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TEAIG)) | TEX TO 6) | Maria Crist OB: 2 ca.“ubs Y Doano a ke De ae ANALISE DO DISCURSO NO BRASIL: Cp 1s3.4 G2) 15-1: fn) MAPEANDO CONCEITOS, CONFRONY IE LIMITES eee S ae Es dice 18 (373 aap, Hels hore “wD Poy a Imranaii, Pew Ping tel, 409 ets fap | \amalo 30/3 Coordenagio Editorial Editora Claraluz ® Impressio e Acabamento Prol Grifica Ficha Catalografica elaborada pela Biblioteca Prof, Achille Bassi, do Instituto de Ciéncias Matemiticas e de Computagio da USP Anilise do discurso no Brasil: mapeando conceitos, A832 confrontando limites / forganizado por] Maria Cristina Ferreira ¢ Freda Indursky. - Sio Catlos : Claraluz, 2007. 400 p. ISBN 978-85-88638-32-7, 1. Anilise do discurso — transformagies — Brasil 2. Discurso, I. Ferreira, Maria Cristina, org IL Indursky, Freda, org wwweditoraclaraluz.com.br Impresso no Brasil 2007 SUMARIO Apresentacio PRIMEIRA PARTE - Visitando Fronteiras O Sujeito Discursivo Contemporineo: um exemplo O sujeito desejante na contemporaneidade Jot Bran 21, Palavras para crer: imaginérios de sentido due falam do passado Sanpea JaTasy Pesavento__ 3 Historia, meméria e interpretagio Epcar De Decca__ 47 Discurso e sintoma: a incidéncia das ideologias Maxio Firic__ 57 Ideologia e Linguagem: Ontem e Hoje Danio Manconpes__23 O sujeito, 0 real e 0 social Tucano Bua 83 O feminino e suas dobras Danise Mavrano__/91 | SEGUNDA PARTE - Mapeando Conceitos A trama enfitica do sujeito Masia Cristina LeANDRo FeRreina__ 99 Posi¢io-sujeito: um espaco enunciativo heterogénco Eacitta ANA Cazanin__109. compromer jae sParente que sustenta visdes de documentos oficiais COmPrometidos, dentre outras coisas, com a apresentacio de solugdes aos chamados problemas de sala de aula, assumindo, Por vezes, uma perspectiva Ffescritiva, desconsiderando uma concepgio de linguagem como opacs gar do equivoco e do conifito. O terceito leva-nos problematizacio da nocio de ciéncia moderna, dado seu catiter notadamente posiivsta eieatificins que no atende aos apelos ou aos desufios que se apresentam aos professors ¢ demais envolvidos com as questées relativas a0 ensino e a aprendizagem de lingua nesse momento pés-moderno,caractetizado pela ausénciadeidetsidades fixas, e marcado por descentzamentos do sujeito de diversas ordens, Parece-nos claro que as discussdes sobre politica de formagio de Professores de lingua, ao problematizar os elementos aqui abordados,« parti da nosio de sujcito-efeito e de suas implicagées,nio estaiam comprometidas Com posturas que idealizam 0 sujeito-professor. Ao contririo, assumitiam que Propor politicas de formacio de professores de lingua implica considerar 0 Professor como protagonista de uma histétia cujo script nao esté acabado, Notas DE Roparé | 0 Discurso de Avasio de Letua do PROEB: do Equvoco do Imagini & Contingéncia do Real, = REFERENCIAS BrsioGrAricas AUTHIER-REVUZ, J. Palavras Incertas - As niocoincidéncias do dizer Tradugio de CRC. Peiffer et alii, Campinas, Editors da UNICAMP, 1998, 200 p, FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. Traducio de Laiz Felipe Bacta Forense-Universititia, 1987, 240 p, cA. ‘curso da Avaliago de Leitura do PROEB: do Fauivoco do Imaginério i Contingéncia do Real. Dissertagdo de Mera. ILBEL/UFU, 2004, 230 p. PECHEUX, M, Semantica e Discurso - Uma Critica Afirmagio do Obvio. Campinas, Editora da UNIC. 95, 320 P, TEIXEIRA, M. Anilise de Discurso ¢ Psicanilise — Elementos para uma abordagem do sentido no discurso, Potto