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‘Nuno Gongalo Monteiro* Ante So al (0, 1977 385388 Elites locais e mobilidade social em Portugal nos finais do Antigo Regime** 1. OS PROBLEMAS E 0S CONTEXTOS 1.1. OS MUNICIPIOS NA RECENTE HISTORIOGRAFIA PORTUGUESA (0s estudos sobre a histéria dos municipios no periodo modemo verifica- ram-se em Portugal com considerdvel atraso em relagio a outros paises. De facto, foi apenas uma historiografia muito recente, datada sobretudo dos anos 80, que veio por frontalmente em causa as ideias recebidas e sucessivamente retomadas do pensamento oitocentista sobre 0 tema, designadamente 0 paradigma da centratizagio continua e intermindvel. Se nos trabalhos de Antonio Hespanha! se fez a critica insistente da ideia da centralizacio pre- cove € da projecsdo retrospectiva da nogo contempordnea de Estado, foi sobretudo nas obras de Joaquim Romero Magalhes que se acentuou a vita- lidade e autonomia dos corpos politicos locais, associada directamente & sua natureza oligrquica’. Os dois autores citados contribuiram para desenca~ * Instiuto de Ciencias Socials da Universidade de Lisboa. ** Ede texto foi precedido de working papers apresentados a0 Seminirio de Histéri do TICS (Gutubro de 1996) e ao 167 Encontro da Associagdo Portuguesa de Histéia Boonémica © Social em Novembro de 1996. Uma versio signfiativamente diferente do mesmo seca publicada em Francisco Chicon Jiméner (dir), Poder » Mosildad Social en la Peninula Ibérica e italiana en el Antiguo Régimen, Madd, Alianaa Editorial (no prelo), O autor ‘agradece todas as enticas e eomentrios feitos ds anteriores versBes deste estudo CE, por todos, Anténio Manuel Hespanhs, At Vésperas do Leviathan, Intinigbes ¢ Poder Politico. Portugal — Sée. XVI, 2 vols, Lisboa, 1986. Cf, entre outros, Joaquim Romero Magalhies, O Algarie Econdmico 1600-1773 (tese ‘mimeo, 1984), Lisboa, 1988, «Reflexdes sobre a estrutura municipal portuguesa ea socedade 335 336 Nuno Gongalo Monteiro dear uma viragem historiogréfica cuja importincia se traduziu no apenas ‘numa mudanga das concepedes hegeménicas, mas também na proliferagio de trabalhos monogréficos, que se estendem do Minho® as ilhas atlanticas*, entre muitas outras contribuigdes publicadas ao longo da iitima década. Na sequéncia dos trabalhos antes citados, a renovagdo da histéria dos ‘muniofpios portugueses teve como um dos seus topicos essenciais a andlise das oligarquias camarérias. Com efeito, a vitalidade que se foi reconhecendo ‘0s poderes municipais no Antigo Regime nao parecia dissocidvel do processo de formagao, iniciado ainda na Idade Média, desses grupos «procedentes do estrato dos homens bons que comandam os concelhos [..] vao ter 0 exclusivo da administragio municipal e v4o formar [...] aquilo que se chama ‘gente nobre da governanga da terra’»®, Esta categoria social, que no deve confun- dir-se com a antiga fidalguia, estaria ja configurada «em meados do século xvit», quando «a cristalizagao oligérquico-aristocratica chega ao seu termon®, prolongando-se por todo o periodo subsequente. De resto, 0 encerramento da referida categoria social acompanharia cronologicamente outros processos andlogos na sociedade portuguesa. Partindo de perspectivas similares, os estudos sobre histéria municipal constituem hoje um dos sectores mais activos da historiografia portuguesa, com énfase especial no século xvii, incluindo alguns relevantes centros urbanos. colonial portuguesan, in Revista de Mistéria Beondmica e Social, n° 16, 1986, ¢ «A sociedade portuguesa, séeulos xvi e xvii, in M. E. C. Fertera (coord), Reflerdes sobre a Histria e ‘4 Calta Portuguesas, Lisboa, 1986, Maria Helena Coelho ¢ Joaquim Romero Magalhics, 0 Poder Concelhio: das Origens ds Cortes Consiuntes, Coimbra, 1986, ¢ J. Romero Maga: Ides, «As estruturas soeiais de enquadramento de economia portuguesa de antigo regime: 05, concethos», in Notas Econdmicas, n° 4, 1994 Cf, 06 trabalhos de José V. Capela, Entre-Douro e Minho 1750-1830. Finangas. Adi nistrago e Bloqueamentos Esruturals no Portgel Moderno (tese mimeo), Braga, 3 vols 1981, A Camara, A Nobreza e 0 Pov de Barcelo, sep. Barcllos Revlsa, vol mn 1, 1989, Braga um municipio fidalgo — as hitas pelo controlo da cdmara entre 1750'e 1834>, in Estudos do Noroesie, n° 2, 1989, O Municipio de Broga de 1750 a 1834. 0 Governo ¢ Adninisrapio Econémiea e Financeira, Braga, 1991, e O Minko e 0s Sas Municipios. Estudos Econdmico-Adminisraivos sobre o Municipio Portgués nos Hovizontes da Reforma Liberal, Braga, 1995 “Ce, entre outras, viras contrbuigBes a eoléquios publicadas em Actas do 1 Coléquio Invernaclonal de Histérla da Madeira, Funchal, 1989, Os Agores e 0 Atinica (Séeulo XV7- AVA), Angra do Heroismo, 1983, Os Agores eas Dinamicas do tance, Angra do Heroism, 1989, ainda Avelino Freitas de Menezes, Os Aores nas Encriilhadas de Setecenos (1740- 770), 1, Poderes e Insituicdes, Porta Delgada, 1993, e Jose Damilo Rodrigues, Poder ‘Municipal e Oligarquias Urbanas: Ponta Delgada no Séewo XVII, Ponta Delgada, 1994. De facto, a importincia des municipios no espago colonial desde hi muito que tinha sido desta ‘ada, designadamente, por Charles Boxer, Pornuguese Society in the Tropics. The Municipal Councils of Goa, Macao, Bahia and Luanda, Madison, 196. 5 Joaquim Romero Magalhdes, «A sociedade portuguesa, séculos xv-xvn0y, et, p. 181. 4. Magalhies, O Algarve Econimico... p. 328 Elites locais ¢ mobilidade social As tendéncias oligiquicas ¢ o acentuar da tutela das monarquias sobre as cidades earacterizaram, em geral, a Europa moderna. No entanto, importa niio esquecer que a maioria das cidades era governada por elites recrutadas em grupos corporativos, cuja base medieval era mercantil ou buroeratica, tanto quando se mantinha a elegibilidade dentro de um universo corporativo como quando se tratava de oficios patrimonializados ¢ hereditérios. Mesmo nos casos em que o desempenho de tais cargos nobilitava, as oligarquias urbanas no coincidiam, em regra, com as elites aristocriticas fundidrias, embora a tendéncia fosse sempre para que as diferensas se atenuassem. Era assim na maioria das cidades inglesas’, a principiar por Londres (govemnada em parte por uma oligarquia mercantil), tal como em Franca’. E, se os municipios castelhanos apresentavam grandes semelhangas com os portugueses, apesar da sua diversidade e da regra maiortiria da «metade dos oficios» para nobres’, a frequente venalidade dos respectivos cargos fazia com que em muitos centros urbanos, designadamente em Madrid, a oligar- quia urbana dos proprietirios do offcio de regedor nifo coincidisse com 0 topo da pirémide nobiliérquica™® ‘As questdes antes colocadas, bem como outras realgadas em estudos precedentes'', conduzem-me, assim, a apresentar as principais caracteristicas que diferenciariam a organizagdo municipal portuguesa do Antigo Regime das monarquias vizinhas (pondo de lado os diversos casos italianos). 