Você está na página 1de 15
TEMPOS LINCUSTICOS itinerdrio historzo da lin sil i 8 Disto Benjamin Able Juror Samia Yousel Compadl Prepare de texto ‘Sérgio Robena Tees Coordewrto gia Rnd Esone Ardaruy Coordanago da composi omic) ‘Ned Hiro Toyots Dice Fibelo do rai Cope ‘Ary Almeida Normans Poulo Césu Pereira ISBN 85.08 03575 6 1990 ‘Todos os direitos reservados Editora Aviea S.A. — Rua Barbo de lguope, 110 ‘Tel.: (PABX) 278-9322 — Caixa Postal 8656 End. Tolegritico “Bomivio” ~ Sio Paulo | c Este manual 6 dedicado & “'vé" Ida, que, com seus quase setent 0u talvez por isso mesmo, ainda brinca e muito sori. Seré que um vestido de seda? Ou prefere um de croché? Este livro ¢ parte de um projeto de pesquisa financiado pelo CEPE-PUC-SP, em 1986 e 1! semestre de 1987, 42 4. O minitexto a seguir, de Ferdinand de Saussure, apresenta argumentos em favor ‘de um dos modelos de lingtistca hist6rica apresentados 20 longo do capitulo. Deci- dda qual € o modelo ¢ justfique por que o texto evidencia contra os dois outros mo- delos apresentados © “De mancira gral, ums lingua que evolu ma descontinuidadegeogé- fica presenta, em fice ds linguse patente, un conjunto de tag que the pertencem exclusivamene,e quando eta lingua se faciona, por Ys, 0: {iverssdietos qu dla surgem atest, pelo ragos comin 0 parenesco ras esto que fo une entre si, com excuslo dos tists de outo terri. fio. Els formam realmente umn samo distin, separado do tronc. em rents a les ene ob ferio onus os tragoe comune ue els apesentarm no 0 frgosamente mas ang que Os que 2 dversiicans com eft ated momento ums invaqao at de am ponte qualquer e pode generalize ate sbarcrattalidae doer ‘Gro, demas, como a reas de inovagiovaiam de extenso segundo os ca £08, 8 dos idiomas vzinbos podem ter uma paticalaridade coms, sm for fmarum goa pare no conjunto,e cada um dees pode estar vincalado sos ina otto pris racer conn 0 dest 8 Notas ___ * 0 exemple da reconstrugso de “nave” fl retrdo de: Jran RJ. Lamsrt 1979. Principles and methods for hil Inui. Cambie, Masa, The MIT Dress. p. 1720. 2 Baas aubreases ence ws lingua aparece em: Honectessh H. M, 1960, Language change ad linge comtrucio. Chicago and London, The University of Chicago Press. p. 158, 2 Figura adapada de Joras& Lens, 1979, op cit, nota yp. 29 * Consults entre otrox: Coe, WL Ital recomrcon in Soca Language 5, 1959. A715, 5 Beemplo retirado de Jere & Laver, 1979, op. cit, nota 1, p. 378 Dados adaptadon de Jere & Louse, 1979, op city p 2. * Baaada de Hocaceeaa, 1940, op. Gi, nos 2, p. 150. * Swuean F. de Ed, de 1969. Cus de lngiiica goa Trad. de A Chin, JP. Paes € 1. Bist ‘Sto Paulo, CahriafEditora da Universidade de Sto Pl, p. 2445. REGULARIZANDO AS FORMAS As regularidades levadas 4s Ultimas conseqiéncias Fazer algo de uma mancira ja instituida como “ciéncia”, ou ainda por sélo, tem tradicionalmente pressuposto uma busca incessante e érdua de re fularidades, protétipos ¢ invariancias. Assim é que o estabelecimento da pro- tolingua, defendido pelo modelo histérico-linguistico da reconstrugo compa- rada (ver capitulo 2 deste manual), nada mais era do que uma maneira de se atestar um periodo no tempo, dentro das arvores de familias lingiisticas, em que varias formas, devidamente evidenciadas nas ramificagbes-filhas, paifica- ‘mente conviviam no estigio da protolingua. Em um certo sentido, pois, a pro- tolingua representava um reservat6rio idealizado e resumidor de todas as ten- déncias discrepantes observadas nas linguas descendentes do mesmo grupo. Paralelamente, a interpretagio, digamos, “Ccientifica” que poderiamos dar ao método da reconstrusio interna nao seria muito distante da que aca- bbamos de propor para 0 modelo da reconstrugio comparada. Afinal de con: tas, a tentativa de estabelecer estigios “‘pré-lingua” também representava a ‘busca de um periodo idealizado em que formas teriam convivido em trégua, sem que as diferentes variages do sistema fossem causadas, ¢ conseqiiente- mente expliciveis, por qualquer tipo*de condicionamento, estrutural ou nio. ‘A busca do “cientifico”, porém, nao deveria, em principio, reduzir 0 produto de anilise, seja através de qual método for, &s invaridncias es regu- laridades extremadas. Conforme veremos no capitulo 4 a seguir, a pratica de lingiifstica do momento atual, sobretudo a prética da lingiiistica historica, tem primado pela busca nao de regras de aplicagio univoca, mas sim de ten- déncias e principios de natureza mais geral. Assim, o historiador de linguas do nosso momento presente nio inicia sua viagem no ténel do tempo com a expectativa de encontrar formas sendo reduzidas umas 38 outras através a4 da operagio rigida de regras. Ao contrario! Nosso pesquisador enfrentard tuagdes de mudanga lingiistica que nio se encaixam em qualquer anise « sgendrada através de aparatos descritives compostos por regras. Assim, ag) Jo que seria excepcional & regra, € que em outros momentos da lingiiistica hist6rica, conforme veremos neste capitulo, era de certa maneira forgado em moldes descritivos ¢ interpretativos preestabelecidos, passa a ser de suma im portincia para o historiador de linguas. Essas excegdes as rigidas regras de rmudanga podem, assim conclu o historiador, inevitavelmente revelar outeas pistas sobre a mudanga das Iinguas. Sio essas tendéncias que serio resp das, sem artificialismos, pelo estudioso das historias das linguas a partir da segunda metade do nosso