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REVISAO DA LITERATURA Relagées entre Condicdes Miofuncionais Orais e Adaptacao de Proteses Totais Relation Between Oral Myotunctional Conditions and Adaptation of Complete Dentures Claudia Maria de Felicio* Cristina Campos Cunha** Felco CM de, Cunha CC. Relagbes ene condicoes mictuncionais ora eadeptagdo de préteses tas. PCL 2005; 7(36) 195-202. Comprometimentos nas fungdes de mastigacSo, degluticéo ¢ fala sio freqUentes quando os dentes naturais so perdidos, podendo provocar consequéncias negativas em outras funcées organicas, bem como na interacao social dos indivicuos. Visando a qualidade de vida da populacao idosa, no presente artigo, os autores descrevem as possiveis desordens miofuncionais orais em Individuos desdentados totais e as implicacoes destas para a adaptacao de proteses totais. A terapia miofuncional oral é indicada para favorecer 0 equilibrio des estruturas que compéem o sistema estomatognatico. PALAVRAS-CHAVE: Miofuncional; Deglutigao; Mastigacdo; Fata; Hrotese total. INTRODUCAO Perder todos os dentes pode ter diversos significados para as pessoas, dentre eles, de mutilacdo do corpo e de envelhecimento. Ao receberem a indicacdo de préteses totais, essas representacées poderdo interferir negativamente na adaptagao, porque as pessoas sentem-se envergonhadas ou esperam que as préteses funcionem como os dentes naturais e mediante qualquer sensacio incémoda, queixam-se, podendo inclusive deixar de usa-las. Contudo, outras pessoas aceitam as proteses plenamente, porque elas repdem os elementos den- térios perdidos, favorecendo uma melhora em relacdo condicdo prévia, principalmente na aparéncia, e mesmo que ocorra alguma dificuldade de adaptacao, ndo se queixem. Pensando-se que as préteses totais devem favorecer as funcées estomatogni alteracdes ou lesdes orais, devemos considerar que outros fatores, além dos socioafetivos, podem ser prejudiciais. Como ja exposto por varios autores, as condicées musculares estao estreitamente relacio- nadas a adaptacao das proteses (Aldrovandi, 1956; Mehta, Joglekar, 1969) e a capacidade do individuo para mastigar, deglutir e falar. Por isso, os Cirurgides dentistas cuidam para que as proteses adaptem-se 23 musculatura. Porém, poucos autores (Plainfield, 1977; Silverman, 1984; Cunha et at., 1999; Cunha, Zuccolotto, 1999) tém apontado a possibilidade de melhorar a condicdo miofuncional oral por meio da terapia mio- funcional e, com isso, favorecer a adaptacao funcional das proteses. O objetivo desse artigo é descrever e discutir as desordens miofuncionais orais de individuos des- dentados totais, com bese na literatura ¢ na hossa experiéncia profissional, bem como indicar possibi lidade de um trabalho em equipe que retine o Cirurgido dentista e o Fonoaudidlogo, visando a adaptacdo "as, sem causar * Doutora em Ciéncias pela Faculdade de Filosofia Ciéncias e Letras de Ribeirdo Preto da Universidade de S30 Paulo ~ USP; Fonoauciloga da Faculdade de Odontologia de Ribeirao Preto da USP ** Fonoaudidloga; Mestranda em Ciéncias pela Faculdade de Filosofia Ciéncias e Letras de Ribeiro Preto da Universidade de Sao Paulo ~ USP; Rua Dr. Paulo Barra, 307, Jd. Sao Luis ~ CEP: 14020-320, Ribeirao Preto, SP; e-mail: jezanetti@netsite.com.br Rolain end Concho Ai das proteses totais ea recuperacao da mastigacao, degluticgo e producao da fala e, consequentemente, a qualidade de vida desse individuos. DIAGNOSTICO MIOFUNCIONAL ORAL Ao avaliarmos uma pessoa desdentada total, devemos nos lembrar que esta néo mudou repen- tinamente de uma étima condicao do sistema esto- matognatico para uma condicao desequilibrada, Ao contrario, a pessoa foi sofrendo alteracées proares- sivas, as quais provocaram