Alegre, EDPUCRS, 2000, 210 p, DISCURSO E TEXTO: NA PISTA DE UMA METODOLOGIA DE ANALISE Salange MITTMANN' (olange@ufrgs.br) Universidade Federal do Rio Grande do Sul s. E por que mndline (eOrico-metodolégico, e nko apenas metodoldgico? Porque. nova anilise parte, em primeiro lugar, de um olhat especifico, determitado pelo steadeo epistemolégico definido por Pécheux Fuchs ji em 1975, ema que Sc unem 0 hist6rico ¢ o lingifstico numa teoria do discurso atraveevade pela {fora pricanaltics, Porque a partir deste olhat, nio fazemos uaa deserigio ‘eorizacio, no efetuamos uma anilise exaustiva, tentando dar conta de todos os aspectos envolvidos, mas teabalhamos profundamente sobce alguns ‘spectos discursivos inter-elacionando arqueologicamente? noses teSuens pettinentes, . . Como pesquisadores, acionamos nossa habilidade ‘de arquedlogos, buscando, resgatando, selecionando, isolando, relacionanda, agrupando ¢ organizando recortes de textos. Para a selecio, costumamos optar por um fame discursivo c/ou um tema, a partir de uma questio que bueea respostas. ‘miltiplos,circulagao e leitura de textos” (GUILHAUMOUs MALDIDIER, 1997, p.164), Colocamos a pa diante do olho cutioso, atento e determinado (n0s dois sentidos: determinado a e determinado por), c comegamos o trabalho de investigadores. Percostemos cada texto, relacionamos cone a histéria, ees © lingiifstico em relaco com o ideolégico © com 0 inconsciente,) Hentes de que somos afetados por ambos, mergulhamos na ilusio necessitia, ina denegacio, como se estivessem fora de nds, analistas,¢ Presentes apenas © funcionamento do inconsciente é condigio Paradoxo, Tio mais simples seris nosso trabalho G40 subjetiva, Tao menos de: fador. Quantos Se negissemos nossa cor 3 Cees (SE Nuantas descobertas deixariamos de | Pécheux, atento i necessidade de discutir 1ovas tecnologias de textos ¢ suas anilis > escreve um artigo Consigo mesma’ (Idem), Também essas diferencas atte analistas de discurso quanto Daf nosso compromisso politico: o ue € imposto como evidéncia, Os analistas do discurso — que sob as palavras, como se a teoria até Porque niio acreditamos que desvendar 0s processos discursivo q bem como o que esses mesmos pros Por isso, importa considerat sobse Cte diz Pécheux (1990) sobre detectar os Caquanto atos que surgem como tomadas 154 Ou sein, nio se trata apenas de analisar as tomadas de Posigio ¢ os efeitos de identeaslo do outro que é por nés analisado, moss também considerar rus sustentando esta andlse estio nossa prépriatomad de posigio € nosso lentificagio com uma teoria que considera 0 politico junto a0 lingtifstico, numa relagao atravessada elo inconsciente. (GUILHAUMOU e MALDIDIER, 1997, p-170), ‘Vamos além da interpretacio de litores, pois buscamos ‘compreender SOonstitui a interpretacio (ORLANDI, 1993), B Para isso, precisamos Assim, nio nos encontramos mais diante apenas de uma unidade de s de um objeto teético, 0 discurso, tendo em vista ome objeto de rellexdo: nossas questdes, que envolvem o teal da lingua, o real da histéria, a falta, 0 impossivel, os buracos na rede. E, por nosso objeto de andlise ser um objeto tedtico, € preciso constantemente, sem perder o fio, Perante um universo de discussos passiveis de anilise, tracamos um », com Guilhaumou e Maldidier (2997, p.163), que “o arquivo nunca é dado a priori, conn uma primeira leitura, Su fancionamento é opaco”. E sinds: delimitamos nose campo discursi de referéncia a parts de-uma série de restigges, de observar as