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REPÚBLICA E TRIBUTAÇÃO SOLIDÁRIA: CAMINHO EM DIREÇÃO DE

UMA CIDADANIA POLITICAMENTE ATIVA PARA O SÉCULO XXI*

REPUBLIC AND TAXATION: THE WAY TOWARDS A POLICALLY ACTIVE


CITIZENSHIP FOR THE 21ST CENTURY

Eloi Cesar Daneli Filho


Hugo Thamir Rodrigues

RESUMO

Os postulados neoliberais estão em franca revisão pelos governos de países que antes o
divulgaram como a salvação da democracia capitalista ocidental. Especialmente aqueles
relacionados com o Estado alienado às questões sociais e à política tributária. Eis que
novamente se percebeu que o Estado tem uma função muito importante,
consubstanciada na condução de políticas públicas de inclusão social e de políticas
públicas que visem a obtenção de recursos que lhes dêem aporte da forma mais justa
possível. A cidadania, como conceito de inclusão social, tem implicações com as
políticas públicas tributárias e é limitada por figuras como o clientelismo e, por outro
lado, fomentada pelo civismo. As políticas públicas tributárias fiscais, isto é, com
finalidade de carrear recursos financeiros para que o Estado possa efetivar direitos
sociais, estão imbricadas com o conceito de cidadania, que um dos limites
constitucionais ao poder de tributar é a proibição de que os tributos incidam sobre o
mínimo vital.

PALAVRAS-CHAVES: CIDADANIA, ESTADO, NEOLIBERALISMO, POLÍTICA


FISCAL.

ABSTRACT

The neoliberal postulates are honest review by governments of countries that previously
disclosed as the salvation of Western capitalist democracy. Especially those related to
the state sold to social issues and tax policy. Here again it is noticed that the state has a
very important role, reflected in the conduct of public policies for social inclusion and
public policies to raise the resources to give them support in the most equitable possible.
Citizenship as a concept of social inclusion has implications to public policies and tax is
limited by figures such as political patronage and, moreover, encouraged by the civility.
Public policies tax revenue, that is, with the purpose of financial resources to carry the
State can carry out social rights, are interlinked with the concept of citizenship, the
limits that the constitutional power to tax is the ban on the taxes imposed on the
minimum vital.

KEYWORDS: CITIZENSHIP, NEOLIBERALISM, STATE, TAX POLICIES.

*
Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo –
SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009.

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1 INTRODUÇÃO

O fenômeno político mais marcante dos últimos dias é sem dúvida a eleição de um afro-
descendente para o cargo de maior importância para o Planeta Terra, o de Presidente
dos Estados Unidos da América. Tal evento pode até significar um novo marco para o
século XXI. O fenômeno não tem importância apenas no sentido de ruptura de uma
tradição racial em que apenas caucasianos exerceram o cargo presidencial norte-
americano, mas sim uma importância política sem precedentes. Isto se diz motivado
pelas promessas de um governante já eleito dos Estados Unidos da América,
consistentes em que o Estado volte intervir em favor das pessoas com justiça. Nas
palavras de Gordon Brown, que ao felicitar Barack Obama diz:

Barack Obama fez uma campanha inspiradora, energizando a política com seus valores
progressistas e sua visão de futuro. Eu conheço Barack Obama e nós dividimos
inúmeros valores. Nós temos determinação para mostrar que o governo pode agir
ajudando pessoas com justiça em meio a esses tempos difíceis na economia global.[1]

Essas são palavras de um dos maiores líderes, em termos de potência econômica,


política, bélica e cultural, do mundo ocidental e talvez de todo o planeta, retratam com
nitidez o momento que o mundo passa, no sentido de um enfraquecimento do modelo
(neo)liberal e de um repensar do Estado em direção a um modo de intervenção em favor
dos cidadãos.

A mudança de pensamento político de governantes de países como os Estados Unidos


da América e do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, não pode, de
modo algum, passar despercebido. Esses países estiveram na vanguarda do movimento
de desarticulação do Estado de Bem-estar Social com os governantes Ronald Reagan e
Margareth Thatcher.

Diante desse fato pode-se concluir que está em andamento uma mudança, uma
revisão dos postulados neoliberais que se dão exatamente em reforço de uma cidadania
multicultural, plural e global.

No presente estudo, item 2, apresenta-se, com apoio no pensamento de Liszt


Vieira, um contraponto entre o neoliberalismo e a cidadania. Em que pontos estão em
harmonia e em que ponto se repelem. Nesse sentido, são trazidas a lume as críticas ao
modelo liberal e suas manifestações políticas como a comunitarista e seu meio termo
ou, terceira via, a social democracia. Tudo isso para chegar ao entendimento de que para
formular uma teoria da cidadania faz-se necessário proporcionar oportunidade de
análise dos sistemas econômicos e políticos dos diferentes países em sede comparativa,
com o objetivo de ajudar a desenvolver direitos de participação, bem como possibilitar
elucidação da sociedade civil em seus diversos aspectos e de sua organização social, eis
que essa teoria objetiva organizar a pauta das reivindicações sociais e antever as
conseqüências dos conflitos ideológicos presentes na sociedade. Além, de demarcar a
compreensão do nexo de solidariedade que mantém o conjunto social.

Em vista do delineado no item 2, o item 3 é escrito com vistas a sublinhar na


CF/88 os princípios republicano e federativo que apontam de forma indubitável para

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superação do modelo liberal, haja vista que existe uma previsão expressa, segundo a
qual, o modelo é de um Estado Democrático de Direito.

Na seqüência são demonstrados os contrafortes do princípio republicano que são


as virtudes cívicas preconizadas pelo Republicanismo. Nesse tópico são trazidos os
elementos históricos fundamentais da República, bem como a releitura pela qual passou,
para que seja considerada hoje uma teoria de fundamental importância para a cidadania
e a participação cívica.

