Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
KENNETH M. ZEICHNER
Departamento de Currículo e Ensino da Universidade do Estado de Wisconsin – EUA
zeichner@facstaff.wisc.edu
RESUMO
Este artigo procura desafiar algo que se tornou comum nos últimos anos: a glorificação acrítica
da pesquisa-ação. Defende-se a idéia de que essa forma de investigação seja desenvolvida de
maneira bastante séria e que sejam reforçados os laços do movimento de pesquisa-ação
com as lutas mais amplas por justiça social, econômica e política. Argumenta-se que o movi-
mento pode contribuir para o processo de transformação social em termos da sua capacida-
de de melhorar a formação profissional; do potencial controle que esses profissionais passam
a exercer sobre o conhecimento que norteia o seu trabalho; da influência da pesquisa-ação
sobre mudanças institucionais nos lugares em que esses profissionais trabalham; e, finalmen-
te, da contribuição da pesquisa-ação para que as sociedades tornem-se mais democráticas e
mais decentes para todos.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES – PESQUISA EDUCACIONAL – MUDANÇA SOCIAL –
PESQUISA-AÇÃO
ABSTRACT
of its potential effects on the control of the knowledge that informs the work of these
practitioners; in terms of its influence on institutional change in the immediate settings in
which these practitioners work; and finally, in terms of the impact of action research on the
making of more democratic and decent societies.
TEACHER EDUCATION – EDUCATIONAL RESEARCH – SOCIAL CHANGE – ACTION
RESEARCH
Essa proliferação teórica sobre o que constitui pesquisa-ação serve para afastá-
la da realidade das escolas e das salas de aula. O que isso tem a ver com profes-
sores ocupados para quem a validade de suas pesquisas baseia-se na capacida-
de que elas têm de responder as questões práticas sobre ensino e aprendiza-
gem? (1989, p.5)
1. O autor assinala que certos contextos em que a pesquisa dos educadores se desenvolve
podem fazer bastante diferença. Ele cita, por exemplo, como essencial o fato de os educado-
res-pesquisadores terem controle sobre diferentes aspectos do processo de pesquisa, in-
cluindo a definição do foco de investigação, da coleta de dados e das estratégias de análise.
Além disso, parece fundamental criar uma cultura de pesquisa que respeite as vozes dos
educadores e o conhecimento que eles trazem para essa experiência de investigação. Outra
condição importante para o sucesso da pesquisa-ação é o estabelecimento de um grupo de
educadores-pesquisadores e de facilitadores externos trabalhando em ambiente seguro e
colaborativo por um período de tempo substancial. Por fim, parece dispensável dizer que as
condições estruturais são muitas vezes imprescindíveis: recursos fornecidos aos educadores
para desenvolverem suas pesquisas (isto é, redução de carga horária didática, materiais de
leitura e acesso a bibliotecas, apoio para publicação e apresentação de trabalhos) e oportuni-
dades oferecidas aos educadores para encontrarem com os colegas de trabalho e discutirem
com eles suas pesquisas.
mo que diz: “As forças estruturais são muito maiores do que eu; não há nada
que eu possa fazer” e, assim, evitar a desilusão que geralmente vem por não
ter mudado o mundo todo de uma única vez. A pesquisa-ação pode ser uma
ponte importante para os esforços mais amplos de reconstrução social. Deve-
ríamos ser capazes de reconhecer a importância de cada pequena conquista
ao longo desse caminho.
Assim, defendemos a idéia de que essas separações entre técnico e crí-
tico, micro e macro são, na verdade, falsas dicotomias e de que a noção de
“crítico” está na realidade incrustada no técnico e no mundo “micro” dos pro-
fissionais. Cada tema da sala de aula tem uma dimensão crítica. Indivíduos ou
pequenos grupos de profissionais, tais como professores, podem não ser ca-
pazes de mudar estruturas sociais injustas por meio de pesquisas na sala de aula,
mas esses professores podem ser bastante importantes e fazer a diferença em
termos de como afetam a vida de seus estudantes. Embora seja verdade o fato
de que apenas alguns professores e outros profissionais estão envolvidos em
esforços que objetivam mais diretamente a transformação institucional e a ação
nas comunidades, não deveríamos criticar os professores que se dedicam “ape-
nas” aos limites de suas salas de aula. Como dissemos anteriormente, muitos
professores continuarão preocupados com as suas salas de aula independen-
temente de o quanto são criticados por teóricos críticos nas universidades por
fazerem “apenas” isso.
A realidade é que o político e o crítico estão em nossas salas de aula e
em outros locais de trabalho, e as escolhas que fazemos diariamente em nos-
sos ambientes de trabalho revelam nossos compromissos morais em relação
à continuidade ou transformação social. Não podemos ser neutros. Conquanto
não ignoraremos os esforços para mudar as estruturas para além da sala de aula,
essa é um importante lugar para o que tem sido chamado de pesquisa-ação
socialmente crítica ou uma pesquisa-ação que está conectada com a luta mais
ampla por igualdade educacional e justiça social.
gualdades entre ricos e pobres em muitos países. Ainda que existam expecta-
tivas para associar a pesquisa-ação com a mitigação desses sofrimentos e in-
justiças dentro e para além da escola, e mesmo considerando as origens do
movimento de pesquisa-ação antes da metade do século XX nos Estados
Unidos – vinculadas ao combate a preconceitos de raça e classe e ao trabalho
ativo nas comunidades (Nofke, 1989; Altrichter, Gstettiner, 1997) –, freqüen-
temente não há, hoje, uma preocupação explícita com essas questões de igual-
dade educacional e de justiça social nas comunidades de pesquisa-ação.
