Você está na página 1de 13
Copyright ogi © 208, Gide Who ‘Copyright deco © 20 Forge Zar Er Lid 20031-14 Ro de anc I ‘e108 080 (2) 2080600 ‘ial @zabarcom be ‘se wenzaecom be Tot dieser. ‘ovcnarte coats de do stra i 981098) map cap: © GEOEYE 207, Process ENGESAT CPi Can te Sint Nasal or tbe Se Lr rs tn police abo (rg) — Rod dei Ss) 1. Anrep ns ~ Ro de Ji (RI) 2: Ro de ac, Rego ‘aoplinns do (I) ~ Conde nc 3. Ri eae (8) itn {Ride i (Cars abo, Gera onan oussia753) Sumario Apresertaio, Gilbert Velo 7 1, Metrépote, cultura e conflito ° Gilberto vero 2.05 jovens entre 0 morro @ a rua: reflexbes a partir do baile funk 20 Femanda Delvalha Piccolo 3, Sobre palanques epalcos showmiciose politica na Baixada Fluminense. so AlessndaSiquira Barto 4. Vertigem em Nil6potis: a antropéloga e 0 espelho 5 Sandro Regina Soares da Costa 5. A dona da vox © a vor da dona: a trajetéria de Dona Wvone Lara we ito Bums 6. Buraco da Lacraa ‘nteracio entre raga, classe e género. 10 Moria Eira Diaz Benitez 7, Mundo heavy metal no Rio de Janeiro 156 Pedro Abi Lite topes 8, Camelds carfocas 91 Pavici Delgado Mofra Referencias bibiogicas 200 Colaboradres. 27 Apresentagao Este livo retin textos que falam da vida na metrépole. Referem: ‘0 pesquisasrealizadas no Rio de Janeiro, embora todos lidem ‘coma problematica mais geral deantropologia urbana ede ocie ‘dades complexas. Analisam fendmenos diversificades tais como politica, favela carviras, mica, globalizacao, bairros, reas da dade e violencia. Investigam a problemstica das opg0es altera- tivas profissionas e existenciais dentro de um campo de posibil- dade histriea, sociologicae culturalmente delineado. ‘Sem duvida, © Rio de Janeiro apresentasingularidade, em angio de sua historia ecaracteriticas socioculturaisespectias (Os textos aqui reunidos faclizam importantes fendmenos que ‘ustram tanto a riquera como os problemas e impasses da expe riéncia de seus habtantes, Lidam, sobretudo, com a questio das difrengns e dos dife- rentes,0 focofandador e definidor da antropologia. No contexto rmetropolitano, com suas interagoes, negoclagBes ¢ confit, 0s autores fizem trabalho de campo, observacio participant, sem- pre atentos em procurarescapar de preconcetos ¢ esteredtipos. sta, como sabemos, nio ¢ tarefa file consiui-se em carinho cheio de armadilhas, de que nenhum antropélogo esti protegido, (Oestranhamento do familiar é uma atitude intelectual neces- sria prinipalmente para quem estuda sua propria sociedade. E tarefa complexa, mas representa uma tentativa de superar cri camente as névoas culturaise ideologicas que, inevtavelmente, toldam a nossa visio como sees sociais que somos. ‘A realizgio das pesquisis que deram origema esse ivr deu-se ‘no ambito do Prorama de Pés-Graduagio em Antropologia Social do Departamento de Antropologia do Museu Nacional/UFRJ econ- tou com o apoio da Finep, da Faperj,do CNPq e da Capes. “Agradeyo também a inestimivel ajuda de Marisa Mello e Ro- bberta Ceva na sua preparasio fil user veo eee Metropole, cultura e conftito Gilberto Vetho ferenas. A metiopele 6 por excel, es preg do, expresso gerador de heterogencidae ede diver Sida O texto clssico de Simmel, de mais de um século jg apootava pra as partiulariades hinricas e socolicas da metrpole com sas epercsies nas trjtrisesubje- tvidades individu, Saiemtava, sobretudo a intensidade ea heterogeneidade dasexpericies cotdianas de seus habitan- texcontrastando com a maior establidadee homogeneidade dha vida nas ales, vilaeose pends centeosurbanos da sociedade radon’ ‘esse mas de cm anos gue tanscorreram deste ese artigo cisco, as metspoescresceram, mulpliaram-se€ Giversifcaram-s, gerando um fenémeno init ¢revoli- cioniro na histria da humanidade, Ne epoca de Simmel poucss cides ultraassavm o mith de habitants. De- pois