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CAPITULO III A Primeira Metade do Século XIX Encerramento da era colonial A desorganizagio dos impérios espanhol e portugués, na época das guerras napoleénicas, constitui o ato final de complexo processo histérico que se estende por todo oO sé culo XVIII e se liga diretamente as transformagSes eco- némicas e politicas ocorridas na Europa. As tentativas es- panholas de diversificar as economias das colénias america- nas enfrentaram dois obstaculos maiores: as barreiras pro- tecionistas criadas nos _principais mercados europeus pelo mercantilismo e a incapacidade da propria Espanha de abas- tecer as colénias de produtos manufaturados. Em face dessa situag3o, as colénias tenderam a buscar uma saida, seja na procura direta de mercados (o que se realizava através do contrabando), seja na producao interna dos artigos de que necessitavam, Um ou outro caminhos levavam ao conflito di- reto com a Metrépole. Nas regides de desenvolvimento agri- cola para a exportacgdo, como a Venezuela, ou de intensa ati- vidade comercial, como Buenos Aires, a tomada de consciéncia désses problemas féz-se precocemente, ao impulso da penetra- go das idéias liberais que se irradiavam da Inglaterra e da Franga. Aberto o processo das guerras napoleénicas, 0 isola- mento da Espanha e a rapida penetracao comercial inglésa criaram situacées de dificil reversibilidade, ao instalarem-se go- vernos locais auténomos em distintas regides. Na maioria dos casos, ésses governos nasceram de situagées em que nao ha- via qualquer hostilidade 4 Metrépole, entéo ocupada pelos franceses. Entretanto, a dinamica mesmo do processo le- varia 4 ruptura, a qual em certos casos tomaria a forma de luta cruel e prolongada em razdo da obstinacdo com que os espanhdis pretenderam restaurar uma situagao que de fato 42 ha muito desaparecera. O fato de que, na mesma epoca, se efetuou a separacdo do Brasil de Portugal, embora 0 govérno déste pais, aliado da Inglaterra, haja se instalado de 140% a 1821 na prépria colénia, Pde a claro o fundo mesmo do problema. As novas condigées criadas pelo avango da Re- volucdo Industrial na Inglaterra e pelo contréle progressive que éste pais péde exercer sébre transportes maritimes, teriam que resultar em uma politica de portos abertos em todo o continente americano, politica essa incompativel com 0 tipo de relacdes que prevaleciam entre a Espanha e suas colénias. A vastidaio destas e a incapacidade da Metrépole para su- pri-las de produtos manufaturados, exigiriam necessariamen- te modificagdes profundas na estrutura de um império or- ganizado em térno a exploragio de metais preciosos, trés séculos antes, No caso de Portugal, a transigao tivera inicio em fase muito anterior. O acérdo de Methuen, firmado em 1703, dera a Inglaterra uma situacdo privilegiada no comércio brasileiro. Por ésse acérdo, Portugal, em troca de alguns favores no mercado inglés para os seus vinhos, abriu o pré- prio mercado e das colénias, de forma irreversivel, 4s ma- nufaturas inglésas. A produgio brasileira de ouro, que co- megou no segundo decénio do século XVIII, imprimiu um grande dinamismo 4 demanda luso-brasileira de manufaturas, criando possibilidades extraordinarias para os produtores in- gléses. Desta forma, o ouro do Brasil encaminhou-se em sua totalidade para a Inglaterra, permitindo que éste pais acumu- lasse vultosas reservas internacionais, sem as quais nao lhe teria sido facil enfrentar as guerras naponednicas.? A pe- netracdo inglésa no Brasil, se possibilitou a Portugal sobre- viver como poténcia colonial durante o século XVIII, pre- parou a liquidacao dos vinculos da Colénia com a Metrépole, cuja posicaéo de entrepésto excrescente se féz cada vez mais notéria, Transferindo-se a Coroa portuguésa para o Rio de Janeiro, em 1808, os interésses ingléses articularam-se dire- tamente com a Colénia, transformada em sede do império 1 Cf. W. Cunningham The Growth of Modern Industry and Commerce. Modern Times parte I (Cambridge, 1921) pp. 460-1. 