diversas compensacoes funcionais que poderao dificultar a adaptacdo de proteses dentérias. © prefuizo das fungées orais dos desdentados totais pode estar associado a perda dos dentes na- turais, ao envelhecimento, as condigdes de saide Geral, como patologias que afetam o controle neu- romuscular (Turano, Turano, 1988), a sensibilidade oral, a diminuico do fluxo salivar, potencializada pelo uso de medicamentos (Brunetti et at., 1998; Parajara, Guzzo, 2000). Considerando tais aspectos, 0 diagndstico mio- funcional oral devera ser realizado antes e apos a colocac3o das préteses, analisando também, quando existem alteracdes, se estas so desordens com- pensatérias 4s perdas dentarias ou decorrentes das novas préteses. Também, desordens miofuncionais orais pregressas, isto é, aquelas que 0 individuo apresentava em fases anteriores de sua vida, podem se perpetuar apés a perda dos dentes e até mesmo se agravarem (Felicio, 1994). a) Caracteristicas dos individuos desdentados totais sem préteses Ao perder todos os dentes, a pessoa perde a di- mensao vertical de oclusdo (DVO), que corresponde a distancia entre a base do nariz e a base do mento quando os dentes esto ocluidos (Tamaki, 1983), comprometendo a estética facial. Além disso, embo- 120 desdentado total nao perca a dimenso vertical de repouso (DVR), esta estard comprometida, pois depende da coordenacao dos miisculos elevadores e abaixadores da mandibula, costais e cervicais (Mehta, Joglekar, 1969), que sofrem modificages quando os dentes estao ausentes. tnsis Oras Adapeag So do Prose Tobie Aspecto Facial Devido a perda de suporte dentario, ocorre a redugao do terco inferior da face, a mandibula esta- rd protruida e o sulco nasolabial acentuado (Menta, Joglekar, 1969). 0 individuo desdentado total apre- senta as bochechas arqueadas e-comissuras labials, deprimidas, isto é abaixo da rima bucal. Os labios apresentam-se finos, estirados ou parecem protru- idos. Essas caracteristicas podem se tornar mais evidentes devido 20 comprometimento das fungdes, estomatognaticas e, quando for uma pessoa em idade avangada, da propria flacidez presente em idosos. Repouso e Degiuticao Um componente do sistema estomatognatico ‘que modifica a sua postura normal para compensar a DVO perdida é a lingua. Esta interpde-se aos rebordos alveolares para estabilizar a mandibula (Silverman, 1984) e favorecer a degluticao, isto é, para que os misculos supra-hidideos elevem e anteriorizem 0 sso hidide e, por sua vez, ocorra a movimentacéo da laringe (Felicio, 1999). A lingua, apés um periodo de tempo nesta condicgo, torna-se alargada, podendo dificultar a adaptagao das proteses. Durante a degluticao, os lébios tornam-se estirados, porque thes falta estrutura de suporte, isto 6, os dentes € 0 osso alveolar e a musculatura cranio-cervical também passa a atuar compensando a DVO perdida. Além disso, as insergdes musculares podem ‘se mostrar modificadas em virtude do processo de reabsorcao alveolar. Deste modo, a inserco supe- ior do misculo mentalis parece aproximar a face superior da parte basal da mandibula, ja que existe pouco oso alveolar. A contrac permanente em, que esto os misculos do mento e labio inferior para manter a boca cerrada, determina a maior saliéncia do mento (Aldrovandi, 1986). Ingestao de alimentos Na ingestao de alimentos, 0 sujeito desdenta- do total é obrigado a amassa-los com a lingua e os movimentos mandibulares tornam-se irregulares. Nao havendo condicées de trituracao, ele opta por alimentos macios, muitas vezes engolindo pedagos maiores que o natural. Relacdes ene Condlicoes Siotuncionas Ora « Adaptag an de Proteses Tota A inabilidade para mastigar poder provocar problemas digestivos e déficit nutricionais, além da diminuigo