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Apresenta

A Rede

Novela de:

Evana Ribeiro

CAPÍTULO 13
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CENA 01 – NY/CASA DE ALIENA – EXT – NOITE


Continuação da cena final do capítulo anterior. Ed e Lady Kelly
observam as garotas, que conversam animadamente

LADY KELLY – Você me trouxe aqui só pra ficar vendo duas mocinhas
bonitas?

ED – Faz parte do meu plano. A gente precisa saber de todos os


passos dessas duas, aí começo a arquitetar a minha vingança. Nada
pode dar errado dessa vez, entende?

LADY KELLY – Sei. (t) Mas elas são tão bonitinhas... Dá até pena de
matar essas criaturas.

ED – Aproveita pra tirar uma foto agora, porque é a única coisa que
vai sobrar dessas beldades.

Lady Kelly olha para Ed, um pouco impressionada. Ele continua


com o olhar fixo na janela.

CORTA PARA

CENA 02
Tomada de Recife à noite.

CORTA PARA

CENA 03 – RESTAURANTE – INT – NOITE


Danilo e Helena jantam juntos.
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HELENA – É muita coincidência você ser irmão de um colega meu...

DANILO – Foi o Walter que te falou do antiquário?

HELENA – Não, a sua loja eu descobri sozinha. Só depois é que o


Walter me falou sobre, e muito mal, porque a gente mal se fala. Na
verdade a gente só se agüenta. (ri)

DANILO – Ah... Mas pelo menos alguma vez ele falou de mim, né? (t)
Eu sou o irmão apagado da família, sabe como é.

HELENA – É? Por quê? Por acaso o Walter sempre foi do tipo de


querer chamar a atenção de todo mundo?

DANILO – Não, ele sempre tentou ser muito discreto... Mas no fim
acabava chamando a atenção porque é mais inteligente, mais
articulado, enfim, um monte de coisas mais do que eu. Mas vamos
mudar de assunto, né? A gente não veio aqui pra falar do meu
irmão...

HELENA – É... É mesmo. Então vamos falar de você, das suas coisas.

Eles continuam conversando, fora de áudio. Sonoplastia:


Encontro – Chico Pinheiro.

CORTA PARA

CENA 04 – AP. DE WALTER/QUARTO DO CASAL – INT – NOITE


Beth está pronta para dormir. Walter entra quando ela já está
deitada.

BETH – Demorou, hein?


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WALTER – Eu tava lá jogando videogame com os meninos... Sabe,


Beth, eu tava reparando um negócio.

BETH – O quê?

WALTER – É a Jéssica, ela tá ficando muito parecida com o Danilo,


sabe? Eu achei que ela fosse ficar mais parecida com a Tetê, mas em
matéria de jogos tá competitiva igual ao Dan...

BETH – Era só o que me faltava... Já não suporto o seu irmão, agora


vou ter que aturar uma miniatura de saias?

WALTER – Outra vez esse papo?

BETH – É! E quantas vezes você me vier falando dos teus irmãos eu


vou falar.

WALTER – Queria era entender esse ódio todo se eles não te fizeram
nada.

BETH – Não gosto deles e pronto.

WALTER – Até quando você vai com essa besteira?

BETH – Até que o Danilo faça como a sua irmãzinha e dê o fora das
nossas vidas!

WALTER (saindo) – É melhor eu ir dormir em outro canto hoje...

BETH – Não, volta! Prometo que não falo mais nada.


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WALTER – Tá bom...

Walter volta para a cama, vira de lado e apaga a luz.

BETH – Boa noite.

Beth vira para o lado oposto, triste. Sonoplastia: Fim – Rádio


de Outono.
CORTA PARA

CENA 05
Tomada de Recife à noite.

CORTA PARA

CENA 06 – AP. DE WALTER/SALA – INT – NOITE


Beth está sentada no sofá, com um laptop no colo. Está
acessando um site de compras. Corta para Júnior, que entra vindo do
quarto. Ele pára ao ver Beth, que não o vê.

