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O ESTAFETA DA LUZ

“Na confluência o grito inglês da São Paulo Railway...”

Paulicea Desvairada
Mario de Andrade

As pernas esticadas do compasso do relógio marcavam seis horas e muitas gentes p


assavam umas pelas outras ganhando terreno para tomar o trem naquele fim de tard
e de outono. Simplesmente embrulhos coloridos, sacolas, mochilas e que tais serv
em de escudo e atrapalho no anseio de tomar postos naquele trapiche ferroviário.
Enquanto uns aceleram o passo outros se deixam ficar e na varanda da estação es
piam aquele acotovelamento humano; alguns comem por vício, outros por fome e tan
tos outros por falta de tempo. O trottoir das damas do amor lascivamente se insi
nua aos passantes; os habitués acostumados à presença delas quedam em algum cump
rimento. São mulheres balzaquianas, entre trinta e quarenta anos, desgastadas pe
la vida que o destino selou. O serviço barato, vinte reais se tanto, atende a cl
asse de embarcantes e desembarcantes. Lá fora os ambulantes apregoam suas mercad
orias. Ao redor do prédio seguidas banquinhas, caixotes, carrinhos de mão servem
de balcão aos produtos comercializados. Tem de tudo. Petiscos, chocolates moles
, bolachas murchas, abacaxi no palito, meias e cigarros made in Paraguay, gorros
a la Bob Marley e o séqüito de cães que recolhem as sobras e assustam os introm
etidos. Os marreteiros do pedaço são preciosos informantes que orientam os perdi
dos, anunciam milagres e animam com seus bordões a entulhada rua Mauá. De uma po
nta a outra uma atividade mercantil múltipla e variada se estende. Portas pequen
as e grandes mostram a boca do prédio, geralmente escuras e um cheiro de azedo e
xala naquela confusão de incensos, pretos velhos e velas pretas. Os brechós suce
dem-se exibindo roupas em varais vergados pelo peso. Os donos à porta, sentados
em ordinárias cadeiras de madeira assistem desolados aquele vai e vem de pessoas
. Ali adiante, um menino, de dez ou doze anos, estendido na calçada, chapado, do
rme o sono da droga consumida. Pés descalços, franzino, mãos recolhidas de forma
uterina exibe um rosto marcado e definido pelo desdém da vida, da mãe que não t
eve, da escola que não foi, do lar que nunca existiu. E naquele bordel a prostit
uta de peitos salientes se mostra à janela oferecendo um corpo usado a preço vil
. Vem, vamos fazer nenê! Da porta do hotel hóspedes vespertinos saem sem obrigaç
ão em busca do delito. São gigolôs que protegem suas mulheres, querubins do infe
rno. Debaixo do pórtico da estação imagino se aquele povo suburbano teria sonhos
, desejos. Acho que não! A dura jornada diária da vida despovoa a imaginação daq
ueles desafortunados. Serão todos? Não, não serão todos. São tão anônimos que pr
otagonizam histórias que nunca ouvimos. Que estranha convivência na Luz. Do retâ
ngulo formado, na frente temos o antigo Jardim Botânico e seu vizinho, a Pinacot
eca. Às suas costas mais a oeste a Estação Pinacoteca, antigo DOPS e a glamurosa
Sala São Paulo que sucedeu a Estrada de Ferro Sorocabana. Ainda deste lado o ex
tinto Colégio Stafford e logo acima o Liceu Coração de Jesus, vizinho do palacet
e Elias Antonio Pacheco e Chaves que abrigou a sede do governo paulista no então
aristocrata bairro dos Campos Elíseos. As ruas do entorno - gastas, de calçadas
estreitas traz ainda um resto provinciano que teima em ficar. Já não temos as c
asas com portas ao rés da rua e tampouco os degraus da frente que serviam para a
molecada jogar bafa de figurinhas ou ainda arquitetar os afanos de pão e leite
deixados pelo padeiro e leiteiro. Nasci na Andradas e seguidamente andei pelo o
itavado de ruas: General Osório, Gusmões, Triumpho, Santa Ifigênia, Protestantes