século, Houve, entretanto, um grupo de historiadores de linguas que, no alti: ‘mo quartel do século XIX, levava as regularidacles das formas as tim: seqiiéncias. Esse grupo formou uma escola ¢ € conhecido na literatu iistica como “os neogramiticos” lin: Os neogramGticos e seu manifesto © grupo (ou a escola) era composto de virios historiadores-lingiistas, ‘ou seja: estudiosos das histGrias das linguas. Assim, a0 encontrarmos, entre ‘outros, nomes como H. Osthoff, K. Brugmann, A. Leskien ¢ H. Paul, deve- remos tera certeza de que estamos diante de um autor cujo objetivo e pritica principais eram demonstrar a agio eo prinefpio da regularidade da mudanga lingistica, Mais ainda: essa pritica de lingdistica hist6rica definitivamente ‘marcou os rumos dessa drea de investigagio durante a primeira metade do ‘nosso século, firmando presenga em primeiro plano absoluto nesse cenirio que ora descrevemos. Em 1878 dois neogramaticos empunharam a bandeira da escola 20s olhos do mundo ¢ as priticas de lingiistica historica entdo vigentes: a reconstru- ‘io comparada, a teoria das ondas ¢ a reconstrugio interna. A defesa das idéias vangadas pelo grupo apareceu em um manifesto desse mesmo ano, escrito por H. Osthoffe K. Brugmann, Esse manifesto, algo panfletirio, seri apre- sentado a seguir, resumidamente, através de uma traducio nossa da edicio traduzida em Lehmann (1967) ! Hermann Osthoff e Karl Brugmann: Prefacio a Investigagées morfolégicas no Gmbito das linguas indo-européias | “Desde o aparecimento da obra de Scherer, Zur Geschichte der deutschen ‘Sprache (Berlim, 1868), e principalmente através dos impulsos dados por esse trabalho, a fisionomia da lingdistica comparada alterou-se consideravelmente. 45 ‘Uma metodologia de pesquisa foi enti insttufda ¢ est recebendo, cada vez ‘mais, novas adesiesjessa nova metodologia difere consideravelmente daquela ‘exectitada pela lingifstica comparada da primeira metade do século XIX. AA velhalingistica, como nfo se pode negar, abordou seu objeto de in- vestigagio, as Ifnguasindo-curopeias, em haverinicialmente estabelecido co- mo a fala humasa realmente vive € se desenvolve; que fatores sfo ativados na fala; € como esses fatores, 20 se entrecruzarem, causam 0 progresso € a ‘modificagdo da sabstancia da fala. As linguas, € bem verdade, foram investi- das com paixio, mas 0 homem que as utiliza, muito pouco demais. © mecanismo humano da fala tem um as Aisico. Chegar aum entedimento caro de su te) ser uma meta do lingtista-comparatsta, imento mais precisa da arranjo.¢ do moda-de OBER Asico-poderf o lingista-comparatista chegar-a_uma ‘a Fitiguaigem em geral — assim nso se deve ois 10" papel quase mido ¢ possivel.””? ‘Vamos interromper 0 manifesto de Osthoffe Brugmann por alguns mo- mentos ¢ levantar alguas pontos ja destacados nesses parfgrafos inici Observe-se que Osthoffe Brugmann, ao colocarem a “nova” escola neogra- mitica em perspectiva, 0 fazem apontando, j4 no inicio do manifesto, para erros de concepgio den:ro do modelo da reconstrugio comparada, E esses ¢rr0s localizam-se, segundo 0s te6ricos neograméticos, precisamente no fato de a lingiistica comparada ter se fixado tinica ¢ exclusivamente no aspecto ‘Gsico da Tala humana, totalmente desconsiderando a operacdo de Fatores psi, col6gicos que tém atuado (¢ atuam) em intimeras mudangas e inovagées fo- nol6gicas, e em casos de analogias nos sistemas. Assim € que, alguns pard- grafos apés esse primeiro trecho, Osthoff ¢ Brugmann afirmam a suprema- cia da escola neogramatica no sentido de jf ter ela, apés o trabalho pioneiro de Scherer, climinado tais falsas concepgdes. Vejamos: “Felizmente 0 movimento iniciado pelos esforgos de Scherer, © movi- ‘mento ‘neogramitic’, jf eliminow alguns dos erros fundamentais que domi- param toda a velha Lngiistica. Esses rros originaram-se no proprio fracasto de se reconhecer que mesmo as mudangas e modificages, ocorrida na forma externa da fala e alteradora somente da expresso fonétca do pensamento, 0 evidaa um proses silGzcy aunt ats da materia do som pe los érgios vocals". =e ‘Uma segunda critica feita pelos neogramsticos a lingilistica comparada € jf presente nos parigrafos iniciais do manifesto tem a ver com a questio do objeto de estudo, Segundo Osthoff e Bregman, a lingua do papel (isto 6a lingua eserita dos documentos) pode comprometer seriamente 0s resul- tados da andlise projetadn. Parigrafos ¢ piginas mais a frente do mesmo ma- nifesto, Osthoff e Brugmann escrevem: “Portanto: somente aquele lingtista-comparatista que, a0 menos uma vez, emerge da atmosfera esfumagada de hipoteses da sala onde as formas indo- Pr sapePeits origina so forcadas,e adentrao ar da realidad tangive edo pre- ” Teate fim de obter informagbes sobre aquelesfitos que teorias cinzennoe nag be conseguem nunca revear, e somenteaguele que pats sempre terns aque- \ g.hH, I método de investigagio, atigamente dfundida e ainda seen sado, se- $4 gundo o qual as pessoas observam a lingua somente no papel eta wavs @ 05 quais qualquer incursio nos periodo: ue jazem além da tradigio historica de uma lingua ¢ como ume Fiasem pelo 49 thar Som bas mage comPromisso, excessivo © obstinada segundo os neograméticos, (i Hnestica comparada com os documentos escrtos ecom oestabelecs none, & protolingua faz com que tal metodologia perca de Vista as variate ene. tralia ilbas, variagies internas a cada uma delas, que, no minim toe ‘alizariam 0 