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a | BRASIL: Questées Atuais de Reongantizacio do Terrtdcio 6 um conjunto articilado de textos tf regultantes de pesquisas diversas, que tém em tral, 0 estudo das novas eestruturacio do territério inte necessidade comttim, como objeto dindmigas que atuam. rind Este lives respon \ de pensar o pais diante dos Bg contextos 7 contemporaneidade, Globalizagio, ‘inovacées tecnolégicas, trafico de xio entre as inovagbes tecnologicas, as redes de tleco- smurnicagGes e suas relagbes com a rede urbana, tentando apreender os lagos entre as cidades que, enriquecidos de ‘uma nova dimensio “informacional", se diferenciam os agos do passado, apontando 0 novo desenho das bhierarquias urbanas no pats. ‘A diferenciagao entre as metrépoles brasleias, smesoracio 0 ‘enquanto centros de gestio do territrio, é descrita por Roberto Lobato Corréa, dentro de um quadro tesrico ‘que procura relacionar espace, corporacbes e dinimica ‘metropolitana. Sua contribuigso tem © mérito de apon- tar novas questes de Ambito geal sobre a reflexio do papel desses centros na atualidade brasileira. ‘Numa perspectva histrica, 0 estudo de Mauricio de A. Abreu relaciona o pensamento sobre 0 urbano ‘com as transformacbes da sociedade brasileira. A cidade colonial, 0 pensamento higienista, as reformas urbanas compéem o temérlo desse artigo que pretende resgatar a reflexao sobre a cidade brasileira do passado e a natu reza destasreflexies. Claudio Egleranalisa a integragioe a eise da base téenica na economia nacional, a partir das estruturas produtivas regionals. Investigando os problemas da ‘modernizagio conservadora no pals através da anato- mia regional, o trabalho desse autor articula, dessa forma, as escalas nacional e macro-regional Enfocando prioitariamente a escala regional, cinco autores refletem sobre 0s impactos da modemizacSo nas ‘estrturas produtivas a dimensio politica das ransforma- 60s, seus conflitos seus efeitos sobre o trek. A tran- sigo de uma economia de frontera para 0 desenvolvi= ‘mento ostentivel, © papel das organizactes da soiedade civil ea politizagso do discurse da biodiversidade cons: ttuem o novo contexto sobre o qual Bertha Becker exami- naa questio da Amazénia hoje. Maria Celia Nunes Coe- ‘ho, por sua vez, privilegia o papel da Companhia Vale do Rio Doce como principal agente da producto de um novo ‘espaco geogrfico, na Serra dos Caras no Pari, centrado no extrativismo mineral e em aividades agropecuias, ‘enfatizando os contrasts ere os niles urkanos de or ens dstnias eonacleo garimpeito de Sera Pelada a mat. ques usa sncazaiono ran ‘Apoiandosse em pesquisa no Vale do Acu, no Rio Grande do Norte, Iné Elias de Castro aponta 0 confron- to entre um discursoagrévi tradicional e conservador € lum outro que, oriundo de uma agricutura fortemente capitalizada e dependente de novas tecnologis, 0 agro- business, se insinua progressivamente na construcio de ‘um novo imaginsslo regional. ‘Ainda com referéncia 20s efeitos da modemizacio a agricultura na escala regional, Jlia A. Bernardes dis- cute 0 impacto do complexo da soja em Rondonspolis, ‘no Mato Grosso, vista como um produto da globaliza- io e organizada sobretudo pela agdo de empresérios ‘oriundos do Sul do Brasil. Os mesmos elementos temé- ticos sio etomados por Rogério Haesbaert no contexto regional do Oeste balano. Este autor destaca, sobretudo, ‘© choque entre as identidades confitants de gatichos € balanos, que disputam o controle politico sobre 0 nove espace produzide, (Os orgonizadores Parte I Escala Global © Comercio Iicrro pr Drocase a GEOGRAFIA DA INTEGRACAO FINANCEIRA: UMA SIMBIOSET Lia Osério Machado! (© proposito desse trabalho é, em primeiro lugar, abordar os temas do conve ilicto de drogas eda inte- sragio mundial do sistema finaneeiro de um ponto de ita geogréfio, entendido aqui como a vsualziio das dlimensdes espaciais e dos padroes geograficos que ‘assumem no mundo contemporéneo. Em segundo ugar, com intuito mais espectio, se pretende explorar _quais as relages e até que ponto existe uma simbiose entre as organizacBes que exploram 0 comérco de dro- {gs ilictas, o sistema bancirio, que realiza alavagem de ‘dinheiro, eo sistema financeiro, onde o dinheiro se transforma em capital. Simbiose no sentido de que, em- bora sejam organizagoes dissimilares, convivem numa ‘elagdo mutuamente benefica. Essa possibilidade j fot ‘Dcpurmcte de Cog. equoaors CNDQ/FINET apo eee me deve abe de ay Cone een ‘Stiman eS te yo tka Pal Lt da va \cencure * sys qs amasoa arncanzachonoTRTORD sugerida por alguns autores a partir do angulo econd- rico (LYMAN & POTTER, 1991; SAULOY & LEUONNIEC, 1992; BLIXEN, 1992). Uma abordagem gev-econdmica € _geo-politia talvez permita encaminhar a idéia de que ‘essa simbiose se apdia na contradicio, presente na origem e no desenvolvimento do sistema capitalista, ‘entre processos de transnacionalizagio e formagio de rmercados mundiais (no nosso cas, dinhelroe drogas) ‘0 Estado Nacional. ‘Do ponto de vista estritamente geogrsfico, 0 ma- [peamento e anise da disposicio espacial dos elemen- {os que comptem essas organizagbes mostram nio s6 a condigio necesséria de transnacionalidade das inte- ‘agbes como também o papel peculiar e cantingente que © leritrio e as fronteiras dos estados nacionais estio assumindo nesse process Para