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medianeira
Editoração:
Selo Quinze & Trinta
Capa e diagramação:
Marcelo S. Madeira
Foto da capa:
Menk
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fabioaristimunho@yahoo.com
2005
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
1.
o cacto 13
paráfrase de vasko popa 14
elegia ao helicóptero 15
os andaimes 16
antes: uma perspectiva 18
tríptico 19
síndrome de estocolmo 22
condição humana 23
exercício fragmentado das minhas contradições 24
a terra, reciclada 27
2.
3.
(pequenas inconfidências)
lombriga (abrigada 61
voyeur 62
nosso amor sem intestino 63
eclipse 64
meridionais 65
autoclismo 66
agra(N)decimentos 69
p leminski
13
Amornava,
marcada de batom
vermelho, a bituca
do cigarro de há pouco.
O fósforo, largado,
recém descabeçado,
amargava um beijo
único.
E o cinzeiro (crematório
circunscrito à palma) nos
remetia às cinzas
do quarto apagado.
14
revoluções – pessoais –
que se acabam no ponto
de partida. A inércia
vertical é compensada
eixo é um exercício
de solidão: misantropo
de si, como abdicar da
própria companhia?
15
16
17
18
1. O pão
ao chão.
Faca untada
na mão,
sem o pão,
inútil.
Mão, faca:
comunhão
inconsútil,
estática.
Pão:
o chão
deglute-o,
que nada
é em vão.
19
20
21
também um poema
vai de refém a cúmplice:
acabar pingente
daquilo de que se queria crítico.
22
Fo-
me
de
co-
mer
a
ter-
ra.
(Há
quem
ten-
ha
se-
de.)
23
(a)
24
25
se retomo os rascunhos
quando feito um tempo que guardados,
quase sempre eles têm algo
que me busca: não leio
– sou lido
pelo meu outro daquele tempo,
visto de dentro para fora
por mim mesmo de antes,
26
27
Barangueiro
(até) de idéias:
não fale perto
senão eu cato.
31
Motoboys em revoada
que a vida não espera.
32
dois pra cá
dois
33
As horas
não passam.
Eu: sim.
34
35
a noite – virá-la
o álcool – virá-lo
a vida – virar-se
você – revirar-te
36
37
38
Emílio no espelho:
– Ato idiota.
Emílio no espelho.
39
40
Baudelaire
Ela passa
Balzac
Ela passou
Botero
Ela não passa
41
gastrite
rinite
sinusite
: seu apetite.
42
(pequenas inconfidências)
45
47
49
negativo de paulo m.
51
53
55
57
l o m b r i g a
nossa gula
recíproca minha
sede por bocas
61
62
63
Márcia
sob o sol.
Servida. Temperada. Um susto
de ondas na ereção dos pêlos.
Amaria
não fosse a Márcia.
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Mas – como bom sulista – pouco sei do seu norte, além dos seios inquietos, quase
nada mineiros.
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mesmo estômago
a decompor
outra vírgula:
estar magro
e ter a gula
de um gor-
do: supor-
-se, antes do alto
mar, já um náufrago.
um fedor
tal que o poeta
não defeca
(reciclando-se,
é transfor-
mado em
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ser gari da
mão ferida
de compor.
gari não
sente dor
– sente a mão.
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