enviesamento do uso absoluto de textos esctiton Anros Jcegcisamente os estgios mais recenes das novaslinguasindo-eurpeia, compari Vtos, sho de suma importinca para 3 metodologia da inglisacy (Leomparada em muitos outros pontos tambem” °, | ‘Nilo nos alonguemos,porém, nesses “outros antes pontes”, Os pequenos {fetes selecionados etraduzidos, pertencentes ao manifest, deixamy boxane Sno que a lingtsticahistérce, segundo a escola neogramtics, deveria cogs agus dos “vivos" e deixar um pouco de lado a precuparao obsesens tg 1nsuistica comparada com os “mortos" (formas asteriseals) ¢ core ee Thos” (isto é 0s estagios mais antigos dos sistemas, a protolingua). As tanasressalvas& reconstrupio comparada feta pela escola acogta falc entretanto ndosignifcam um total desprezo da dima pela primei- |) fx Ae contréria: “Isso nto significa, absolutamente, que todo arcabougo | [[$atinsilstica comparads, como ele tem sido ergido até o momento deans [er demolido ¢ reconstruido novamente, desde 0 comeso” ° ' Assim, 0s neogramaticos herdam tragos da lingisticacomparadae,con- forme veremos no capitulo 4 a seguir, jd adiantam em 1878 pute ae que wena a set a lingtistica historica de cem anos mais tarde, especificamene os senrolpenttodolégico-empirista. Nos pressupostos tedricos que a escola de, Scavolveu, porém, e que percolaram por toda a primeira metade de wosy stculo) os neogramiticos muito se diferenciaram, tanto da linglisticg on. Pada a Primeira metade do séeulo XIX quanto da linguistia istOes ave estaria por vir no porvir depois de 1950; Os dois priefpios mais importantes-da escola neogramética sfo: membro n> vty sub + (Ilia umtra > sombra Tibeyare > livrar presriptu > prescrito cina> tiga sar lorandra > loendro ‘catiedra > aden fe « sulfa)e > enxofie Alticu > tbrego ou dvrego (ac) a nigra > ner fragrare > cheirar ™, scalpra > escopro eapra > brs inate > entrar putre > pedre 2 Op cits nt, Op. i. (lela, 1868), and of comparative linguistics has changed [Toe human specch mechasiam has a wofldstpecta meatal and «phic To come tos cleat aderandig of ks activity must bea main goal ofthe comparative linguist. For only othe bese ar 2 more exact knowledge of the arangement and mode of epeation of ts poychopycl eck ‘ane Gran idee of what is pouble in language in general ~ by that oe should ne hak ene ans 2 RP or on paper amon everythings ps”. (Nova ean here a pata segs ‘rao ial) 2 Op. its nota, p. 199: “Fortunately the movement tating with Sch sound by the vocal organs” Op. ity not yp. 202: "Therefore: nly that compar rpothesesbeclouded atmosphere of the wotlbop in wth 201: “Precisely the most recent ages ofthe newer Ido Europesa languages the ine itech ae of great sgnifiance fo the methodology of compra inguin mary the respects too" 12h tt 203: “Thats by no mena otha the wl sac of comparative gu ‘ars as ith ben erected tl ow, should be torn down anti wp pain mth bpneg OF ite ts Ip. 204 "Ft, eve sound chugs, nsnch at cus mechan, ee pg Traine tows that adic no exception. That the direction ofthe sound shit is svape te ce Linginic community except where «slit into dalecis occur and all words {isis innovation bt be recognized without hesitation fr oer periods oy tad cea fe fs can “78 orncil nately tbe recoaie, but is aot be usd in the sameway ss nemled 55 fr he ceplanatn a lingutic phenomena of ater ptids. And it ough ae strike ws thee bit Fogle alo (mations conto ws inthe oder and nthe det pein of langage eee {pie ieasue or cre in ull ger measure tha i the mare oe mat teens seid 4 Stat ma 9.205: hee at thse who wil tay ht the ume odin he ery ee Yroament, has changed in seme words one way, in other words ane, He whe dea The a ae wich nonce in al hee unmaiaed exceptions which are fvored by hm, something vey soon TAKE be thinks flows fom the very anu of mechanic sound change, tad he whe tee ANG Setucaty tappens ~ makes thee exceptions the ass of frterconsusons, whichacee reo Sa te consistency othe sound aw thai therwise observed, he neces fale etin eatin, bis for an objection apunst is principe” 12m cz tap. 205 “Many belee tht alo Srmatons ae pcp in thse age of newt in which the ‘eling forthe language’ has “degenerated”, a ane tao ays fe chee SEuiRt f anewgs ha rown din’ and hus they bee that one canna expect loge en siapinte ld ens of ange tthe sme exer inh eA sng way fang vat} 9207-4 “Ifthe nega’ mrenent wih it netadlogeal prccperes ‘ep many ofthe orignal Indo-European forms which have circulated fr» lng tne im for weet mesic rota very dec to many, od ifthe movement nat now int postin e sen on Siete Sigh so the periods of prikive and preprimiive language "athe fhe tion shez meme ~ andi the neoranaasin movement with i hepa nae seas kasi (tag te 2 anys king tard the printve langage nd fH appeaninfeasi eefa ae ovement ican surely consle ul with the her that fora een ene socoen, nein in site of ts sty year, rust be of more concern toy erly soe ten far as posible” 3 all what motives us to fllow jst this meth and we ober "aos reiados de: Brow, Th 1977, Hiner igi, Camb Saurne, Cambribge Univesty Pes. 28. {Laas W. F142 Hier Singin. Am intraaion New Yor, Ho, Rinehart and Win. iptlams Eos, S. 1961. Que € nga? Rio de Janie, Zhu, 2 ed, Trade Aina Soare te or ‘ha, Helena Maria Camacho ¢Junti» Malls. aL M197 As erands coments da gia mals, Sto Paul, CaluEors d Unves ‘he de S80 Paulo, Trad. de Isidro likin Jou Paulo Paes (aera 1 de L968. Poms de rami iri