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Sousa, Richard Perassi Luiz de; Dr; Universidade Federal de Santa Catarina
perassi@cce.ufsc.br
Resumo
O objetivo deste artigo é defender e justificar a relevância dos fundamentos da linguagem
visual para a composição de infográficos. Consideram-se como elementos básicos de
infográficos: pontos, linhas, planos e manchas, sendo os mesmos elementos que caracterizam
a composição e a comunicação visual desde a pré-história. Esses elementos compõem a
expressividade dos projetos e produtos de Design. No texto, são apresentadas reflexões sobre
Teoria da Forma e Linguagem Visual, com base nas idéias de Lupton e Phillips, Wong,
Dondis e Perassi. Além da apresentação de conceitos, dados históricos e discussões sobre
Infografia, com base no pensamento de Ribeiro, Rossi e outros autores.
Abstract
The objective of this paper is to defend and to justify the relevance of the bases of the visual
language to composition of infographics. It is considered as basic elements of infographic:
points, lines, planes and spots, and they are the same ones that characterize the composition
and visual communication from prehistory. These same elements make up the expressiveness
of designs and Design products. In the text, reflections are presented about Form’s Theory
and Visual Language, based on Lupton and Phillips, Dondis and Perassi. Besides the
presentation of concepts, historical datas and discussions on infographics, based on Ribeiro,
Rossi and others authors.
A própria composição das palavras indica as funções dos objetos que essas designam. Em
português, o termo “grafia” refere-se aos traçados de diagramas, de gráficos e da própria
escrita. O termo “info” remete à informação, sendo ainda comumente associado às
tecnologias digitais.
A informação gráfica é pertinente aos textos escritos, mas é igualmente relacionado às
imagens gráficas que, também, apresentam-se como linguagens atuantes no campo semântico-
cultural. Assim, o termo infográfico é associado ao campo jornalístico e editorial como um
todo, envolvendo ainda a área de Design Gráfico.
Seja nos formatos impressos, eletrônicos ou digitais, a atividade de Jornalismo se utiliza
constantemente da infografia. Por isso, seus veículos compõem um campo privilegiado para o
estudo da infografia, a qual é denominada “infografia jornalística”, cujo foco é a informação
noticiosa, que é relacionada aos eventos da atualidade (WURMAN, 1991).
As áreas de Jornalismo, Infografia e Design Gráfico desenvolvem características
multidisciplinares, relacionando-se entre si e também com outras áreas do conhecimento.
Como produtos da área de Infografia, os infográficos são objetos multidisciplinares,
apresentando-se, algumas vezes, como campos de interdisciplinaridade e, outras vezes, como
campos de transdiciplinaridade.
O primeiro trabalho gráfico que, atualmente, é considerado como a primeira infografia
jornalística, foi publicado em 1702, no primeiro jornal diário da Europa chamado Daily
Courant (SND-E, 2002). Desde o início, portanto, a infografia participou da comunicação
jornalística. Nos anos 1970 e 1980, as camadas mais abastadas ou “cultas” da população
consideraram a infografia como recurso para analfabetos, com a utilização de imagens e
esquemas visuais para socializar a informação. Mais tarde, a partir dos anos 1990, a infografia
predominou na comunicação noticiosa, especialmente, durante a cobertura jornalística da
“Guerra do Golfo”. As informações sobre essa guerra eram escassas e faltavam fotografias
sobre os acontecimentos. Assim, foram necessários recursos informativos e ilustrativos
alternativos, como a infografia, para informar os leitores (RIBEIRO, 2008:90).
A infografia continua cumprindo o papel de explicar uma notícia de modo mais didático e
informativo, complementando os textos escritos na comunicação jornalística, em diversos
meios, sejam impressos, eletrônicos ou digitais. Há uma dinâmica plural e hipertextual na
composição da infografia. Isso aumenta a redundância da mensagem, por meio de recursos
diversificados, ilustrando, reforçando e esclarecendo as mensagens escritas, com imagens e
esquemas gráficos. Pois, muitas vezes, apenas o texto escrito não possibilita o entendimento
eficiente da mensagem. Considerando mais especificamente a mídia impressa, o presidente da
Society for News Design da Espanha (SND-E) afirma que a infografia salvará o jornal
impresso da extinção (ERREA, 2008), sendo que essa idéia é referendada por outros
profissionais. A infografia é um meio que melhora a qualidade comunicativa dos jornais
impressos, contribuindo para o aumento das vendas e permitindo sua concorrência com meios
eletrônico-digitais, como a televisão e a Internet (KALKO, 2008).
Atendendo parte dos objetivos deste texto, fica indicado que a área de Infografia Jornalística
produz infográficos para publicações editoriais divulgadas em diversos meios. A infografia
participa da área de Jornalismo, representando notícias de acordo com pautas e com linhas
editoriais pré-determinadas. Além disso, a infografia jornalística é muito antiga, porque é
encontrada já na origem dos jornais diários. Até hoje, a infografia agrega valor à publicação
jornalística, apesar de ter sido alvo de críticas em alguns momentos de sua história. Contudo,
outra parte dos objetivos deste texto aborda a estrutura expressivo-comunicativa dos
infográficos, sendo estruturada a partir da interação compositora dos elementos gráficos mais
básicos, que são compostos com base nos fundamentos da linguagem visual.