43 dusitan é io. Também neste Caso © processo seria irreversivel, ponds un tempo Compreendeu a propria Coroa portuguésa, tista. seus membros 4 frente do movimento separa. A primeira metade do século XIX esta marcada, na América Latina, pelas lutas de independéncia e pelo processo de formagao dos estados nacionais. Nas colénias espanholas ‘© movimento independentista irradiou-se de trés pdlos: Ca- racas, Buenos Aires e México. Os dois primeiros eram as tegides que mais rapido desenvolvimento haviam tido no sé- culo XVIII, desenvolvimento ésse em grande parte reflexo do debilitamento do poder naval espanhol e da penetracao dos interésses ingléses. A independéncia, nessas regides, -deveria permitir a ascensio de uma burguesia mercantil, de idéias liberais, progressistas, no sentido de europeizante, mas prisioneira da ideologia do laissez-faire. A situagao no México era diversa, pois a producao de prata, em fase de relativa pros- peridade, continuava a constituir a base da economia regio- nal. Demais, a populacdo indigena mexicana, que voltara a crescer no ultimo século da dominag&o colonial, comecgava a pressionar a estrutura latifundiaria, de poder baseado na grande propriedade e na exploragéo das comunidades indi- genas, introduzindo nas lutas de independéncia um carater social que permaneceu como um fermento e marcou a evo- lugdo désse pais por mais de um século. Assim, nas lutas de independéncia, sio perceptiveis dois movimentos que estao presentes na evolucao subseqiiente latino-americana: de um Jado, surge uma burguesia europeizante, que pretende liqui- dar com decretos o passado pré-colombiano e colonial?, que busca integrar as distintas regides nas correntes em expansdo do comércio internacional; de outro, manifestam-se fércas 2 Representante conspfeuo dessa corrente Mberal é o Libertador Siméo Bolivar que em decretos de 1824 e 1825, expedidos em Trujillo e Cuzco, decreta a dissolugéo de comunidades indigenas, constituindo a proprie- ‘dade privada camponesa e declarando proprietarios das terras que tinham em-sua posse 20s “denominados indios”, a fim de que possam ‘“vendé-las ou aliena-las de qualquer modo”. Essas medidas néo chegaram a ser postas em pratica nessa época mas constituem uma clara indicagéo do espi- tito europelzante dos lfderes das guerras de independéncla. Veja-se a ésse respeito Arturo Urquidi Borales, “Las Comunidades indigenas y su ‘perspectiva histérica” in Les Problémes Agraires des Amériques Latines (Paris, 1967). 44 rendentes & romper as estruturas de dominagéo mane Ries reqime colonial, que visam a integrar as mass: ee es no quadro politico-social e a definir uma oT 4 a tural auténoma, O primeiro dos movimentos vy icados p © dominow amplamente durante o século XIX. comes mai adiante que, sOmente na sequnda metade désse século, veio éle a frutificar plenamente, O segundo movimento passou a0 primeito plano no século atual, que se iniciou para a América Latina com a Revolugiio Mexicana. Formacao dos estados nacionais A estruturagio dos estados nacionais ocorreu de for- ma acidentada em quase téda a América Latina, As bur- quesias liberais que lideraram ou apoiaram os movimentos de independéncia em Buenos Aires e em Caracas, nao esta~ vam em condigdes de organizar sistemas de poder capazes de substituir-se a antiga Metrépole. Conforme ja assinala- mos, a evolugiio geral vinha se fazendo no sentido da auto- nomizagiio regional, decorréncia do debilitamento dos anti- gos pélos de crescimento, Na auséncia de vinculos econé- micos mais significativos, o localismo politico tendia a pre~ valecer, No norte, onde o pélo mineiro se mantivera mais vigoroso, e onde preexistira 4 conquista espanhola uma tra- digéo de centralismo administrativo, conservou-se a unida- de politica do que féra a Nova Espanha. No sul, as ca- pitanias de Venezuela e Chile transformaram-se em unida- des politicas independentes, a Nova Granada dividiu-se em Colémbia e Equador e o recém-criado Vice-Reinado do Rio da Prata desarticulou-se dando origem a Argentina, ao Uruguai, ao Paraguai e a Bolivia. Rompidos os vinculos com a Metrépole, por toda parte © poder tendeu a deslocar-se para a classe de senhores da terra. A estruturag’o dos novos Estados foi condicionada por dois fatéres: a inexisténcia de interdependéncia real entre os senhores da terra, que se ligariam uns aos