io de Jet, Livia Academica 6 (2. imprest). London, New York and Mel ABSTRAINDO A PARTIR DAS FORMAS A ordem na desordem: Introdu¢ao Retomemos brevemente ao capitulo 1 deste manual e retomemos as prin- Cipais idéias avangadas pelo texto B cuja autoria foi mantida andnima nage. le momento de nossa reflexio sobre a historia e a estrutura das linguas, O texto B data de 1968 e traz trés autores: Uriel Weinreich, Willian Labor ¢ Marvin Herzog. Nesse texto de 1968 comegava uma nova maneita de se pensar sobre a histéria das linguas, maneira essa que no mesmo capitulo apa fece contrastada com a visio pioneira de Ferdinand de Saussure, do inicio do século XX. As principais idéias defendidas pelos trés autores a partir do texto de 1968 serio explictadas a seguir. Fundamentalmente, porém, jd podemos pre: cisar, a partir do breve excerto do texto, apresentado no capitulo | como ex, to B, que a idéia central defendida pelos autores € a da heterogencidade sistemética, Vejamos: 1. “(..) as teoras estruturais da linguagem, to proficuas na investiga- so sincrOnica, obscureceram alingisticahistrica com um conjunto de po: radoxos que ainda nao foram totalmente vencidos”", 2. O neogramético Hermann Paul foi aparentemente “o primeiro a isolar a lingua falada pelo individuo como o objeto mais legitimo para estudos lin. sisticos” 3, “(w) 0 endurecimento do paradoxo no perfodo saussureano em que 4 homogeneidade da linguagem — supostamente encontravel no idislete. era tomada como base € pré-requisito para a andlise lingifstica” 3. 4. 0 florescimenta da descrigio e da anslise lingiistcas depois da Se gunda Guerra Mundial: a) “a lingua da comunidade como sistema diferen 87 ciado” ¢ b) tentativas de ‘‘reconciliarfatos observados de heterogencidade lingilistica as propostas te6ricas em busca de ordem e estrutura” ", 5. finalmente: “(..) um modelo de linguagem que acomode os fatos do uso varidvel e de seus denominadores sociais e estilfsticos nao somente leva a descrigdes mais adequadas da competéncia lingdstica, como também naturalmente propicia uma teoria de mudanga lingifstica que vencerd os pa- radoxos com que a lingifstica histrica tem se debatido hii mais de cingtlen- ta anos” *. Ou sejaz a solucio para os impasses da lingiistica historica € “romper com a idemtficacio entre estrutura e homogeneidade”, acreditando-se que “o dominio de estruturas homogéneas nao € uma questo de multidiale- talismo ou mesmo de ‘mero’ desempenho, mas sim parte essencial da com. peténcia lingaistics unilingiie” °. Por detras desses cinco pontos esti, pois, 0 argumento segundo o qual, tanto a nivel de comunidade como a nivel de individuos falantes dessar co. ‘munidades, hi heterogeneidade e € precisamente nela, dentro dela, que de- ‘Yeremios buscar estrutura, sistema e funcionamento. Ito €: a aparente desordem da heterogeneidade & na realidade, ordenada, daf: a ordem na desordem, Advogar em favor de uma identificagio entre homogencidade e estru- tura 6, pois, segunco a concepgaio de Weinreich, Labov e Herzog, pratica- mente invidvel no caso da hist6ria das linguas. Conforme a argumentagdo desenvolvida pelos autores nesse texto de 1968, se uma Iingua tem que ser estruturada para funcionar eficientemente, segundo acreditavam os catrutt ralistas da primeira metade do nosso século, como continuam entio a3 pes: Soas a se comunicar durante os perfodos de mudanga do sistema lingdistico: Em uma concepgio puramente sincrdnica de uma determinada lingua, em uum determinado recorte lingistico que possamos fazer em um sistema, a identificagio entre homogeneidade ¢ estrutura poderia ser acatada se ascu. ‘missemos a variagio na fala como devidamente estruturada e com funciona mento efetivo dentro da comunidade em questio. Afinal de conta, a nogto de estrutura implica em efetivo funcionamento do sistema, conforme defen. diam e pregavam os estruturalistas. Falar em mudanca lingaistica, porém, (fevelava para os mesmos estruturalistas problemas de concepeir isto nos )periodos de mudanga os sistemas passariam por fases inenos sistemdticas'¢ . ‘como a nogik ufura implica tide funcionamento efetivo, como entio \deveriamos explicaro efetivo funcionamento dos stemas durante esses pe- Fiodos de mudanga, ou ser4 que deverfamos supor que em determinados mo. shenos (os de mudarsa) a comunicacio efetiva € neutraizada pela mutacio do sistema linguistics? a ~ 7 Essas conclusdes, ¢ em especial a titima, parecem absurdas. Se equa. cionarmos, entretanto, homogencidade ¢ estrutura, e mantivermos a nogio segundo a qual estrutura implica funcionamente efetivo dos sistemas, endo 2 tiltima conclusio do parigrafo anterior, posto que absurda, é quase que inevitivel. Evita-la & pois, um dos grandes objetivos do texto de 1968: ven- cer 0s paradoxos da lingiistica historica criadas pelo equacionamento de ho- nugeeidde, tutus efncomumenty ara tal a saida desse beco € na- da mais, nada menos, do que a proposigio inversa: equacionar, sim, mas equacionar a heterogeneidade 4 nogao de estrutura ¢ funcionamento. Assim procedendo, nio se torna dificil explicar 0 efetivo funcionamento dos siste- ‘mas em momentos de mudanga. As fronteiras entre sincronia ¢ ‘diacronia igual- ‘mente sio canceladas: elas continuam a ser recortes diferenciados, o primeiro, de natureza transversal, ¢ 9 segundo, longitudinal, mas, diferentemente da ” ®; 3. a avaliagdo: “Como as mudangas observadas podem ser avaliadas em termos