Você está na página 1de 7

Fisiologia do Aparelho Respiratório

Johnathan de Sousa Parreira


Aluno de Medicina da Universidade Estadual de Londrina - Quarto período

Ventilação Pulmonar
1. Introdução:
Objetivos da respiração e seus quatro eventos funcionais principais:
Ventilação Pulmonar; Difusão de gases do sangue para os alvéolos; Transporte
dos gases e regulação da ventilação.
2. Mecânica da Ventilação Pulmonar:
a)Os músculos da respiração:
O diafragma e sua influência no encurtamento e alongamento da caixa
torácica.
Músculos envolvidos no aumento e na diminuição do diâmetro antero-posterior da
caixa torácica:
 Músculos inspiratórios: Intercostais externos; Esternocleidomastóideo;
Escalenos.
 Músculos expiratórios: Reto-abdominal; Intercostais internos.
b)Pressões que causam a movimentação do ar para dentro dos pulmões:
b.1) Pressão Pleural (do líquido entre as pleuras parietal e visceral): Pressão
negativa que aumenta durante a inspiração.De –5cmH2O para –7,5cmH2O.
b.2) Pressão Alveolar (dentro dos alvéolos): Qdo menor que a atmosférica,
-1cmH2O, o ar entra nos pulmões com velocidade de, aproximadamente, 500mL/2
a 3s.Qdo maior que a atmosférica, ocorre o inverso na mesma velocidade.
b.3)Pressão Transpulmonar ou de Retração Elástica (medida das forças elásticas
pulmonares): PP-PA, tendendo a produzir o colapso dos pulmões.
b.4)Compliância ou Complacência Pulmonar: Grau de expansão dos
pulmões/Unidade de aumento na pressão transpulmonar, normalmente,
200mL/cmH2O.Determinada pelas forças elásticas do tec.pulmonar(Fibras
elásticas e colágenas do parênquima pulmonar) e pela tensão superficial do
liquido que reveste a superfície interna das paredes dos alvéolos(2/3 do total de
forças).
b.5)Surfactante, Tensão superficial e Colapso dos Pulmões: Surfactante é
produzido pelos pneumócitos tipo II e é constituído por dipalmitidilfosfatidilcolina,
apoproteínas e íons cálcio, sendo responsável por diminuir a tensão superficial no
interior dos alvéolos impedindo seu colapso.Instabilidade alveolar é o nome que se
dá à tendência dos alvéolos de menor diâmetro de colabarem promovendo a
distensão dos alvéolos maiores, esse fenômeno inexiste graças à presença do
fenômeno da interdependência, dos septos fibrosos que circundam as unidades
funcionais e do surfactante.
c)Efeito da Caixa Torácica sobre a Expansibilidade Pulmonar
c.1)Compliância Toracopulmonar:
Grau de expansão do conjunto, pulmão e caixa torácica, por unidade de aumento
de pressão transpulmonar, correspondendo a compliância total do sistema
respiratório.Normalmente, equivale à metade da compliância do pulmão, ou seja,
110mL/cmH2O.
c.2)Trabalho Ventilatório:
Trabalho realizado principalmente durante a inspiração (Ventilação basal), dividido
em 3 parcelas.Na respiração calma ou em repouso, o trabalho expiratório é
praticamente nulo.
Trabalho ligado a compliância ou elástico: Vence forças elásticas dos pulmões e
da caixa torácica.
Trabalho ligado à resistência dos tecidos: Vence a viscosidade das estruturas dos
pulmões e da C.T.
Trabalho ligado à resistência de vias aéreas: Vence resistência das vias aéreas
durante a movimentação do ar.
Há ainda a existência de um trabalho adicional para expandir e retrair a C.T. que
corresponde à metade do trabalho ventilatório.
A energia despendida na ventilação varia de 3 a 5% da energia total despendida
pelo corpo.Podendo ser aumentada durante a prática de exercícios.
3)Volumes e Capacidades Pulmonares
a) “Volumes” Pulmonares:
Volume Corrente (VT): Volume de ar inspirado e expirado em cada ciclo
ventilatório. 500 mL.
Volume de Reserva Inspiratória (VRI): Volume de ar que ainda pode ser inspirado
após inspiração do volume corrente. 3000mL.
Volume de Reserva expiratório (VRE): Volume de ar que ainda pode ser exalado
ao final da VT. 1100mL.
Volume Residual (VR): Volume que permanece nos pulmões mesmo ao fim da
mais vigorosa expiração. 1200mL.
b) “Capacidades Pulmonares”:
Capacidade Inspiratória (CI): Qtda de de ar que uma pessoa pode inspirar. 3500
mL.
CI=CRI+CT
Capacidade Residual Funcional (CRF): Permanece nos pulmões ao final da
expiração normal. 2300 mL. CRF=VR+VRE
Capacidade Vital (CV): Maior qtde de ar que pode ser expelido de pulmões
enchidos previamente ao máximo. 4600 mL. CV=CI+VRE
Capacidade Pulmonar Total (CPT): Maior volume que os pulmões podem
alcançar.
CPT=CV+VR
4)Funções das Vias Aéreas
a)Traquéia, Brônquios e Bronquíolos
b)Componente muscular da parede de brônquios e bronquíolos e seu controle
nervoso
Brônquios e bronquíolos possuem musculatura lisa submetida a controle pelo
sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático.O controle por fibras
simpáticas é pequeno devido ao pequeno número destas principalmente nas
porções centrais dos pulmões.O controle simpático leva ao relaxamento da
musculatura lisa mediado pela norepinefrina.O controle parassimpático é
predominante e suas fibras são oriundas do nervo Vago.O controle por estas é
mediado pela acetilcolina que causa contração da musculatura lisa.Drogas como a
atropina, dentre outras,bloqueia os efeitos da acetilcolina.
c)Fatores locais que causam constrição bronquiolar
Histamina, substância de reação lenta da anafilaxia, poeira, SO2, etc.
d)Camada de muco das vias aéreas e a ação dos cílios para limpar as vias
aéreas.