No quinto momento são trazidos em contraponto, dois elementos fundamentais


para o presente texto: o clientelismo e o civismo. O clientelismo é figura marcante e
considerado um obstáculo para a democracia e a República uma vez que, o que vem em
primeiro lugar são as vantagens materiais que as pessoas auferem por comportar-se
dessa ou daquela forma, de acordo com a vontade daquele que detém maior poder e uma
maior rede clientelística. Por outro lado o civismo é de fundamental importância na
superação de problemas com a pobreza e as desigualdades sociais.

No penúltimo tópico a solidariedade e colocada sob cotejo com a noção de


República sob o ponto de vista da tributação, que é a forma como o Estado arrecada
recursos para poder distribuí-los entre os cidadãos de forma direta ou indireta.

O último capítulo trata especificamente de como os recursos auferidos na forma


de tributos arrecadados solidariamente podem ser divididos entre os cidadãos de uma
forma justa, de modo a erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade social.

2 (NEO)LIBERALISMO E CIDADANIA

A modernidade trouxe um novo paradigma: o liberalismo. Um dos seus esteios, além da


idéia de contrato social, divisão de poderes e liberdades individuais, foi o resgate da
idéia de cidadão da antiguidade clássica.

As vantagens que advieram dessa mudança de visão de mundo, consubstanciadas na


adoção do liberalismo político num contexto de Estados-Nação e de modo de produção
capitalista, foram muitas. O poder não ficou concentrado exclusivamente nas mãos de
um déspota absolutista e as pessoas deixaram de ser súditas de um rei e servas para,
então, serem entendidas e situadas no mundo como cidadãs.

Contudo, historicamente o liberalismo político foi sendo desacreditado em razão de


algumas falhas, principalmente aquelas que dizem respeito à igualdade e à justiça. Num
primeiro momento sofre críticas quanto as relações entre capital e trabalho, depois entre
consumidor e produtor. Também advieram crises em relação a quem poderia eleger os
representantes e sobre a diversidade de pessoas que seriam consideradas cidadãs.

É nesse contexto caótico da crítica ao liberalismo democrático que o termo cidadania é


discutido e revisitado pela doutrina. A fim de conceituar “cidadania”, Liszt Vieira faz
um paralelo entre os significados de cidadania e sociedade civil. Aponta, esteiado e
Janoski, como marcos teóricos da conceituação de cidadania na atualidade a teria de
Marshall, a teoria de Tocqueville/Durkheim e a teoria marxista/gramsciana. Cada uma

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dessas teorias tem o seu enfoque principal, quais sejam, respectivamente, a primeira faz
constatações acerca da cidadania sob o ponto de vista exclusivamente dos direitos e está
mais associada ao ideário liberal. A segunda concentra seu foco na cultura cívica e
entende que a cidadania não está restrita ao campo de reconhecimento estatal podendo
ser estendida a organizações civis e voluntárias. Procurando, assim, abrir campo para a
sociedade civil organizada. A terceira teoria defende que a cidadania deve ser protegida
pela sociedade civil de eventuais abusos estatais.[2]

O texto aponta como definição de cidadania, que esta pode ser descrita como
“status” ou como “processo”. No sentido de “status” destaca a posição de Janoski, que
sustenta ser a cidadania uma forma de sentimento de pertencimento ao Estado-nação
que os indivíduos têm acompanhado de direitos e deveres imanentes a condição de
cidadão. Na linha de um sentido dinâmico, isto é, da cidadania como um processo,
assinala o pensamento de Somers que entende cidadania como uma rede de
relacionamentos que se verificam no idioma, na política dentro de uma comunidade
nacional. Já Turner, segundo o autor, ensina que a cidadania compõe um agrupamento
de condutas sociais consubstanciadas nas práticas políticas, econômicas, jurídicas e
culturais que inserem o sujeito como membro da sociedade.[3]

Contudo, conclui que direitos e obrigações de cidadão resultam do


reconhecimento do Estado que lhes dá validade e age politicamente no sentido de uma
implementação. Assim, cidadania é um processo de construção não se podendo falar de
direito de cidadania e sim da existência de inúmeras variáveis que torna complexa a sua
definição.[4]

Portanto, sociedade civil e cidadania são noções diferentes, uma vez que a
cidadania é reforçada pelo Estado e a sociedade civil engloba os segmentos sociais afins
ou em conflito. Conclui o autor que tanto sociedade civil como a cidadania são
“empiricamente contingentes”.[5] O significado de tal expressão remete à diversidade
de regimes e teorias nas quais tanto sociedade civil como a cidadania estão
contextualizados. Daí que, a cidadania pode ser encarada diferentemente em uma
sociedade de regime liberal ou comunitarista.

O autor, a fim de estabelecer uma relação entre cidadania e sociedade civil,


indica uma necessária imbricação entre política e o empirismo na contraposição de uma
crítica liberal, uma comunitarista, social-democrata, nacionalista, multiculturalista,
feminista.

O liberalismo é o regime dos países desenvolvidos, nesse regime, sustenta o


autor, a teoria comunitarista e social-democrática não é popular, priorizando o indivíduo
e seus direitos imanentes, reflexos das liberdades. Nessa seara os direitos sociais são
evitados uma vez que representam uma deturpação das liberdades individuais. Cita
como teórico do liberalismo o filósofo americano John Rawls cujo pensamento liberal
está marcado por um viés social bem acentuado, uma vez que propõe uma idéia de
cooperação cívica para superar os problemas do individualismo que obstaculiza a
unidade social.[6]

No outro pólo, o comunitarismo prioriza a comunidade em detrimento do


indivíduo, invoca como elemento chave para a coesão social a solidariedade. Nessa
teoria, os direitos são conferidos na medida que as obrigações são cumpridas. Para o

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autor, Rawls representa o equilíbrio entre a idéia liberal pura e a preocupação com o
social da atualidade, eis que “o declínio da solidariedade entre os cidadãos e a ausência
do senso de destino único estariam na raiz dos grandes males da modernidade”.[7]

Na concepção comunitarista, ao contrário da concepção liberal, a cidadania deve


ser encarada com dinamicidade, eis que é, efetivamente, uma atividade, uma prática.

