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Ficha catalogréfica elaborada pelo Servigo de Biblioteca e Documentagéo da Faculdade de Filosofia, Letras eCiéncias Humanas da Universidade de Sao Paulo Teresa revista de Literature Brasileira / érea de Literatura Brasileira, Departamento de Letras Clissicas e Verniculas. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciéncias Humanas. Universidade de Sio Paulo ~ n°2 (2001) Sio Paulo: Ed, 34, 2001. 1894 1517-9737-02, 1-Literatura Brasileira. Universidade de Séo Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciéncias Humanas, Departamento de Letras Clissicas e Verndculas. Area de Literatura Brasileira, cpp 869.9 Comissio Editorial ¢ Executiva Aleixo da Silva Guedes, Augusto Massi, David Oscar Vaz, Bliane Jacqueline Mattalia, Fernando Mesquita, Francisco Mariutti, Giselle Larizzatti Agazai, Isabella Marcatti, José Miguel Wisnik, José Mucinho, Leila V. B. Gouvéa, Luiz Roncari, Maria Claudete de S. Oliveira, Maria Salete Magnoni, Ovidio Poli Jr, Ricardo S, Carvalho, Salete Therezinha de A. Silva Consetho Editorial Alcids Villaga, Alftedo Bosi, Antonio Arnoni Prado [untcame], Antonio Dimas, Augusto Mass, Benedito Nunes (urPa], Davi Artigucci Ettore Finazzi Agré (La Sapienza, Roma), Flévio Wolf Aguian, Flora Sussekind (Fund, Casa de Rui Barbosa), odo Adolfo Hansen, Joao Roberto Faria, José Alcdes Ribeiro, José Antonio Pasta, José Miguel Wisnik, Luiz, Roncar, Modesto Carone, Nédia Battella Gotlib, Roberto de Oliveira Brando, Roberto Schwarz, Tet Ancona Porto Lopea, Vagner Camilo, Valentim Faciok, Yudith Rosenbaum, Zenir Campos Reis ‘Agradecimentos caves (Coordenagio de Aperfeicoamento de Pessoal de Nivel Superior), 1e8 (Instituto de Estudos Brasileiros da use), Secretaria do Depto.de Letras Clisscas e Vernéculas da rs1.cH-Use arquivo do jornal O Estado de So Paulo, Editora Record, Fabio Miguez, Gerardo Mello Mourzo, Gléria Carneiro do Amaral, herdeiros de Graciliano Ramos, Jair Marcatti, Nadia Regina Marques: Coelho Bumirgh, Renata Cismponi Mancini, Tunge, Zenit Campos Reis Teresa é uma publicagdo do programa de pés-graduacao da area de Literatura Brasileira do Departamento de Letras Clssicase Vernéculas, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciéncias Humanas da Universidade de Sao Paulo, Barroco, neobarroco e outras ruinas Joo Adolfo Hansen Resumo O texto prope que a reconstituigéo dos cédi- 0s bibliogrdfcos, dos cédigos retérico-posticos edos condicionamentos materiais e institucionais das repre- sentagdes luso-brasileiras do século xvu nao necessita dannosio dedutiva debarroco” que as classifica uni- versalizando categorias criticas préprias do continuo ¢ da psicologia idealistas. alavas-chave Barroco » Gregério de Matos » retérica postca Abstract This paper argues that the reconstitution of bibliographical codes, rhetorcal-poetcal codes and material and institutional conditions of xvi century Luso-Brazilian representations doesnot need the deduc- tive notion of “baroque” applied to their classification, for the notion universlizes critical categories tha are specific of idealistic continuum and psychology. Key words Baroque » Gregbrio de Matos» poetical rhetoric. —Esse€o professor que trabalha com o basroc, —Prazer Muito prazer Mas... barrocohistrico. Ah. (Num corredor] “Qui ta faite pensai-je, Tu ne ressembles rien, et pourtant tw n’es pas informe” (Paul Valéry.Eupatinos ou ‘Architect Oeuvres] Estado da questdo Acredito, como Alan Boaset, que ¢ intl fazer mais uma vez a timologia do termo “barroco” para buscer definigBes mais precisas dele na uerruca da Histria Natural de Plinio, no silogismo escoléstico na pérola irregular, Fazé-lo lembra o trabalho de colecionar borboletas em gavetas previamente classiicadas, como ocorze ‘nos usos dedutivos ea-criticos da nogao estlistca de barroco” para clasifcare unificar as representagbes*luso-brasleiras do século xv1t com categorias estético-polticas exte- | Boss, Alan ‘Réfleionssurlaproblémapque spéctique du Baroque In: Renalsance anise Baroque Pais: Vi, 1972, 9.39 2 Nasociedade lusobrasita do séclo ma identidade & defnida como representagao — ums forma expect: fica da poscao — e pela representagdo — uma ocaséo de sua aplicagéo como aparéncia decorosa subor- dinada no corpo mistico do tmprio Portugués Por"Yepresentagono caso, entendo quatro cosas 1.0 uso Particular em stuardo, de signos no ugar de uta coisa. Na representagdesuso-baslelras do século 05 signos do reortads em uma mara qualquer como imagens de concets produidos na substinca esp “tual da alma patcipada pea substncia metatisica de Devs. 2.Aaparénda oua presenca da coisa ausente u riores a elas3. O “barroco” nunca existiu historicamente no tempo classificado pelo term, pois“bartoco” é Heinrich Welflin eos usos de Wilf. Melhor dizendo,a nado 56 passou a existir formulada positivamtente, em 1888, na obra admirével de Wolfin, Renascimento e Barroco, como categoria neokantiana aprioristica em um esquema ou morfologia de cinco pares de oposigdes de “clissico” e “barroco” aplicados dedutiva- mente para apresentar alguns estilos de algumas artes plisticas dos séculos xvi e xvi, Antes de Wallin, em 1855, indiciando o crescente interesse pela nosio, jacob Burckhardt havia proposto que o Barockstyl era um “daleto selvagem” da linguagem renascentista, Rieglfalou de “tatil”e “visual”. E,na critica ao filistefsmo alemo, Nietasche afirmava que falar mal do" barroco” era uma atitude de pedantes. WélEflin retomou a nogéo, nos Prin- cipios fundamentais da histéria da arte, de 1915, como categoria de uma Kunstwissens- chaft, uma ciéncia da arte. No esquema, barroco”aplica-se dedutivamente a alguns est los em que predomina o pictérico ou a massa acumulada da cor confundida, como acontece na pintura de Rubens, que e ia observagio dinamicamente minuciosa de formas misturades que se subordinam a um tinico ponto de vista. Por oposicao, “léssico” compée, também dedutivamente, artes em que predomina linha do desenho nitido que prescreve @ observacio quase estética de superficies coordenadas de formas clarase dis- tintas, como na pintura ndo-penumbrista de Rafael. A morfologia lineariza os estilos antistcos como unidades consecutivas sobre o eixo de um continuo temporal, “éssico” antes, “barroco” depoiss, néo admitindo a coexisténcia historicamente observvel de niitiplos estilo, como ocorre nas casos de Michelangelo, Caravaggio, Poussin, Bernini, > produnda na substitigdo. 3A forma retorico-poética da presenca da ausénca. 4. AposigSohierérquica ence: ‘ado na forma como tens8oe confto de representacoes 3 Usoaexpressdo"xéculo nu para classficar desrtivamente@ duragdo de "politica cata" da colorizacaoibé rica antimaquiavica & ant-uteran, cujos limites podem ser 1580, inicio da Unido tbética, e 1750, ano da morte de 0 Jo8o Ve inicio das ransfoxmagées poltcase cuturas do despotism ilustrado do Marquas de Pombal As datas si indicatvas, podendo-se recusas cu avangi-as segundo as varias estutuas de dura- bas e exenstes civersas e diferentes que coexistem no recorte, Se algumas aparece come longuisimas duragdes de referencias e modelos gregos latinos, patristicos, scolsticose neo-escolistcospnciplmente, ‘gue desaparecem por volta do fnal do sécula xv, outas continuam sendo tansformadas fore do fmite cronolégico desse recone. 