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Lé atentamente 0 texto e, de seguida, responde as questdes formuladas, Cena V Telmo ¢ 0 Romeiro Ld Romeiro — Eu no quis acabar com isto, nao quis pér em efeito a minha ultima resolugao sem falar contigo, sem ouvir da tua boc: Telmo - O que quereis que vos diga, senhor? Eu. Romeiro - Tu, bem sei que duvidaste sempre da minha morte, que nao quisesteg ceder a nenhuma evidéncia; nio me admirou de ti, meu Telmo. Mas também no posso - Deus me ouve ~ nao posso criminar ninguém porque 0 acteditasse: as provas? eram de convencer todo o animo; s6 he podia resistir 0 coragao. E aqui... corago que? fosse meu... ndo havia outro. . Telmo ~ Sois injusto. Romeiro - Bem sei o que queres dizer. E é verdade isso? £ verdade que por toda a parte me procuraram, que por toda a parte... ela mandou mensageiros, dinheiro? Telmo - Como é certo estar Deus no céu, como é certo ser aquela a mais honrada e virtuosa dama que tem Portugal. Romeiro ~ Basta: vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele; que tudo isto foi vil e grosseiro imbuste! de ini- migos de... dos inimigos desse homem que ela ama... E que sossegue, que seja feliz. Telmo, adeus! Telmo ~ E eu hei de mentir, senhor, eu hei de renegar de vés, como um vilo que nao sou? Romeiro ~ Has de, porque eu te mando. Telmo (em grande ansiedade) ~ Senhor, senhor, nao tenteis a fidelidade do vosso servo! F que vés nao sabeis... D. Joao, meu senhor, meu amo, meu filho, vés nao sabeis.. Romeiro- 0 qué? Telmo - Que ha aqui um anjo... uma outra filha minha, senhor, que eu também criei. Romeiro ~ Ea quem jé queres mais que a mim, dize a verdade. Telmo ~ Nao mo pergunteis Romeiro ~ Nem ¢ preciso. A (pausa) E tm um filho eles?... Eu nao... E mais, imagino... Oh! passaram hoje pior noite do que eu. Que Iho leve Deus em conta e lhes perdoe como eu perdoei ja. Telmo, vai fazer o que te mandei, Telmo ~ Meu Deus, meu Deus, que hei de eu fazer? Romeiro ~ O que te ordena teu amo. Telmo, dé-me um abrago. (Abragam-se.) sim devia de ser. Também tu! Tiraram-me tudo. Adeus, adeus, até Telmo (com ansiedade crescente) ~ Até quando, senhor? Romeiro ~ Até ao dia de juizo. Ficha de avaliagio 3 ‘elmo - Pois vis. Romeiro - Eu... Vai, saberds de mim quando for tempo, Agora é preciso remediar © 0 mal feito. Fui imprudente, fui injusto, fui duro e cruel. E para qué? D. Joao de Por- tugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera. Sua mulher honrada e virtuosa, sua mulher que ele amava... ~ oh, Telmo, Telmo, com que amor a amava eu! ~ sua mulher que ele ja ndio pode amar sem desonra e vergonha!... Na hora em que ela acreditou na minha morte, nessa hora morri. Com a mao que deu a outro riscou-me « do mimero dos vivos. D. Jodo de Portugal nao ha de desonrar a sua vitiva, Nao, vais dito por ti teré dobrada forga: dize-he que falaste com o romeiro, que 0 examinaste, que 0 convenceste de falso e de impostor... dize 0 que quiseres, mas salva-a a ela da vergonha, e a0 meu nome da afronta, De mim jé ndo ha sendo esse nome, ainda hon- rado; a memoria dele que fique sem mancha, Esti em tuas mos, Telmo, intrego-te 9 mais que a minha vida. Queres faltar-me agora? Telmo ~ Nao, meu senhor; a resolugio é nobre e digna de vés; mas pode ela apro- veitar ainda? Romeiro ~ Porque nao? Telmo ~ Eu sei! Talvez... Fret Luts de Sousa, de Almeida Garrett, realizago diditica de Luis Amaro de Oliveira, Porto Editors 4. imbuste: mentia artiiciosa; ard x 1. Integra esta cena na estrutura da obra, referindo em que ponto do conflito dramatic as 35 Pontos personagens se encontram. 2. Caracteriza psicologicamente as duas personagens em cena, fundamentando a tua res- 35 Pontos posta em elementos do texto 3. Atenta na fala mais longa do Romeiro (ll. 39-50), 3.1. Salienta as principais caracteristicas da linguagem usada, mostrando como se ade- +35 Pontos: quam ao estado emocional da personagem. Explica, por palavras tuas, a decisdo que o Romeiro tomou, 35 Pontos 1. Pela leitura que fizeste da obra, sabes que a resolugdo que © Romeiro toma nesta cena nunca chega ao conhecimento dos interessados, dada a intervencao de Frei Jorge. imagina que Telmo consegue dar 0 recado de que foi incumbido e cria um fim alternativo para a peca de Garrett, pondo em cena apenas quatro personagens: Telmo, Maria, Manuel de Sousa e Madalena, Para redigires o teu texto, teras de seguir as regras do texto dramatic: sTecurso ao didlogo (texto principal, através do qual quase toda a informacéio é reve- lada); sintrodugdo de didascélias (texto secundario que permite ir dando conta da movi mentagao das personagens, das suas atitudes, das caracteristicas do espaco, etc). een ce a - 1 1. Esta cena situa-se no ato il, no momento em que Mada- lena e Manuel de Sousa jé se preparam para tomar o haito. 