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disciplina Antropologia Cultural do curso de Licenciatura em Artes Visuais, turma ArV3, da Universidade Ab
alente Rodrigues

SUZY MARGARET DAMASCENO NOBRE

O CIBERESPAÇO E A CIBERCULTURA:
NOVAS FORMAS DE SOCIABILIZAÇÃO NO MUNDO MODERNO

Itapetininga – 2008
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1. INTRODUÇÃO

A Internet e outras tecnologias de comunicação vêm sendo cada vez mais utilizadas
como elementos facilitadores da transmissão de informações, armazenamento de dados em
diversas linguagens (sons, imagens, vídeos, etc.), troca de experiências e conhecimentos entre
pessoas do mundo todo, manifestações artísticas, educação à distância, compras, transações
financeiras, enfim, um grande número de atividades.

A procura pelos cursos à distância, tanto acadêmicos quanto profissionalizantes


(livres), por exemplo - especialmente aqueles ministrados por meio da Internet - tem crescido
exponencialmente nos últimos anos. As razões para a crescente adesão a esta forma
alternativa de ensino são variadas: a distância que separa o aluno das instituições acadêmicas
ou de formação técnica profissionalizante, a falta de tempo do potencial aluno devido ao
acúmulo de compromissos assumidos, a oportunidade de fazer cursos com dinâmicas mais
flexíveis e mais adequadas à disponibilidade individual dos interessados, etc.

A internet propiciou o surgimento de uma nova maneira das pessoas se comunicarem e


interagirem, de forma síncrona ou assíncrona, por meio de diversos canais, bem como
disponibilizou locais para o armazenamento de dados que possibilitam a disseminação e a
elaboração coletiva de conhecimentos. As ferramentas mais utilizadas na internet são: correio
eletrônico, fóruns, salas de bate-papo (chat), áudio e vídeo conferências, bancos de recursos
(para armazenagem de arquivos de imagem, vídeo, som, textos, hipertextos), bancos
interligados com conexões constituídas de links internos ou externos.

As pessoas que, por interesse mútuo, se agrupam em torno de determinados assuntos e


interagem entre si utilizando as diversas ferramentas das TIC (Tecnologias da Informação e
Comunicação) disponíveis na WWW (World Wide Web), formam comunidades virtuais que
povoam o ciberespaço e que deram origem ao que chamamos de cibercultura, conceitos que
serão melhor explorados a seguir.
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2. CONCEITOS

2.1. World Wide Web

A World Wide Web - expressão na língua inglesa cuja versão significa: "rede de alcance
mundial" - é também conhecida como Web ou simplesmente WWW. Trata-se de um sistema
de documentos em hipermídia1 que estão interligados e são executados na Internet. Esses
documentos ou arquivos podem ser vídeos, sons, hipertextos2 e figuras.

Para visualizar as informações na WWW, deve-se usar um programa de computador


chamado navegador ou paginador Web – como os conhecidos Internet Explorer e o Netscape
- para descarregar informações (ou downloads), que são chamadas de documentos ou páginas,
armazenadas em servidores Web (ou sites) e mostrá-los na tela do usuário. Considera-se que a
grande virada da WWW começou com a introdução do Mosaic em 1993, o primeiro
navegador gráfico, que foi desenvolvido por Marc Andreesen e um time de desenvolvedores
universitários. Antes de seu lançamento, os gráficos não eram freqüentemente misturados com
texto em páginas web. Aliás, sua introdução tornou a interface da web mais amigável,
democratizando o seu acesso e fazendo crescer exponencialmente o número de novos
usuários.

Por meio desses navegadores o usuário pode visualizar o conteúdo do site, seguir as
hiperligações nas páginas (os links) para outros documentos ou mesmo enviar informações de
volta para o servidor, interagindo com ele (fazer uploads). O ato de seguir hiperligações é
comumente chamado de "navegar" ou "surfar" na Web. Outras webs existem em redes
privadas (restritas) que podem ou não fazer parte da Internet: são as chamadas intranets.