JÚNIOR – Oi, mãe! Acordou agora?

BETH (assustada) – Júnior? O que você tá fazendo fora da cama,


hein?

JÚNIOR – Só vim beber água... Tá fazendo o que com o computador


agora?

BETH – É... Besteira, só tava vendo umas coisinhas aqui pra...


Comprar, sabe... Mas por favor, Júnior, não conta nada pro seu pai.
Você sabe como ele fica encrencando com qualquer alfinetezinho que
eu compro...
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JÚNIOR – Mãe, a senhora nunca compra alfinetes. Compra máquinas


de costura.

BETH – Mas você vai ficar caladinho, não vai?

JÚNIOR – O que é que eu ganho com isso?

BETH – Depois a gente vê. Agora vai beber sua água e já pra cama.

JÚNIOR – Tá bom.

Júnior vai para a cozinha. Beth desliga o laptop. Sonoplastia:


Revenge – Patti Smith.

CORTA PARA

CENA 07
Tomada de Recife. Efeito de transição noite-dia.

CORTA PARA

CENA 08 – AP. DE HELENA/QUARTO DE HELENA – INT – DIA


Helena já está em pé, vestindo um robe vermelho. Danilo
acorda e levanta devagar, olhando para os lados como se tentasse
reconhecer o local onde está.

HELENA – Bom dia!

DANILO – Bom dia... Onde é que a gente tá mesmo?

HELENA – Na minha casa.


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DANILO – Ah... E que horas são?

HELENA – Deve ser umas oito.

DANILO – Ai, caramba, preciso correr, tá quase na hora de abrir a


loja...

HELENA – Calma, não precisa sair voando, né? Toma um café pelo
menos.

DANILO – Tá, mas bem rápido mesmo.

Helena vai saindo. Danilo a segue, mas pára de andar ao ver


um computador com webcam ligado.

DANILO – Ei... Isso aí tá ligado?

HELENA – Ah, é... Não! Tá em modo de espera.

DANILO – Ah, tá...

Eles saem.

CORTA PARA

CENA 09 – AP. DE HELENA/COZINHA – INT – DIA


Helena e Danilo tomam café.

HELENA – Então... Posso te fazer uma última perguntinha?

DANILO – Pergunte.
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HELENA – É sobre o seu irmão... Vocês se dão bem?

DANILO – Sim, por quê?

HELENA – É que quando você disse ontem que era o apagado da


família, senti uma pontinha de mágoa.

DANILO – Impressão sua. A gente se dá bem sim, só anda um pouco


afastado por causa do trabalho, e também porque a minha cunhada
não gosta nem um pouco de mim.

HELENA – Se quiser me dizer o por quê...

DANILO – É uma coisa antiga.

HELENA – Mas se incomoda até hoje...

DANILO – Ela acha que eu ainda vou destruir o casamento dela... Só


porque quase estraguei tudo uma vez.

HELENA – Puxa, que chato.

DANILO – Enfim, é tudo nóia da cabeça dela e eu nem gosto de ficar


falando disso. Agora eu tenho mesmo que ir. (levanta)

HELENA – Tudo bem, eu te levo até a porta.

Eles saem juntos.

CORTA PARA
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CENA 10 – CASA DE JORGE/GARAGEM – INT – DIA


O personagem não possui carro, então aqui funciona uma
oficina de manutenção de microcomputadores. Jorge está terminando
de montar um gabinete. Corta para a parte da frente, onde estaciona
uma moto com outro gabinete na garupa. A pessoa que está
conduzindo a moto, uma mulher chamada Carolina, tira o capacete e
em seguida entra na oficina, carregando seu gabinete.

CAROLINA – Bom dia...

JORGE – Bom dia, em que eu posso...

Jorge pára de falar imediatamente ao ver Carolina.