explora essas questOes através de uma avala- ‘lo das rages entre as reds de comico ico de dro- ‘825 € 05 sistemas Dancério e financeiro, 0 trabalho fot dividido em duas partes. A primeira parte procuraesta- belecer a complexidade desse comércio e sua relagio Jimediata com 0 sistema banciro através dos processos de “lavagem de dinheiro. Na segunda part, as proces- s0s de lavagem serio contextualizados no Smbito mais, ‘eral da geografa da integracio mundial do sistema fi- nanceiro, procurande-se mostrar alguns dos mecanismos ‘dese sistema e suas relagdes com 03 estados nachonas. [Nao seri dado um destaque especial ao Brasil e sim sua Jnsergio (na condi de estado nacional nesse process, Para a geografia, esses temas néo podem mais ser ‘onsiderados nem marginais nem eventuais. Temas con- siderados de dominio exclusivo da economia, como 05 rmecanismos dos sistemas financeiro e bancirio e a ‘questio fundamental do ero, precsam ser inegrados coutzcnnsro oan. ” 2s outras ciénclas socials. No plano mais imediato, Porque se mostram essencais para a compreensio dos ‘arranjos espacials’ que materlalizam os processos so- ais contemporineos, assim como os de sua mudanca, dependente, em grande medida, da dntimica dos inves- timentos de capital. No contexto das relagies capitalis- tas, porque entre o econémico e 0 polticoespacial nio ‘existe uma relagio de exterioridaie ou sea, néo deriva de processos auténomos e justapestos sim de proces S05 interatives. Finalmente, no plano epistemolégico, porque “nio importa qual seja 0 sistema conceptual, [sea ele da cigncia econdmica ou da ciénca geogrifica (ude qualquer outracignca, sua pertingncia néo pode ser fundada sobre si mesmo, dependendo de proposi- ‘8es incompletas que vém de fra, seja da ‘realidade’, sea de outras disciplinas® (BAREL 1984: 6) ‘A Complexidade do Comercio Iiito de Drogas ¢3 Lavagem de Dinheiro “Lavagem de dinheiro” ou “branqueamento de dinhiro” & como se denomina o procesto mediante 0 ‘qual o dinheiro obtido por melos legis passa condi- ‘Se de legitimo ou tem suas origens legals mascaradas. Essa rcielagem de dinheira “lito” ni recobre apenas ‘9s uctos obtidos com o comérco ilcito de drogas: pode envolver a fuga de captais, 0 dinheiro proveniente do ‘contrabando de armas, de grios, de produtos eltréni- 0s, de matérias-primas para a fabricagio de armas nu- cleares, assim como os lucros provenientes de servgos freqientemente controlados por mifias(prostituicio, holds, jogos de azar, casas de cambio etc). Existom diversas e freqdentemente contraditérias ‘estimativas do tamanho da economia ilegal, quando esta . asses TAs EORACAODO TEND 6 definida com base em atvidades consideradascrimi- noma. Nio 6 por causa da condo de ilegaidade, mas também porgu 0 cial tem sido muito ditonsonado pela manipulaio politica das cfs. Contudo, uma re- luindo aqueles provenientes do tafco de drogas, io da order de um trl de dolaes,wepresentando uma quanta eguivalente ao PNB do grupo de pases de basa renda (com populago total de tr ihe de habitan- tes) No que se efere A lavagem de dinheiro, a ONU es fimou qu si procssados US$ 120500 biles po ano através do sistema bancirio mundial Golomon, 194). 'No processo de lavagem de dinheiro a economia ilegal tinge seu ‘ponte de bifurcagio': dea para ts sua condo legal e passa a interara economia lita Essa quebra de simetria entre 0 ‘antes o ‘depos’ #6 € ossivel gracas a alquimia reaizada pelos sistemas ban- ‘rie inancxry que transforma odinhera sj em d- nheirolinpo através de operages numériase certos Jogos de deslocamento geogrfico, ‘De antemio& preciso notar que amaior parte das ‘bes nacionaiseinternaconais de controle da lavagem de dnb, na ima década tem tido como alvoprit- cipal os “narodolaes. Linhas muito finas exo sendo tracadas para diferenciar os divers tipos de dinero ado" no sentido de solar aquele originsrio do nar cotrfca? Os narcodslares, por exempl,seiam consi 20 eran aati ¢ aunt alo pr ep ow nee centro doo EAs. ® derados como “dinheiro sulo” (dirty money); 0 dinheiro {que procura escapar do controle egulador e/ou fiscal (texas) dos Estados nacionais (caso fiscal) podria ser categorizado como “fuga de capitas", enquanto o movi mento de curto prazo de capital especulativo seria 0 “dinheiro furtivo" (Kot money), as vezes também co- ‘hecido como “dinheiro negro” (back money), se Ie for atribuido um cardtercriminoso. ‘As tentativas de diferenciac3o desses diversos “tipos' de dinheiro partem de um conjunto de pressu- postos bastante discutives: 0 pressuposto conceptutl, de {que seria possivel manter 0 “certifcado de origem” do dinheiro depois que ele entra nos sistemas bancirio e financero; o pressuposto de que é possivel uma fansf- rénci do sentido de moratidade da esfera privada para a esfera piblica, a0 se querer atribuir a dinheiro movido ina esfera das instituigdes socials um sentido moral, ‘ico, autdnomo, semethante as restrigbes operantes na circulagio de dinheiro na esfera privada (do individuo) (RORTY, 1989); 0 pressuposto de uma unica e monoliica contigo de legalidade das priticas banciriase fiar independente de sua contextualizago social, geografia epalitca, ‘A discussio sobre o primeiro e 0 altimo desses pressupostos sera encaminhada aqui, deixande-se de lado, por ora, o segundo pressuposto. Para o controle da lavagem de dinheiro prove- niente