de seus efeitos na estrutura lingiistica, na eficdcia comunicativa (por ‘exemplo, na relagio com a carga funcional) e na ampla gama de fatores nio- representacionais envolvidos na fala?” '°; 4. a transigio: “Os estigios intermedifrios que podem ser observados, ou gue devem ser postulados, entre quaisquer dua formas de uma lingua efinida para uma comunidade lingdistica em momentos diferentes” 5.a implementasio “(..) (talvez 0 mais central): que fatores so res- Ponsaveis pela implementagio de mudancas? Por que mudangas de um trago estrutural acontecem em uma determinada lingua em um dado momento, ‘mas mio em outras linguas com 0 mesmo traco, ou na mesa Ifngua em ou. {ros momentos?” Satisfitos esses cinco pontos, nés teriamos condigdes de tomegar a pensar em teorias preditivas. Por exemplo: se considerarmos somente 0 primeiro Ponto, os fatores restritivos, no seria muito difleil imaginar que, a part da descrigdo e da andlise de varios sistemas lingiisticos em mudanga, pudés- semos estabelecer hierarquias de fatores que mais provavelmente condicio- ‘nam mudangas (fonolégicas, por exemplo) em uma diregio e nfo (ou nunca) ‘em outra. Similarmente, se considerarmos o segundo ponto, o encaixamen- to, poderemos talvez concluir questiudangas em determinados terrenos da ‘gramitica fatalmente desencadearéo mudangas em outris partes da mesma gramitica, como se fora luma situagdo de espelhamento interno das linguas. Se, por outro lado, isolarmos do terceiro ponto o da avalisgio, somente @ parte que diz respeito a carga funcional de segmentos envolvidos em mudan- 42, poderemos provavelmente hierarquizar condigSes favoraveis e desfavor’- veis 4 mudanga lingifstica. © quarto ¢ o quinto pontos, coatudo, segundo 0s prOprios autores, sio menos permedveis do ponto de vista do observador. ‘Um exemplo clissico para 0 fendmeno da transigio, tal qual citado no texto, € 0 estudo realizado por Gauchat em 1905 em um vilarejo suigo ", erence serene a ee ee a a ph e Y Os resultados de Gauchat apontaram que a ditongagio de /E/ se ‘encontrava fortemente condicionada pelo fator idade. Assim: E+ 5) BF (dade) Ou sei (aqui tomado como a varisvel ditongacdo) estaria transitando pela Comunidade através das fasas etérias. A andise de Gauchat bascouse or tum tpico recone etiio transversal/sinrénico da comunidade suiga Essa mesma comunidade foi vistada por um segundo lngista eon 1929, Os resultados da anise de Hermann " defiitivamente comproverem lec Cage da ditongagao como varidvel controlada pelo fator idatle apresennata por Gauchat em 1995. O auinto ediltimo pont, aimplementasso, talvez sea mais permevel Pee a transigdo, mas necessariamente envalve ou pressupoe os brining, yiamos um exemplo: o sistema vociico da cidade de Nove Torque al qual dcscrito pelos autores. A andlise demonstrou um eneadeamente de maaan £25 um Proceso que poderia ser explicado através do fendmeno de enceinn Jen nos concomitantes linghisticos do sistema, Assim, a0 algamento de denitetrizowse 0 algamento de fh, simetta essa que, por sua ver teas desencadeado a posteriorizagio de /ah/ e um algamento peralcle de foyl. A Posteriorizagdo de fay e 0 algamento de Joy! teriam também deseneshegde ‘ima posteriorizagio de /ayl, acompanhada de um fronteamento de lan Essas reages de encadeamento indubitavelmente demonstram a logici- dade ¢ 0 cariter sistematico dos sistemas fonolégicos. O fendmene da imple canigka®, entretant, fica sem explicsgdo, uma vez que, por mais que se Capligue 0 encadeamento ligico das mudangas, a primeira, que terin exces ‘adel todo o processo, ainda necessta de uma explicagi, Seri entser cay Pee eregmulanga nicamente explicvel do ponto de vista externo (social) cla mesma? Para um modelo de anise que assume a interagfo sistemstica entre fatoresinternos e externos na explicasio da variagio « da mudanga lingiisti- ra, pesPosta devers ser necessariamente negativa, Ou seja: também as on tras mudangas, logicamente encadeadas e encaixadas nos concomierns crane aeitklistios do sistema, poderdo ter explicagdes e configuragdee renee {ocias) elas mesmas, Inversamente,a primeira mudanga, que apa do tam ant teria desencadeado todas as outras, poderd ter, por sus verso dfo-um eco. puramente lingtistico de, dentro do proprio stems fats conclur por enquanto: para que uma teria da mudanga lingiisti- a de bases preditivas ejaviabilizada, necessirio se faz que todas een ‘ques: ‘Ses sejam devidamente pesadas ¢ satisfatoriamente respondidas 6 Os principios norteadores da teoria sug Adana lingstica no deve ser identificada coma difusio lex tfc que result de variagioinerente na fala A nuda linghstien inc doa fearalzsio de una dads aeaints em tenses ee & ala entra em alo e assume ocariter de dicianceere tae ato entre strata homoge incu eiferencapio sa gee A YEA Se Go gorcman sate ge comune igs ee uma Tinga prsupoe o cotta tas Gora aod 3. Nem toda varibilidade eheteroenedade na exrurr lnglatia ea volvemudani; mas toda mudanga envlve warble hc ‘itn ny ng na ces ng {Rem uniforms nem Instantins a peneralzaso evolve acovadaydode me danas sacar a0 long de perodas tance ees ee Metta nati de loplsas oar Sosa 5. As gramias mas a comunidade de fala. Devido is tc iernmeets San = — eo, Sh tne lings tapas comunidad crmoam, Sy {pier tt. ndo eh continada.a ctapas disreiadat dento da fio Toe 1) “equalauer descontinnidade encontrada na mudasee Hapa 2. dade, € ndo como produtos ine de geragio, de pai para filho. 