limitagées, a finitade, comp “O campo dos acontecimentos discursivos! fcistinmente limitado das tinicas seqiéncias lingiisticas que tenham sido formuladas” ¢ ainda que estas possam ser em nimero tio grande a ponto ce “ulttapassar toda capacidade de registro, de memoria, ou de leiture elas Constituem, entretanto, um conjunto fnito.” Diante de um texto, somos conduzidos A ilusio de finitude, a gual Se desfaz no momento mesmo da leitura, conforme descreve Indursky 2001, p37) a0 abordar o efeito-texto como um “espago simbolieament, fechado, acabado e completo”, com o qual oleitor interage desconstruinin s raja wtuindo, desestabilizando ¢ reestabilizando. Assim, também na anise, Pela telagio com outros textos/discursos, a ilusio de finitade se desc pana Ze-estabelecerse posteriormente, 0 gesto de organizagio do arquivo confirma a ilusio de fechamento. Vale, entio, destacar a orentagio de Foucault (1986, p31): tata-se de compreender o enunciado na estreltesa © Sibgolaskdade de sua situagio; de determinar as condigdes de sua existéncia, de Bar seus limites da forma mais just, de estabelecer suas corrlagSes com G: Ontto8 enunciados a que pode estar ligado, de mostrar que outras formas de enunciagio exclui. Ou, conforme as palavras de Guilhaumou e Maldidier (1997, p.166), analisamos a dstingdo entre “o conjunto de possiblidades atestadas ee ume Sinuagio histérica dada ¢ 0 acontecimento discursivo que realiza uma dessas Possibilidades”. Vale dizer que se 0 que ¢ excluido mas possive élevado ean cont, oimpossivel de ser dito também é levado em conta. Allis, £0 que nos move. Anda segundo 0s autores, o acontecimento discursivo “é apreendido ‘a cOnsisténcia de enunciados que se entrecruzam em um momento dado” {ldem). Nosso gesto de anilise, portanto, nlo é um gesto linear, realizamos ‘das ¢ vindas, recorréncias a outros discursos e, mesino, a outros campos discursivos. E aqui retomo uma bonita ctacio de Foucault (1986, P26): “As margens de um livro jamais sio nftidas nem rigorosamente determinadas: além do titulo, das primeiras linhas e do ponto final, além de sua. configuragio interna ¢ da forma que lhe dé autonomia, ele esté preso em um sistema de FemissOes 2 outros livros, outros textos, outras frases: n6 em uma rede.” Na construsio do corpus, localizamos os nés, percorremos seus fios até outros £268, no caminho encontramos buracos dispersos na rede de meméca, eamos fios aparentemente ‘mas que estio ali, presentes, esperando 0 gesto FES Me Ou seia, muita vezes, os nés que nio estio fetos instigam-nos 8 faeblos. No confito entre interdigses e injungées a interpretagio, do qual Mio podemos escapar, & que atamos os nds. las se fazem necessirias em virtude dos conflitos, ceaftontos, sobreposi¢des que ocorrem durante 0 proprio gesto de leitars ¢ releitura do arquivo, Leitura ¢ releitura que sio pré-determinadas por tum luta cientifca politica que se ope a tradicdo “de um policiamento de enunciados, normalizagio asséptica da leitura e do pensamento, e de um SPagamento seletivo da meméria histética” (PECHEUX, 1997, P.60). Pois ‘mergulhamos no lingiistico que é atravessado pela historia no hiseStico que Se ustents sobre uma materialidade lingiistica, ou seja, mergulhamos numa ‘ela de discursos (expressio de INDURSKY, 2001, p.37). Visualizamos melhor essa teia quando consideramos a relacdo entre gnunciado (Interdiscurso, Formagio Ideolégica, Formagio Discursiva) ¢ formolacio (intradiscurso), entre o plano vertical dos processes hiseGucee de