foram mukiplicandose as eas metropolitnas com Imutas vers ese nero, como Londres, Nova York, S80 Paul, Cie do México, Togo, Ro de janeiro, Bombaim, Delhi, Cleus, Pum, Xanga, Los Angeles, Chicago, Bue- nos Ares, Istanbul, aio, Cade do Cabo et 0 tema fundador e constitutive da antropologia & 0 das di- dene: cat pit eco ime utilize’ dos termos grande cidade’;“metropole"e“érea ‘metropolitana’ Essasdistingbes nao sao ébviase indiscutiveis. cidade, em principio, corresponderia a uma unidade politica de um certo nivel demogrifico, com prefeit e/ou cimara de repre- sentantes propria eas instancias devorrentes em éreas como ed- «ago, sade, seguranga,financas etc. mete6pole, nos termos de Simmel, € a grande cidade moderna definida por caracerstcas ‘materiais e imateriais proprias, como ja foi assinalado acima, E fala-se hoje em dea ou regido metropolitana como um fend- meno urbano de dimensoes e aspectos geogrifcos, econdmicos « sociis que produz um englobamenta de diferentes unidades Politicas em um processo acelerado ¢ continuo, Alguns autores Procuraram explorar ainda a nog de megaldpole, que abarca- ria diversas regides metropolitanas através de uma conurbagao.? Enire outros exemplos,teriamos a érea que vai de Nova York a Boston, nos Estados Unidos, e no Brasil a que abrangeria, num continuo, as repibes metropolitanas do Rio de Janeiro e So Pat- Jo, incluindo entre outras as suasextensas periferas, as cidades da Vale do Paraiba Juiz de Fora ete. Essesaglomerados de cidades © jungoes de grandes metrépolese suas adjacéneias somariam no ‘mais milhoes, mas dezenas de millyoes de habitants. ‘A nogio de megal6pole, embora interessante como referén cia € constatagio, trax algumas difculdades operacionas, en- tre as quais 0 fato de incluir diferentes estados das federayies, apresentando limites ainda mais elistcose fluidos do que uma regio metropolitana, Por outro lado, aexisténcia de “espagos in- termedirios’, mais ov menos rurais ou mesmo vazios,introduz problemas para uma definicao mais adequada de sua instrumen- talidade, em se tratando de estudos urbanos. De qualquer for- ma, a idéia de urbanizagao como um fendmeno que vai am ¢ ‘ranscende espacos urbanos delimitados, correspondendo a bens « valores materiis e imateriais que envolvem toda a sociedade, constitui-se em percepgdo fundamental para as cincias sociis?” Salienta-se ¢ evidencia-seo gigantesco crescimento das po- ppulagoes que vivem em centro urbanos propriamente dios, om tpl ctu ¢ctito ” 4 correspondente diminuigio dos habitantes do meio rural. O Brasil € um dos exemplos mais expresivos desde que, em cerca {de 50 anos, inverteu-earelacio urbano/rural. No inicio dos anos 1950 a populago urbana estava em torno de 30% do total e hoje chega a mais de 80%, Diferencia-se, por exemplo, da India, que ‘embora tenha algumas das maiores cidades do mundo ~ Caleuté, Bombaim e Delhi -, mantém um elevado nimero de habitantes vivendo no campo. Assinae-se que a populagio total do Brasil gira em torno de 180 milhoes, enquanto a indiana jé ultrapassou o bilhao hé alguns anos. ‘No Brasil asistu-se depois da Segunda Grande Guerra a um dos maiores deslocamentos populacionais da historia mundial, ‘com a maciga migrago do interior para as cidades ¢,especil- ‘mente, do Norte/Nordeste para o Sule Sudeste. No Centro-Oeste, particularmentena dea de Bras também se registrou um forte crescimento demogrifico a partir da mudanga da capital federal em 1960, ultapassando em muito as mais ousadas previsbes. Na realidade, houve ume forte mobilidade espacial, intensificando uum padrio jf identificado anteriormente por Gilberto Freyre © Sergio Buarque de Holanda Regstrem: se outrassituagdes, como o deslocamento de ga chose outros sulistas para 0 Centro-Oestee éreas da