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CAIO PRADO JUNIOR EVOLUCAO POLITICA DO BRASIL COLONIA E IMPERIO editora brasiliense Copyright © ty Caio Prado Jr enhuma pt de publica pode er gave, “mts om stoma cerancofocptad rea por tios menor ou oor uae Som auoraas prado doe Prien, 1088 reimpeso, 2000 evs los WS de Mopac Coa Bee a a brates sera editora braslionse ‘ua 22-Tomapd-CEP 3310010 So Pad. SP “Poet 218 1488 (e198 1488 livariabrasilense a Emi Maren 14 Top (CEP 03336000" So Palo SP” Fans 66712018 Indice Preficio da 1? Edigdo ... LLACOLONIA Carter ger dacolrizago basa ‘Acconomia colonial ‘Asociedade colonial (Oestatuto politice da coldnia M1. ACOLONIA Novas condigdes econémicas ....... [Novas formas sociais politcas IML, AREVOLUGAO D.Jote VI no Brasil... ee ‘Organizagto do Estado’ Nacional: A’ Assembidia CConstituinte de 1823 (OPrimeiro Reinado ‘AMenoridade A revolta dos eabanos no Pard e a regéncia de Fei Ese se 3 57 n ‘cato PRADO JONIOR [A revolta dos balaos e a agitagto praieira [A trajetéra reaciondvia de 1837 a 1849 IV, OIMPERIO 0 Segundo Reinado .. 0 fim do Império. * 86 Prefacio da 12 edicao Isto que o leitor vai ler no € uma Histéria do Brasil. Como. indica o proprio titulo, & um simples ensaio. Procurei ‘o-somente dara sintese da evelugao politica do Brasil e nto ‘raga a sua historia completa Dat os defeitos que serdo encontrados e que sou o pri imeiro a reconhecer. Como pensei apenas dar a resultante imédia dos inimeros fatos que comptem a nossa hist6ria, a linha mestra em torno de que se agrupam estes fatos, fui ‘brigado a uma selegdo rigorosa que exclulsse tudo quanto nao forse absolutamentenecessario para a compreensto geral do assunto, Isto me levaria por vezes, estou seguro, a des Drezar circunstancias cuj falta talvez se faga sentir para a perfeta clareza da exposigao. Mas, tratando-se de um método felativamente novo — refiro-me 2 interpretagao materalista de analisar a historia brasileira, nlo me era dado conhecer as exigéncias dos leitores. "Todos estes inconvenientes evidentemente nto existriam se se tratasse de uma histbria e nfo de uma sintese. Mas por ois motivos preferi esta uitima, Em primeiro lugar, para fazer a hstéria completa — o que pretendo algum dia tentar — seria necessirio material que esté em grande parte ainda por constituir-se. Os historiadores, preocupados vnicamente com a superficie dot acontecimentos — expedigtes serta- nista, entradas e bandeiras;substitugbes de governos e go- verantes;invasdes ou guerras — esqueceram quase que por completo 0 que se passa no intimo da nossa histia de que tes acontecimentos nlo s40 seno un reflexo exterion* TNestas condigOes, seria preciso um tempo considerivel para apresentar uma hstéria completa. Esto 0 momento no comporta, Repetindo um conceto do prefaciador da obra de Max Beer — Histéria Geral do Socalismo — a respeito da historia universal, podemos também afirmar, com relagdo & nossa, que "hi muito se far sentir a necessidade de uma historia que ndo seja a glorficacdo das classes dirgentes” E tragar uma tal historia é tudo quanto pense faze ‘Em segundo lugar, uma historia completa $6 teria proba- bilidades de interessar um reduzido nimero de litoes. Seria por sua natureea uma obra longa, e afugentaria qualquer um ‘que nfo tivesse pendores partculares pelos estudoshistrico. Foi minha intengdo evtar isto. Quis mostrar, aum lio a0 alcance de todo mundo, que também na nossa historia 05| herbie ¢ 08 grondes feito no sio heres e grandes sendo na medida em que acordam com 0s intereses das classes dir sentes, em cujobeneficio se faz a historia oficial ‘Apesar da premeditada intenclo de evitar mindcias, Jonguei-me um pouco mais sobre o histrico das revolugBes ‘da Menoridade (1831-40) ede principios do Segundo Reinado, Filo porque, de todos os fatos da nossa historia, nenhum hi {io pouco compreendide — 0 que natursimente nada tira & sua primordial importancia. A Cabanada do Paré (1833-36), 8 Balaiada do Maranho (1838-41) ¢ a Revolta Praieira de 1848 em Pernambuco — que sto as principais revolugtes populares da época — ndo passam, para a generalidade dos nossos historiadores, de fatos sem maior significaglo social, © {ue exprimem apenas a explosio de "bestais” sentimentos e paixdes das massas. Isto principalmente com relagdo is duas primeiras. & caracteristico notar que Rocha Pombo, escze- vendo uma alentada historia em dez grossos volumes, tenha Sedicado & primeira apenas uma simples nota, e & segunda, tumas poucas piginas em que s limita a discorrer sobre fatos (0) Exceo oven Olver Viana que fa prima 0 co sb agora tena oma ankle sutemsca «Sia da os cont ‘ondnica Soil bo pasado A su ot, contedo — ala inna tito qe nt se ebsera qu che por wees» grossa auleasbes EVOLUCKO POLITICA Do BRASIL . nilitares — ¢ isto ainda apenas para glorificar 0s feitos do herbi Caxias: 'A revolt praicira mereceu de Joaquim Nabuco uma and lise mais séria? Mas, ainda aqui, 0 que esté em foco € uma ‘Guestdo de ordem pessoal. O que Nabuco quer &justifcar ou, pelo menos, destacar a atuagao de seu pai, que foi juiz dos rebeldes e seu mais encarnigado adversério. A sua andlise se resvente por isso de falhas imperdosveis que olevam a lamen tivels conelusGes. Em todo cas, jf se trata de um estudo que se pode chamar de sro" “Mas o que Nabuco nto fez em relagio a Revolta Praiira — com maior razto ndo se fez com relagto as demas revol- tas que citamos, €situdlar na histéria brasileira, mostré-las ‘do como fatos ocasionais eiolados, mas como fruto que sto 4o desenvolvimento historico da revelugao da independéncia E por isso, dada importincia primordial destas agitagdes para a compreensio da historia politica da époea, julguei atl fnalisélas com mais detalhes. ‘Uma altima palavra sobre a divisto que adote, da his ‘ria brasileira. Dividi a histGria colonial em dois periodos: © primeira se estende da descoberta até o final das guerras hholandesas (meados do século XVII); © segundo, dal até a vinda de D. Joao VI em 1808. Nao inssto sobre esta divsto porque o eit encontrard no texto sua justifiagdo. ‘Quanto a revolugto da Independencia, dei-the uma am itude maior que a geralmente adotada. Assim procedi por- {Que quis abranger com ela todos os fatos que diretamente a cla se fiiam. O periodo que vai da chegada de D. Joio a {nstituigo do Império (1808-1822) € um periodo preparatério. Osseguinte, até a revolta de 7 de abril de 1831, de transigdo: into hd quem no reconhega no 7 de abril um complemento do 4 de stembro. A Menoridade éa fase de ebuligho, em que as diferentes classes e grupos sociais se disputam a diregdo do ‘nov estado nacional brasileiro, No primeiro dectnio do Se- ‘tundo Reinado declinam estas agitagBes ese define o carater politico oficial, a fegdo politica definitiva do Império. Como Se é, a nossa historia politica destes quarenta anos gira em terno da revolucdo da Independencia, e, assim, deve se estu- ‘dada sob esta mesma epigrafe ger (2) Joaquim Nebo, Um Etat do Impéri, . I A colénia Cariter geral da colonizagio brasileira ‘A colonizagto do Brasil constituiu para Portugal um problema de dificil solugdo. Com sua populagio pouco supe- Fior a um milhdo de habitantes e suas demais conquistas ultramarinas da Africa e Asia de que cuidar, pouco Ihe so- brava, em gente e cabedais, para dedicar ao ocasional achado de Cabral. Nao era nao podia o pequeno reino lusitano ser uma poténcia colonizadora a feicao da antiga Grévia. O surto maritimo que enche sua historia do século XV no resltara do extravasamento de nenhum excesso de populacto, mas fora apenas provoeado por uma burguesia comercial sedenta de luctos,€ que no encontrava no reduzido territério patrio tatinfagdo A sua desmedida ambiglo. A ascensto do fundador 4a Casa de Avis ao trono portugués trouxe esta burguesia para ‘um primero plano. Fora ela quem, para se liar da ameaca