formacio, reprodusio ¢ transformagio dos enunciados ¢ o plano horizontal onde se dé © n6. (COURTINE, 1981) Por isso, novamente os dizeree de reciso estar pronto para acolher cada momento do discurso em suaieeupgio de acontecimmemtos neve Pontualidade em que aparece e nessa dispersio temporal que Ihe permite Nap tides sabide, esquecido, ransformado, apagado” FOUCAULT, 1986, p27. Assim € que eferuamos nosso gestoderecortarseqiéncas discursivas, isto€,nosso gesto arqueolégico de relacionar seqiénciaslingtisticas formanda dein araftisticas, definindo a Formagio Discursiva (FD) dominance, delimitando suas fronteras, ainda que estas fronttras nos paresamn evidenten ng espelho com 0 qual deveriamos parecer. Para a organizagio de meu arquivo, em ptimeiro lugar, nfo delimito Béneros textunis, jd GUE miltis vezes uma andlise pode envolver rence (oa conextos) de diferentes géneros. Por exemplo, um discurso encontrado ftum filme pode ser retomaco numa matéra, ou comentirio, ow charge, ou Propaganda, em jornal ou revista, que podem ser lidos no papel ou na ela do (Pécheux, . E é buscando esses ) 20 discurso (objeto € determinagio, no interdiscurso, na FD (objeto de relexio), Para, entio, volar a cada diacame, (feitos de sentido, lugar de explicitagio do Sujeito ¢ do sentido constituidos) G8 marcas lingsticas, que so as seqiéncias discursivas presentee no aa) Ou seja, € um processo de extensio ¢ retorno, buscando’s exterioridade no sustes, considerando que, se por um lado no ha fronteira evidente entre dentra-fors, por outro nio se trata do dentro ser um seflexo (transparéacia) Por um sujeito empitico, ‘outros discursos que se repetem © s¢ co: 159 ciscurso como objeto de anilise, eo texto como lugar onde ele se matetializa "stcamente, considerando que esté necessariamente ligado a outros jis v2 20 segundo pressuposto, o de que nio se tna de partir de © seja possivel fugir delas) para comprovi- ai através do texto. Como diz Odandi (1996, p.55), “no se tata, assim, de trabalhar a historicidade(tefletida) no texto, mas a historicidade de texto, & trat-se de compreender como a matéria textual produz sentidos™ Ary . ‘ealizo 0 caminho inverso: seas determinages hstGricas so constitutes do Aiscurso ¢ esto matesializadas no préptio texto, parto do texeo para a analisar © funcionamento do discurso e refletic sobre 0 processo de a constituigio € matetializagio, con artes do mesmo pro E como meu objetivo alo é a andlise de apenas um texto, ou de um fe de testo, ou mesmo de um tinico campo de saber, preciso, entzo de ouny tipo de delimitagio, que se sustente sobre o proprio tema deste projeto. Vou Quem sio esses sujeitos af constituidos como efeites> E a partic deste tema que, no decorrer do projeto, seleciono os diferentes textos, de diferentes midas, formando meu atquives Bata selegio que levam a compreensio do funcionamento do discurso onde se constroem efeitos de sentidos, e que permitem detan que efeitos-sujeitos sio esses di 'm diferentes midias. Concomitantemente, € a relagio entre seqiiéncias discursivas que forma 0 corpus dis. final de caca uma das andlises realizadas,e que permite que sejam as fronteiras entre as FDs ¢ as relagd internas entre posigdes, E nesse ponto que se encontra 0 deslocamento, a ressignifc fundamental da nogio de Formagio Discursiva (e Portanto, de 160 de condigdes de produgio, de enunciado © outras a cla vinculadas) de Foucault pelos analista de discurso a partic do legado deixado por Pécheux. Quando chego, a partir de minha