Algumas pessoas criticam os apelos para que os pesquisadores de suas
práticas intervenham no processo social, econômico e político em que estão
inseridos. Pensamos, ao contrário, que seria um grande erro imaginar que
poderíamos, de algum modo, ser participantes neutros em relação aos temas
de reprodução ou de mudança social. Educadores de sociedades que se
autodenominam democráticas têm a obrigação moral de intervir para que aque-
les com quem trabalham possam viver mais plenamente os valores inerentes
à democracia.
No contexto da globalização hegemônica e da proliferação de políticas
neoliberais ao redor do mundo, temos testemunhado o crescimento do fosso
que separa os ricos dos pobres. Raça, gênero, classe social, religião e opção
sexual continuam a ser fatores importantes que na maioria das vezes determi-
nam o acesso à educação de alta qualidade, assim como o acesso à boa mora-
dia, à assistência médica de qualidade e a empregos que remunerem decente-
mente. Esses fatores continuam a influenciar um conjunto de outros problemas
sociais, tais como a fome e a subnutrição, o abuso contra crianças, a gravidez
indesejada na adolescência, crimes, violência e drogas.
Obviamente não estamos sugerindo que esses e outros problemas te-
nham sido causados pela “ineficiência” da escola pública, argumento emprega-
do com freqüência na retórica de muitos políticos e gestores educacionais. As
escolas públicas não causam tais problemas, e a sua reforma por si só também
não poderá resolvê-los. O que sugerimos é que precisamos desempenhar um
papel politicamente consciente em qualquer esfera que se escolha trabalhar,
que examinemos as implicações sociais e políticas das nossas ações e, finalmen-
te, que atuemos de modo a promover os valores democráticos.
Para aqueles que estão envolvidos em projetos de pesquisa-ação isso
significa que toda e qualquer pesquisa-ação deve considerar, em algum ponto
do desenvolvimento da investigação, as implicações sociais e políticas de suas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTRICHTER, H.; GSTETTINER, P. Action research: a closed chapter in the history of German
social science? In: McTAGGART, R. (org.) Participatory action research : contexts and
consequences. Albany: Suny, 1997.
ATWELL, N. Class-based writing research: teachers learning from students. In: GOSWAMI,
D.; STILLMAN, P. (orgs.) Reclaiming the classroom : teacher research as an agency for
change. Portsmouth: Heinemann, 1987. p.87-94.
DAY, C. Teachers’ thinking, intentions and practice: an action research perspective. In: HALKES,
R.; OLSON, J. (orgs.) Teacher thinking. Lisse: Swets & Zeitlinger, 1984. p.73-83.
ELLIOT, J.; ADELMAN, C. Reflecting where the action is: the design of the Ford Teaching
Project. Education for Teaching, v.9, n.2, p.8-20, 1973.
ELLWOOD, C. Teacher research: for whom? In: REUNIÃO ANUAL DA AERA, San Francis-
co, 1992. mimeo.
GRUNDY, S.; KEMMIS, S. Educational action research in Australia: the state of the art (an
overview). In: KEMMIS, S.; McTAGGART, R. (orgs.) The Action research reader. 3.ed.
Geelong: Deakin University Press, 1988. p.321-335.
HOLLY, M. L. Teachers’ theorizing: research and professional growth. In: REUNIÃO ANUAL
DA AERA, Boston, 1990. mimeo.
HOLLY, P. Action research cul-de-sac or turnpike. Peabody Journal of Education, v.64, n.3,
p.71-99, 1987.
KELLY, A. Action research: what is it and what can it do? In: BURGESS, R. (org.). Issues in
educational research: qualitative methods. Lewes: Falmer, 1985. p.129-151.
KEMMIS, S. Action research. In: HUSEN, T.; POSTLETHWAITE, T. (orgs.) International
encyclopedia of education: research and studies. Oxford: Pergamon, 1985. p.35-42.
. The Nature of action research: some general principles. Leioa: Universidad
del País Vasco, 1992. (Série de palestras no Instituto de Ciencias de la Educación.)
KEMMIS, S.; McTAGGART, R. The Action research planner. Geelong: Deakin University
Press, 1988.
LAWN, M. Being caught in schoolwork: the possibilities of research in teachers’ work. In:
CARR, W. (org.) Quality in teaching. Lewes: Falmer, 1989. p.147-161.
SOMEKH, B. The Role of action research in collaborative enquiry. In: SOMEKH, B.; POWNEY,
J.; BURGE, C. (orgs.) Collaborative enquiry and social improvement. Noewich: Classroom
Action Research Network, University of East Anglia, 1989. p.3-11.
WEINER, G. Professional self-knowledge versus social justice: a critical analysis of the teacher
research movement. British Educational Research Journal, n.15, p.41-51, 1989.
ZEICHNER, K. M. Beyond the divide of teacher research and academic research. Teachers
and Teaching: Theory and Practice, v.1, n.2, p.153-172, 1995.
.Contradictions and tensions in the professionalization of teaching and the
democratization of the schools. Teachers’ College Record, n.92, p.363-379, 1991.