castelhana e do poder da nobreza, representado pela rainha, Leonor Teles, cingira o Mestre de Avis com a Coroa lusitana Ela era, portanto, quem devia merecer do novo rei o melhor das suas atengbes. Esgotadas as possbilidades do reino com as prodigas dadivas reais — sb 0 Condestivel Nuno Alvares, Fecebeu o que or contemporincos julgaram ser a mais rica doaedo jamais havida em toda a Espana,’ restou apenas 0 ph Lar rine, pA 186 de Ave. pa de Por recurso da expansto externa para conter os insaciveiscom- panheiros de D Jo4o I ‘Comegou-se pela Africa com a tomada de Ceuta em 1415, (© movimento, uma ver iniciado, nto estacou mais. Menos de meio séeulo depois, jé se cogitava da India, “vags expressio ‘eogritica aplicada a todos os paises distribuidos da saida do ‘Mar Vermelho ao eino de Cataie a ltha de Cipanga”* donde vinham as especiaria, as pérolas e pedras preciosa, os fines estos eas madeiras raras to procuradas na Europa, e cujo ‘comércio enriquecera venezianos e genoveses. Torna-se entdo © trifico das Indias a meta principal de todos os esforgos Iusitanos, e seus navegantes se sucedem na busea da rota que para li conduziia os mercadores de Portugal Subitamente, em meio caminho desta vasta empresa co- mercial, depara-se Portugal com um teritérioimenso, parca mente habitado por tribos ndmades ainda na idade da pedra, (Que fazer com ele? As noticias a respeito eram pouco ani- ‘Pode-se dizer que nela ndo encontramos nada de lum povo de comercianies, era naturaimente © abandono, E assim se procedeu, Afora as concessbes para exploracio do peu-brasi, nica riqueza aproveitivelencontrada, nada mais fez a Coroa portuguesa com relagio A nova coldnia nos pri ‘eitostrinta anos posteriores a descoberta, Mas, assim abendonada nto poderia a nova conguista, permanecer live das incursbes de aventureiros estranhos. A Ainsia por teras desconhecidas, que empolgara as nagies da Europa, provoeando uma corrida geral para o Novo Mundo, scabaria fatalmente por arrebatar & Coroa portuguesa a col6. nia sul-americana. Para amostra, af estavam os franceses, que desde os primeiros anos do descabrimento tinham estabele: ido um trifico intenso ao longo da costa brasileira, care teando para a Europa madeirase outros produtos. Isto nfo convinha a Portugal. Se a terra era pobre, di tava-the contudo a previdéacia uma alitude menos impr: dente. Alguma coisa indicava Aqueles comerciantes © perigo de se desprezar uma conquista de tamanho valto, fosse em: (4 Capistrano de Abre. Capi de Misra Colon. EVOLUCKO POLITICA DO BRASIL » ‘bora para guardi-la apenas com reserva para um futuro mais fou menos remoto, Nao estaria dentro das normas de prudén- ‘ia de um poro que hauria do exterior a maior parte dos seus ‘proventos o abandono sumrio de centenas de léguas de terras {ue the eabiam por direto de descobrimento CCogitou-se entdo da tnica forma de defesa: a coloniza- fo. If entao alguns projtos tinham sido apresentados. Par. tira um deles de Cristévio Jaques, comandante da. arma suarda-costas que em 1526 percorrera 0 litoral brasileiro, ‘expurgando-o de traficantesintrusos. Também se apresentara jum tal Joko Melo da Cimara. A nenhum deles atendev a ‘Coroa. Seus planos eram de maior envergadura, Urgia nfo apenas formar um outro nicleo, mas colonizar simultanea- mente todo o extensolitoral. Era esta a condigdo necesséria para uma eficiente defesa Resolveu-se © problema com a criagdo das capitanias Iereditérias, repetindo-se em larga escala 0 processo adoiado anos antes na colonizagio dos Agores e da Madeira, Entre- gando & inicativa privada a solucto do caso, forrava-se a Corea portuguesa do Onus, que difcilmente suportaria, da ccupagio efetiva da terra por conta prépria. Seria o mesmo processo adotado quase um século depois pela Inglaterra nas fuas coléaias da América do Norte. Masse © sucesso foi Id aprecavel, nada, ou quase nada, se obteve no Brasil. A dife- renga era notavel, Também nas idhas a enfeudacto do terri {ério dev magnificos resultados. Um fator concorreu, con tudo, decisivamente para determiner efeitos opostos no Brasil: avastidto do territéio. Nenhuma empresa particular poderia arcar com o nus de i2o vasto empreendimento como 0 de tomar efetiva a ccupaglo de dezenas de léguas de costa. O aque se dev em todas ou quase todas as capitanias fol a dissipagdo imediata da totalidade dos capita destinados & colonizacto e conseqiente impossibilidade do seu prossemui mento, Quando ¢ instituido © governo geral (1549) pode-se dizer que praticamente s6vingara a colonizagio em Permam> buco, a0 norte, e $40 Vicente, ao sul. Era tudo quanto produ: ira a inversdo de vultosassomas e quinze anos de esorgos dos ‘malogrados donatéros. ‘© regime das capitanias foi em principio caracteristica: mente feudal, Nio gozavam 0s donatarios de nenhum direito Gireto sobre a tera, vedando-Ihes mesmo expressamente os forais a posse de mais de der léguas (alguns dezesseis) de terra, E mesmo estas dez Iéguas deviam ser separadas em varias porgdes, Cabiaclhes contudo um direito eminente, “quase soberano, sobre todo o terrt6ro da capitania, e que se xpreseava por varios teibutos: a redizima dos frutos; a di ima do quinto, pago 4 Corea, do ouro e das pedras pre Gioses; passagem dos ris ele.; 0 monopélio das marinhas, moendas de dguas e quaiquer outros engenhos; finalmente 0 provimento dos oficiose cargos piblices da capitana. [Este ensaio de feudaismo no vingou. Decaiu com 0 sis: tema de coloizagdo que o engendrara, com ele desapareceu sem deixar trago algum de felevo na formacto hist6rica do Brasil. Em 1549, com a instituigho do governo geral, comesa 0 resgate pela Coroa das capitanias doadas. Neste mesmo ano é recuperada a Bahia, que seria a sede do novo governo. Depois Ga guerra dos holandeses, Pernambuco; em principios do sé culo XVIII, Espirito Santo, Sto Vicente e Santo Amaro (estas Suas Gtimas juntas formaram a capitania de Szo Paulo). No ‘decorrer deste mesmo século, Paraiba do Sul (1753), Porto Seguro (1759) e IIhéus (1761). Quanto as do extremo Norte, bandonadas e esquecidas pelos sucessores dos primitivos ‘onatérios, elas se agregam automaticamente aos dominios Giretos do rei. E esta a hist6ria da primitiva enfeudagdo do territ6ro brasileiro. ( cariter mais profundo da colonizagio reside na forma pela qual se distribui a terra. A superficie do solo e seus Fecursos naturaisconstituiam, naturalmente, a tniea riqueza, {a coldnia, Nio éramos como as Indias, um pals de civilizagio avancada, cujo aproveitamento pelos conquistadores se pu- ‘esse fazer pelo comércio ou pelo saque — que na época se ‘confundiam num se mesmo conceito. Aqui, uma sb riqueza: ‘os recursos naturas; dal uma s6 forma de explorac4o: a agri- ‘cultura ou a pecuéria, subordinadas ambas a posse fundiéia, ‘Assim um povo de comerciantes, que fazia um século se afastara do cultivo do solo para se dedicar de preferéncia & tespeculaglo mercantil, ra novamente arrastado para o amia- tho da terra, (Os forsis dos donatdrios determinavam que as terras fossem distibuidas em sesmarias aos moradores. Ficava por- tanto a apropriagdo da terra vazada em determinada forma juridica, pois a designaglo sesmarias ndo se referia generi> EVOLUGAO POLITICA DO BRASIL s ccamente a qualquer forma de doagto, mas, pelo contrrio, Subordinava-se expecificamente a certos caractres juridicos. {A propriedae do sesmeiro era alodial, isto €,plena, nko con- sagrando outros nus que no o pagamento da dizima da Ordem de Crist, que afinal nfo passa. de um simples im- posto, eoutra rstrigbes, como 0s monopilios reas, servidOes Diblicas de Sgua, caminos etc. Nao comporta, todavia, ne- nhuma relagio de cariter feudal, vassalagem ou outra. As terras eram aliendveis por live disposicto dos proprietérios e no eriavam lago algum de dependéncia pessoal. $6 muito mais tarde, de 1780 em diante, passam as cartas de dada