do trifco de drogas, ou de qualquer outraatvi- dade iicita, 0s instrumentos que esto & disposicio de Estados nacionais e organismos internacionais s6 podem funcionar no primeiro estégio, quando do Aepésito do dinheiro “vivo” no banco (colocigio do di- nheiro) (Figura 1). Esse primeiro estagio da lavagem depende de facilidades oferecidas por instituicoes Figura 1 —Lavagem de dinero ys. qt russocmecunsclosoraanian comaco enone. » Dancétiase financeira, mas também do lugar gegrificn onde sio feitos os depésitos, uma vez que existem lugares com maior e menor tolerincia em relacio a0 controle desse tipo de depésito. Apesar disso, mesmo fem pafses com legislagio rigorosa a respeito, como 08 Estados Unidos, as organizacées criminosas tim con- seguido driblar os instrumentos de controle de entrada de dinheiro no sistema bancério. Isso é possivel, em srande parte devido aos interesses do banco hospedei- 1, pois 0 aumento do risco,resultante de uma logstica ‘mais complicada, pode beneficiar © banco pela aplica- ‘fo de maiores taxas bancérias (LYMAN & POTTER: 150; LUNDCP: 28). O certo € que o “dinheiro sujo", no momen toem que consegue entrar no sistema bancitio, se trans- forma em dinheiro como outro qualquer, ou sea, perde seu “cetificado de origem” (SDAMEL, 1907), Por esse processo€ que o sistema bancirio @, even: tualmente,o sistema financeiro potencializam © poder das organizagées criminosas Iigadas ao trifico de dro- ‘gas ou mesmo de qualquer outra atividade ilicta que rmexa com grandes somas de dinheiro, Os mecanismos ‘riados pelasinstituigSes financeirse pelos bancos de investimento permitem que essasinstitugBes atuem de ‘maneira independente no mercado de dinheio, consti- twindo-se no meio através do qual 0 dinheiro “sujo" é transformado em “hot money", em crédito para investi- ‘mentos produtives, ou em divisas, quando da captacio de recursos externos por parte de um governa nacional E preciso, contudo, considerar as especificidades do comércio ilcto de drogas. As onganizagées ligndas a esse comércio podem ser relacionadas, mas nfo podem ser identificadas com os sistemas bancirio e financeir. De modo geral, a evolugio recente do comércio de dro- ‘5 sugere que: a) apesar da expansio da indstria da 2 rmxsruesesaras on ncaa ovo Tm DEA (Drug Enforcement Adonai) US. Dept sc. “Asin “Money MoverertMthods" (980, publndo en Sure De app 3958 ma 8S canto ska 080C, ° DEA. National Nats Iliac he sap fi drugs tthe Unie Stes Washington ast, 95- [DUPUY, JP. Onde of tiorde Eng sr am noon prion, Pas Sul 15. SCOHOTADO, A Hiner de as gu, Madd, Allon Editi, Sl 198%, 1B (GLOBO. “EUA investiga a tovagum bedi”, O Clb 17 ‘aco p 2 1996- (GRUPO DE DIARIOS AMERICA. “Pato Latinoamericano", Oi an p16. HARTLYN, J Drag rfing and demaracy tClabi i th 19805 ‘Working pope 5/4 CPS Boclons, pS. HARVEY, D. The contin of prtnodraty, London Blackel, 1968. HUBERMAN, B. "Te prormanc of eoopeaive systems”, Physi Daa 367,190. JORNAL DA TARDE. “sabe anblen gr fuga de cap, ert deur 191. 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Na primeira parte deste estudo algumas reflexbes teéricas sobre as relies entre metrSpoles,corporaces ‘© espaco sio elaboradas para, a seguir, apresentar 0s =o tae de rap aa sn ma i Fert ar Sart de Ss, ania eng Cec, pase ‘gov onpiiaco ds « mys qusies uns on aonczicho TREN procedimentos adotades e discuir os dados aqul uli- lizados. Nas partes subsequentes os resultados so apre~ sentados. “Metropotese a Funcio de Gestio do Territrio Ente as fungées tipicamente metropolitans inclu- se aquela de controle das atividades econdmicas que, ‘riadas por empresas sediadas na metropole, protam- se diretamente em espacos externos a ela. O controle destasatividades consttu-se numa das bases da gestio do teritrio, gestio que se torna complexa quando efe- tivada pelas grandes corporacoes multifuncionas, seg ‘mentadas, mullilocalizadas e dotadas de enorme poder ‘econémico e politico, conforme, entre outros, aponta ‘conRéA (19913), Subjacente a funsio de gestto do territério ests a necessidade da corporacio conceber, plansjar e geren- ‘lar ciclo de reprodugio de seu capital, ciclo que tem uma nitida e complexa dimensio espacial, envolvendo ‘centros urbanos e Seas rurais nas quais 0 capital circula em suas diversas formas e & ampiado, concretizando a sua acumulacio. A sede social da corporagio, onde decisdes econémicas e politicas so tomadas, constitu '@ no pont focal onde o ciclo de repraducio do capital {tem inicio, inalia erenica-e. Por concentrar a malor parte das sedes socisis das ‘maiotes corporacées, a metrdpole transforma-se, por cexceléncla, em centro de gestio do terrtéro, ou seja,em ‘centro de investimento e acumulagso de capital, centro Privilegiado do ciclo de repreducio do capita, onde se {di a gestdo do processo de cragho do valor e ctiagio, ireulagio e apropriagdo da mals-valiaem amplo espaco ares oROIGOSED “ _Beogrifico. A consulta as obras de HABveY (1980 © 1982), MORAES COSTA (1984) € SANCHEZ (1991) 6 de fundamen- tal importincia parao tema em tela. ‘Associadamente, na metrépoe esto lcalizadas as principas insttuiées do Estado, assim como universi- ddades, centros de pesquisa e desenvolvimento, aumero> +43 empresas de consultoria econémica, juridica etécni- ca, empresas de publicidade e marketing e poderosos conglomerados financeitos com suas