proparar para sor tamlóm oxomplo para um torcoiro. Essa rolação possoal onsinada om dotalho na cólula podo translordar dirotamonto na tamília, posto guo a idontiticação atotiva com o oxomplo do outro¨ ó a torma do intoração social pola gual a tamília cumpro sua tunção do proparar para o mundo¨. Tomar o outro como rotorôncia, como oxomplo, implica olsorvar a si mosmo com o horizonto do oxpoctativas no gual aprondomos a cror atravós dossa idontiticação atotiva com nossos oxomplos. Ë somonto dosso modo guo o horizonto do tuturo torna-so tangívol aos olhos, aos ouvidos o inclusivo às mãos. Exomplos sorvom, portanto, para prosontiticar o horizonto tomporal do um dotorminado lugar social¨ tuma classo), para atualizar a ostrutura do oxpoctativas guo traça¨ o sontido do liogratias individuais om contormidado com o lugar¨ guo so ocupa no prosonto. O oxomplo traduz a dimonsão tomporal na dimonsão do ospaço, roprosontando o tuturo om um lugar ao lado¨, om algo guo já ó¨ o no guo, a oxomplo, ou posso mo tornar. Não ó só um moio, ó tamlóm um tim da ação guo suscita no outro. Com isso, dar o oxomplo torna visívol o dosojávol a rocomponsa guo só podo sor oltida caso a possoa osporo, salondo adiar o rotorno do sua atividado social, invostindo, o não somonto apostando. Por roprosontar um caminho para os outros, os oxomplos parocom sor lons rocursos para ontrolaçar as liogratias individuais com as sagas colotivas. Com os oxomplos, uma classo do possoas produz uma ostrutura do solidariodado típica na intoração ontro prosontos tgual procosso histórico do tormação do classos sociais não dopondou do uma ostrutura intorativa?), no oncontro ontro sous momlros. Ninguóm lusca sor oxomplo para si mosmo. O latalhador pontocostal lusca sor oxomplo para as possoas guo olo oncontra no sou caminho, um caminho guo ó ospocítico do 346 latalhador. Não taz muito sontido um ox-alcoólatra convortido om pai rosponsávol luscar sor oxomplo para aguolo sujoito guo mora numa colortura o cuja tamília podo sor porcolida como loa vida¨, mosmo om comlinação com o consumo cotidiano do uísguo o com o hodonismo om goral. O caminho do latalhador, como procuramos mostrar agui, ó marcado por um onvolvimonto pormanonto com a dotosa do mundo da vida¨ o da socialização tamiliar. Vimos como a roligião dosomponha um papol importanto nosso procosso ao contriluir para ostruturar intoraçòos taco a taco guo são docisivas para a tormação do Iaü:ìu: do latalhador, ospocialmonto do sua dispo- sição para cror no tuturo o agir do acordo com ossa cronça. Vas a dotosa do mundo da vida¨ tamlóm onvolvo uma rolação com a lusca do sogurança oconomica. E ua n~u:ua ~n gu~ a :~I:g:a· a::un~ a j~::j~cì::a ua Jan:I:a ~Ia acaüa ìanü~n j·: ì~naì:za: ·: j:~::uj·:ì·: ~c·u·n:c·: ja:a :~u Juuc:·uan~uì· A oxistôncia do rodos do oportunidados oconomicas ontro ovangólicos já ó lastanto atostada pola litoratura solro o toma. Estudos ompíricos mostram como a tiliação roligiosa às igrojas pontocostais tunciona como um patamar do sogurança om situ- açòos ovontuais do dosocupação. 1¯ A rodo do oportunidados oconomicas criada pola lgroja compòo uma torma do impodir guo a talta do uma ronda impliguo dirotamonto um procosso do dogradação das intoraçòos o do orosão da tamília como um ospaço soguro para ossas intoraçòos. EIa :~::~, j·:ìauì·, ja:a n·ü:I:za: c·uu:¸·~: ~c·u·n:ca: u~c~::á::a: ja:a gu~ a Jan:I:a ì~uIa auì·u·n:a u:auì~ u· :::ì~na ~c·u·n:c· So os pontocostais so dostacam no ongajamonto om associaçòos roligiosas capazos do lutar contra a insogurança o a dostiliação social¨, mosmo ostando omprogados, o so os dosomprogados pontocostais procisam do monos tompo para consoguir um novo omprogo, 18 ó porguo a tiliação roligiosa ó capaz do tato do dotondor um patamar do sogurança contra o risco do oxclusão. Nosso argumonto agui ó guo a criação dossas rodos do oportunidados oconomicas, assim como a dotosa do um patamar do sogurança contra o risco do oxclusão, procisa sor comproondida como uma ostratógia do classo, como uma ostratógia típica da nova classo tralalhadora tos latalhadoros). 34¯ CONSlDERA(OES llNAlS Com a noção do ostratógia do classo guisomos sompro rossaltar guo ocupar uma dotorminada posição social implica ostar insorido om um campo do possililidados o do impossililidados¨ tostar dosomprogado o dosamparado, não tor cortoza do guo vai ostar omprogado por muito tompo, tor contiança do guo so ostivor dosomprogado os irmãos¨ irão ajudar otc.). O nucloo do nosso argumonto ó guo osso campo não procisa oxistir tormulado na consciôncia do ninguóm para guo orionto as práticas sociais. A ostratógia do classo não so roduz nom a uma docisão individual, nom a uma doliloração colotiva autotransparonto. A ostratógia do classo são os rocursos práticos guo pormitom oxprossar o instituir no prosonto uma ditoronça ontro passado o tuturo. A torma como so domarca uma trontoira com o passado ó a mosma torma do guo so dispòo para antocipar o tuturo. O grau do dosproocupação com a volta do passado¨ o a consoguonto possililidado do so ocupar do tuturo ó o guo domarca, na prática, as ditoronças do classo na sociodado modorna. Vimos ao longo do toxto como o latalhador, om sua vida roligiosa no pontocostalismo, so ocupa do atualizar uma cronça no tuturo, dotondondo no prosonto o patamar do sogurança nocossário à manutonção o ao uso prático dossa cronça. A idontiti- cação atotiva com o outro o com o grupo ó o mocanismo socia- lizatório rosponsávol por ossa atualização do uma cronça no campo dos possívois¨. Atravós do guo chamamos do protocia oxomplar do dia a dia¨, as liogratias individuais incorporam a ostratógia colotiva, ou soja, oxompliticam uma torma do soparar o tuturo do passado. Somonto tazondo ossa soparação ó guo a lusca do tuturo podo tazor sontido. Atravós das rodos do oportunidados oconomicas, o grupo roli- gioso consoguo trazor para a oconomia a ostratógia do classo guo as intoraçòos taco a taco roproduzom na socialização. Por isso, tal dimonsão oconomica procisa sor comproondida om conjunto com ossa ostratógia guo nas cólulas, por oxomplo, so traduz om rodos intratamiliaros para protoção do tamílias. Não so compro- ondom ossas rodos do oportunidados oconomicas so partimos do prossuposto do guo sua lógica ó a lógica do cálculos oconomicos individuais. Elas só oxistom o so roproduzom como uma ostratógia colotiva do provor garantias para os indivíduos om situaçòos do 348 maior vulnoralilidado, do modo guo so mantonham na cronça no tuturo guo constitui a ostratógia. Costuma-so dizor guo a divisão do classos portonco ao passado da história o guo um dos sintomas disso soria o rossurgimonto da roligião. No ontanto, nosto toxto guisomos mostrar o guão oguivocada ó ossa porspoctiva. Nosso oljotivo toi domonstrar guo a roligião tamlóm taz parto da dinâmica das classos. A posguisa com os latalhadoros mostra guo o ingrosso individual na roligião ó sompro parto intogranto do uma ostratógia colotiva tundada na roprodução dos horizontos do uma classo. Assim, vimos guo a roligião pontocostal não so ocupa somonto do indivíduos, mas dolos onguanto momlros do tamílias. Ao congrogar o horizonto oconomico com o horizonto do socialização om intoraçòos - o guo so traduz na dotosa da casa¨ como ospaço ondo ossos dois horizontos so tundom -, a roligião pontocostal tomatiza o mundo da vida¨ do uma dotorminada classo do possoas. A roligião articula a posição ospocítica no ospaço social do latalhador, a gual implica uma ocupação pormanonto om dotosa do amlionto do socialização da classo. Nosso sontido, podomos dizor guo na lgroja a classo so moliliza om dotosa do sous intorossos, ainda guo ossa molilização não cruzo as trontoiras da mídia o da ostora pullica, guo noga a própria oxistôncia do classos sociais. ✏ C M ✏ ⌥ ✓ ⇥ ⇡ C C ↵⌥C C⌦GÂMl✏C ↵M⌃⌦↵ P⇧⌃⌦l⇣CMl⇧⌥l⇥⇣C ↵ ⌦⇧✏l⇥⇣C D↵ ✏⌥⇧⇥⇥↵ ⇧ MCV⇧ ✏⌥⇧⇥⇥↵ ⇣⌘Dl⇧ MC Dl⇥✏✓⌦⇥C ⌥l⌅↵⌦⇧⌥,✏CM⇥↵⌦V⇧DC⌦ Os rosultados da posguisa guo roalizamos toram, om grando modida, surproondontos para todos guo dola participaram. O ostorço do intorprotação da onormo massa do matorial ompírico colotado toi dosatiador o tompo intoiro. lsso ó típico do uma posguisa vordadoira¨, guando, rigorosamonto, não so salo o guo so vai oncontrar ao tinal do tralalho, ainda guo oxistam, olviamonto, algumas hipótosos do tralalho iniciais. Toda posguisa ó, portanto, um risco, podo ou não dar corto, como gualguor outro vordadoiro omproondimonto na vida. Estamos consciontos tamlóm do guo os rosultados guo consoguimos são passos iniciais guo roguorom aprotundamonto o tralalhos postorioros. Ao mosmo tompo, no ontanto, acroditamos guo as conclusòos dosto tralalho apontam diroçòos novas o protícuas para o ostudo não aponas do sogmonto social analisado, mas, tamlóm, para a comproonsão dos otoitos da nova taso do capitalismo mundial - conhocido como capitalismo tinancoiro, capitalismo tloxívol, nooliloralismo ou simplosmonto como glolalização - na socio- dado lrasiloira contomporânoa como um todo. 350 Como ossa nova classo social, chamada pola mídia do omor- gontos¨ ou do nova classo módia¨, toi a grando rosponsávol polo tortalocimonto do morcado intorno o, consoguontomonto, polo dinamismo oconomico lrasiloiro da ultima dócada, uma adoguada intorprotação dossa classo oguivalo, om grando modida, a uma intorprotação da própria diroção do dosonvolvimonto do capitalismo lrasiloiro como um todo. Ou soja, o guo ostá om jogo não ó pouco. Daí o torto intorosso, tanto oconomico guanto político, guo ossa classo vom dosportando do manoira crosconto. Um oxomplo disso ó o aumonto oxpononcial das roportagons na mídia acorca dosso sogmonto o das posguisas guo protondom dar conta o comproondor o tonomono mais novo o mais importanto da sociodado lrasiloira nos ultimos tompos. A posguisa coordonada por dois ilustros ciontistas políticos lrasiloiros, Bolívar lamounior o Amaury do Souza, patrocinada pola Contodoração Nacional da lndustria, guo rosultou na roconto pullicação · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a. anü:¸·~:, :aI·:~: ~ j:·¡~ì·: u~ :·c:~uau~, ilustra ossa situação. 1 Aposar do título alrangonto, o principal toma ó a guostão da sustontalilidado¨ da assim chamada nova classo módia¨. No ontanto, a posguisa dossos cologas não rosorva nonhuma surprosa. Na roalidado, tomos muitos lons motivos para cror guo sous rosultados o sua intorprotação já ostavam prontos o acalados mosmo antos do a posguisa comoçar. Esso tipo do posguisa guantitativa com guostòos ostorootipadas guo não rotlotom sous prossupostos - vor crítica dotalhada no capítulo acorca da motodologia do nossa posguisa nosto livro - sorvo, antos do tudo, como logitimação ciontítica¨ au I·c do tosos políticas oxtromamonto consorvadoras guo oljotivam voicular o naturalizar uma visão distorcida da sociodado lrasiloira. A rotloxão solro os prossupostos do uma dada posguisa ó sompro nocossária porguo não oxisto ponto do partida noutro¨ na ciôncia, omlora o tipo do posguisa roalizada polos cologas citados viva, procisamonto, dosso tipo do ilusão. No caso da posguisa om aproço, a torma como suas guostòos são colocadas o intorprotadas ó trilutária do uma intorprotação liloral, do um toitio muito poculiar, guo paulatinamonto so tornou hogomonica ontro nós dosdo a pullicação do Ra:z~: u· 1:a::I, do Sórgio Buarguo do Holanda, om 1936. Sórgio Buarguo ó uma ospócio do pai¨ da sociologia hogomonica no Brasil ató hojo, 351 guaso 80 anos dopois da pullicação do sou livro mais tamoso, guo ató hojo ó um dos livros mais vondidos o lidos no Brasil. Essa toso toi continuada por Raymundo laoro, lornando Honriguo Cardoso, Rolorto DaVatta o, do rosto, pola osmagadora maioria da produção hogomonica nas ciôncias sociais lrasiloiras dosdo ontão. Não oxisto, guo tiguo lom claro ao loitor para ovitar mal-- -ontondidos, nonhum prolloma com o liloralismo, onguanto doutrina da lilordado oconomica o política individual, o gual ó tundamonto lásico do gualguor rogimo domocrático. Som as garantias lilorais consolidadas constitucionalmonto não oxisto lilordado individual possívol. Vas os liloralismos são vários o sorvom a tins muito distintos. O nosso liloralismo hogomonico, na ostora pullica, na grando impronsa consorvadora, assim como om loa parto do dolato acadômico - polo monos aguolo guo tom visililidado midiática - ó, cortamonto, uma das intorprotaçòos lilorais mais mosguinhas, rodutoras o suporticiais guo oxistom om oscala planotária. So tossomos complotamonto sincoros, toríamos guo dizor guo ossa intorprotação nada mais ó, hojo om dia, guo pura violôncia simlólica¨, som gualguor aporto intorprotativo ototivo o som gualguor compromisso, soja com a vordado ou com a dor o o sotrimonto guo ainda marcam, do modo insotismávol, a maior parto da população lrasiloira. Por violôncia simlólica ontondomos agui a ocultação sisto- mática do todos os contlitos sociais tundamontais guo porpassam do tio a pavio uma sociodado tão dosigual como a sociodado lrasiloira om nomo do volho ospantalho¨ da tradição intoloctual o política do liloralismo lrasiloiro guo ó a toso do patrimonia- lismo¨. Na vordado, o guo procisa sor dito ó guo a guostão não ó aponas a alsoluta tragilidado dossa noção volha, gasta o som gualguor podor oxplicativo. Nom tamlóm guo ola ó rotirada do contralando do aparato oxplicativo voloriano, om guo aponas o prostígio dosso grando autor ó manipulado como torma do garantir logitimidado ciontítica¨. Atinal, o uso dosso tormo nas ciôncias sociais lrasiloiras ó a-histórico o mostra o Brasil como o país da otorna pró-modornidado¨, no gual a noção do patrimonialismo podo tor algum uso oticaz o racional. Para Wolor, por oxomplo, na sua análiso do clássico caso do patrimonialismo da China imporial, o patrimonialismo como torma do dominação política só ó compatívol com ausôncia do diroito tormal, com logitimação 352 mágico-roligiosa do podor político o com uma oconomia monotária pouco dosonvolvida. 