0 caso de modes atticos italanose ibéricos quinhentsase seiscentstas apl- carlos na arquitetur, na esculura ena pintura do final do século nme inicio do wn 4A pat de 120, ease de*Maneicsmo" unidade estlstice posta ene 0 Renascimento 0 Batoco, como clas- Siica¢o, por exemplo, de emuladores da maniea de Michelangelo Buonarott Curtus propée "mania! como invaiantetransstrica, entendendo“barroco"como uma de suas especies. 12 Joo Adollo Hansen nos recortes cronolégicos unificados pelas oposicbes, como formas produzidas por uma emulacao que transforma t6picas ret6ricas e procedimentos técnicos de sedimentos ¢ modelos egipcios, gregos, lexandrinos, latinos, bizantinos, patristicos, escoldsticos, neo- escoldsticos e um enorme etc. simultaneos ¢ de duragio diversa ¢ diferente; também ndo admite a existéncia de composig6es em que os procedimentos técnicos ¢ os efeitos de sig- nificago das artes classificadas pelas oposig&es aparecem mesclados ou combinados. Desde que Wallin usou o termo como categoria estética positiva, a extensiio dos cinco esquemas constitutivos de “barroco” — pictérco, visto em profundidade, forma aberta, unificagdo das partes a um todo, clarezarelativa — passou a set ampliada, aplicando-se analogicamente a outras artes do século xvtt, como as belas letras, apropriadas como “Titeratura batroca’ em programas modernistas e estudos de tropos e figuras feitos segundo a conceituacéo romantica de retdrica como estilistica restrita & elocugao. psico- logicamente subjetivada, para em seguida classificar e unificar as politicas, as economias, as populacées, as cultura, as “mentalidades” e,finalmente, sociedades européias do século xvtt,principalmente as ibéricas contra-reformistas, com suas coldnias america- nas, na forma de esséncias:“o homem barroco”,“a cultura barroca”,“a sociedade barroca” etc, Dedutivase exteriores, as apropriagdes a-criticas de Wéliflin substancializam a cate- goria, constituindo “barroco” como fato ¢ esséncia que existem em si, ante rem, levando aque rotineiramente se pergunte se tal antor, monumento, quadro, livro ow poema sio “bartocos”. Feitos sem critica documental sobre a produgdo das letras e artes no século XViL, sem critica documenta! dos modos como 0§ residuos-delas foram selecionados, consetvalos e transmitidos desde o século xvii e, ainda, sem critice genealégica da invengio da categoria no final do século x1x e das suas apropriagdes posteriores,os usos de“barzoco” na ertica ena historia literria nao consideram, geralmente, que a nogio ‘io tem existncia independente do corpus neokantiano aplicado pare defini-la® no final do século x1x, nem dos lugares institucionais quea aplicam, nem, ainda, dos condiciona- ‘mentos histéricos dos objetos particulares do século xvit aque se aplica, Para que a defi- nigdo e 0 uso do termo fossem pelo menos aceitéveis, seria necessdtio que caracteristicas ditas"barroces” especificassem todas as obras de uma série determinada e apenes a elas; no entanto, as séries classificadas como “barrocas” sao bastante diversas e diferentes de lugar para lugar, de autor para autor ¢,principalmente, de uma arte para outra e mesmo de obras para obras de um mesmo autor, de modo que caracteristcas formais propostas '5CE Kossomicr, Léon. O baroco inexistente Entrevista com Joac Pereira Furtado. CU Revista Brasil de Lite ratura (S50 Paulo}, Lemos Editorial p 6-1, mao 298, ‘6acwor, Claude. Un monstre tincuistique. Lge du Barcque. Magazine tttéaien. 30 (Pats). 2, jun 1992 Barroco, neobarrocoe outras ruinas 13 como espectficas de “barroco", quando a nogio se aplica as representagbes do século xv11,ndo passam de generalidades formuladas como dedugbes e analogias — informali- dade, iracionalismo,pictbrico, fusionismo, contrast, desproporgao, deformagio, acim, excess, exuberincia, dinamismo, incongruéncia, dualidade, sentido dilemético, goto pelas oposicdes, angsta, jogo de palavras,nilsmo tematico, horror do vacuo — que explictam mais 2s disposigdes tedrico-ideol6gicas dos lugares insttucionais que as aplicam que propriamente a estrutura, a funcio e o valor ist6ricos dos objetos a que so aplicadas, za medida mesma em que, sendo genéricas, como resultados de esquemas universaliza- dos a-crticamente sem fundamentagao empitica, também poderiam ser aplicadas a qualquer outta arte de qualquer outro tempo. Agui, porém, néo me interessa negar a existéncia de “barroco” nem propor que nao se use 0 temo, Como dizia Deleuze, ¢ estranho negar a existéncia de “barroco”, como se nega unicérnios eelefantes rosa, No caso destes,o conceito jf esté dado, mas néo no aso de“barroco” em que seria ttl saber seé possivel inventar um conceito capaz de lhe conferir existéncia no século xvuir, Para demonstrar que ndo, basta propor 0 conceito que existe, e que ¢ o positivado por Wolffin,e, depois, pelo historcista espanol Eugé- nio D’Ors, que em estudos kardecistas desmaterilizou de vez generalidade dedutiva do esquema, afirmando que “O Batroco”, Constante Universal do Espirito Humano, desencarna-se em sua obra quando nela reencarna “Classico” varias vezes, desde a Pré- Histéria. Certamente, 0 termo pode ser usado como se usa qualquer outra etiqueta arbi- tréria para classificar operatdria e descritivamente um corpus determinado. Sao critic’- veis seus usos quando implicam a cassificagdo ea unificagdo dedutivase transist6ricas das representagdes das letras do século xvrt; ou seja, 05 usos que, generalizando o aprio- rismo do esquema wolfiano e sua desistoricizagdo definitiva por D'Ors, desqualificam ou valorizam as representagdes com critérios neocléssicos, romAnticos e positivistas uni- versalizados como “excesso”, “deformacac”, “ruptura, angistia’ actimalo”, jogo de palavras’,“hermetismo”, “mau gosto”, “afetacao”, considerando as formas passadas como etapas para si mesmos e, por isso, concebendo-as de maneira unilateral®. Por exemplo, nas histériaslterdrias escritas segundo o pressuposto teleolégico de que as ‘DELEUE, Gilles. Le P.Levbnizet fe Baroque. aris; Minuit, 1988.4, {No sentido de Mar:*O assim chamado desenusivimentohistrico fundamenta-se em que a ime forma considera as formas passadas como etapas para simesma. E sendo esta forma ratamente e apenas em con digdes determinadas capaz de cticar-se a simesma — nao se trataaqui daquelesperiodos histricos que se apresentam simesmos como tempos de dacedéncla — ela as concebe sempre de maneirauniater! (Mew, vol 3, 2636) 14 Joo Ado Hansen. mudangas estéticasalinham-se como superagdes que expressam o nacional, “barroco” é etapa, O Barraco’, do continuo sobre o qual a letras, unificades como estilo de época, vao-se sucedendo umas depois de outras, retornando ao sujeito transcendental kantiano ou ao espfrito absoluto hegeliano, Uma teoria que pressupée a objetivacao de si mesma como esquema prévio aplicado aos objetos néo pode ser usada em nenhium trabalho de analise hist6rica. E nenhum trabalho de andlise histérica € factivel sem uma Progressiva sistematizacdo simultanea das informagées documentais, que implica um pensamento «ritico em continua (auto)verificagaoe, A nogéo aprioristica ou dedutiva de“barroco” é descartével,enfim, ainda que muitas de suas reencarnagées até possam ser curiosamente folcl6ricas como o clefante rosa. Usos de“barroco” Observou-se nos tltimos 20 anos um interesse crescente e polé- ‘ico pelo “barroco”, que retornou com alguma insistncia em préticas artisticas'e ctiti- «ast contempordneas identificadas muitas vezes como ‘neobatrocas’,“pés-modernas” e FOUCAULT, Michel 'Le sujet tle pouvoir In Oise cris 954-1988.E4.