, Largo Coração de Jesus, Cleveland, Nothmann e Jardim da Luz. Hoje ao re-visita
r o bairro, minha memória leva-me à presença do Lucas Nogueira Garcez que do pal
ácio acena aos garbosos soldados do Liceu Coração de Jesus. E de nada adiantou o
dito cujo fechar os prostíbulos da Itaboca e Aymorés, visto que ganhei uma amig
a, a Vilma, que fazia ponto na Gusmões. Foi ela que me defendeu quando a turma d
a Triumpho queria me pegar. Reconhecido, avisava-a quando a jardineira apontava
na rua, recolhendo as mulheres que a vida esqueceu. Do casarão da família Santos
Dumont que abrigou o Colégio Stafford (atual Fundação Patrimônio Histórico da E
nergia de São Paulo) ainda vejo Dona Dócia de hábito escuro, ao pé da escada, de
óculos, assistindo a saída dos pimpolhos. Tinha cinco anos e minha amada profes
sora Josefina é a recordação mais doce que guardo no meu coração. Alfabetizado,
fui acolhido pelos padres salesianos. Com muita disciplina e doutrinação fizeram
-me por vezes querer seguir o Domingos Sávio. Claro, não cheguei a tanto, fui co
ngregado mariano com interesse em assistir aos filmes que passavam no teatro, tã
o logo terminassem as aulas de catecismo. De bata vermelha e babador branco serv
i hóstias aos pecadores, absolvidos pela confissão. Muito vinho surrupiei da sac
ristia e com muita habilidade esvaziava o cofre de Dom Bosco do Santuário. Tal d
estreza deveu-se a vocação de meus desafetos em gostarem de sentar a pua em mim
e não pelos feitos do “gato do telhado”, o célebre Gino Meneghetti. Explico, as
esmolas depositadas no cofrinho do padre pagavam minha proteção confiada aos gra
ndões do internato, chegados a um vermute, visto que os urubus-de-saia não tomav
am conhecimento. Realmente a memória é uma festa móvel (F. Branco) e o Antônio d
e Alcântara Machado escreveu que “em São Paulo não há nada acabado e nem definit
ivo: as casas vivem menos do que os homens e se afastam, rápidas, para alargar a
s ruas”. Tomado de emoção aceno imaginariamente para o Biba e o Duda, companheir
os de rua que o urbanismo levou, assim como os bondes, o amolador de facas com o
seu assobio de flauta, o vendedor de leite de cabra, o homem do beiju, o Vicent
ão que matava um boi com um murro, o Walcott lutador de boxe que me levava à esc
ola, os choferes Rasteira e Orlando, o barbeiro Moacir que pelava o meu coco, de
ixando-me de franjinha, o Restaurante Ferramenta e tudo mais que o desrespeitoso
desenvolvimento impõe. Antes fui espadachim, bucaneiro, pirata de ventos largos
, conquistador de reinos que a radio São Paulo (PRA-5) no seu teatro de aventura
s sonorizava com a família reunida. Com prazer ia assistir às funções do Teatro
Santana, a sessão zig-zag do Metro, aos capas negras de Coimbra no Paratodos e m
ais ainda ao Jardim da Luz, ao Parque Shangai onde a tia Zelinda gargalhava. O m
odo de ser e estar refletia uma São Paulo pacata, segura onde a sociabilidade se
fazia presente. Parece que todos se conheciam. O respeito, a educação, a civili
dade permeava no comportamento gentil das pessoas. Nem a garoa atrapalhava. Agor
a, com as comemorações do IV Centenário e seu Nonô apressando as estradas, as in
dústrias e levando a capital para o planalto central potencializa a modernidade
do país, rival do Barão de Mauá. Este sim foi o personagem que conduziu a Vila d
e Piratininga à megalope que é São Paulo. De cento e vinte casas rodeadas de faz
endas e famílias que só saíam de suas herdades para as procissões religiosas ao
conhecimento do mundo como grande pólo produtor do ouro verde foi de um empreend
edorismo arrebatador. É bom que se diga que o café foi introduzido em Belém do P
ará em 1727 pelo português Francisco de Mello Palheta. Somente a tenacidade e s
eriedade de Irineu Evangelista de Sousa conseguiriam tal feito, sua respeitabili