outros ou se submeteriam a um dentre éles em fungao da luta pelo poder; a ag&o da burguesia urbana, que manteria contactos com © exterior e exploraria téda possibilidade de expansio do: 45 intercambio ex! iriam vinculando segn bi terno, a0 qual se iria . inte NH ral, Assim, na medida em que surgiria en: cs ‘ ‘ linha de exportagées, Possj. ou outra jlidades para uma : eibeno tendew ‘a consolidar-se, ao mesmo tempo que se in, ural, criando-se condi tegrou com algun sO iste’ de. poder, Ne pata 3 nae mineira era predominante, como 9 M, em que Be a Bolivia, o contréle dessa atividade era cu. XICO, © eva definir o poder estatal. Os vinculos déste com ficiente ete da populagao, organizada nos grandes dom;. Mee rurais, eram praticamente inexistentes. Contudo, ne. nhum senhor regional dispunha de meios para desafiar a autoridade do Estado, cujo contrdle constitula © principal objetivo das lutas politicas, Nas regides de econémia agri. cola, a consolidagao do poder estatal estéve na dependéncia da abertura de linhas de exportagao que, favorecendo uma regido, permitia a esta sobrepor-se as demais. Na Colom. bia, onde nenhuma regidéo chegou a possuir uma base eco. némica suficientemente grande para sobrepot-se, as guerras civis se prolongaram, dizimando contingentes da populacio, Na Argentina a posicao privilegiada do pérto de Buenos Aires permtiu a regiao do litoral, apés prolongadas guerras civis, impor-se como centro de um sistema nacional de po- der. * Assinalamos que 0 isolamento em que se encontraram as colénias da Metropole espanhola, provocado pelas cir- cunstancias da politica européia, abriu o caminho as guerras de independéncia, sob a influéncia de burguesias locais for- madas ao influxo da diversificagao comercial durante o ul- timo século da era colonial, as quais se localizavam em zonas beneficiérias de um comércio mais diversificado. O México constituiu um caso 4 parte, no sentido de que o isolamento da Metrépole teve projegdes mais profundas, abrindo um processo de contestacéo a prépria ordem social, o que deu maior profundidade a luta pelo poder e criou uma situacéo de instabilidade que se prolongou por todo o século XIX. 3. Sdbre o papel da “autocracia unificadora” na formacéo do Estado Nax cional na Argentina, veja-se Gino Germani, Politica y sociedad en und €poca de transicidn, (Buenos Aires, 1962). 46 Também assinalamos a importancia da presenca inglésa a ruptura do monopélio comercial e a criagado de inte; aces urbanos europeizantes. Convém, entretanto, observar que. netragao inglésa nos primeiros decénios do século Rix constituiu muito mais um elemento de desagregacao da = dem social e econémica existente, do que fator capaz de con- tribuir para consolidar os novos Estados em formacéo. A presenca inglésa assumia essencialmente a forma de orga- nizagao de um comércio importador. Surgiam as casas im- portadoras, que difundiam as manufaturas européias, prin- cipalmente inglésas, modificando habitos de consumo e acar- retando a desagregacéo de atividades artesanais locais. Em muitos paises a pressdo désse aumento de importagdes le- vou a depreciacéo cambial e obrigou os governos a contrair empréstimo externos para regularizar a situagéo da balanca de pagamentos. Por outro lado, as casas importadoras de produtos ingléses acumulavam reservas liquidas e se trans- formavam em poderosos centros financeiros, As burguesias locais, que se ligavam aos interésses in- gléses nos negocios de importac4o, deviam fazer face ao pro- blema da insuficiéncia da capacidade de pagamentos no ex- terior. O actmulo de divida externa e as crises de balanca de pagamentos engendravam problemas fiscais e cambiais, acarretando emissées de papel-moeda inconversivel e perma- nente depreciacao do poder aquisitivo externo e interno, das moedas nacionais. As populacées urbanas, mais penalizadas pelas altas periédicas de precos, chegaram muitas vézes a revoltar-se. Essa situaco, que requeria aumento das expor- tacées, induziu as burguesias locais a voltarem-se para 0 in- terior, na busca de produtos exportaveis, e para o exterior, na procura de mercados potenciais. Ora, durante a primeira metade do século passado, os mercados exteriores