de {erras a registrar aclausula de foro, E verdade que desde 1695 determinavam as leis que alo se concedessem terras sem tal cldusula; mas esta providéncia steve eumprimento quase um séeulo depos. ‘0 que caracteriza ainda as sesmarias€a obrigacio do seu aproveitamento por parte do beneficiério dentro de um certo prazo, Era disposiglo de lei (Ord. Man., liv. 1V, 67), repe- lida nos forais dos donatirios,¢ com freqUéncia confirmada nas cartas de dada de terras. O prazo variava, sendo em principio de cinco anos, excepcionalmente mais. Como san- ‘Ho, figurava a perda da terra e uma determinada malta pe- Cunldria. Tais disposigdesficaram freqientemente, éverdade, letra morta; mas ndo'sd0 raros na historia colonial os exem- plos da sua rigorosa aplicagto. Este foi o cardter da propriedade fundiéria da coldna, Mas como se dstribuiu ela, em outras palavras, qual a eat. fgoria dos colonos por ela contemplados? Naturalmente, os ‘que dispunham de recursos préprios eram os preferidos.Inte- ressava aos donatiros e& Coroa nto se fazerem de generosos, ‘mas sim a produtividade da coldnia, condigdo essencial para o aumento dos seus rendimentos;e isto naturalmente s6 alcan- ‘avam com a entrega da terra a quem por conta propria esti ‘esse em condigdes de aproveiti-la. Por isso prefeiam sempre fos mais abastados. "A mente de S. Majestade, diz um gover- znador, parece dar preferéncia entre todas as classes de pessoas ‘0s lavradores e estancieros, cabecas de casal que tiverem maior quantidade de escravos e gados para povcar os sobre- dit terrenos,"" Das cartas de dada de cho se depreende que (5) Gp. Olvera Vans, BS do Pore Bri. ® ‘cato PRADO OR fem geral os beneticiados possuiam escravos e outros bens: fente de recursos, portanto, Apressavam-se mesmo 0s reque- Fentes de sesmarias, que no ignoravam as preferéncias dos, {onatirios e da Coroa, em alegar que sio homens de posses ‘que podem fazer lavouras. “Alem deste fator pecuniério intervinham também, como cera natural, consideragdes de ordem pessoal. Um protegido do primero governador-gral, por exemplo, o fundador da. Casa da Torre, Garcia de Avila, aleangou na Bahia uma ver- dadeira provincia: centenas de léquas. A posigdo social dos colonos também exerce grande influéncia. Estabeleceu-se mesmo nesta base uma dstingdo entre o norte eo sul da col hia. Li, onde as possibilidades eram maiores,e por iso rece bia colonos mais graduados — alta nobreza, funcionérics régios de primeira categoria — Id slo concedidos tratos de terra imensos: dezenase até centenas de léguas. No Sul, pelo contrrio, salvo as vinteIéguas do Viseonde de Asseca, em ‘Campos (atual Estado do Rio), as doagBes nunca ultrapassam dduas ou trés Iéguas, menos em geral. E que o Sul, menos atraente,recebiacolonos mais modestos? “Todavia, este criterio de ordem pessoal da metropole dos donatarios na concessdo de sesmarias tee sus influénc Fedusida a um minimo, foi praicamente anulado pelas con- igdes gerais, especialmente fsicas, da colOnia. A imensidade 4o territrio deserto era mais forte que todas as preferéncias| {44 Coroa ou dos donatirios. Assim, a selegdo dos proprie- trios da coldnia subordinou-se afinal, unicamente &s possi- bilidades materiais e & habilidade prépria com que cads um contava para aproveitar a valorizar as terras que recebia ou ‘que simplesmente ocupava sem titulo legal algum. 36 um ‘dos mais antigos cronistas da coldnia observava com razio ‘que “no Brasil, onde a todos se dava de graca mais terra do ‘Que the era necessdria, ¢ quanta os moradores pediam, nin- ftuém teria necessidade de lavrar prédios alheos, obrigando- Se solugdo de foros anuais; por isso, ou nunea, ou s6 depois ‘de alguns séculos chegariam a ser permanentes as casas ricas... Neste Estado, continua, vive com suma indigéncia ‘quem no negocia ou carece de esos; eo mais € que pa (6 Felsbelo Freie, Hira Tetra. -EVOLUGAO POLITICA DO BRASIL ” alguém ser rico nto basta possuir esravatura, a qual ne- fnhuma convenignca faz a seus senhores se estes so pouco laboriosos, endo fetorizam pessoalmente acs ditos seus es- E de grande importincia esta constatagdo. Ela nos leva & conclusio de que no Brasi-Col0nia, a simples propriedade da terra, independente dos meios dea explorar, do capital que a fecunda, nada significa. Nisto se dstingue a nossa formacdo da Europa medieval saa da invasdo dos bérbaros. Li encon- traram os conquistadores descides do Norte uma populagto relativamente densa e estvel que jd se dedicava a agricultura como nico meio de subsisténcia. O predominio econdmico e politico dos senhores feudais resultou assim direta e unica ‘mente da apropriagio do solo, © que automaticamente gerava fem relaglo a eles 0s lagas de dependéncia dos primitives ocu- antes. Aqui, nio. A organizaedo poliico-econdmica brasi- leira ndo resutou da superposigao de uma classe sobre uma «strutura social jd constituida, superposigto esa resultante da tpropriagdo e monopolizagio do solo. Faltou-nos este carater| econbmico fundamental do Feudalismo europeu." ‘A economia colonial Muito se tem discutido sobre of latifindios brasileiros. ‘Com uma meticulsidade a toda prova, deram-se alguns his toriadores ao trabalho de culdadosamente catalogar a exten- sHodas propriedades territorisis de que se m noticias, a fim de chegarem a esta ou aquela conclusdo. Mas evidentemente 0 {qu interessa nao 60 nimero de léguas de cada propriedade, 0 ‘Que afinal ndo passa de uma simples expressio matemitica, ‘enada nos diz sobre o cardter da economia agriria colonial. O'importante € saber o que nela predomina, se a grande (2) ret Gaspar du Mad de Deus, Memériae para a Hite de Capitan de Sto Verte, ed pe I6T {Gy Eva obmmato derma pracipalmente as que, undado ee ‘eras anlogssupericas seepesam em aa falees quem ‘Sen de Poem dn se ISismo, que nfo cane, ente nena economia ed Europe mete * {cal FaADO JONIOR exploraglo agricola, isto é, que reine grande nimero de pessoas, trabalhando conjuntamente, ou se pelo contrrio se finda no trabalho individual de pequenos agricultores autd- homes, que lavram eles mestos terras prOprias ou arren- dadas. ‘A resposta nfo pode sofrer dividas. A economia agréria colonial sempre teve por tipo a grande exploragto rural. Estio ai as layouras de cana e os engenhos de apicar — nossa prineipalriqueza de entdo — os extensoslatifindios dedica- fos & pecudria; enfim, as demais indistrias agricolas que, tembora em menor escala, sempre se revestem do mesmo card ler de grandes exploragSes. Basta lembrar que nosso trabalho Agricola sempre se baseou no brago escravo, negro ou indio. “Mesmo.em Sto Vicente, onde encontramos as menores e mais ‘modestas propriedades, aregra éa mesma. “Afazendados em torno da vila, refere um historiader falando de Sto Paulo, ‘scupavam-se os homens bons e da governancs da terra em ‘brigar os seus indios a trabalbar nos trigais e miharas, nas plantagdes de feijaoe algodao, no fabric da farinha de man- ‘digea ¢ marmelada, de chapéus de feltro grosso e de baetas, ha criagto de grandes rebanhos.” Daf Ihes provinha, como diz fo ctoniste, “grande tratamento e opuléncia por dominar de- ‘baixo de sua administracto muitos centos de indios”? Nto taro deparamos com propritarios de mais de mil escravos. ‘Assim, mesmo em Sto Paulo, que € a zona mais pobre do Brasi.Coldnia, 0 tipo da exploragdo agricola foi sempre o da ‘srande propriedade rural 'A pequena propriedade nfo encontrou terreno favorivel para se desenvolver na economia da colbnia. O trabalho live {ge pequenos lavradores nlo podia concorrer na rude tarefa do Sesbravamento de uma terra ainda virgem e nas primitivas culturas e produgdes aqui adotadas com o grosseiro trabalho 0 escravo, Este satisfazia plenamente as exigencias desta (9 Tera, So Pon Skea XV. 212 Ui i gu forgot noumentte por apetentar Sip Paulo cea como ume crea tacko-demcttca em Qu presonineaspequen