Circulação Pulmonar, Edema Pulmonar e Líquido Pleural


1)Pressões na Circulação Pulmonar
Pressões no Ventrículo Direito: Pressão sistólica=25mmHg; Pressão diastólica=0
a 1 mmHg.
Pressões na Artéria Pulmonar: P.sistólica=25 mmHg;P.diastólica=8
mmHg;P.média=15 mmHg.
Pressão Capilar Pulmonar: Aproximadamente 7 mmHg.
Pressões no átrio esquerdo e nas veias pulmonares: 2 mmHg, podendo variar de
1 a 5 mmHg.
2)Volume de Sangue nos Pulmões
Aproximadamente 450 mL,o que corresponde a 9% do total do sistema
circulatório.Só nos capilares estão presentes 70 mL.Esse volume presente nos
pulmões pode variar diante de um quadro patológico, sendo que o sangue pode,
inclusive, ser desviado em parte para a circulação sistêmica ,em casos de
hemorragias nesta,ou vice-versa.Por exemplo, um quadro de insuficiência no lado
esquerdo do coração ou aumento da resistência exercida pela válvula mitral pode
levar ao represamento de sangue na circulação pulmonar.Concluindo,
normalmente, o volume de sangue pulmonar é igual ao débito cardíaco.Fatores
que alterem o débito cardíaco também alterarão o fluxo sanguíneo pulmonar.
3)Controle Automático da Distribuição do Fluxo Sanguíneo Pulmonar
Controle exercido pela concentração de oxigênio no alvéolo.A queda na
concentração deste(PO2<70mmHg ou menor que 70% do normal) causa
vasoconstrição de vasos sanguíneos adjacentes,levando a um aumento da
resistência vascular.O oposto ocorre nos vasos sistêmicos.Função importante
disso, dirigir sangue para regiões onde ele será mais útil.
a)Escassez de controle nervoso autonômico sobre o fluxo sanguíneo nos pulmões
As respostas a estímulos simpáticos ou parassimpáticos são muito pequenas.
4)Influência da Pressão Hidrostática sobre o Fluxo de Sangue em Diferentes
Partes dos Pulmões
Existência de três zonas:
Zona 1:Ausência de fluxo sanguíneo em todas as fases do ciclo cardíaco.A
pressão capilar é menor que a pressão alveolar.Geralmente ocorre em situações
anormais.
Zona 2:Fluxo é intermitente.Apenas durante picos de pressão arterial
pulmonar.Neste caso, a pressão alveolar é menor que a p.sistólica e maior que a
p.diastólica.Verificada nos ápices pulmonares(10 cm acima do coração).
Zona 3:Fluxo é contínuo durante toda as fases do ciclo cardíaco.Pressão capilar é
maior que a pressão alveolar.Corresponde a todas as áreas abaixo dos ápices.
OBS:Durante exercício físico vigoroso,há aumento do número de capilares abertos
e distensão dos mesmos pelo aumento da velocidade do fluxo sanguíneo(aumento
do débito cardíaco),devido a isso,as pressões vasculares pulmonares aumentam
muito e todas as regiões dos pulmões passam a se comportarem como as de
zona 3.
a)Influência da insuficiência cardíaca esquerda na circulação pulmonar
Se o lado esquerdo cardíaco falha, há represamento de sangue no átrio esquerdo
levando a um aumento de pressão em seu interior, se este aumento for superior a
7 ou 8 mmHg,desenvolve-se um quadro de Hipertensão Pulmonar.Pressão atrial
esquerda superior a 30 mmHg pode causar Edema Pulmonar.
5)Dinâmica dos capilares pulmonares
A pressão no capilar geralmente é 7 mmHg,o certo é que ela está sempre entre a
pressão média do átrio esquerdo(2 mmHg) e a pressão média na artéria
pulmonar(15 mmHg).Qto ao tempo de permanecia do sangue no interior dos
capilares, sabe-se que em menos de 1 segundo ele o atravessa,é oxigenado e
libera o excesso de CO2.
a)Troca de líquidos nos capilares pulmonares e dinâmica do liquido intersticial
pulmonar
Forças que causam movimento de liquido dos capilares para o interstício:
Pressão capilar(7)+Pressão osmótica coloidal do interstício(14)+Pressão negativa
do liquido intersticial(8)=Pressão total de repulsão(29)
Forças que causam absorção de líquidos pelos capilares:
Pressão osmótica coloidal do plasma(28)=Pressão total de absorção(-28)
Balanço final ou pressão global de filtração:
PTR+PTA=PGF ou 29+(-28)=+1 mmHg
Resultado:
Fluxo contínuo de liquido dos capilares para o interstício, esse liquido que
extravasa é recolhido pelos linfáticos.
Importância da pressão intersticial negativa: Manter os alvéolos sempre
secos(porem úmidos) ao absorver o liquido acumulado dentro dos alvéolos.O
destino desse líquido absorvido será os Linfáticos.
b)Edema Pulmonar
Fenômeno provocado pela positividade da pressão no interstício, pela falha na
drenagem linfática e pela diminuição da osmose para dentro dos capilares
pulmonares.Isto levará ao acúmulo de liquido tanto no interstício como no interior
do alvéolo.Causas mais comuns: insuficiência cardíaca esquerda, doença valvular
mitral e lesão da membrana dos capilares pulmonares (por infecção ou
subst.nocivas).
5)Derrame Pleural
Pressão negativa no espaço pleural mantém os pulmões expandidos (-7 mmHg).O
acúmulo de liquido nesse espaço pode ser causado pelo seguinte: Bloqueio da
drenagem linfática do espaço; insuficiência cardíaca; Redução brusca da pressão
osmótica coloidal do plasma; infecção ou qualquer causa de inflamação das
superfícies pleurais.