na atividade dos musculos mastigats- rios, que favorecerd a flacidez. Mojon et at. (1999) verificaram que, em pessoas idosas, as alteragdes das condigdes orais como, auséncia dos dentes e proteses com bases defeituosas, foram associadas com deficiéncia nutricional. Ao estudar a alimentacao de idosos, Matsuda (2001), além das condigdes dentarias desfavoraveis, constatou que houve correlacao positiva entre a mobilidade insatisfatéria da lingua e os movimentos compensatérios na degluticao, acumulo de residuos na cavidade oral e tosse durante as refeicies Isso nos indica que é de fundamental importan- cia considerar as condigdes musculares, bem como as condicées das préteses, quando instaladas. b) Relacées entre as proteses totais, condicées orais e desordens miofuncionais Ao submeter-se a um tratamento protético, 0 sujeito pode estar repondo pela primeira vez os den- tes perdidos ou estar substituindo prétese antigas Por novas. Em ambas as situacées, poderao surair problemas de adaptacdo, ocasionando ferimentos, fala alterada e dificuldade para mastigar. Para a maioria dos pacientes esse quadro de desconforto acontecera nos primeiros dias, seguin- do-se uma acomodacdo. Porém, hd casos em que os sujeitos deixam de usar as préteses pelas dificulda- des e dores que estas Ihes causam, enquanto outros dizem que se acostumaram, 0 que nao significa que tenha ocorrido uma adaptacao fisiolgica. De acordo com Molina (1989), algumas adaptacées podem ser de natureza patoligica, porque envolvem um padrao muscular adaptado ndo-funcional.. A dificuldade de adaptacao fisiologica pode ser provocada por fatores morfoldgicos, funcionais ou relacionados as caracteristicas das préteses. Apresentaremos estes fatores a seguir. Devemos nos lembrar que podem ocorrer interaces destes, agravando 0 problema, Condigées orais Os principais aspectos orais que afetam a adaptacao da prétese superior S80: 0 palato ogival, que nao oferece estabilidade como uma estrutura em forma de abéboda; a mucosa flacida sobre 0 rebordo alveolar € 0 reflexo de vimito que se de~ sencadeia em regides orais mais anteriores que 0 normal (Turano, Turano, 1988). Contudo, geralmente a adaptacao da protese inferior € mais complicada, porque esta se desloca com muita facilidade, 0 que pode ser decorrente da tensao do musculo mentalis (Taligren, 1961); do volume, tensao e mobilidade da lingua (Turano, Turano, 1988); do tamanho do rebordo alveolar € do frénulo da lingua. A lingua, com envelhecimento, sofre uma reduéo da massa muscular, aumento do tecido conectivo e depésitos de gordura (Campbell-Taylor, 1997; Groher, 1999) Além disso, quando um sujeito fica por um periodo sem dentes naturais ou artificiais, a lingua interp6e-se aos rebordos alveolares, para estabilizar 2 mandibula na deglutigao e controlar o fluxo de ar na fala (Felicio, 1996). Apos a instalacao das pro- teses, ela tende a retrair-se (Cunha et at., 1999) € se 0 seu volume for compativel com 0 espaco oral disponivel, ocorrera a adaptacao. Mas, se a lingua estiver volumosa e alargada, devido a um longo periodo sem proteses, ou se 0 sujeito apresentava uma desordem miofuncional pregressa, ao retrair- se, ela invadira a orofaringe. Como esta posicao é incompativel com a respiracao, a lingua realizara esforcos para deslocar as préteses, 2 fim de recu- perar 0 espaco que possuia na cavidade oral. Sea lingua deslocar a prétese na deglutico ou na fala, poderd ocorrer uma oposicao da musculatura peribucal para conté-la, levando a lesées ¢ maior reabsorcdo éssea (Sheppard, Sheppard, 1977). A lingua volumosa ¢ alargada representaré um problema pare a adaptacao das proteses no repouso € nas diversas fungGes. Isto porque a for- ma e curvatura da lingua sao pré-requisitos para 