établie sous la rection de Daniel Defert et Francois Ewa, Paris: Gallmard, 1994 4v, vol, 1980-1988, p23. 10Us0s posticos debaroco" nedbaroco so operas como ofnecbaioss'na oz do Roda Pata. de Néstor Pevlongher:o "baroco como simbiose ou "mestagen continvas que engendiam ‘baroquismd, segundo Ajo Carpentier pare quem as pitsmides de Teotinuacén também si "baroca Un uso muito influene de “baroco¢ od ‘presente de produto’ posta e antsca proposto por Hatedo de Campos. No casa ‘neoba- '0¢o' significa novdade contempornes produza por uma invengioatica que, aproprindose sncront amen de procedmentos técnica efetos das ates do sécuo a, usa-s como mata de tanskrmates Podticas. 0 nome ‘neobatroca’ dos objets estéticos & posto por melo de analogas estabelecidasente seus feitose 0s efetos das artes do pasado clssticadas como barraot Na apropracso podtica dos restos, pro- ese, com Jas ser Paz, Srduy ecutios a exemato do que TS. lot fez com a poesia de Donne Marvel, ou Garcia Lorca com a de Géngora, que o conhecimento da poesia de Mallarmé, por exemplo, permite 20 Potta conterporéneo reconhecero valor esétco da poesia de Géngore, que & consituido reuospectvae ‘mente como precursor. No € oasiansmo de Géngorano nal do século my, queantecipa as dsdespsmst- es da lia da poesia de Malarmé,no mx, mas. letura de Mallar por um poeta do séeulo wn que permite onsttuir 2 poesia de Géngora como uma tao do novo ou de deteminado modo contempordneo de ‘emporposi segundo um cSnone potico ‘de venco: Da mesina mane conhecendo a antropofagio tral de Oswald de Ancrade, o poeta contempotsneo pode clasificarpoticament com uma meter, 28 esc estilsices da stra de Quevedo ou da poesia ibid a Grego de Matos Guera como antropoa- ia cutuet, quando se apropria dela para proc mistos estilistics chamados de “neobarwocos Petco: ‘mente, como terme que especica um programe estétio,"neobarroc' indica procedimentesespectcos de Barroco, neobarroco.e outras unas 15, “pés-ut6picas”2,O retorno produziue produz véris unilateralidades.O termo “neobat- +00" significa novo barroco” e implica a exsténcia de um intervalo temporal entre pre- sente, que enuncia o“nco algo que seria um passado, o barroco” entendido nos termos » prdicas de apropriagdo do passado na invengéo artistic contemporénea, Qs usos da noo sto discuieis, contudo,quendo as melons da cg ou dapstica pote sé tanseidas para odiscusociticoe histor fc, afrmando se por exempo que Gregéro de Matos @ um antionéfag cultural ou como se diz hoje na Bahia, um antropSlogo ecco sncrétic-pluiétnico-mulicutural, Muitasferidasrarcicas permanecetam incolumes seas pragmicas pstias,ctiasehistoriogsfias, que usa os terms bartoco’e"neobarace, fossem denis. poesia ¢ sempre istnica, mas 0 iscuso do poesia no €o discurso da histia. ident cao de go e hist tem conseqinciaspolicas graves fo suficentemente questionads, Em usos istoriogaicos 2 aplicacto de categoasluminisas pos lortas ds epresentagbesuso-breseras do século ww evidentemente anactnice, supondo-se a iedutbade da diferenca hstérica dos peas subsancalstas de uma manaquacatlica absolut aos esquemas teloldacos# fstados da epublica «que todos supanin,desejamos derncréica também quando € replica ds ete. 11 Cities vees engenhosas. Recentementeidentiicando baroco'com'cuna um cco doo escreveu «que as pemnas de Garinchaeram “barrocas: Apeser disso, poise acrescentar, macaram gols"ssicost Outro, poeta crtca de artes plstics,jtnha proposto que as montanhas de Minas Geras so"barrocas’ Eporaivai 12Por exemplo, na expresso “América Barocs, que etoma as concetuactes da obra de Richard Morse, como olroOEpelo de Petspero,que trate da especficidade da colonizagio inglesa dia América dolore, comps rande-a com acolonizacao ogc, propée-se acontinuidade transistrica do ethos corporativsta da colon 230 beta A continuidadeexplicata, por exemplo, natureva de praicas de conctago politica da assim charnada Amica Latina’ como € 0 caso ca eer das dferengastucanas eolgérquicas comandadas pala cabeca eal do Barco Mundial. Nos usos em que"baroco'enesbaroc’ significa a continudade ran sistrica do ethos bt, tpca de doutia cat6bca do poder monsiquico absolut, caractezado pla ind tingéo de pibico/rvodo peo providenciismo emitenarsma mesisico, pelo corporativsmo, pela deleaa «40 ds auteridadee pel favor como medio universal das reaqbes soca o "neobartco%Suposto como caractertica principal da cutur’neobaroce contemporénea slgnificaa fatalidade da natura colonial do pas, segundo um pressuposto indeterminado e metatsco, como éonbarroco ovo Universal do Espo Humano de D0%s 13 Na FormagGo do iro rs, Antonio Candido no incl o assim chamado"batrocot tendo sid ct ras espacial como um expeco homogéneo eva que importa emia atfciekments sem tansfomacso, ® representagdes metepoltnes A mesma epresentardocolorial omnes, por assim die exterior real ade rosie pressuposa no loca coma nacional O réprio evento da representarso perde sua especie: Cidade de prtca dated estuada, pois é absonvido na essénca que o exica dedutivamente. A eepecic: ade hse das pratics locas no ¢consderada, quando si apropiads como medio ou tapas a0 esti super, que as considera representatvas, Quando as represenases So ansformadas ern “Parc no sécuo x, ainterpretao naconastatende a sermantda no uso dedutivo e2-citico ds noGio Arespeto de histariccrafia Iter C805, Afed."Por um historcsmo renovador flo ¢releio na his ‘rites Teresa Revista de erat asa (S80 Faio) Duet, semesre de 000.0. 0808 ‘S-TeCosTu La. Averbach ea Ht Literria Cadernos do Mestad 2 Ro ce Janeiro), Depto de Letras ‘1992, 93:34 Limite do Vox, Mentigne, Schege io de Janet: Rocco, 1993 "6a chave ds cultural sts norte-anercanos ana se ambém que o"banac tei sido adapta, lox vel como uma cluna vertebra sem doutina eoposiio cultural de ese alguma, Um exemalo dessa {deotogia pode serio no texto de catdogo da expo Baroco Bosleoorgarizada pelo govemo bras leo no Petit als de Pais em 999 que adic “Ssta valida sem fontea do bartoco, sta cuctidade eesta maeabliade, que he permite adaparse 205 mas verses contexts sco-cukuay paltcos e geogrdicos eas mas opostastradigbes cutis @ spitasseexpcam sem csi por seucarSter de arte sem dovtina.