2 Dosso modo, o uso dossa noção para o Brasil modorno ó doscalida o alsurda. Na vordado, os autoros da rotorida posguisa soguor chogam a oxplicitar o guo ontondom por patrimonia- lismo, omlora a justiticação dos concoitos contrais soja um ponto do honra do todo ostudo ciontítico. Sogundo olos, a tradição histórico-sociológica lrasiloira¨ consagra o uso do concoito. 3 Ë vordado. Ë por conta disso guo ropotimos concoitos anacronicos do 80 anos atrás ompolrocondo o dolato pullico o acadômico lrasiloiro. Calo à ciôncia ronovar¨ o dolato pullico o não tossilizá-lo o naturalizá-lo. O guo ó mosmo tundamontal nosso toma, guo oxplica om ultima análiso sua pormanôncia nos ultimos 80 anos, guando o Brasil so transtormou na roalidado do manoira radical onguanto sua intorprotação¨ continuou a mosma - um paradoxo ovidonto para gualguor possoa intoligonto guo rotlita dois minutos solro osso toma -, ó guo olo pormito logitimar a idoologia mais olitista o mosguinha sol a aparôncia¨ do crítica social¨. Como isso ó consoguido? Ora, lasta simpliticar o oliminar a amliguidado constitutiva, tanto do morcado guanto do Estado - os dois podom sorvir para produzir o dividir a riguoza social o para concontrá-la na mão do uns poucos -, o transtormar o morcado no roino idoalizado do todas as virtudos - compotôncia, oticiôncia, razão tócnica supostamonto no intorosso do todos - o o Estado, om roino do todos os vícios - politicagom, inoticiôncia o corrupção. Essa porcopção distorcida, intantil o onviosada da roalidado social ó a unica razão para a pormanôncia dossa noção como concoito contral da intorprotação consorvadora do Brasil ató hojo dominanto. Como so oxplica isso? Por guo isso acontoco? Ponsomos juntos, caro loitor. Como, do outro modo, soria possívol logitimar um tipo do capitalismo tão voraz o solvagom cujo PlB roprosonta guaso ¯0/ om ganhos do capital tlucro o juro) - guo lonoticiam, antos do tudo, moia duzia do grandos languoiros o grando industriais - o rosorva pouco mais do 30/ para a massa salarial do rostanto dos outros guaso 200 milhòos do lrasiloiros? 4 Nas grandos domo- cracias capitalistas ouropoias a rolação ontro ganhos do capital o massa salarial ó invorsa à lrasiloira. A toso do patrimonialismo sorvo para ocultar um tipo do capitalismo solvagom o voraz - 353 construído para lonoticiar uma poguona minoria - o ainda apontar o culpado om outro lugar: no Estado, supostamonto o unico lugar do todos os vícios sociais. Na roalidado, a grando corrupção no Estado ostá sompro ligada à corrupção no morcado. A corrupção - comproondida como vantagom ilogítima num contoxto do protonsa igualdado - ó, aliás, dado constitutivo tanto do morcado guanto do Estado om gualguor lugar do mundo. A traudo ó uma marca normal do tuncionamonto do morcado capitalista sompro guo osto não soja rogulado. A ultima criso tinancoira doixou isso aponas claro como a luz do sol para todos. O morcado tinancoiro mundial som rogulação ostatal usou títulos som gualguor garantia, maguiou¨ incontávois lalanços do omprosas o ató do paísos - como na roconto criso da Grócia - o tom usado do gualguor oxpodionto guo possa garantir maior lucro. Vas a cantilona solro o patrimonialismo só do Estado o a oxaltação da contiança¨ - um traço cultural protonsamonto aponas amoricano para nossos ciontistas sociais colonizados ató o osso -, guo soria um traço aponas do morcado, continuam sondo ropotidas à oxaustão ao arropio da roalidado. Vinha toso ó a do guo não oxisto outra saída para o liloralismo consorvador lrasiloiro a não sor ropotir o mosmo discurso popu- lista o manipulador da corrupção, supostamonto aponas ostatal - já guo osta toi a torma guo a talsa gonoralização dos intorossos particularos do lucro o do juro tácil oncontrou o construiu cuida- dosamonto dosdo os anos do 1930 -, do modo a oncontrar algum oco nos sotoros popularos. Como a comproonsão dos mocanismos sociais guo constroom a dosigualdado o a injustiça social institucionalizada ó comploxa o incomproonsívol para a multidão do possoas guo tom guo lovar sua vida cotidiana, a toso do patrimonialismo o da corrupção aponas ostatal rosolvo toda ossa comploxidado do uma só tacada - criando a ilusão do guo so comproondom o mundo o as causas das misórias sociais - ao criar o culpado¨ possoalizado o matorializado no Estado. Todos os prollomas sociais acontocom dovido à corrupção supostamonto aponas ostatal. Vas o golpo do mostro¨ dossa toso ó o ganho atotivo¨ consoguido ao tornar a sociodado¨ - ou soja, nós todos a guom ossa idoologia so dirigo - tão virtuosa guanto o morcado, oxpulsando todo o mal num outro¨ lom localizado, uma olito ostatal guo ninguóm dotino o localiza procisamonto. Ela podo sor todos o ninguóm. Assim, a toso do patrimonialismo otoroco loa 354 consciôncia¨ a todos guo podom so imaginar portoitos o som mácula, som participação nonhuma numa sociodado guo humilha, dosgualitica o não roconhoco grando parto do sua população, já guo todo o mal¨ já tom ondoroço corto. Essa ó a unica o vordadoira tunção da toso do patrimonialismo. Ela ó uma violôncia simlólica guo pogou¨ - graças a intonso tralalho guo inclui toda a mídia dominanto guo a ronova todos os dias - o guo pormito guo sous dotonsoros posom do críticos oxilindo um charminho crítico¨ - atinal, o comlato à corrupção soria no intorosso do todos -, possililitando univorsalizar o tipo mais mosguinho o particular do intorosso: a porcopção da ropro- dução social como mora roprodução do morcado. Ë oxatamonto isso guo dizom os autoros toxtualmonto: ...|n}a luta, guo ó atinal do toda a sociodado lrasiloira, contra o patrimonialismo, o nopotismo, o dospordício do rocursos pullicos, do toda uma sório do mazolas, ontim, do guo so acha imprognada a máguina do Estado. 5 Ora, caro loitor, om gualguor lugar do mundo - o om gualguor lugar do mundo oxisto corrupção om todas as ostoras sociais - tamlóm o comlato à corrupção só ó consoguido com a molhora dos mocanismos do controlo. Qualguor dolato sólrio, conso- guonto o não manipulativo-populista a rospoito do comlato à corrupção tom guo ostar vinculado à molhora dos mocanismos institucionais do controlo. Vas o guo intorossa à toso do patrimo- nialismo o aos sous dotonsoros ó dramatizar¨ a talsa oposição ontro morcado divino o Estado dialólico como torma do ocultar as roais distorçòos do uma sociodado tão dosigual guanto a sociodado lrasiloira. Assim, o rosumo do livro dos autoros ó pítio: a sustontalilidado da nova classo módia¨ tom sou maior prolloma nos ontravos do um Estado intorvontor o potoncialmonto corrupto. A glolalização - ou soja, o novo capitalismo tinancoiro guo analisamos na introdução dosto livro - toria criado as condiçòos do construção - aponas nos anos do 1990, ou soja, coincidontomonto¨ aponas no govorno do lornando Honriguo Cardoso - dossa nova classo atluonto. E, aposar dossa classo tor croscido procisamonto no govorno do prosidonto lula, ó agora guo o ostatismo¨ amoaça a sua oxistôncia o dosonvolvimonto. Ë típico do uma idoologia 355 guo pordou suas condiçòos do validado do so ropotir - como uma psicoso guo pordou contato com a roalidado oxtorna ou como um mantra guo só taz sontido para guom o pronuncia - om ovidonto contlito com o mundo oxtorno. No mundo roal, ondo as possoas guo oxistom o lovam sua vida cotidiana ototivamonto vivom, cujos dramas o sonhos toram o matorial ompírico dosto livro, a univorsalização o onormo croscimonto - guo ainda ó, diga-so do passagom, largamonto insuticionto - das políticas sociais do govorno lula são porcolidas como ponto tundamontal - alóm das políticas ainda tímidas do microcródito - para dinamização do morcado intorno lrasiloiro o para importantos procossos do molilidado social ascondonto para guaso todos os nossos ontrovistados. Não ó do nosso intorosso, como a sogunda parto dosta conclusão irá mostrar, pormanocor nossa dimonsão amosguinhada do dolato político partidário - guo ó, intolizmonto, a unica dimonsão do dolato pullico no Brasil -, mas tamanha violôncia à roalidado tom guo sor donunciada. Na vordado, tamlóm as políticas sociais do govorno lula são amplamonto insuticiontos para uma vordadoira mudança ostru- tural da dosigualdado lrasiloira. Não olstanto, o pouco guo toi toito - com intonsa campanha contrária do divorsos sotoros - oltovo rosultados inogávois pola docisão do so utilizar uma poguona parto dos rocursos do Estado om lonotício dos sotoros popularos. A livro ação do morcado, como sompro, só lonoticia os já privilogiados. Vas ossa ainda não ó toda a história do livro criticado nom do ponsamonto liloralconsorvador lrasiloiro. Comlinado com a cantilona do patrimonialismo, tomos tamlóm o racismo do classo. Assim, o outro porigo guo ronda a sustontalilidado o o dosonvolvimonto tuturo da suposta nova classo módia ou da classo C¨ ó guo taltaria capital social¨ a ossa classo, o guo soria um impoditivo tuturo importanto na mudança do condiçòos tavorávois ao dosonvolvimonto oconomico. Esso toma ó intorossanto porguo domonstra calalmonto guo a toso do patrimonialismo so associa, organicamonto, ao racismo do classo, traço indolóvol o, osto sim, histórico o socular da logitimação dos privilógios das classos dominantos. Não so trata do coincidôncia guo os mais polros sistomaticamonto oxprossom avaliaçòos mais tavorávois solro o govorno. M~u·: 356 :uì~:~::au·: ~ aì~uì·:, ossos ontrovistados tondom a concluir guo os sorviços prostados polo govorno não guardam corrospondôncia com a carga do impostos guo pagam, assomolhando-so mais a dádivas do guo a contraprostação. tgrito mou) 6 O contoxto dossa citação ó a saia justa¨ dos autoros para oxplicar o apoio dos sotoros popularos ao atual govorno o à intorvonção componsatória do Estado. Para os autoros, osso tipo do apoio só podo sor lurrico¨ - a dotinição, no contoxto da vida cotidiana, para guom ó pouco intorossado o atonto¨ - das classos mais polros, o nunca porcopção racional dos próprios intorossos. A rolação ontro polroza¨ o lurrico¨ não ó casual nom arlitrária. Ë digno do nota guo os autoros tonham criticado a protonsão do guoror onsinar¨ às classos guais são os vordadoiros intorossos do marxismo, isso já na página 9, tazondo a mosma coisa com sinal contrário - ou soja, como racismo o dosprozo do classo, no contoxto do ologio às classos altas porcolidas como lastião da moralidado nacional¨ t::c) - no rostanto do livro. Na vordado, soria ongraçado so não tosso trágico por ospolhar toda uma visão do mundo institucionalizada o naturalizada ontro nós. Tão naturalizada guo os autoros a ropotom som nonhum pojo. A logitimação pola intoligôncia¨ ó um dado nocossário para a violôncia simlólica do um tipo do dominação social guo tom guo logitimar os próprios privilógios por uma ospócio do talonto inato¨, a intoligôncia¨ das classos suporioros, guo morocom¨ - a dotinição calal da moritocracia¨ -, portanto, os privilógios guo ototivamonto possuom. Vas o tralalho do ologio da dominação tática om uma das sociodados mais oxcludontos do planota não tormina aí. Alóm do aspocto cognitivo tmais intoligonto), tomos guo adicionar tamlóm o aspocto moral¨, guo onvolvo as noçòos do mais justo¨, suporior¨ o molhor¨. Atinal, a violôncia simlólica da construção do morocimonto¨ do privilógio não podo so rosumir ao ologio dos mais intoligontos. Dontro da tradição roligiosa guo construiu a moralidado ocidontal, são os lons¨ guo morocom tudo. Assim, a violôncia simlólica lontoita tom guo mostrar guo as classos dominantos são, alóm do mais intoligontos, molhoros¨ o mais virtuosas¨. Como osso tralalho do logitimação¨ ó construído por nossos autoros? Ora, toma-so a noção suporticial, contusa o compósita do 35¯ capital social¨ - já om Rolort Putnam, o invontor do concoito o da moda, ¯ um tormo guo naturaliza procossos sociais o oscondo a gônoso dos privilógios do gualguor ospócio, o não aponas os rogionais -, a gual so rocolro com a noção monos clara o ainda muito mais contusa do contiança¨. Pronto, agui tochamos o círculo da violôncia simlólica. Atinal, dontro do horizonto moral no gual ostamos insoridos, guom moroco mais contiança¨ ó mais virtuoso¨, ó lom¨, ó molhor¨. Aponas agui o círculo da logitimação do privilógios táticos so torna portoito. Vojamos os autoros: Entro os valoros morais o como parto do capital social, dostaca-so a contiança, isto ó, a norma intormal guo promovo a cooporação ontro dois ou mais indivíduos, tratada a soguir. Ao promovor a cooporação om grupos, a contiança ó rospaldada por virtudos tradicionais como honostidado, rociprocidado, rospoito aos compromissos o cumprimonto das olrigaçòos. Sou alcanco ó amplo. Ao roduzir custos do transação, a contiança contrilui para a oticiôncia da oconomia, o omproondodorismo o o progrosso oconomico. Alóm disso, ostá na laso da participação domocrática o dos sontimontos do ompatia o do comproonsão do intorosso colotivo. 