Insert em cena do passado de Jorge: ele entra na casa de
Anuska e vê, na sala, Anuska e outra mulher se agarrando. A outra
mulher é Carolina. Close no rosto de Jorge, enfurecido.
Volta à realidade. Jorge está olhando para Carolina com a
mesma fúria com que olhava na cena anterior.

CAROLINA – Oi, algum problema? Tá passando mal?

JORGE – O que você tá fazendo aqui?

CAROLINA – Eu? Eu vim consertar meu computador, ué.

JORGE – Mentira... Você veio aqui pra esfregar na minha cara que eu
sou um perdedor, um corno!

CAROLINA – Ei, peraí, do que você tá falando?


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JORGE (enquanto fala, vai mexendo nas peças do gabinete que


estava consertando e, sem olhar, vai estragando o conserto) – Tô
falando de você e da Anuska, juntas, se agarrando no sofá da casa
dela, é disso que eu tô falando! Esqueceu ou tá se fazendo de
desentendida?

CAROLINA (baixinho) – Ai, meu Deus, agora que eu tô lembrando. É


o Jorge... Jorge, pelo amor de Deus...

JORGE – Pelo amor de Deus o quê?

CAROLINA – Isso já acabou faz tempo, por que você ainda tá falando
nisso?

JORGE – Passou pra você que não levou a gaia!

CAROLINA – Vê só o que você tá fazendo! Tá estragando as peças


todas...

Jorge olha para baixo e vê que está quebrando o gabinete.

JORGE (bravo, larga o aparelho) – Tá vendo só o que você fez? (t)


Não, pensando bem a culpa nem é sua... É dela.

Em Jorge,

CORTA PARA

CENA 11 – AP. DE ANUSKA/SALA – INT – DIA


Anuska está lendo revista deitada no sofá. A campainha toca.
Ela larga a revista sobre a mesa de centro, vai abrir a porta e dá de
cara com Jorge, que lhe dá um forte tapa no rosto.
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ANUSKA – Ei! O que você pensa que tá...

Anuska é interrompida por outro tapa.

ANUSKA – O que você veio fazer aqui?

JORGE – Vim dar aquilo que você merece por ter ferrado com a
minha vida. Eu devia ter feito isso assim que te vi com a outra lá, sua
vadia!

Anuska devolve os tapas. Rodrigo entra.

RODRIGO – Que confusão é essa? Ô, Anuska, o que esse cara tá


fazendo aqui?

ANUSKA – E eu sei lá! Vai embora, Jorge, vê se me esquece.

JORGE – Só vou te esquecer quando eu te matar e você for pro


inferno.

RODRIGO – Jorge, é melhor você ir, senão vou ser obrigado a chamar
a polícia.

JORGE – Chama mesmo, garoto! Enquanto isso eu esgano a tua


prima, aí eles vão ter motivo pra me prender.

Jorge avança para cima de Anuska e começa a apertar seu


pescoço. Rodrigo tenta apartar a briga, sem sucesso, e acaba dando
um soco no nariz de Jorge, que larga Anuska na mesma hora.

JORGE (cobrindo o nariz com as mãos) – O que você fez, moleque?


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RODRIGO – Anuska, vai lá pra dentro. E você dá o fora daqui, antes


que eu... Aliás, é melhor que eu ligue pra Amanda, aí ela já fica
sabendo disso aqui.

Rodrigo pega o telefone e começa a discar.

JORGE – Não, Rodrigo, por favor, não liga pra Amanda.

RODRIGO – Por que não? Você vai chegar lá com esse nariz
quebrado, ela vai acabar sabendo.

JORGE – Por favor, não liga pra ela.

RODRIGO – Dá o fora daqui e não volta mais.

Jorge sai, reclamando de dor. Anuska aparece na porta. Rodrigo


não a vê e volta a discar.

ANUSKA – Rodrigo, você tá ligando pra onde?

RODRIGO – Pra casa da Amanda.

ANUSKA – Ela não precisa saber que ele esteve aqui e que foi você
que quebrou o nariz dele.