(.]05contempordneos do baroco Jamas zeram a teori do barrco {dferentement do que se passou com o Renasciena, 0 Classicimo, 0 Neocsismo) este vzio downs, que cia nosso escos de defnio ard bavocouma.steque dose opBearenhum outa, mas que se adapta todas as stuacbes CL routs "BarocoBaslBaoco! 'n: Br Barca Enire cv eer, Pts: Petit Palais Unio Latina, 1999/2000, p42 Otertoclassficaautores use braslevosde artes outos do séculonmenvicomo"boracos'afma que ‘unc fietam a dowtina do batroc’ A afrmacdo seria just, se a expresso" vaio doutinstio' se reese ‘lmpossibidade de homens do séulo xu pensare em Kant Comte Wein Fukuyama. Mas no se tata <5. 0 texto const o5 autores do século xm como igorantes de si mesmos edo que fizeram ern seu "empa fndo a meme de andes caberas, como por exe Galea Posen, Gop, Verano, De Sot, Blin, Boer, Sus , Botromey, Cajetano, Acquaviva, Maina, Accett, Palevcino, Otonel, Peres, Tesouo, Géngora,Quevedo Gracin, uregu Lape SsavekaFajado, Paix, Sigdenzay Géngor, Barroco, neobarroco eoutras ruinas 19 existencialstas,o suposto “irracionalismo” é“angiistia” de supostapsicologia do Daseit “parroco” tragicamente dilacerado, por exemplo, pelo mecanicismo reflexoldgico de ‘Arnold Hauser e pelo sociologismo togado de Lucien Goldmann. Dizendo-o de outro ‘modo, quando as apropriagbes classficam os residuos do século xv1t como “bartocos", no sentido wolffiano-neckantiano da categoria, @ suposta “informalidade” de “forma aberta” e“dinamismo” e o suposto “irracionelismo” de*pictérico” e“clareza relative” sio sobrepostos a particularidade das priticas produtivas das representagbes, deslocando e obliterando sua formalidade de prética, Em seu tempo, eram produzidas pela aplicacio de téenicasracionais, que prescreviam os processos ¢ 0s procedimentos da sua invengio, publicagdo e consumo. apagemento da mediagao técnica far entender os efeitos caleu- lados das representagbes ditas “barrocas” por meio do patetismo psicol6gico da ironia romantica edo realismo de concepgdes empiricistas, eneralizando transistoricamente as categorias do idealismo alemo na bese da interpretagdes. As aplicagbes do esquema “informalidade” também fazem entender que o suposto “irracionalismo” supostemente expresso em efeitos supostamente “excessivos” resulta da unidade contraditéria de suposta superestrutura ideol6gica do século xv1t,"a mentalidade barroca’, e de uma também suposta subjetividede psicol6gica que se angustiou nela,“o homem barroco”. Segundo as apropriages, que apagam a especificidade politica e retsrico-podtica da pro- uo dos efeitos das representagSes dites "barrocas” em seu tempo, a consciéncia poss: vel do “hamem barroco” se retorceu em imagens alambicedas,atificiais, ociosas, fétuas, pedantes, sem relagéo orgénica com sua realidade, expressando de modo complicado, » Sor Juana nds de Cr, D Francisco Manuel de Mel, Vira Fancsco eto ere, Grimmelstausen Gry- pfs, Athanass Kircher e um extenso etc, que doutinaram magnficamente que ratio, pare fir mar que o"sarroco’ é"ums ate que ndo se opde a nenhuma outa rhs que se adapt todas as stuacbest ‘producto da ignainca do supost "baroco* quanto a si mesino no seu tempo, 05 sEculos A em produz outa, espctica do presente em que a formularzo¢ fet: consste em proper zo piblico da exposigo do Petit Palas aos toes dos textos do catalogo Sobre das Baraca o caret adapt, nie _grativoe sem confitos do assim chamado "barrocna sociedad colonial"batoca dos séculos i exe, supondo-se que 0 Bas faz parte da “América Baroca a sociedade brasleraneobaraca’e neocoloniak neoliberal do ano 2000, Uma litre superficial de ordens 6a, regimentos de governadores atas deCama- ras municipais, sities aibuides a Grego de Matos, carts jesuitias sobre a catequese, documentos que reqlamo véico 0 castigo exemplar deesrovs dennis 8 Inquiso ee ete demonstra que essa‘ate «que nSo se opde a nenhuma outta’ sempre pe em cena ahierarquis os processos de dominacso, como integragio, subordinagso e exclusto forgadas de indios,negrs, multos,judeus,cristdos:novos pobres @ ‘outros plebeus como memos do corpo mistico do Impéso Portugues 20-080 Adolfo Hansen ‘mas ndo complexo,o real do seu fempo.A determinagio dessesexpressionistios angus- tiados ¢ explicada no caso luso-brasileiro,geralmente, pelo fato de“o homem barroco” — que jd era um Brasileiro vivendo numa colénia do Império Portugués no século xvi — ter chegado demasiado cedo para. citncia empiristainglesa em sua Sociedade atrasada, ue desde o século xv jétinha perdido o bonde da Histéria de méo tnica com firulas aristotéicas e neo-escolisticas,e demasiado tarde para afécristé, em sua sociedade abe- Jada pelo maquiavelismo efetivo das politcas mercantilistas de poténcias realmente modernas, Franca, Holanda e Inglaterra. O esquema evolucionista de uma hist6ria nica feta como supra-hstéria de atrasoseprogressos dedutivamenteaplcados poe a“angtis- tia’ do“homem barroco” depois de“Renascimento?, que sucedewa“Idade Média”, como expresso da tentatva intl de conciliar as generalizagbes romdnticas dos intérpretes,o ‘Teocentrismo da Idade Média eo Antropocentrismo do Renascimento, Para os autores e pablicos do século xvu, contudo, era bisica a fru de imagens plist ase visualizantes, de efeitos contrastivos e grande intensidade dramético, tendendo 20 sublime, nos géneros altos, ¢ ao monstruoso einfame, nos mistos dos baixos, Como ima- gens retdricas,eram extrafdas de repertérios ou elencos prefixados, valorizando-se a no- Vidade de sua recombinacdo em usos inesperados, Hoje, podem parecer mecnicas & ftias ou excessivamente elaboradas, com um rebuscamento intelectualista que costuma ser objeto de juizosnegativos, uma vez ue o romantismo que forme a cultura do pats induzacrer que todo trabalho de desproporgdo acsimulo€ sintoma de alguma espécie de dilaceramento, logo identifcado em termos psicl6gicos e psicologistas, quando nao Bsicopatolégics.A fortuna critica de Gregério de Matos e Guerra é exemplar dessepate- tismo retrospectivo que projeta na técnica retérica da maledicéncia da persona satiticaa Psiquiatria do ressentimento pessimismo atribuides ao homem, autor suposto. Se néo se considera que as imagens dos discursos seiscentistas estdo dispostas como entimemas Ousilogismos retéricos, como esquemas figurativos de conceitos de uma invencio anali- sada segundo leis dialéticas de definigio, contradefinicio e ergumentacéo, os discursos io reduridos ao critério expressivo. O que ¢ plausivel em termos heuristicos, mas ana- rOnico, em termos hist6ricos Plo critério expressvo, as imagens das representagbes coloniais seréo avaliadas conforme seu maior ou menor afastamento da “‘naturalidade sem artficio” pressuposta no tratamento romantico de temas, e, ainda, conforme sua ‘major ou menor clareza, entendida neoclassicamente como transparéncia da formala- ‘io de idéis claras,distntas e sensatas da consciéncia do autor, que formam a base dos juizos negativos correntes na critica nahistoriografaliterdrias brasiliras de determina- ‘0 romintico-iuminista, Nao