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Por que a escolha do título A bacia das almas, e o que essa expressão significa?

O livro é uma coletânea de artigos publicados no meu blog, e acabou herdando o nome dele. Escolhi o nome para o
site antes de saber o que significava, por achar sonoro e evocativo e por me fazer pensar no Poço das Almas, templo
subterrâneo (fictício) que aparece no filme Caçadores da arca perdida. Foi só tempos depois que conheci a
expressão "na bacia das almas", que se usa para alguém que compra, vende ou ganha "no último momento, sem
muita opção ou ponderação". Ainda mais recentemente aprendi que "bacia das almas" é a vasilha na qual se
depositam, nas igrejas católicas, as esmolas. Como se vê, todas as conotações da expressão aplicam-se ao livro.

O subtítulo de seu livro é "Confissões de um ex-dependente de igreja". Por quê? A obra é uma crítica à igreja?

O livro é uma crítica a mim mesmo, por isso o subtítulo "confissões". Meu contato com o Novo Testamento e com
alguns insubmissos que ousaram levá-lo a sério levou-me a entender que a igreja é um projeto mais imponderável e
ambicioso do que imaginei e defendi por quase três décadas. Se devo ser criticado, é porque ignorei por tempo
demais a evidência bíblica de que igreja não é um lugar de reuniões ou um grupo de pessoas comprometido com
credos, condutas ou rituais, mas um projeto exigentíssimo de subversão universal dos valores implacáveis do
mundo - um projeto promovido e patrocinado pelo cavalheirismo e pelo amor.

Qual a sua visão de igreja hoje em dia e sua relação com ela?

Minha relação com a igreja persiste em duas frentes. Por um lado, quero continuar a investigar os desafios,
possibilidades e manifestações da igreja informal. Por outro, gostaria de ser contado entre os que estão fornecendo
à igreja formal ferramentas para deixar de produzir dependência e falsa culpa e começar a gerar crescimento
interior e independência nos que se sujeitam à sua influência.

Em A bacia das almas você afirma que "as pessoas consomem igreja não apenas da forma que um dependente
consome cocaína, mas da forma que adolescentes consomem telefones celulares e celebridades consomem
atenção". Isso também seria resultado da entrega da igreja à sociedade de consumo?

A relação da igreja institucional com a sociedade de consumo é de identificação total, disso não deve haver dúvida.
Igrejas tornaram-se marcas que buscam promover seus produtos e competir por seus mercados com a mesma
pureza de coração (e os mesmos métodos) dos grandes conglomerados. Mas não é disso que estou falando quando
denuncio a relação de consumo do cristão comum com a igreja formal. Toda manifestação organizada de
religiosidade é baseada em um tráfico entre carência e recompensa, um toma-lá-dá-cá que, com facilidade, pode
ser usado como mecanismo de controle e manipulação. A parte mais essencial da boa-nova promulgada por Jesus
está na libertação intransigente e irrestrita desses ciclos de dependência. "Fomos chamados para a liberdade", é
como coloca o apóstolo, e só temos feito fugir dessa vocação ao longo dos milênios.

Você enumera no livro 10 motivos para não escolher a vida cristã. Ser cristão ainda é a coisa certa a se fazer?

A coisa certa é ser como Jesus, e isso pode não ser a mesma coisa que ser cristão. Os cristãos, como todo mundo,
devem ser constantemente levados a tirar o cisco do olho e ponderar para além da sua própria lagoa, para a
possibilidade de que existam outros grupos e tradições que honrem a herança de Jesus, pelo menos tanto quanto
os que se apropriaram do nome dele.

Por muitos, você é chamado de polêmico, alguém que se afastou da igreja, sendo um defensor da teoria da
evolução e "advogado" da igreja católica. Para outros, você é um pensador recluso que se afastou de tudo para
resgatar a sua fé. Quem é, na verdade, Paulo Brabo?

Não estou habilitado a responder a essa pergunta (Quem é Paulo Brabo?) - o que não me impede, naturalmente, de
passar a vida tentando fazer isso. Quem conhece o Paulo Brabo sabe que prefiro fazê-lo de modo transversal, pela
intermediação de ensaios, crônicas, contos, fragmentos de ficção, poemas, digressões e confissões, registros de
memórias, de sonhos e de viagens - muitos dos quais sobrevieram à transição para o livro. Se houvesse outra forma
de responder a essa pergunta, o livro não seria necessário. Se não houvesse outra forma de formular as perguntas,
o Brabo não seria necessário.

Conheça melhor o autor acessando seu blog: www.baciadasalmas.com.

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