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Ao longe, ao luar
Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Autopsicografia
O poeta um fingidor.
Finge to completamente
Que chega a fingir que dor
A dor que deveras sente.
E os que lem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
No as duas que ele teve,
Mas s a que eles no tm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razo,
Esse comboio de corda
Que se chama corao.
Que no havia.
Se agora a lembro,
Faz-me chorar.
III - Ao Entardecer
Ao entardecer, debruado pela janela,
E sabendo de soslaio que h campos em frente,
Leio at me arderem os olhos
O livro de Cesrio Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um campons
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
o de quem olha para rvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que h pelos campos ...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pr plantas em jarros...