2. As personagens encontram-se num momento de grande sofrimento. (0 Romeito (0, Jo3a de Portugal) divide-se entre @ dor de ter sido esquecido a necessidade de vinganga que esse facto the traz e @ vontade de ainda salvar aquela familia ‘Ao saber que Madalena tem uma filha, 0 seu sofrimento aumenta @ € assaltado pelo remorsa, elmo sofre por no saber se ha de mentir, renegando do ‘52u filo D, Jodo, que reencontrou passados tantos anos, ou se ha de dar cumprimento ao seu desejo, tentando assim salvar a sua nova ‘tha’ a quem tanto ama, 3.1, Esta fala do Romeiro é extremamente emotiva e ‘expressa, do ponto de vista da forma, a sua dor. Nela ‘encontramos hesitagbes, expresses nas reticéncias, excla- magées (“ah, Telmo, Telmo, com que amor a amava eu” |, 42), repetigdes ("no dia em que sua mulher dlsse que ele ‘morrera, Sua mulher honrada e virtues, sua mulher que ele amava...” ~ I 41-42), paralelismo ("Ful imprudente, ful injusto, fui duro e cruel." ~|. 40). 4. 0 Romeiro, depois de se certificar que tudo tinha sido feito por Madalena para 0 encontrar, tenta ainda salvar ‘aquola familia, pedindo a Telmo que thes dige que afinal D, Jodo nao est viva e que tudo nao tinha passado de uma rmentirs preparada pelos inimigos de Manuel de Sousa, eT = 1 4.1. Jacinto encontra-se na fase da abuliae do tél. 2.1. Trata-se do boce)o (excerto A125; excerto B~|, 2, 2.2. 0 bocejo, sinal de fastio e de abortecimento, esta associado as suas obrigagGes sociais’ as imenssas “ocupa bes" que constam da sua agenda e as festas que se vé “obtigado’ a dar no 202 3.1. Aenumeragao, 3.2. A intensidade do ritmo do excerto A, conferido sobretudo pela enumeracao dos gestos de toilette de Jacinto e dos objetos @ anarelnos do quarto e da casa de banho, €0 espelho do ritmo alucinante da cviizagao que Jacinto traz para dentro de sua casa ——— een ‘Entre Margens, 11° ano | Cademo do Professor 3.3. Esta necessidade de acumularobjetos, que tem a ver ‘com 0 fascinio de Jacinto pela civilizaco, procurando? rodear-se de todas as comodidades que esta the oferece, § pode também ser interpretada como uma forma des preencher 0 vazio que a personagem sent. i 3.4. Representante da erena do século XK no progresso @ no conhecmento como meios para atingr a felicitade plena, Jacinto tem tudo para ser feliz, mas néo é: fatale algo em que se fixe seu pensamento, algo que possa per- rmanecer no seu espirto. A cidade de Pars, que ele julga ideal, no the pode dara felicidad: lé nada permanece, tudo € moda, tuda 6 fingimento e iusBo. Assim, Jacinto, rnuma busca sem fim de prazeres e de novidades que riunca chega a satistazé-o, safre do tédio do viver ocioso. a ~ - 1 11.1. 0 suleito poético sente iritagéo, impaciéncia, deses- pero. 1.2, Vela-se a referéncia ans “trés macos de cigarros” (v.39 @Ador de cabeca (v5) 1.3. Com esta declarag2o, 0 sujeito poético revela o seu desespero que resulta da contradigéo entre @ sua vontade de ter reconhecimento lterdrio e a de néo abedecer 30s padrdes que Ihe so impostos. Assim, acaba por afimar ‘que nao abdica dos temas e das formas invulgares da sua poesia ("0s dcidos, os gumes / E os angulos agudos"), ‘mesmo sadendo que essa atitude em nada o beneficiard 21, Trata-se de uma engomadeira, doente, pAlda, sozinha, muito megra, tao pobre que deve a conta na farmacie e “Mal ‘ganha para sopas,.."; no entanto, passa o dia trabalhar, 2.2. As frases exclamativas exprimem o espanto do sujeita poético relativamente a situacdo em que se encontra a engomadeira, ms também, em certa medida, a pena que sente por ela © a admiracao pelo facto de, mesmo em circunstdncias profundamente adversas, ela no parar de trabalhar. 3.1. Um jornal rejeitara-the, “hd dias, / Um folhetim de versos” (w. 19-20); a imprensa e a critica tém ignorado 0 seu trabalho 4.1. Tal coma 0 sujeito postico, também a engomadeira sofre, Ela, no entanto, aceita a sua situagao - chega ‘mesmo a “cantaralar ume cango plangente / Duma ope- seta nove” (w, 27-28) 4.2. 0 sujeito postico sente-se melhor depois de ter desa- bafado a sua irritagdo e também por ver 0 exemplo da vizinha que, apesar de todas as contrariedades que a cexisténcia ine apresenta, continua com a sua vida.

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