RODRIGO – Precisa sim. Talvez levando uma prensa dela ele crie
vergonha na cara e pare de te encher.

ANUSKA – É melhor você não se meter...

RODRIGO – Deixa, Anuska, eu sei o que eu tô fazendo.


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Rodrigo leva o fone ao ouvido e espera a chamada ser


atendida.

CORTA PARA

CENA 12
Tomada de Recife, indicando breve passagem de tempo.

CORTA PARA

CENA 13 – CASA DE JORGE/SALA – INT – DIA


Jorge entra, agora com um curativo no nariz. Encontra Amanda
sentada em um dos sofás, com ar grave.

JORGE – Oi, Amanda. Tá esperando aí há muito tempo?

AMANDA – Não muito. (t) E esse curativo no nariz, andou quebrando,


foi?

JORGE – É, foi um acidente.

AMANDA – Sei bem em que tipo de acidente você andou se metendo.


(vai chegando perto, com o dedo em riste, apontando para o nariz
dele) Eu devia arrancar esse teu nariz fora, sem anestesia!

JORGE – Amandinha, eu...

AMANDA – Não quero saber de explicação nenhuma, já me contaram


tudo. (t) Só quero que você me responda uma coisinha: por que
diabos você continua comigo se continua com a cabeça no chifre que
levou da tua ex?
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JORGE – Amanda, não é tão fácil assim não! Se fosse qualquer chifre
eu juro pra você que relevava, mas ela me traiu com uma mulher!
Isso já é humilhação demais!

AMANDA – Humilhação? Humilhada tô eu, que fico aqui que nem uma
besta pensando no nosso casamento, nessa porcaria de casamento
que você quer tanto adiantar, enquanto você fica fazendo o quê? Fica
correndo atrás da Anuska pra ficar remoendo mágoa! Se é assim,
porque é que tu esquece logo tudo o que ela te fez um dia, pede
perdão e casa com ela?

JORGE – Porque agora eu não quero mais saber dela, eu quero ficar
com você.

AMANDA – Ah, é? (t) Então prove. Pare de correr atrás da Anuska,


deixe ela cuidar da vida dela e vá cuidar da sua. Se não for assim, eu
sinto muito, mas não vejo motivos pra continuar com esse nosso
noivado.

Amanda vai saindo. Jorge a impede.

JORGE – Espera, vamos conversar...

AMANDA – Eu tenho muito o que fazer, dá licença.

Amanda sai. Jorge fica parado na porta aberta, com cara de


bobo. Sonoplastia: Pedra – Djavan.

CORTA PARA
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CENA 14 – DELEGACIA DE CRIMES DE INTERNET –INT – DIA


Michelle e Marta organizam papéis em gavetas enquanto
conversam.

MARTA – Ainda bem que eu vim pra cá contigo... Não sei se eu ia


conseguir me acostumar com outro delegado.

MICHELLE – Eu também não ia conseguir ficar com outro escrivão,


né? Já trabalhamos juntas há tanto tempo... E além disso, você é
minha melhor amiga, tinha que ficar comigo nessa também.

MARTA – Era bem disso que você tava precisando pra se animar mais
com o trabalho, né?

MICHELLE – É mesmo. (t) Espero que as coisas melhorem! Agora


vamos parar de papo e continuar arrumando essas coisas.

Elas continuam seus afazeres. Sonoplastia: TV Police – The


Joe Perry Project.

CORTA PARA

CENA 15
Tomada aérea de Recife, indicando passagem de algumas
horas.

CORTA PARA

CENA 16 – AP. DE WALTER/QUARTO DE JÚNIOR – INT –


TARDE
Júnior está deitado na cama, muito inquieto. Jéssica entra.
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JÉSSICA – Júnior, quer jogar videogame?

JÚNIOR – Não, eu tô com sono.

JÉSSICA – Que foi, não dormiu de noite?