propidade, chu 8 ‘Sicha de que tos ngrenagem agile (dos propre aust) fe impolsinata por corn e501 10 inde foro oro ag ger der, ‘Slrro com stant semi) ente homens, ulerere nga, sm ‘S pougumime fdioe econ” (A Els Rape de Cigonter, p26). EVOLUGAO POLITICA Do BRASIL ® rudimentar agricutura por um custo inacessivel 30 trabalho livre. Além disto, & um fato de observagdo comum que as culturas tropicais resultam muito mais rendosas — mesmo ‘com a téenica primitiva daquela época — quando tratadas em larga escala. Dai a formaeto no Brasil das grandes explora 8es de preferéncia As pequenas. E 0 que analogamente cons fatamos nas colfniasinglesas da América do Norte, Enquanto nas setentrionais™ sempre predominou pequena proprie- dade, nas do Sul firmou-se, como entre nés, 0 tipo da cultura fa andeexcala, Atti mesmo na Carling «ma on firmacio patente deste fenmeno. Quando se iniciou o povoa- mento desta coldnia era intengio dos seus concessiondrios formar uma comunidade de pequenos proprietirios. Mas a influéncia das condigdesfsicas foi mais forte que seus planos ccuidadosamente assentados. O governo foi obrigado a adotar ‘ulros processos de distribuigdo da terra, e as grandes pro- priedades se tornaram aregra’" No BrasilColGnla,salta logo 408 olhos a impossbilidade de se adaptarem os nossos pro- utes a0 regime de-pequenos lavradores sem recursos de ‘monta. A instalagdo, por exemplo, de um engenho de agvcar = principal riqueza da coldnia — mesmo dos mais modes. tos, exigia mais de trezentos mil cruzeires em moeda atual Para o seu funcionamento requeriam-se ainda de cento ecin- ientaa duzentos trabalhadores, ‘Outro obsticulo a0 pequeno lavrador independente é a falta de mereados para o escoamento de seus produtes. O de ‘exportagto estava reservado quase exclusivamente a merce: dorias que nao podia produzir por falta de recursos, como 0 agar, enti praticamente a nice riqueza exportavel, Quan- (0 ao mercado interno, era ele limitadissimo, no x6 pelas condigBes da populagao colonial, consttuida quase toda de escravos e semi-eseravos negros,indios e mestigos, como tam- ‘bém pela dificuldade das comunicagdes, 0 que segregava as populates por completo umas das outras. Doutro lado, as _srandes propriedades rurais produziam mais ou menos todo 0 necessirio para o seu consumo interno, especialmente no que (40) Sto consderadas tensions ax cols, ae Estados, sit es aca da camade Manton Dt Line (9° 48 96.3" Lat. (GD) Conan nds History ofthe United Steve diz respeito os produtos agrcoas, ¢ dependiam muito pouco to exterior. Quanto aos cenlros urbanos, eram de reduzidis Sima importéncia, especialmente nos primeiros anos da colo Iizagdo de que nos ocupamos, e no podiam por isso cons- Uituir mereados de vutto, "A todas estas dificuldades que se antolham & pequena propriedade, havemos de acrescentar a agresividade da tri bos indigenas, que punbam os estabelecimentos colonizadores fem constants alarma, Era tio séro este problema das agres- ‘Stes do gentio, que as propria determinagtes régas exigiam 4os colonos tum preparo bélico permanente. O senhor de en- ‘genho ou fazenda era obrigado a sustentar quatro tergos de spingardas, vnte espadas, dez langas evint gibdes ou pelo- fes de armas, além de manter uma easa-forte;eada morador, por seu lado, devia possuir uma arma: langa, areabuz ou es pada.” Pode-se por estas determinacbes inferirorisco em que ‘iviam os colons, E enquanto a grande unidade agricola, 0 trande dominio rural conta com numeroso contingente de es- ravos eagreyados para se defender dos ataques, os pequenos lavradores sto presa ficil das incurstes dos birbaros. Com- preende'se que esta inseguranga perpétua, agravada pela tur- Duléneia dos proprios colonos, aventureiros sertanistas 2 frente de bandos armados, ndo fosse propicia a0 desenvolvi- mento da pequena propriedade, exposia mais que qualquer ‘utra a todos 0s contratempos dela oriundos “A precariedade das condigbes do pequene lavrador torna- se ainda maior pela vizinhanca dos grandes e poderosos lti- fondidrios, que lhes movem uma guerra sem tréguas. A Tuta estas classes, pequenos e grandes propretérios, enche a historia colonial, degenerando nao raro em violentos conflitos| 44 mio armada!) Estas lutas terminam quase sempre pela spoliagdo dos primeiros em beneffcio dos segundos. So co- Ihecider neste sentido os abus0s praticados pelos ctlebres Iatifundiérios da Bahia e Piaul: AntOnio Guedes de Brito, Bernardo Vieira Ravasco e Domingos Afonso Sertio. Quando 12) Hlth de ColnizardePortauera do Bra (ego comemo- rata do 1 Centeniio da Inependtocla do Bra Porto, MCMAXI) Tih itaduct "S) Argivo Pico do Par, IV itp. Rocha Pombo, Histria do Bra [EVOLUCKO POLITICA Do BRASIL ” to sucumbem pela forga, cedem os pequenos Giante de uma legislagto opressiva contra eles dirigida. Em tal capitulo constituem episédios dos mais iustratives da nossa historia os obstéculos legas opostos a culturas e produgées ‘mais ao alcance dos minguados recursos de modestos Iavra ‘dores.E asim com a aguardente que se fabricava em simples malinetes ou engenhocas de reduzido custo. Como tal pro- upto desfaleasse os engenhos da cana de que necesitavam, Sofreu o fabrico da aguardente sucessivos golpes das autor dades da metropole e da col6nia, até ser definitivamente proibido, sob penas severas, que iam até 0 confsco dos bens 4s transgressores. Caso anilogo di-se com 0 algodao. Como ‘seu cultivo desviass esforos do plantio da cana em prejuizo dos engenhos, foi igualmente proibido. Mais tarde, quando os cos proprietiios julgaram suficientemente remunerador, conseguem por todos os meios e modos agambarcar toda a produsto, obrigando 0s pequenos lavradores a Tes venderem seu produto ‘estas condigbes nto era possivel A pequena propriedade medrar no Brasil colonial. Impelidos pelas circunstancias se ‘vio of pequenos proprietérios aos poucos desfazendo de suas posses em beneficio dos grandes dominios. Depois de tal pro- e380 de eliminagio da pequena propriedade, vase afinal fundar toda a economia agréria da colénia unicamente no grande dominio rural ‘A diversidade das varias zonas econbmicas em que s¢ divide © pais nto altera sensivelmente este quadro funda: mental. Na extensa faixa costera, onde impera a lavoura ‘aqucarcira,o cariter da grande exploragio 6 incontestivel. Na ‘zona da pecuitia, localizada no sertdo nordestino © que se ‘stende do médio Sto Francisco ao Maranhio, o regime dos irandeslatifindis étipico. J4 um dos primeiroseronistas do Brasil nota que "'sendo o sertio da Bahia tio dilatado como temos referido, quase todo pertence a duas das principals familias da mesma cidade, que sto a da Tore e do defundo “Mestre-de-campo AntOnio Guedes de Brito. Porque @ Casa da Torre tem duzentas¢ sessenta lguas pelo Rio de Sio Fran- cisco acima, A mao dieita, indo para o Sul; © indo para 0 Norte, chega a oitenta éguas. E os herdeiros do Mesire-de- ‘campo Antbaio Guedes possuem desde o Morro dos Chapéus ‘ae as nascengas do Rio das Velhas, cento e sessenia Ie 2 ‘cato PRADO IOIOR 2 No Piaul, sto conhecidas as imensas propriedades, a fue nos referimos, dos afamados sertanistas Domingos Afonso Sertto, Bernardo Vieira Ravaseo, Domingos Jorge Velho e alguns outros, que senhoreavam por si sbs toda a imensa extensio dos sertbespiauienses. ‘Quanto ao planalto paulista jf tives ocasito de notar que, embora mais modesto, nBo perdiam contudo os dom ios rurais © cardter comum das demais exploragbes agrcolas brasileras, ‘Sto estes, em tragos gerals, os caracteres da economia agrira da colfnia. Quanto urbana, ela € no primeiro séeulo ‘emeio da colonizagto praticamente ineistente. Nem a indis- tria, nem o coméreio, estes elementos constitutivos da econo- mia urbana, tinham entdo importéneia sufciente para se ‘caracterizarem como categorias distintas da exploragao pri miria do solo, O comércio estava