serdconsiderado, ent, que afalta de clarezasupostacor- responde, no século xvu,a variedade de processos de argumentacéo dispontves segun- Barroco, neobarroco e outras rulnas 21 do padrdes ret6ricos coletivizados e objetivados em préticas de representacéo como prescrigdes de usos sociais de varios hermetismos e clarezas posicionais, adequados a gé- neros especificos. Nao dependem, como o nosso anacronismo supée, da psicologia do autor nem da sua maior ou menor represent idade empftica. Toda imagem, no cas0, relaciona-sea um padrdo légico de desenvolvimento da argumentacdo, que implica 0 cél- culo de seus efeitos ornados; o que se consegue, via de regra alterando-se regradamente a isotopia semdntica de outras imagens relacionadas, no sentido retoricamente consuetu- dinério da congruéncia de verba e verba, como adequagao de verba eres, ou de imegem com imagem, como adequacao de imagem e t6pica da invencio, O procedimento biné rio — divisdo dialética das tépicas dos argumentos/condensa¢ao metaférica dos temase subtemas di jos — € sempre aplicado, conferindo aos discursos ceta rigide2 esque- mética também na incongruéncie continuamente produzida, que pode causar desagra- do."liberdade livre", como dizia Murilo Mendes, da associagao de idéias da concepgéo modernista e moderna de poesia. E ciscutivel, quando se consideram historicamente as representagoes desse tempo, que a produgio de formas dinamices, curvas, serpentinadas, enrugadas, confuses, confundi- ds, enzoladas, quebrades, dobradas,espelhadas, acumuladas, ornamentadas, antitéticas, copostas, cantrapostas, hiperbolizadas, labirinticas, deformadas, anamorfdticas,aleg6r as, claro-escuras, herméticas etc. seja necessariamente decorréncia de qualquer espécie de itracionalismo, dilaceramento e angéstia. & discutivel que as artes do século xvi, principalmente as formuladas como variantes do estilo asitico, hoje muitas vezes tides por “afetadas’, como & 0 caso de Géngora e de seus intimeros émulos luso-brasileiros que figuram matérias humildes com estilo sublime quando imitam poetas neotéricos latinos e alexandrinos, sejam expresso de angistia dos individuos que as produziram ‘ou que sejam naturalmente itis e pedantes. Ediscutivel que, nos casos supostos em que ‘os autores das representagdes quiseram representar paixdes eles o tenham feito expressi- vamente, sem a mediacio de precetos técnicos objetivamente partlhados, Discutibilis- simo que tenham querido representar paixdes individuais como idealistas alemaes as voltas com a sublime organizagao burocrética da esséncia da cultura, As artes do século xvti conhecides por “barrocas”,“informais”e“irracionais" nfo sfoirracionais”, “infor- mais” e“barrocas”. Flas so vers6es neo-escolésticas do Livro 1 da Retdrica e das novas conceituagbes de“dialética”e retsrica’fitas no século xv1 em Roma, em Florenga, na Franga,em Castela,quando se atribuiu& dialéticaatarefa de defnigao e contra-definicéo das topicas até entio exclusivas da retérica, modificando-se esta como doutrina reno- vada da elocugio ou do ornato dos temas e subtemas obtidos pela andlise dialtica das matérias. Todos os grandes tratados retrico-posticos do século xvit que chegaram 20 2-Jo50 Adolfo Hansen Brasil por meio, principalmente, da Companhia de Jesus, como Artfici y Arte de Ingenio, de Baltasar Gracin (1644), I! Cannocchiale Aristotelico, de Emanuele Tesauro (1654), ‘Nova Arte de Concetes, de Fiancisco Leitao Ferreira (1718) recorrem ao Organon eao De anima, propondo as dex categorias eas especificagdesaristotdlicas acerca do juizo silogts- tico como esquemas de definigao e ordenacio dialticas dos temas e dos argumentos das Tepresentagées; 2o mesmo tempo, recuperam neo-escolasticamente a doutina aristoté- Tica da metdfora, feita no Livro 1, da Retdrca,e as leturas do mesmo feitas por Cicero ¢ Quintano, para tratar da ornamentacdo das dez espécies de temas abtidos pela aplica- lo dialética das categorias &s matérias das representagdes, Entéo,na Espanha, na Nova Espanha, no Peru, no reino de Népoles, em Roma e em Portugal séo correntes os trata- dos de autores gregos,transmitidos em suas versbes bieantinas, como o de Longino, Sobre o sublime, ¢ os de Demeétrio Falereo, Dionisio de Helicarnasso e Hermégenes, sobre a elocusio. Como demonstra uma das maiores especialistas em Quevedo, Luisa oper, Grigera, no século xvtt 0s usos desses autores gregos acrescentaram uma grande ‘quantidade de distingoes os trésestilosfundamentados em Cicero e Quintiiano corren- tes no século xvi — alto, médio, baixo — constituindo os vitios esilos das varias artes hoje classficadas e unificadas dedutivamente como “barrocas"7, Como artes tegradas ‘mimeticamente, aplicam verosslneis e decoros especificos dos génerose estilos, adap- tando os efitos as ocasides de ierarquia como representacio de afetos adequados a cen- tralizagao do poder monsérquico, como fice evideate ém toda a obra de Vieira, na poesia. chamada Greg6rio de Matos, nos textos histdricos luso-brasileiros sobre as guerras holandesas ou na terivel versahada das academias da primeita metade do século xvi, Nao conhecem a it lviduagao expressiva do romantismo, pois operam com tipos,carac- teres,agdese paixdes precodificados de uma jurisprudéncia de imitagio das autoridades dos varios géneros, principalmente os latinos, Marcial, Pérsio, Lucano, juvenal, Petronio, ‘Séneca, que foram somados, no século xvit, aos autores imitados no Xvi, Cicero, Hora- cio, Ovidio, Virgilio. Supondo-se por um momento a validade transistérica da nocio romantica de“expressio”,ou sea, sipondo-se que os autores desse tempo tivessem que- rido representar paixdes individuais “barrocamente”, coisa vulgarfssima e sem arte sumamenteindecorosa nasociedade corporativa luso-brasileia do século xv nunca 0 teriam feito sem aplicar formas do todo social objetivo, como formas coletivas de valor assimetricamente partilhado, & composigao de tipos caracteres softendo de paixoes 17 CL cctaa Luisa Lopez Anotaciones de Quevedo ala Retriea de Astle, Estudio preliminay, edicion delas anatacionas de Quevedo a fa Retrica de Arstteles en versén paleogrsfica y modema con notes. Sal ‘manca: Universidad de Salamanca, 1998, p.83. Barroco, neobarraco e outras ruinas 23 modelares. O que é entendido dedutivamente como “rracionalismo”, “informalidade” e “angistia? do “barroco” 6, enfim, racionalmente formalizado como efeito de informali- dade de uma paixao qualquer, mas paixdo qualquer sempre aristotelicamente regrada como otxcesso vicioso para menos”, o“meio-termo virtuoso” ¢ o“excesso vicioso para mais’, da Etica a Nicémaco, que ordenam os elencos de t6pica imitadas neo-escolastica- mente. As paixdes estao na natureza, mas nao séo informais, quando paixées artistica- mente representadas, pois sua codificagio é retérica.