1. A grande uniformidade institucional, Ndo obstante as diferengas resul- tantes da existéncia ou no da presidéncia dos juizes de fora e/ou da confir- magio senhorial'?, todas as cémaras do territério continental ¢ insular por- Ct, por exemplo, P. Clark eP. Slack, English Towns in Transition 1500-1700, Oxford, 1976, pp. 111-140, 8. Hipkin, «Closing ranks: oligarchy and government a Rye, 1870-1640», sin Urban History. vol. 2, 1998, pp. 319-340 "CE, por exemplo, Roland Mousnir, Les inewions de la Fronce sows la monarchie absolute 1598-1789, t 1, Pats, 1974, pp. 437-469, ° Ct, entre outros, Antonio Dominguez Ori, Las Classes Privilegiadas en fa Espa del Antiguo Regimen, Madrid, 1973, pp. 121 segs, Sociedad y Estado en ef Siglo XVI, B elona, 1976, pp. 454-475, eviias das contbuigbes publicada in Martine Lambert- Gorges (et), Les sites locales ef MEtat dans VEspagne moderne du xf xt stele, Pais, 1983 “El temmino cligerquie urbana se emplea habiualmente para denotar que el grupo que controla el gobiem local no coincide estrctamene con la noblezatitlads,sunque compar rasgos marcadamentenobilitios.» [Mauro Heméndez, la Soméra de Ja’ Corona. Poder y Oligarquia Urbana (Madrid, 1606-1808), Madd, 1936, p. xx.) "Y'Cf, Nuno Gongtlo Montero, «Concelhos e comunidades, in Misra de Portugal, dit jos® Mattoo, 4° vol, O Antigo Regine (1620-1807), coord. de Anténio M. Hespsnha, 03, 1993, pp. 303-331, ¢ idem (coor), «Os poderes leais no antigo regimen, pare 1 de (César Oliveira (dir), Histria dos Mumiepios e do Padar Local, Lisboa, 1996, pp. 16-175 " Emborativesse umentado de 79 em 1640 para 168 em 1811 o mimero de conezlhos presididos por um juiz de forafmagisado letado (bacharéis nomeados pela coroa ot pelos senhores), a verdade ¢ que nesta dima data exitam apenas em um quimto de um total 841 ‘municipios. Nos restates, a presidéncia da cimara ¢ 0 inerenteexercicio da jursdigio em primeira instncis competia as juizesordindros, elites de entre a gente de egoverangay 337 338 Nuno Gongalo Monieiro tugués (com excepgio da de Lisboa, nomeada pela coroa) estavam sujeitas, desde a viragem do século xv para 0 século Xvi, @ normas gerais quanto as suas competéncias ¢ a eleigao das vereagdes, situagdo praticamente sem paralelo num territério com a dimensio do reino de Portugal ¢ Algarves!?. 2. A existéncia de aldeias com estatuto similar a0 de cidades. Embora quase todos 0s centros urbanos mais importantes controlassem vastos termos, por vezes com mais de uma centena de pardquias, a verdade & que, uma vez elevada & dignidade municipal, qualquer povoagdo com algumas dezenas de fogos e habitantes passava a ter uma cimara com as competéncias idénticas fis de um centro urbano. Mais de metade das camaras portuguesas tinham menos de 400 fogos. 3. A ausénecia de oficios honoraveis (de juiz ou vereador) hereditarios ou coxporativos. Ao contririo de Castela, a venda de oficios municipais em Portugal, que foi quantitativamente importante, nao abrangeu esses oficios maiores, mas apenas outro oficialato municipal (sobretudo escrivdes e juizes dos érfaos), para além de outras instituicdes locais no dependentes das camaras, como as alfindegas'’. De resto, o tinico oficio controlado por or- ganismos corporativos era o de procurador dos mesteres em centros urbanos, como Lisboa! e outros, para além da situagao excepcional do vereador pela Universidade na Camara de Coimbra'® 4, Em parte pelo que antes se referiu, verfica-se em Portugal uma maior tutela da coroa sobre a composigdo das c4maras, uma vez que, depois do inicio de Setecentos, os corregedores ¢ © Desembargo do Pago (tribunal central de (cf. Nuno G. Monteiro, «Os poderes..», pp. 83-85). Quanto is cémaras confirmadas por senhores leignseeclesfsticas,representavam 54% do total em 1527-1532 esubiram em nimero até 1640 (67.6% do total), mas desceram depois de forma aprecivel, alcangando apenas 304% do total fem 181] (id, iid, p. 52) Em resultado da pubicagto das Ordenaydes do reino (impressio de 1512-1514), da reforma manuelina dos foras © da multipicag3o das magistaturas régas. Apesar de também ai se detectar uma tendéaciz para a uniformidade, os municipios exstelhanos regulavam-se elas suas especificas ordenangas consiuintes de governo [ef por exemplo, Concepcidn de Casto, La Revolucin Liberal y los Municipios Esparoles (1812-1868), Madrid, 1979, pp. 22- -56,€. Angeles Hijano, El Pequefo Poder BI Muicipio en la Corona de Casta: Sigias XV al XIX (prélogo de Miguel Arcola), Madrid, 1992} "Cf, entre outtos, Francisco Ribeiro d Silva, «Venalidade e hereditariedade dos efcios piblicos em Portugal nos séeulos xvi e x0», in Revista de Histéria, val. vin, 1988, pp. 203 “213. Na verdade, os oficios venais em Portugal nunca foram, ao contro dos casos fancés € castelhano, oficios superiores nobiltantes, mas sim oficios eamariris e na fazenda. Mas 3 verdade € que no foram todos suprimidos pea legislacio pombalina de 1770, subsitindo em certs esos, éesignadamente a0 nivel camariio, até 1834 "5 Cf, sobre a peculiar organizagio muncipal de Lisboa até 1834, Paulo Jorge A Femandes, 4s Faces de Proteu. Bites Urbanas e Poder Municipal er Lisboa de Finais do ‘Século XVIM a 1851 (dis. de mest. mimeo), Lisbos, 1997, pp. 16-128 “Cf. Sérgio Cunha Scares, «Os vereadotes da unversidade na cimnara de Coimbra (1640- “177, in Revista Portuguesa de Histria, 09, 1991, pp. 4580, Elites locais ¢ mobilidade social raga de justiga) tutelavam directamente a eleigio da maior parte delas. Fim sentido invets0, pode falat-se de uma maior autonomia corrente das cémaras, designadamente em matéria de justica, tanto mais que os vereadores podiam substituir os juizes na sua auséncia (chamando-se entio «juizes pela ordena- si). 