proprias redes de ‘agencias partcipacio aciondria em diversas empress. Restaurantes e hoiéis de luxo, centros de con- ‘vengdes, clubes e servgos sofsticados para os “execu tivos do capita” também esto presentes na metrépole ‘Aeroportos com amplas ligacbes nacionaise interna conais garantem répida e facil acesiblidade, a qual é também viabilizada pela efciente cireulagio de infor- ‘magées tanto para o consumo de massa como infor- "mages entre suas diversas empresas assim como infor- 'macbes no Ambito das corporagées, entre as sedes e as tunidades subordinadas e espactalmente dispersas. A metropole, centro de gestio do territério, é, por isso mesmo, um importante né em vasta rede de cirulagao ‘envolvendo informacées, matérias-primas e produtos Industralizadas (conmen0, 192). ‘As atividades acima indicadas conferem & metré- pole, no dizer de sts (1985), baseado numa formu Iago de CorTMaNN (1961), a denominag3o de centro de atividades quaternérias. © conhecimento sistemstico estes centros demanda esforco por parte daqueles interessados no estudo da organizacio espacial. Hi, ‘entretanto,contibuigiesefetivas sobre o tema. Consul temse, entre otras, 0s estudos de COODWEY (1968), FED » saa ques rasa cacazaovo rau (1974 esoncr (1978 para.os Eads Unis, srace- {AND e AE (1988) para a Aleman, 16/0 € TIT (0980) para a Austria € Conse (1965, MAcNANI!€ {ua (1971) corso (1987 para o Brasil (© contol pla metdpote das atvidades etera- rent localzadas pode se realizar de modo dro ein Cireto.Oprimeiro resulta tanto da cra plas empre- ss metropoltanas de atvidades em outros gare co- smo da aor de empresisconcorentes ou de algumas das unidades fabris destas dltimas. Criagio ¢ absorgio {ue se inserem no process de expanio de empresas vitriosas na competigi capitalist, Este proceso, por sua vez, € marcado pela concentasdo horizontal con- centragio vertical ou integrase pela diversifcagso (ras, 174 coma, 1930 1). Estabelece-e assim uma rede constuida pela ‘empresa seus etabelecimentos-filais, no caso mais simples, e pela empresa “hong” (controladora) © empresas contoadas (90% ov mas do capital écontro- lado pela “holding”) ¢ coligadas (menos de 50% do capi- tal ¢ os estabelecimentsfllais das empress conto- ada eligadas nos out os. ‘A expansio, por sa ver, deriva das necrsidades intrnsecas & empresa ea sistema capitalist, sucitan- do novas lcalizagbs acessves 8s matérias-primas, ‘mercado consumidor.a uma forca de trabalho mais taratae politicamente menos ative, ov a uma combi agi destese outros fatores loons. Os argumen- tos de mLLox (978) oa este respeto,extremamente esclarecedores, Subjacente iquelas necesidades loca Clonal ets a tentativa de superar a tendéncia dec ante da taxa de luro. A difusio espacial das abii- irs comonciseenco. , Toca 3 a Sage [a9 ape = a 7 ga eI wae : = ar w|i Fete Cen nd * maser amas oAMHCAZACODO TRO vo € menor sendo menor 6 valor a mais-valia produzi- ‘dos. Em outras palavras, 0 Sudeste eo Sul sia as pring- Pais regides de producio de excedentes pata a acumu- lagio capitalista centrada em Sio Paulo e Rio de Janeiro. Deve ser assim relatvizada a tese de que Sio Paulo « Rio de Janeiro, ou o proprio Sudeste, se tornam mais ricos que o Nordeste, em razio, sobretudo, da explo- gio exercda sobre esta regido. A este respeito a con- Lubuigdo de SINGER (1968) sobre © desenvolvimento de ‘io Paulo e Recife extremamente esclarecedora, cons- tituindo-se em fonte de reflexdo sobre a questio acima indicada ‘Uma anslise mais acurada das informagdes cont- as nas Tabelas 4 e 5 permite ratiear ampliadamente a constatacio do carster espacialmente concentrado da atuagio das duas metrépoles nacionas, assim como a afirmagio anterior sobre a producio ¢ ciculagso do vvalore da mais-vaia. crus comes ° Tabela 4 — Principais Centros de Atuagio de Sio Paulo Segundo o Nimero de Assalariados Externos f= Nae Nae 5 Unidades] Assal-|Centrose Unidades| Assla- ‘daFederagio | riados | daFedersio | riados extemos lextemos Taaercreess]| me | Wioetamah [oe Tn ove | a oa ae SS ET Foe Sa | am 2a Eero [ Toe | es Tar Ree Ta [Breet | aa ene Cons ndutial — BCE — 1988 « syst so RORAGAOCOTIRENEND ‘Tabela 5 — Principais Centros de Atuagio do Rio de Janeiro Segundo o Namero de Assalariados Externos Nide Nae Centres Unidades | Assala- [Centrose Unidades| Assalz- ‘daFedergio | rados | daFederaglo | slados lextemes| extemos Waeamwan | rose | wrnnrtoway | ana yt) so [Si ae [ctomannca | oe | mon 2 Fc as | ove | oo a ES aa Fonte Cen Intnl — IBGE — 1985 A despeito de Sio Paulo atuar em um nimero maior de cents com 2.000 ou mais asalriados externas que © Rio de Janeiro, a atuagio de ambos &semelhante, Assn, dos 40 centros sob a influéncia paulistana, 23 estio em territrio paulista; considerando-se as regides Sudeste € Sul este némero sobe para 36. Apenas quatro centros — Recife e Salvador na regido Nordeste e Andpolis e [Niquelindia no Centro-Oeste — aio se stuam nas eferi- as unidades regionas. Em relagio 8 metrdpole carioca, 13 dos 16 centrosestio nas regis Sudestee Sul — ape- ‘nas quatro em teritrio fluminense — e somente ts fora — Salvador, Recife e Aracau, todos no Nordeste Deve ser ressltado que a regido urbano-industrial do Sudeste constitui-se na principal area de atuacio paulistana, A referida regio tem como epicentro a ‘metrépole paulistana, de onde estende-se em dinegio