0 conhecimento de sua posigao nas varias atividades motoras (Grover, Craske, 1992) € a reabilitacao protética nao leva @ mudanca morfoldgica e motora imediata. Sendo assim, exercicios especificos serao necessarios para adequar a sua forma e funcao (Cunha et at., 1999; Cunha, Zuccolotto, 1999). Relacdesentte Condi oes Mio Oras. Adaptaga de PF Caracteristicas das préteses A adeptacao da protese superior poderd ser Prejudicada por condicdes impréprias, como incli- aco e tamanho dos dentes e espessura da base palatina (Turano, Turano, 1988). No que se refered influéncia da propria préte- se inferior, a espessura da base pode desencadear a tenséo na musculatura perioral (Strain, 1969), dificultando a adaptacdo. Assim, a tens8o na musculature perioral, apés a instalagdo das préteses, pode ser decorrente de alteracéo na prépria atividade da musculatura orofacial, mas também do estiramento dos tecidos causado pelas préteses, que gera uma reagdo de contracdo (Cunha et at., 1999). ADVO insuficiente ou perda desta é prejudicial para 0 desempenho das funcées estomatognaticas, mas ¢ preciso destacar que se as préteses estiverem com DVO excessiva, ocorrera ume distorgao da face, alterades na musculatura e nas funcdes (Turano, Turano, 1988), devido a invasao do espaco funcional livre, dificultando a degluticao, a retencao de saliva, 0 selamento labial e a mastigagao. Poderdo ocorrer engasgos, fadiga, dor e desordem temporomandi- bular (Mehta, Joglekar, 1969). Degluticéo A necessidade de estabilizar as proteses faz com que a degluticdo, seja mais lenta. Se as prote- ses estiverem com DVO insuficiente ou houver uma desordem miofuncional, a lingua ficard interposta a0s arcos artificiais (Laird, 1978; Mehta, Joglekar, 1969; Turano, Turano, 1988; Cunha et at., 1999; Cunha, Zuccolotto, 1999) e ocorrerdo movimentos associados de labios para a contengao das proteses © das bochechas, para aumentar a eficiéncia na funcao. Mastigacso A perda natural dos dentes leva & perda sen- sorial do periodonto e mucosa, e com a colocagao dos dentes artificiais, a mastigacao seré diferente, ou seja, haverd contatos oclusais iguais, tanto no lado de trabalho como no lado de balanceio, a fim de que a prétese se mantenha no lugar (Turano, Turano, 1988). Os movimentos serdo incoordenados tes Totats a forca muscular para a trituracdo reduzida. Temos observado, que apis a instalagdo das proteses, hd uma prevaléncia da mastigagao unila- teral, supostamente porque se mantém um modo adquirido anteriormente (Cunha et af., 1999). Isto provocara movimentos de bascula, deslocamento da protese interior, entrada de alimentos por baixo da prétese e lesdes na mucosa. Segundo Simées (1985), a estabilidade e a eficiéncia da dentadura artificial seré controlada pelo mecanismo sensorial do individuo, cujo pacrao mastigatorio sera entao, diferente daqueles que possuem dentes naturais, principalmente no que se refere a forga mastigatéria , que sera menor. ‘Além disso, morder alimentos torna-se muito dificil para 0 usudrio de protese, devido a reducdo daatividade muscular, a tendéncia de deslocamento das proteses porque as faces incisais dos dentes artificiais no possuem a mesma performance de corte que os dentes naturais. A baixa eficiéncia mastigatoria tem sido veri- ficada em usuarios de prétese total (Kurita et at., 2001). Além das diferengas entre dentes naturais € protese total, a menor eficiéncia mastigatoria pode ser conseqiiéncia da baixa atividade muscular apés um longo periodo consumindo alimentos moles, de- vido 8 auséncia de dentes ou as condicées oclusais destavoraveis. Mateos (1999) relatou que os idosos aban- donam progressivamente 0 consumo de alimentos como, carne, legumes, verduras ¢ frutas. Esses vao sendo