dade ganhou o aval do Barão Lionel Rotschild. Pioneiro de empresas de navegação,
gás, bancos entre outros, funda em 1860 na Inglaterra a The São Paulo Railway C
ompany Ltd. (SPR). Durante sete anos enfrenta monumentais dificuldades, vencer a
Serra do Mar e estabelecer na Vila de Paranapiacaba (do tupi guarani – o local
de onde se avista o mar) um complexo sistema “funicular de planos inclinados, on
de locomotivas estacionárias fazem descer e subir os trens através de cabos de a
ço tracionados”; foi então sacaneado por seus sócios ingleses que o deixaram a v
er navios, não honrando uma divida de 500 mil libras esterlinas. Por este tempo
a cultura do café dominava todo o setor oeste da imperial província, migrado que
foi das terras fluminenses para o Vale do Paraíba; serviu-se vorazmente da terr
a roxa num rega-bofe itinerante de Campinas à Ribeirão Preto, entre outras. A E
stação da Luz foi oficialmente inaugurada em 1867, além da concessão por noventa
anos tinha ainda por trezentos e sessenta meses exclusividade de acesso ao port
o de Santos. Tal restritividade deixou-a desinteressada pelo prolongamento das l
inhas para além de Jundiaí, pois qualquer outra empresa férrea seria sua tributá
ria. Tal empreendimento significou avançar mais de três séculos de pasmaceira a
ponto de surpreender o advogado Antonio de Paula Ramos Júnior que em seu relato
de 1882 escreve: “não havia edifícios tais como os teatros Ginásio e São José, o
Real Clube Ginástico Português, o Hospital Beneficência, o Templo dos Protestan
tes Ingleses, o Tesouro Provincial, o Seminário Episcopal, além das estações das
linhas férreas. O que porém atraiu a minha atenção foi o movimento, a animação,
a vida da cidade, fato inteiramente novo para mim; quando daqui retirei-me as r
uas eram pouco freqüentadas, salvo nos dias de festa; as famílias só saíam a vis
itas e com o chefe da casa ao lado; não havia em geral o hábito de passeio, nem
por diversão do espírito, nem por necessidade higiênica”. Ainda, “(...) Durante
certas horas do dia já o incessante rodar de carros e carroças torna-se incômodo
a quem não está habituado; ao antigo silêncio sucedeu este concerto, pouco agra
dável, de sons produzidos pelo atrito nas calçadas de tantos veículos de diversa
s espécies (...) O jardim mais freqüentado, especialmente pelos estrangeiros, é
o antigo, na Luz. Muitos melhoramentos se fizeram e alguns o embelezam. Nos domi
ngos e quintas toca ali uma banda de música; é grande nesses dias a afluência do
povo (...)”. Sua constatação diante do triângulo central: “(...) aspecto alegr
e, bonito; antigamente, quando passávamos por elas à noite, não se encontrava um
a viva alma, salvo em ocasiões de luar ou de festas; as lojas fechavam-se cedo,
(...) a iluminação a azeite de mamona e lampiões imundos (...) era péssima”. A I
nglesa como era conhecida irradiou o crescimento do bairro da Luz, visto que os
barões do café aqui chegaram de suas fazendas e construíram magníficas mansões n
o bairro dos Campos Elíseos. Aproveitando a comodidade do urbanismo passaram a d
esenvolver na cidade outras atividades, fomentando o desenvolvimento. Com sua ar
quitetura e materiais importados tornou-se o point da aristocrática sociedade. S
ucessivas construções e novas proporções foram executadas no edifício ferroviári
o. Até que em 1 de março de 1901 inaugura-se oficialmente o prédio da nova esta
ção e a chamada Serra Nova passa a escoar seis milhões de toneladas de café. A n
ova edificação sofre rebaixamento do seu leito férreo, pontes metálicas viabiliz
am o transporte de rua e a cobertura exibe uma arcada com trinta e nove metros d
e vão livre. “O sucesso é tal e a curiosidade tamanha que dado o contingente de
visitantes o superintendente William Speers determina a cobrança de 200 réis par