a quatro eixos, O primelro vai até Sorocaba, passando por emis comes. » ‘Mairingue, enquanto 0 segundo desce do planalto para ‘2 Baixada Santista. Si0 os dois menores ebxos.Oterceiro estende-se, através do Vale do Paraiba até a metrépole ioc, passando por Sio José dos Campos, Taubaté e Volta Redonda — Barra Mansa, entre outros. O quarto, por sua vez, dirigese para Ribeirio Preto passando por Jundiai, Campinas, Americana, Pracicaba, Limera, Rio Cara, io Carlos e Araraquara, entre outros. Tratase de ‘uma megalépole em formagio, para a qual a criagio de atividades industrais a partir de Sio Paulo, e secure dariamente da metrépolecarioca,constituise no princi- pal fator. ‘Dos 40 centros considerados na Tabela 4 vinteestio ali situados, enquanto que dos 16 da Tabela 5 apenas (quatro se situam na regido em questio. Em reslidade, constata-se que, do total de assalariados exteros paulis- tanos em terri paulist, cerca de 80% estio na regio uurbano-industrial, correspondendo a mais de 160.000 assalariados externos, um mimero maior que aque cor- respondente& soma dos assalariadas extemos paulistas nos Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Parans, onde Sto Paulo atua expressivamente [No caso da mettopole carioca, © percentual, anda que expressivo, é bem menor, correspondendo a cerca de 33% de seu foal geal. Resslte-se ainda que cada uma das duas metrépoles atuaintensamente na outra indi- ‘andoa importincia de ambas como mercados consumi- ores e centr de dstribuiglo da producto industria ‘A atuagio espacial das duas metrépoles pode, em realidade, ser assim sumariada: i— Na regido urbano-industrial, Sdo Paulo e Rio de Janeizo atuam diversificadamente em numerosos géneros industrials, concentrando-se ai parcela ” sys ques MSN ArRCANAGLODO RTD ponderivel dos asslariados extemnos de ambas as ‘metrOpolesem diversos gener industriais i —O restate do Estado de Sto Paulo, particularmente © Planalto Ocidental, constitui-sena periferia ime> data da regido urbane-industrial. A atuagio da retropole paulista se faz, basicament, através do ‘controle de atividades Industraisligadas direta- mente & producio agropastoril:usinas de agécar, frigorfcos,usinas de dleos vegetais, beneficiamen to de eitee seu processamento, eo de sucos de fru tas. Ha, adicionalmente, entre outra, indistrias textile de minerals ndo-metalicos. Dente os cen- t1os urbanos sobressaem Andradina, Aracatuba, Barretes, Bauru, Bebedouro, Colin, Jai, Presidente Prudente e Presidente Vencesla ‘A periteria imediata estende-se para o Sul de Minas, onde algumas unidades fabris controladas ‘por Sto Paulo Sio tipicas da regiio urbano-indus- trial, o Triingulo Mineiro e parte do sul goiano e leste sul-matogrossense. No eonjunto concentra ‘cerca de 50.000 assalariados externas, mais que, So- ladamente, qualquer outra Unidade da Federacio. ‘i— Além da regito urbano- industrial e de sua periferia imediata,a metropole paulista atua nas metr6poles ‘egionais que concentram cerca de 45.000 assalaria- dos externos, dos quais cerca de 60% em Porto Alegre e Belo Horizont. Distingue-se, no caso, dols tipes de atuacio ppaulistana, Nas metrépoles do Sudeste e Sul, S80 Paulo controla unidades fabris produzindo bens sents comoracteseasncn . para os mercados rgionais e nacional, assim como ‘estabelecimentos-filiais, que sio unidades de ven- «das e manutengéo de bens e equipamentos pro- Por isso, primeira parte do trabalho apresenta a histria da implantacio das redes de telecomunicagdo no Brasil, -mostrando como a intervencio direta do Estado se ins- ‘reveu num verdadeiro projto nacional de aquisigdo € ‘de dominio tecnoligic, com novos desenhos institucio- nal, industrial e espacial. Na segunda parte, apresenta- ‘mos a configurag3o das redes de informacio, meio privi- legiado de compreender a formagio do espaco econdmi- «0 brasileiro na atualidade e de apreender of lagos entre 2 cidades, lagos qu, enriquecidos de uma nova dimen ‘so “informacional” se diferenciam das laos do passado, Inovaglo Teenolégica e Redes de “Telecomunicagio A citagdo abaio, transerita de uma publicagio of al brasileira, esclarece as condigies de funcionamento, no inicio dos anos sessenta, das redes de telecomunica- ‘lo implantadas na virada do século XX: 5 nas por M. MINGNIEN prop da eda (6, sEMENCASENONSONIICS, ™ “0s investidores estrangeiros, quando vem analisar as oportunidades oferecidas como merca- do para novos empreendimentos,ficam surpresos com 0 grau de deficéncia de nossa infrastrutu- 12.08 meios de comunicagio so precitios e pou- «0 rendimento oferecem no sentido de dar apoio ds relagbes ¢ trocas comerciais. Um aviso de crédito leva cerca de 30 dias. Uma carta, quando a sorte ajuda, chegaalgum dia. Faltam-nos 0s servgos e- Tefénicas tlegrficos. De Sio Paulo para o Rio e vice-versa, 0 drama da comunicacio telefénica se agravaa cada dia que passa. Jd ndo sabemos dizer {qual a melhor hora, porque durante o dia as linhas ‘stdo ocupadase& noite o interurbano nao respon= de" (Boletim Cambial apud RATINEE, 1972: 58), ‘Como tamanha obsolescencia dos servigs tlefOni- 0s pode sucuer-sea um periodo de forte investimento € de répida incorporacio do progress técnico no inicio do século? Com efeto, na virada do século XX, as inova- Bes nas técncas de comunicagio ocoreram a0 ritmo de sua invengio e de sua aparigio no mundo: em 1901 