Princípios Físicos das Trocas Gasosas


1)Composição do ar alveolar
O ar é umidificado pelas vias aéreas a medida passa por elas.O ar alveolar é
constantemente renovado pelo ar atmosférico.Normalmente, 1/7 do ar total é
substituído.A substituição é lenta, evitando alterações bruscas nas concentrações
dos gases sanguíneos.O ar expirado corresponde ao ar do espaço morto (ar
atmosférico umidificado) e ao ar alveolar.
2)Difusão dos Gases através da Membrana Respiratória
A unidade respiratória em que ocorre as trocas gasosas é formada por:Um
bronquíolo respiratório;Dutos alveolares;Átrios e Alvéolos.Tais estruturas possuem
a conhecida membrana respiratória ou pulmonar onde se dá a difusão dos
gases.A espessura desta assim como sua superfície de contato, além do
coeficiente de difusão do gás e da diferença de pressões entre os dois lados da
membrana são fatores que influem na velocidade de difusão.
Fatores que alteram a espessura: Edema e fibrose pulmonares
Fatores que alteram a área da membrana: Lobectomias e Enfisema, dentre outros
fatores.
Capacidade de difusão do oxigênio: 21 mL/min/mmHg(Diferença média das
pressões de O2=11mmHg),logo,230 mL/min de O2 difunde-se através da
membrana.
Capacidade de difusão do CO2: 400 a 450 mL/min/mmHg.
3)Relação Ventilação Alveolar-Perfusão (V/Q)
Fatores que determinam a PO2 e a PCO2 nos alvéolos.Se V=0 ou Q=0, não há
trocas gasosas.
Qdo V/Q for zero, não há ventilação e o ar alveolar entra em equilíbrio com O2 e
CO2 presente no sangue, logo,PO2=40 mmHg e PCO2=45 mmHg
Qdo V/Q for muito grande, não há perfusão, o ar alveolar equivale ao ar inspirado
umidificado,ou seja,PO2=149 mmHg e PCO2 é praticamente zero.
Para V/Q normal, PO2=104 mmHg e PCO2=40 mmHg.
Shunt Fisiológico: Relação V/Q inferior ao normal.A ventilação não é suficiente
para oxigenar o sangue dos capilares alveolares.Esse sangue não oxigenado
passa a ser chamado “sangue shuntado”.
Espaço Morto Fisiológico: Relação V/Q superior ao normal.Ventilação acima do
normal e fluxo sanguíneo abaixo do normal fazem com que parte da ventilação
seja desperdiçada, passando esta a integrar o espaço morto fisiológico.
OBS: Na DPOC há acentuado shunt fisiológico e aumento do espaço morto
causando uma diminuição na eficácia dos pulmões.