JÚNIOR – Não muito... Acordei de madrugada e não consegui mais


pegar no sono.

JÉSSICA – Teve pesadelo.

JÚNIOR – Não, eu só tava pensando aqui num negócio...

JÉSSICA – Não quer contar pra mim?

JÚNIOR – Não, é segredo.

JÉSSICA – Hmmm... Já sei! Tá a fim de uma menina do colégio, né?

JÚNIOR – Não, não é isso!

JÉSSICA – Então o que é?

JÚNIOR – É... Você promete que não conta pra ninguém?

JÉSSICA – Prometo.

JÚNIOR – Eu vi a mamãe de madrugada comprando umas coisas na


Internet... Acho que ela tava usando o cartão.

JÉSSICA – E o pai deixou ela usar?


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JÚNIOR – Não, que ela pediu de tudo quanto é jeito pra eu não
contar! Por isso eu não queria contar pra você... Mas acho que eu fiz
errado...

JÉSSICA – Mas ele precisa saber! Já pensou o que ele vai fazer
quando chegarem as contas com um monte de dívida que ele não
fez?

JÚNIOR – Mas eles vão brigar de novo!

JÉSSICA – De todo jeito eles vão brigar. E você mesmo tá achando


ruim ficar escondendo isso do papai. E talvez, se eles brigarem de
novo, a mamãe caia na real e pare de ficar gastando que nem uma
doida.

JÚNIOR – É...

JÉSSICA – Então vai lá falar com o papai e conta toda a verdade.


Depois, se você quiser, tô jogando lá no quarto.

Jéssica sai, e Júnior logo atrás dela.

CORTA PARA

CENA 17 – AP. DE WALTER/SALA – INT – TARDE


Walter coloca o telefone no gancho, muito aborrecido, e fica
sentado no sofá, olhando para o nada. Júnior vai entrando,
envergonhado.

JÚNIOR – Oi, pai...


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WALTER – Júnior, sua mãe tá no quarto?

JÚNIOR – Acho que tá. (t) Quer falar com ela?

WALTER – Aham...

JÚNIOR – Mas antes eu podia falar com o senhor?

WALTER (levanta) – Vai esperar um pouco, filho. Antes eu tenho que


ter uma conversinha com a sua mãe.

Walter sai e Júnior vai atrás dele, cauteloso.

CORTA PARA

CENA 18 – AP. DE WALTER/QUARTO DO CASAL – INT – TARDE


Beth está deitada na cama, Walter entra e passa direto para o
closet, sem olhar para ela. Abre o móvel e tira dele uma pequena
bolsa. Ao ouvir o barulho da porta fechando, Beth se vira e o vê.

BETH – Oi, Walter! Achei que você tivesse saído.

WALTER – Bom, eu ia, mas recebi uma ligação e acabei ficando.

BETH – Foi coisa de trabalho?

WALTER – Não. (t) Foi da operadora do meu cartão de crédito.

BETH – Do... Cartão?

WALTER – É, do cartão.
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BETH – Walter, eu...

WALTER – Calma, Beth. Eu não vou gritar com você, não vou fazer
sermão...

BETH – Então?

Walter abre a bolsa que tirou do closet e tira dela vários cartões
de crédito.

WALTER – A única coisa que eu vou fazer é isso aqui. (começa a


quebrar os cartões de crédito um a um)

BETH – Não faz isso, Walter! Os meus cartões não!

Walter finge que não ouve e continua quebrando todos os


cartões, largando seus pedaços sobre a cama. Depois de destruir o
último cartão, guarda novamente a bolsa no closet.

BETH – Eu não acredito que você fez isso.

WALTER – É tudo o que eu vou fazer a respeito disso. (vai saindo,


mas pára na porta) Ah, e também vou bloquear o acesso a sites de
compras. Talvez assim você aprenda.

Walter sai. Beth, atordoada, pega os pedaços dos cartões e fica


tentando juntá-los. Sonoplastia: Fim – Rádio de Outono.