andlise e reflexio, as condigdes histéricas de produsio do discurso, trabalho com uma nocdo de ideologia em que a contradicio ¢ elemento constitativo. Assim, em meio as dispersées, localizo Sim regulatidades, conforme a definigio de FD apresentada por Foucault, mas trabalhando sobre essas regularidades, relacionando-as con, « Formacio Teologica ¢ a Formagio Social, como nos ensinon Pécheux, localizo ét contradicio interna (PECHEUX,1995 [1975], COURTINE, regular, num funcionamento de determinagio mas também de bre aquilo de pode e deve ou nio pode e no deve ser dito, 50 Funcionamento do possivel, mas também da falta, da fala, do escape, do deslizamento, Notas DE ropart 1 Vineulada a0 SFEBa a Estado « Pesquisa em Anilise do Discurso do Rio Grande do Sul —GEPAD/RS. Coordenadora do Projto te Pesquisa Midia e dis- PIBIC cae pO subjetividade c efeitos de sentido, com apoio FAPERG PIBIC/CNPq- UERGS 2 Termo de Michel Foucault (1 286), de quem tomamos, os analstas do discurso, ‘importantes saberestebrico-metodeldgicos que, quando dala para a AD, so re-significados. 3Necessidade cada vex mais presente diante da velocidade de circulagio de tex- tos e ensurrada de discurss dspersos com aus hes deparamos cotidianamente de Peeing se gposio de acontecimento discucsivo de Foucault no &idéatica 3 Geapechews (1990), para quem ela ocorre “no ponto de enconte ao oi ent dade ¢ uma memétia”. (ctamento que sito necessdade de explicar que 6 anjune de ei quisa (onforme exponho mas adlante) ndo ¢Fechado, que sempre none aor relacbes interdiscursivas podem surgit. Se nio houveese ext, ilusio, tal explicacio allo seria necessitia. 6 Agradeco a Freda Indursky 0 auxilio na distingio terminologica entre arquivo, corpus empirico e compus discursivo, REFERENCIAS BratiocRAricas COURTINE, Jean-Jacques. Quela, méthodologiques em Analyse du Discours:& pro adressé aux chrétiens, Langages, P s théoriques et communiste FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 2ed. Rio de janeiro: Forense Universitiria, 1986, Tradugio de Luiz Felipe Baeta Neves, GUILHAUMOU, Jacques, MALDIDIER, D. Efeitos do arquivora andlise do dlscurso no lado da histéria. In: ORLANDI, Eni P(org) Gestos de leitora da histéria no discurso, Campinas: Unicamp, 1997, p:163-187. ‘Tkadugio de José Horta Nunes. INDURSRY, Freda. Da heterogeneidade do discurso a heterogeneidade do texto ¢ suas implicagdes no processo de leitura. In: ERNST-PEREIRA, Aracy, FUNCK, Susana Bornéo (orgs) A leitura ¢ a escrita como Praticas discursivas. Pelotas: Educat, 2001. p.27-42. MITTMANN, Solange. Identidade entre Caros Amigos. Animus — Revista Interamericana de Comunicagio Midistica, Santa Maia, v I, n. 1, p39-48, jan.-jul/2004. ORLANDI, Eni P. Discurso e leitura. 2.ed. Sio Paulo: Cortez; Campinas: Unicamp, 1993, - Discurso ¢ texto: formulagio ¢ circulagio dos sentidos. Campinas: Pontes, 2001 PECHEUX, Michel. Ler 0 arquivo hoje. In: ORLANDI, Eni P(org) Gestos de leitura: da histéria no discurso, Campinas: Unicamp, 1997. p.55-66. ‘Tradugio de Maria das Gragas L.M. do Amaral. Seméntica ediscurso, uma critica i afirmagio do dbvio. Tradugio de Eni POdandi [et al] 2.ed. Campinas: Unicamp, 1995, -O discusso: estrutura on acontecimento. Campinas: Pontes, 1990, ‘Tradugio de Eni P. Orlandi. PECHEUX, Michel; FUCHS, Catherine. A. Propésito da Andlise Automitica do Discurso: atualizagio e (orgs) Por uma anilise aut Michel Pécheux. 