a assistir as partidas ou chegadas dos trens”. O êxito incontestável torna o pré
dio um marco e uma das mais celebradas vistas da cidade. O cotidiano se insere n
a nova paisagem da cidade. Apesar dos ingleses retirarem mais do que investiam,
sua contribuição foi decisiva na iluminação pública, no saudoso bonde de lata, n
o telégrafo e no futebol trazido por Charles Miller. Anos mais tarde, exatamente
em 1946 nas vésperas de passar o controle da ferrovia acontece o pavoroso incên
dio que o jornal O Correio Paulistano assim descreve: “Do velho e austero edifíc
io da Estação de Luz só restam agora a ala oeste, onde funcionam a chefia de Trá
fego e o departamento de bagagens e as paredes da ala leste, em conseqüência do
violento incêndio que quase a destruiu completamente na madrugada de ontem. Dura
nte sete horas, o fogo lavrou intensamente, exigindo dos bombeiros um trabalho s
uperior às suas forças, pois que o incêndio que ocorreu às 2.15 foi um dos maior
es que têm ocorrido nestes últimos tempos. O fogo ao que parece, foi provocado p
or um curto-circuito nas instalações elétricas do terceiro andar do edifício e s
e alastrou com incrível rapidez às dependências, o que exigiu grande trabalho do
s bombeiros (...) para combater, enfrentando a falta de água, (...) as chamas qu
e atraíram para o local milhares de pessoas (...). Ainda,” Eis senão quando, dos
olhos brancos do relógio, começou-se a quebrar e a derreter o esmalte, deixando
as pupilas escuras e vazias. Os velhos ponteiros fidelíssimos ao tempo continua
vam imperturbáveis em meio ao fogaréu e, à chegada das quatro da madrugada, o so
m das badaladas encontrou-os pontuais. Dez minutos depois, o calor os fez retorc
erem-se e tombar, e do velho marcador de horas nada mais havia “. Decorridos doz
e anos do incêndio, lá estou eu empregado na qualidade de estafeta da Estrada de
Ferro Santos Jundiaí, agora encampada pela Rede Ferroviária Federal S/A. Encont
ro-me no terceiro andar da estação, lotado no Departamento Jurídico tendo como c
hefa a dona Eva da Cruz Feliciano. Senhora de ar severo que contrapunha com a su
bchefa Julieta Lopes. As demais meninas Abigail, Helena, Ludmila e Julia complet
avam com o continuo Armandinho o staff de apoio aos procuradores da estrada. O g
randão do departamento era o Dr. Orlando Lambert, cujo escritório ficava no prim
eiro andar próximo a biblioteca. Gostava muito de ir à biblioteca, as estantes,
aquela mesona central e as poltronas revestidas de couro deixavam-me contente. I
a lá sempre a mando. Paulo, dizia-me o Dr. A.A.A. Barbosa traga-me o Pontes de M
iranda. Morava naquela época em Eldorado Paulista, junto à represa. Longe para c
huchu! O microônibus demandava duas horas de viagem, com ponto final numa traves
sa da rua Maria Paula. Caminhava até a estação, visto que o expediente começava
ao meio dia. Levava um lanche reforçado que mamãe com muito zelo preparava. De t
erno e gravata apresentava-me todos os dias. Arquivava ações, colecionava as fic
hinhas do Íncola e transcrevia datilograficamente as imensas e enfadonhas cartas
de sentença. A fotocópia veio mais tarde. Aquele maldito sten’cil e gelatina am
argavam o dia. Foi um aprendizado muito proveitoso. As conversas mantidas em tom
cerimonioso, quase oficial, marcavam a fluência dos vernáculos corretos e ausên
cia de palavras chulas, gíria jamais. Tempos depois, fui encarregado de correr o
s fóruns da capital para ver o andamento das ações e retirada de autos. Para tan
to, era servido por um carro oficial, chapa branca cujo motorista Orlando foi co
mpanheiro de muita cerveja bebida. Conhecia as dependências da estação como ning
uém. Só não gostava de ir ao arquivo da torre do relógio. Era um calor infernal.