2.2. Ciberespaço

1 Hipermídia: reunião de várias mídias num suporte computacional, suportado por sistemas eletrônicos de
comunicação. (online em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hiperm%C3%ADdia). Acesso em: 08/04/2008.
2 Hipertexto: texto suporte que acopla outros textos em sua superfície, cujo acesso se dá através dos links que
têm a função de conectar a construção de sentido, estendendo ou complementando o texto principal. Tanto o
termo hipertexto quanto hipermídia foram criados pelo filósofo e sociólogo norte-americano Ted Nelson
(online em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hiperm%C3%ADdia). Acesso em: 08/04/2008
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Vários teóricos já deram seus conceitos para o ciberespaço. Para Lévy, é um “espaço
de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos
computadores”. (1999: 92). Para Lemos, há duas formas de se entender o que é o ciberespaço:
“o lugar onde estamos quando entramos em um ambiente virtual” (uma sala de bate-papo ou
o ambiente de um fórum, por exemplo) ou como um “conjunto de redes de computadores,
interligados ou não, em todo o planeta” (1998: online).

Nas mídias convencionais – rádio, televisão, jormais e revistas - o sistema hierárquico


de produção e distribuição da informação segue um modelo pouco flexível baseado na
dinâmica “de-um-para-todos”, na qual apenas um ou poucos indivíduos são os responsáveis
por mandar informações para uma quantidade maior de pessoas.

Já no ciberespaço, a relação com o outro se desdobra no contexto do “de-todos-para-


todos”, onde, basicamente, qaulquer pessoa pode emitir e receber informações de qualquer
lugar para qualquer lugar do planeta, seja essa informação escrita, imagética ou sonora.

2.3. Cibercultura

O termo cibercultura tem vários sentidos, mas pode ser entendido pela forma sócio-
cultural que é fruto de uma relação de trocas entre a sociedade, a cultura e as novas
tecnologias de base micro-eletrônicas surgidas na década de 70, graças à convergência das
telecomunicações com a informática, as TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação).

As TIC têm facilitado de forma incontestável a interação online e isso vem


reconfigurando os espaços de socialização tradicionais, alterando, também, a própria estrutura
da sociedade: essa nova forma de comunicação, na qual o computador é o mediador, causou
as mais variadas modificações para o meio. Com isso, alguns conceitos como os de
comunidade e cultura, foram alterados.

2.4. Comunidades Virtuais


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Ainda que não estejam fisicamente próximos, os integrantes dos grupos que interagem
no ciberespaço em torno de interesses comuns formam verdadeiras comunidades, afinal, uma
comunidade tanto pode ser formada a partir de relações estabelecidas por pessoas que vivem
próximas umas das outras, geralmente sob convenções comuns (nos bairros de uma cidade,
por exemplo) como por outras que formam grupos sociais que dividem interesses comuns
(religiosos, profissionais, sociais, etc.), independente de sua localização física, como o local
onde residem os membros. Dessa forma, a não ser pelos meios de comunicação por meio dos
quais a interação do grupo se dá, nada difere as comunidades virtuais das comunidades
tradicionais. Essas comunidades virtuais formam a cibercultura, termo utilizado na definição
dos agenciamentos sociais das comunidades no espaço eletrônico virtual, o ciberespaço.

Pierre Lévy nos fala sobre a gênese da cibercultura e de como as comunidades virtuais
que participam dela estabeleceram outras mudanças na sociedade, especialmente no mercado
tecno-econômico, dotando o ciberespaço de novas tecnologias, transformando-o em um novo
mercado para a informação e o conhecimento:

No final dos anos 80 e início dos anos 90, um novo movimento sócio-cultural
originado pelos jovens profissionais das grandes metrópoles e dos campus
americanos tomou rapidamente uma dimensão mundial. Sem que nenhuma
instância dirigisse esse processo, as diferentes redes de computadores que se
formaram desde o final dos anos 70 se juntaram umas às outras enquanto o
número de pessoas e de computadores conectados à inter-rede começou a
crescer de forma exponencial. Como no caso da invenção do computador
pessoal, uma corrente cultural espontânea e imprevisível impôs um novo
curso ao desenvolvimento tecno-econômico. As tecnologias digitais surgiram,
então, como a infra-estrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação,
de sociabilidade, de organização e transação, mas também novo mercado da
informação e do conhecimento. (LÉVY, 1999: 32).

3. CONCLUSÃO
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É inegável que o advento da internet mudou a maneira de nos comunicarmos. Hoje, as


informações chegam instantaneamente a todos os cantos do mundo. Essa possibilidade que as
novas TIC nos proporcionam, a de interação de forma inédita, é instigante e tem um potencial
praticamente infinito.

Existem comunidades na Internet dedicadas aos mais variados propósitos, interessadas


em temas os mais diversos: dos científicos aos mais banais. A interação online pode ter vários
propósitos: compras, transações bancárias, pesquisas, sexo virtual, enfim, praticamente não há
limites para o que as pessoas procuram – e encontram – na internet. Os mecanismos de busca,
tais como o Google, tornaram ainda mais fácil a localização de tudo o que está disponível na
Web para qualquer usuário, seja ele novato ou já experimentado no ambiente virtual.

