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ANDRES DI TELLA rabinos viajam mum téi. © primeiro suspira ¢ diz: Quando penso em Deus. vejo que realmente sou pouca coi O segundo rabino diz para o primeiro: la. Se voce é pouca coisa, entio o que sou? Eu nfo sou na O terceiro rabino diz para o segundo: Se vocé nao é nada, entio, o que sou? Menos ainda do que nada! Estou por baixo de tudo! Ne! Mas se voces fala desse modo, se dizem que nao sio nada, ou ainda me- viva e di se momento, 0 taxista, que é negro, nos do que nada, entio, 0 que sou eu? Nao ha palayras para me deserever, niio existo! Entao 0s trés rabinos olham para ele ¢ dizem Mas... Quem esse cara pensa que (© CINEMA DO REAL 2 Em 1953, Witold Gombrowies! comega seu didtio, escrito para ser_publicado da morava na Argentina, e onde revista polonesa de P: is. enquanto a resposta antecipada aquela mesma pergunta dos jos. Na sua ira anolaciio, que corresponde a uma segunda-feira, ele escreve simples tu”. E continua assim: terga-feir Quarta-feira: “Eu”, Quinta-fei- 6 na sext uy passar para outro assunto. 1 ele conseg Mais adiante, numa quarta-feira, cle responde a. uma mulher que o acusa de Essa mulher exige que eu esqueca de min mesmo, embora saiba perfeitamente que and ela. A enorme pres- aque de apendicite sou eu que you se eu tiver uma fio a que estamos submetidos de todos os lados pa mos A nossa pré- ado adiante, conduz so pria existéncia — como todo postulade impossivel de ser le falsidade da vida |...). Particularmente, um artista que se dei mente a deformag nar ¢ dominar por este convencionalisno agressive esti totalmente perdido, xaen Vio deixe que alguém o anedronte, A palayra “cu” 6 to fundamental e primordial, Lao plena da realidade mais palpaivel © em conseqiiéneia disso a mais honesta tio infalivel como guia e tio severa como critério, que em lugar de desprezicla deveria mos cair de joclhos perante ela. 3. Meu ultimo filme, A televisdo e eu. tem a particularidade de ser um filme em inda é considerado entre nés como uma contradic primeira pessoa, 0 que nc No documentirio, partindo das minhas | is lembrangas da ty, passe da historia nacional a hist6ria familiar, indo © vindo do publico ao muito priv do. Dois eriticos ja me disseram (percebe-se que conversam entre si) que Thes P Livesse me ex- parecia “muito temeririe” que cu aparecesse tanto no fil Lei esse comen= posto tanto, Nao foi necessariamente uma critica, mas interpr uilurgo polonés que passou grande parte dee sua vida 1 Witold Gombrowies ‘igo4-1glig,, pocta © di arte de sua obra 70 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.696/2003, ANDRES DI TELLA lario como uma va iagdio do “quem esse cara pensa que 6”. mei de um ci- Um dos primeiros documentirios emp a pessoa que vi er heasta japonés (ndo recordo o seu nome) que, depois de estudar em Londres, tar sua familia com sua recém-assumida homos- voltava para 6 Japao para enti cdmodo e nio muito bem-sucedido, mas sexualidade, meiro filme ii uum pi Ihe proporeionava muita forga. Também 6 evidente riseo pessoal que assum easta norte-americana dizia que o documentirio pessoal, nao recorde qual ci «a Ler legitimidade e nao ser uma simples expresso nareisista, deveria repr sent uma espécie de coming out do documentarista, como se diz dos homosse- lidade.’ Ou seja, nio deve ser Xuais que se atreveram a assumir sua homossexti ar alum risco, deve en- tum gesto gratuito para a pessoa do cineasta: deve implic volver uma adesio a uma atitude que para algum critico implieante resulta “te- ex: meriria”, De todo modo, suponho que por tris de toda atitude de censura pressio pessoal Lao argentina também —, por tris do medo de falar no préprio home, existe uma inquictude valida, Por que U 1 documentarista tem de falar na primeira pessoa? Que necessidade ele tem de nos contar seus problemas? Depois de trabalhar durante mais de dez anos em documentirios, aqui ¢ no ame frustram mais exterior, e¢ necei a lutar contra os limites do género. Cada d as limitages que nés documentaristas impomos a 6s mesnios na hora de ex- eda histéria dos outros. Quan- pressar nossas preocupagoes através da pala do fiz Prohibido, em 1gg7, resultado de uma pesquisa sobre @ que aconteceu com 83, ti s, intelectuais ou artis- © enormes dili- a cultura argentina durante a ditadura militar de 1976 sles jornalist culdades para obter os depoimentos dact las que de alguma maneira colaboraram eon o regime militar Finalmente consegui dois ou tres depoimentos valiosos, como, por exemplo. ode Kive Stall, que teve a coragem de defender sua controvertida gestio ne ¢o- mando do ro Municipal General San Martin, principal teatro oficial do pais, un tachado de “colaborador™. Minha confessando ter perdido amigos que o hay Intencio nao era, evidentemente, prejudicar Staiff, ou qualquer outra pessoa. No “ nar as decisdes que cada um tomou ps contrario, minha intencie era exami 2 Devo esta colocagio a uma observacio feita por Vanesa Ragone. Nor n PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. ‘© CINEMA DO REAL 2. Em 1953, Witold Gombrowiez' comega seu dis ado. », eserilo para ser publi entina, e onde huma revista polonesa de Paris, enquanto ainda morava na Av mesma pergunta dos rabinos. Na sua aparecia uma resposta antec 1, ele escreve simpl ate eo, que corresponde a uma segunda-le cio, Qua primeira anot Eu", Quinta-fei- du”, E continua assim: terga ment Eu", S6 na sexta-feira ele conseguiu passar para outro assunto. ta-feira, ele responde a uma mulher que oacusa de Mais adiante, numa qu egocentrico: de mim mesmo, cmbora saiba perfeitamente que sa mulher exi que cue ur, niin ela, A enorme pres: se eu fiver um ataque de apendicite sou eu que vou g Jos submetidos de todos os lads — para renunciarmos a nossa pro- sflo-a que est pria existéncia como todo postulade impossivel de ser levado adiante, conduz so- mente a deformagio e a falsidade da vida |..). Particularmente, um artista que se dei- xa enganar ¢ dominar por este convencionalismo agressive est totalmente perdido. ordi Nao deixe que algucim 0 amedronte. \ palavra “eu” io fundamental ¢ pri ccm conseqii@neia disso a mais honestat to Lio plena da realidade mais palpavel como eritério, que em lugar de desprezi-la deveria- infalivel como guia o tio seve mos cair de jocthos perante el 3) aridade de serum filme em ne, A televise ¢ eu, tem a partic Mew tiltimo a contradicao, ado entre nos Come t primeira pessoa, 0 que ainda é conside No docume », partindo das minhas primeiras lembrangas da vy, passe da hist6ria nacional 4 hist6ria familiar, indo e vindo do publico ao muito priv um entre si) que hes do. Dois eriticos ja me disseram (pereehe-se que convers: muito Lemerério” que eu aparccesse tanto no filme ¢ tivesse me ex- parecia nente uma eritica, mas interpretei esse comen- posto tanto, Nao foi neces: 0 polonés que passou grande parte de sea vida I Witold Gombrowier (1go4-1969). poeta e dranat a obra na \rgentina, onde esereven maior parte de st PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LE! 10.695/2003. © CINEMA DO REAL cunstincias tio dificeis. De fato, 0 continuar tabalhando © produzinde em que eu fago quando recolho depoimentos é tentar me colocar no lugar do ou- tro que esti me transmitindo essa experiéneia e tentar compreendé-lo, até o ure a feito no seu lugar. Minhas “ ponto de