O texto aponta Habermas como maior crítico das visões polarizadas de


cidadania consubstanciadas nas teorias liberal e comunitarista. Aponta um “modelo
analítico próprio” o modelo de espaço público.[8]

Nesse contexto bipolarizado (liberalismo x comunitarismo), dá-se a crítica


social-democrata, consistindo, segundo Janoski, na chamada terceira via. A teoria
social-democrata busca um “equilíbrio entre os direitos individuais, direitos do grupo e
obrigações”, o que culmina em um processo complexo de construção a partir de uma
noção de indivíduo participante ativo dos processos políticos da comunidade,
denominando-a de democracia expansiva.[9]

No contexto do Estado-nação dá-se a crítica nacionalista que diz a cidadania está


diretamente relacionada à formação de uma consciência nacional, que marca nos
indivíduos um sentimento de pertencimento à comunidade nacional com uma herança
comum.[10]

Contudo, a crítica multiculturalista é contundente no que diz respeito ao


nacionalismo, pois esse busca padronizar comportamentos e ideologias desrespeitando
as diferenças culturais existentes. Por outro lado, o Estado-nação ainda é fundamental
para garantir a cidadania nacional ou pós-nacional.[11]

De outro lado, o feminismo como movimento social, também critica o


liberalismo porque o liberalismo relega as mulheres funções de segunda classe as
encarando como cidadãs diferenciadas. Destaque importante para o feminismo da
diferença que representa a mais contundente corrente de oposição ao liberalismo. Aqui
o expoente teórico maior é Iris Young, que coloca um argumento irrefutável por parte
dos liberais, segundo o qual, o liberalismo prega liberdades iguais, no entanto nega
diferenças entre homem e mulher discriminando a última.[12]

Diante do quadro empírico e teórico explanado, o autor constata que existem


múltiplas cidadanias eis que se vive em sociedades de culturas diferentes e a justiça
como equidade deve levar em conta a grande heterogeneidade dos seres humanos e de
suas condições. Além disso, o centro dessas heterogeneidades está na política como
ferramenta de construção da cidadania. Com base na idéia de Walzer o autor sustenta
que “a cidadania política é a arena onde se estabelece um mínimo de unidade
nacional”.[13]

Conclui que o momento enseja uma revitalização do conceito de cidadania, o


que implica em formular uma teoria da cidadania que envolva os seguinte objetivos: a)
proporcionar oportunidade de análise dos sistemas econômicos e políticos dos
diferentes países em sede comparativa, com o objetivo de ajudar a desenvolver direitos
de participação; b) possibilitar elucidação da sociedade civil em seus diversos aspectos e
de sua organização social, eis que essa teoria objetiva organizar a pauta das

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reivindicações sociais e antever as conseqüências dos conflitos ideológicos presentes na
sociedade; c) demarcar a compreensão do nexo de solidariedade que mantém o conjunto
social.

Também nesse contexto, o ideal republicano, que serviu de mote para o giro
político consubstanciado na mudança do paradigma feudal e estamental de Estado, deve
ser revisitado. Eis que o cidadão moderno de forma alguma pode ser entendido como o
pertencente à República da Antiguidade ou do Renascimento. Dessa forma, República e
Cidadania são assuntos que se relacionam intimamente, pois, não se pode falar em
República em seus membros não tenham interesse nos assuntos de Estado, ou, por outro
modo, em Cidadania que não tenha acesso aos processos de tomada de decisão política
dentro de seu Estado.

Por esses motivos é que se sustenta, corroborado pelo pensamento de Liszt Vieira, que,
conquanto o liberalismo auxiliou na formulação de idéia de uma cidadania universal,
fundada na idéia de que todos nascem livres e iguais, por outro modo, relegou a
cidadania a condição de status legal, deixando mais salientes apenas os direitos que os
indivíduos possuem contra o Estado. Sustentando não ser relevante a forma como são
exercitados esses direitos, contanto que as pessoas não quebrem os preceitos legais ou
violem direito pertencente a outros. Dessa forma, para o liberalismo, o cooperar em
sociedade tem o único objetivo de tornar fácil o alcance da felicidade dos indivíduos
isoladamente. “Idéias como consciência pública, atividade cívica e participação política
numa comunidade de iguais são estranhas ao pensamento liberal.”[14]

Continua Vieira, contrapondo à idéia do liberalismo a concepção republicana,


dizendo:

A visão republicana cívica, por outro lado, enfatiza o valor da participação política e
atribui papel central à inserção do indivíduo numa comunidade política. O problema é
como conceber comunidade política de forma compatível com a democracia moderna e
com o pluralismo. Ou seja, como ‘conciliar a liberdade dos antigos com a liberdade dos
modernos’.[15]

Conciliar as liberdades com o interesse público, para os liberais, é um exercício


impossível, pois o interesse público, o bem comum só é alcançado em havendo um
poder totalizante, além de sustentarem que as virtudes cívicas imanentes à República
são conceitos obsoletos e a liberdade deve ser entendida apenas como uma abstenção
coercitiva estatal.[16]

Outro é o entendimento adotado para o fim desse artigo, que se dá no sentido de


serem plenamente compatíveis os ideais liberais de liberdade e uma atitude pró-
interesse público e politicamente ativa e atuante. Todavia uma pró-ativa capaz de
romper com um paradigma liberal consolidado requer exercício das habilidades
políticas e cívica por parte das pessoas que compõem a sociedade.