A escadaria de madeira, o pó acumulado por décadas deixava qualquer um em bagas
de suor. Nas minhas idas e vindas pelo prédio pude conhecer pessoas de muitos c
réditos. Principalmente o Sr. Mariano, negro, continuo da superintendência que c
om simpatia e sorriso largo recebia a tudo e a todos. De confidência a conselhos
, procure o Mariano. O Zilbo, seu genro, com ele fazia dupla no atendimento à di
retoria da estrada. Da janela do escritório a exuberância do Jardim da Luz ponti
ficado pelos quase extintos fotógrafos lambe-lambe, a presença do Liceu de Artes
e Oficio e um pouco mais adiante a igreja de São Cristóvão. A rua das noivas, b
em no canto onde o bonde dobrava a esquina. Quantas vezes não fiquei na murada d
a estação, perdido em meus pensamentos, vendo a azáfama daquele povo. Apesar da
severidade da vida, o meu grande prazer era comer um sanduíche de presunto cru n
o restaurante do Julio que ficava na rua Mauá. Ou ainda, na mercearia do alemão
onde se comia um belo salsichão e aproveitava para visitar a prazerosa Vila dos
Ingleses que com suas casinhas grudadas e janelinhas no sótão traziam-me aconche
go e bem estar. Hoje, com a degradação do entorno ouve-se no abandono das esquin
as uma elegia surda que atravessa os quarteirões, assombrando cortiços, esquelet
os do passado que balançam seus haveres perdidos, soprando o bafio da morte atra
vés dos buracos das janelas e ninguém se lembra da cartomante Antonieta, da cafe
tina Iara, da Lu, do Mon Gigolô, do malandro Esmeraldo e dos bares de orvalho vi
zinhos da quitanda do japonês, onde obscenas garçonetes de atrevidos seios servi
am os policias marítimas dentro dos seus uniformes azul-céu. Com o cansaço ferro
viário tudo se altera, os caminhos de longo curso passam a ser suburbanos, a pas
sagem diária de mais de 50.000 pessoas (Luz Station, pág. 87) derruba a pouca di
gnidade que alguns prédios guardam. Ambulantes, mascates, zabaneiras de profissã
o protagonizam com os drogados ambiente hostil e perigoso. Avenidas alargadas ex
põem mais ainda a miséria humana que se espalha pelos antros e portas arrombadas
de construções abandonadas - não por falta de inquilinos. É tudo muito doloroso
. Diante do tombamento da Luz, alguns edifícios são restaurados ou requalificado
s. A importância histórica e cultural deste berço urbano se impõe ante a decadê
ncia e o fazer de conta político. Monumenta é um projeto de recuperação e até o
momento somente isso. Muitas idéias e sonhos estão nas gavetas municipais e esta
duais à espera de que sejam violadas. De gavetas a gabinetes, recordo-me que o L
uis Martins “Um Bom Sujeito”, amigo de Carlos Drummond de Andrade, deste se soco
rreu quando era chefe de gabinete do então Ministro da Educação, Gustavo Capanem
a, que a propósito de projeto dizia: “Não falemos a ninguém a respeito dos nosso
s projetos, porque as pessoas que forem contrárias desde logo poderão atuar com
os seus obstáculos e as que ficarem a nosso favor atrapalhar-nos com a colaboraç
ão” (Citações – Paulo Rónai). Refletido pensamento conheceu-se na primeira metad
e do século passado; manequim siamês do Monumenta. Este empreendimento é um orig
ami de funções invertidas, que vai se desdobrando em siglas no périplo federal,
estadual, municipal até a incapacidade e imobilidade dos órgãos maçons da cadeia
, que de forma endógena e exógena exibem apatia tamanha como aconteceu no acervo
arquitetônico de Alcântara, no Maranhão (Jornal Pequeno de São Luís-MA-de 1 /10
/2008). Para conhecimento anote algumas delas: MINC –BID – IPHAN –UNESCO –UCG –G
T. Nas suas raízes o programa procura “conjugar a recuperação e preservação do p
atrimônio histórico com desenvolvimento econômico e social. Ele atua em cidades
históricas protegidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Naciona
l. Sua proposta é de agir de forma integrada em cada um desses locais, promovend
o obras de restauração e recuperação dos bens tombados e edificações localizadas
nas áreas de projeto. Além de atividades de capacitação de mão-de-obra especial
izada em restauro, formação de agentes locais de cultura e turismo, promoção de
atividades econômicas e programas educativos. Estabelece novos usos para os imóv
eis e monumentos recuperados. A descoberta do patrimônio cultural como fonte de
conhecimento e de rentabilidade vem transformando essas áreas em pólos culturais
, incentivando a economia por meio do incremento do turismo cultural e geração d
e empregos”.