limitado aos pequenos mer ‘adores ambulantes que percorriam 0 interior & cata de fre- fuses, O seu desenvolvimento data realmente de meados do féculo XVII, Quanto & indistra, ela se concentra nos pré- prios dominios rurais. Estes no recebiam de fora sent o que Iimportavam da metropole e isto mesmo em reduzida escala. Deparamos nos dominios com olaras,ferarias,carpintaras, sapatarias, errarias! Nao & de se estranhar, portanto, que fem Sto Paulo vivam em 1622 apenas tree oficiais artifces: cinco alfaiates, tr sapateirs, ts ourives, um serralheiro e ‘um barbeiro:*’ Em toda a capitania do Rio Grande do Norte hhavia em principio do séeulo XVITT somente um ferreio, um carpinteiroe um pedreiro." Nao passavam por iss0 05 centros ‘urbanos de pequenos arraais, vilas quando muito, de caréter lipicemente rural. Consttuis-se mesmo sua popwlagto, no mais das vezes, da propria gente do campo que neles fixava residéncia, em geral temporiria® E, portanto, no campo que (4 Aston Cutura¢ Opin do Bras (15) Taunus Seuontta de Vile Se So Paulo, 1, pS. (18) Idem thider (00) Ret do Iti Hiri Braiir, LXUL, p7 GB) Av cdades breicirs, ina em fin do rege coos, eam insgntcants, Rio Janeiro, eada Jhcapial, no pusavn de 30 148 Enbtanter Wi, 45600; Rese, 3000, Sho Lui So Maren, 2200; ‘Sto Paulo 16000, Eta nce elas reunias (as demas nde asa EVOLUCKO POLITICA DO BRASIL » se concentra a vida da coldnia,e & a economia agricola a sua ‘base material ‘A soctedade colonial A sociedade colonial brasileira 60 reflexo fil de sua base material: aeconomia agra que descrevemos. Assim como a srande exploragao absorve a terra, 0 senhor rural monapoliza A riquera, e com ela seus airibuios naturals: 0 prestigio, 0 dominio. “O ser senhor de engenho, refere um eronista € ti tulo a que muitos aspiram porque traz consigo o ser servido, sobedecido erespeitada de muitos." Aleangavam por vezes 0s hhaveres destes grandes layradores somas consideraveis para a época. A posicto prvileiada do Brasil no primeiro século da colonizagio, como nico produtor do apicar, pose que s6 ‘omega a perder em meados do século seguinte,favorece uma ripida prosperidade que cedo se revela na constituigto de ‘grandes fortunas. Em fins dos S00 j& havia colonos de 40, 50€ {8 mil eruzados de sev. Mais de cem colonos possufam em 1584 de 1.000 a 5.000 eruzados de renda, e alguns de 8 10.000 Naturalmente, tal abastanca exiia oesforgo de de- zenas e centenss de trabalhadores; sua condigho necessria fra pois uma infima minoria de colones, formando grandes exploragtes. Compreende-se a importincia destes grandes agricul tores em meio de uma populagdo miserdvel de indios, mesigos| ‘enegrosescraves. E desde o inicio da colonizagao & destes que se constitui a massa popular. E de fato numa base essencial: inguém 0 ignora, que assenta a economia em escravos ndo era possivel aos colonos bastecerem-se da mao-de-obra de que necesitavam. A imi: tragto branca era escass, etornava-se assim indispensivel 0 ‘emprego do brago escravo de outras ragas. A par disto, tra: aca epreseata apenas 57% da populate ttl do pas. ous, (19) Anton op. it (20) Moti de Colnago Prague do Bra, Inrodsto, 0 suadovalera oto cre de 10800, ae Cr 000 x“ ‘ca1o PRADO ONION tava-se apenas de seguir o exemplo da metrépole, onde a instituigdo servi lrgamente se difundira desde as guerras da Conquista, Os mouros aprsionados eram em geral reduzidos ‘a eativeiro, Mais tarde, no séeulo XV, com a conquista da Arca ea conseqUente importagdo de negros eativos, toma a ‘eseravidao no Reino grandes proporgtes, Em meados do sé tulo XVI orgava a popula escrava de Lisboa por 9950 indi vidos, ov seja, cerca de 10% da populagdo total. Em Evora hhavia mais negros que brancos.” ‘Téenire as primeiras concessbes de D. Joto III aos dona- trios das capitanias brasileiras figura a de poderem “‘cativar o-gentio que quisessem para o seu servgo”, e mesmo a de levarem alguns para o Reino, “Reduit” o gentio tornou-se a palavra de ordem dos calonos. Logo ée inicio lograram atrair Algumas tribos menos hosts, que vieram quase espontanea- ‘mente colaborar com eles na obra da colonizacdo, engajando- se como trabalhadores nos engenbos e nas fazendas. Mas, hem sempre foi to faci a tarela, Os processos brutais empre- fados pelos portugueses para forgarem os indigenas 20 tra batho — processos de que em nosSos dias ainda temos exem- plo entre as populagdes nfo iniciadas na civilizagdo ocidental nao eram de molde @ despertar nos indios grande entu- sasmo pela colonizagio branca. Preferiam permanecer n0 re cesto das matas, longe da cultura curopéia de que 6 che- igevam a conbecer os horrores da mals atroz das opressbes Foi por iso preciso ir If buses. Tnica-se entao esta “eaga” do homem pelo homem, que pelas suas proporgdes tem poucos paralelos na historia, e que figura como apandgio de gloria das "epopéias” bandeiran- tes... Bscusado sera repetiro que foram estas expedicbes prea: doras do gentio, que percorreram o territrio brasileiro de norte a sule de leste a oeste, descendo do sertto milhares e inilhares de cativos a serem iniiados nas "belezas” da civi- Tizago. ‘Mas cedo comegou a leislagdo da metropole a por obs- ticulos a estas “eagadas”. Para infelcidade dos colonos, vem ccontrabalangat-Ihes o arbitrio sem limites a influéncia pode- rosa dos padres da Companhia de Jesus junto aos soberanos (21) His da ColoniasSoPonguer do Bra ide EVOLUGKO POLITICA DO BRASIL = portugueses. O papel dos jesuites na colonizagto do Brasil & ‘Sa América em geral ocupa um lugar de destaque e sem precedentes na historia das missdes erstis. Ninguém ignora ‘gual tenba sido a parte dos missiondrios na obra de penetra- ‘qo da civliaagdo ocidental entre os povos mais primitivos. Sto eles que formam na vanguarda, preparando o terreno ‘coma domesticagdo dos naturais. Assim foi na Europa oriental ‘com os frades dos séculos XV e XVI, e assim é hoje ainda entre as populagtes asiétcas e aficanas; antes dos capitais ceuropeus ou norte-americanos aparece o crcifixo dos missio. nérios ‘Desempenharam tal papel na colonizacio brasileira os capuchinhos, carmelitase religiosos de outras ordens. Os je- Sulla contudo se individualizam nesta obra missionéria. Sua tarefa consist em preparar o terreno, no para os outros, mas para eles proprios. Almejavam a consttuiglo na América de seu império temporal, e destes planos ficou-nos a amostra dds célebres missdesjsuitas do Pareguai ‘Tais projetos colidiam, como era natural, com 0s inte- esses dos colonos, pois fundavam-se no privilégio, que os Jesuitas reivindicavam, da conquista das almas, “eufemismo ‘asuisticodisfargando 0 monopélio do brago indigena”.* Dat as lutas incessantes de padres e colonos, prineipalmente na- ‘quelas zonas — Sdo Vicente, Maranhao e Para — onde os moradores, pobres demais para importarem eseravos africa nos, nao podiam dispensar o trabalho dos indios. Culmin ram estas Tutas com a expulsto dos padres — Sao Paulo em 1643 e Maranhto em 1661 De tais lutas, e da legisagdo repressiva da metropole, deriva para os nossos aborigenes uma situagdo juridica ori ginal e por vezes complexa. Era preciso contornar as disposi- ‘bes legals, embora mantendo a escravidao india, encobrila om mais ou menos disfarees. Para isto, classficam-se 05 {ndios em duas eategorias. Os cativos em guerra justa — eujo conceit foi 0 mais eléstico possivel, variando 20 sabor das, circunstincias do momento — e es prsioneiros de outras t= bos, resgatades pelos colonos, eram considerados escravos de pleno direto, Os demais eram tidos como livres, mas deviam (22) ase da Canna, Or Sere * ‘to PRADO JONIO® permanecer sob a administragdo e tutela dos colonos. S¥0 as Npegas forras”, os "servos de administragdo”, os “adminis: trados" dos documentos da época. Escusado seri dizer que este administrador empregava seus tuielados como escravos, {istribuindo-os por