Vieira argúi nesse sentido que:

A liberdade individual somente pode ser garantida numa comunidade cujos membros
participam ativamente do governo, como cidadãos de um estado ‘livre’. Para assegurar a

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liberdade e evitar a servidão, devemos cultivar as virtudes cívicas e nos dedicar ao bem
comum.[17]

Há, portanto, como se depreende da idéia de Vieira, uma via de mão dupla entre
liberdades individuais e bem comum. As liberdades devem ser exercitadas sob o
aguilhão das virtudes cívicas e pelos parâmetros do bem comum. Isto porque há um
equilíbrio necessário entre o que pode ser feito e o que deve ser feito. Muitas vezes os
interesses privados conflitam com os interesses públicos.

Desse conflito entre interesses privados e interesses públicos, em não havendo o


equilíbrio fomentado pelas virtudes cívicas, resulta que o (neo)liberalismo pode ser
daninho à sociedade, uma vez que, como visto, incumbe apenas ao indivíduo impor seus
próprios limites em relação ao interesse privado do outro. Dessa forma é que surgem
desigualdades sociais e pobreza, porque o individualismo liberal não se preocupou em
limitar a liberdade pelo viés daquilo que é bom para todos.[18]

Por outro lado o Republicanismo e a Constituição da República Federativa do


Brasil de 1988 (CF/88), a segunda um documento jurídico inspirado inteiramente a
partir dos postulados do primeiro, procuram incutir a idéia de participação de todos na
redução das desigualdades sociais e erradicação da pobreza, como se verá adiante.

3 PRINCÍPIO REPUBLICANO E SEUS DESDOBRAMENTOS

No mundo hodierno vê-se um esboroamento dos esteios que outrora estruturaram a


política da sociedade por vários séculos[19], consubstanciados no Estado moderno. A
República, longe de ser a quimera da humanidade, surgiu como uma alternativa real,
primeiro, em Roma, à Tirania, depois, nas cidades do norte da Itália, durante o
Renascimento, em contraposição ao regime absolutistas papal e a dominação de alguma
potência estrangeira; além desses, destacam-se, a experiência inglesa, com Cromwell,
bem como, a francesa no período posterior a Revolução de 1789 e a formação dos
Estados Unidos da América. Tais eventos políticos históricos constituem os marcos do
Republicanismo para a humanidade.[20]

A República chega até os dias de hoje, renovada (relida), como alternativa às “múltiplas
crises que afligem a sociedade”[21], uma vez que seus princípios republicanos resgatam
o civismo e as virtudes cívicas.[22] Nesse sentido, os ideais republicanos são capazes de
trazer novas perspectivas e esperança “à estrutura política da sociedade”, aprimorando a
democracia, fomentando a cidadania ativa, “considerado como forma de governo
pautada por um núcleo axiológico, configura-se como teoria política que pode realmente
assegurar a liberdade dos cidadãos, impedindo que interesses privados ou a vontade de
um déspota possam privá-los de seus direitos”.[23]

Na acepção apresentada por Agra, e que importa para o presente ensaio, o


Republicanismo “[...] representa um profundo significado social. Sua dimensão moral,
as virtudes civis, remodela as relações sociais, firmando-se sob o parâmetro da
liberdade, da igualdade, do autogoverno e do respeito à res publica”[24].

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Agra delineia os contornos do conceito de Republicanismo a partir do que ele chama de
“radical comum”, ou seja, suas principais características, que são: a) negação de
dominação em qualquer de suas acepções (escravidão, feudal, assalariada, etc.); b)
propagação e proteção ao civismo e as virtudes cívicas; c) edificação de um Estado de
direito; d) implementação da democracia participativa; e) fomento do governo pela
cidadania; f) a adoção e execução de políticas públicas diminuidoras das desigualdades
sociais, isto é, busca de igualdade substancial.[25]

Talvez aí, como quer Sérgio Cardoso, possa se identificar o porquê da escolha
dos princípios republicanos. O autor explica que:

[...] a importância que adquire no pensamento republicano a questão da participação


política, da implicação efetiva de todos na expressão e realização do bem comum (a
exigência que mais aproxima as repúblicas das democracias, os regimes fundados na
convicção de que o interesse de todos melhor realiza pelo igual concurso de todos, na
formação das decisões políticas, do que pela inteligência ou virtudes de um ou de
alguns). O regime republicano não propõe apenas que o poder seja contido por leis e se
exerça para o povo, em vista do bem comum, mas exige ainda que seja exercido, de
algum modo, por todo o povo, ou ao menos em seu nome – nos casos em que admite a
representação política. [26]

Como contraposição histórica dos regimes tirânicos, absolutistas, baseados em


regimes teocráticos, a República repousa seus alicerces na soberania popular. Retira o
poder de papas, sacerdotes, reis e ditadores para entregá-lo ao povo. Aí, por via de
conseqüência é possível que o povo escolha um gestor público dentre aqueles
pertencentes às classes mais pobres, uma vez que o que vale mesmo para o regime
democrático são as virtudes cívicas. Em virtude dessa qualidade do regime republicano,
ele é a forma de governo legitimada de forma patente pelo apoio popular. O mesmo não
ocorre com os regimes monárquicos, ainda que constitucionais.[27]

O entendimento de Agra, descrito no parágrafo anterior, é corroborado por Ataliba que


afirma que se for perguntado ao povo acerca da preferência em estar distante do
governo e impedido de realizar algum controle ou fiscalização, ou, ainda, se gostaria
que se retirasse o acesso às informações das funções do governo, e, mais, se desejaria
ter governantes desconhecidos por ele não escolhidos, a resposta certamente seria não.
O povo, segundo Ataliba, responderia que não quer um governo monárquico ou outras
formas não democráticas ou não representativas.