resultaram limitados e de dificil acesso. A Revolugao Industrial, nessa primeira fase, apresentou duas caracteristicas que se refle- tiram negativamente nos paises latino-americanos, A primeira era sua concentracao na Inglaterra, pais possuidor de colé- nias capacitadas para supri-lo de produtos primarios, parti- cularmente os tropicais. A segunda era sua concentracao na industria téxtil algodoeira, cuja matéria-prima pode ser pro- 47 Ja nos Estados Unidos, a pa. . se de larga esc a uma istancia muito m mn distancia m e a NOr, numa orem escrava © ; Jee . transportes maritimos eram Pprecario: €pox, De uma maneit eral, os paises latino-a a a des dificuldades para abrir imericanog merciO atro decénios que se sean de en. inde} endéncia. ‘Afora os metais preciso; Tam as e peles, 26” um outro produto encontrou condi E 0s ¢ rcado. O algodao, cujo consumo cres G6es favors, guas mil para um quarto de milhao re na Ingla. vinha sofrendo uma forte baixa de precos, sendo | toneladas, concorrer com os produtos do sul dos Estado: impraticaye} agucar € demais produtos tropicais sofreram ac s Unidos, g de presos 2 partir do fim das guerras tapeletniens 4 baixa argumentado ue o desenvolvimento das ex Snicas, Tem-ce ficultado pela instabilidade politica que prevale tagoes foi di. totalidade dos paises. Entretanto, 0 peal ecla na quase bem pode ser defendido: as dificuldades nto inverso tam. mercados externos, para abrir linhas de S encontradas Nos os grupos urbanos, que haviam liderado as nine a deixou déncia, sem condigdes para organizar de ps de indepen- sistema de poder. Excecdo interessante orma estavel um confirma, constitui o caso do Chile Bete esta regra, que a ténoma na época colonial, csagularizava-se pel. capitania au- nem era centro exportador de metais reci pelo fato de que de ouro declinara rapidamente) vem e iosos (sua producio pare o exterior de produtos agropecttat ra, exportadora ile era uma regia ari ait ja verdade, peruano. A na Tea a oatras, bu articulada com o palo ma “las no comercio de contr. . urguesias comerciais, for- inglésa, os interésses export ra ando e sob forte influéncia des com os interésses ” adores chilenos estavam integra- formado no quadro le: ‘liste do mo da regio ¢ se Davin Metropole. Por esta oo tra jo monopélio organizado pela s razées a classe dirigente chi- Os Quer. frentaram gr8 pos trés ot qu ‘Ouro, lena na jo sofr itos i pois das ane a internos maiores e um decénio de- e independéncia lograva estruturar um Portales, de sist ne ae eee estavel. A Constituigéo de oligdeauica izou um sistema de poder represen Poe outro ied je se manteve estavel até fins do século *° * lo, o Chile péde tirar partido de condigdes pat tativo de base 48 ticularmente favoraveis no que respeita ao comércio exterior, Possuia éle um nticleo de economia mineira, A base de pro- dugio de prata e cobre, o qual se expandiu durante essa fase. Por outro lado, dispunha éle de um excedente agricola de zona temperada, particularmente de trigo, que o colocou em posicio privilegiada na zona do Pacifico na época da descoberta do ouro na Califérnia e na Australia.* Assim, durante um periodo limitado mas crucial, o Chile péde traris- formar-se em supridor estratégico de alimentos da costa dos Estados Unidos. Até que ponto o haver-se estruturado po- liticamente de forma estavel permitiu ao Chile tirar partido dessas condigées favoraveis de demanda externa, ou foram estas ultimas condigdes que consolidaram uma estrutura po- litica que dava os primeiros passos, ¢ questéo secundaria. Evidentemente, houve interagao entre os dois fatéres. Nao se pode ignorar, entretanto, que as condi¢gdes de mercados externos que conheceu o Chile constituiram um caso especial. Nenhum outro pais latino-americano da zona do Pacifico dispunha de iguais potencialidades agricolas, e de uma tra- dic&o de exportag’o nesse setor. Por outro lado, dadas as condigées de transporte da época, nenhum pais atlantico, la- tino-americano ou nao, podia com éle concorrer. A situacao brasileira, durante essa fase, também apre- senta aspectos particulares, cuja analise ajuda a compreen- der a natureza das estruturas politicas que estéo na base dos Estados