me perguntar o que eu mesmo te as, interedimbios nos quais cu falo tanto quanto » verdadeiras conver vistas” eu deixava minha parte da 6 que, até agora, eesti diante da cémeri aquele qu conversa na sala de edi De qu gagdes telefonicas, as men 16mm quis mostrar a cara. As li alquer modo, em Prohibide quase ning is, as negociagdes wens deixadas em caixas post arantias exigidas © oferecidas, a inter- ptirias © pessoas proximas, as 4 weer um possivel entrevistado, as esperas ¢ as com set ra COnVE diagiio de tereciros pi 0 re. existir, os encontros quase clandestinos, 1 reunides que nao ches 1s na penumbra, as perguntas indivetas, as mentiras deco- gistrados, as conver 10 © das tentativas frus rosas... Enfim, as peripécias ¢ tribulagdes da investigag > obtive, tudo isso Lalvez tivesse sido tradas de conseguir depoimentos que na mais interessante como relato do que simplesmente oferecer — como fiz os magros resultados que consegui, por mais valiosos que fossem.’Todo documen- tirio sobre o passado nos fala, acima de tudo, do presente. Contar meus pro- rasso — também teria sido revelador do ero filme —o meu fr blemas para Mina resiste a prestar contas do porqué, tantos anos depois, a sociedade arge idade de He acontecen nesses anos. Mas s6 pensei nessa possibi que realne pois de ter terminado o filme. 4 Qualquer pess« ia sobre © que seja fazer um do- 1 minimo de expe com t ade que diante da camera de um documentarista cumentario tem conseiénei sressar em uma discussie sempre hd atuagées (encenagdes). Sem pretender ir a colidia- 1 possivel inclusive aceitar o argumento de que na vic complicada, ser Midacles mais ow menos fieticias, depen- na todos encenamos © assumimos ide zermios isso em frente das punstincias. Seria muito estranho nao (2 dendo das « a quanto o documentirio, Na minha ts. Essa 6 uma discussio tao antiga Ame: oO escorregadio, 1 & caminhar sobre um el propria experi@neia, filmar algué 72 RS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003 ANDRES DITELLA onde a presenga da came pode suscitar certa falsidade no comportamento, mas também abre espago para revelagdes que sem a eémera no se produriri- ntaria tem a ver com saber bri am. ‘Toda a minha “técnica” docu pear em uma, jo en re consciéncia e esquecimento. A consciéncia de que estamos fil- * I mando gera no sujeito uma entrega de si dificilmente possivel sem um compro- misso com o ato documental. Por outro lado, em alguns momentos é necessirio esquecer a cimera, pois do contririo 0 peso desse mesmo compromisso pode inibigdo. Nessa oscilagio entra em jogo a atuagao, a encenacio. resullar em uma 0, quem inau- Provavelmente foi Robert Flaherty, um dos pioneires do géne p tinha » somente ni gurou a pritiea do documentirio “encenado”. Flaherty 3 a menor dificuldade em pedir a Nanook que repetisse para a efimera situagoes les. do cotidiano, assim como nao se privava de pedir que interpretasse ativi¢ inho com ado ne que nunca havia reali Visto realizar, como cacar um lobo m Bes que nao eram reais arpio, ou inyentar relagées entre os personagens, relag 6). Tame na verdade uma a parece que a “esposa” do Nanook nante esquin jaherty haver filmado um documenta bém nao é um dado menor o fato de F anterior no Alaska, cujo material foi destruido por um incéndio. Vale dizer que tudo era de fato, em algum sentido, repeti¢io ow reconstrugao. Vanook do Norte xa dle ser um Leste rho histérico da forma de vida que, desde os (age2) niio de tempos do Flaherty, estava em vias de extingio, C0 1 precursor do 1 { possivel argumentar que Flaherty foi, na realidade, realismo, mas scus métodos “ineserupulosos” eairam por terra na tradigio docu- mentiria. O