fo ‘naugurada em Porto Alegre a primeira central telefonica a bateria central, com uma rede de cabos sublerrineos: 8 ‘elefoniaautomatica, que se desenvolveu na Europa em tomno de 1910, 1 implantada em Porto Alegre na década seguinte.Essas inovagbes foram introduzidas pela firma ‘anaudense Brzilign Traction Light & Power, principal res- ponsivel pela exploracio das redes telefOnicas através do sistema de concessio* Entre 1900 e 1920, os investi- 0 a de cone dae es eens eta ‘eter flr pt ase a Rep panna epee “Unsaafedencoe pan mci oe ms qsresruasonoRCANZAGiO DO ERTS rmentos em linhastelefonicas se multiplicaram a fim de acompanhar uma demanda social cescene. Seguindo @ ‘modelo mundial, fei “a cidade e mais predisamente a Dburguesia de negécias urbanos que fo lente do telefone «permit seu desenvolvimento” (DUPUY, 182: 78. Politicos, comerciantes e industiais asseguraram a ‘expansto das primeiras linha telefénicay,cujadistebui- ‘fo heterogénea revela os principais epicentos da eco- ‘nomia brasileira. O Distrito Federale os estados do Rio ‘Grande do Sule de So Paulo acambarcavam juntos 76% do total de tlefones do pals em 1913," apontando para a ‘emergéncia de novas formas de organizacio social e ‘espacial —o trabalho assalariado ea urbanizagio. ‘A Estagnacio das Redes de Telecomunicagio [As décadas de quarenta ¢ cinglenta asistram & iminuiglo dos investimentos nas redes de telecom acto, Segundo intepretacso dos organismos oficiais, © quadco de estagnacio e de obsolecencia das redes seria explicado: de uma parte, pela Segunda Cuerea Mun- dial, que freou as possibilidades de importacao dos ‘equipamentos; de cutea parte, pela competencia disper- sa entre as administraches de diferentes niveis (Federal, festadual e municipal) para a concessio da exploragio privada das redes telefOnicas. primeiro argumento «3 valido para um curto periodo, quando, de ato, guer- 13 praticamente interrompeu a expanséo mundial do telefone. Ao contrrio, a presenga de uma multiplicida- de de instancias do poder piibico, com formas particu lares de gestaoe de Fogo de tarifs, certamente prove: ‘cou um desequilibrio que impediu a expansio do sste- Fem oral tan cn 28478 Wid ris por ed afer IT, ‘ma existente. No inicio dos anos sessenta, 0 pals abriga- va mais de 800 companhiasteefonicas, com 1 milhio de telefones para 70 milhdes de habitantes. Se a argumentacdo oficial no € fala, ela nos pare ce inguficiente. Com efeito, os dois argumentos enuncia- dos isolam a variéve tlevomunioado das condigbes poli- ticase econdmicas que presdiram, nos anos cingienta, 2 cringio das redes de infraestrutura, Nossa hipStese & {que a estagnagio das telecomunicagées & também refe- rente, de um lado, a prioridade atribuida, desde 195, ‘20 transporte rodowiarlo. A questio central, nesse perio- Ao da histéria brasileira, consistia na integracio do mer cado nacional, pela eliminagao das bareeirasfisicas & livre crculacio de mercadorias, de matérias-primas e de forca de trabalho, Tatavase, asim, de promover uma politica de uniticagao de mercados através do desenvol- vimento dos meios de transporte. O ritmo acelerado do processo de industializagio no governo de Juscelino Kubitschek, centrado na substituigdo das importagdes de bens de consumo durveis (especialmente o$ auto- iméveis) e de bens intermedisrios (combustveisliqul- dos, siderurgia), exigia importantes investimentos do Estado em energiae transporte. Por outro lado, a stag ragéo das telecomunicacSes deve também ser atribuida 23 vigéncia, na época, de um sistema financelro pouco slesenvolvido, que admitia, por exemplo, que taxas de {uros diferentes fossem apticadas dentro do terrtorio nacional. Com efit a industralizacao do pais no foi 2companhada, num primero tempo, por uma reforma Financvira, 0 que assegurou a permanéncia de mercados paralelos de crédito loais ou regionais® anda ds ah M SANTOS 87 dean pape mys. Uetes ASDA MONCH PO TROND A decalagem entre a expansio industrial e a sobre- vivéncia de velhas formas de financiamento no seria tolerada por muito tempo: a reforma financera Segui de perto 0 golpe de estado de 1964. As medidas econd- ‘micas tomadas pelo governe militar tinham pot objetivo 1 modemizagio do sistema financero, sua racionaliza- ‘ho, sua flexibilidade e sua eficicia. Elas engendraram luma concentragéo bancéria, como testemunham a reducio de nimero de sedes eo aumento da participa ‘co relativa de alguns bancos nos depésitos, emprési- ‘mos e patriménio liquid do sistema bancério comer- al A criagio dos programas governamentais de subsi- dios & produgio agricola e & exportagio, bem como a politica de captagio de recursos externas beneficiaram. ‘5 grandes bancos. Els passaram rapidamente a finan- ‘iar 05 mercados de exportacao ¢ de importagio e se ree oa do Ct aa on ev ‘pide de ers de proms de das 3 uoaumbwcrstnorsonanas o Figura 4 — RMSP: Os ns da rede transdata o mx QUST ASDA ORNATE plo: uma analise dos dados na eseala da Amazinia mos- tra ligagdes diretas instantineas de algumas cidades com a metrépole paulista, sem as tradicionais media ‘8s dos degraus médios da hierarquia urbana: as cida- des de Parintns, Itacoatiara, Balsase Alta Floresta “fo- gem’ completamente do controle regional ese ligam ditetamente a So Paulo, ‘A historia da urbanizagio constitui, em grande parte, a historia das redesténicas. Com