substituidos por uma diete pobre em vitaminas, ferro e sais minerais, composta, em geral, por leite, minguau e sopa que nao exigem a mastigagao. Contribuindo assim, para atrofia dos musculos da mandibula, que cada vez se exercitam menos, criando um circulo vicioso que dificulta @ boa mastigacao. A formacao do bolo alimentar relaciona-se com © fluxo salivar, 0 qual € induzido pelos alimentos ingeridos e por sua textura, a0 mesmo tempo que todo sistema digestivo prepara-se para receber © alimento. A xerostomia pode ser outro fator com- prometendo a habilidade mestigatéria. Os pacientes com prétese total percem em parte as sensacées orais e a eficiéncia mastigatoria Rela fe Condos Mion Addaptacio de Proteses Tota & comprometiéa (Brunetti et at., 1998). © ténus alterado das bochechas tambem Pode atetar a mastigagao e a adaptacdo, porque a musculatura ndo se opde adequadamente as forcas laterais, permitindo deslocamento das préteses e ferimentos. Fala A perda dos dentes pode produzir um efeito marcante no padrao de fala, pois os dentes sao necessarios para a obstrucao da passagem do ar na producao de certos sons. Além disso, perde-se a propriocepcao dos dentes (Ghi, McGivney, 1979), 0 ligamento periodontal e um rico suprimento de ter: minagdes nervosas (Sutcher et at., 1973) e mesmo apés a reconstrucao protética muitos problemas Poderdo surgir. Apesar da importancia da comunica- oral, a fala de pacientes com préteses dentarias, tém recebido pouca atencio de pesquisadores nos, anos mais recentes. Tanaka (1973) escreveu que 2 fonética nao 6 considerada na construcao das préteses até que © paciente se queixe de inabilidade para produzir certos sons com a prétese. A falta de informacoes aplicaveis clinicamente sobre a influéncia de pré- teses dentarias em outras fungdes orais, além da mastigac3o, tem sido apontada (Chierici et at., 1974). Chierici, Lawson (1973) explicaram que o pa- ciente usuaimente mantém uma fala aceitavel se sua prétese satisfaz os requisitos funcionais e estéticos, mas que & comum esses pacientes se quelxarem de sua fala, e isso exige um diagnéstico correto antes de qualquer intervencio Torna-se importante destacar que a adaptaclo do paciente as préteses inclui melhoria da mastiga- 80, degluticao, repouso e clareza da fala. Embora, Varios estudos mostrem que a adaptacao da fala pode ocorrer em um més, varios pacientes sentem dificuldade por mais de seis meses (Chierici, Law- son, 1973). AS reacdes ao problema sao variadas, alguns nao notam sua prépria dificuldade que para 05 ouvintes so evidentes. Outros, queixam-se mui- to, embora os ouvintes percebam como alteracées minimas da fala (Palmer, 1979). Um dos aspectos que contribui para a satisfa- 30 dos pacientes é 0 fato da prétese nao dificultar a fala. Esses pacientes tem demonstrado preferéncia por préteses que possibilitam maior estabilidade conforto durante a fala do que melhor eficiéncia mastigatéria (Fahmy, Kharat, 1990) Os problemes na fela podem ocorrer tanto em pacientes que colocam proteses pela primeira vez, como naqueles que substituem as antigas por novas. Constatamos, em uma pesquisa, que sujei- tos habituados ao uso de préteses sentiram maior dificuldade para falar quando as retiraram, do que ao colocarem novas proteses. Enquanto, os sujeitos habituados a falar sem pelo menos uma das pro- teses, a0 colocarem as préteses superior ¢ inferior, referiram muita dificuldade, nao apenas na primeira semana (Felicio, 1998). Assim, a adaptacdo se dé mais rapidamente quando ja houve um treino prévio de uso de protéses (Chierici, Lawson, 1973). Contudo, os problemas poderao ocorrer em ambos os casos. Certamente, uma prdtese nova que na sua confeccao nao foram levadas em consideracao as regras para