CORTA PARA

CENA 19 – AP. DE HELENA/SALA – INT – TARDE


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Geysa está sozinha, vendo o vídeo de Helena com Danilo no


laptop. Ela dá um sorrizinho malicioso.

GEYSA – Quente!

Helena entra e se assusta ao ver Geysa lá.

HELENA – O que você tá fazendo aqui? (grita) Quem te deixou entrar,


hein, garota?

GEYSA – O porteiro, ué! Sabe que ele até pensou que eu fosse sua
filha? (ri) Sua filha, eu...

HELENA (avança sobre o laptop, com raiva, e o fecha) – E quem te


deixou mexer nas minhas coisas, hein?

GEYSA – Desculpa, eu não resisti. Tava sentindo que tinha algo de


muito interessante aqui que não fosse assunto de trabalho... E não é
que eu tava certa mesmo?

HELENA – Olha aqui, garota... Eu já tô por aqui com as suas


gracinhas, tá? Por aqui! E se você abrir sua boca pra qualquer pessoa
sobre o que viu aqui, principalmente pra alguém da Universidade...
Eu esqueço ética profissional e o diabo a quatro... Eu não quero nem
pensar no que vou fazer com você!

GEYSA – Isso foi uma ameaça de morte, professora?

HELENA – Não, eu não vou te matar. (t) Mas posso fazer coisa bem
pior.
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Close em Helena, ameaçadora. Corta para um close em Geysa,


com ar desafiador.

CORTA PARA

CENA 20
Tomada de Nova York à tarde.

CORTA PARA

CENA 21 – NY/CASA DE ALIENA/SALA DE ESTUDOS – INT –


TARDE
Teresa está trabalhando em mais uma história de
Sharpshooter. Felícia está ao seu lado, acompanhando tudo.

FELÍCIA – Você não sai mais daí, né?

TERESA – Prometi pra mim mesma e pras meninas que só ia usar


essa joça aqui pra trabalhar e é o que eu tô fazendo. O único homem
que existe pra mim agora é o Sharpshooter. (t) E é um homem
mascarado e de roupinha colada, o que dá mais graça a sua figura.

FELÍCIA – Mas ficar o dia todo aqui deve fazer um mal danado, não?
A gente devia sair um pouquinho, se divertir... Que tal um bar de
solteiros?

TERESA – Eu tô querendo fugir de gente, aí vem você e me chama


pra um bar de solteiros? Total tô fora dessa.

FELÍCIA – Ô, Tetê... Acho que você tá exagerando um pouco. A gente


se encrencou por causa de um cara que conheceu na Internet. Indo
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prum bar de solteiros a chance de se meter em confusão é menor,


não acha?

TERESA – Pra mim qualquer coisa é a mesma coisa, e por enquanto


não tô a fim mesmo.

FELÍCIA – Então tá...

Teresa continua trabalhando.

CORTA PARA

CENA 22
Tomadas alternadas de Nova York e Recife. Efeito de transição
tarde-noite.

CORTA PARA

CENA 23 – CASA DE PATRÍCIA/SALA – INT – NOITE


Patrícia está deitada no sofá, vendo televisão. Cecília passa por
ela e vai em direção a porta.

PATRÍCIA – Parada aí, moça! Onde pensa que vai?

CECÍLIA – Vou ali no mercadinho. Tô com vontade de comer


biscoito...

PATRÍCIA – Pode voltar pro quarto que eu compro.

CECÍLIA – Não precisa, deixa que eu vou lá.


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PATRÍCIA – Nada disso, mocinha! Eu disse que a senhorita está de


castigo e não vai botar o nariz na rua até segunda ordem.

CECÍLIA – Ah, castigo. Que besteira! O que é que esse castigo vai
mudar? Tô grávida? Tô. Vou ter que assumir o que eu fiz? Vou. Agora
pára com isso e me deixa ir nesse mercadinho.