2.ed. Campi Péricles Cunha. ica do discurso: uma introducio 4 obra de Unicamp, 1993. p.163-252. Tradugio de 162 FORMACAO DISCURSIVA: ELA AINDA MERECE QUE LUTEMOS POR ELA? Freda INDURSKY Universidade Federal do Rio Grande do Sul SITUANDO A REFLEXAO cai tttionamento por ele lé formulado: “a intittnds da race na Montes diva cose canto fchaent dtd vo ge 4 pripria ‘opi de maguinaria diseursiva estruseral..e ‘abvez tambios a de formagio discursivg? (@PECHEUX, 1983, p. 315), Este questonamento serviri de fo condutot para as reflexes que You desenvolver neste trabalho, Para tanto, vou vomar, esta nocio, tal como foi formulada Por Foucault (1969), contrasti-la com as formulagdes de Pécheux (1975a, 1975b, 1980) ¢ de Courtine (1981) e, « seguir, apontar para algun: Boog)” SM fnho abordaco em meu proprio trabalho, ANDURSKY. t ANEXO A violéncia nio est se iniciando, no pais, nesses tempos, ji vem de muito antes, desde o descobrimento da Amética, onde exterminavam txbos mag iss Para levar seus metais ¢ pedras preciosas, como 0 ouro e o rubi; ou até mesmo cles prdprios como escravos, Ela estd em qualquer lugar, desde um bom dia agressivo até 20 Campos de futebol, onde sempre no final da partida ocorre briga ene x toreidas. Nio precisamos ir muito longe para observarmos mais exerplos violéncia; nas familias onde hi Pot motivos sem importincia ou até mesmo patéticas como o Jugar na sala, ‘ou que um receba mais atengao, Por outro lado a8 pessoas nio tem culpa, pois desde o golpe de 6, Antes de mais nada é necessirio que a populacio seja mais amivele Sue tome conciéncia disso, mas é muito dificil pois a violencia faz pare du Pessoas. Portanto sempre a existié, pois para conté-la necessitamos deb, Extraido de Corréa, M.G. (1997) os; sempre aconteceré brigas, geralmente + LEITURA DE ARQUIVO: HISTORICIDADE E COMPREENSAO José HORTA NUNES Universidade Estadual Paulista “lio de Mesquita Filho” (UNESP) 2 tepetisio de mecanismosideol6gicos em diferentes momentos histticon, 1e.117). S8¢ localizam deslocamentos ¢ rupturas. Desse modo, o arquivo no é vise A nosdo de compreensio, portanto, se dstingue tanto de uma historian aalusto de “dados”objetivos dos quasestaria excluida aespesun 4 perspectiva Psicolégica, quanto de uma perspectiva trata-se de uma como uma materialidade discurs porto historicopoltca, Praticar a compreensio na leinata énlo somen evar NF aausiderasio uma ou outa interpretagio, master em vista os “conflinne 80, 4 confrontacio entre diferentes fort de interpretagio. Portanto, alo corresponde a uim espaso de “comprovagi uma interpretacio univoca. Tembremos também que a nogio de gesto de interpretacio, tal como trabalhada no ivro Gestos de eiura:dahistéria no arquivo (Orlandi, 1994)leva & considerat os materais de arquivo como gestos simbélicos que se inscrevem 8 hist6ra, Por um lado, os fatos ¢ os eventos camam por sentidos, pedem por invespretardo, conforme a airmagio de P. Henry (cf. 1994). Po outsa, os cfeitos de arquivo se produzem por meio de diversos mecanismos ingiisticos ara Os processos discursivos. De acordo com Orlandi io”, onde se suporia desidemificagBes, as desconstrugdes interpretatvas, enfimy np gestos que ‘olocam em suspeicio a esabildade de uma interprets¢ia © arquivo nesse contexto & tido como um expago de polémica, em wie cputtontam as posigdesinterpretativas.