5. A coincidéncia entre os mais nobres ¢ os elegiveis para vereadores (¢ {juizes) camarérios. Tal facto decorre do facto de a base da constituigio das ‘camaras ser geral e electiva, pois que o perfil definido pela ordem juridica prevalecente exigia que os elegiveis fossem recrutados de entre os mai nobres © ), Brags, 1965 cf, eae outos, Maia Heleva Coelho e J, Romero Magales, ob ct, Antnio P. Manigue,eProcessos letoraise obigarguas municipais nos fins do Antigo Replies, in Argue- clogia do Extado. 1* Jornadas sobre Formas de Organizagio e Exercicio dar Paderes na Europa do Su, Lisboa, 1988, J. Romero Magathies, «As estrus sciis de enquadramen- {o> eit onde se intoduzem algunas rectifiagdes 8 conologia desse process, e Sérgio Cin Soares, O Municipio de Coimbra da Restewasdo ao Pombulise. Poder Poderasos ia Idade Moderna, ds. das. mimeo, Coimbra, 195, vl. 2, pp. 1479-1482, nota 97. 2° cf, sobre pariulrdades des cleigdcs nas ters dos casas da fei real com saminisago autGnoma (Casas de Bragana, do Infntadoe das Reinhas), Rogéto Bomalher, O Municipio de Chaves ene o Absoluiono eo Liberalism (1790-1834), Braga, 1997, pp. 88 ose ce, Max Weber, Eoonomia y Sociedad. Exbono de Una Sociologia Comprensiva (1922), 340 Mexico, 1984, p. 233 ¢ seas © 758 segs Elites lacais ¢ mobilidade social Para mais, a utilizagio da expressfo antes referida («oligarquias munici- pais») sugere um padrio uniforme para a caracterizagdo de situagdes muito distintas. Desde logo, porque se aplica tanto a oficios hereditérios © patrimonializados (como os que existiam em muitas cidades europeias e, em particular, em muitos municipios castelhanos) como a cdmaras eleitas”®. Mas também porque tende a subsumir a enorme diversidade existente dentro do proprio reino entre os diversos municipios. Assunto sobre 0 qual mais adiante irei deter-me. Acrescente-se que o termo «oligarquias municipais» tende a conferir uma identidade social a uma eategoria institucional (a dos vereadores camarérios) cuja existéncia como grupo social carece de demonstragao. O que nos remete para questies mais gerais. Com efeito, a utilizagao do referido termo incorre nos pecados mais elementares que tem constituido o objecto privitegiado de recentes criticas & historia social intemacional, sob 0 impacto da chamada «eviragem linguistica»™, E, se o rescaldo dessas polémicas desemboca algu- mas vezes na apologia pés-moderna da «issolugao do sociab», a verdade & {que outras alternativas tm surgido, como aquelas que propdem «um retorno 4s fontes, uma atengdo renovada & linguagem dos documentos e as categorias| dos actores sociais» e até o privilegiar dos individuos, das suas experiéncias © dos modos de formagio das suas identidades sociais™. ‘Nesse particular, deve sublinhar-se desde jé que a propria época no nos Jegot nenfuma imagem forte ou vocébulo uniforme para deserever e carac- terizar as elites locais e provinciais & escala do conjunto do reino, a0 con- trério do que é possivel constatar para outros paises. Ou melhor, existiu uma forte demarcagio entre as elites aristocrdticas da corte e as da provincia, com ampla tradugdo até no vocabulirio oficial, onde se reconhecia a existéncia de uma clara distingdo entre a «principal Nobreza dos meus Reinos» (1761) € © «resto da nobreza da Corte ou das Provincias» (1775). Um retrato que, em Targa medida, se construia pela exclusio da corte 2 bora a potimonializagho, na prtca, dos ofcios municpasnBo pessuponha a sua compra (f,por exemplo, Maria Rosai Pores Maijuan, elites sociales y poe local en el Pais Vasco durante cl anigu sésimen:extado de la cussion y perapectvas, ov J. Mana Imicoe, Elites, Poder y Red Soci Las Elites del Puis Vasco y Novarraen le Edad Moderna, Bilbao, 1996, p. 114) Cf, em patiula,o debate que teve ugar na revista Past and Present Lawrence Stone, " Luis da Silva Perera Oliveira, Privlegis da Nobreza, ¢ Fdalgula de Portal, Lisboa, 1806, pp. $3 © 6. 2b, cit p. 182. 343 344 Nuno Gongalo Monteiro adoptada em Portugal pelo menos desde finais do século Xvi, apresentava, afinal, notérias semelhangas com a realidade descrita num texto classico sobre 4 mobilidade social em Inglaterra: «The most fondamental dichotomy within the society was between the gentleman and the non-gentleman, a division that ‘was based essencially upon the distinction between those who did, and those who did not, have to work with their hands.» A singularidade portuguesa residird, porventura, no facto de a identificagdo entre ser nobre ¢ viver como tal («viver A lei da nobreza») se encontrar juridicamente sancionada, podendo set invocada como prova* Retomando algumas sugestdes do texto antes citado de L. Stone, podemos afirmar que 0 processo antes descrito corresponde a valorizagio, desde os finais da Idade Média, do status atribuido a boa parte dos grupos ocupacionais (Guristas, oficialato, negociantes, etc.) situados fora das categorias sociais de referéncia da sociedade rural de raiz medieval. Simplesmente, essa banaliza- «@o da nobreza implicou que se desenhassem miltiplas e diversificadas fron- teiras de estatuto no seu interior, varidveis de umas regides para outras | 3 a{i|-|-|-|w)-|-|-] 5 Pintel ... Jisool 32 | = |=} - afs]=pay af ajat-lej a ila Franca B= [alla pe ole] eta Ciao. f1806| 15 | = Sa =l= [stall al= |S = winnie fim) ai) |=] -]— fafa] zpa)-f ela fo p=) Save fin| 3 | preys yp afalc tc] a Lagos °°. Jiag| a7 slelafelet tle|ale| a avis = Jia) 17 | vf-[3}-[-|rfafaloo Leica 801 | 19 = ele pet ee lade | a ungue..finse| 32 | Shot ehe | rh | StS | ei. fisoe) 27 Jl fa]ipal-|=]a] a2 Vila Rea ie) 55 ZJZ]E]E] ae] Ef] a ‘Chilo de Cou.|1804| 18 -|-|-/-]ela]- 16 Uinares.|i807| 30 Lai =| as Tat 7] 9 lias] 7 [712 | 12 | 6 [106 4 [33 ‘A — donstitios e comendadores; B — uso de dom de origem portaguesa; C — fidalgos de casa real; D — negociantes; B — eavaleros das ordens militares, F — morgados; G — militares da tropa de 1+ lia; A — oficias das micas e das ordenangas; 7 — dos Drinipaiso, «da principal nobrezs», ecom ditinta nobrezsn (nfo te incluindo os que apenas ‘ive(m) a ei da nobrezan), J — doutores, Honciados e bachartisy K — finciondios da administagio centrale local; I — botciios; MM — lavadores; NV — no identiicados com ‘qualquer atributo. 