Amazbnia, juntando-se a outros grupos regionais migrants, especialmente nnordestinos Seca, desemprego, rises na agrcultura, condies de vida precirias, vontade de inclusto constituem as principais razes desses movimentos populacionais. Assim, as grandes ci des, particularmente as Areas metropolitanas de Sto Paulo ¢ Rio de Janeiro, recebem leva imensas de quase todo o pas pri ‘mente do Nordeste, Nesseperiodo, a imigragoestrangei ‘bém foi importante, sobretudo em Sao Paulo, embora em menor proporgio do que no final do século XIX e primeiras décadas do Século XX, Por outro lado, a populagto urbana, especialmente as ‘camadas mais modesta,sejam rectm-chegadas ou estabelecidas hs varias gerapies, mantém um alto indice de reprodugio a ‘mentanda ainda mais o forte crescimento demogréfico urban. 2 (Re deni: at, pte ania A recente progressiva diminuigdo do indie denatalidade oor re, sobretudo, em setores das camadss médias educadas,embora se manifest também em alguns segmentos mai pobre. O fato < que na imas décadas vivemos um crescimento acserado € ‘esordenado das grandes cdadesbrailetas, cos efitos persis tem, com graves conseqUéncias pars 0 convivio sci. A regito ‘metropolitna do Rio de Janciro hoje apresenta uma populacio decerea de 12 milhoes de habtanes, dos mals vatiado ives so- Cis esis de vida, © panorama que vase delineando assim nt € 6 de grandes nmeros, mas de expresivaheterogencidadee diversidade socio- culturas As orgense a ininterrupta produgdo dssefenomeno esto diretamenteligadas a vaidveis estratégicas como cases so Cis e diversidade de tradigdeseculturas nacionais regions Ao ilar em case estou usando a categoria do modo mais amplo posivel,consderando as relagbes de produ, a especiliagto ‘cupacional, estratifcago de enda eas diferengas de status € ‘Uma das expressoes mais evidentes dessa diversidade,cheia astes, €0 modo de morar. Assim, a distibuigio da po- ppulagdo por bairrose das das regides metropolitanas, os tipos de habitagao e, em geral a hierarquiaestabelecida através dessa varivel constituem-se em tema fundamental de linhas de pes aquisa de antropologiae sociologia utbanas. No caso brasileiro, 4s favelas, os conjuntos habitacionas, as periferias suas relagdes ‘com os centos bairtos de categoiassocais mais abonadas sto um assunto fundamental em termos de poticis pblicas? Assim, ibe focalizar tanto os aspectos mais internos da vida nesses lo- ‘ais, em principio mais carents, como investigar as relagoes € redes sociais que atravessam as grandes cidades, com suas dimen- ses politicasecondmicas e culturais essa forma, mantemos a problensiticada cultura como eixo privilegiado de investigacao. As diferencasem termos de vsbes de ‘mundo ¢ estilos de vida entre categoriassocais que convivem e eragem cotidianamente nao sio sempre Sbvias ou ficilmente tpl cata eotito 2 identifcaves. Em alguns casos, as varidveis mencionadas, como classe, origem e lugar de moradia, do elementos importantes para aconstrugio deses mapas socioculturas e cartografas co- némico-simbdicas. Mas estao longe de esgotar a riqueza das di versascorrents de tradigao cultural” ‘Volto a uma reflexao que desenvoli jt hat muitos anos, in- sistindo que a familiaridade ndo é sindnimo de conhecimento,¢ {que estranharo familiar é um movimento necessrio para buscar ‘ompreender os mundos socisis por onde circulamos, convive mos ¢ interagimos. Caso iss0 nto se efetive, corremos 0 rsco de ‘permanecer prsioneiros do senso comum, de estere6tipos at= ‘madihas ideoldgicas de todos os tipos. Nao é intelectualmente produtivo confundir, por exemplo, igualdade poltico-legal com hhomogencidade cultural. Nao se pode ignorar a importancia da diferenga de sistemas cognitives e modalidades culturais em ‘nome de um voluntarismo ideolgicoingénuo, soja de natureza