A atualidade do Republicanismo se deve ao fato que sua releitura e a aplicação


de seus corolários valorativos implicam na manutenção da estabilidade social,
aperfeiçoam os processo democráticos, e, conseqüentemente permitem que o Estado
consiga prestar de forma mais eficaz suas finalidades constitucionalmente previstas.[28]

Os valores implicados com o Republicanismo têm uma relação patente entre o


interesse público como patrimônio coletivo, e, serve, além disso, como antídoto de
práticas tradicionais não condizentes com o civismo. Esse ideário republicano, na
esteira do argumento apresentado por Godoi[29], encaixa-se na idéia de mudança de um
paradigma liberal-individualista para um modelo solidário. Em Estados
republicanos sob a orientação dos princípios de republicanismo vislumbra-se, também
uma identificação com a coexistência com as diferenças sociais em seus mais diferentes

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matizes, no sentido de que a liberdade preconizada pelo ideário republicano, “definido
como ausência de domínio”, coloca sob seu pálio protetivo as minorias, uma vez que
respeita seus direitos obstando atos por parte das maiorias ou outros grupos minoritárias
mais poderosos.[30]

Por isso, as virtudes cívicas próprias do ideário republicano fomentam o


crescimento dos espaços públicos em quantidade e qualidade. Quanto a quantidade,
ocorre uma democratização no que diz respeito às decisões acerca das diretrizes
políticas do governo com a participação da cidadania ativa. Sob o prisma da qualidade,
essa democratização, já ampliada pela participação de grande número de atores sociais,
faz com que melhore a fiscalização dos negócios públicos. Tudo isso acarreta uma
melhora no processo de elaboração e de escolha de políticas públicas. É nesse sentido
que se pode sustentar que o “Republicanismo democratiza o poder ao torná-lo acessível
à população de forma indistinta”.[31]

Contudo, o Brasil, com os já 20 anos de tradição democrática, contados a partir


da CF/88, ainda enfrenta problemas e desafios do século XXI quanto a efetivação do
princípio republicano e federativo. Tais problemas residem, principalmente, na falta de
civismo e na existência de uma figura denominada pela doutrina de “clientelismo”. O
clientelismo viceja em espaços onde existe uma grande desigualdade de renda, as
pessoas com menos poder aquisitivo buscam proteção (econômica) com aquelas que
detêm um maior. Tais problemas serão abordados no próximo tópico.

4 O SÉCULO XXI E A PRÁTICA CLIENTELISTA

O Clientelismo, para ser compreendido em termos atuais, dentro dos parâmetros da


ciência e da sociologia política, deve ser resgatado em sua origem quando de seu início,
nos tempos antigos da clientela romana. Nesse contexto, era entendida como clientela a
relação entre sujeitos de status diferentes, entabulada na órbita da comunidade familiar.
Havia uma relação de dependência econômica e política, reconhecida pela autoridade
religiosa, entre o patronus, indivíduo de classe social mais elevada, e seus clientes,
conhecidos como libertos. Tal relação implicava no dever de proteção tocante ao
patronus para com o cliente, consubstanciada na defesa em juízo, destinação de terras
para criar e plantar, entre outros. Ao cliente a relação de Clientelismo implicava em
submissão e deferência, além de obedecer e auxiliar de inúmeras maneiras quanto fosse
possível ao patronus, inclusive defendendo-o com armas e pelo uso da força. Não é de
se admirar que nessa sociedade a comunidade doméstica viesse em primeiro lugar e a
comunidade política estatal depois.[32]

Em ciência política o uso do termo se dá em pesquisas acerca da modernização


política, bem como no cotejo entre realidades sociais em processo de mudança do
tradicional para o moderno. Num contexto em que o modo de produção capitalista e a
organização política moderna se orientam em um aparato estatal centralizado,
compenetrando-se, sem, contudo, lograrem êxito na erradicação de relações tradicionais
do sistema político preexistente.[33]

A democracia liberal-republicana, bem como as novas instituições públicas,


causa alguma ruptura na organização clientelística. Isso porque as relações de

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dependência pessoal são formalmente excluídas. Contudo, as relações de clientelismo
tendem a adaptar-se e conformar-se dentro das estruturas legais e das instituições. A
única diferença existente entre as relações de clientela pré-modernas e as atuais, é a de
que no primeiro caso os sistemas clientelísticos estavam organizados como verdadeiros
microssistemas autônomos apresentados como alternativa à ordem estatal. A exemplo
das organizações mafiosas. No segundo caso, como se disse, as relações de clientela
unem-se numa posição subordinada ao sistema político. Como exemplo pode ser dado o
caso de alguns partidos políticos.[34]

No Brasil, as relações clientelísticas se sobressaem de modo mais pontual em


políticas públicas constitutivas e na possibilidade de emenda ao orçamento público sem
a participação dos cidadãos.[35] Advirta-se, porém, que as aparições da figura
conhecida como clientelismo não para por aí. Outros modos de sua manifestação “legal”
podem ser constatados no cenário político e no ordenamento jurídico brasileiro.

A figura do intermediário entre o poder público e os clientes geralmente está a


figura do notável, que recebe um tratamento privilegiado por parte do poder político em
vista de que tem em sua mão muitos votos. A outra face da moeda lhe rende apoio
eleitoral por que consegue favores e obras públicas junto às autoridades em nome de
seus representantes. Tal situação é patente quando se verifica um distanciamento entre o
Poder do Estado e as necessidades dos cidadãos.[36]

O clientelismo relaciona-se também com a burocracia moderna. Nessa situação,


a oferta de favores em troca de consenso eleitoral se dá também na obtenção de cargos
públicos, financiamentos, empregos, etc. Nessa modalidade o clientelismo assume a
forma de uma “rede de fidelidades pessoais”, que vai do uso pessoal pela classe política
dos recursos estatais até a apropriação de recursos da sociedade civil.[37]

Em suma, o clientelismo “envolve formas de aquisição do consenso por meio de


permuta”[38]. Tal processo se faz evidente nas negociatas políticas que por ocasião da
nomeação dos ministérios em termos de União e de secretarias nos âmbitos Estadual e
Municipal.