Segundo Wong (2008:42), as linhas são elementos conceituais ou abstratos que, no plano,
caracterizam-se como formas bidimensionais em que a dimensão de comprimento e a
sugestão de movimento predominam sobre outras características. Assim, apesar de se fazer
referência a linhas espessas ou finas, considera-se principalmente o cumprimento e o
movimento da linha. Pois, uma linha é, basicamente, a conexão entre dois pontos ou o trajeto
de um ponto em movimento (LUPTON e PHILLIPS, 2008:16).
As linhas são representadas por formas compridas, cujas funções são demarcar e configurar,
indicando percursos e direções ou representando figuras (fig. 4). Devido à sua funcionalidade,
a linha é considerada um elemento abstrato e um recurso tipicamente gráfico, porque este
recurso não é encontrado na natureza e tão pouco na configuração dos objetos
tridimensionais. Existem fios, hastes flexíveis e outros elementos físicos cuja aparência se
assemelha a linhas, todavia, um fio só pode ser considerado uma linha se for percebido como
recurso de demarcação de espaços ou de configuração de formas ou figuras.
composição visual, como pontos, linhas, manchas, planos, compostos no modo gráfico ou
fotográfico, além de suficientes são agora mais flexíveis.
O desenvolvimento da computação gráfico-digital elevou praticamente ao infinito as
possibilidades criativas e comunicativas da infografia porque permite, quase que
instantaneamente, a composição de formas muito complexas, considerando-se as variações de
configuração, os efeitos de textura, as sugestões de volumes, as variações cromáticas e tonais
que, tradicionalmente, correspondem aos valores expressivo-visuais das formas.
A evolução e a difusão da informação gráfico-digital, também, influenciam diretamente no
modo de percepção e de relação dos leitores com o mundo. A produção gráfica, cujo resultado
impresso ainda depende dos processos analógicos, é cada vez mais facilitada pelo uso
eficiente de softwares, que atuam em máquinas de precisão com alta capacidade de
reprodução e fidelidade. Tudo isso impõe a transformação estético-perceptiva dos leitores
inseridos na etapa contemporânea da cultura da mídia.
A cultura da mídia é muito antiga, remontando a milhares de anos antes da era cristã, porque
os processos de composição visual têm suas raízes na pré-história, como as pinturas e
gravuras rupestres das cavernas de Lascaux, que datam de 15.000 anos a.C. As representações
pré-históricas já apresentam os elementos básicos da comunicação visual, ponto, linha,
mancha e plano. Todavia, os processos de reprodução gráfica desenvolveram um longo
percurso até a impressão off-set, que é o meio mais comum de impressão na atualidade. Como
foi dito, os processos de impressão, ainda hoje, dependem de relações mecânico-analógicas,
todavia, a tecnologia digital suprimiu muitas etapas, agilizando e potencializando os
processos de criação e de transferência do projeto gráfico, da instância de criação para a
instância de impressão.
que são articulados na composição de uma imagem, permanecem sendo os pontos, as linhas,
as mancham e os planos, reunidos e organizados para configurar imagens, gráficos e
escrituras.
Os materiais, as técnicas e as tecnologias, entretanto, são responsáveis pela expressão da
linguagem visual. Sendo assim, é necessário o domínio técnico para expressar o domínio
discursivo. Por exemplo, com o uso de um software que simula a representação em três
dimensões (3D), a composição poderá ser pensada e apresentada, sugerindo diversos ângulos
de visão e permitindo até mesmo a projeção de um holograma animado em ambiente digital.
Neste artigo, não houve uma diferenciação sistemática da infografia noticiosa nos meios
eletrônicos e na mídia impressa, considerou-se suas possibilidades de comunicação gráfica,
que é inerente à área de Design Gráfico, seja essa prevista para a mídia impressa, para a mídia
eletrônica ou para mídia eletrônico-digital.
No caso de mídia impressa, considera-se na gestão de design o processo de impressão, com
suas possibilidades e limitações de tecnologia e de informação. Os infográficos impressos são
determinantemente planos e estáticos.
Por sua vez, os suportes planos eletrônicos, como os vídeos eletrônicos tradicionais ou vídeos
eletrônico-digitais, permitem o uso de recursos de animação de imagens e ilusões espaciais
muito convincentes. Nesses casos, os elementos básicos de composição e comunicação visual,
ponto, linha, plano e mancha, são ordenados para propor configurações, tonalidades, cores,
texturas e volumes dinâmicos de figuras que se movimentam, sugerindo deslocamento
espacial em diversos sentidos das três direções básicas, largura, altura e profundidade.
Os recursos digitais oferecem agilidade e versatilidade à composição visual, permitindo a
criação e interação de efeitos expressivos muito diferenciados na informação gráfica
jornalística. Isso surpreende cada vez mais o público leitor, confirmando e ampliando as
melhores expectativas de designers de infografia, com relação às possibilidades estéticas e
discursivas dos infográficos.
7. Referências
LUPTON, E.; PHILLIPS, J. Novos fundamentos do design. São Paulo: Cosac Naify, 2008.