latino-americanos. Ao contrario do que ocorreu na regido de ocupacdo espanhola, no Brasil as atividades agri- colas e a exportagéo de um excedente de produtos agricolas foram a prépria razio de ser da Colénia. Os portuguéses metropolitanos monopolizaram as atividades comerciais, o que impediu o surgimento de uma burguesia local ligada as ati- vidades de comércio exterior. Na regido produtora de ouro e diamantes, o contréle das atividades exteriores pela Me- trépole era ainda mais intenso, Entretanto, nesta ultima re- giao, cujo mercado interior de animais de tragdo desenvol- 4 Para uma sintese da evolucéo econémica chilena no século XIX, veja-se Anibal Pinto Santa Cruz, Chile, un caso de desarrollo frustrado (San- tiago de Chile, 1962). 49 Vettese consideravelmente, formou-se e consolidou-se uma classe de comerciantes de gado, com contactos em varias regides do pais, Bsses homens transportavam grandes récuas de mulas do Rio Grande do Sul para So Paulo, onde, em grandes feiras de animais, vinham abastecer-se os tropeiros que serviam a regiao das minas e que asseguravam a ligagao desta com o litoral. Com a Independéncia, os interésses do comércio exterior permaneceram em maos de portuguéses, que se sentiam cobertos pela continuidade da Coroa, ou transfe- riram-se para 0 contréle inglés. Desta forma, na regido acu- careira néo houve modificagao sensivel, conservando-se as velhas estruturas sob um contréle mais direto de interésses ingléses, As modificagées mais significativas ocorreriam no sul, onde a economia mineira vinha em declinio desde fins do século XVIII. A redugéo progressiva da produgSo de ouro a uma tércga ou quarta parte, ao mesmo tempo que cresciam as despesas administrativas com 0 trabalho da Cérte e em seguida com a criagéo de um govérno auténomo, criaram um desequilibrio geral na economia, o qual se traduziu em endividamento externo e emissdes de papel-moeda que rapi- damente se depreciava. A inflagdéo criou descontentamento nas zonas urbanas e fércas centrifugas se manifestaram em varias regides, Contudo, o desenvolvimento da produgaéo de café, cujas possibilidades se manifestaram j& nos anos qua- renta do século passado, permitiu a formagdo do ntcleo que deveria servir de base & nova estrutura de poder. Os homens que estabeleciam a ligacdo entre as regides mineiras e o litoral foram um fator decisivo na implantagao da economia cafeeira no vale do Paraiba, de onde ela se expandiu meio século depois para o altiplano paulista. Desta forma, o café se de- senvolveu fora das estruturas latifundiarias estabelecidas em fases anteriores, pela iniciativa de individuos de mentalidade mercantil, Assim, a atividade econdmica que foi o ponto de apoio do Estado brasileiro em sua fase de formagao e con- solidagdo, surgiu diretamente como uma atividade agricola- exportadora, o que lhe facultou apresentar uma frente per- feitamente consolidada de interésses agrarios e mercantis, 4 semelhanga do ocorrido no Chile. O latiftindio tradicional, de economia principalmente de subsisténcia, seria sempre 50 marginal no sistema de poder que se formou no Brasil, En- tretanto, como a nova agricultura de exportacao se estruturou em grandes unidades, formou-se entre ela e os velhos lati- fandios uma solidariedade fundamental, que possibilitou a éstes conservar o contréle do poder local nas regides res- pectivas, cabendo aquela o contréle hegeménico do poder nacional. © 5 Uma apresentacéo sintética da histéria latino-americana no periodo da independéncia encontra-se em Victor-L. Tapié, Histoire de PAmerique La- tine au XIXe Siécle (Paris, 1945). Essa obra possul amplas indicacées bi- bliograficas, Para referéncias bibliogréficas gerais veja-se a Bibliografica historica de Espafia y Hispano-América publicada em Barcelona a partir de 1953 por Jaime Vicens Vives e também Robert A. Humphreys, Latin American. History: A Guide to the Literature in English (Londres 1960). © lvro de Jaeques Lambert, Amérique Latine, Structures Sociales et Ins- titutions Polttiques, cuja segunda edicho atualizada apareceu em 1968, cons- titui igualmente valiosa fonte de referéncias bibliograficas. Sl

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