suas propriedades. Por isso era o cargo de ‘administrador to disputado. Nomeavam-se administradores ‘2 rodo, e em So Paulo, por exemplo, todo colono mais ou menos importante tinha esse titulo. Basta lembrar que s6 n0 termo da vila paulistana havia em fins do sSculo XVII mais de 400, enas capitanias anexas mais de 4000.” Quanto ao trata- mento dispensado aos aldeados, damos a palavra a um con- temporineo: "Serviamse dos indios pela madrugada até a noite, como fazem aos negros do Brasil. Nas céfilas de S40 Paulo a Santos, nlo 6 jam carregados como homens mas sobrecarregados como azémolas, quase todos nus ou cingidos 4e um trapo e com uma espign de milho pela ragdo de cada dia". A distineao, portanto, entre indios foros e eseravos, tina tao-somente o objetivo de burlar a Tei com designagdes sas, que na realidade exprimem & mesma coisa. Admi- tiu-se a prineipio a inalienabilidade dos foros, ao inverso dos cescravos: poibia-se também que fossem objeto de avaliagdo, ‘seqiestro, venda ou arrematagto em hasta publica." Mesmo tal distingao, contudo, logo desapareceu, sendo todos equipa- ado, bora emseasem a ants denominated ‘A servidio india, ob estas formas, se manteve até mea- os do século XVIT, quando foi totalmente abotida por Pom- bbal® Mas hé muito ja vinha em declinio, tendo mesmo desa- patecido por completo naquelas zonas onde condigbes favo "iveis de prosperidade comportayam o custo mais elevado dos cescravosafricanos. E que além da oposigao legal, havia contra laa inefiigncia do trabalho indigena. Avessos a vida seden téria da lavoura, que Ihes contrariava 0 natural nomadismo, (23) Taunay, Hira Geral ds Banderas Pouists, (4 Padre Anta Views, (G5) Aiimara Machado Vida ¢ Morte do Bandera, p- 171 (Go) No entant, vemos tinda em 1808 ae Cartas Repay 4613 de msi ede agar, Sd novembre? edesmr dsarre guts juts {tbo botocudb e permite cathe des plone. Eas ara ‘Gram revoguas pele de 7 Ge oto de 13 1. EvOLUGKO POLITICA Do BRASIL » trabathavam os indios mal, ¢ fugiam com faclidade, Além dos limites da colonizagdo branca encontravam seu habitat natural, as tribos a que pertenciam. Nao eram estranhos como (9s africanos, e por isso no temiam como cles a fuga. Ofe- feciam também, a0 contrdrio dos negros, pouca resisténcis fisica no eaiveiro. A sua dizimagao pela moléstia € maus tra tos foi espantosa, Refere um contempordneo que dos 40000 {indies aldeados que havia na Bahia em 1563, restavam vinte anos depois apenas 3000, apesar das levas continuas que vieram neste periodo reforear-thes o nimero.” Era porisso de riuito o preferido otrabalhador africano. [Ni se sabe ao certo quando chegaram cs primelros ne~ gros escravos, Vimos que desde o séeulo XV fazia-sedeles em Portugal um tific intenso, e @ conquista da Guiné em 1534 por André Gongalves,coincidindo com 0 inicio da colonizagio brasileira, dev-the um vigoroso impulso. E portanto provivel ‘que tivessem acompanhado os mais primitivs colonizadores. [AS primeiras referencias postivas datam contudo do pend- timo ano do governo de Tomé de Sousa (1552). certo € que seu niimero tomou rapidamente grande vulto. Em fins do primeiro século j& somavam cerca de 14000 individuos numa ‘Populagdo total — inclusive indios aldeados — que no che fava 2 60000 habitantes. Em fins da era colonial represen tavam $0% da populacdo. "A condigd0 dos escravos negros € mais simples que a dos {ndios. Ndo tiveram, como estes, “protelores” jesutas,e até 0 Tmpério continuaram simplesmente equiparados as “bests das Ordenagdes Manuelinas.” Esta massa de escravos indios ou negros consttuia a maior parte da populagdo de recursos suficientes para se clas- sificar entre os grandes senhores,e que dependia por isso para sua manutengto do trabalho proprio; tina ela forgosamente Ge softer a infludncia aviltante da massa eserava que a cir- funda, e que punha seu marco deprimente em todo o trabalho ppouco se diferencia do do escravo. Mesmo 0 pequeno propre: (2 Cit p. Tanna, Hire Ger dar Banderas, 1p. 3 (GB) Hank im sia dae Ordeagbes Mapucinas asin conebo: ‘De coma podem tntioreraosou bute or deems ou angus trio que laveaterras prOprias — alts raro, como vimos ~ E pouco mais que um servo. Sua gleba ¢ antes uma depen- ‘déncia do grande dominio com que confina que ovtra coisa qualquer. ‘Ro lado destes pequenos proprietérios encontramos 0 tipo mais comum dos agregados. S80 estes os individuos — ‘em geralescravoslibertos ou mestigos esparios — que vivem ‘nos grandes dominios prestando aos senhores toda sorte de servgos: guardas da propriedade, mensageiros ete. Ente eles figuram também os rendeitos, que pagam seus alugueres em dinheiro ou mais comumente em produtos naturais ou em setvigos. A situagdo destes rendeiros € a mais preciria poss vel. Raramente se faziam contratos escritos, © mesmo no havi autoridedes para os sancionar. Na propriedade quem dominava incontrastavelmente 6 0 senhor. Todos os que se fixam em suas terras cedem, em troca da gleba que cultivam para seu sustenio e da protegdo que Ihes outorga o senhor contra outros manddes do sertdo ou a propria Justia, prati- ‘camente, toda a liberdade. Ainda em pleno Império, discor- Fendo sobre os moradores dos engenhos pernambucanos, fun amentava Nabuco de Araijo 0s direitos dos senhores sobre cles.” ‘Tais stom linhas gerais a composicto eas condigdes das classes sociais da col6nia. Nao falamos nos assalariados por- {que seu contingente € minimo, Encontramo-los em algumas fungoes mais qualifcadas do engenho de agiear ~ feitores, imesires de agicar ele. — e em outras poucas ocupagtes. Mas slo casos excepcionais que no chegam a consttuir uma cate seria parte de alguma importancia socal 'E assim extremamente simples a estrutura socal da col6- nia no primeiro século e melo da colonizaeao. Reduz-se em uma a duas classes: de um lado os proprietirios rurais, a classe abastada dos senhores de engenho e fazenda; doutro a ‘massa da populaglo espéria dos trabalhadores do campo, (29) lege senators, it p-Joaguln Nabuco, Um Esai do Impéin Apesar to Quest dt sobre oy agegndos renders, ¢ ippordacs ibid ta categoria scl por gun istoradoes, es 1S ev sett Enoeame incomes Nara Se mente Sescombosdes De qulguer forma no coscoeren path = Bopsagh clon com um oningent specie EVOLUCAO POLITICA DO BRASIL » ‘escravos esemilvres. Da simplicidade da inra-estratura co- ‘bmica — a terra, Gniea forca produtiva, absorvida pela srande exploragio agricola — deriva a da estrutura social: 4 reduzida classe de proprietrios,e a grande massa que tra batha e produz, explorada e oprimida. HA naturalmente 20 seio desta massa gradagtes, que assinalamos. Mas, elas no so contudo bastante profundas para se caracerizarem em tuagtes radicalmente distintas, Trabalhadores eseravos, ou pseudolivres, proprietéios de pequenas glebas mais ou menos Sependentes, ou simples rendeires, todos em linhas gerais se equivalem. Vivem do seu salério, diretamente de suas pro- ddupbes ou do sustento que Ihes concede o senhor; suas condi es materiais de vida, sua classificacto social épratieamente estatuto politico da colénia ‘Toda esta populagto que se comprime nos grandes domi- nos vive, come notantos, na mais completa dependéncia dos Senhoresrurais. A grande exploracdo agricola ~ dnica que se Ode estabelecer — absorve toda a economia colo poliza por conseguinte os meios de subsisncia e subordina assim a massa da populaglo — jf sem contar a escrava, naturalmente ligada aos senhores por sua condigto servil — 80s grandes proprietirios ruras ‘Segue-se dai para estes, na ordem politica, um poder de fato que ofusca 4 pripria soberania tetrica da Coroa, Ate meados do século XVII pode-se alirmar que « autoridade desta somente se exerce efetivamente dentro dos esteitos limites da sede do governo geral. Mantinha ela na colénia apenas uma administragto rudimentar, oestritamente neces- ‘irio para ndo perder