PATRÍCIA – Você não vai se enfiar naquela lan house, não é?

CECÍLIA – Mas eu nem falei de lan house!

PATRÍCIA – Olhe, eu vou deixar você ir. Mas é comprar o biscoito e


voltar. Se você demorar um pouquinho que seja, vou sair atrás de
você e se eu te encontrar enfiada naquela lan house, vou te trazer
pra casa arrastada pelos cabelos e você vai passar um bom tempo
sem saber o que é rua, tá ouvindo?

Cecília sai batendo a porta.

CORTA PARA

CENA 24 – RUA – EXT – NOITE


Cecília, já um pouco longe de casa, pára em um ponto de
ônibus e tira o celular da bolsa. Disca rapidamente e aguarda a
chamada ser atendida.

CECÍLIA – Gustavo, é o seguinte. A gente não pode se encontrar


aqui, a minha mãe tá marcando muito. É melhor eu ir aí onde você
tá. (t) Daqui a pouco eu chego.

Cecília desliga o celular e fica esperando um ônibus passar.


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CORTA PARA

CENA 25 – BARNET – INT – NOITE


Movimento típico da lan house. Gustavo está parado junto do
balcão, um pouco inquieto. Mick percebe.

MICK – Vai querer mais uma hora, Gustavo?

GUSTAVO – Não, Mick, valeu. Só tô esperando a minha namorada


que disse que vinha pra cá. Acho que vou esperar por ela lá fora.

MICK – Falou...

Gustavo sai. Em um computador próximo da entrada, Minerva e


Miranda conversam.

MIRANDA – E como é que anda o site?

MINERVA – Tá tudo certinho, o pessoal tá curtindo. Só apareceu um


probleminha nele, mas eu já resolvi. (t) O negócio é que eu não
canso de babar a cria (risos)

MIRANDA – Pois eu continuo achando que você devia aproveitar a


cria pra ganhar dinheiro.

MINERVA – De novo esse papo?

MIRANDA – Sim! E se você ainda não acredita que o Minerva.net tem


potencial pra ser um investimento milionário, posso listar agora
mesmo pra você todos os sujeitos que ganharam rios de dinheiro com
coisas assim.
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MINERVA – Eu já conheço todos eles.

MIRANDA – Então!

GEYSA (entrando) – Miranda! Tá muito ocupada?

MIRANDA – Não, só tô aqui com a minha irmã, a Minerva. Minerva,


essa é minha amiga Geysa.

As três continuam conversando, em off.

CORTA PARA

CENA 26 – RUA – EXT – NOITE


Fora da Barnet, Gustavo espera Cecília. Ela chega.

GUSTAVO – O que foi?

CECÍLIA – Achei melhor a gente se falar aqui. Minha mãe vai chiar
um pouco porque eu demorei pra voltar do mercado, mas...

GUSTAVO – O que você tanto quer falar comigo?

CECÍLIA – A gente precisa se acertar, ver o que a gente vai fazer


agora que tem o bebê... Eu pensei que era melhor eu ir pra sua casa,
porque minha mãe tá um saco de chatice desde que eu descobri a
gravidez.

GUSTAVO – Ir lá pra casa? De jeito nenhum. Meus pais nem sabem


ainda disso.
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CECÍLIA – Mas eles são tão legais... Tenho certeza que vão me deixar
ficar com vocês por um tempo.

GUSTAVO – Eu não garanto...

CECÍLIA – Olha, se você não quiser, fala logo, não fica enrolando.

GUSTAVO – Eu só tô tentando explicar que esse negócio de você se


mudar lá pra casa é besteira, que nem aquela fuga. É só isso...

Cecília vai falar alguma coisa, mas um caminhão desgovernado


chega e sobe a calçada. Gustavo puxa Cecília para o outro lado e os
dois caem, batendo fortemente contra um muro. O caminhão entra
com tudo no prédio da lan house.

********** FIM DO CAPÍTULO 13 **********

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