O fato apontado consistente em que os cidadãos do norte são mais ativos


civicamente, e também de manterem relações horizontais, em contrapartida ao fato de
que os cidadãos do sul estarão mais adstritos aos vínculos hierárquicos e clientelistas,
demonstra claramente o contraponto entre clientelismo e civismo. Onde está um o outro
não viceja, porém o clientelismo não é facilmente eliminável. Pode, contudo, haver um
equilíbrio em que o clientelismo não atrapalhará as relações sociais duradouras e a
democracia de desempenho efetivo.

É nesse sentido que se reconhece que o desempenho de governos está


relacionado de forma estreita com o civismo e a política da comunidade. Em
comunidades onde vicejam associações cívicas, cidadãos se informam sobre os
acontecimentos comunitários e se politizam o resultado é que a comunidade fecha as
portas ao famigerado clientelismo e seus governos passam a ser mais eficientes.[39]

Os vínculos clientelistas desfazem/impedem a organização comunitária voltada para


cooperação e a solidariedade, pois em relações desse jaez, o que existe é dependência,
oportunismo, exploração e omissão. Aqui as relações são sempre verticais. Já nas

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relações marcadas pelo civismo a ordem é a reciprocidade, autonomia, colaboração
mútua, lealdade; dão-se em rede e horizontalmente.[40]

O clientelismo, dentre outras, consiste em uma das alternativas racionais de solução do


problema de coexistência em uma comunidade de convivência hobbesiana, ou seja, de
guerra de todos contra todos.[41] Os membros da comunidade vêem-se diante de um
“dilema da ação coletiva”, nestas circunstâncias todos temem o comportamento violador
das regras por parte do outro, e racionalmente optam por também descumpri-la, para
não serem os únicos a respeitá-la e sofrerem sozinhos os prejuízos.[42] Em muito o
legado ibérico deixado aos países da América Latina se assemelha isso.

Como se afirmou acima é sabido que o clientelismo está, de certa forma,


ajustado e adaptado às instituições políticas e legais do Estado. Dentro mesmo das
políticas públicas, como já foi destacado, existem as políticas constitutivas ou
estruturadoras, que, no Brasil, assumem um caráter marcadamente clientelístico pelo
fato de que, na legislação brasileira, há a possibilidade de se fazerem emendas
individuais em caráter puramente permutativo em retribuição de resultados eleitorais
obtidos ou, em busca dos quais está indo o parlamentar que apresentou a emenda.[43]

Com rigor científico e metodológico, assevera Wanderley Guilherme dos Santos


que, essa espécie de clientelismo chama-se “clientelismo concentrado”.[44]

Wanderley Guilherme dos Santos, para explicar o clientelismo, coloca de um


lado a produção coletiva e privada, e de outro o consumo coletivo e privado. Da
interseção de produção e consumo e seus desdobramentos extrai quatro conceitos
diferentes de bens. Quando ocorre um consumo privado de bens resultantes de uma
produção privada o que resulta é o “mercado”. Já, quando se tem um consumo privado
de bens produzidos de forma coletiva o resultado será o conceito de “clientelismo
concentrado”. Um terceiro conceito, o de “clientelismo difuso” é resultante de uma
produção privada com um consumo coletivo. Por último, quando tanto a produção como
o consumo forem coletivos o conceito resultante é o de “bem coletivo”.[45]

Para o presente estudo, os conceitos que chamam a atenção são os de


clientelismo concentrado e bem coletivo. Clientelismo concentrado, como se frisou
acima, se dá pelo consumo privado de uma produção coletiva. É evidente a relação entre
o conceito trazido e os subsídios fiscais dados nos três níveis da federação brasileira a
pretexto de gerarem emprego e renda. Contudo, tais políticas redistributivas têm efeitos
pouco benéficos sem uma política pública orientada pela solidariedade social. Como
exemplo tem-se bem presente a guerra fiscal existente entre Estados-membros e até
mesmo Municípios. Além, é claro, das hipóteses em que há um enriquecimento de
indivíduos isolados com dinheiro oriundo de tributos.

Ocorre aqui um “dilema da ação coletiva”[46] que leva o administrador de


Municípios e Estados a raciocinarem da seguinte forma: a empresa X, fabricante do
produto “y” sinalizou interesse em instalar-se no território do ente federado
administrado por ele; sua vinda proporcionará a geração de muitos empregos diretos e
tantos outros indiretos; condicionou sua instalação a inúmeros benefícios como
subsídios e isenções fiscais por 30 anos. Os empregos são muito importantes para a
região e para população e, ademais, caso sua administração não preencher as condições

4927
de instalação, ou melhor, os benefícios fiscais não forem concedidos, outro ente
federado certamente dará, e a empresa irá se instalar em outro lugar.

Portanto, fica estabelecido um liame bem nítido entre o que se falará a seguir,
República, Tributação, Solidariedade e políticas públicas fiscais de inclusão social.
Além desse elo apontado, que une as figuras mencionadas, é mister se enuncie que
também a Renda de Cidadania está àquelas jungida, pois a forma como se arrecadam os
tributos (justa ou injustamente), e, a forma como são distribuídos (justa ou
injustamente) determina, a longo prazo, o civismo e a participação das pessoas no
processo político.