Porém, além do aspecto da comunicação, também se observa uma massificação de usos e


costumes, que não se restringem mais aos países ou regiões de origem: a música que a
adolescente brasileira ouve, também está tocando na Austrália, por exemplo.

Mas, até que ponto essa massificação é benéfica? Vejamos o caso do Brasil, por exemplo,
que é um país que apresenta profundos contrastes sociais: em muitos lugares deste país
crianças e adolescentes mal têm acesso à alfabetização, muito menos aos computadores e, por
conseguinte, às tecnologias modernas. Essa parcela da população é pobre, estuda em escolas
de taipa, feitas de lata ou com paredes de isopor, ou mesmo sem paredes, sob uma árvore ou
dentro de uma choupana. Moram em lugarejos que muitas vezes nem dispõem de telefone,
quem dirá de laboratórios de informática públicos ou lan-houses (lojas onde se disponibilizam
computadores com acesso à Internet e se cobra uma taxa por tempo de utilização). Onde é que
entra a globalização, nessa realidade? Qual as vantagens proporcionadas pelas TIC para essas
crianças e jovens? É fácil observar que existe uma marginalização de boa parcela da
população: a chamada exclusão digital.

Tais condições não se restringem ao Brasil: encontram-se em muitos países, os chamados


“países em desenvolvimento”. Assim, depreende-se que, na verdade, o mundo não está
globalizado de forma democrática: apenas uma pequena parcela da população mundial tem
acesso às inúmeras possibilidades de uma comunicação rápida e sem fronteiras geográficas.
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Existem inúmeros pontos positivos na informatização dos meios de comunicação, porém,


não se podem descartar os pontos negativos dessa nova forma de sociabilização mediada pela
Internet. Descrever todos os prós e contras desse movimento seria impossível neste trabalho,
pois é um assunto vasto e complexo. Mas, apenas para citar um dos contras, além da já citada
exclusão digital a que está exposta uma grande parcela da população, podemos ressaltar a
questão da virtualização da vida. Existem pessoas que vivem de tal forma dependentes de
computadores e de relacionamentos virtuais que não conseguem mais interagir
presencialmente com outras pessoas, ou ter atividades tão rotineiras quanto ir a um
supermercado ou visitar um amigo em sua casa.

Ou seja, todo o potencial e as facilidades encontradas e produzidas pela cibercultura


também têm o seu ônus e ele se apresenta de forma bem nítida: a interação pessoal, o calor
humano, por exemplo, se perdem, pois esse meio é impessoal. Além disso, o ciberespaço
propicia a determinados indivíduos uma verdadeira rota de fuga de si mesmos, já que o
usuário da Internet pode se manter indefinidamente em anonimato, ou se apresentar como
alguém absolutamente diverso de quem realmente é, enfim, não há regras de conduta pré-
estabelecidas.

Precisamos de tecnologia, sim, até porque, mesmo aqueles que têm aversão a ela e são
detratores ferrenhos da Internet têm de admitir que o processo é irreversível: nada será como
antes na maneira de nos comunicarmos ou de interagirmos. Porém, a sociedade terá de
encontrar maneiras de amenizar os efeitos colaterais da informatização como, por exemplo,
lutar contra o fenômeno do “encapsulamento”, ou seja, mesmo que, hoje em dia, seja possível
viver dentro de casa e só interagir com o mundo exterior por meio de PCs, câmeras WEB e
celulares, nunca se deveria abrir mão do contato físico com outros seres humanos, pois ele é
essencial para a sobrevivência e perpetuação da nossa espécie. Isso é um fato e tecnologia
nenhuma, presente ou futura, será capaz de mudá-lo.

BIBLIOGRAFIA
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BOENTE, A. Metodologia Científica Contemporânea para Universitários e


Pesquisadores. – 1ª Ed. – Rio de Janeiro: Brasport, 2004.

LEMOS, A. L. M. As Estruturas Antropológicas do Cyberespaço. Disponível em:


<http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/estrcy1.html>. Acesso em 08 de abril de 2008.

LÉVY, P. Cibercultura. – 1ª. Ed. – São Paulo: 34 Ed., 1999.

RECUERO, R. C. Comunidades Virtuais – Uma Abordagem Teórica. Disponível em:


<http://www.bocc.ubi.pt/_esp/autor.php?codautor=750>. Acesso em 08 de abril de 2008.

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