7. Enotes linglitios¢sociais enconram se inimamente relacionados no desenvolvimento da mmudangs lingatstia: Exp fe privifegiem um saa eset a Obata Ba constr, nfo dard conta do eo man tant de regularidades que podem ser observadas através de etudos conte, 0s do comportamento lingulstico.” > idade € uma ilusio. A estru- O SABER ACUMULADO PELOS PRINCIPIOS NORTEADORES. — emamos, no capitulo 1 deste manual, um compromisso de visitar, do OF a0 14! capitulo, o tinel do tempo da lingua portuguesa, tomanda cones referencial as principais idéias avaggadas pelo texto B. No presente capitulo as idéias centrais ao texto B foramesmiugadas de forma nvestabeleset so, core pats etencial com o qual pretendemos entrar no tunel, Nose objetivo principal & pois, visitar as transformacées soffidas pelo nosso siste- ima lingiistico com um programa de observasio preestabelecido e come a, terminadas perspectivas em mente, Antes, porém, de ingressarmos nesse fantistco tinel do tempo da lin Bia portuguesa, vejamos em que medida e até que ponto esse programa de cbservacao estabelecido por Weinreich, Labov e Herzog em 16842 conse sui acumular uni seber te6rico sobre a historia, a estrutura ¢ 0 feincena: mento das linguas, Re Dissemos, ainda no capitulo 1, que fariamos essa visita através de um Constante ire vir, do presente para o pasado e de volta parao presente. Esea yiasem dupla ¢ ecoada retoma, na realidade, um dos prineipios mais fortes se nottelo de andlise proposto. Trata-t do principio da uniformidade se, undo o qual ‘as forgas que operaram para produzir o documento history so as mesmas que podem ser vistas em aco hoje” * Obviamente, confor- me tetemunhals Pope oe © proprio (1975, p. 829) "”, problemas lingtistico- bstéricos néo podem ser resolvidos com a mesma faciidade que questdes SincrOnicas de linguagem, dada afragmentagdo das informacbes contidss nos “Gumentos, sobretudo as de naturezafonticae social. Mas, mesmo aeson pine Podemos fornecer algumas interpresagdesplausiveis através de princr Pies que tenham total suporte empirico ¢ assim iluminar 0 passado stravts ‘lo presente assim como iluminamos o presente através do pascodor Um exemplo desse tipo de percurso dem-sucedido € o que nos relata Tape’ nesse texto clissico de 1975: “On the use of the present to eaplaia the Past” (“Sobre o uso do presente para explicar 0 passado”), Trasse de saat duestdes mais controversas na hisbria do sistema voedlico ingles: 4 fusio de mate e meat, teria ela ocorride ou nio? Os compéndios de gramética histérica do inglés permitem recompor ‘és momentos para a evolugdo dessas classes fonlogicas: = ty ‘Ou seja: no primeiro momento (momento I) as trés classes sio distintas; no Segundo, hd uma fusio das classes meat e mate, separadas por mec «ho ta Ceiro momento as classes supostamente fundidas ‘no segundo momento vol- tam a se separar, desta feita meat se fundindo a meet. Tudo isso parece ¢ soa até muito ‘natural. O problema com essa descri- So € que ela levanta a possibilidadeste dsting6es fonémicas fundidas ao longo da hist6ria e que voltam a se separar. Isto. levanta a simples (mas perigosa) possibilidade que fendmenos de fusio nao sio irrevers 5 O saber tebrico das linguas e de suas hi térias, entretanto, jé atestou ha mi que fusdes Sto fendmenos irreversiveis. Como entio resolver esse problema da histéria fonolégica do inglés? Bem, se nés nos deixéssemos guiar nica exclusivamente pela tradi- clonal lingiistica histérica, terfamos que empreender urna viagem do passa- do parao presente ‘Zo-somente, Como os dados fonéticos no Tegistro histor 63 $2 Sto. cm eral, fragmentarios, nossa inca conclusio seria de que o fendmeno dia fusio teria realmente acontecido (afinal de contas, sio incontestivels xg Fuulencias de rimas e jogos de palavras apresentadas pela literatura), mas ficariamos sem explicagio para a ruptura seguinte 4 tusto. Bem, se empreendermos, no entanto, o caminho proposto por Wein- rcich, Labov ¢ Herzog (1968) ¢ Labov (1975), poderemos nos valer de dados Empiticas do momento presente, fonética e socialmente nio-fragmentados, © acreditando no principio da uniformidade, projetar alguns resultados de resente para o passado. Nossa questdo a resolver passa entio a ser: terd 2 Lisio verdadeiramente ocorrido? Ou ainda: se a fusto do 3 longo (mare) ¢ © (meat) realmente ocorteu, como entio ela foi revertica? © momento presente do inglés americano ¢ britanico apresenta fatos Sompardveis & possivel e atestada fusdo de mate © meat no ingles histOrice, Assim, falantes da cidade de Nova Torque dizem no mais distinguir sence de source, lax de lore (sem 0 /r/ pronunciado, 0 que € tipico daquele falar american). Ou seja: 0§ falantes nova-iorquinos afirmam no perveber dife, Zeng entre as duas palavras € stestamnas como a mestra. O mesmo tipo Se Jgnomeno (oi locaizado no falar americano da cidade de Albuquerque, no Estado do Novo México. Em Albuquerque os falantes dizem rio aig Perceber a distingao entre foo! e full. Na cidade de Boston, no Estado de Mac sachusetts, as palavras beer e bare, cheer e chair foram rotuledas como as mes, Tay Res testes de percepgio (testes de pares minimos). Em Norwich, na {nelaterra os informantes ndo fizeram nenhuma distingdo entre as palavras {00 ¢ toe. Em Tillingham, Essex, Inglaterra, fendmeno semelhante parcee ‘er ocorride com os pares: line € loin; vice © voice; € file e foil, omemos esse dtimo exemplo. A literatura sobre a historia do inglés pont Que i foi se fundiram nos séculos XVIL e XVIII, ¢ voltaram a Se separa ein diteqoes opostas durante o culo XIX, promaveada fale [oj] Com dlstingdo fonémica. E € precisamente essa distingao fonémiea que, ne- wente, volta a ndo ser percebida como tal pelos falantes de Tillingham, A figura 1 a seguir ” apresenta a distribuigio de /ay! e de foy! no siste. 