5 REPÚBLICA E SOLIDARIEDADE NA TRIBUTAÇÃO

Tanto a idéia de solidariedade como a de Republicanismo, remete a de união e


de cooperação no enfrentamento de problemas comuns das pessoas na vida em
sociedade. A idéia de solidariedade também está associada à idéia de fraternidade.

Em linha de princípio, o valor “solidariedade” está registrado na Declaração


Universal dos Direitos Humanos de 1948. Em seu preâmbulo diz serem todas as pessoas
são “membros da família humana”. No artigo primeiro encontra-se dispositivo onde se
vê que toda a ação humana deve estar marcada pelo “espírito de fraternidade”.

A fraternidade, a liberdade e a igualdade constituem os princípios históricos do


liberalismo em suas lutas contra o absolutismo e o obscurantismo do período
medieval.[47] No entanto, na modernidade o valor solidariedade sempre esteve
associado à caridade.[48]

A República Federativa do Brasil adota na CF/88, como matrizes políticas


princípios fundamentais que, dentre outros, destacam-se, para o fim deste artigo, os da
cidadania, da livre iniciativa e do trabalho e do pluralismo político; autodenominando-
se Estado Democrático de Direito, erige como objetivos construir uma sociedade livre,
justa e solidária, bem como erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais.

No âmbito internacional o Estado brasileiro orienta-se, dentre outras, por uma


política pacífica de solução de conflitos. O que não significa que internamente a solução
de conflitos se dê de forma não-pacífica.

No artigo 5°, inciso XXII, a Constituição Federal elege como direito


fundamental o direito de propriedade, condicionando-o, contudo, a sua função social.

Adiante, no texto da Carta Magna, estão previstos os direitos sociais da saúde,


educação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à
maternidade e à infância, bem como a assistência aos desamparados.

Além desses, ainda, de fundamental importância a menção do artigo 170 e seus incisos.
Dispositivos que apontam os princípios da ordem econômica voltados para a
valorização do trabalho e da livre iniciativa tendo como fim a garantia de uma

4928
existência humana digna conforme os ditames da justiça social. Nos artigos, novamente,
dentre outros, estão arrolados a propriedade privada e sua respectiva função social e a
livre concorrência.

Desse sobrevôo panorâmico sobre a alguns pontos específicos da Constituição Federal,


pode-se concluir que o Estado Democrático de Direito brasileiro está orientado
politicamente segundo valores de uma democracia republicana solidária.

Tal orientação, repise-se, a de uma democracia solidária, indubitavelmente se


projeta para as normas constitucionais tributárias. Pois, em sendo o Estado Democrático
de Direito, o resultado de uma evolução histórica do Estado moderno,[49] e deixando-se
de lado a peculiaridade do caso brasileiro que difere do modelo clássico europeu[50], e
que, além disso, este Estado brasileiro está em constante construção pelos seus
cidadãos, há que se assinalar para o fato de que no Brasil hodierno há uma forte
orientação republicana[51].

No Brasil a efetiva redemocratização ocorreu somente em 1988, com o advento da nova


ordem constitucional. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o Brasil entrou para o rol
dos Estados em que o movimento social-democrático encontra-se em andamento em
algum grau. Esta afirmação se sustenta com base na acolhida pela Constituição dos
Princípios contidos na Declaração Universal de Direitos.

A teoria da justiça de Rawls data do início da década de 1970, concebida com a


influência das idéias de Rousseau, Kant e Locke, sustenta que a vida em comunidade
funda-se num conjunto de motivos individuais ensejadores de uma associação política, a
Sociedade e o Estado. Nessa conjuntura, é que as pessoas buscariam os princípios de
uma sociedade justa.[52]

O neocontratualismo apresentado por Rawls, traz uma versão liberal da sociedade por
considerar a distribuição de bens existente como “fato consumado” em que:

[...] a maximização das expectativas a longo prazo dos menos favorecidos justifica a
“sorte” dos mais favorecidos e, sobretudo, porque define a injustiça não como
desigualdade, mas como “desigualdade excessiva”, na qual o princípio da mútua
vantagem foi violado.[53]

O que se vê na atualidade, ao contrário do que pregava Kelsen[54] em sua teoria pura


do direito, é que o Direito está impregnado de moral, política, ética etc. A própria teoria
da justiça de Rawls leva muito em consideração essas circunstâncias, uma vez que a
escolha das pessoas por princípios que permitam uma diferenciação entre a distribuição
de bens é em si uma escolha política que leva em conta a moral na escolha do direito,
das regras e dos princípios.

Nesse sentido, a opção feita pela sociedade brasileira no final da década de 1980 foi a
de não romper com o modo de produção capitalista e ao mesmo tempo buscar uma
pacificação social por meio de um tratamento com igualdade de ânimo as candentes
questões da distribuição de riqueza, de terras, redução de desigualdades, erradicação da
pobreza.

4929
Conclui-se então que a sociedade pela representatividade dos congressistas que
compunham a assembléia nacional constituinte, optou pela adoção de princípios de
justiça contemplativos do princípio da solidariedade.

Também, é de se ressaltar, que a solidariedade brota da Constituição da República


Federativa do Brasil em vários momentos na questão relativa aos tributos e o princípio
da capacidade contributiva. Isso se diz em caráter meramente teórico uma vez que o
Supremo Tribunal Federal (STF) decide ainda de forma incipiente nessa seara.[55]

É nesse sentido que se concorda com Godoi, ao explicar que a solidariedade, no sentido
de uma postura mais exigente, vai além de um sentido apenas de fraternidade caritativa,
chega a uma efetiva implantação de um sistema de justiça social, pois:

Uma das premissas da teoria de Rawls é de que a justiça é uma virtude que se predica
não de uma norma isolada (como supunha Kelsen em suas investigações sobre o
problema da justiça) mas de um conjunto de normas e instituições que governam
determinada sociedade.[56]

É nítida a opção por um sistema político-jurídico-econômico que não rompesse


de forma abrupta com os interesses econômicos e políticos das elites hegemônicas que
até hoje determinam os rumos do país. Contudo, as mudanças de um quadro social de
profunda desigualdade, lentamente vão se efetivando. Não sem discussão. É por isso
que é possível sustentar que o Brasil de forma deliberada adotou Social-democracia[57]
e República como forma de sustentar o capitalismo e os interesses dominantes, tendo
como viés o objetivo de reformar a sociedade pacificamente.