& preciso primelis obser estos de interpretagio a partir das posigdes de sujeito e-em Seguida, mostrar SrelasSes entre essusintepretagdes,ideniicando at fiiagdes discursivas, as Qateadigdes as retomadasedeslocamentos,enfim,explicitenos» ‘movimento do sentides dos sujeitos,no espago tenso em que o real ds interpretagio Pode tanto apaziguar quanto ameacar. Na anilise de discurs. Desse modo, diremos em sintese que a nogio de historicidade desoea ‘ria como conteido ¢ como fonte univoca de interpretayia, ic nos parece funcionar ai como um indicio desse modo de téria na andlise de discurso, juntamente com as noyées de rocesso de consttuiglo do sentido e de gesto de interpretagio. A COMPREENSKO: UM CONCEITO HISTORICO-POLITICO Passemos agora 4 nocio de compreensio Em um capitulo do lvro Discurso ¢ Leite, E. Orlandi (1988, p. 115) distingue “p inteligie, © intrepretivel e 0 compreensivel”. O inteli atribuicio de sentido fromizadamente (codifcagio)”, o interpretivel é “a ateibuigio de sentido ™ 0 contexto lingistico (coesio)” e o compreensivel 6a tides considerando 0 processo de significagio no context sm relag iado/enunciagio” ‘a perspectiva discus pois, ismos pelos quais se pe em jogo | Com essa concepcio, Orlandi tito hist6rico (politico) de compreensio” A TEMPORALIDADE NA LETURA DE ARQUIVO ado processo trabalha o que ela chama us A fim de water da operacionalizacio das noctes que viemos de 374 Paris, vamos refletir sobre alguns procedimentos de letra de arquiva Tomamos como ponto de partida a questio da temporalidade do/no diane §comefamos por evocar fatode que AD nao tabalha com temporalidade empltica, cronolégica, mas com a temporalidade dos processos discursives dizem X, quer dizet, Y) em uma pritica de tradugio-intexpretacio na qual gohteralecia o tempo presente (ao mesmo tempo em que & historicidade dot mitos e da tadigio oral indigena era silenciads). A naa do pretéxito tos disiondtios do Impéro estabelece a lingua indigena como pertencente fain Dussado lingistico: trata-se do tupi antigo, ingua “dos antepassados brasileiros", romanticamente simulada, Esse ¢ a rimeito gesto de intepretagio que se depreende da escrita do diciontria tal gesto esti ligado tina série de discursos que nessa conjuntura abordam o indie come antigo e las linpoae a ctta da histria do Brasil, na lteranara, assim como na histo, das linguas indigenas empreendida por Gonsalves Dise (ed). tum passado, reinterpret efeitos temporais de dive atentar para as diferentes relagées entre elas , fazendo emergit ordens. Compreender a temporalidade significa temporalidades inscritas no discurso, mostrando as ‘obre discurso fundador, coordenados por B. Orlandi tum lugar produtivo para se observar diversas formas de temponilidade no discarso. Se 0 discurso nio tem um comego assinalével, como se explicam os novos sentidos, como se di a passagem do sem 30 sentido? As andlises de discursos como os de Caminha, Nobrega, Osvald ti Andrade, Zumbi, os primeicos jomais braiirs, etereéipay sobre 9 brasileiro, discursos da argentinidade, dentre outros, nos fazem compreender ‘melhor o imagindrio das fandagdes dos discursos, os modos de repeico, de Sontinnidade ¢ de ruprura,enfim, as muitas mancias de “invenar”,projar ou apagat um tempo. Tomo esta obra para evocar os diversos teabelhos ane abordam a temporalidade como um fato discursivo, que nio tem uma origem cronolégica, mas que apresenta formas histéricas de aparecimenta especificas. Gostatia, agora, de me deter em um caso, que €0 do discurso sobre as linguas indigenas em meados do século XIX, para ai pensar a temporalidade, 2 iterpretagio ¢ a comprecnsio. Ao realizar um estudo (Nunes, 1996 sobe ¢ diciondtio de Gonsalves Dias (1858) dentro do projeto Histéria das Idéas