estabilidade € conforto ocasionaré muitos problemas aos usué- ‘ios (Felicio, 1998), porque a perda dos receptores sensorios relacionados aos dentes e a distorcao de outros (ligamentos, tendées, articulagdes temporo- mandibulares ¢ misculos) por uma reposigio ndo fisioldgica, isto é, proteses mal-adaptadas, combi- nam-se para enviar uma informacao proprioceptiva confusa ao sistema nervoso central, que para produ- zir 6timos comandos motores deve receber também 6tima informagao senséria (Sutcher et ef., 1973). Além disso, as alteragées musculares da lingua, labios, bochechas, j mencionadas anteriormente, podem contribuir para a dificuldade na articulacso da fala. A adaptacao em relacao a fala sofre influen- cia também de fatores tais como, a necessidade de falar no trabalho e a aceitacao psicolégica das proteses. As possivels medidas para se resolver as alte- rages na fala em usuarios de prétese devem levar em conta avaliacées prévias e posteriores & sua colocagao, analisando se ha realmente uma relacso de causa e efelto, sto é, se as préteses prejudicam a qualidade da comunicacao oral, ou se existe algum Relagoies entre Condicoes Miefuncionais Oras & Adaptago de outro probleme associado. Contudo, como a fala de uma pessoa desdentada (sem proteses) estar fre- quentemente comprometida em termos de clareza, além de ja ter ocorrido uma adaptacao @ condicao. Assim, alguns cuidados devem ser tomados nessas avaliacées, considerando-se também a possibilidade de patologias neurolégicas. A adaptacdo também pode ser dificultada, Porque algumas pessoas por vergonha ou por medo de que as proteses caiam, passam a limitar 0S movimentos labiais (Silverman, 1984) € man- dibulares, mesmo que ja tenham usado préteses anteriormente. Postura Corporal Outro aspecto que merece atencdo é a postura corporal, pois 0 paciente mantendo o pescoco numa posicao flexionada causar protrusdo da mandibu- la, criando contatos anteriores prematuros, que se revelam durante a fala pelos choques entre as préteses (clicks), ocorrendo, além disso, irritagéo da mucosa oral, alteracdes respiratorias e tensées na regiéo cervical, que por sua vez prejudicam a qualidade da voz. Farah, Tanaka (1997) estudaram a postura @ a mobilidade da coluna cervical e do tronco em pacientes portadores de alteracées miofuncionais, mostrando a interdependéncia das estruturas en- volvidas. Resumindo, podemos dizer que os problemas de adaptacao podem estar relacionados as proprias caracteristicas das prdteses totais ou as desordens miofuncionais, que atuam como forcas que desequi libram as préteses, acelerando a reabsorcao alve- olar, provocando lesdes na mucosa e até mesmo o abandono das préteses. Contribuem ainda, fatores emocionais e posturais. TERAPIA MIOFUNCIONAL ORAL A terapia miofuncional tem sido sugerida para solucionar os problemas de adaptagao de préteses decorrentes das desordens funcionais. Plainfield (1977), Silverman (1984) € Cunha, Zuccolotto (1999) indicaram a avaliagdo miofuncional dos pacientes com queixas de dor e desiocemento da + Totais oral para favorecer a adaptacao a protese. Os nossos objetivos na terapia miofuncional com usuarios de protese total sao: desenvoiver padrées funcionais compativeis com 0 uso de prote- ses, acelerar a adaptacao funcional e evitar que os sujeitos deixem de usar as proteses por dificuldade de adaptagao ou que desenvoivam mecanismos compensatérios. Assim, apés a avaliagdo e 2 compreensao dos fatores que esto dificultando a adaptacio, nos casos em que as desordens nao forem apenas de- correntes de préteses incompativeis comas funcées,, © Fonoaudidlogo atuaré para equilibra-las. ‘So empregadas manobras como compressas @ massagens, para estimular a musculatura facial e elevadora da