politica ou religios. Assim, estranhar o familiar corresponde a um esfors0 intelectual de pensar antropologicamente a sua pr6 pra sociedade, desconfiando crticamente do senso comum e das ‘certezas dogmaticas! ‘Por outro lado, ni se trata de alimentar uma onipoténca da inteligentsia que pretendesse ficarsoberanamente acima de tudo ede todos, Cabe ponderar sobre as possbildades de um pensa- ‘mento critco capaz de por em david esquemas e classificgoes ctabelecidos que impregnam © nosso cotidiano, Reconbecer as dliferenga, estranhar 0 que esta préximo, elativirs-lo sio meios ‘dese ter uma visto mais complexa do mundo em que vivemos e, ‘simltaneamente, buscar indagar sobre as possbilidades de nego- clagio e didlogo entre valores interessese ators diferenciados. A tensio eo conlite faze parte desse ceniio.Cabe se capaz de iden tifics-los em termos de uma ago pba, valorizara posibildade de uma coneiliagao, como jé nos falava Cieero i mais de dois mil anos no contexto conftuoso da Replica Romana de entio. ertamente, os antropélogos transitam € sio construfdos, ‘como os universos pesquisades, por viriascorrentes de tradi w Fe dena: tra, alto cafe cultural. Nos termos de Schutz, todos nds participamos perten- ‘cemos a uma pluralidade de mundos socioculturais, com dens «dades,ritmosecaracteristias proprias. Eta aids, ¢chave pecio- ‘i para as pesquisas nas grandes metrépoles. Sob a inspiragio da obra de Simmel, entre outras,achamada Escola de Chicago sobretudo através dalideranga de Robert Park, realizou uma série de pesquisas em que focalizavae analisava a diversidade sociocultural, a organizacto social do espago,aecolo- sia urbana, os procesos de modalidade socioespacialas carreras € ocupacoes, minorias de todos os tipos etc’ Chicago tornou-se, pporexcelénca,o aboratério de que falava Park, mas cujas infla- ncia ¢ repercussio ultrapassaram seus limites fsicos einstitu- ionais.” Cabe enfatizar a especial importincia da investigagoes de eas, vzinhaneas baitros e“reides morais’ também nos ter- 'mos de Park, Dentro da complexa heterogeneidade de Chicago, as ‘minorias étnicas constituiam, em fungto dos grandes e veriados fuxos migrat6rios, uma das suas dimensoes mais marcantes. [No Brasil nos iltimos 40 anos aproximadamente, produziu- sc um signifcativo conjunto de trabalhos que, ao lidar com essa problemitica, acrescentou outras questoes ¢abriu novastias. No caso especifico dos haitos, tive a oportanidade de desenvol ver pesquisa entre 1969 e 1970 em Copacabana, a partir de pré- dios de conjugados." Procurava compreender visbes de mundo e estilo de vida dentro de um bairro em que coexistiam categorias sociaisaltamente diferenciadas, embora fsicamente préximas. Muitos trabalhos associados a essa temética foram realizados de- pois, tantos que & impossivel enuncis-los todos aqui. Limito-me ‘remeter os etores a uma série de coletineas que di uma vss expressive, embora parcial, dessa lina de trabalho." [esse periodo, em varios departamentos ¢ programas de antropologia do Brasil deseavolveram-se importantes pesquisas dentro do que chamamos imprecisimente de antropologia ue ‘bana, com mengao especial Universidade de Sio Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Santa Ca- ergot ctu «oti 6 tarina (UPSC). No caso da USR, destaque-se o trabalho pioneiro ‘de Ruth Cardoso e Eunice Durham, a quem pessoalmente muito ‘devo, e que deu origem a uma producao rca e estimulante exer- plifcada nos trabalhos de Teresa Caldera ¢ Jost Guilherme Mag- ‘ani, Este, particularmente,além de sua propria obra, fundou um sndcleo de antropologia urbana que vem, cada vez mais, explo- rando 0s mundos etrilhas da metropole. No Rio de Janeiro, no Instituto de Filosofia e Ciéncias Sociais da Universidade Federal

Você também pode gostar