com ela todo contato,e atendia a seus ppedidos com a relutanciae morosidade de quem nose decide a fazer grandes gastos com 0 que ndo Ie pagava 0 custo. Via-se por isso a administracdo colonial desarmada, a bragos com a turbuléncia e arrogincia dos colones. Como alcanga? através de tio extenso tervtério ests vassalos desobedientes, ‘que, isolados nos seus dominios e cercados de sua gente, nAo \tepidavam em receber com a forea os funcionérios da Coroa caso mandados para relrear-Ihes os excessos © desmandos » ‘ca1o PRADO sOMIOR sem conta? Que maior autoridade podiam nestas condigBes fexercer governadores e capities-mores? N¥o raro, por isso, fechavam os olbos a toda sorte de abusos que nao tinham forgas para reprimir ov astiga. Intervinham junto aos colo: nos quando muito como seus aliados nas empresas contra o fgentio ou na sua opressio da populagto inferior. Deixavam- Thes no mais carta-branea para agirem da forma que melhor centendessem. ‘Compreende-sealiés tal atitude passiva da metr6pole CCoincigiam perfeitamente seus interesses estes primeiros anos da colonizagao com 0s das classes dominantes na cold hia, Eram elas que desbravavam o territério — ov faziam-n0 ‘desbravar — conquistando-o palmo a palmo aos indigenas e aventureiros de outras nagbes que aqui se instalavam; eram clas que 0 valorizavam ¢ exploravam em busea de pedras metais presioses, que tanto fascinavam a Coroa, E faziam {do isto por conta e isco propros, nlo concorrendo a metr6- pole send nos possiveis proventos, que sob a forma dos di ‘imos e dos quintos reais reservava paras. “Taiscircunstineias condicionam a estrutura politica da coldnia, $Ho elas que explicam a importincia das cdmaras ‘municipais, que constituem a verdadeira e quase Gnica adm nistragho da coldnia J4 nos referimos a nenhuma importancia das pequenas Vlas ecidades de entdo. A administragio muni cipal no se organiza, pois, numa base urbana, contrari. mente ao que se observa na Europa com as cidades libertas do {jug feudal. Como as vila, onde se constitu, nasce apenas do influxo rural. Dominam portanto nela 0s proprietérios ruras. Nas leigbes para os cargos da administragdo municipal votam apenas 0: homens Bons, a nobreza, como se chamavam os propretéros. Tal privilégio € por eles ciosamente defendido, com exclusto de toda a populacdo propriamente urbana: ‘mercadores, mecfnices, outros artfices, os industria de en to. O poder das cimaras é pois o dos propretéros. E seu rajo de agao€ grande, muito maior que oestabelecdo nas lis. Vermos as cimaras fixarem saldrios eo prego das mercadorias: regularem 0 curso e valor das moedas; proporem e recusater {tibutos reais, organizarem expedigBes contra o gentio, com ele eelebrarem pares; tatarem da ereqdo de arraiais € po- ‘voagdes; proverem sobre 0 coméreo, a indistria ea adminis- Iraglo pablica em geral; chegam a suspender governadores e EVOLUGAO POLITICA Do BRASIL ” ‘capities, nomeando-thes substitutes, e prender por a ferro funciongrios e delegados régios.” Algumas cAmaras manti inham até representantes eletvos em Lisboa, tratando assim diretamente com 0 governe metropolitan, por cima da auto ridade dos seus delegados no Brasil Porisso ndo admira que a cimara de Sao Luis do Maranhao, apenas instalada, se dina 40 rei pedindo altvamente que "os capities-mores, dali emt iante, nko dessem mais terras, endo se metestem em coisa alguma da competncia exclusiva da autoridade munici: pal". Dentro das normas da administragdo colonial neste primeiroséculo e meio do descobrimento, nada devera sobre- por-se a0 poder incontrastivel das clmaras, Diante disto, como haveremos de encarar 0 poder politico na colGnia? Nouttas palavras, em que consiste 0 estado colo- nial neste periodo que analisamos? Na observagto de um fato social no nos podemios imitar ao sistema juridico que teri ‘camente o rege. A realidade abjetva ¢ por vezes mito mais ampla, quando nto contra a ele, E este 0 caso que anali- samos. Se dentro do sistema politico vigente na coldnia s6 escobrimos a soberania, © poder politico da Corea, vamos encontri-o, de fato, investide nos proprietirios rurais, que © cexercem através das administragbes municipais. “Apresenta-se assim 0 estado colonial, at€ meados do sf culo XVIL como instrumento de classe desses proprietiios, F or intermédio deles, contrariando as prOprias les da metr6 pole, que se suprem dos indios de que carecem para suas lavouras, intervindo nas aldeias, insitugdes piblicas que 2 {ca1o PRADO JONIOR estado das forgs prodtivas e nfaestruturaecontmice do fis be rope. para dat lugar outras formas mais ade- Tundan,is novas conaiges economia capaes de onter« ia evelugno A reperessto dete fto no tereno peltico— ‘Tevoluco da Independencia ~ nto € mai que termo final do proceso de dferenciagao de interesses nacional, lgados fo desenvolvimento esondmico do pas, e por sso mesmo di {inion dos da metrOple econtrrios a es. “\interveneto de fatores por assim dizer esranhos 20 Brailes le omtaenente oe doar iia poruguesa,emprestam # Independencia brasileira om Strterem ave fatam a vlénia eos confitos amados que Ghoeromos nas demas colinias americanas, Tiemos um period de ransico em ae, sem sermos enda uma nagto de {i autGnoma, nde ramos propiamente uma colina, Mas, no fundor 0 fendmeno é omeamo. Realzada por eta ov {evel forma, eemancipasto de uma cola resulta sempre desu eyugh economics incompativel como etatutocao- fla Ese nos foi poupada uma lute de proporgtes tater Considerves, a exempo da América espanhola ov inglesa, {remos doutro lado, para 0 exabelecimento defintvo noun sulonomia, de rear com diioléades no menos eis, wn que de outa naureca, 0 que mais adiante Yremos Socio da form pea ual = operou a emencipacto do Brasil € ¢ carter Je arranj polio", se asim nos fodemos expr de que se revestiy. Os meses que median Raiparade de D, foto. procamardo da Independéncia, e- fio inal em que os acnteimentos se preiitam, result tum ambiente de manobras de bstdores, em qUe a Tula se Azsenrulaeacosivamente em trno do principe regen, mut {Taba intenso deo afaiar da inflagnca das corte pots css tela pareo sn dos sutonomists. Resta dai {uve Independénsia se fer por Uma simples transferéocia poitca de poderes da metépoe para o novo govero brs Kio. E na falta se movimentos populares, na falta de pat- Cipucto sivta das mses neste proceso, 0 poder @ to Stoido pels clases superores da excl, naturalmente SS inca: em Contato dteto com o rerente sua poli Freese a Independencia praticumente&revelia do pot; es isto he pop serfs, também aastou por completo st pardsipgio na nova crdem pola, AIndependéncia Bast EVOLUCKO POLITICA DO BRASIL 8 a 6 fruto mais de wma clase que de nasto toma ex ‘Quanto ao papel representado por D. Pedro ele € todo scasional, como se depreende do que acima fiegu dito. Re- gente do Brasil com a partida de D. Jo20, pde'ele com toda facilidade levar adiante 0s planos do “partido brasileiro”, & realizar a separacio do pats. Consttuiu-se assim num mero instrument das revindicagSes nacionalistas, ea taiscicuns tincias fortuitas deveu o trono do novel império. A monarquia, € por isso mesmo preciria, Nao € nela que assenta, a0 con trario do quese passou nos modernos estados europeus saldos do feudalismo, nio € nela que assenta o estado nacional bra sileiro. Por isso, no tivemos, e alo poderiamos ter tido um poder autocritico, que nto caberia no quadro da nossa evo. Igo politica. * ‘Vames encontrar todos estes caracteres do estado brasi leiro, logo que depois da Independéncia ele se organiza. no projeto constitucional elaborado. pela Assembla, de. 1823, Uma constituigdo € sempre a tradugao do equlibrio politico de uma sociedade em normas jurdicas fundamentals. Ela re flete as condigSes politias reinantes, isto é, os interesses da tuigbes primitivas como a escravidao, herdadas da antiga co- Wenia, sto varsidas pelas