momento da fundagaio do documentario moderne foi em Lorne dos »8 Go, nos Estados Unidos, quando surgiu a utopia do cinema direto, que se io do cineasta ¢ refletir a vealidade tal propunha a reduzir ao minimo a interveng mais arelhos portit foi possivel pela criagio de novos ap qual cla 6 \ Imar com a cémera eves, assim como de um filme mais sensivel, que permitia na mo e som sincronizado, com menos luzes artificiais, em praticamente qual- 1 Lransformaya-se numa “mosquinha na pare- quer lugar, Nessa fantasia, a cme rentos como se nio estivesse ali. de”, capaz de observar ¢ registrar aconteci M fio da equipe documentarista na pratica document Jas, 20 mesmo tempo em que criava o mito da objetividade ea nie ia, o cinema direto leve veng 73 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. Nanook do Norte, Robert Flaherty (1922). x eH ANDRES DITELLA o efeito paradoxal de estimulara atuacdo nos documentarios. Na st ia inter rigorosa, o cinema direto nao perm cogar ou dar indicagie aos sujeitos do documentari »,0 que os incitava a tomar as iniciativas. \ escolha de protago- slas para os documentarios comecou a ficar parecida com um casting, em que © que se procu wal er 1 personalidades extrovertidas que se comportavam es~ pontan nente diante de uma eémera ¢ atuavam por um motus préprio, sem ne- ¢ idade de sere dirigidas, No minimo, preeisavam fazer de conta que a ea mera nio estava ali. Na ve rdacle, alguns dos filmes: roraveis dessa escola lem, como sujei- tos performers, Bob Dylan, que, com suas provocacies ¢ alitudes, monta sua pro- pria mise-en-scene em Don’t Look Back \Nao olhe pra tris), de D.A. Pennebaker, Ou, alc como no caso de John Fitzgerald Kennedy e seu irmio Robert que, cada qu aticami seu filme Primary, de Robert Drew, p ic ae inyentaram 0 protétipo do poli ticon) 1¢ das cameras. Perso- -o telegéni ra nunea de atuar dia co que nao pai hagens como as exeéntricas damas da sociedade, que também montam seu prd- prio show no cl ssico dos irmaos Maysles, Grey Gardens Jardins cinzentos|, A au- sénei » da vor em off'também os obr ade entrevistas ¢ a vedi pou elimina ram a narrar com seqiténeias de imagens, na mesma linguagem dos filmes de fic- 1 ei gual! fio, armando na montagem situagSes dramaticas de agdes ¢ reagbes,a hase de pht- amenite a mesma situa hos © contraplanos que nem sempre correspondiam este 40 real, Por isso, os melhores filmes do einema direto fieam muito parecidos com mentiria de seus criadores. as fiegdes, apesar da declaragio de fé doe FE como na histéria de Groucho Marx, aquela do sujeito que vai ae psiquia ra pede- tra porque sua mulher est louca e acredita ser uma galinha, O psiqu Ihe que leve sua mulher para consulté-la, que cle vai solucionar sew problema. Passa um tempo eo homem volta ao médico: © que foi? Sua mulher nao ficou boa? Sim, ela esta curada. J nao acredita ser uma galinha Entio, qual 6 probl a © problema 6 que eu preciso dos vos... Os métodos que Flaherty usava haviam caido em desgraga, mas, como nt his: Loria de Groucho, os documentirios continuavam necessitando de encenag 75 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. CINEMA DO REAL 5. Quase ao mesmo tempo em que apareci 1 diteto nos Estados Unidos, o cine! des se confundiram com 0 cinéma vérité. As duas denominag ng: surgia na Fr © tempo e muitas vezes os filmes de uma escola sio chamados com o nome da intas. No cinema outra. Mas no comego tratavam-se de duas idéias bem dis No contri verdade nao se brinea com a inyisibilidade da edn fo, pivtesee do principio de que um documentario nao 6 mais do que o encontro entre -chave dessa escola foi Jean 16.08 que sao filmados. A figur