351 352 Nuno Gongalo Monteiro Mais complicados se revelaram os critérios a seguir para a hierarquizagao das cémaras. Acabou por se escother listé-los por ordem decrescente, de acordo com a percentagem representada pela soma dos individuos das colu- nas 4, B, C, E, Fe I nos respectivos arrolamentos. Critério discutivel, pois, como se disse, a0 contririo dos fidalgos da casa real®, os cavaleiros das ‘ordens tanto podiam pertencer & «antiga nobreza» das terras como ter uma ascensdo bem recente. Ou seja, terdo sempre de se analisar com 0 devido detalhe as indicagdes retiradas dos arrolamentos de cada uma das terras. A primeira observagio que 0 quadro n.° 2 nos impSe € a da extrema raridade dos donatérios e comendadores nas provincias. Outra forma de con- firmar que tais rendas e distingdes se concentravam na primeira nobreza da corte. Na verdade, eram relativamente raras as trés primeiras eategorias con- sideradas, sendo maioritérias apenas nos arrolados de Lamego, de Evora ¢ do Porto, a mais aristocratica eémara eleita do pais, onde somente se arrolavam fidalgos da casa real. Nio aparece, de resto, nenhuma alusdo ao conceito de cidadio do Porto tio relevante ainda em Seiscentos®, e do qual encontrémos as tltimas referéncias em arrolamentos do periodo pombalino®, Para mais, os foros da casa real, nos arrolamentos portuenses como nos restantes, eram ostentados quase sempre por pessoas de «conhecida nobreza». Pelo que nao parece legitimo estabelecer uma fronteira entre as cmaras onde predomina- vvam tais distingdes e aquelas onde avultavam as pessoas «da principal nobre- za». De resto, era isso 0 que se verificava no afidalgo» municipio de Braga: dos 31 elegiveis para vereadores naquela cimara em 1802, apenas cerca de um quarto ostentaria os foros da casa real, 0 que nfo impedia que todos se reputassem pertencer ao ntcleo das familias tradicionais da cidade dos arce- bispos*!. Bastante homogéneos, no sentido do predominio de um recrutamento fidalgo, seriam, assim, os arrolamentos das oito primeiras cémaras considera- das, * Embora nos empréstinos pblicos de finals de Setaoentos se tivesse concedido © foro e Fidalgo da casa real aquem para eles eootribuisse com determinados quantitatves, a verdade que ess distin ndo se tna vulgatizado até A viragem do século, endo geralmente useda por fidalges de linhagem. Cf, sobre o assunto, Francisco Ribeiro da Silva, O Porto e 0 Seu Termo (1580-1640), Porto, 198%, vol, pp. 281-309, «Gentishommes, nobles et cidadéos de Porto au xv" siéce: caracterization sociale et voies acct, in Hidalgo d hidalguia dans 'Espagne des xvf-2vué siécles, Paris, 1989, e «Os tempos moderns», nL. O. Ramos (dir), Historia do Porto, Porto, 1995, pp. 317-829, Anténio Pedro. C. Brite, Ptrciado Urbano Quinhentta: Familias Domi nantes do Porto (1500-180) (dis. mest, mimeo.) Poo, 1991, e Ana S. A. Lemos Peixoto, Hlstéria Social de Adminisragto do Porto (is. mest Porto, 1991 $® ANTT, Desembargo do Payo, Minho e Tris-os-Montes, mago n” 1395, 5 Cf, Jost Capela, O Minicipio de Braga de 1750 a 183... aexo 2, confrontado com ‘outras Fontes, designadamente Jose Barbosa Canacs de Figuetedo Castello Branco, Arvores de costados das familias nobres dos reinos de Portugal... 1, Lisboa, 1831 Elites locais ¢ mobilidade social Destacam-se, depois, municipios onde os arrolados, embora maioritaria- ‘mente fidalgos de nascimento, tinham um recrutamento tm pouco mais diver- sificado, abrangendo também alguns bacharéis (que gozavam de nobreza politica) € funcionérios, como seriam os casos de Viana, Vila Real, Coimbra, Santarém, Settibal e Beja. Por fim, claramente estratificadas, vinham as cdima- ras menos selectas. Desde logo, aquelas onde predominavam os oficiais das cordenangas (uma das formas periféricas mais importantes de obtengao da nobreza pessoal), os bachartis e os funcionérios, e onde até podiam entrar negociantes € boticérios (um oficio mecinico pelo qual & identificado um arrolado de Aveiro!). Mas também, na canda, os municipios com muitos lavradores, de diversa riqueza, como setiam Vila Franca, Crato e, pode supor- se, Avis, Ourique, Feira, Cho de Couce ¢ Linhares. Na maioria destas cdmaras Praticamente ninguém ¢ classificado na categoria de «conhecida nobreza». ‘Apesar de a correspondéncia nao ser perfeita, o resultado final aponta para uma grande coincidéncia entre a hierarquia da renda ¢ a da nobreza. Aquelas conde 0s arrolados eram mais ricos também ostentavam a mais qualificada nobreza. Apenas em parte o escalonamento das cémaras correspondia a0 do braco do povo nas cortes, para 0 qual cerca de uma centena delas puderam cleger os seus procuradores 7 vezes no século Xvi € 9 no século xvi, Resta explicar estes resultados. Serdo o reflexo da maior quantidade de casas fidalgas antigas e ricas em determinadas zonas (designadamente Beira Alta, Douro préximo da Regio Demarcada do Vinho do Porto, parte do Minho, eixo central do Alentejo) ou apenas a maior concentragio das mesmas em determinados concelhos dentro das referidas zonas? A segunda resposta parece ser geralmente correcta no que se refere a0 Alentejo, como, de resto, pode inferir-se dos dados apresentados para virias capitais de comarca e de outros que puderam consultar-se, Mas ndo se aplica claramente ao Douro ¢ & Beira Alta confinante. Esbocemos um breve exercicio para apenas cerca de uma diizia de cémaras, As informagdes recolhidas s30 concludentes. No Douro da Regio De- ‘mareada do Vinho do Porto ¢ na comarca de Viseu no so apenas as sedes comarcds 0s locais de residéncia das mais selecias elites. Em Besteiros! Tondela o rendimento médio passava dos 2 contos e a pequena vila de ‘Mesio Frio registava a segunda maior fortuna média até agora apresentada uma fortuna méxima nio ultrapassada em nenhuma outra cdmara (de um cavaleiro de habito e deputado da Companhia das Vinhas). Duas cimaras notoriamente fidalgas, 0 que se aplica em parte também a Santa Marta de Penaguizo, embora aqui a fonte seja um tanto ambigua nas classificagies. De reslo, mesmo em pequenas cmaras desta zona podem encontrar-se arrolados senhores de grandes casas: em 1806, no meio de duas dezenas de «lavradores 2 Ct, entre muitos outros, Pedro Cardim, As Cortes de Portugal, Séeulo XVII (dis rmimeo.), Lisbos, 1992, pp. 77-88 353 Nuno Gongalo Monteiro ‘Rendimento/fortuna dos elegiveis para vereadores square nea) 3 |semice..)ino] ets | 2308 | 24 [arms] — [acm om] — | B | Mesio Frio. ..]1796] 236 | 773 | 23) 32) - |49o09) - = | 160000 200 Mame] 96] Set | 1500 | 14] 20 [r7ea! = 3300| soo |) often. ian) ue 2ar7 | 26 [isn > jag | aw |= | = | comme ites ‘ose | 223 | 13 [20 [tare] = |gean | aw | =| = T |umiran [te] azz | 300 | a6 [es |!" asser| =| | soe | 4310 M|xeevacrer| ts] aes | 30020 |31[ | = | > | ee"? 