novas foreas produtivas que se v0 formandoe desenvolvendo no correr do século passado. Nao & somente com 0 trabalho seril que isto se dé. O espirito conservador-retrogrado, que representava os interesses liga: os i reapdo antiprogresssta,tinka-se encastelado numa série de insttuigdes politics, como o Senado vitalcioe 0 Conselho 4 Estado, onde, pela natural imobilidade delas, freava a cada passo a marcha do pais. A luta contra estas insttuigbes| constitu a evolueao democratico-tiberal do Tmpério que to intensa se torna depois de 1868. A reagio que se esbora neste 1ano com a formarao do gabinete de 16 de julho encontra pela frente 0 partido lberal-radical, formado logo em seguida, © que faz no seu programa tébua rasa de todas essas institu (3) Prelicia ire de stro Duque Eade Aba. 1 {cao PRADO JUNIOR bes! Na ala esquerda desta burguesia democrético-tiberal ‘amos encontrar 0s republicanos que em 1870 se agrupam ‘em partido politico, A Monarguia, entrevada pelos escombros 4 passado, agonizava 0 fim do Império A historia do segundo reinado nos fornece em toda sua ‘evolugdo as mais evidentes provas de que as institugbes ime Finis representavam um passado incompaivel com © prowresso do pals, e que, por isso, tinham de ser, mais dia, menos dia, por ele varridas, A questdo servil € disto o mais fisante txemplo, Na sua solugto ndo fez 0 Império outra coisa que protela, limitando-se a pequenas concessbes (mas nto fol a liberdade dos naseitures), numa palavra, marcat passo, en quanto a nagto avangavavertiginosamente. SO resoveu 0 go- verno imperial alistar-se na corrente quando 0 problema ji tstava a sua revelia praticamente solucionedo pela alforria particular e pela impossibilidade de reter os escravos que vandonavam em massa as fazendas, o que nfo sb desorga- nizava por completo a vida econémica do pais, como ainda tormava de todo precéria a ordem pablica que Ihe cabia man- ter. Nao queremos discutir a pessoa do imperador e sua ati- tude individual nesta e noutras oportunidades porque, apesar de todo seu tho decantado poder pessoa, seria naturalmente ‘pueril pretender explcar a evolugdo politica de um povo pelo cardter, pelas tendéncias ou predilegdes de uma 6 pessoa, fosse ela embora o supremo dirigente do pas. A politica de D. Peairo nto foi, ndo poderia ter sido outra coisa que o reflexo de forgas que atuavam no seo da sociedade; e podemos até dizer, se tivéssemos de determinar 0 grau de contribuigao individual do imperador para a evolucto do pais ela interveio em pro- pporgbesinsignificantes, praticamente nulas. D. Pedro foi sem- pre, e, na sua preocupagdo constante de consultar 0 que jJulgava a opinito dominante no pais — e que nlo passava da (64) On ness radicals, deste 186, vine destncando doe pro suis, Som Ib conto, sitemataram soa iar © opeszaa ‘Bratiens, Os Progamat dor Pardon. p29) EVOLUGAD POLITICA DO BRASIL Pa «os rangosos conselheiros que mais de perto 0 cercavam —, parece que até favia questto de ser um simples instrumento ppassvo da politica que sempre dominou em todo seu longo Feinado: politica conservadora; mais que isto, retrégrada e rotineira. O imperador € por iso mesmo uma figura de se- szundo plano, que aliés sempre se mostrou incapaz de com- preender o processo social que se desenrola sob suas vistas. SeD. Pedro nao desconhecia os menores detalhes da adminis: ttagdo pblica, a ponto de estar a par, como alegam seus panegiristas, mesmo da vida privada de qualquer continuo de Secretaria, nunca foi no entanto eapaz de uma visto de con- junto, ¢ para ele politica e administracto se confundiam com ‘corriquero expediente didrio de despachar paptis ou fsca- lizaraconduta de subordinados. Numa palavra, nunca passou de um bom, ¢ mesmo se quiserem, de um 6timo buroerata E no sexto decénio do século passado que se situa 0 ponto critico da histéria imperial. Nele comeca a se desenhar com nitides o entrechoque das forgas que asvinalamos no capitulo anterior. A Liga Progressista, que & 2 primeira formasto politica que surge por efeito desta luta, consttuise neste Periodo. Mas a Liga, hibrida composigdo de forcas adversas, ro € ainda senBo um compromisso com o esptito conser: vador, que nela domina. Por isso entra logo em crise. Sus figuras verdadeiramente “progrssistas”, como os José Boni ficioe Ottoni, dela se apartam. Nos ditimos anos do decfnio, © compromisso retrégrado-progressista, representado pela Liga, nto se pBde mais manter. A politica dominante tinha e's inclinar ou para a bandeira desfraldada desde 1866 pela Opinizo Liberal® em que se inscreviam medidas radicals, como 0 Senado temporari eeletivo,o sufrigio dreto gene: ralizado, a extingto do poder moderador, a substituigao do trabalho seril pelo trabalho livre: ou eni2o voltar a0 ponto (8) Jrnal eral funéado em 1846 por F. Range! Pestana, Jost Monte de Sos e Henrique Lisp de Abe "65).0 programa complet Ja Opinio Liber, sseratzado em 1868, inl Seats pots. esentralacty esi le pala Gena! slp da Gonna Naina Senado tempers cleo: ern 5 poder mederado: subst do tabaho enero el abba Bre, Separagio da jeatarn da pla; eulrgi sto © geerladoy pros Gentes de provincia els pen sesma: suspen ¢responsabiade Ss ‘mapstrador pels banal Soperoes © poer lpn; mapSoatra a ‘cao FRADO JONIOR de partida — ostarus quo. E esta a alternativa adotada com a formaglo do gabinete de 16 de julho de 1868. O Império se defini francamente pelo passado, Dai por diante € a degringolada. Forgas surdas comegam ‘a minar as bases do trono e, embora a opinito republicana se alastasse lentamente, 6 sensivel 0 desprestigio em que vio ceaindo as instituigtes monérquicas. O Império se mostrava incapaz de resolver os problemas nacionais, a comecar pela femancipagto dos eseravos, de cuja solugao dependia 0 pro: tresso do’ pais. E por isso sua estabilidade estava definit- vamente comprometid ‘Por que esta imobilidade do Império? Por que esta is pacidade de se adaptar ao processo evolutivo do pals? I amos nas instituigdes em que se fundava e que Ihe emper- ram a marcha. Mas, ao lado delas estava o proprio impe- rador,escorando-as eescorando também todo 0 vetustoarea- Douge da politica retrgrada dos Cotegipese Itaborais. Absor- vido por minicias administrativas e manissliterdras que em 420 mediocre espirito degeneraram num diletantismo vazio, ‘era D. Pedro oinstrumento talhado para realizar esta politica: apavorava-o tudo quanto fosse mudanga, temia tudo quanto ‘gnificasse marcha para frente. ‘0 altimo deen. do Império & de completa decompo- sigho, Arrastado maigré soi, ia cedendo em doses homeopé- ticas; mas com isto desgostava gregosetroianos: uns, porque fazia de menos; outros, porque fazia demas. A Aboliglo, final decretada em 1888, em nada contribuiu para reforcar 4s instituigbes vacilantes: confianga perdida difiilmente se recupera,¢ por iso serviu a Aboligao apenas para alienar do {ono as iltimas simpatias com que ainda contava. Quando Ouro Preto pensou galvanizar o Império moribundo com seu imenso programa de reformas, era tarde: ele ja agonizava. ‘Uma simples passeata militar foi suficiente para Ihe arrancar lime suspiro. independeie compate ¢excahe de sus membre ford ato do tern. pratcte dor epevntanis saga de teiarem neato br empress pb eguamente Ws ¢cendecorstes: opto els ‘eclontis pious ver lets, peo empregn ou ergo de represen {upto mins (Amiieo Brent, Popramar dy Potgoe) ‘Opnn Liberal fo nice docked par ier, ‘ue em TB7D se bandeou em grande parte para © partido republican, Sobre ator Naso So Palo, Calo Pad ni fe aed stun Ge nLuscen Eston oper Ea ob panna a Fclone be Dito ds Lrg a Panic, one ee vee [atime treo oO Ene Dente Bt feat ead) fobs Pride Comat Bet er 10 ey tana un pure pt ug, resect ge ‘Seta donne senegal como roca ats Hoar Nord, anor des maeaeen denis nina Or {ital rao uno lsc aero 6 5

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