aqucles que filma Rouch, um etndgralo marcado pelo exemplo de Flaherty, que, como ja vimos, o menor problema em misturar registro © re-criagdo nos seus docu- nao Vi mmentirios. Mas Rouch também era chegado ao survealismo (foi muito amigo ica cinematograli- de André Breton ¢ Luis Buiiuel) ea seu modo, levou a pri sssivo da improvisagdo ¢ do acaso, dos so- ea acrenga surrealista no poder exp) rnhos ¢ das Fantasias, rigos alvicanos Em Lu, um negro (1958), 08 individues documentados eram de Rouch que inventavan uma personagem © improvisavam situagses a partir © protagonista, por exemplo, 6 um rapaz que trabalhava no dessa identidad idward G, Robinson, o ator de Holly- a identidade de I mas que ass porte ando vi aterial filmado, o rapa rovi ‘lowe f (wood: Quando vit o material Fmado, © rapaz improvisow um monslogo que eiona como a vor em off dos seus p' mentos. Este jogo, extremamente fun aluacaio © registro cotidia- miples ¢ sofisticado ao mesmo tempo, que misturs si Vidade desses jovens altiea- sobre a existéncia ¢ a subjet peyela muito m teh 1 tratamento nnis objetivo, Para Rouch, 6 que un resultado jos do que le 1 realidade” em si, mas a realidade de um tipo de joumentirio revela ni < d «ogo qui Jae ‘is de uma camera. 1 se produz entre as pessoas que estio a frente ¢ at Godard, grande admirador de Rouch, disse com respeito a Lia, um ne- por i880. que “todo ge 10 tende a0 documentirio, assim como todo nde filme de fic gro: © aude filme doe gre ‘ Fi [en Cronica de um verdo, vealizado em 1961 com os novos aparelhos que per- rentirio lende a fiecio”. mn gravar na rua com imagem ¢ som sincrdnicos, Rouch dew um passe miti@ jee. Agora ¢ conversas “prévias” com os sujeitos do documentitio, no caso, jovens parisi- a, cmbora timidamente, jana Le “1.0 proprio cineasta que aparec aes cm 716 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LE! 10.695/2003. Eu, um negro, Jean Rouch (1958). © CINEMA DO REAL enses que se perguntavam sobre a Felicidade também amigos de Rouch e de seu rsa, Rouch ¢ Morin propdem a uma meira COnY co-pilot, Edgar Morin). Na pi dei mento de cinema verdade” (outra brin rticipar de “um exper moga p: 5 filmagens, Rouch ¢ Morin projetaram o material para os Quando finalizar: participantes, que se mostraram. muito pouco conformados com. suas atuagdes alizada sim- no filme ou, talvez, com suas proprias vidas. Depois da projecio Os os »pologia, v bolicamente no Museu do Homem de Paris, templo da ant unto Rouch conclui: “0. problema & que cineastas passcando pelo museu enqt estamos junto com cles na banheira”. Ou seja,a mosca nao esté na 6s tambe parede, ¢ sim na sopa 6. Desde Cronica de um verdio até hoje, se . documentaris- a possivel dizer que né sta sustente que fae tas, perdemos nossa timidez (embora um amigo documenta srimos nos misturar com a zemos documentirios porque somos | nidos © prel equipamentos minimos em situagdes fntimas, em um eanti- gente ¢ andar co 8 : a A ‘ no meio de um set iluminado, com drizias de Weni- de esta inho escure, cm ve alores ¢ equipamentos dependendo das nossas ordens). Mas antes eu esta: cos. a falando sobre a atuagio dos sujeitos documentados. E- que entao seria possi va fi ‘ 7 fe} pensar agora que o documentarista também comegou a ati v s de Claude Lanzmann em Shoah (1985), sua monumen- Certas intervencic ri dos judeus, fazem pensar em um modo de at tal indagacio sobre o exter ado ou se aborrece com outro, quando inter: go, quando provoca um entrevis! acao, jal nia- al UM eX-C jmpe un relato para gerar suspense, ow quando mente py re 1 quem filma com uma eamera oculta “Dou-the minha palayra de que nfo gista 4 ssaremios sett nome”, mente). Na