® O entendimento redutor da representagaa como adequacao ao “real” pretotalizado ou expressio da ‘subjetividade psicolégice? oblitera a formalidade de prética das represen- tagGes coloniais. Tio reais como o tréfico negreiro, elas encontram o real de seu tempo ‘como sistema regrado de prescrigbes ret6rico-posticase orientacoes teol6gico-polticas partilhadas assimetricamente por autores e puiblicos contempordneos. Elas poem em ‘cena nio 86 as matérias,os temas eas interpretagbes deles tidas por verdadeiras e verossi- 18Nos usosdedutivos de "bartoco’ 2 linguagern das representacbes no & deinida como reldade efetiva de pri- ‘ica comtemporénea de outs pxdicasdscusvose ndo-» » relia cidade, 2orde setratouael da nobreza Lisboa, nde setembro de 178"— assim reze o documento do Corregedor do Ciel sobre Tomds Anténio Gonaaga (Tatado de Dito Natural — Carta sobre a sure (Obras Conipletos de Tomas Anténio Ganaaga. (Ed Rockigues Lapa) Rio de Janeiro: WEC/, 1957, 307, vo. (Ou"-ohabiltando pelos ditos seu pale avds paternos & cistdo velho de impo sangue sem raga alguma de sto novo, mou, mulato,nem de out infetanagio e menos dos novamente convertiesa nossa santa f€catbica, porque nunca houve fama nem rumor er conti, no caso de Inicio de Alarenga Peto (CL UPA, Rodrigues, Vide e Ob de Alarenga Perot. io de Jano: ECA, 1960, 9.160), 38 €tl relacionar a figura doletvado com a concep de histria corrente nos séculos i eww. Madelada segundo os esquemas rettricos da crénica, acumule exemplos de acbes e de eventos vituosos, cap turados pela enuncago no sentido ico do aconselhamento dapolica cst Ou seja:a concepcdocice- ‘onlana da istéia como magi ta evidenciatambéma ordem € sentido dados&experéncia como ‘epasicdo de paces hierrquicosfundados na meme criteiosa de casos, narrados com grande erud- 80 mitologica¢ poética exraida de autridades latinas atristicase esclisticas, segundo a topica das “axmase letras: Nessa historia, que pressupdeaerarqula como um dado de nature, a sociedade se ro ‘ia coma o"corpo misticono qual os inios, por exemplo,suboxdinar-senaturalmente como infetoces, uma vez que go da Poca aistovdica, € pxéprio do inferior subordinate a0 superior. Ac mesmo tempo, @ apclogia da hierarquia se acompanha do tena da cifusbo da Fé como a conquista espitval que teria trazidoa luz lusiade para oinfemo verde. Logo, postos como exceéncia os citi da hierarquia,daemul ‘lo, da discrigdo e o da conguista pela Fé e plas armas, o lttado que os enuncia também se auto representa com os mesmnas, consituindo-se como ‘melhor no necesstamente por ser eftvamente tum fidalgo ou um "melhor nas por deter um saber que é uma meméria da fidalguia que, permitindo-the rever novasaplcagbesrecicl 0 cass de sua propria definigao como lettada O que ¢tiico das pratcas da subserviéncla pos juniamente com os ipos que sz0elevados na adulagSo, letrado"sobe para abo, ‘quando demonstra sua capacidade de reconhecer a supeticxidade como um subsltern, prestando servi- «£05, como aquele cachorrinto que abana orabo para.o amo na divertidaetimologia latina do ad ¢-ular deque ala Staobins 42-4080 Adolfo Hansen Por autor, hoje so entendidas varias cosas: o nome de um indlividuo empfrico;a classif- cago que unifca uma obra ou um conjunto de obras a classticagdo do regime discur- sivoem que a obra se inchusa lvre-concorréncias os direitos autorais;a propriedade da obra; originalidade; plagio. Muitas obras do século xvit,20 contréio do que ocorre com os apégrafosatibufdos a Gregério de Matos levam o nome do individuo empitico ue as inventa — por exemplo, os sermées de Ant6nio Vieira, Para contemporaneos, 0 nome indica um tipo que, sendo jesuita, mestre de retsrica, amigo de res, inimigo da In- 4quisigdo, confessor da Capela Real, chefe de misséo catequética, diplomata, orador sacro ete. ndo é, obviamente, uma subjetividade burguesa entendida como unicidade de su- Psicoldgico dotado de direitos liberas, mas um tipo do poder real tipo de poder Jocal, em que convergem a generalidade dos interesses da Coroa ea particularidade dos interesseslocais da Companhia de Jesus, ousej,um tipo de uma order relgiosa do pa- droado subordinado & Coroa, com certo carater e decoro ‘constantes, como a gravidade e 4 prudéncia que controlam seu humor colérico,fazendo-o discreto eespecificando sua situagao social, como representagdo, eos limites de seus privilégios como posigao social exercida pela representago em contato, tens4o e conflito com outras também exercidas como representagies por meio de representagées, Ou sej, tipo socialmente hierarqui- zado e sem a autonomia pressuposta nos direitos da subjetividade concorrencial do indi- viduo autor nas sociedades contemporaneas, E fundamental observar,no caso, que Vieira atualiza em sua pratica a formacao recebida no serinério da Compania de Jesus, cujo programa de ensino, formalizado no Ratio studiorum, implica a educacao por assim dizer homogénea de todos os sacerdotes por meio da reciclagem maciga das autoridades candnicas da lgreja e das autoridades Iogicas, ialéticas, gramaticas, poéticas, histdricas e orat6rias antigas, As varias disciplinas do Ratio studiorm implicam o treinamento da meméria, da vontade e da inteligencia do no- vigo com essas autoridades para format o padre como total aptidgo para desempenhar os interesses da Companhia, da Igre ¢ da Coroa nas coisas do mundo. A Vieira seria nao s6 impensével como impossivel a pregesdo autonomizada da sua educacio e da disciplina de sua Ordem, que formam e conformam sua pritica de orador, impondo e delimitando 0 +49.Camo cz Vitorino Magalhies Godinho,"0funcionalsmo, que, nos ses escaldessupetore pelo menos che- ‘at0a constr uma crdem sepatada—ados eras — integrase em bos parte na aco nbilérquco ‘1 sua ante-cimara:a carer leva a eceber otto de escudetoe depais ode cavalo, atinginde-# 0 ‘rau de cavalo fidalgo ou mesmo cima. Tal smbiose, parcial embora, ined necessariamente a ambi: sidade na condigdo mentalidade do funcionlismo In: Goons. itrino M.Estutua da ani socedade portuguesa. 32 Usboa:ArcSdla, 67, 1023, Barroco,neobarroco e outras ruinas —43 “dever set” de sua acio como jesuttaimiscufdo nos negécios temporais. Como pregador, Vieica € um tipo social totalmente previsto pelas Constitugées e Regras da Companhia de Jesus: realiza publicamenteo vinculo de obediéncia& sua Ordems, executando com mes- ‘ria inigualdvel os mesos padtbesretérico-doutrinério recebidos na educagdo por todos 0 eu irmios em Cristo que também fizeram o seminério, Teologia e os votos e, como ele, receberam a mesma instrugdo que os torna aptos para também pregar. E como tipo social que atualiza na prética oratéria uma formagao comum rigidamente regrada como autoridades candnicase etérico-dialéticas que Vieira € um autor.