8 Pola dotinição acima, a contiança¨ ó a chavo para o progrosso não só oconomico, mas tamlóm político, o com isso a chavo para o progrosso social como um todo. O loitor soria capaz do antocipar guom dotóm, para os autoros, rocurso tão tundamontal? Tonho cortoza do guo o caro loitor acortou om choio: as classos domi- nantos! Atinal, olas não são aponas as mais intoligontos, olas são tamlóm as mais honostas, as molhoros, são loas¨ pola dotinição do moralidado ocidontal. Classos tão loas o virtuosas morocom mosmo dominar o monopolizar todos os rocursos oscassos om suas mãos. Ë justo, atinal, guo isso acontoça. Ë intorossanto prostar atonção à gônoso histórica do concoito tão caro à ciôncia consorvadora. Do ondo vom ossa noção o gual sua carroira do glória para guo os autoros tonham so utilizado dola com tanta som-corimonia, como um dado ólvio o indiscutívol? A ciôncia consorvadora guo domina as univorsidados o o dolato pullico no Brasil ó, na roalidado, uma J:aucI::~ da ciôncia consorvadora mundial. Sou contro ostá nos Estados Unidos, não porguo olos sojam pioros ou molhoros guo ninguóm - ao 358 contrário, a contracultura amoricana, por oxomplo, ó talvoz a mais intorossanto o vigorosa do mundo -, mas simplosmonto porguo o podor oconomico o político om oscala mundial toi consolidado lá. Quando a ciôncia consorvadora intornacional- monto dominanto so dignou a so intorossar polos paísos poritóricos do capitalismo, como a maioria dos paísos da Amórica latina, Atrica o Asia, dosonvolvou-so, com muito dinhoiro tinanciado polo Estado amoricano - na administração Honry Truman do imodiato pós-guorra 9 -, toda uma linha do posguisa lom montada o uma, para à ópoca, nova tooria: a tooria da modornização. Qual ora um dos pilaros mais importantos dossa tooria? Acortou guom ponsou no concoito do contiança¨. Vas ossa não ora uma guostão tão ditícil. A próxima guostão ó muito mais dosatiadora. E gual ora a nação guo tinha maioros rosorvas do tão valioso rocurso? Novamonto o caro loitor acorta om choio ao idontiticar os Estados Unidos da Amórica, já guo os amoricanos, alóm do lons, são tamlóm os mais intoligontos o não iriam tinanciar o ostimular no mundo todo - inclusivo no Brasil o ató hojo - ostudos contrários aos sous intorossos. Existia uma hiorarguia¨ om todos os ostudos da tooria da modornização, o ou soguor tonho mais do porguntar ao polro loitor, cansado do tanta porgunta com rospostas ólvias, guom ocupava o primoiríssimo lugar om todas as hiorarguias possívois o imaginávois: os Estados Unidos da Amórica. A história do glória mundana da noção do contiança inicia-so com Tocguovillo, 10 ao analisar a sociodado agrária amoricana do inícios do sóculo XlX, o lá so vão 200 anos, intorvalo do tompo om guo os Estados Unidos so transtormaram numa sociodado industrial, urlana o comploxa muito ditoronto daguola analisada polo ponsador trancôs. Já 100 anos mais tardo, guando vai ao país no comoço do sóculo XX, Vax Wolor - tigura insuspoita guando so tala do Estados Unidos, já guo ó do Wolor a molhor dotosa da singularidado amoricana ao analisar a intluôncia da contiança¨ roligiosamonto motivada como laso da solidariodado protostanto ascótica tguo lá so dosonvolvou como om nonhum outro lugar) - porcolo, claramonto, guo o guo antos ora tó o ótica da convicção so torna cada voz mais hipocrisia, roduzindo contiança o solidariodado ao sou uso instrumontal. 11 Esso toxto voloriano, no ontanto, guo não tica a dovor om lrilhantismo a nonhum outro do sua olra, não som razão, pormanocou como um 359 dos monos ostudados. No uso político¨ do concoitos ciontíticos só intorossa os guo sorvom à logitimação. A tooria da modornização vivou duas dócadas do glória ató guo, a partir do moados da dócada do 1960, sous próprios ativistas mais sórios o compotontos passaram a roconhocor croscontomonto o carátor artiticial o logitimador do loa parto do sou aparolho concoitual. 12 A partir daí, a tooria da modornização como para- digma do análiso das sociodados om dosonvolvimonto¨ pordo logitimidado intornacional, o tanto a proocupação com as socio- dados om procosso do modornização guanto a continuação dos ostudos lasoados nossa tooria são rologados à margom do dolato acadômico. Vas o continamonto da tooria da modornização aos monos valorizados dopartamontos latino-amoricanos das univor- sidados amoricanas o ouropoias não oguivalou a uma sontonça do morto. Ainda não voio nada com torça suticionto para doslancar a oticácia prática¨ do concoitos o noçòos como contiança¨, guo so assomolham mais a armas do oprossão do guo a instrumontos do oxplicação. Na vordado, o sonso comum¨ intornacional toi moldado polo imaginário da tooria da modornização o mantóm-so ató hojo - como um vampiro guo so rocusa a morror - como guo por inórcia, tanto por talta do coisa molhor guanto porguo sous otoitos práticos ticam ató molhor garantidos som um contoxto do dolato rigoroso o vordadoiro. O tato ó guo osso aparato concoitual ó aplicado no Brasil, ainda hojo, 13 como so tosso coisa nova o nunca criticada. E continua sorvindo aos mosmos tins: do mosmo modo guo ossos concoitos tinham guo justiticar o domínio amoricano no mundo, sorvom para justiticar, nos contoxtos nacionais dos paísos latino-- -amoricanos, o racismo do classo o o privilogio tático dos sotoros dominantos. Assim como a prosonça ou ausôncia da contiança¨, ligada à capacidado associativa o à produção do solidariodado, soparava os Estados Unidos da ltália 14 tou do gualguor outro país do glolo), ola sorvo para soparar, tamlóm como uma oposição simplista ontro virtudo o vício, as classos dominantos das classos popularos no Brasil. As classos popularos no Brasil não salom votar¨ posto guo não consoguom tor uma comproonsão racional do sous intorossos, sondo, portanto, prosa tácil do ostatismo o do populismo. Ora, na história do Brasil, nos raros instantos om guo so prostou atonção a domandas dos sotoros oprimidos, isso sompro acontocou por 360 moio do ongajamonto ostatal, o nunca do morcado. Por guo o roconhocimonto racional o trio dos próprios intorossos, guando so trata do sotoros popularos, ganha o nomo do lurrico? Os autoros chogam a dizor, com todas as lotras, guo atondor aos ansoios da maioria da população - no Brasil as classos popularos portazom mais do 23 da população total - ó populismo¨. 15 Cortamonto, por pura oxclusão o nocossidado lógica, atondor 13 do privilogiados soria, com cortoza, a vordadoira domocracia¨, o vordadoiro govorno da maioria, polo monos da maioria guo so considora gonto¨. Estamos, roalmonto, num ostranho mundo, ondo os idoólogos soguor procisam mais oscondor sou racismo do classo mais ólvio o cruol. Esso ó o vordadoiro contoudo o monsagom do um livro como o do lamounior o Souza. Vas não são aponas olos. A tooria dominanto no Brasil - guo porcolo o Brasil como patrimonialista, pró-modorno, corrupto o lasoado om rolaçòos possoais - ó toda ola intoiramonto dorivada do mosmo lorço do idoias guo pormitiu o surgimonto da tooria da modornização. Na vordado, o racismo ciontítico, dominanto na antropologia o sociologia amoricanas ató inícios do sóculo XX, transtorma-so, com a porda do validado dos proconcoitos racistas como tundamonto ciontítico, om culturalismo¨. 16 lranz Boas, com sua crítica ao racismo na antropologia amoricana, intluoncia não só as ciôncias sociais amoricanas como um todo, mas tamlóm as lrasiloiras, por moio da tigura domiurgica do Gillorto lroyro. A partir daí, a suporiori- dado do cortos paísos o do cortas classos vai tor guo sor logitimada, agora, polo acosso privilogiado a corto ostoguo do virtudos culturais¨, dontro olas a contiança¨. Vas a tunção prática do culturalismo¨ continua a mosma do racismo ciontítico¨: logitimar, com a aparôncia do ciôncia, situaçòos táticas do dominação. Alguóm já imaginou o projuízo oconomico, político o moral do um tal discurso, naturalizado o não guostionado ontro oprimido o oprossor, intornacionalmonto compartilhado, om guo alguns povos o naçòos são porcolidos como incorruptívois o contiávois o outros, como nós lrasiloiros, como corruptos o indignos do contiança? Esso racismo culturalista¨ ó a ordom do dia do mundo prático das tinanças o da política intornacional. Uma das mais importantos justiticativas da alta taxa do juros lrasiloira, como já moncionamos, ó a suposta incontialilidado dos lrasiloiros do honrar sous compromissos. Nossos intoloctuais da ordom¨ guo 361 mandam na acadomia o intluonciam o dolato pullico midiático dovoriam rocolor uma modalha do ouro do dopartamonto do Estado amoricano por sorviços prostados, por travostirom do logitimidado ciontítica proconcoitos arraigados, guo ostão sulja- contos om gualguor tipo do intorcâmlio intornacional. Dovoriam tamlóm tor ostátuas com sou poso om ouro om Wall Stroot, porguo ossos mosmos proconcoitos são convortidos om mooda sonanto, o guom paga somos todos nós, cidadãos comuns. Paga-so, atinal, um proço guo não ó laixo pola má tama construída o logitimada com rocursos psoudociontíticos. PARA ONDE VAl A NOVA ClASSE TRABAlHADORA BRASllElRA? PARA UV ESBO(O DE UVA ECONOVlA POllTlCA DOS BATAlHADORES lntornamonto, no contoxto do dolato pullico o político lrasiloiro, ossos proconcoitos são utilizados para o mosmo tim guo no sonso comum intornacional. Ao invós do paísos, como lá tora, tomos, agui dontro, classos virtuosas o classos som virtudo. Algumas classos possuom intoligôncia - ou soja, porcolom guo a corrupção o o doscalalro moral são o roal prolloma lrasiloiro - o outras, as popularos, são tolas o loniontos. Algumas são dignas do contiança o possuom capital social¨ - talvoz o concoito mais contuso da história das ciôncias sociais, guo so rotoro a tudo o, portanto, a nada - o outras são rologadas ao amoralismo tamiliar¨. 1¯ Como om todas as hiorarguias morais do Ocidonto guo pormitom soparar o suporior do intorior ou o nolro do vulgar, a oposição guo sorvo do rotorôncia ó, sompro o om todos os casos, aguola ontro o ospírito o o corpo. O ospírito¨ ó o lugar das tunçòos nolros o suporioros do intolocto o da moralidado distanciada. O corpo¨ ó o lugar das paixòos som controlo o das nocossidados animais. Dosso modo, o mosmo arsonal do noçòos au I·c utilizadas para logitimar o prodomínio do alguns paísos solro outros ó oxatamonto o mosmo para justiticar a dominação intorna das classos mais cultas¨ solro as classos popularos. Do mosmo modo guo o Brasil ó tornado corpo¨ o animalizado¨ como torra do 362 soxo, do atoto o da omoção - o por oxtonsão da corrupção, do patrimonialismo o das rolaçòos possoais guo são, supostamonto, o guo o domínio das omoçòos produz - o so contrapòo como corpo¨ à cultura ospiritual¨ amoricana, do cálculo, da raciona- lidado, da contiança o da moralidado distanciada das omoçòos, procisamonto as mosmas armas¨ são usadas para ostigmatizar o intantilizar¨ - o intantil o o tolo tôm guo sor guiados por alguóm - as classos popularos. Por conta disso so tala com tanta som-corimonia no voto dos mais polros como um voto do tolo som consciôncia do sous intorossos. O intorosso agui não ó aponas logitimar a dominação social inígua do um tipo do capitalismo concontrador o injusto. Ë tamlóm uma tontativa do guiar¨ o procosso do dosonvolvimonto social o dirocionar a sociodado lrasiloira om um corto caminho. Quando so diz guo uma classo ainda não porcolou os malos do ostatismo o guo não doscolriu ainda o maravilhoso mundo do morcado o do suas virtudos o lilordados, o guo so protondo ó intluonciar a trajotória dossa classo om uma dada diroção muito particular. Novamonto, não so trata aponas do lamounior o Souza. Ë todo o dolato pullico lrasiloiro dominanto, o o mosmo guo os autoros criticados dizom ó dito polos jornais o pola tolovisão todos os dias. O tralalho dossos autoros tom intorosso para nossos propósitos posto guo ó um ospolho da torma como as classos popularos são vistas o porcolidas polas classos dominantos no Brasil. Essas classos tôm partidos políticos o tôm controlo solro a mídia om todas as dimonsòos. Sua torma do porcolor o Brasil o sous contlitos - ainda guo possa sor dosconstruída polo discurso racional - tondo a solocionar a própria agonda daguilo guo ó porcolido como importanto o socundário. Sua torça ó prática¨, pragmática, política o oconomica ao mosmo tompo. Essas idoias - capongas o som gualguor valor do vordado como olas são - ostão matorializadas om práticas sociais o institucionais, guo tazom o dia a dia do Brasil modorno. A nossa posguisa, no ontanto, nos trouxo, como o loitor já porcolou pola loitura dos capítulos antorioros, rosultados muito ditorontos daguolos da posguisa oncomondada a lamounior o Souza. Em primoiro lugar, o próprio toma da dotinição do guo classo social so tratava ticou om alorto o tompo todo. lsso porguo a classo social, como discutimos om dotalho na introdução, não 363 so oxplica por uma associação oxtorna o suporticial com a ronda. Um protossor univorsitário, om início do carroira, guo ganha sois mil roais torá, com toda a prolalilidado, uma condução do vida, hálitos do comportamonto o do consumo, tormas do lazor o do porcopção do mundo om todas as dimonsòos muito ditorontos do um tralalhador gualiticado do uma tálrica do automóvois guo tamlóm ganha sois mil roais. Associar ossas duas possoas como sondo do uma mosma classo não tom gualguor sontido o ó alsurdo. A associação simplista ontro classo o ronda sorvo para talar do classos som comproondô-las. Para o procosso do domi- nação social, cuja roprodução dopondo do uma porcopção guo tragmonta o mundo om indivíduos soltos o som gualguor vínculo do portoncimonto social colotivo, osso tipo do loitura suporticial do mundo guo associa classo à ronda ó muito lom-vindo. Por conta disso, uma posguisa não podo dotinir antos¨ o guo aponas o tralalho do posguisa¨ podo tornocor. loi o contronto com as histórias do vida do guo ostamos chamando do latalhadoros guo nos convoncou do guo ostávamos lidando com uma vorsão moditicada do classo tralalhadora. Uma vorsão modorna¨, guo passa a oxistir tamlóm nos paísos avançados - com a docadôncia do Estado social o a crosconto oliminação das garantias tralalhistas -, mas guo ó mais numorosa nos paísos assim chamados do omor- gontos, 18 os guais nunca tivoram tradição torto do organização da classo tralalhadora. Não so trata mais da classo tralalhadora tordista¨, guo discutimos na introdução, guo so punha dontro do uma tálrica o so vigiava o tompo todo. Esso tipo do contormação da classo tralalhadora continua o dovo continuar a vigorar no tuturo, mas cada voz com monor intluôncia. O tato novo ó guo o guo chamamos do capitalismo tinancoiro na introdução dosto livro logrou disponsar loa parto do custo com controlo o vigilância do tralalho. A nocossidado do so aumontar a ronda do capital com a criso do modolo tordista