8 [oun |it9 2301 | aate [asa — jase > | = | som! onda [rou |ieo| "sos | 3000 [17] 28) — |is0ss| - | — | Saeo|2%00 tat Jisr] atmo | 410s [17 ]0| = feos) — | =) aoao| “sto B | Fyweia [1802] 969 | 2236 | 25 ]35| = | 4055) - | = | 10000] nade o|osmne..--|tmse) sz | tees ji9|28| — 30 | — | > | teo00| “soo fofenac.- tm] giz | asas [a2] 26) = j2ael = > | ‘toon| 00 ‘e| radeon ima] =| = [8] as [uate] =| sant) =f) = tales fim] = |= fe paey' S| = LPL S| +i ee a F108 a stato ds aroun para vereadores (qUAono xe sescin.... iso] a6 | |-] 2]-|-}2]]-]-[-]-]- ean tia--[ise| 20 | — Heelealrlels|=(=|2l2te Amn. 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Elites locais e mobilidade social muito diminuto 0 niimero daqueles que participavam efectivamente nas vvereagées municipais. De resto, eram menos ainda aqueles que se repetiam ‘no desempenho desses cargos. Mesmo em municipios de importéncia média, 0 longo da segunda metade de Setecentos, grande parte dos vereadores exerciam um nico mandato, enquanto 2 maior parte das nomeag@es eram exercidas por um grupo bem reduzido™. A imagem referida ¢ contrariada, em primeiro lugar, pelos indicadores conhecidos para os pequenos concelhos, onde se preservavam niveis de par: ticipagdo consideravelmente diversos, mantendo-se uma acentuada rota. vidade no exercicio dos cargos camaratios. Desde logo, a restrita dimensio © populagdo destes municipios nao deixava grandes altemativas. Nos peque- nos © pequenissimos concelhos, a regra parece ter sido a da resisténcia das elites sociais locais a integrarem directamente as instituigdes camardcias, in- cluindo as vereagdes. As explicagdes para esta atitude slo ficeis de entre- ver. Em primeiro lugar, era, no minimo, duvidoso que a participagio nas pequenas cdmaras acrescentasse prestigio social (status) sobretudo a quem jé © tinha: uma grande parte dos juristas considerava, como se disse, que s6 0 desempenho de oficios nos senados de «cidade e vilas notaveisy conferia nobreza. Além disso, ser-se oficial camarista num municipio de reduzidas dimensBes e com escassissimos rendimentos podia revelar-se nuinoso para Jjuizes ordindrios, vereadores e procuradores, que, conforme muitas vezes se queixavam, tinham de pagar parte do imposto das tereas devido a coroa dos seus préprios bolsos. Mas mesmo nos municipios de maiores dimenses a imagem uniforme das elites municipais apresenta-se, em larga medida, distorcida. Mais exactamente, a cristalizagdo de oligarquias locais, empirica- mente verificdvel em muitos casos e em muitos contextos, arrisca-se a obs- curecer as dindmicas sociais que atravessavam o acesso aos lugares da governanga das terras“! Alguns aspectos da histéria municipal do Porto, a mais rica e a mais fidalga cdmara portuguesa nos finais do Antigo Regime, revelam-se, a esse respeito, instrutivos. No perfodo medieval aquela cidade aleangara o privilé- gio da proibigdo da residéncia de fidalgos, 0 qual ainda foi varias vezes invocado ao longo da primeira metade do século xvi pelo patriciado urbano ‘com raizes em boa parte mercantis. No entanto, desde os finais do século xv algumas familias da governanga municipal (os «cidadiios» do Porto) foram recebendo cartas de brasdo de armas, processo que se acentuow no século © Cr, por exemplo, Luis Vidigal, Cimara, Nobreza e Pov. Poder e Sociedade om Vila Nova de Portinao (1755-1834), Porimo, 1993, pp. 190-191, Maria Teresa Sena, 4 Casa ciras e Pomba: Estado, Senhorio e Pariménio (dis. mest, mimeo.), Lisboa, 1987, pp. 234 © segs, ¢ Jodo Pereira, ob, cit Embora se trate de uma opinifo que carece ainda de uma maior fundamentagio e que contraria as ieias mais correntes sobre o assunto, parece-me indspensivel apresenté-la aqui 357 358 Nuno Gongalo Mon seguinte, abrangendo a maioria delas, a0 mesmo tempo que iam fundando ‘morgados e capelas. Quase todas acederam, assim, a um estatuto de nobreza ¢ de fidalguia (também por via das matriculas da ease real), embora poucas subissem & corte e menos ainda ds alturas dos Cameiros, que ingressaram na elite titular do reino. Por isso, depois de 1549, o referido privilégio, antes zelosamente defendido, acabou, gradualmente, por cair no olvido, nunca ‘mais voltando a ser invocado™. Embora subsistisse até meados do século xvutt um complexo estatuto de «cidadio» (nobreza local, nao fidalga), 0 peso maioritirio nos vereadores da cidade coube sempre, nos séculos XVI € XVI, a pessoas com o estatuto de fidalgo, em grande medida oriundas das familias da governanga quinhentista, sendo aqueles remetidos para oficios menos relevantes®®. No entanto, essa cristalizagio oligarquica nfo obstou a processos de mobilidade social, mes- imo se estes se revelaram mais pontuais e nao abrangeram o estatuto de grupo das familias da governanga. Podemos reportar-nos a um caso exemplar. Des- cendendo de avés paternos com origens obscuras (0 apelido que estabelecia uma duvidosa liga¢o com uma linhagem fidalga medieval veio por suces- sivas linhas femininas), mas filho de um mercador que vinculou uma quinta no Douro, Inicio Pacheco Pereira comprou a Filipe IV o offcio de juiz da alfindega do Porto, 0 que no evitou que tivesse dificuldades para em 1640 ser admitido nos irmios nobres da misericérdia. Os seus filho e neto primo- génitos casaram com as ricas filhas de um capitfo de navios e de um arma- dor; porém, desempenharam cargos na governanga ¢ o tiltimo era ja fidalgo da casa real. Seria, no entanto, 0 seu bisneto a protagonizar o maior acres- centamento, a0 receber em 1781 um senhorio ¢ uma alcaidaria-mor, em troca da desisténcia do oficio de juiz da alfindega do Porto, que entdo reverteu para a coroa®*, Na lista dos arrolados de 1804 era o sucessor daquele 0 fidalgo portuense com maior rendimento. Anos mais tarde casar-se-ia 0 seu primogénito com