1a voedlico de Jack Cant, um falante de Tillingham, de 85 anos de idade, duc no teste de percepplo havia roculado fy! e foy/como os mesmos. A figura 1 atesta, entretanto, que, embora a njvel de percepgao o inférmante no fais “facmthese a dstingtofontmica, essa dstingio € mantida no momento da pro- dusio. Observe-se que para os dois conjuntos (lay! e Joy) posigdo do for. 2 (a posigio do conjunto no espaco actistico) é a mesma, mas hf ume “| diferenga quanto & posigio em formante I (a altura dos conjuntos). gualmente, para as outras comunidades citadas em que os informantes afirmavam nio mais perceber diferengas entre duas palavras, dois segmenter vocilicos, rotulando-os, conseqtlentemente, como os mesmos, os reeultados ‘estados para a fala de Jack Cant sio diretamente apliciveis, Ou seja: as di ferengas que no sio percebidas no momento do teste de parss minimos sia, s Oo A ; ee* @ . “ie Fala Pares Minimos: Figura 1: Distrbuigto de fay oy! no sistema vocstico de Jack Cant, 85 anos, Tillingham, Esser, Inglaterra (In: Lanov, 1975, p. 845, figura 9) em verdade, mantidas a nivel de produgio na fala. A figura 1 mostra, por exemplo, que as diferencas a nivel de formante 1 sdo muito mais claras na fala de Jack Cant do que em seu desempenho durante 0 teste. Labov, pois, conclui que “(..) 0 ato de rotular duas formas como ‘as mesmas” nlo é devi, ¢ 40 a uma inabilidade-de-se ouvir a diferenga; a0 contririo, o falante parece ‘er uma norma intutiva dithndo que elas sio 0 mesmo som, ¢ aproxima aquela “ norma nos pares-minims, assim eliminando grande parte da diferengs cn- contrada na fala" ?°, E no sentido do exposto at€ o momento que reputamas a proposta de ank- lise, introduzida no capitulo 1 como texto B ¢ aqui retomada em maior detalhe, como a mais proficua para se pensar em questies de lingilistica historica. Nessa Proposta o presente ¢ 0 passado aparecem como entidades em situagio de con- ‘nwo de acontesimentas.e.nio.como demarcasées auténomas. Un resultado como a anilise efetuada a partir da fala de Jack Cant pode fornecer lados extre ‘mamente importantes para se tentar resolver a questa da irreversibilidade de fusbes fonologicas. Nao que a fusio nio tenha acontecico no inglés histérico, ‘mas certamente os compéndios de gramitica hist6rica do inglés nio deram ¢ devido peso € valor & distingio entre produgio e percepsio de fala PENSANDO NO (E ALEM DO) CAPITULO __ 4. Imagine, seguindo a linha do exposto para meat, meet © mate, trés foremas que, ‘segundo 0° compéndios de gramitica historica do portugues, teriam sofrido fucoes 65 ‘em momentos diferentes do sistema, Recrie a questo de um dos trés fonemas ter primeiro sido fandido a um dos outros dois, ¢ depois exatamente aquele que havia Ficado solitario no segundo momento da evoluglo, Crie entio, a partir da colocagio do problema, uma maneira de resolver o impasse, langando mio da proposta de anise de Weinreich, Labov e Herzog (1968) Labov (1975), 2 Leia 0 texto a seguir e reflita sobre algumas quest8es adiantadas a partir do capitulo ora encerrado e do proprio texto. ““Nio queremos enftentar aqui uma discussHo geral a respeito da distin- {22,gnte conhecimento histrico e conhecimento das ciéncias da natureza, bbascada, entre cutras coisas, na caracterizagio do primeiro como individ zante e do segundo como generalizante. Mas nfo 6 de todo indi recor como, diferentemente do matemético ou do fisico tebrico, um cientista a0 qual Ss atribuiy freqientemente, o comportamento téenico por excelencia, 0 en nheiro, se encontra sempre na necessidade de estudar seus problemas de te neira individualizante; de projetar € construt, por exemplo, uma casa, uma Ponte ou um dicue, levando em conta condigdes espectfica (inelinasio do ter- Feno, sua qualidide, as condig6es climsticas naquele lugar particular ec) que {ornam sua obra um objeto particular, diferente de qualquer outro, ¢ nlo um exemplo de leis geais. Além do mais, o construtor poders ver-se Obrigado ‘lo deixar de lao certos aspectos da casa que éle projets, desde a cbr (peas ‘exigéncias estéti-as dos fururos ocupantes ou por sua relagdo com a tempera ‘tura) até a digeaibilidade dos materiais empregados (dos quais uma erianca poderia ingeritparticulas). Mas a pertingncia devers sempre ser levada em Conta ¢ sobre ela se bascard, inclusive, a dstingdo dos viios aspectos a consi- resente capital Cao hajapontes en que avaio dele, cia do teat anterior e 1 do texto B ae choquem,explictes Sm deaines er mentando em favor de um e contra‘ outro medele, Ponto 2 © texto anterior xemplifica, através Ua figura do engenhiro a eaggoind- vidualizante do artistafconstruoe/ientnta com Seu objeto de aiceonsinacaellen ‘ia. Ao inves da figura do engenheiro, srva-se da figura do lingaista e procure esta- belecer a mesma relagéo individuolcoisa individuada Ponto 3 Com base nas idéias expostas no presente capitulo e no texto anterior, discuta as relagbcs interpenetragdes de dominios e possiveis exclusdes mituss entre alates ‘io © generalidade de um