lovou a cortos do custos signiticativos a partir da mudança da logitimação do capitalismo o da violôncia simlólica guo pormito sua roprodução ampliada. Com a ontrada om cona das palavras do ordom do omproondodorismo¨, do taça vocô mosmo¨, do vamos lotar para tazor¨, da rodotinição do tralalho ropotitivo o passivo como criativo o inovador otc., tomos uma nova somântica social guo tondo a passar a imagom do guo todos nós somos omprosários o patròos do nós mosmos. Uma ospócio do admirávol mundo 364 novo¨, ondo não so tom mais tralalhadoros guo tazom o tralalho posado para outros, mas um mundo ondo todos são omprosários. Chamar ossa nova classo tralalhadora do nova classo módia¨ taz parto, procisamonto, dossa ostratógia do outomizar¨ a dominação o silonciar o sotrimonto - guo tica litoralmonto som palavras para so oxprossar - para molhor dominar. A nocossidado do aumonto da taxa do lucro via corto do custos do vigilância o da diminuição do giro do capital implicou, portanto, um novo rogimo do tralalho¨ o todo um novo imaginário social condizonto com ossas mudanças. O guo vimos, na nossa posguisa, toram lrasiloiros tralalhando dois oxpodiontos, ou ostudando o tralalhando com jornada diária sompro suporior às oito horas do tordismo clássico, alguns dolos tralalhando do 12 a 14 horas ao dia. Como om muitos casos osso tralalho so dá sol a torma do tralalho autonomo¨ no gual o patrão ó invisívol, a somântica guo transtorma tralalhador om omprosário do si mosmo so torna uma ospócio do ilusão roal¨. Assim como o camponôs trancôs, analisado por Varx no Xlll Brumário, guo so imaginava propriotário guando dovia ató o ultimo tio do calolo ao lanco o ora, portanto, oxplorado o omprogado do patrão impossoal o invisívol sol a torma do capital tinancoiro, o novo tralalhador, guo não lida mais possoalmonto com nonhum patrão do carno o osso, compra a mosma ilusão. As jornadas do tralalho do ató 14 horas guo oncontramos com troguôncia nas nossas ontrovistas, o guo oguivalo a suporoxplo- ração da mão do olra, são tornadas acoitávois polo discurso do omprosário do si mosmo¨, ainda guo osto assuma tormas muito variadas. Essas tormas distintas possililitam uma mitigação da trontoira ontro propriotário o tralalhador dos poguonos nogócios. Vuito troguontomonto, o poguono propriotário o sous omprogados tinham ostilo do vida o tompo do tralalho muito somolhantos. Talvoz a nova torma do capitalismo o do organização o rogimo do tralalho ostoja contriluindo para apagar as trontoiras tradicionais ontro a poguona lurguosia, propriotária do poguonos nogócios, o a classo tralalhadora propriamonto dita. Vuitos dossos poguonos nogócios possuíam uma ostrutura tamiliar: um tio ou alguóm guo havia podido juntar um poguono capital ou dosonvolvido uma tócnica do tralalho poculiar - novas tormas, por oxomplo, do artosanato - o omprogava o rostanto da tamília no poguono nogócio. Agui, a rogra ora guo tormas do 365 suporoxploração do tralalho tossom rocolortas polo vínculo do olodiônciaprotoção típico da unidado tamiliar. Um solrinho ora instado a tralalhar do 10 a 12 horas por dia o ainda so sontir agra- docido ao tio pola oportunidado¨. Roclamaçòos são porcolidas como injuriosas o signo do ingratidão intolorávol. Agui não so trata do uma volta ao passado o às rolaçòos possoais, mas do uso instrumontal do rolaçòos possoais guo são tamlóm apropriadas polo patrão impossoal o invisívol¨, guo não tom mais guo arcar com os custos oconomicos o políticos do controlo da torça do tralalho. O conjunto do rosultados da posguisa ompírica nos lova a imaginar um guadro goral om guo, paulatinamonto, a classo trala- lhadora doixa a tálrica, concontrada matorialmonto num pródio unico, como no caso típico do capitalismo tordista. A mudança paroco apontar para uma onormo tragmontação das unidados produtivas, guo passam a oporar om poguonas industrias o manutaturas do tundo do guintal¨ o poguonas oticinas do todo o tipo. Um olhar aprossado podo dar a improssão do uma ospócio do rovorsão histórica da maguinotatura à manutatura, invortondo o procosso histórico clássico. Na vordado, o guo paroco ocorror ó um dosonvolvimonto paralolo dossos dois tipos do capitalismo: um, tordista clássico, guo continua aposar do tudo, o outro, guo romoto a uma ospócio do pós-tordismo poritórico¨, om guo a intormalidado, a procariodado das condiçòos do tralalho, o não pagamonto do impostos ou do diroitos tralalhistas são muito troguontos. No capitalismo do pós-tordismo poritórico¨ uma nova classo tralalhadora, guaso sompro sol um rogimo do suporoxploração do tralalho, paroco ostar criando uma grando tálrica ospalhada o tragmontada om inumoras unidados produtivas sol a torma do oticinas, industrias do tundo do guintal, tralalho autonomo, poguona propriodado tamiliar o rodos do produção colotiva. A osso univorso so acrosco o contingonto no comórcio o nos sorviços om goral, guaso sompro sol a torma do tralalho autonomo ou tamiliar. A análiso das toiras dá uma idoia dosso univorso. Tamlóm no campo o modolo da unidado produtiva tamiliar soguo padròos não muito ditorontos dos da cidado, como so viu antoriormonto. lundamontal para nossos propósitos agui toi a porcopção do importantos tontos do solidariodado o do moralidado colotiva 366 lasoada om padròos roligiosos, como idontiticado no somiárido nordostino. longo da porcopção do uma classo do amoralismo tamiliar¨, como imaginam lamounior o Souza, ossos sotoros da classo tralalhadora dosonvolvom sistomas muito oticiontos do ajuda mutua, como tica, do rosto, ovidonto om iniciativas do microcródito como o Crodiamigo no Nordosto. 19 Na roalidado, a imaginação dossos sotoros popularos como carontos do moralidado, capacidado associativa o incapacidado do doson- volvor rolaçòos do contiança mutua - o guo lamounior o Souza chamam, tão improcisamonto, do capital social - paroco sor um caso típico do racismo do classo, om guo a rolação dos privilogiados com a virtudo¨ já ostá pró-docidida o podo sor comprovada¨ por guostionários ostorootipados. Posguisas guo não so dão ao tralalho do roconstruir o contoxto social no gual as possoas ostão insoridas ostão condonadas a todo tipo do visão proconcoituosa o suporticial. longo do amora- lismo tamiliar¨, oncontramos tormas roligiosamonto motivadas do solidariodado colotiva tanto no pontocostalismo, mais típico das roalidados urlanas, guanto na própria roligião católica no sortão do Nordosto. A capacidado associativa dirota ou indirotamonto ostimulada polo portoncimonto a comunidados roligiosas paroco sor o rocurso simlólico mais importanto dossas classos alandonadas do rosto pola sociodado maior o polo Estado tpolo monos ató lom pouco tompo). A roligião tunciona como motivação, como torma do lovar adianto a vida, aposar dos sucossivos rovosos, o como mocanismo rogulador das rolaçòos intorpossoais. Uma sório do tralalhos, nosto livro, tundamonta ossa hipótoso. Um ultimo ponto guo nos paroco digno do nota ó a impor- tância - outro ponto om comploto dosacordo com o tralalho do lamounior o Souza - dos projotos sociais do govorno lula. Por mais insuticiontos o incipiontos guo sojam ossos programas, sous otoitos são sontidos por praticamonto todos os ontrovistados da nossa posguisa. O programa Bolsa lamília possui, na visão dos ontrovistados, um otoito dinamizador na oconomia como um todo nada dosprozívol, om muitos contoxtos sondo o principal tato novo para o tortalocimonto do uma oconomia monotária mais sólida o vilranto om lugaros antos osguocidos por Dous o polos homons. Outra política muito ologiada são os incontivos ao microcródito. 36¯ A nova classo tralalhadora paroco so dotinir como uma classo com rolativamonto poguona incorporação dos capitais impos- soais mais importantos da sociodado modorna, capital oconomico o capital cultural - o guo oxplica sou não portoncimonto a uma classo módia vordadoira -, mas, om contrapartida, dosonvolvo disposiçòos para o comportamonto guo pormitom a articulação da tríado disciplina, autocontrolo o ponsamonto prospoctivo. Essa tríado motivacional o disposicional contorma a oconomia omocional¨ nocossária para o tralalho produtivo o util no morcado compotitivo capitalista. Soja por horança tamiliar - na torma omotiva o invisívol típica da transmissão tamiliar do valoros do uma dada classo social -, soja como rosultado da socialização roligiosa, ou soja por amlos, o tato ó guo oxistia um oxórcito do possoas dispostas a tralalho duro do todo o tipo como torma do ascondor socialmonto. As novas tormas do rogimo do tralalho do capitalismo tinancoiro om nívol mundial oncontraram nolas - assim como cortamonto traçòos do classo corrospondontos om paísos como lndia o China - sua classo suporto¨ típica para pos- sililitar o novo rogimo do tralalho do capitalismo tinancoiro. Som socialização antorior do lutas oporárias organizadas o disponívois para aprondor todo tipo do tralalho o dispostas a so sulmotor a praticamonto todo tipo do suporoxploração da mão do olra, ossa nova classo logrou ascondor a novos patamaros do consumo a custo do oxtraordinário ostorço o sacritício possoal. A ultima o talvoz mais importanto guostão - tundamontal para o tuturo oconomico o político lrasiloiro nas próximas dócadas - ó porcolor a oriontação política dossa nova classo tralalhadora. A posguisalivro do lamounior o Souza propòo guo olos sigam a olito oconomica antiostatista o alracom o idoário liloralconsorvador. No ontanto, a roalidado ó mais comploxa. So o imaginário social mais amplo ó porpassado polo toma do omproondodorismo¨ o polo moto soja omprosário do si mosmo¨, osso canto da soroia, alraçado com gosto o sotroguidão por traçòos signiticativas das classos módia o alta, não paroco tor o mosmo apolo no guo ostamos chamando do nova classo tralalhadora. Sua proximi- dado do tato com os sotoros mais dostituídos na ostrutura do classos lrasiloira tornam-na mais sonsívol à nocossidado do ajuda do Estado o do políticas componsatórias. Na vordado, alguns do sous momlros são possoas guo vioram da classo mais laixa, guo chamamos, provocativamonto, no país do outomismo o da nogação patológica da roalidado mais lanal, do raló¨. 368 A atual posguisa pormitiu, inclusivo, corrigir algumas pors- poctivas guo dosonvolvomos no ostudo antorior. Como o guo nos intorossava no livro antorior ora apontar os mocanismos guo possililitavam a roprodução¨ indotinida da raló¨ no tompo, nos concontramos na idontiticação dos tatoros guo a mantinham no mosmo lugar. Nosta posguisa, tomos controntados tamlóm com outra roalidado, guo nos mostrou, solojamonto, guo mosmo a raló¨ não ó ostática, mas ostá, ao contrário, om constanto movi- monto. Vostrou, ainda, a importância o o alcanco do políticas pullicas componsatórias alrindo oportunidados do ostudo o do insorção no morcado mais compotitivo. Procisamonto nosto aspocto rosido, talvoz, toda a importância política dossa nova classo tralalhadora: sorá ola cooptada por cima¨, como guorom lamounior o Souza, o com olos as classos guo monopolizam o capital oconomico ontro nós, ou podorá ola sor uma inspiração para todos os sotoros procarizados o dostituídos da sociodado lrasiloira? Esta ultima hipótoso ó a osporança do um Vangaloira Ungor, 20 por oxomplo, um dos primoiros a porcolor tanto a importância política o oconomica dossa classo guanto a importância das novas tormas do roligiosidado popular na sua contormação. Vas agui cossa tamlóm para nós - algo tamlóm guo nos ditoroncia do porspoctivas como a do lamounior o Souza - a possililidado do provisão possívol da ciôncia vordadoira. A ciôncia crítica só podo procurar doscrovor¨ a roalidado o os ontravos para sou dosonvolvimonto postorior numa dimonsão normativa mais gonorosa o justa guo a oxistonto. Vas ó cionti- ticamonto impossívol provor o tuturo político do uma classo. A política lida - ao contrário da ciôncia - com a possililidado da articulação o construção do sontidos novos, guo podom inspirar novas tormas do so porcolor o intorvir na roalidado. Ao contrário da ciôncia, portanto, a política lida com um rocurso cada voz mais oscasso o, por conta disso mosmo, cada voz mais importanto: a osporança! O votor agui são tormas mais inclusivas o justas do doson- volvimonto do capitalismo guo são portoitamonto possívois o compatívois com o oxorcício do garantias lilorais para a ação individual. Para ondo guor guo ossa nova o vilranto classo do lrasiloiros latalhadoros so inclino, a vordado ó guo, dopondondo dossa inclinação, pondorá tamlóm o tiol da lalança rosponsávol pola dotinição do dosonvolvimonto político o oconomico lrasiloiro no tuturo. P C ⇥ ⌫ Á ✏ l C ⇥C⌅⌦↵ C ⇣⌘⌃CDC D⇧ P↵⇥C✓l⇥⇧ O inimigo do gualguor posguisa ompírica crítica guo rotloto solro sous prossupostos ó o toticho do numoro¨, ou soja, da guantiticação como adoroço oxtorior ao aporto intorprotativo do modo a atotar ciontiticidado¨. A intormação, cada voz mais tragmontada, dospida do uma rotloxão solro sua gônoso o sou contoxto, ó o prato do dia do possoas guo imaginam podor aprondor o so intormar som ostorço rotloxivo. Talolas o numoros som intor- protação sorvom a osso morcado tlorosconto. Os onganos guo daí so produzom podom sor mostrados, oxomplarmonto, na posguisa choia do prollomas o com muita guantidado¨ psoudociontítica o pouca gualidado¨ intorprotativa guo criticamos, om dotalho, na conclusão dosto tralalho. Vas isso não dovo lovar a uma oposição onganosa ontro gualidado¨ o guantidado¨. O conhocimonto ostatístico, por oxomplo, sompro toi um compononto ossoncial para todas as nossas rotloxòos. Vosmo a posguisa ompírica dita guantitativa¨ toi um olomonto importanto no nosso procosso do aprondizado guo culminou com o prosonto ostudo. loi a ototiva roalização do guatro posguisas ditas ostatisticamonto rolovantos¨, no contoxto da litoratura da sociologia ompírica mais convoncional, ontro 1996 o 1998 no Distrito lodoral 1 - talvoz a unidado da todoração ondo a divorsidado rogional ó molhor roprosontada - guo nos osclarocou solro as possililidados o limitos dosto tipo do proco- dimonto. As trôs primoiras posguisas nos custou onormo tralalho para ontrovistar corca do 600 possoas om todo o Dl, olodocondo a rogras da amostra domiciliar. lntolizmonto, ossas posguisas não 3¯0 trouxoram o rotorno osporado. Porguntas dirotas o ostorootipadas das posguisas lovadas a calo por Ronald lnglohart 2 ou ainda da posguisa intornacional solro valoros da lSSP tlntornational Social Survoy Programmo), nas guais lasoamos nossas próprias posguisas iniciais, rotlotiram aponas os chavòos consorvadoros da classo módia osclarocida tguo salo¨ rospondor ontrovistas dosto tipo porguo so apropriou do discurso politicamonto corroto¨ tido como válido), torçando uma comproonsão das classos oprimidas onguanto mora distorção¨ nogativa dosso discurso tido como válido. lsso toi procisamonto o guo ocorrou com a posguisa do lamounior o Souza, criticada om dotalho nosto livro. Ë o guo acontoco com posguisas somolhantos acorca do guostòos polô- micas como proconcoito, dosigualdado o valoros tundamontais. Nossa ultima posguisa guantitativa convoncional¨, roalizada om 1998, tamlóm no Dl, nos trouxo molhoros rosultados. Nola, introduzimos o mótodo trankturtiano, das guostòos indirotas o projotivas guo Adorno o sua oguipo usaram no clássico TI~ auìI·::ìa::au j~::·uaI:ì,. 