efeito, a disper ‘ho das atividades econdmicas pelo tertérioe a com ‘centragio concomitante das fungdes de comando e de controle s6 foram possiveis no momento em que as rela- 50es sScio-espacais adquiriram uma ral fluider. NOs tivemos de inicio as ferrovias ¢ rodovias — eis tangi- veis e reais — que irrigavam o pais com matérias-pri- ‘mas ¢ mao-de-obra. Hoje em dia se superpdem e se Impem 0s fluxos de informagio ~ eixas invisiveis imateriais certos, mas que se toraram uma condigl0 necesséria a todo movimento de elementos materials ‘etre as cdades que els articular. Consideragdes Finals, {A dindmica territorial brasileira passou, nos alt- ‘mos trinta anos, por profundos transformagbes com @ surgimento de novas estratégiasfinanceiras, industrials téenleas. Articulados a um vasto prjeto de formagio ientiia ¢teenoligica, de modernizagio da economia @ de reorganizacio espacial, 0 governo militar que se ins- talou em 1964 implementou uma reforma financeia € ‘uma politica de telecomunicagées. Na auséncia de ins- tncias democraticas de discussio e de contestacio, militares teenocratas puderam impor um modelo bra- HS ERIMCASENONSORIOES. » sileiro de desenvolvimento que assocava estretamente, na sua realizaio, a seguranca nacional eo capital inter- nacional. ‘A politica industrial de telecomunicagies voltou-se para 0s projets de alta tecnologia, buscando acompa- ‘har a fronteira teenologica internacional earacterizada pela substituigSo do paradigma eletromecinico pelo ele- tronico. A reorganizagéo do espaco nacional, condicdo indispensével 3 realizagio do modelo nacional, acompa- ‘hou as transformagdes do setor industrial. Em menos de vinte anos as infra-estruturas de suporte — rede de rmicroondas¢ stéites — cobriram 0 conjunto do terité- io, permitindo a introducdo das diferentes redes-servi- (05. Contud a capacidade das redes-suporte em inte- ‘rat todos 08 pontos do espaco ¢ apenas virtual; com efeito, ela 56 se concretiza no momento de instalacdo das redes-servgo. Or, o caso brasileiro aponta para um pparadoxor a densidade telefonica permaneceu fraca e vem até decrescendo nos sltimos anos, enquanto as redes de transmissio de dados conheceram um desen- ‘volvimentoimpressionante. ‘Num mundo onde o que conta cada vez mais sioa competéncia ea organizagio, as redeseletrOnicas passa- ‘am a constituiro meio de comunicagio que melhor cor- responde & aparigio de novas formas organizacionais da produgio ¢ do espaco das grandes organizagies eco- ‘nomicas. Como sustenta DANTAS (1996: 0} “Ao reduzir a informagio a um mesmo meio se processamento e transporte, a digitalizago viabi- liao seu tratamento por uma mesma medida. Esta medida € 0 tempo: gerar e comuniear informacto ‘consome tempo de trabalho; porém receber infor- ‘magio poupa tempo de trabalho. O valor da infor: ry aa qeses Tuas oa czachooo EATON ‘magio reside justamente nessa poupanca de tempo, ‘que no se relia pela toca na ciculagdo, como na ‘mercadoria, mas pela interacio, na comunicacdo.” ‘A aceleragio dos ritmos econdmicos pela busca dessa poupanca de tempo deu livre curso a todo um jo: {80 de novas interagbes espaciai. Ao contrivio de algu- ‘mas teses em voga, 0 espaco nio se tornou uma nogio fem desuso ou desprovida de sentido, tampouco qual- ‘quer coisa de indiferenciado ou de homogéneo. Assis: timos a0 fortalecimento das vantagens locacionais e & Alferenciagdo crescente dos lugares pelo seu conteido: recursos naturais oferta de trabalho, eds de enensia, de transports ede elecomunicacbes (HARVEY, 1989), ‘A andlise do caso brasileiro vai de encontro 8 visio «de um espacoindiferenciado, reduzido 3 nia nogio de distancia. Observamos um espaco que se ordena em fungio de uma nova diferenciacio que poderiamos caracterizar como diferenca entre o virtual eo real —a integragio territorial através das novas redes de telco municacbes, sem consideragio de distancia, s6 se mate- rializa em fungio de decisbes e de estratégias. A local- zagio geogratica adquiriu um valor estratégico ainda mais seletivo, ‘Ao mesmo tempo em que as redes permitem a ‘omunicacio instantanea a longa distancia, tendem a ser um elementorchave de estruturagdo dos espacos regidos por lacos de proximidade geografica. Assim, no Brasil, 0 espaco teleinformitico é fortemente polarizado em tomo de Sto Paulo’ Esse fendmeno de polarizacio ‘Taam pote ta prt pes Nm ad bres ‘epic tana de yn Loe 1 mnogu Seman ‘muons entre dma de Lyon MoMA ENONASONIC. ‘em torno de uma metrépole nos leva a interrogar sobre a capacidade da teleinformatica em favorecer uma ‘epattica0 mais harmoniosa dos recursos produtivos. [Nao hi divida de que ela constitul uma inovagéo téeni- ca susceptivel de facilitar e mesmo de transformar a organizacio espacial. No entanto, ela nio deve ser ‘eduzida unicamente ao seu aspecto tenico, mas pensa~ dda como suporte das agGes politica e econbmicas. No jogo complexo das decises e das estratégias que deter ‘minam as configuragbes espacials das organizagbes — ‘centralizada/hierarquizada ou descentralizada/reparti- dda — sempre se encontra uma estrutura de poder que, em fungio de seus projtos,ulliza uma temnologia. A ‘estreta associagio entre a topologia das redes empresa rials de informagio eo sistema nacional, criado e mant do pelo Estado, demonstra que os investimentos em telecomunicagSes responderam, antes de tudo, As exi= _géndas