lado, 0 saber teérico acumulado, de outto. Notas — aNreomucn U Lanon, W., Haan, M, 1968, Eapiccl foundations fr theory of language change Artig pada i: Lowus,W. & Maa Y, ed. Ditto for hori! lng. rate, Vane sit Teas Pres, p. 98: “.) srvturaluories of language, a il in synchronic nvecigaig ‘ave saddled historia linguists with a chute of pradones Which have nt been full erences 41Op. ct nae 1, p. 98: “Memmana Pal, who aparely wa the fit isalate the langage ofthe individual asthe mos lpimatecbjectof Hogue study” 6, Orso |p. 9: “the hardening ofthe paradox inthe Sesurean period, when homopenety ‘faonunce sumed tobe fund inthe ilect ~ ws daw upon st a preegst o analy OP. cits nat tsp. 9: 3) “anguage of a community a diferemited sytem” « 8) “icone ie bserved facta of linguistic heterogeneity withthe cheartial desert finding ede td struct: Op, city nota yp. 99: “a made of language which accomdaes the facts of variable usa ans octal and stylistic determinans not only leads to more adequate dessins of linputc conga but aio naturally yields a theory of language change that bypasses the frees patadones wit was historical ingistics hasbeen ruplin for ovr hal cata 101: “beak down the identification of structurcdness wit hompeney; “naive Uke command of betrogeneous structures isnot a mater of mulidislectalism or mee” perfonmanea, but is part of uitingual nguisie competence” {OP its ot sp. 10: “Long before predictive heres of langage change ean be atempted it wil beset to lean to ee language — whether fom a diachronic ora synchronic vantage on cbers Possesing orderly heterogeneity” "Op. city nota Isp. 101: “set of possible changes and posible condos fr changes which can take place in a structure of given type” Op. city not 1 p. 10: “How ae the observed changes embed inthe matic of linguistic and ex \ealgiticoocotants ofthe fom in question? What er change ae secated wth he ynes changes ‘a manner that cannot be aiibuted to change?" Op. cit ate Ip. 101: “And how can the observed changes be eve — i terms oftheir effects ‘poo linguistic structure, upon communicative eicency (a elated, eg, to fanctana oth, aed ce "he wide range of noarepretetatonl factor iavlved ia Speaking? 5 Op. cit nota 1p. 101: “intervening sages which canbe Oberved which mst be posted, be {een any two forms ofa language defined for «language eommusty a cillerent tines” 2 OP. its ota. 102: “.)petaps the mast basi: what factors can secount forthe actuation of changes? Why do changes i stra feature take place ina particule lnguage pve ine, tae ot fn other languages with the sme feature o inthe sme languages the tena? © Gavcur.L, 1905. Liumitéphondigue dans le ptis dune commun. Hale, (iauaos E. 1929, Laurvectnderangen in de lnvidalsrache cnet Mundart. Io: Nchichen der Geelichaft der Wisemchafien zu Giingen, phir icky p. 198214 fst ap. 187-8 “1 Linguistic change is ot to be dented wit random di psceding fom kc change bepios when the gencalsatin o's pra alter “Taion ia ive subgroup ofthe apech community amumes direction snd takes onthe charac of 67 overly difereniaton. 2. The avecaton berween structure and homepeniy isa ison, Linguistic ‘trite includes the orderly difereniaton of speakers and tyes through rcs which govern vation in the speech community ative command ofthe language includes the ctl of such heerogencout Structures, 3. Not al variably and heterogeneity in language structure involves change; but ll chonge involves variability aod heterogeneity 4, The generalization of inguite change throughout ingle structure i ether wiform nr instantaneous involves the covariation of asaited changes ore su "antialperids of tine, andi reflected inthe difasion af glosses over eas of geographical space 5. The grammars in which linguistic change occurs are grammars of the speech community. Beane ‘he variable tractres contained in language ae deterned by social function, ideets do nt peovise the bass for sfoeained or interaly consistent grammars. 6. Linguistic clang is tranamited within ‘he community 2s whole its ot confined to discrete steps within the family, Whatever dicots are found in linguistic change are the products of specie discootinuits witha the community, rater than inevitable procs of the generational gap between parent and child 7. Lingua aad soil a ‘ors ae closely interrelated in the development of langue change. Explanations which ae confined ‘wane othe ee ipet, no mate how wel entre, wil flo count othe ich ayo replies ‘hac canbe observed in empirical sade of language behavior” “Lox, W. 1975. On the use the presen to explain the past In: Prcelings ofthe Eleventh ne atonal Congres of Ling, Bologna Florence, Sacie Editrice it Mulino Blogs Eated by Las Heilmann, p. 829: “the forces which operate to pradace the historical rced ate the tame a hone hich ean be seen operating today" Op. city nota 16 "Op. cit nota 16.829: "we can provide some plait interpretations with principles whic have fa empicial support ad wo ilainat the past bythe present ss we do the preset bythe pr Op. et, nts 16 p 845, ° Op. cit nos 16, p 845: ".) he cof labeling the two forms asthe sami not de 0 ‘wheat he difeence; rather the sets appears to hav antivenom th they ae the sane ound, ‘nd approximates tha norm in misma pai, eliminating mot ofthe dierence found in natura spec” * Lerons,G.C. 1971.4 lings eat. So Pale Eira da Univeniade de Sto PaloPers ectva, p78

Você também pode gostar