Hélas! Estou cego, andarilho que sou, não consigo ver nesta paulicéia abarrotada
o tal Monumenta.
Distração astigmática, talvez!
Pudera, é tão tímida a intervenção, que somente agora tomo conhecimento, e isso
porque está escrito no tal www.monumenta.gov.br que no dia 28 de março pp., entr
egaram restaurada a Casa do Administrador do Parque da Luz. Informação futura de
que Ponto de Bondes, prédio do Ponto Chic, Coreto n 2, Edifício Paula Souza, C
haminé – aquele próximo do quartel – serão convenientemente resgatados da virose
dos tempos. Se, dúvida tiver fale com a EMURB, braço paulista do polvo siglista
que mora no MINC do planalto central. Deste ponto o Museu da Língua Portuguesa
com seu abracadabra modernoso cumpre a seu modo o papel de locatário-mor da Esta
ção da Luz, chamariz cultural de contido percurso. Não muito distante, no cantin
ho direito do grande saguão da Sorocabana eu tomava o melhor sorvete de casquinh
a do mundo, ora soterrado pela magnífica instalação da Sala de Concertos São Pau
lo, que com seus acordes solenes desperta fantasmas e ogros dos viciados que per
ambulam errantes com suas falsas Valquírias na sanha do ordinário viver. Tudo pa
ssado restou ruas feias e sujas, prédios cambaleantes, anônimos personagens que
passam esquecidos da própria existência que a história não consagra e as prostit
utas de rua vingam pela paga do amor e a criança ao lado, cheia de droga, inocen
te, desperta para a maldade da vida.
paulo costa

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MAZZOCO,
 Maria Inês – Eduardo Albarello e Antonio Soukef Junior. Cem Anos Luz. 2
ed. São Paulo, Dialeto – Latin American Documentary, 2000.

DIMENSTEIN, Gilberto e Okky de Souza. São Paulo 450 Anos Luz. 1 ed. São Paulo,
Editora de Cultura, 2003.

SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Feliz 1958 – O Ano que não devia Terminar. 7 ed.
Rio de Janeiro, Editora Record, 2003.

GAMA, Lúcia Helena. Nos Bares da Vida. 2 ed. São Paulo, Editora Senac, 1998.
BRANCO, Frederico. Postais Paulistas. São Paulo, Editora Maltese, 1993.
REY, Marcos. Memórias de um Gigolô. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.
MEMÓRIA URBANA – Volume I – Arquivo do Estado. São Paulo, Emplasa – Imprensa Ofi
cial, 2001.
FILHO, André Barbosa. São Paulo Nas Ondas do Rádio. Disponível em: www.almanaque
dacomunicação.com.br/artigos/1156.html-14k, maio 2008.
VEJA – Retrospectiva de um Quarto de Século (1968-1993). Ed. n 1311. São Paulo,
Editora Abril, 1993.
PROJETO MONUMENTA. Disponível em: www.monumenta.gov.br, outubro 2008.
ESTAÇÃO DA LUZ

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