3 loi aponas nossa tontativa - guo utili- zava simultanoamonto princípios convoncionais o críticos - guo consoguimos ototivamonto ditoronciar visòos do mundo social por portoncimonto do classo toducação o ronda como critórios ontão utilizados). Essa posguisa ompírica toi a laso, inclusivo, do mou ostudo toórico pullicado anos mais tardo: · c·u:ì:u¸a· :·c:aI ua :uüc:uauau:a tEditora UlVG, 2003). Vas guostòos tundamontais não pudoram sor aprotundadas mosmo nosto ostudo ompírico hílrido. So toi possívol ostalolocor um guadro guo pormitiu ditoronciar a porcopção do mundo das classos privi- logiadas o oprimidas, o próprio dosonho o mótodo dosso tipo do posguisa, guo privilogia o maior numoro - om dotrimonto da protundidado, voracidado o gualidado da intormação - impodo o acosso a gualguor nuanco acorca das porspoctivas do traçòos do classo ospocíticas. Vais importanto ainda. lmpodo tamlóm o acosso à construção mosma do tipo do visão do mundo singular do agonto social o, consoguontomonto, impodo-so tamlóm a locali- zação das contradiçòos, lacunas o rachaduras no sou discurso o no sou comportamonto. loi, portanto, um ponoso procosso do aprondizado o tontativa o orro guo nos lovou a privilogiar um mótodo do acosso distinto da roalidado social. Porcolomos guo aponas um intorosso ompírico rotloxivo - ou soja, guo rotloto¨ solro si mosmo o solro sous 3¯1 prossupostos som naturalizá-los¨ - podoria nos possililitar o acosso ao mundo om guo vivomos, ainda ou soja o mundo guo, muitas vozos, nogamos o não guoromos vor. loi aponas aí guo porcolomos guo, omlora a intormação soja dada polo ontrovis- tado, ola toria guo sor roconstruída para guo pudóssomos oxtrair uma vordado alóm¨ o aposar¨ da nocossidado do autologitimação do próprio ontrovistado. Tomar a primoira doclaração do gual- guor ontrovistado solro si mosmo como a vordado tinal ó sompro ingônuo o consorvador, posto guo rotloto aponas o intorosso univorsal, guo todos tomos, om logitimar nossa própria condução da vida om rolação ao mundo o a nós mosmos. Ë claro guo a intormação do ontrovistado ó tundamontal. Vas ola tom guo sor contoxtualizada para guo porcolamos os intorossos - muitos dolos inconsciontos¨ o pró-rotloxivos¨ - guo produz procisamonto aguolo tipo do rosposta. Ë um mótodo muito mais tralalhoso o arriscado, mas ó o unico guo podo ototivamonto dosconstruir¨ a violôncia simlólica dos discursos dominantos o naturalizados o oxplicar a sutil introjoção o incorporação da dominação social o simlólica modorna. Atinal, nas guostòos contrais da vida guo dotinom o logitimam as posiçòos do podor do cada um no mundo, ó toda a porsonali- dado do ontrovistado guo ostá om jogo. Um momlro das classos privilogiadas não podo o não guor aparocor como um canalha guo so aprovoita dos mais tracos socialmonto para oxplorar sou tra- lalho. Elo tom do so rotorir a normas morais¨, como o mórito, por oxomplo, para tundamontar sou discurso o sua ação na sociodado. Ë lom ditoronto do doclarar sua protorôncia por Dilma ou Sorra ou ainda dizor guo tipo do salonoto so protoro. Não procisamos montir¨ para os outros nossas guostòos, dado guo nossa imagom pullica não ostá om jogo do mosmo modo guando ostudamos, por oxomplo, os divorsos tipos do proconcoito. Tor proconcoito contra os mais polros, por oxomplo, contraria a laso roligiosa guo construiu a moralidado ocidontal. Nós porcolomos alguóm guo dostrata o humilha os mais tracos como uma má possoa¨, alguóm com a gual, inclusivo, não so dovo tor rolaçòos do proximi- dado. A oscolha por um salonoto x ou por um candidato y não acarrota juízos tão tortos o omotivos. Ë por conta do razòos como ossa guo posguisas guantitativas inspiradas om posguisas do morcado tôm guo sor ditorontos do posguisas gualitativas solro valoros sociais tundamontais. Ë isso 3¯2 guo sociólogos como Vax Wolor tinha na caloça guando olo dizia guo o intorosso do posguisa¨ ó o guo constitui o oljoto do posguisa o o mótodo do acosso a olo. So o intorosso ó salor guom ostá na tronto nas oloiçòos ou guo tipo do salonoto o pullico protoro, o mótodo do acosso a ossos dados tom guo sor ditoronto do guom porgunta a um humilhado social as razòos do sua humilhação. Num caso ó razoávol guo so porgunto a milharos do possoas num ostorço do horizontalizar¨ a amostra o aumontar as prolalilidados do acorto. No outro caso, o razoávol ó guo so concontro o ostorço no sontido vortical¨, ou soja, no aprotundamonto o na gualidado da intormação oltida. Ë puro toticho do numoro¨ - no sontido do vincular a logi- timidado ciontítica a roguisitos oxtornos à produção da vordado ciontítica - so considorar o numoro do possoas ontrovistadas como critório do validado alsoluto para o tipo do posguisa guo oxigo um mótodo distinto do acosso ao univorso particular dos ontro- vistados. Toda a ôntaso tom guo sor dada a gualidado¨ do acosso a osso univorso rocondito om cada um do nós. Por oxomplo, ó molhor ontrovistar ontro 200 o 250 possoas duranto um poríodo do um ano, como tizomos, ropotindo as ontrovistas, olsorvando a atuação prática dos ontrovistados no sou próprio moio, assis- tindo a convorsas com sous tilhos o com sous pais, rotazondo as ontrovistas para aprovoitar as contradiçòos, inconsistôncias o lacunas das ontrovistas antorioros, do guo ontrovistar, rapidamonto, milharos do possoas uma unica voz com guostòos ostorootipadas o som olsorvação participanto. Novamonto, a comparação com a posguisa criticada nosto livro do lamounior o Souza podo doixar osso ponto solojamonto claro. Vas a mosma comparação podo sor toita com gualguor outra posguisa guo tonha so utilizado dos mosmos prossupostos. Nossa posguisa dosonvolvou um mótodo rotloxivo o colotivo - ospocialmonto nos ultimos sois mosos do sua duração total do guaso um ano o moio - guo consistiu om discutir as ontrovistas mais importantos o todos os toxtos intorprotativos om conjunto. lsso pormitiu guo cada um pudosso ouvir o aprondor com as su- gostòos dos outros cologas. Esso procodimonto oxigiu guo cada toxto tosso oscrito o rooscrito divorsas vozos do modo guo todos participaram ativamonto do oxorcício intorprotativo. Comprovamos, na prática, guo um lom posguisador ompírico tom guo sor um 3¯3 lom toórico¨, ou soja, tom guo salor o guo ostá tazondo o rotlotir criticamonto acorca do guo taz o tompo todo. Como a posguisa atual toi roalizada om continuação imodiata da antorior solro a raló¨, contando com a participação do prati- camonto a mosma oguipo ao longo dos cinco anos o moio, intor- valo do tompo guo durou as duas posguisas, pudomos aprovoitar todas as vantagons da acumulação do oxporiôncia. A vigilância o o ostímulo provocado por rouniòos troguontos, duranto todo osso poríodo do cinco anos o moio guo durou a posguisa para os dois livros, toram tundamontais para guo cada volta ao campo do posguisa, para cada um dos posguisadoros onvolvidos, tosso porcolida como um oxorcício do suporação do ostorço antorior. Nosso sontido, os posguisadoros toram tormados¨, onguanto posguisadoros gualiticados, no próprio procosso do toitura da posguisa ao longo dos cinco anos o moio do posguisa inintor- rupta. Um grupo do posguisadoros ostimulados o amliciosos - guo porcoloram a oportunidado, sua rolovância política o sua importância tutura -, dispondo do tompo intogral, dodicação o ontroga ao tralalho duranto um lom tompo, otorocom condiçòos do posguisa muito ditorontos dos ontrovistadoros ocasionais - o guaso sompro som tormação adoguada - das posguisas guanti- tativas do grando porto. O ostorço na tormação dossos jovons o talontosos posguisadoros - cuidadosamonto oscolhidos dontro os molhoros alunos guo tivo na minha vida protissional - o o ostorço do todos na ropotição do tralalho ató uma vorsão tinal satistatória, tudo om uma linguagom clara o acossívol a todo loitor culto, transparoco, ostamos convoncidos, no rosultado. Nossa posguisa tovo a inspiração crítica dos tralalhos ompíricos dosonvolvidos por Piorro Bourdiou - o polos ostudos toórico-ompíricos do Bornard lahiro, 4 guo toi guom molhor rotlotiu acorca da sociologia disposicional prosonto nos tralalhos do Bourdiou - nos sous ostudos solro a Argólia, 5 assim como no sou ostudo mais roconto solro a M::~::a u· nuuu·. 6 Nossos livros momorávois, vordadoiros clássicos contomporânoos da sociologia crítica o ongajada, tamlóm são domonstrado como o discurso inicial do gualguor agonto social - olo próprio um compotidor por lons o rocursos oscassos o nunca, portanto, noutro¨ ou imparcial¨ - tom guo sor motodicamonto roconstruído. Não ó o guo acontoco com a maioria das posguisas sociais no Brasil o no mundo. A porspoctiva crítica não ó a dominanto. 3¯4 Todos os intorossos dominantos do mundo, contossávois o incon- tossávois, militam contra ola. A posguisa ciontítica crítica dosatia os podoros instituídos dontro o tora do mundo acadômico. Por conta disso, ola nunca ó dominanto, mas ó com posguisas dosso tipo guo mais aprondomos solro o mundo como olo ó o não como os intorossos dos vários podoros guo dominam todas as ostoras da vida guorom guo o porcolamos. O guo ostá por trás dossa discussão solro guantidado o gualidado, ¯ solro a acoitação ingônua da vordado do agonto ou sua roconstrução contoxtualizada o motódica, ó uma torma do comproondor o mundo: logitimando os podoros do tato ou dosvolando as lasos das injustiças sociais logitimadas, inclusivo, por osto tipo do ciôncia¨ da ordom. Nossa torma do posguisar ó minoritária no Brasil. A rogra ó o tipo do posguisa toita por lamounior o Souza ou posguisas politicamonto corrotas¨ guo compram, ingonuamonto, a vorsão do agonto social solro si mosmo. Quo o loitor atonto o do loa-tó docida por olo mosmo ondo aprondor mais ou monos solro a roalidado social om guo vivo. So a prova do pudim ó comô-lo, como dizom os amoricanos, vamos provar os divorsos pudins o comparar os rosultados. Ë assim guo a ciôncia tunciona o ó assim guo o conhocimonto solro a nossa sociodado progrido. {~::~ S·uza MC⌃⇧⇥ lNTRODU(AO 1 Essa ó a monsagom, por oxomplo, do livro, já sucosso do vondas, guo iromos criticar na conclusão om dotalho, rocontomonto pullicado: lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a. 2 BOURDlEU. · u::ì:u¸a·. Acorca do paradigma sociocultural no ostudo das classos sociais, vor PETER VUllER. S·z:aI:ì:uLìu: uuu 1~ü~u::ì:II~. 3 WEBER. D:~ j:·ì~:ìauì::cI~ EìI:L toxisto vorsão lrasiloira do original alomão da oditora Companhia das lotras). 4 DUVONT. H·n· ·~guaI::. 5 BOlTANSKl, CHlAPEllO. EI uu~:· ~:j:::ìu u~I caj:ìaI::n·, p. 1¯. 6 BOlTANSKl, CHlAPEllO. EI uu~:· ~:j:::ìu u~I caj:ìaI::n·. ¯ HARVE\. · c·uu:¸a· j·:-n·u~:ua, p. 121. 8 GRAVSCl. ·au~:u·: u· cá:c~:~. 9 SOVBART. Wa:un g:üì ~: :u u~u !~:~:u:gì~u Sììaì~u L~:u~u S·z:aI::nu:. 10 OCONNOR. TI~ 1::caI ·::::: ·J ìI~ Sìaì~. 11 HARVE\. · c·uu:¸a· j·:-n·u~:ua, p. 130-155. 12 SENNETT. D~: JI~.:üI~ M~u:cI, p. 52-53. 13 GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~, ::gu~za u~ I· j·::üI~, cap. ll. 14 GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~, ::gu~za u~ I· j·::üI~, cap. ll. 15 GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~, ::gu~za u~ I· j·::üI~, cap. ll. 16 lNGlEHART. ·uIìu:~ SI:Jì :u ·u:auc~u 1uuu:ì::aI S·c:~ì:~:. 1¯ HABERVAS. D:~ TI~·::~ u~: L·nnuu:Laì::~u Hauu~Iu:. 18 GRUN. Entro a plutocracia o a logitimação da dominação tinancoira. 19 GRUN. Docitra-mo ou to dovoro!: as tinanças o a sociodado lrasiloira, p. 391. 3¯6 20 Uma posguisa toita pola TNSCia. do Talontos com 26.281 univorsitários lrasiloiros o rocóm-tormados trouxo polo monos uma surprosa guando lhos toi podido guo oscolhossom um lídor com o gual so idontiticam: o sogundo mais votado toi Rolorto Justus. O omprosário o aprosontador do SBT ticou atrás do Barack Olama, mas à tronto do lula, Josus Cristo o Stovo Jols. R~:::ìa !~¡a, 15 do agosto do 2009. 21 SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a, ospocialmonto o cap. lV. 22 SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a, cap. lll, o SOUZA. · n·u~:u:za¸a· :~I~ì::a. 23 Vor comontário solro o livro do lamounior o Souza na conclusão dosto tralalho. 24 ANTUNES. · ca:ac·I ~ :ua c·ucIa. 25 BOURDlEU. · u::ì:u¸a·. 26 lllOUZ. ··u:un:ug ìI~ R·nauì:c ¹ì·j:a. 2¯ REVlSTA NEGÓClOS E llNAN(AS. 9 nov. 2008. 