Tingiifsticas (coordenado por E, Orlandi), a leitura de arquivo me leva, ‘bordar a temponiidade © seus desdobramentos. Chamou-me 1 atcayio a erem nas definigdes diversos verbos no ‘Ao abordar longos perfodos, a letura de arquivo tabalha os diversos tfeitos da temporalidade. Se, por um lado,a Anilise de Discurso voltou-se para *Nova Historia articulando-se a tabalhos como os de M. le Certeau (1990), soe, gaindo dos acontecimentos cotidianos e do “homem ondinask pretérito imperfeito (grifos nossos): PAJE, feito‘ Era o cantor, o médico,o augure eo sacerdone dos indigenas ARICA, servia 20s ndios em vez de fama. (.) PARACAUBA, irvore da qual os Maras fain 0s seus atcos iss, 1858) © aparecimento di no percurso de anteriores, como os dos de pretérito, lo considerado cua ee ConsipERAcoes FiNais Em Discurso: estrutura ou acontecimento cheux propde 77 lise de Discurso um batimento, um ai-e-vem, entre descrigio ¢ tagio. Desctigio c interpretagio funcionariam alternadamente, sem iscerniveis. De um lado, o real da lingua em sua espessura ¢ em sia REFERENCIAS Bretiocrirtcas cionam sob a base lingiistica. Penso que podetiamos aqui re-inscrevet 4 nogdo de compreensio discutida mais acima, que nos parece fazer vet 8 posigio do analsta diante da descrigio e da interpretagio. Descrigio, intexpretasio, compreensio: a insergio deste terceiro termo se nos afgara ‘como uma marca da incompletude, do siléncio® edo possivel para o analist, Operacionalizar esses conceitos na leitura de arquivo, construinds itivo de anilise, ¢ construit a posicio do analsta em seu movimento Bad CERTEAU, Michel. A invengio do cotidiano, Petrpolis: Editora Vozes, BIAS, Goncalves. Dicionitio da Lingua ‘ o ia Tupi chamada lingua geral d ‘ndigenas do Brasil. Lipsia: FA. Brockhaus, 1858 naa Diremos, para finalizar, que alguns conceitos da AD fancionam tim pouco silenciosamente, mas no de forma menos produtiva ¢ por vezs até mesmo de modo crucial. Virias nogées poderiam ser mencionades Juntamente com as que abordamos aqui, Evoquemos, por exemplo, as nogdes ilenciamento, jatidismo, ressonincia interdiscursiva, sitio de significario, ito escolarizado urbano, dentre fancionamento do discurso hé um HOBSBAWN, Eric. Tempos Interessantes: Paulo: Companhia das Letras, 2002h, squecimentos daf resultantes, é bastante Presente no contexto internacional, ou mestno no nacional, quando alguas Conceitos so tomados por incompreensiveis, quando nio desconsiderados, ‘Uma das marcas da AD no Brasil, a meu ver, corresponde a0 modo de nomear os conceitos, segmentando as palavras, produzindo novas formas materials (Por prefixacio, infxagio, sufixacio), hifenizando, emprepando Parénteses ou batras, trabalhando a nio-coincidéncia do conceito com ele mesmo. Ao invés da fixacio dos conceitos ou de sua dicionarizacio, nio ORLANDI Eni P. Discurso fundador: a forma teriamos af a significacio deles em pleno vo? dentidade nacional, Campinas: Pontes, 1993, ORLANDI, Eni P. (Org). Gestos de isio do pais ea construcio da Leitura - da Historia no Discurso. Nous ne 2onara Campinas: Editora da Unicamp, 1994, GOMANDI Eni P tat aa So 1aCianilse do Vocabuliio na Lingua Brastica (, H. Nunes, Discurso eins inboune Petépoli: Vorss, 1996, nn Tt € efeitos do wabalho ‘mentos lingistic relatos de visjantes aos primeitos dicionavios. Tese de dowtorado. Campi L-Unicamp, 1 2 Pensamos o siléncio de acordo com E, Orlandi, com ‘i0” (As formas do siléncio, Campinas: Editors d 378

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