uma filha dos marqueses de Penalva, naquele que foi um dos primeiros enlaces de fidalgos de provincia com flhas de Grandes anti- gos®. Em algumas das mais importantes e fidalgas cimaras do Norte do pais parece terem chegado a constituir-se facgdes que, tendencialmente, corres- pondiam a identidades sociais razoavelmente definidas, a saber, a uma fidal- guia de Tinhagem mais ou menos antiga, procurando monopolizar os sena- © Carlos da Sila Lopes, Notas snbreo Prsilégio Inpeditivo da Mora de Fdalgos « Pessoas Podeosas na Cldade do Port (se. de Armas e Tafa), Brag, 1971, ¢ Ant Pedko C. Bio, ob. cit © Ck. ana S. L Peixete, of. cit © 0s ris de elegives © pauls antes ctads. & ANTT, Ministéro do Rein, «Decretors, mago n° 57, n° 6), © Ch, além de ous fortes, F Ribeito da Silva, O Port e Seu Terma. vol. pp. 345+ 317, € Ablio Pacheco de Carvalho, Pachecos. Subsldles para a Sia Genelogia, Lisboa, 1985, pp. 4985, 285 e 308.325 Elites locais ¢ mobilidade social dos, ¢ a uma recente nobreza civil ou politica, buscando aceder aos oficios camarérios, Um dos easos mais bem estudados e onde 0 perfil social dos contendores aparece mais claramente delimitado ¢ o de Braga em meados de Setecentos, um «municipio fidalgo», onde esse tipo de polarizagdes (entre «eas pessoas da milhor nobreza» e «alguns letrados, filhos de pais humildes») se arrastou desde meados de Setecentos até as primeiras décadas do século xax®, E possivel que algo de semelhante tenha ocorrido em Guimaries e em. ‘mais cimaras. Andlogos, em muitos aspectos, terio sido também, de acordo com um estudo recente, os efeitos do «pacto fidalgon que depois de 1739 se estabeleceu na cidade de Coimbra". Por vezes, sio 0s préprios arrolamentos que nos deixam entrever essas tensdes: na Guarda, em 1797, diz-se don? 11 que «ndo é da qualidade dos asima nem servio nem os asima o admitirio», € 0 mesmo se afirma dos restantes «do n.° 11 em diantey® A existéncia, nos finais do Antigo Regime, dessas oligarquias camarérias dominantemente fidalgas nos municipios indicados no quadro n.° 2 pode levar a supor que estas tinham origem em ramos secundérios das principais linhagens fidalgas medievais do reino. Algumas vezes assim era. O mais recorrente memibro da governanga de Montemor-o-Novo entre 1777 e 1816 administrava, entre outros, um vinculo medieval ¢ descendia de uma dessas linhagens que 0 aparentavam com a primeira nobreza do reino, apesar de ter mis aliangas proximas®. E bem provavel, no entanto, que 0 mesmo nao se verificasse numa grande parte dos casos. J4 antes vimos, acerca das familias da governanga do Porto no inicio de Citocentos, que boa parte radicaria naquelas que acederam & fidalguia no século xvi, 0 que no obstava a que o mais rico fidalgo da cidade pertencesse a uma casa ingressada na categoria ha bem menos tempo. Pela mesma altura sabemos que varias das principais familias do «fidalgo» municipio de Braga, de entre as que resistiam ao ingresso da nobreza recente nas vereagSes, tinham origem em trajectérias de ascensdo local no séeulo Xvi, sem paren- tesco comprovado com as linhagens principais do reino”. De resto, o chefe de uma das principais casas fidalgas da cidade tinha-se casado com a filha de um abastado negociante de panos, herdeira de seus pais ¢ irmios e admi- nistradora de um vinculo recentemente instituido”’. Também na viragem Cf 1. V. Cepela, wBraga...», cit © Cf, Sérgio Cunha Soares, O Municipio de Coimbra... pp. $43 ¢ segs. ANTT, Desembargo do Pago, Bei, mago n.* 1083 © Tratase de Valentim Lobo da Silveira (ef. Teresa Fonseca, Relagdes de Poder. pp. 40- 41); sobre a respectiva genealogia, ef. «Lobos», de Jofo Lobe da Silvera» (org. de N. C Mendes e J.P, Malta), in Aimansor. n° 11, 1993, pp. 87-150. ” Cf, entee outros, Domingos Araijo Afonso, Da Verdadeira Origem de Algumas Fan- tas de Braga e Seu Termo, Braga, ts. 1, 1985-1962. Cf, Ana Maria da Costa Macedo, Familia, Sociedade e Estratigas de Poder 1750-1830. A Familia Sécome de Vasconcelos, Braga, 1996, pp. 134-136 359 360 Nuno Gongalo Monteiro para o século de Oitocentos, o mais rico fidalgo de Guimaries, J. de Freitas do Amaral, embora administrasse uma antiga casa, acabara de enftentar as suas dificuldades financeiras através do casamento com a filha de um rico negociante do Porto com passagens pelo Brasil”®, Nesses anos passaram pelos réis da vila, pelo menos, um filho ¢ um neto de lavradores com liga- ‘bes a fortunas mercantis no Brasil”, De igual modo, outras historias minhotas sugerem, apesar das resisiéncias referidas, uma apreciavel absorgio pelas governansas fidalgas de familias com recentes fortunas, rapidamente cobertas de signos de nobreza”, Neste, como em outros tezrenos da dade portuguesa, o jogo dos apelidos facilitava bastante as coisas’® [Em sintese, poder-se-ia pensar, & partida, que a concentragao das c4maras iis selectas em espagos bem identificados refletira apenas a geografia da antiga fidalguia medieval: «Os principaes solares do Reyno de Portugal achio-se pelos campos, & Montes de Entre Douro, & Minko, & em alguns Lugares da Beyra, & Trasosmontes”» No entanto, os escassos dados reco- Uhidos sugerem que as edmaras mais ricas e mais fidalgas no traduzem linearmente a presenca dessa fidalguia muito antiga, mas sim a confluéncia 4ée uma heranga de fidalguia anterior (dos seus simbolos e modos de vida, menos presente no Sul”) com a maior riqueza ¢ a maior mobilidade social, embora nunca demasiado répida e abrangendo quase sempre apenas certas familias ou casas. A hierarquia do espago geogrifico antes apresentada, em ver de reflectir uma heranga cristalizada desde fins da Idade Média, parece, assim, testermunhar também o maior dinamismo econémico e social de certas zonas e de determinados centros urbanos. ‘Como antes se disse, as vereagdes camaririas nio aparecem como uma via privilegiada de mobilidade social, mas como a expresso do seu reconhe- cimento & escala local. Exactamente por ter quase sempre um estatuto social- mente inferior, também no parece que fosse 0 offcio de procurador dos Cf. Maria Adelaide P. de Moraes, Velhas Casas —X — Casa de Sesim, Guimarges, 1085, pp. 114-17 7” Helena Cardoso M. Menezes ¢ Maria Adelaide P. Moraes, Genealogias Vimaranenses, Baga, 1967, © ANT, Desembargo do Pago, Minho e Te-os-Montes,magos 1386 (ano ds 1796) « 1387 1826) Cf, por exemplo, A. B. Malheito da Silva, Luts P. C. Damésio e Guilherme R. Silva, Casas Armor do Coelio de Areos de Valdeves vo, Atcos de Valves, 1982, pp 6 segs "5 Como se sabe, pod, por um la, adoplarae 0 aplido da nee, por outo lcanga- -se cara de brato de amas do apelido que se uve, entabelecendo-e, para o efit, ua remot invenada rela de deccendéncia com slguma personagem antiga que legitimamente ©. Vllaboas e Sampayo, Nobilarchia Poreguesa (1. ed, 166), Lisboa, 1727, p. 182. "’ De resto, boa parte das cimaras mais fidalgas do Sul, como Evora, Estremoz ¢ Montemor, foram leat de reunio de cones ede presenga da cone rgia durante ade Meda Elites locais € mobilidade social concelhos aquele que melhor podia estimular esses percursos, embora muitas vvezes os procuradares acabassem por ser arrolados nas listas de vereadores. 