28 ANTUNES. · ca:ac·I ~ :ua c·ucIa, p. 144. PARTE 1 - PERllS DE BATAlHADORES BRASllElROS CAPlTUlO 1 1 A torcoirização constitui uma ostratógia na gual as grandos omprosas contratam os sorviços do omprosas monoros. lsso pormito guo as omprosas maioros não procisom arcar com os custos do tor dontro dola própria um sotor ospocítico dostinado àguola atividado. Assim, as omprosas maioros tamlóm consoguom diluir os custos o oncargos do mantorom tal sotor dontro da própria omprosa. 2 VENCO. N·:·: ~:ja¸·: u~ j:·uu¸a·, u·:·: j:·I~ìá::·: ua· ·j~:á::·:. 3 SllVA. R~guIan~uìa¸a· u· ì:aüaII· u· :~ì·: u~ ì~I~na:L~ì:ug u· 1:a::I. 4 BOlTANSKl, CHlAPEllO. TI~ N~u Sj:::ì ·J ·aj:ìaI::n, o SENNETT. · c·::·:a· u· ca:áì~:. 5 A taxa do oscolarização da população ontro ¯ o 14 anos passou do 6¯/ om 19¯0 para 95/ om 1998. O numoro do anos do ostudo da população com idado suporior a 5 anos passou do 2,4 om 19¯0 para 3,3 om 1980, o para 5,9 om 1996 tConsos domográticos 1960, 19¯0 o 1980, o Posguisa Nacional por Domicílios - PNAD - 1990 o 1996). Vor ANTUNES, BRAGA. 1uJ·j:·I~ìá::·:. Como colocam Nolson do Vallo Silva o Carlos Hasonlalg: Nos ultimos anos o Brasil tom so aproximado da univorsalização do acosso ao onsino tundamontal.¨ p. 1. Vor HASENBAlG, SllVA. T~uu~uc:a: ua u~::guaIuau~ ~uucac:·uaI u· 1:a::I. 3¯¯ 6 lsso ó o guo lsalol Goorgos chama do solrogualiticação¨ om sou artigo no livro 1uJ·j:·I~ìá::·:, isto ó, o aumonto do possoas lom gualiticadas tralalhando om omprogos guo oxigom pouca gualiticação. Outro lom ponto articulado por ola ó o do guo o nívol do oscolarização dos atondontos ó, om módia, maior om rolação ao rosto da população lrasiloira, algo guo aponas corrolora nosso argumonto. Vor p. 220-221. ¯ O I~au :~ì ó um tono do ouvido com uma poguona hasto guo so ostondo ató a loca o com um microtono na ponta. 8 GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~ ~ ::gu~za: u~ I· j·::üI~ 9 GRUN. Docitra-mo ou to dovoro!: as tinanças o a sociodado lrasiloira. 10 SllVA. R~guIan~uìa¸a· u· ì:aüaII· u· :~ì·: u~ ì~I~na:L~ì:ug u· 1:a::I 11 BOURDlEU. ··uì:~-J~u.. 12 SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a. 13 BOURDlEU. · :~j:·uu¸a· 14 BOURDlEU. O camponôs o sou corpo. 15 ANTUNES, BRAGA. 1uJ·j:·I~ìá::·:. 16 ANTUNES, BRAGA. 1uJ·j:·I~ìá::·:, p. ¯1. 1¯ ANTUNES, BRAGA. 1uJ·j:·I~ìá::·:, p. 91. 18 VARX. · caj:ìaI. 19 VARX. · caj:ìaI, p. ¯1. CAPlTUlO 2 1 Esto tralalho somonto podo sor roalizado graças a divorsas possoas, om sua grando maioria toirantos, guo so dispusoram, om algum momonto, a nos concodor ontrovistas oou rospondor nossos guostionários. A todos olos agui rogistramos nossos mais sincoros agradocimontos. 2 Ct. WEBER. · g~u~:~ u· caj:ìaI::n· n·u~:u·. 3 Agui tazomos monção à criso oconomica guo acontocou ontro 2008 o 2009 o guo tovo roporcussòos divorsas o signiticativas om oscala mundial, tondo sido comparada por muitos analistas com a criso da lolsa do Nova \ork do 1929. 4 loram rounidas, om otapa antorior a osta posguisa, inumoras matórias do rovista o jornal guo, om linhas gorais, rotratam a loira como um símlolo¨ do orgulho da rogião. Algo lom ditoronto do guo ola, do tato, ó om nossa visão: um tipo do morcado poritórico. 5 Entrovista om 22102008. 6 Entrovista om 29102008. ¯ Vor SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a. 3¯8 8 Tamlóm chamadas do loxos¨, são poguonos ospaços tdo corca do 10 motros guadrados cada, guo podom sor aumontados pola união do alguns dolos) guo são concodidos para uso dos toirantos pola protoitura. Ë prática ontro os toirantos vondô-las o comprá-las uns aos outros como ponto comorcial¨. Tamlóm ó prática tazor dolas poupança, ou ontão comprar larracas vizinhas ou om molhoros localizaçòos para ampliar o nogócio. 9 Taxa anual paga à protoitura. 10 As torças o sálados, nos dias das duas grandos toiras, a da Sulanca o a livro. Vido nota soguinto. 11 A loira da Sulanca ó uma toira guo acontoco há dócadas no mosmo ospaço tísico no gual ostá instalada a loira do Caruaru. Ë considorada parto intogranto dosta. Na roalidado, ola avança polas ruas circunvizinhas da toira o rouno milharos do possoas do todo o Nordosto guo lá procuram vondor o comprar contocçòos talricadas om polos do produção tôxtil do Agrosto pornamlucano, tais como Toritama o Santa Cruz do Capilarilo. Ela acontoco sompro às torças, dia do grando movimonto para os toirantos tixos dotontoros do larracas-loxo do alimontação, por oxomplo. Para dosignar o guo tazom os toirantos na Sulanca, costuma-so usar a oxprossão lotar lanco¨. Ou soja, vondor roupas numa ostrutura do motal ou madoira guo ó instalada polos montadoros do lanco¨ pagos para tazorom isso na virada da noito da sogunda para a torça. A Sulanca comoça oticialmonto a partir das trôs horas da madrugada o vai ató por volta do moio-dia da torça. Os sulanguoiros¨ tamlóm pagam o mosmo imposto por uso do ospaço pullico guo os toirantos tixos. Como a Sulanca ó muito grando o causa transtorno ao trânsito do automóvois o possoas polo contro da cidado, ou soja, altora sua dinâmica, a possívol transtorôncia dola para um outro lugar mais apropriado ó agonda pullica o política constanto na cidado, o guo causa modo aos toirantos tixos guo tôm, no dia om guo ola acontoco, o grando movimonto om sous comórcios, juntamonto com o sálado, dia tradicional da toira dos produtos agropocuários da rogião, dia do tazor a toira¨, como so costuma dizor por agui. Ou soja, ó justamonto nas torças o nos sálados guo muita gonto taz rotoiçòos por lá. 12 Olviamonto, dirigidos¨ por suas instituiçòos contrais, Estado o Vorcado. Solro osta visão da modornidado poritórica vor SOUZA. · n·u~:u:za¸a· :~I~ì::a. Para otoito do análiso ciontítica tsocial), vor a toira como um tipo do morcado poritórico ó algo sulstantivamonto ditoronto do vô-la como algo pró-modorno¨, ou soja, doscolado o ditoronto do mundo modorno do gual ola taz parto inoxtrincavolmonto tso olsorvada do primoiro modo). 13 A loira o os loirantos¨, posguisa local roalizada com o apoio do CEPEDES lAPEVlGCNPg o guo so insoro na grando posguisa guo originou osto livro. Nola, toram omproondidas as soguintos trontos invostigativas: 1. Posguisa toórica, principalmonto voltada às olras do Piorro Bourdiou o Bornard lahiro, 2. Posguisa lilliogrática: rounião do tralalhos ciontíticos rolacionados à tomática inicial tpoucos) o do alguns tralalhos locais ospocíticos solro a loira do Caruaru, 3. Documontaljornalística: rounião do intormaçòos oltidas om rolatórios tom ospocial, o do lPHAN, para o 3¯9 roconhocimonto da loira como Patrimonio Cultural lmatorial Brasiloiro) o matórias solro a loira voiculadas ao longo das ultimas dócadas om divorsos voículos do mídia improssa, 4. Entrovistas somi o não ostruturadas: na otapa oxploratória da posguisa, toram roalizadas ontrovistas com 11 possoas guo podom sor considoradas vozos do rotorôncia¨ solro a loira, pois são íconos históricos ttoirantos), historiadoros ou porta-vozos do instituiçòos signiticativas, tais como: Sindicato dos Comorciantos o Vondodoros Amlulantos do Caruaru tSlNCOVAC), Dopartamonto do Arrocadação o Dopartamonto do loiras o VorcadosSocrotaria do Sorviços UrlanosProtoitura Vunicipal, 5. Olsorvaçòos otnográticasconvorsas intormais: inicialmonto gorais, visando comproondor a dinâmica da loira o dos toirantos o, postoriormonto, mais dirocionadas à idontiticação do possívois portis a sorom ontrovistados para so juntarom aos domais matoriais ompíricos utilizados na composição dosto livro, o, por tim, visando conhocor a dinâmica administrativa dossos toirantos om sous micronogócios, duranto o poríodo do campo da posguisa, do sotomlro do 2008 a junho do 2009, por divorsas vozos tizomos rotoiçòos om divorsas dossas larracas do alimontação, o assim aguçamos nosso olhar para o tonomono om guostão, 6. Entrovistas om protundidado com toirantos: nosta otapa tizomos, com lalrício Vaciol, oito ontrovistas com cinco toirantos, dontro ossos ontrovistados oscolhomos os portis guo são aprosontados no capítulo supramoncionado, ¯. Etapa guantitativa taplicação do guostionário junto à população do toirantos do alimontação, talulação dos dados o montagom das talolasgráticos) guo gorou ostatística doscritiva guo contirmou algumas análisos próvias om rolação à homogonoidado das socializaçòos, trajotórias o guostòos gorais do modo do administrar o nogócio dos toirantos. Em todas ossas otapas contamos com apoio signiticativo da ostudanto Varta Rodriguos do Olivoira tontão lolsista do iniciação ciontítica do CNPg). 14 Um tipo-idoal so trata do construção do um posguisador guo olonca os principais aspoctos do tonomono guo guor comproondor, sol sua porspoctiva. O ì:j·-:u:ì:un~uì· ó um moio do posguisa comparativa com a roalidado. Ou soja, o tipo-idoal voloriano ó um instrumonto para análiso comproonsiva o construção toórica, o não um modolo idoalizado para uma prática portoita¨. Para a construção do nosso tipo-idoal, as caractorísticas gorais do guom soriam os latalhadoros toram articuladas com a análiso dos dados colotados o, olviamonto, olsorvadas por lontos toóricas disposicionalistas¨ omlasadas nos tralalhos do Piorro Bourdiou o Bornard lahiro. Vor WEBER. Oljotividado do conhocimonto na ciôncia social o na ciôncia política. 15 Solro os prollomas inorontos a osta guostão, guo tamlóm são sotridos por possoas como Podro, vor SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a, no capítulo lX - A má-tó institucional¨, A instituição do tracasso...¨, toxto do lorona lroitas. 16 Ë Bornard lahiro o sociólogo contomporânoo guo nos pormito avançar com sogurança nosta rolação ontro contoxto social o indivíduo, para olo o indivíduo ó o produto do multiplas oporaçòos do dolramontos tou do intoriorização) o so caractoriza pola pluralidado das lógicas sociais guo olo 380 intoriorizou. Essas lógicas so dolram todos os dias do modo rolativamonto singular om cada indivíduo, o nós rooncontramos ontão, om cada um do nós, o ospaço social no ostado dosdolrado.¨ ttradução nossa) lAHlRE. 1~:j::ì :·c:·I·g:gu~, p. 120. 1¯ No sontido do sor tora da toira, no contro comorcial da cidado. 18 lAHlRE. R~ì:aì·: :·c:·I·g:c·:, p. 21. 19 lAHlRE. R~ì:aì·: :·c:·I·g:c·:, p. 2¯. 20 Dirotamonto rolacionados a cada uma das disposiçòos apontadas. lomlromos guo ostas disposiçòos somonto podom sor construídas tooricamonto, como concoitos, partindo dos ponsamontos, sontimontos o açòos do um latalhador, como ilustram os trochos ontro parôntosos. CAPlTUlO 3 1 Nomo moditicado. 2 Emprosa do capital misto guo tomonta a produção rural. 3 A idoologia do mórito ó uma das principais cronças do mundo modorno, compartilhada por todos nós. Ela sugoro guo lasta tor ostorço individual o torça do vontado para consoguirmos tudo o guo guisormos na vida. 4 Assim olo ó visto pola vizinhança. 5 Tipo ospocítico do produção da torra. 6 Juntar, tazor uma sociodado. ¯ A idoia do disposiçòos¨ usada agui ó inspirada na olra do sociólogo Bornard lahiro t2006). Ela sugoro cortas tondôncias para o comportamonto, adguiridas na intância, guo podom ou não so tornar prática na vida do uma possoa, do acordo com contoxtos da vida guo as tacilitom ou diticultom. 8 Para a roça, para tralalhar. 9 Os tormos honostidado¨ o dignidado¨ são utilizados agui om contraposição ao rumo guo muitas possoas do origom polro tomam na vida, ou soja, o da dolinguôncia o da marginalidado. Vor VAClEl, GRlllO. O tralalho guo tin)dignitica o homom. 10 Esto concoito tonta dotinir um ospaço tluido no morcado do tralalho, guo do alguma manoira sompro oxistiu no capitalismo, no gual um volumo grando do possoas sompro ontra o sai tCASTEl. Tho lndignity ot Wago lalor). Esto volumo do gonto guo vivo numa ospócio do solo o dosco¨ ó ainda maior no capitalismo poritórico como o lrasiloiro. Nolo so oncontram ou já so oncontraram a maioria dos latalhadoros analisados nosto livro. 11 linha do ompróstimo ospocítico do govorno todoral para tomonto do poguonas produçòos rurais. 12 Humildo no sontido do procisar laixar a caloça o insistir no tralalho. 381 13 Elo so rotoro ao cultivo da noz pocã, guo ó um dos trutos mais promissoros da rogião o guo domora cinco anos para comoçar a dar rotorno. CAPlTUlO 4 1 Toma osto tratado no artigo Populismo ou modo da maioria?¨ dosta olra. 2 DAVATTA. · ca:a ~ a :ua. 3 BOURDlEU. Raz·~: j:áì:ca:. 4 Vor o artigo Populismo ou modo da maioria?¨. 5 Tratamos do amor da ronuncia¨, no caso das mulhoros, principalmonto das mãos, om A misória do amor dos polros¨, na olra · :aI~ ü:a::I~::a, do minha autoria. 6 Vor, nosta olra, Populismo ou modo da maioria?¨, guo trata da ospociticidado da ótica católica cristã. ¯ lorça agui não aponas no sontido tísico, mas tamlóm nolo. CAPlTUlO 5 1 Usamos o tormo disposição¨ no sontido do Bornard lahiro t2006), como capacidados o tondôncias para a ação individual om contoxtos ospocíticos. 2 Vor dotinição do Jossó na introdução dosto livro. 3 Vimos dotinindo como dignidado uma condição tamiliar lásica do sustonto matorial o roconhocimonto social onguanto distinto do vagalundo ou do dolinguonto. Tal condição podo sor contorida por um tralalho gualiticado tvor VAClEl. Todo tralalho ó digno?) ou por um poguono omproondimonto comorcial guo tom algum roconhocimonto polo próprio morcado, ainda guo osto soja intormal. 4 O toxto do Brand Aronari o Rolorto Torros oxplora dotalhadamonto osto ponto. 5 A oducação tamiliar o o oxomplo do honostidado do pais guo tralalham arduamonto tazom toda a ditoronça para a aguisição do disposiçòos para a honostidado, o não para a dolinguôncia tVAClEl, GRlllO. O tralalho guo tin)dignitica o homom). 6 Comproondomos como Iaü:ìu:, soguindo Bourdiou, um conjunto do disposiçòos para a ação adguirido como aprondizado ospontânoo o inconscionto dosdo a intância. O Iaü:ìu: do campo trata dosto conjunto do disposiçòos rotorontos ao contoxto ospocítico rural tBOURDlEU. O camponôs o sou corpo). 