+ Seu nome significa a autoridade do exercicio de um género popular contra-reformista — o sermao sacro — no sentido latino de auctoritas ou modelo da exceléncia de um desempenho emulado por outros oradores sacros. Como tipo subordinado de uma ordem religiosa subordina- da Coroa ea Roma, como tipo especificado por um caréter eum decoro de padi jesu- t,como autoridade de um género sacro, Vieira tem a posse dos sermées que inventa: si0 seus, pode mesmo lamentar 0 mau tso dees edo seu nome, como o faz, acusando a detur- ago da auctoritas.Nao tem, porém, a propriedade dos sermdes, que correm publicados em cépias manuscritas ¢editados em letra impressa como “sermées de Vieira” atribut- dos a sua auctoritas seus sermaes também nao tém originalidade, no sentido roméntico da mercadoria — originalidade concorrendo com outtas originalidades no mercado de bens culturais, porque Vieira aplica e transforma matrias, formas ¢ preceitos objetivos 41 C£.OOLA Santo Inicio de.Corstituigdesda Companhia de Jesus. Trad.e notas de Joaquim Mendes Abrenches, 5..Uisboe: Provincia Portuguesa da Compania de Jesus, 75. Ves, por exemplo, 7h" Seas pregacbese ‘minsttios se exerceram noutras pares dlstanes do lugar edo case, devers tazer um atestado dos sitios ‘onde ver passado um tempo notével.ou das autridades pblicas (tendo grande conta de todos os Ording- ios], que dé plena geranta de que semeou a palawra divna e cumpriu o ofcio de Confessor com sé dou tena, bom exemplo de vida, e sem ofensa de ninguém og) *Pars exercero ofc de semeadore miniso da peavradvinae se dedicer& ajuda espiritual do préximo, convém ter suficente cépie de conhecimentos intelectuas (p63 "Para maior humiidadee perio dos homens de letras, Coadjutores espituas Escolisticos se houver vidas sobre a suiciente aptido de algum dos candidatos& Compenhia para nela ser Professor Coadjutor esprit ou Escolistico, deverdter-e em conta que éruito melhor emma perfsito para ele deiarsejulgar€ govenar por ela sta saber, do bem como ee,0 ques requer para ernie ¢ ‘sible mostrré maior humildade peso, eda proves de maior amor e confianca naqueles que 0 dever govern" (6). CE 404 aos. que prescrevern como formar exclentespregadores 42.CL. Assim, devemse cultivar cuidadosamente 05 meios humanos ou os adquiids com 0 préprio. esforgo,especeimente uma doutrina fundada e sla a maneira de a apresentar a0 povo em sermbes ligbes sacra, ede watare conwersar com as pessoas" bid 144 7080 Adolfo Hansen {que nao sio seus, mas propriedade comunitéria da Companhia de Jesus e do “bem co- tum” do Império, como as disciplinas © matérias do ensino ministrado por sua Ordem em sua formagaio e reproduzidas por ele na pregagao que repde as mesmas auctoritates comunititias da oratsra, como Cicero, Criséstomo, Paravicino; nem sio dotados de auto- nnomia estética, porque, numa tempo orientado providencialmente por Deus, sua auctori- tas no conhece a divisio do trabalho intelectual eo trabalho intelectual da divisto iumi- nistas epés-iluministas que tornam os regimes discursivos especializados; sua auctoritas também néo dissocia sua pritica de orador da metafisica neo-escolistica que a motiva como a palavra de Deus difundida como testemunho de um tipo da devotio moderna da (Companhia ce Jesus imediatamente empentada nos assuntos temporas do Império, como os capitis judaicosotrfico negreiro,aescravido de indios a competicao comercial. Viei- ra€umletrado, no sentido de fazer parte da “gente de letras” de seu tempo, podendo-sedi- zer que letrado é entendido mais como um carter, ou um éthos, que propriamente como uma individuagéo autoral no sentido contemporkineo de “autor” definido pela live-concor- réncia, Em outras palavas, pelo termo letradosigifica-s entéo um tipo dotado de certas ualificacées técnico-profssionais que o situam ne intersecgio de uma forma de atividade religiosa ou econdmica com outra, simblica: éalguém que exercita as “letras” —entendi- das genericamente, aqui como as vrias auctoritates do costume antigo recicladas naimita- 0, no em termos “terdrios” de autonomia esétca,contemplacdo desinteressad,orig- nalidade direitos autorais — recebendo, com isso, cera qualificacio produtiva (por exemplo, mestre de retrica)e, por vezes, certa distingo nobilitante (por exemplo, orador dla Capela Real), No caso, distinglo grande, pois aexcelénciadiscreta do seu método esco- léstico de pregar o torna modelo ou auctorites do métodbo jesuttco e portugues de pregar. Para definir oletrado colonial, ¢ preciso, enfim, determinar o valor ou os valores de sua re- _resentago numa sociedade de ordens em que a pessoa e sua posiglo se definem como re- resentagao e pela representacao da subordinagao ao “bem comumn” do Império, mais que por seus atributos individuais, como ma formula portuguesa gente de representagdc?.Ou seja, posigdo determinada pelas categorias da pertenga ao corpo mistico do Estado, mais que pela autonomia antral, originalidade estétia einvencéo literéa A representagao que o lettado colonial produ, principalmente em portugués, mas tam- bém em espanhol, italiano, ltim e tupi, é mimética, como disse, feita como aplicagéo de técnicas retéricas andnimas e coletivizadas que prescrevem a emulacio de modelos de autoridades que adapta as referéncias institucionais e informais do lugar a interesses especificos. As adaptagbes produzem deformacdes de varios graus e valores, que repe- {em sistemicamente as prescrigdes técnicas dos esquemas imitados e os critérios contem- pordneos de julgamento do seu valor. As deformaghes séo difereneas materia, formais, Barroco, neobarroco e outras ruinas 45 institucionais e pessoais, como intervengao particular que reproduz o padrao coletivo. A representagio colonial néo conhece, evidentemente, a divisio dos regimes discursivos produzida a partir do lluminismo: nao é'literéria”, objeto de uma estética que teorize sua contemplagao desinteressada, Seu fundamento é o substancialismo da metafisica neo-escoléstica, que é stil considerar para definir os pressupostos e fins hierdrquicos ‘iltimos dos seus usos retoricamente prescritose. Tempo, histéria e metafisica Koselleck propde que a relagdo de “experiéncia do passado”,entendida aexpressio como 0 modo ou 08 modos pelos quais determinada for- magio histdrica formaliza a experiéncia da ruina da formacio que a antecedeu, ¢“hori- zonte de expectativa do futuro”, o modo como representa a (im)previsibilidade do que vird, €um critétio historigréfico pertinente para se determinar a maneira ou as manei- +ras como o presente da sua historia ¢ figurado nas representagdes que produz.4 Quando se faza questio acerca dos modos de representara experiéncia do passado e expectati- va de futuro para os residuos do século xvtt,algumas especificidades aparecem, Blas ex- cluem imediatamente 2s categorias da categoria barroco”. No caso, a metafisca é outra A principal dessas especificdades €0 modo qualitative pelo qual concebem a temporal- dade como emanagio ou criagdo de Deus que inclui a natureza e a hist6ria, subordinan- do-as providencialmente no projeto de salvagio, A representagdo propée que a natureza e-ahistoriaséo simultaneamente efeitos criados por esa Causa esignos reflexos dessa Coi= 52, ou seja, que ela mesma, representagdo de efeitos e signs, ¢ signo eeftito, A historia, incufda no tempo como ume de suas figuras proféticas, é concebida providencialmente, pois recebe do tempo, que é criado, sua participacdo na substancia divina, que a aconse- Iha e orienta para um fim superior. A concepcfo relaciona