0s dois oficios locais que mais frequentemente terdo potenciado tais dinémi- eas foram os de almotacé ¢ os das ordenancas, Entre os cargos superiores ¢ nao remunerados incluiam-se os almotacés, ‘que, embora nao fizessem parte das cdmaras, pois eram estas que os elegiam por prazos de dois ou trés meses, tinham incumbéncias importantes para a vvida local em matérias como a vigildncia sobre os pesos e medidas, 0 abas- tecimento em géneros ¢ a fixagdo de prevos. Tratando-se de um oficio obri- gatoriamente desempenhado em parte dos meses pelos antigos vereadores, era monopolizado pelas familias da governanga em casos tio dispares como Barcelos e Portimao nos finais do Antigo Regime”, Porém, noutras cémaras, como 0 Porto seiscentista, Tavira ou Montemor-o-Novo, j nos finais. do ‘Antigo Regime, constituia uma das poucas portas abertas para o ingresso na elite ditigente local, a0 ponto de se afirmar que era um cargo «que 6 ver- dadeiramente interessa para penetrar no grupo»”, sendo evitado por quem a cle pertencia. No entanto, a principal via institucional local para a mobilidade social eram certamente 0s oficios das ordenangas. A esse respeito, a informacio recolhida permite-nos estabelecer uma distingZo importante no que se refere & relagdo entre os oficiais das ordenangas ¢ os elegiveis para as cémaras*®. Nos ‘municipios com elites mais ricas e fidalgas, como Porto, Viseu, Lamego, ‘Valenga, Guimaraes, Portalegre, Evora, Trancoso, Tomar, Setibal, Mencorvo, Santarém, Guarda, Viana e Coimbra, somente os capities-mores e sargentos- -mores tinham acesso ds listas de elegiveis, nas quais também se encontra um aprecidvel nimero de oficiais de milicias (tropa de 2* linha). Boa parte destes so ientificados como fidalgos da casa real ou cavaleiros de habito e outros como filhos ¢ netos de vereadores, Pelo contririo, nas cimaras menos quali- ficadas, como Torres Vedras, Pinhel, Vila Franca, Miranda, Tavira, Lagos, Avis, Leiria, Ourique e Feira, encontramos também simples capities e alferes de companhias de ordenangas, por vezes em avultado ntimero. No entanio, apesar da distingdo antes introduzida, é certo que, exigindo grande disponibilidade, pelo prazo indeterminado de duragao, os oficios das ordenangas conferiam um enorme poder social, hipéteses de promocao inter- nae até de acesso elite dos vereadores, pelo menos nas terras menos selectas. Falta-nos um estudo global sobre o tema, mas pensamos que, em- % Ch J, Capola «A clmaray.. pp. 12-113, ¢ L Vigiel, ob. ci, p18. Maria H. Coelho e J. R. Magalhies, ob. cit, p. $5; ef. F. R. da Silva, O Porta, _p. 567-594, J. Romero de Magalies, O Algarve... . 333, € T. Fonseca, ob. cit, pp. 49-53, © Consideraram-se para o eftito apenas as sedes de comarca antes estudadas 361 362 Nuno Gongalo Monteiro bora tais cargos tendessem para a hereditasiedade em muitos casos", eram requisitados de forma dominante por quem buscava influéncia local e tamn- bbém estatuto social. Com efeito, conferiam um titulo (capitio-mor, sargento- -mor ou capitio das ordenangas) de validade geral, ou seja, que usualmente passava a anteceder 0 nome de quem o tinha. Sabemos, de resto, que era muito elevado © nimero de contratadores de rendas das grandes casas nobiliérquicas ou das comendas vagas que desempenhavam oficios das orde- nangas"?, A histéria de promogdo mais espectacular que conhecemos é de “Montemor-o-Novo, na viragem do século xvili para o XIX, uma cémara com certo cunho fidalgo, como antes vimos. Com origens humildes e de fora da terra, um antigo feitor da casa dos marqueses de Minas era j por essa altura grande lavrador e detentor de um dos maiores rendimentos do concelho, ‘muito superior a0 da maioria da nobreza da governanca. Em 1800 conseguiu ser sucessivamente sargento-mor e capitdo-mor das ordenangas. Um ano mais tarde, tendo entrado com muito dinheiro para os empréstimos piblicos, recebeu o hibito de cavaleiro da Ordem de Cristo. Mas s6 foi arrolado para yereador em 1804, desempenhando o cargo pela primeira vez em 1806, Outros lavradores e negociantes com cargos das ordenancas da terra, pela ‘mesma altura, tinham enormes rendimentos, mas nfo conseguiam semelhante ‘promogio institucional®?, Expressio paradigmitica das implicagSes da cultura politica do Antigo Regime sobre as modalidades de mobilidade social, o que ocorre em contex- tos locais com 0s oficios das ordenangas ¢ da almotagaria, verifica-se escala do reino com os habitos das ordens militares e também com 0 graut de familiar do Santo Oficio. De facto, a apureza de sangue», a divisio entre cristdos-novos e cristios-velhos, percorria todos os nfveis da realidade social portuguesa, incluindo a alta nobreza, e quase todas as instituigdes até a0 periodo pombalino (1768-1773), época em que se aboliram tais distingBes e se destruiram os seus registos locais. Precisamente pela preeminéncia dessa fronteira, 0 estatuto de familiar do Santo Oficio constituia uma distingio muito procurada. Um trabalho recente foi ao ponto de sugerir que essa di- ‘mensio se tomou mais relevante do que a repressfo na actividade do tribunal a partir da iltima década de Seiscentos, passando esta «da repressio religiosa para a promogo socialy™ Ct, virios exemplos no Abade de Basal, Memdrias Arquotigico-Histéricas do Distrito de Braganga, tv, «Os fidalgos, 2” ed, Braganga, 1981, AS lista dos elepveis anes usadas ‘mosiram elaramente esse padtdo nas edmaras mas