Transporte de Oxigênio e de Gás Carbônico no Sangue e em outros Líquidos


Corporais
1)Transporte de O2 no Sangue
95% é transportado em combinação com a hemoglobina e os 3% restantes
dissolvidos no plasma, A combinação com a Hb é reversível e diretamente
proporcional a PO2.O percentual de saturação da Hb no sangue arterial é de
97%(95mmHg) e no sangue venoso é de 75%(40 mmHg).Normalmente, em 100
mL de sangue há 15g de Hb e cada 1 g comporta 1,34mL de O2, logo, Hb 100%
saturada possui 20 mL de O2/100mL de sangue(20 volumes por cento).5 mL de
O2/100mL de sangue é transportado para os tecidos podendo chegar esse valor a
15 volumes por cento em caso de exercício extenuante.A hemoglobina funciona
como tampão da PO2 nos tecidos ao manter esta sempre constante.Existem
fatores que podem influir na saturação da Hb,ou seja,na dissociação da
oxiemoglobina.Queda do pH, aumento de CO2, aumento da temperatura e
aumento da DPG faz com que a saturação da Hb diminua.
2)Transporte de CO2 no sangue
Em condições normais de repouso temos 4 mL de CO2/100 mL de sangue.Qto ao
transporte, pequena parcela é transportada dissolvida no plasma (0,3 mL/100mL
de sangue).Cerca de 70% é transportado na forma de íons bicarbonato.Os 30%
restantes são carregados pela Hb.

Regulação da Respiração
1)O Centro Respiratório
Porções do SNC envolvidas: BULBO e PONTE.
Três grandes grupos de neurônios estão envolvidos:
a)Grupo respiratório dorsal:
Porção dorsal do bulbo (núcleo do trato solitário e substância reticular) relacionado
principalmente com o controle da inspiração.
b)Grupo respiratório ventral:
Porção ventrolateral do Bulbo (núcleos ambíguo e retroambíguo) relacionado com
o controle tanto da inspiração qto da expiração.
c)Centro Pneumotáxico
Porção superior da Ponte responsável pelo controle da freqüência respiratória e
pelo padrão da respiração.
OBS1:Centro Apnêustico, porção inferior da ponte que controla a profundidade
das inspirações.
OBS2:Reflexo de insuflação de Hering-Breuer,segundo o qual a distensão dos
pulmões ativariam receptores de estiramento emissores de sinais via nervo Vago
para o grupo dorsal de neurônios, desligando o sinal inspiratório.
2)Controle Químico da Respiração
Parâmetros que influem na atividade do centro respiratório:Concentrações de
O2,CO2 e íons H+.Sendo que o CO2 e o H+ estimulam diretamente o centro
respiratório enquanto o O2 não exerce efeito direto, atuando em quimioceptores
periféricos.
a)Controle Químico pelo CO2 e pelo H+:
Tais fatores atuariam sobre neurônios de uma área quimiossensível do centro
respiratório,abaixo da superfície ventral do bulbo.Embora o H+ não ultrapasse a
barreira hematencefálica, sua influência é mais forte que a do CO2.Este por sua
vez atuaria de forma indireta, atravessando com facilidade a barreira
hematencefálica, o CO2 reage com a água produzindo H+ na região
quimiossensível,estimulando esta.Tanto o aumento de CO2 qto o de H+
estimularia o centro respiratório, excitando a respiração.Ajustamentos renais,
como a retenção de íons bicarbonato,e o aumento da ventilação pulmonar fazem
com que a concentração de H+ diminua,diminuindo conseqüentemente seu efeito
estimulante sobre o centro respiratório.
b)O papel do oxigênio no controle da respiração
Fora do SNC existe um sistema de quimioceptores periféricos que detectam
variações nas concentrações de O2, CO2 e H+.Estes estão presentes nos
corpúsculos carotídeos e aórticos e nas artérias torácicas e abdominais.Aumento
nas concentrações de CO2 e de H+ e diminuição na de O2 estimulariam os
quimioceptores e conseqüentemente o centro respiratório, aumentando a
freqüência respiratória.
OBS:Fenômeno da aclimatação,segundo o qual o SNC perde a sensibilidade às
variações de CO2 e H+ em 2 a 3 dias,com isso,a inalação crônica de baixas
concentrações de O2 estimula fortemente a ventilação.

Bibliografia:

Tratado de Fisiologia Médica-Guyton & Hall-Nona edição

Você também pode gostar