mandibula, bem como para eliminar pontos de tensio. Visando preparar a musculatura para as fun- ses, 330 empregados exercicios mioterépicos, especificos para reduzir 0 volume da lingua, dis- ténder a musculatura labial e aumentar a atividade dos musculos elevadores da mandibula, bem como para melhorar a mobilidade e a coordenacao entre 0 varios componentes. Posteriormente, sao reall zados treinos para cada uma das funcdes, de modo compativel com a condigo de protetizado. Nesse proceso, é essencial que o paciente te- nha consciéncia de suas necessidades e se empenhe para alcancar as mudangas e atingir 0 equilibrio do sistema estomatognatico. CONSIDERAGOES FINAIS A saiide oral tem conseqiiéncias para a saiide Geral e qualidade de vida. Pessoas desdentadas que nao fazem uso de proteses totais, ou cujas préteses nao estdo adaptadas, apresentam prejuizos nas funges orais, dentre elas, a mastigacdo, a falae a degluticao, bem como na estética facial. Para recu- perd-las a reabilitacao protética é fundamental. Além disso, 0 exame clinico desses sujeitos deve compreender a avaliagéo miofuncional oral, para que se possa identificar as alteragdes muscu- lares que comprometem a adaptacao funcional. Em muitos casos, a terapia miofuncional pode facilitar a adaptacdo cas proteses, restaurando a possibi- modo equilibrado e compativel com a presenca das priteses na cavidade oral. Também, 0 que significa para cada pessoa perder todos os dentes e colocar préteses totais deve ser considerado pelos profissionais que atuam na reabilitacdo oral. £ importante salientar, que devemos tratar © paciente procurando considerar os aspectos biolégicos, psicoléaicos, sociais e econdmicos, porque 0 tratamento do idoso difere em muitos pontos daquele utilizado para os mais jovens. Pa- cieéncia, didlogo e compreensao sao 0 que multos desses pacientes esperam ao serem atendidos por profissionais da satide e como resultado final do tratamento desejam poder realizar as funcdes orais sem dor ou maiores danos, recuperando com isso, o prazer de se alimentar, de se comunicar € de conviver socialmente. Felcio CM de, Cunha CC. Relation between cral myofurctional conditions and adaptation of complate dentures. PCL 2005: 7:36: 196-202 When natural teeth are lost, functions such as masticetion, swallow and speech are frequently ‘compromised, thereby possibly demanding negative consequences not only to other organic functions, but also to individuals’ social interaction. Aiming to improve the life quality of elderly population, the authors describe, in the reported study, the possible oral myofunctional disorders observed in completely edentulous subjects, a5 well as the implications of such disorders to the adapts ion of complete dentures. The oral myofunctional therapy is indicated to favour the balance of the structures that constitute stomatognathic system. KEYWORDS: Myofunctional; Swallow; Mastication; Speech; Complete denture. REFERENCIAS Aldrovandi C. Misculos que influem na estabiidade da deniadura antficialinteror. IN Deniaduras completas. 1a ed. S20 Paulo: Folha Odontologica; 1986. p35-45, Brunetti RF, Montonogro FLB, Manotta CE. FungSes do sistema ‘mastigatério: sua importancia no processo digestivo em geriatria Atual Geriatr. 1998: 3(16):-9. Campbell-Taylor |. Drogas. disfagias @ nutrigao. Pré-Fono: Rev Atual Cient 1997; 9(1):41-58. Chierici G, Lawson L. Clinical speech considerations in presthodontics: perspectives of the prosthedontist and speech pathologist. J Prosthet Dent 1973: 29(1)29.0 Chieric: G, Parker ML. Hemphill CD. Influence of immediate dentures on oral motor skill and speech. J Prosthet Dent 1974; 3969):21-7, Cunha CC, Felicio CM, Batagion C. 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