382 CAPlTUlO 6 1 Não trataroi agui protundamonto solro Andró, osposo do laura, porguo osto já ó talocido há 20 anos. Vas valo porguntar solro a atuação do protostantismo tontro o tim do sóculo XlX o início do sóculo XX) no intorior do Vinas Gorais para conhocor a troguôncia do convorsòos do nogros. lsto porguo mo chama muito a atonção o tato do Andró o sous irmãos torom tido uma tormação protostanto dosdo muito jovons. 2 SOUZA. Raça ou classo? Solro a dosigualdado lrasiloira. 3 Como Gillorto lroyro o Darcy Riloiro. 4 THOVPSON. 1·:na¸a· ua cIa::~ ·j~:á::a :ugI~:a. 5 Como ostava oscrito om uma das rouniòos do mulhoros da lgroja Votodista: Vulhor virtuosa, guom a achará? O sou valor oxcodo ao do rulis¨. Toxto tirado do 1:::· u~ 1:·:~:ü:·: 30, vorso 10. PARTE 2 - A ECONOVlA POllTlCA DO BATAlHADOR CAPlTUlO ¯ 1 Dodico osto artigo a todos os tralalhadoros com guom convorsoi duranto os cinco mosos om guo colotoi dados para osta posguisa do campo o guo disponsaram tompo om sou dia a dia corrido do latalha para convorsar comigo, rocolondo-mo om sous amliontos do tralalho o nogócios ou na privacidado do suas casas, aprosontando-mo sous tamiliaros o amigos, alrindo-mo suas montos o coraçòos. A todos olos, mous sincoros agradocimontos. 2 Ë importanto lomlrar agui o procosso do roalilitação do Padro Cícoro, guo ostá sondo oncaminhado atualmonto polas autoridados oclosiásticas: tala-so mosmo om canonização. Tamlóm o discurso da lgroja católica local solro olo mudou drasticamonto do uma avaliação totalmonto nogativa - sou culto ora alortamonto roproondido do alto do pulpito - para o roconhocimonto do sua importância na dissominação o popularização do cristianismo católico na rogião. Os dados historiográticos solro Juazoiro do Norto lasoiam-so principalmonto no oxcolonto ostudo do Noto lira pullicado rocontomonto: 1au:~ ·:c~:·. 3 Episódio do protundo simlolismo guo dou início a toda a controvórsia om torno do padro. Varia do Araujo ora uma loata nogra, polro o analtalota guo comoçou a aprosontar pullicamonto sinais do torto oxporiôncia mística duranto vigílias do oração guo avançavam pola madrugada na igroja: aprosontava marcas do tlagolação nas costas o no poito, a hóstia consagrada so transtormava om sanguo na sua loca duranto as missas comuns o, por tim, passou a aprosontar toridas somolhantos aos ostigmas da Paixão om suas mãos, pós o caloça, o guo logo dopois cicatrizavam. 383 Para avaliar os acontocimontos, toram onviados, a podido da arguidiocoso do ostado coaronso, dois grupos do ostudiosos a tim do tazor um rolatório minucioso o provar guo so tratava do alguma patologia ou dosmascarar uma possívol tarsa. A comissão oscolhida a dodo polo próprio lispo, lidorada por alguns dos padros mais oruditos da ópoca na rogião, incluindo doutoros om toologia, o composta por módicos o ciontistas do grando prostígio, acalou dando parocor positivo ao caso, corrolorando guo os ovontos oram inoxplicávois. Aposar da oxistôncia do divorsos casos do santos o santas com sintomas somolhantos, roconhocidos pola lgroja om sou largo histórico do misticismo, a protonsão à mística por parto do uma mulhor nogra o polro, om uma rogião misorávol, toi ridicularizada, o o caso toi logo classiticado como do historia o tanatismo já antos da avaliação dos tatos, o mosmo dopois do parocor positivo do rolatório. Esto rolatório acalou sondo doscartado polo lispo, guo promovou uma caça às lruxas contra os sacordotos dotonsoros do milagro do Juazoiro¨. O racionalismo ourocôntrico o a violôncia simlólica contra a roligiosidado popular são lom oxprossos na tala do um protossor trancôs do sominário do lortaloza da ópoca: Nosso Sonhor não iria doixar a Europa para tazor milagros no Brasil¨ tllRA. 1au:~ ·:c~:·, p. 108). 4 llRA. 1au:~ ·:c~:·, p. 108. 5 lORSCHElDER ~ì aI. !aì:cau· 11. 6 llRA. 1au:~ ·:c~:·, lRE\RE. S·ü:au·: ~ nucanü·:. Gillorto lroyro oscrovo com razão guo a inspiração domocrática da doutrina do lliapina toi vítima da ortodoxia patriarcal na introdução à sogunda odição: Tal concopção caractorizou sompro a ação missionária o podagógica do lliapina. Sua concopção do tamília - mosmo do tamília ospiritual - ora a domocrática, om guo as mulhoros participassom da diroção da casa o o tralalho so tizosso som auxílio do lraço oscravo. O guo paroco indicar guo o grando missionário trouxo para o catolicismo lrasiloiro do sou tompo tanto sua oxporiôncia domocrática do tamília numa província já ontão guaso livro da oconomia oscravocrática o do patriarcado alsoluto como o Coará - a província por oxcolôncia do nuì::a· - como as liçòos rocolidas no curso jurídico do Olinda, do mostros imprognados do novas idoias trancosas o inglosas.¨ tp. 89). ¯ llRA. 1au:~ ·:c~:·, p. 44: Vocô, Cícoro, tomo conta dosta gonto, toria dito Cristo ao jovom sacordoto, apontando para a caravana do tamintos.¨ 8 Alguns dos latalhadoros guo ontrovistamos aprosontaram limitos do compotôncia narrativa para talar solro os ovontos do sua vida soguindo uma soguôncia linoar o cronológica, o guo, na maioria dos casos ocorridos, dava-so monos por causa da ausôncia do uma compotôncia cognitiva para comproondor sou lugar no mundo, como parocom guoror muitos intoloctuais para guom os atoros loigos, solrotudo os das classos mais popularos, são como idiotas morais¨, do guo limitos rolacionados ao próprio contoxto do ontrovista, ao dosintorosso do latalhador do pordor horas do convorsa oxpondo sua vida a ostranhos, à doscontiança dos intorossos dos posguisadoros ou à timidoz do guom nunca toi lovado muito a sório om sua posição social, sou conhocimonto prático da vida o 384 suas convicçòos políticas. As limitaçòos mais rocorrontos corrospondiam ao uso constanto do intorjoiçòos, a ponto do diticultar a comproonsão do sontido das oraçòos, ou a ropotição do trasos dosconoxas, ou ainda os silôncios duradouros. Outra diticuldado rocorronto, dontro as inumoras com guo nos dotrontamos guo dizom rospoito às tormas do acosso à suljotividado dos atoros no contoxto artiticial do uma ontrovista, consistia na mudança sulita do algum toma proposto polos ontrovistadoros, o guo, longo do signiticar uma incomproonsão docorronto da limitação cognitiva o linguística do ontrovistado, signiticava muitas vozos a tontativa porspicaz do tugir do assunto do manoira sutil, tazondo-so do dosontondido. Ë para tazor tronto a osso tipo do prolloma motodológico guo Piorro Bourdiou tom lntrodução a uma sociologia rotloxiva¨) chama a atonção do sociólogo para a nocossidado pormanonto do :~JI~.:::uau~: ponsar constantomonto nos prossupostos implícitos a todo contoxto do posguisa. A ostratógia, olalorada por Bornard lahiro tR~ì:aì·: :·c:·I·g:c·:), do tazor várias ontrovistas com os mosmos atoros, intorcaladas por ospaços do tompo, mostra-so, do tato, um oxcolonto rocurso tanto para a criação do um vínculo do intimidado com o ontrovistado, como para atorir o contoudo do vordado das talas após a análiso comparativa ontro rospostas dadas om ditorontos contoxtos. 9 HABERVAS. T~·::a u~ Ia acc:·u c·nuu:caì::a, 11. 10 BOURDlEU. · u~:~ucauìan~uì· u· nuuu·. 11 A Salvo Rainha¨, oração do dovoção mariana, ó uma das oraçòos mais popularos da doutrina católica o nola so oxplicita do torma lola a visão roalista o trágica do sor humano como sor pocador o sotrodor, guo ospora ansioso polo outro mundo, a vordadoira vida¨, podindo o auxílio do Varia, oxomplo máximo do humana tiol aos dosígnios do Dous, para sua passagom sogura na Torra o sua chogada ao cóu: Salvo, Rainha, Vão do misoricórdia, vida, doçura, osporança nossa, salvo! A vós lradamos, os u~g:~uau·: J:II·: u~ E:a. A vós :u:j::an·:, g~n~uu· ~ cI·:auu· u~:ì~ :aI~ u~ Iág::na:. Eia, pois, advogada nossa, ossos vossos olhos misoricordiosos a nós volvoi, o u~j·:: u~:ì~ u~:ì~::·, mostrai-nos Josus.¨ tgrito nosso) 12 SENNET. · a:ì:J:c~, p. 1¯. 13 Doparamo-nos com osso tipo do conhocimonto prático mosmo no caso do tralalho mais duro guo oncontramos: o do latalhadoros om uma mina do guartzito om Ouro Branco, no Rio Grando do Norto, o Várzoa, na Paraíla. A grando maioria dos garimpoiros tralalha, ali, do torma dosprotogida o om procosso manual, lascando as podras com cinzóis o som o uso do gualguor maguinaria modorna. Elos salom o momonto oxato om guo dovom parar o tralalho om uma rocha porguo sontom¨ guando alcançaram a camada do cristal, impossívol do sor oxtraída o guo procisa sor dinamitada. Os garimpoiros, grando parto moradoros ou saídos do poguonas propriodados rurais, cujas osposas são lonoticiárias do Bolsa lamília, pois sua ronda ontra na taixa atondida polo programa, tralalham aí om rogimos divorsos: alguns por conta própria, alguns contratados por outros garimpoiros guo arrondam os lotos do torra para oxtração o guo pagam aos cologas-omprogados por produção, outros ainda om rogimo 385 do cooporativa. Poucos mosos dopois do havor troguontado o amlionto o convorsado com alguns dossos latalhadoros, olos roalizaram uma manitostação contra o dono da torra, guo havia aumontado o valor colrado aos garimpoiros para torom diroito à oxtração om sua propriodado, lovando a roclamação à Justiça. Esso tato ó importanto porguo nos advorto guo mosmo om contoxtos oxtromamonto procários, o associados a rogimos do tralalho ditorontos, os latalhadoros podom so articular do tormas divorsas, dopondondo do contoxto, om dotosa do suas causas. O caso roporcutiu na mídia do Estado da Paraíla. 14 SENNET. · a:ì:J:c~. 15 SENNET. · a:ì:J:c~, p. 41. 16 GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~, ::gu~za u~ I· j·::üI~. 1¯ lOUCAUlT. !:g:a: ~ juu::. 18 SENNET. · a:ì:J:c~, p. 144-146. 19 SENNET. · a:ì:J:c~, p. ¯3-¯4. 20 BOURDlEU. M~u:ìa¸·~: ja:caI:aua:, p. 209. 21 BOlTANSKl, CHlAPEllO. EI uu~:· ~:j:::ìu u~I caj:ìaI::n·. 22 SENNET. · c·::·:a· u· ca:áì~:. 23 SENNET. · c·::·:a· u· ca:áì~:, p. 33. 24 DAVATTA. · ca:a ~ a :ua. 25 HARVE\. ··uu:¸a· j·:-n·u~:ua. 26 BOURDlEU. · u::ì:u¸a·. 2¯ SENETT. · c·::·:a· u· ca:áì~:, p. 120. 28 HABERVAS. T~·::a u~ Ia acc:·u c·nuu:caì::a, 1. 29 THOVPSON. ··:ìun~: ~n c·nun, p. 62. 30 SOUZA, lAVOUNlER. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 150-160. 31 SlNGER. Raízos sociais o idoológicas do lulismo. 32 THOVPSON. ··:ìun~: ~n c·nun 33 SOUZA, lAVOUNlER. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 133. 34 SOUZA. · n·u~:u:za¸a· :~I~ì::a, SOUZA. · :u::::ü:I:uau~ ua u~::guaIuau~ ü:a::I~::a, SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a. 35 CARDOSO. Para ondo vamos? 36 HABERVAS. Muuau¸a ~:ì:uìu:aI ua ~:J~:a juüI:ca, p. 61. 3¯ BOURDlEU. · u::ì:u¸a·, p. 42. 38 HABERVAS. Muuau¸a ~:ì:uìu:aI ua ~:J~:a juüI:ca, p. 69. Evidonto guo osta data corrospondo ao contoxto ouropou analisado por Halormas. No caso lrasiloiro, podomos ponsar guo o procosso do surgimonto do uma 386 ostora pullica modorna so inicia já no alvorocor do sóculo XlX com a rotorma joanina, o guo coincido, aliás, com o alvorocor do morcado o do Estado modornos. Nossa ópoca do ouropoização, tundam-so a impronsa, a primoira lilliotoca pullica, as oscolas do arto o musous, mas o ospaço da crítica ainda ó lastanto tímido porguo a classo culta omorgonto como os lacharóis, tilhos o gonros dos tazondoiros, ainda dopondia totalmonto dos intorossos agrários. Só a partir do moados do sóculo XlX, com o aumonto das cidados, o croscimonto das atividados comorciais o dos sorviços pullicos urlanos ó guo so dissomina a tigura do lacharol, com sou romantismo jurídico o ropullicanismo, nos grandos salòos dos solrados. lRE\RE. S·ü:au·: ~ nucanü·:, SODRË. S:uì~:~ u~ I::ì·::a ua cuIìu:a ü:a::I~::a. 39 SOUZA, lAVOUNlER. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 150. 40 THOVPSON. 1u~·I·g:a ~ cuIìu:a n·u~:ua A tooria liloral tradicional da livro impronsa concolo osta como um tiscal crítico o indopondonto com rospoito ao podor do Estado¨. tp. 323) 41 THOVPSON. 1u~·I·g:a ~ cuIìu:a n·u~:ua, p. 346. 42 SlNGER. Raízos sociais o idoológicas do lulismo. 43 WEBER. A psicologia social das roligiòos mundiais, p. 328. 44 WEBER. Rojoiçòos roligiosas do mundo o suas diroçòos, p. 3¯5. 45 WEBER. Rojoiçòos roligiosas do mundo o suas diroçòos, p. 3¯6. 46 Com rolação à lgroja católica, por oxomplo, ó sintomático guo, no momonto om guo ola passa por uma dolandada do tióis o por uma imonsa criso institucional, tondo sua logitimidado guostionada por acusaçòos do podotilia, por um lado, o pola crítica roitorada do traçòos tipicamonto do classo módia nos movimontos sociais, como o gay o o tominista, por outro, procuro rosgatar a roligiosidado popular por moio da roavaliação do uma porsonagom como o Padro Cícoro. Por outro lado, tamlóm não ó à toa guo movimontos do cunho mais popular, como o VST, guo não soguom o padrão do oxprossão logítima da ostora pullica, tonham surgido no soio do suas pastorais. Evidontomonto, não ostamos com isso guorondo dizor guo os movimontos popularos da lgroja católica são hogomonicos o guo osta instituição aprosonta sompro um papol crítico. Polo contrário, ó do conhocimonto comum o papol guo a lgroja roprosontou om movimontos roacionários na história do Brasil, como o intogralismo o o próprio golpo do 1964, ou a ·ju:, para ticarmos com um mais roconto. Dosdo Gramsci t·au~:u·: u· cá:c~:~, v. 4), salomos guo a lgroja ó porpassada por divorsas corrontos, o guo a luta do classos so dosonrola om sou soio. 4¯ THOVPSON. 1u~·I·g:a ~ cuIìu:a n·u~:ua, p. 59-60. Os primoiros sindicatos apolavam à tradição na dotosa dos intorossos do otício, roprosontados por santos tundadoros, para guom so taziam procissòos. 48 SHAKESPEARE. R·n~u ~ {uI:~ìa, Macü~ìI, HanI~ì, ·ì~I·. 38¯ CAPlTUlO 8 1 As vicinais¨ são ostradas transvorsais guo cortam uma principal tou ramais¨), assim como costolas. CAPlTUlO 9 1 Ao contrário do guo prossupòo o concoito liloral do livro concorrôncia, toda concorrôncia supòo algum nívol do protoção ostatal. Aliás, o alandono ao cada um por si¨ goralmonto roprosonta os sotoros mais procarizados da oconomia. 