rics. © Cf, Nuno G, Monteiro, fonteswtlizadas em A Casa. © CE Teresa Fonseca, ob. cit, pp. 4344 ¢ 152-163. José Veiga Tomes, eDa repressioseligiosa para a promocto socal, in Revista Crt de Cinciais Sociais, n° 40, 3994, pp. 109-135 Elites locais ¢ mobilidade social Deve notar-se que, embora sem a enorme frequéncia das pequenas cémma- ras, também nas grandes encontramos muitos eleitos pedindo dispensa para no servirem. Ao invés de constituir um facto universal, a apeténcia pelo desempenho de cargos camaririos era condicionada pelas divergentes trajec- térias familiares e individuais. De resto, as mais antigas e ricas casas sediadas na provincia furtavam-se frequentemente 20 desempenho efectivo de cargos municipais, mesmo em concethos importantes, ainda quando af mantiveram a residéncia principal: o seu horizonte era, naturalmente, 0 set- viigo da monarquia (no exército, nas conquistas, etc), ‘nica forma de acede- rem a um estatuto nobilidrquico superior, tal como’a sua érea de aliangas matrimoniais transcendia a provincia de origem®. A cristalizacao de oligar- quias camarérias coincidia geralmente, assim, com familias e casas sem gran- des perspectivas de mobilidade, enquanto a sua procura intensa correspondia, em geral, aos grupos em ascenso, que, como vimos, intentavam em primeiro lugar aceder aos oficios das ordenancas. lids, 0 estudo das elites locais pode realizar-se aceitando outros pontos de partida que nfo as cAmaras, como sejam as casas ¢ as familias. E outras fontes, como as listas das principais familias das provincias, um tipo de obra genealégica que, muito frequente até a0 inicio de Setecentos, parece ter rareado depois®*. Ou os estudos elaborados a partir da histéria das casas, um género central em outras historiografias®’, e em Portugal praticado quase s6 pela erudigdo local, mas onde podem encontrar-se muitas vezes indicagdes relevantes. O que nos introduz directamente no iltimo aspecto a discutr. 4, ELITES LOCAIS B MODELOS DE REPRODUGAO SOCIAL Uma abordagem sistemética e consistente dos processos de estruturagio social no Antigo Regime nao pode, com efeito, dispensar a ponderag20 das formas de organizacio familiar ¢ das relagdes de parentesco*, Trata-se, porém, de um tema até agora pouco investigado nos estudos sobre clites municipais em Portugal*, pelo que teremos de limitar-nos a um breve esbo- * 0 caso paratigmitico a esse respeito € o dos morgados de Mateus (Vila Rea, (cf ‘Armando de Matos, 4 Casa de Mateus, Guia, 1930, Luis B. Guerra, O Brasdo dos Morgados de Matus: Sia Inierpretagao, Brags, 1963, ¢ Heloisa L. Bellto, O Morgado de Mates, Governador de S. Patdo, Coimbra, 1979). Uma das iltmas expessies no género sex ¢ de Jose Barbosa Canaes do Figueiedo Castello Branco, Anores de Cosedos das Families Nobres dos Reinos de Portugola. ti Lisboa, 183, inflizmente $6 abrangendo 0 Minho (ot. reports & cont). *7 Cf. Lawrence e Jeanne C.F. Stone, At Open Elite? England 1540-7860, Oxford, 1984 * CF. Francisco Chicon Jiménez, «Hfacia una nueva definicin de a estratura social en la Espafa del aniguorégimen através del familia y dels relsciones de parentesco, in storia social, n° 21, 1985, pp. 95-104 para olém da isisténcia na endogamia de grupo inicada nos prprios arrolamentes 363 364 Nuno Gongalo Monteiro 0 das principais questdes. O ponto de partida deve ser a centralidade que ‘© modelo reprodutivo vincular vai adquitir, 0 longo do século Xvi, enquanto comportamento de referéncia para o conjunto das elites sociais. Nos ramos principais da fidalguia antiga a sua adopgdo traduzia-se nfo apenas na fundasdo de vinculos, mas ainda no encaminhamento de grande parte das filhas e da maioria dos filhos secundogénitos para as carreiras eclesisticas. A reprodugdo alargada da «casa» constituia 0 designio estratégico a0 qual deviam submeter-se todos os destinos individuais. Era este, desde logo, 0 padrio de comportamento da primeira nobreza do reino™, © mesmo ocorria com as prineipais casas da provincia. E certo que acumulavam morgados uns a seguir aos outros. Casas houve, como a dos Silveiras Lobos de Montemor-o-Novo, que juntaram, antes da legislagio Pombalina que permitiu @ sua unigo formal, 22 ¢ mais vineulos”'. Esse fenémeno tinha varias origens: a vinculagao de bens por membros das casas, que criavam pequenos vinculos anexados aos tradicionais; casamentos com sucessores de morgados; por fim, unides acidentais resultantes da morte de algum parente””, Em todo © caso, existia, em regra, um morgado e casa- -edificio © uma combinacdo dos correspondentes apelidos (os mais antigos ¢ ilustres ou os associados aos bens de maior rendimento, ou as duas coisas), que davam o nome as principais casas da provincia, subsumindo outros a eles unidos. No entanto, a verdade ¢ que a identidade destas casas era sempre mais fluida do que a da primeira nobreza da corte, pois nao tinham geralmen- te senhotios jurisdicionais ou titulos ‘Nos processos de mobilidade social é necessério ponderar, em primeiro lugar, a existéncia de modelos altemativos. Um deles era 0 investimento nas fithas. E nesse sentido que apontam os indicadores para as camadas inferiores da fidalguia®®, bem como, numa primeira geracdo, noutras categorias soc De facto, hd testemunhos concretos do século Xvi portugues de um investimen- to preferencial nas filhas em grupos familiares em ascensio™. O mesmo modelo ‘que praticavam as elites de S. Paulo no Brasil colonial dos séculos xvii e xvin?®, ® CF, Nuno G. Monteiro, A Casa. 2. Cf. aLoboss, de Jodo Lobo da Silveira (org. de N. C. Mendes ¢ J. P. Malta), cit ® Cr, enire outs, além do texto antes citado, Maria Adelaide Pereira de Moraes, Fethas Casas —"¥ — Casa de Sexim, Guimaties, 1985, ¢ J. Moniz de Bettencourt, O Morgadio de Vilar Pertizes, Lisboa, 1986. "Cf. James Boone, «Parental investment and elite family in preindustrial states: a ease study of late medieval-early modem Portuguese genealogies», in American Antropologis, 1 8, 1986, pp, 859878, Designadamente nos detentores de benefcios eclesifstcos e oficios locals da apresea- tagdo da cas de Bragansa, estudados por Mafalda Soares da Cunha, 4s Redes Clentelares da Casa de Braganga (1560-1640) (dis. dout, mimeo), Evora, 1997, que no eram, & partida,

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