pritica, exiba-se ow nit isto ou aquilo no filme, germpre existe | 1 de atuacdo do documentarista, que justamente encena Jara produit nas suas personagens os efeitos que The permitan conta sua his- a Aal arte essencial da montagem da cena do documentario. [sé ensar na prética da entrevista, por meio da qual 6 documentarista fh jens ag. ver nota 3p. G.supre 78 PUCRSI/BIBLIOTECA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. ANORES DITELLA rar o que ele ja sabe | que seja o protagonista ou a testemunha dos ‘a pe imeira ver". fatos que conte a histéria “pela p Michael Moore muitas vezes quer passar por bobo em Roger ¢ et (iggy), tudo para atingir o seu objetivo, que é evidenciar os responsiveis pelo desemprego ide 1” do titulo, o inacessivel pre nos Estados Unidos, simbolizados pelo “Rog te da General Motors. A menos que 0 objetivo de Moore seja por momentos so- ‘ticas por ter inau- me te o de fazer o espectador rir a ponto de ter recebido « gurado © género stand-up documentary, em wma referencia irdnica aos stand-up -se de um documentarista que alua, comedians tipo Seinfeld, Seja como for, trata yemos que Michael Moore nfo é ne- que desempenha. Nés, espectadores, si nhum tonto. Ross Mcklwee, no inclassificivel Sherman's March {A maveha de Sherman) (1986), faz de conta que est procurando una namorada enquanto ine do rea civil na culty vestiga a histéria do general Sherman eo legado da gu rario? De falar da presenga da historia no Sul, onde ele nasceu. Ou sera o con presente, o assunto do filme se desloca para o da sua relagio com as mulheres 6, a0 mesmo tempo, para o assunto da relagio entre alguém que filma e aqueles que sao filmados. (McElwee depois continuou com 0 expel imento em Time /n- .. Com sua assistente!) definite (Yempo indefinido] (1994), onde realmente ea: >i € um outro documentarista que atua como provocador, nas suas Happy Birthday, Avi Mogi cruas intervengdes sobre a sociedade israclita contemporaine: Mr Mograbi!,e Agosto Um momento antes da explosao) Quando Mograbi delibe- saber de quem é vex radamente explode ¢ estimula uma diseussio violenta para para na sala de espera; briga com um policial que o impede de atravessar a rua Imando wn 1 oficial; ou quando fica que ele no seja atropelado por um alidades adolescente palestine que The joga pedras, ele procura sempre revelar n conflitantes que nao poderia registrar sem sua atuagio. Quando, no monélogo ita sua mulher quando feito para a camera, ele bola uma toalha na cabe estar filmando, demonstra pela via do humor que ja esta Ihe diz o que dever andatos do documentaric naio pode acreditar mente nos 1 lubes ¢ bares americ siveis pola revelagio de 4 Releren 10s solos humoristivos ¢ ps, Fespon talentos como Woody Allen ¢ Lenny Bruce, 5 Veneedor da competigio internacional do E Tudo Verdade 200, 79 PUCRSIBIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. ‘© CINEMA DO REAL vista vai Mas, para mim, 0 prémio de Melhor Atuagio de um Document para Nick Broomfield, que em uma inesquecivel eena de The Leader, His Driver && Driver's Wife (O Kide' com um importante divigente fascista sul-afrieano, Eugene ‘lerreblanche, nos seu motorista, ¢a mulher do motorista] se desentende tiltimos tempos do apartheid. Broomfield consegue a entrevista depois de mui- las aventuras © gragas a sua amizade com o motorista do lider, mas chega ein. do pradas ret co minutos atrasado para a reuniio. Diante das exag ages ali sul ‘ano, Broomfield Ihe dé uma desculpa ridicula: que havia chegado atra- tomando o cha (isto com sua melhor ea sado porque estavs 1 de inglés). ¢ fis fou somente cinco Mi- nalnente Terreblanche perde a cabega. “Mas a gente cheg nutos