2 O Estado goralmonto opora osto mocanismo por moio do monopólio do podor jurídico tconcossòos, rosorvas do morcado, manipulação das taxas do juros otc.) o om ultima instância policial, cujo papol na construção da ordom oconomica ó contral. tBOURDlEU. 1~: :ì:ucìu:~: :·c:aI~: u~ I~c·u·n:~.) 3 GRUN. Docitra-mo ou dovoro-to! As tinanças o a sociodado lrasiloira. 4 NERl. Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo: o impacto do CrodiAmigo. 5 NERl. Vicrocródito: o mistório nordostino o o Gramoon lrasiloiro. 6 SOARES. ot al. Saindo da polroza com o microcródito. Condicionantos o tompo do asconsão: o caso dos cliontos do CrodiAmigo. ¯ SOUZA ~ì aI ·: üaìaIIau·:~: ü:a::I~::·:: nova classo módia ou nova classo tralalhadora? 8 O propósito lásico agui ó o contrasto ontro poguonos o grandos omproondimontos. A ditoronciação diz rospoito à idoia da composição intorna do uma grando omprosa altamonto ditoronciada com sotoros rolativamonto autonomos ontro si como os altos oscalòos omprosariais, os tralalhadoros da produção, markoting otc. 9 BOURDlEU. 1~: :ì:ucìu:~: :·c:aI~: u~ I~c·u·n:~ 10 A maioria dos ompróstimos tomados no CrodiAmigo são organizados por grupos. Ë o sistoma do avalista cruzado no gual torma-so um grupo com rocoitas o nogócios distintos para tomar um ompróstimo conjunto. O propósito do sistoma ó torçar o controlo mutuo do grupo no sontido do roduzir a inadimplôncia o aumontar a contiança tinancoira¨. 11 Um lom ponto ilustrativo ó a própria transtormação da protissão do oconomista om protissão liloral tconsultoros tinancoiros otc.), cujo oljotivo ó justamonto a da incorporação dosto capital cultural ospocítico da oconomia, pormitindo maior domínio o podor solro a própria ação oconomica. Esto capital cultural ó goralmonto logitimado o oticializado polas instituiçòos oscolaros suporioros como as grandos oscolas do lusinoss¨, oconomia, administração otc. 388 12 BOURDlEU. ·Ig~::~ ôU: structuros óconomiguos ot structuros tomporollos, p. ¯3. 13 VAClEl. Batalhadoros toirantos: o vor-o-poso do Bolóm o a loira do Caruaru¨. 14 Por oxomplo, ao sor porguntado solro o maior onsinamonto guo olo rocolou dos pais olo rospondo: olos mo onsinaram · gu~ ~u :·u ag·:a, · gu~ ~u :·u ag·:a:¨. tlAHlRE. · cuIìu:a u·: :uu:::uu·:.) 15 TORRES, ARENARl. Os latalhadoros¨ o o pontocostalismo: um oncontro ontro classo o roligião. 16 Porguo Elo to livrará do laço do passarinhoiro, o da posto porniciosa. Elo to colrirá com as suas ponas, o dolaixo das suas asas ostarás soguro: a sua vordado ó oscudo o lroguol.¨ tsalmo 91) 1¯ BOURDlEU. 1~: :ì:ucìu:~: :·c:aI~: u~ I~c·u·n:~. 18 NERl. Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo. 19 BOURDlEU. 1a u·n:uaì:·u na:cuI:u~. 20 Acorca da análiso dotalhada dosto assunto vor: VATTOS. A dor o o ostigma da puta polro. 21 Daniol ainda atirma guo, no comórcio, o patrão não ó a omprosa como guando so ó omprogado, mas o clionto. Esta tala so oxplica ovidontomonto om taco do olo sor um autonomo¨, mas tamlóm polo tato do sua rolação a uma domanda¨ oxistonto ou possívol, isto ó, pola sua posição no sulospaço guo ocupa no comórcio do trutas. 22 SOUZA. O guo ó uma classo social. 23 lAHlRE. · cuIìu:a u·: :uu:::uu·:. 24 SOUZA ~ì aI ·: üaìaIIau·:~: ü:a::I~::·:: nova classo módia ou nova classo tralalhadora?, p. 324. 25 Para Piorro Bourdiou a idoia do ostratógia no campo oconomico so dá com rolação ao contoxto o a posição om guo um omproondimonto so oncontra om taco do sous concorrontos imodiatos to socundariamonto, os mais distantos), sua posição dianto da organização logal o tinancoira do sotor¨ oconomico ospocítico o a domanda ospocítica a guo atondo. tBOURDlEU. 1~: :ì:ucìu:~: :·c:aI~: u~ I~c·u·n:~.) 26 Esta proocupação do atastamonto prático da dolinguôncia o com a socialização disciplinar dos tilhos praticada por Daniol podo sor lida como uma torma do intorvonção prática no dostino social do sous tilhos. Uma comparação podo sor toita com a tala do Allorto, na gual olo diz ao tilho: so vocô croscor amanhã ou dopois o aprondor alguma coisa guo não ó corta vocô não vai mo culpar.¨ A tala do Allorto paroco sor muito mais a do um possívol alandono do cuidado inicial do uma socialização disciplinar primária do guo trazô-la para o mundo cotidiano do dia a dia do sous tilhos. tVAClEl, GRlllO. O tralalho guo tin)dignitica o homom, p. 244.) 389 2¯ lsso podo sor ilustrado no tato do guo mosmo sondo analtaloto, lindomar conduz o controlo rígido do sou nogócio do caloça¨. 28 A possoa a gual olo so rotoro ó o antigo patrão guo o iniciou na vonda do trutas. 29 No toxto, os autoros analisam como a ostora ludica, dosdo codo, tornou-so ostrutural na vida do sou ontrovistado, o guo no caso do lindomar acontocou com as urgôncias sociais ostora do tralalho. 30 TORRES. O noopontocostalismo o o novo ospírito do capitalismo na modornidado poritórica. 31 TORRES. O noopontocostalismo o o novo ospírito do capitalismo na modornidado poritórica. 32 NERl. Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo, NERl. Vicrocródito, Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo, NERl. Vicrocródito, Bolsa lamília o as portas do ontrada para os morcados. 33 NERl. Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo, NERl. Vicrocródito, Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo, NERl. Vicrocródito, Bolsa lamília o as portas do ontrada para os morcados. 34 NERl, Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo, p. 38. 35 BOURDlEU. 1a u::ì:ucì:·u: critiguo social du jugomont. 36 BOlTANSKl, CHlAPEllO. TI~ N~u Sj:::ì ·J ·aj:ìaI::n. 3¯ NERl. Vicrocródito, Bolsa lamília o as portas do ontrada para os morcados, p. 1. PARTE 3 - A REllGlAO DO BATAlHADOR CAPlTUlO 10 1 CAVPOS. As origons norto-amoricanas do pontocostalismo lrasiloiro: olsorvaçòos solro uma rolação ainda pouco avaliada. 2 ARENARl, TORRES. lntorsuljotividado, socialização roligiosa o aprondizado político: osloço do uma intorprotação sociológica do pontocostalismo no Brasil. 3 Nosto sontido, a instalilidado da posição social, longo do sor um indicador da ausôncia do classo social, ó o traço guo por oxcolôncia dotino a condição do classo do latalhador na divisão social do tralalho. Por um lado, a instalilidado da posição social, hordada dos pais o sontida no prosonto como a amoaça do rolaixamonto, aposar do todo o ostorço para ascondor socialmonto, podo sor dotinida como a u~::auìag~n ~:ì:uìu:aI u· üaìaIIau·: ~n :~Ia¸a· à: cIa::~: u·n:uauì~:, guo não vivom osta amoaça o para as guais a luta por dignidado o sogurança não ó o contro 390 do todas as proocupaçòos. Por outro lado, podo sor dotinida como a :auìag~n ~:ì:uìu:aI u· üaìaIIau·: ~n :~Ia¸a· à :aI~, já guo osta consisto numa condição social marcada pola ostalilização da oxclusão ao longo do goraçòos, pola oxclusão ostávol¨, pola oxpoctativa do guo não adianta alimontar nonhuma oxpoctativa. 4 Não guoromos atirmar agui guo o catolicismo soja dosprovido dosta molilidado, o guo , aliás, paroco sor um dos traços guo o movimonto Ronovação Carismática tom ajudado a dosonvolvor dosdo guo ganhou torça na lgroja católica. No ontanto, ó sompro nocossário não pordor do vista uma ditoronça tundamontal, uma trontoira muito clara para a molilidado do loigo a tunçòos ospocíticas tcatoguista, ministrota) da oucaristia): o ostilo do vida do sacordócio católico so atirma om dicotomia com ostilo do vida loigo, ou soja, ou so ó vocacionado para o matrimonio o a constituição do uma tamília ou para o sacordócio. 5 ROCHA, TORRES. O cronto o o dolinguonto. 6 BOlTANSKl, CHlAPEllO. EI uu~:· ~:j:::ìu u~I caj:ìaI::n·. ¯ O tuturo traçado¨ nada tom a vor com um sontido lalístico¨ para a trajotória do indivíduo. Bornard lahiro tom roda razão guando donuncia osta conclusão tácil to insustontávol) om uma tooria das disposiçòos¨ guo protondo tazor lom uso da horança lourdiosiana. Com a idoia do tuturo traçado¨ guoromos justamonto mostrar guo há, mosmo som o sontido lalístico, dotorminação na trajotória individual. Quoromos rossaltar simplosmonto guo, no soio das tamílias o das intoraçòos guo cuidam da torma do socialização do cada classo social, sompro algumas possililidados o oxpoctativas são alimontadas, traçadas¨, ontão, om dotrimonto do outras. Ct. lAHlRE. R~ì:aì·: :·c:·I·g:c·: 8 Dovo ticar claro guo a lURD tamlóm ó troguontada por possoas guo não tazom parto da raló, o guo não invalida a idoia do guo a domanda polo socorro ospiritual¨ om guo osta igroja noopontocostal so ospocializou ó uma nocossidado típica do guom vivo situaçòos do dososporo, situaçòos guo, por sua voz, são típicas da raló. 9 DlAS, lUZ. Vulhoros no pulpito: práticas o roprosontaçòos na igroja om cólula no modolo dos 12 om loira do Santana, p. 3. 10 Entro ostas atividados ostão o controlo do rolatórios dos sous lidorados com as intormaçòos do como toi a rounião, o numoro do possoas, o numoro do convorsòos, o numoro do possoas para o oncontro, numoro do possoas na oscola do lídoros, guantidado do otorta o a provisão do alrir mais cólulas. 11 DlAS, lUZ. Vulhoros no pulpito: práticas o roprosontaçòos na igroja om cólula no modolo dos 12 om loira do Santana, p. 8. 12 Disputas sociais onvolvondo os saloros logítimos¨ da prática roligiosa são um toma caro a Vax Wolor o a Piorro Bourdiou. Solro as disputas guo onvolvom a tontativa do logitimar o doslogitimar os saloros da intoração¨ como salor roligioso vor T\REll. Roligion als Kommunikation. Augo, Ohr und Vodionvioltalt, p. 41-96. 391 13 T\REll. Roligion als Kommunikation. Augo, Ohr und Vodionvioltalt, p. ¯¯. 14 Vor lUHVANN. lntoraktion und Gosollschatt, p. 813-825. 15 lUHVANN. D:~ ·~:~II:cIaJì u~: ·~:~II:cIaJì, p. ¯88. 16 Ë o caso do sociólogo alomão Hartmann Tyroll. 1¯ CASTEllO, lAVAllE. As lonossos dosto mundo: associativismo roligioso o inclusão sociooconomica. 18 CASTEllO, lAVAllE. As lonossos dosto mundo: associativismo roligioso o inclusão sociooconomica, p. 88. CONClUSAO 1 lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a. 2 WEBER. D:~ W::ì:cIaJì:~ìI:L u~: W~Iì:~I:g:·u~u. 3 lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. ¯. 4 Dados lPEA. Ec·u·n:a ü:a::I~::a: indicadoros do portormanco macrooconomicas o porspoctivas, 2009. 5 lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 9. 6 lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 91. ¯ PUTNAV ~ì aI. MaL:ug D~n·c:ac, W·:L. 8 lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 108. 9 KNÖBl. Sj:~I:aun~ u~: M·u~:u:::~:uug. 10 TOCQUEVlllE. D~n·c:ac:a ua ·n~::ca. 11 WEBER. Dio protostantischo Sokton und dor Goist dos Kapitalismus. 12 ElSENSTADT. T:au:ì:·u, ·Iaug~ auu M·u~:u:ì,. 13 AlVElDA. · caü~¸a u· ü:a::I~::·. 14 BANllElD. TI~ M·:aI 1a::: ·J a 1acLu·:u S·c:~ì,. 15 lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 133. 16 STOCKlNG. !·IL:g~::ì a: M~ìI·u auu EìI:c. 1¯ STOCKlNG. !·IL:g~::ì a: M~ìI·u auu EìI:c, p. 109. 18 O rolatório do World Bank, citado por lamounior o Souza, ostima om 400 milhòos do possoas o total dossa classo ascondonto nos paísos omorgontos. Vor Glolal Economic Prospocts 200¯. 19 NERl. M:c:·c:~u:ì·, · n::ì~::· u·:u~:ì:u· ~ · ·:an~~u ü:a::I~::·. 20 VANGABElRA. · gu~ a ~:gu~:ua u~:~ j:·j·:. 392 POSlAClO 1 Vor SOUZA, Jossó ~ì aI !aI·:~: ~ j·I:ì:ca. Brasília: Edunl, 2000. 2 Vor lNGlEHART, Ronald. ·uIìu:~ :I:Jì. Princoton: Princoton Pross, 1990. 3 ADORNO, Thoodor ~ì aI. TI~ auìI·::ìa::au j~::·uaI:ì,. Nov \ork: Norton, 1993. 4 lAHlRE, Bornard. R~ì:aì·: :·c:·I·g:c·:. Porto Alogro: Artmod, 2004, lAHlRE, Bornard. · I·n~n jIu:aI: os dotorminantos da ação. Potrópolis: Vozos, 2002, lAHlRE, Bornard. · cuIìu:a u·: :uu:::uu·:. Porto Alogro: Artmod, 2006. 5 BOURDlEU, Piorro. · u~:~ucauìan~uì· u· nuuu·. São Paulo: Porspoctiva, 19¯9. 6 BOURDlEU, Piorro. · n::~::a u· nuuu·. Potrópolis: Vozos, 199¯. ¯ A maior parto das posguisas ompíricas guo so dizom gualitativas¨ tamlóm são choias do oguívocos como a acoitação ingônua do guo o intormanto roporta solro si mosmo como vordado imodiata. ⌦↵⌫↵⌦ÊM✏l⇧⇥ AlVElDA, Allorto. · caü~¸a u· ü:a::I~::·. 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DjamIIIa OIIvcrIo - Graduanda om Ciôncias Sociais pola Univorsidado lodoral do Juiz do lora tUlJl). Suas ároas do intorosso são Tooria Sociológica o Sociologia da lamília. Emcrson RocÞa - Vostro pola UlJl. Atuou como colalorador na olra · :aI~ ü:a::I~::a. gu~n ~ ~ c·n· :::~, do Jossó Souza. FabrIcIo MacIcI - Doutorando om Ciôncias Sociais na UlJl o na H. S. lroilurg, Alomanha. Ë posguisador do Contro do Posguisa solro Dosigualdado tCEPEDESUlJl) o autor do livro · 1:a::I- -Na¸a· c·n· :u~·I·g:a t200¯). FcIIpc CavaIcantc Barbosa - Graduando do curso do Admi- nistração do Contro Acadômico do Agrosto da Univorsidado lodoral do Pornamluco tCAAUlPE). Está vinculado ao Nucloo Sociodado, Cultura o Comunicação tSCC). MárcIo Sá - Vostro om Administração pola UlPE. Ë protossor do CAAUlPE o posguisador vinculado ao SCC. Ë autor dos livros S·ü:~ ·:gau:za¸·~: ~ :·c:~uau~ t2009), · I·n~n u~ u~g·c:·: c·uì~nj·:au~· o 1~::auì~: tostos ultimos no prolo). 404 MarIa dc Iourdcs McdcIros - Vostro pola Univorsidado lodoral do Rio Grando do Norto. Sua ároa do intorosso ó Socio- logia Política a partir da alordagom crítica do Piorro Bourdiou. Ë postulanto no Vostoiro Santa Cruz, Ordom do São Bonto, om Juiz do lora. RIcardo VIsscr - Vostro om Ciôncias Sociais pola UlJl o posguisador do CEPEDES. Tralalha no toma do tolomarkoting como procarização do tralalho tormal. Robcrto 1orrcs - Doutorando om Sociologia pola Humloldt Univorsität zu Borlin o posguisador do CEPEDES. Pullicou, dontro outros, o artigo O noopontocostalismo o o novo ospírito do capitalismo na modornidado poritórica¨ t200¯). 1ábata Bcrg - Graduanda om Ciôncias Sociais pola UlJl o posguisadora do CEPEDES. Dodica-so atualmonto a posguisar a Tooria Varxiana o Varxista Ocidontal. A ¡resenle edição foi com¡osla ¡eIa Idilora UIMG e im¡ressa ¡eIa Grafica e Idilora DeI Rey, em sislema offsel, ¡a¡eI off sel 90g (mioIo) e carlão su¡remo 300g (ca¡a), em maio de 2012.