a experiéncta do passado e a expectative do futuro como prevsibilidade, pos afirma-se que a Mdentidade de Deus, Cau- sa Primeira, repete-seem todas as diferengas histéricas do tempo, tornando anlogos ou semelhantes todos os seus momentos, desde a Criacao até o presente dos intérpretes, Ar- ticulando essa repeticio, Vieira escrevew uma Histéria do Futur, titulo que ficou parado- xzal desde a segunda metade do século xvist, quando a hist6ria se constituix como‘ disci- plina do que no mais se repete ou do que sé se repete como farsa da tragédia que foi na primeira ver. itil tratar desse modo particular de define do acontecimento histéi- 40 Refro-me as artes luso-brsilevas determinadkas teologicamente pela neo-escolistica, evidentemente, no século 9, estem artes odenadas por presrigbes apenas retdrico-posticas “4 ROSTLEG, Reinhardt Le futur passé des temps modemes" In Le futur passé, Contibution d la sémantique des ‘temps historigues (Traduit allemand par Jochen Hoock et Matie-Clae Hock, Paris HSS 1900, 46-030 Adolfo Hansen 0 figurado como repetigdo da Identidade divina, para especificar a natureza metafisica da normatividade teol6gico-politicaeretérico-postica das representagbes colonia. Para tanto, oportuno especificar o que sio a linguagem eo corpo na representaggo do steulo xvit, Pode-se dizer, de modo sumétio, que nela a linguagem é, antes de tudo, ‘uma jurisprudéncia ow usos autorizados dos signos, que prescrevemn que todas as ima- gens, discursivas plisticas, musicats, gestuais, devem ser boas imagens reguladas ow controladas em regimes analégicos de adequages verossimeis e decorosas. Aqui, 2 concepcéo de signo € outra, ndo-cartesiana, pois néo distingue ‘conceito” de “imagem”, por isso também é exterior aplicar as representacdes coloniais o par“significantelsignifi- cado” da lingiistica saussureana e pés-saussureana. A representagéo é uma estrutura quadruple, pois também a substncia da expressio ea substincia do contetido, classifi cages da lingiistica contemporinea do que nao € distintivo na definigdo da estruturali- dade das linguas,significam, uma vez que a substi sonora das linguas ea substan- cia espititual da alms sio signos ¢ efeitos reflexos da sua Causa, Na substincia sonora das linguas entéo se éem os indices da lingua adamica e de Babel, o que autoriza enun- ciados como o da falte de Fé, de Lei e de Rei dos tupis do litoral brasileiro, quando se observa, no século xvr, que sua lingua néo tem os fonemas /fl/h/t/.Ou.as ctimologias das claves universales, estudadas por Paolo Rossis, que se tornaram fésseisintelectuais fantasiosos nas interpretagbes feitas depois da segunda metade do século xvutt. Do mesmo modo, a substincia da alma, definida como unidade de meméria, vontade & inteligencia, ¢luminada pela Graga, que a predispde ao Bern. Aqui as apropriagées neo- escoldsticas da mfmesis aristotélica compoem os efeitos das representagdes como seme- Thangaediferenga por participacio analdgica da linguagem na substancia metafisica de Deus. Segundo as representagdes, Deus, Causa Primeira e Final da naturezae da hist6- tia, ilumina o jutzo dos autores no ato da invengao, que estabelecerelagdes simpticas e antipéticas, agudas e vulgares, prazerosas e desprazerosas eficazese afetadas, mas sem- pre regeadas segundo os verossimeis dos géneros ¢ 0s decoros especificos das ocasibes da hierarquia, Sendo neo-escoléstica e pré-cartesiana, essa jurisprudéncia no subor- dina a tepresentagéo a uma razio suficiente, como cogito, mes 40s fantasmias ou ima- gens da fantasia, Diferentemente do cartesianismo, nao distingue idéia de imagem, como conceito inteligivel e imagem senstvel, pois define a imagem como formulacio ¢ vibualizagdo simultaneamente intelectuas e sensveis da idéia, Antes de sua representa ao exterior, as imagens menteis so defin des ilustradas, como propde Cesare Ripa, 45 CF 059, Paolo, Cvs Universal. Arts dela mémore logigue combinatoreet langue universe de Luled Lebrie. Traduit de italien par Patrick ight. Grenoble: Jerome Millon, 1993. Barroco, neobarroco eoutras ruinas - 47 imitad{ssimo,no Proémio” do Iconologia, em 1593: antes da sua representacéo exterior, so conceitosintelectualmente visiveis como entimemas ou silogismos retéricos produ- zidos dialeticamente pelo jufzo. A forma-matrie de qualquer imagem é a metafora, pois 4 imagem-conceito € inventada associativamente pela fantasia aconselhada do juizo, ‘que aproxima e condensa outras imagens-conceito fornecidas pela meméria dos bons sos, estabelecendo novas associagGes imaginarias com elas por meio das semelhangas € diferengas que as especificam. Definida como presenga da Luz divina na consciéncia, segundo as analogias de atribuigéo, proporgéo e proporcionalidade, a imagem faz ver, quando representada exteriormente, a Causa que orienta a operacao légico-cdial o-ret6rica que inventa, No caso, afirma-se que o atributo do Ser aplica-se a todas as «oisas da natureza e eventos da hist6ria, fazendo-os convenientes entre si por isso mesmo, diversos diferentes. Todos os eres sio semelhantes per ordnem ad unum ou ad raaximum,como doutrina Santo Tomés de Aquino, recuperado pelos preceptistas do século xvi, Bem todos 0s andlogos, enquanto sao anélogos, sempre se poe o Um como Adefinigao de todos os outrost, 0 estilo acumulado das representagdes decorre no de itracionalismo “barroco”,mnas da teatralizasio da presenga divina nos géneros espécies, individuos e acidentes hierarquizados dos seres criados. A proliferagao sensivel dos seres, metaforizados, opostos,deformados, espelhados, dobrados,alegorizados, acumu- Tados realiza a presenca da Unidade para destinatérios incuidose integrados nos esti- Jos como testemunhos do Fundamento da ordem hierérquica, que difunde, impée e defende sua Ordem na defesa militar, na exploracéo econdmica e na conquista espiri- twa do territorio, Teologia-politica e poder No caso, ¢ itil lembrar, com Kantorowicz, que nos sécu- los xvr e xvur, sob a autoridade do papa como princeps e verus imperator, 0 aparelho hierérquico da Igreja Romana mostrou uma tendéncia ase tornar 0 prot6tipo perfeito de uma monerquia absolutae racional sobre uma base mistica, enquanto que, simalta- neamente,o Estado manifestou mais e mais uma tendéncia a tornar-se uma quase-Igreja uma monarquia mistica sobre uma base racional.« Na teoria do poder dessa “quase- 481.) analogs omnis, in quantum analoga sun, semper unum paniturin defntione rum’ St. Tomas de Aquino Suma theol, 4.9 13,285,630. «raves, Ernst"Mysterie of Staten: Selected studies, New York 965,9.382, Apud CourtneJeanFrangos. “heritage scoastigue dans a problématique théologique-poltique de Age Classique In wécHoutay Henny (di. zat boroque 1510-1652 Regards su lapensée politique dela France premiere sce Etude lminaie de ‘Emmanvel de Rey Lacie Place de André Robinet. Pars Libre Philosophique Lin. 1985 9.0. 48+ 030 Adofo Hansen Tgrejae monarquia mistica sobre uma base racional”,a metéfora do corpo, modelo do

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