de poderosas organizagies nacionais e multina- © processo de desregulamentacio, ora em curso, atualiza as questies aqui discutidas, apontando para uum conjunto de novas interrogagées. A propria evolu ‘io dos debates nacionaistestemunha as divisées no Interior do Estado em face da organizacio do setor. ‘Trata-se, com efeito, da oposicdo entre dots modelos concorrentes: um recomenda aprivatizago toa, impli- cando 0 retorno aos centros politicos e econdmicos internacionais do controle das telecomunicagies do ais; o outro defende a flexbilizaglo do monopdlio, através da permanéncia do Estado na operacio da rede fem dreas carentes da abertura para 0 capital privado ‘dos segmentos mais lucratives do mereado. Como afi sma DANTAS (1996: 54) we ot arse rasan eoRcaNzAovoraTRND ino ser que se introduzam entre nés 0s _mesmos principios de ‘servicos mandatorios'e de equalizacio tariféria adotados na Europa — 0 ‘nosso sistema estatal prosseguira prestando servi- 0s cada vez mais precvies 8 populacio, pois veré ‘radio o seu potencal de investimento na medida em que sea excTuido, peas corporacies privadas, dos segmentos mais lucrativos do mercado. (0 modelo de telecomunicacbes que emergiri nos _Préximos anos sera portador de um projeto de moderni- dade. Embora essa complexa questio escape aos limites deste artigo, cabe formular uma interrogagio. Por qual ‘modernidade nds aspramos? A hist6ria nos revela que 2a introdugio das redeseletonicas no Brasil velo atender as necessidades da acumulacio capitalista, num contex- todistante de uma prtica real de democraca. "Um sis- tema politico democritico no é 9 mesmo que um siste- ‘ma econémico orientado pelo mercado... um consumi- dor nio & 0 mesmo que um cidadio" (HILS apud DAN. ‘TAS, 1996: 55). A resposta a essa questio faz parte de ‘uma resposta global que o Brasil e outros pases darso 8 uestio da exclusio, © caminho deve sera busca de ‘uma socledade ndo somente mals eficaz e competitiva, ‘mas também mais slidira ecooperativa. 0 principio denominado“servgn mandatro” fi adotade a ‘Aeron onde DBT © etrasransperadere pcs (pers por eta pvadon) so coatalmene obrigdss a prt out Fossa de reese soda ou mona mem due Cs no 6 Slemenaem. a priip loon Aims ary poli aan stm ae rgamete empreadas pra pote DOT da com foereclapredaria¢ asgurr Sus Invests e Samo owas retives Oats, 1986 5, HEGRE ENR ve Bibliografia BEGAG, A. CLAISSE,C. e MOREAU, P espace de bite toies ase Bak He) Communion eres Pans, {Documentation Fangs, 19, p. 18-217 [BENAKOUCHE T. Rade de comunicario etic desu “ds reonais I Conaves M (ong) © mo Bl arta imps dems preci Pon Alege Metco Ab, 19% pp 227297 BRETON, P Hie de infomatique. Paris La Dsouverte, 1987 pa. 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Mauricio de Almeida Abreu Em contraposigio aos iitimas eingdenta anos, que slovaram a cidade a uma posigio cada vez mais desta- cada na estrutura econdmica, politica e cultural do Brasil transformando-, inclusive, em tema privlegiado de estudo da Geografa, no longo periodo que antecede 2 essa fase de urbanizacio acelerada, a importincia da cidade, enquanto objeto de reflex, foi, obviamente, ‘muito menor. Isto no quer dizer, entretanto, que a cidade e as questées urbanas estivessem ausentes do temério colonial ou daquele do Brasil do século XIX. Ao contriio, o que se verifca & a existencia de uma reflexio continua e erescente sobre a cidade brasileira, ainda que tenham variado, ao longo desse periodo, tanto os agentes quanto os objetivos e a fundamentacio desse pensamento, Este trabalho pretende resgatar, ‘eo man om apd Cy FINE rt a eden Vi Core Nau! ee at ogee (CARS, Em sega fot mbm spo m sings Nac de ‘Cat Lt cen om Foren Ca To 30 el ‘Sad eraupin de Ascii do Gages Bess « ae uate uno nmcNzACAOBOTEIORD ainda que sumariamente, quem pensou a cidade brasi- Ieira do passado e quals foram esas reflexes. ‘Antes de iniciar a andlise € necessirio, entretanto, {que o tema a ser discutido sea claramente recortado, Ainda que o titulo deste trabalho possa dar a entender que pretendemos analisar 0 “Brasil urbano do passado”, cesta tarefa seria, obviamente, ambiciosa demais. Nao nos parece inclusive, que sea possivel a um tnico pes ‘quisador desvendar todas as dimensées (econdmicas, Sodas, culturaiseteritoriais) que envolveram o passi- do urbano do pals, ainda que se conhecam trabalhos de ‘grande envergadura nessa ditegao (MORSE, 1975; REIS FILHO, 1968). Muito mais modestamente, 0 que preten- ‘demos discutir aqui ¢ como a cidade, enquanto materia- lidade social claramente diferente do campo, destacou- se como objeto especifico de relexio no Brasil do passa- do, entando relacionar, na medida do possivel, esse ‘pensamento urbano que surgia com a processo maior de evoluo da sociedad (e das cdades) brasileira. Pensando a Cidade no Periodo Colonial comum afirmar-se que a cidade teve um papel pouco importante na colonizacio brasileira. Com efeto, se adotarmos um ponto de vista etritamente quantitai- +o, €visivelo contraste que seestabelee entre a imensi- dio do tertitrio conquistado pelos portugueses na América — que ultrapassou em muito a linha demarca- toria de Tordesthas —e o pequeno mimero de cidades e vilas fundadas durante a época colonial. Conforme demonstrou Aroldo de Azevedo, ao obter sua indepen-

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