atrasado”, insistia Broomfield... Nada no discurso do dirigente fascista delatado tanto o seu autoritarismo a sua estupides quanto a ira provo- teri 0 de Broomfield. cada pela atuay ra jentaristas, assim: como no cinéma vérité de Rouch, No trabalho desses do » nao conduz a falsificacdo ou a ficcionaliza aparece a idéia de que a atua a revelagio dew au de autenticidade, \o contririo, deixa transparecer um gi verdade, nfio menos valida que “a” verdade de uma pessoa na auséneia das ¢a- ais na atuagdio de Broomfield. Nos. meras, Mas acredito haver alguma coisa 4 Ullimos anos, Broomfield teima em mostrar eada dia mais o que os outros do- cumentaristas escondem, ¢ isso quer dizer, basicamente, os nossos fracassos. Seus documentarios tornam-se quase um manual de tude aquilo que ndo deve- have eta itim abso +s constituidos quase integralmente por ores as entrevistas, brigas en- Ges prévias © posteri conversas telefonicas, dise Ss seeundarios que $ dilatadas com personag tre o diretor © su equipe, cet tentam ajudar ou dificultar o seu trabalho. (Vale dizer, justamente aquilo que eu em Prohibido, © talvez por esse motivo a obra de nao soube incorpor Broomfield tenha me causado lanto impacto.) O que Broomfield faz se exibindo diante da eémer y seus proble- ”e ao conta mas & uma atuacgio, Mas poderia ser dito que 6 que est “atuando”, em certo sen= tido, & nada lizagio de um docuny 206 que a rei nlirio. Sua aluagae nos mos- 80 PUCR AIR TECK CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. ae | ANDRES DITELLA tra que ele quer fazer um documentirio, seguindo 0 conceito tradicional de pres- tar contas, de um modo transparente, a partir de uma série de fatos reais. Ele v a do lider sul-africano, ou a de Kurt Cobain e ja de Ma 10 mesmo tempo, por sta propria in- mente quer nos contar a histor n Trae ney Love em Kurt & Courtney, ou a histéri -garet Thatcher ¢ Cow king Down Maggie (Perseguinde Maggi Lervencao, demonstra o inevitiivel fracasso dessa empresa, revelando todas as ne- atarista ea realidade que cle quer gociagoes que sempre existem entre 0 documy filmar. A verdade do documentario nao 6 outra coisa senio o resultado dessas ne~ mem uma titica que poe em diivida as pre- gociagdes. A aluagio converte-se as: em tro fantasia da “mosea na parede”, ¢ offre tensdes do documentirio, a alvez a mais acreditavel. uma atitude mais honesta, nesta altura do jogo De qualquer maneira, escandalizar-se pela presenga do diretor e por sua ex- a combina- pressiio pessoal em um filme documentirio, em uma époea em que cio do autobiogrifico e do documentirio representa uma das correntes mais vi- Sebald ou Tracy Emin’ — nos tais da literatura e da arte — basta pensar em W. América Latina, sobre este da uma dimensio do pouco que refletimos aqui, 1 maltratado gé io, estd oferecendo o melhor que o cine- vero que, na minha opir 6 outva historia para oferecer hoje, Mas essa j 8. Uma fibula indiana conta a histéria de um homem terrivelmente feio que atra- yessou o deserto a pé. Viu uma coisa que brilhava na areia. Era um pedago de espelho, O homem se ajoclhou, pegou 0 espelho e olhou. Nunca antes tinha vis- to um espelho: Que horror! exelamou, Nao espanta que 6 tenham jogado fora! ninho, gou o espelho e continuo seu ¢ Traducao de Andrea Molfetta) tor de Auster © morto num acidlente tista punk Billy Chik vidh ( Respectivamente, escritor inglés radicado na Mean «le carro no final de 2001; € eseritora c artista pistica ingles: audos em sua propri dlish, premiada na Inglaterra ao realizar trabalhos inspi a PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.698/2003.

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