Tudo isso se disse para chegar ao ponto de que o Estado brasileiro, sem nunca
ter sido um Estado de Bem-estar Social[58], é hoje um Estado Democrático de Direito
(em construção) e tem inúmeras atribuições constitucionais em termos de prestações
ativas a fim de viabilizar os direitos fundamentais de seus cidadãos.

Contudo, existem os pouco falados deveres fundamentais, dentre eles está o de


pagar impostos (assim como existe o de respeito à propriedade). Dessa forma, como
ensina Nabais:

[...] há que se ter em conta a concepção de homem que subjaz às actuais constituições,
segundo a qual ele não é um mero indivíduo isolado ou solitário, mas sim uma pessoa
solidária em termos sociais, constituindo precisamente esta referência e vinculação
sociais do indivíduo – isolado ou solitário, mas sim uma pessoa solidária em termos
sociais, constituindo precisamente esta referência e vinculação sociais do indivíduo –
que faz deste um ser ao mesmo tempo livre e responsável – a base do entendimento da
ordem constitucional assente no princípio da repartição ou da liberdade e de
responsabilidade, ou seja, um ordem de liberdade limitada pela responsabilidade.
Enfim, um sistema que confere primazia, mas não exclusividade, aos direitos face aos
deveres fundamentais [...][59].

No sentido do pregado pelo autor mencionado acima, a solidariedade tem de forma


efetiva um elemento que constrói o discurso jurídico hegemônico, enquanto o processo
de pluralismo jurídico toma forma, já que “o direito não se resume aos atos do
legislador”, e, também, a efetividade social é um elemento fundamental para a

4930
interpretação da norma.[60] Vive-se um momento de “substituição do paradigma
liberal-burguês (proteção do indivíduo contra o poder do Estado) pelo paradigma da
solidariedade”[61].

A solidariedade social, então, deve estar presente na escolha também das


políticas públicas de inclusão social também na área da tributação no Estado
Democrático de Direito em construção pelos seus cidadãos. Tudo isso se conclui de um
raciocínio jurídico e interpretativo do texto constitucional, mantendo-se intocada a
Constituição dirigente e, conseqüentemente, o sistema de direito positivo.

A regra de imunidade tributária que não permite a incidência de tributos sobre o


patrimônio ou renda de templos de qualquer culto, estará em acordo com os princípios
da República e do Estado Democrático de Direito em incidindo o benefício, em termos
de patrimônio urbano, apenas sobre o espaço ocupado pelo templo e pelas instalações
religiosas. Uma extensão da aplicação do privilégio da imunidade a todos os imóveis
que uma instituição religiosa use para manter financeiramente a instituição não está em
conformidade com a República. Assim o é uma vez que tal instituto abrangente teve
lugar em um contexto medieval de Estado Patrimonial Estamental, anterior até mesmo
ao Estado absolutista. Tal instituto obstaculiza a plenitude da democracia.

Então, diante dos argumentos jurídicos expostos, entende-se que o Sistema


Constitucional Tributário deve estar perfeitamente integrado aos princípios republicano
e federativo. Por um lado, para que se levem em conta seus desdobramentos como a
solidariedade social tributária, a justiça social, a capacidade contributiva, e, por outro,
para que se minimize a existência de guerra fiscal como estratégia de sobrevivência em
um ambiente de pouco civismo e marcado pelo clientelismo.

6 REDUÇÃO DE DESIGUALDADES SOCIAIS E ERRADICAÇÃO DA


POBREZA: RENDA DE CIDADANIA COMO SOLUÇÃO

A CF/88 é o documento jurídico que media os interesses entre as diferentes classes


sociais brasileira. Estabelece uma série de princípios orientadores do projeto de
construção do Estado Democrático de Direito e de Cidadania brasileiros. Dentre outros
estão o princípio republicano e federativo, e em especial destaque o objetivo de
“reduzir” as desigualdades sociais bem como erradicar a pobreza.

Importante se frise, que quanto às desigualdades sociais o que se busca é diminuir o


abismo criado por uma tradição autoritária, liberal e patrimonialista de Estado. Já
quanto a pobreza o objetivo é claramente erradicá-la.

No texto “Desigualdades sociais e pobreza: buscando novos enquadramentos”, os


autores, João Vicente e Rosana Campos apontam um contraste perceptível na América
Latina e no Brasil, qual seja, o de uma estrutura social e econômica injusta com uma má
distribuição de renda e apatia social, coexistindo com uma construção democrática. No
contexto latino americano, vislumbram os autores, há uma marca indelével de uma
tradição patrimonialista e clientelista que também existe no tradicionalismo político do
Brasil.[62]

4931
O patrimonialismo e o clientelismo, então, constituem óbices para a
perfectibilização democrática do Brasil, pois de tais obstáculos decorre a apatia da
cidadania em relação ao agir político social.[63]

Contudo, asseveram os autores, que estudos demonstram que existem alternativas para o
agir político da cidadania, originada esta de movimentos sociais e espaços públicos
diversos do campo político convencional.[64]

Os autores imbricam os assuntos “pobreza”, “desigualdade social” e “agir


democrático”, para tentar abordá-lo numa perspectiva da “teoria do desenvolvimento” e
com subsídios da “teoria da ação racional”.[65]

Trazem como indicadores de pobreza e desigualdade social critérios como o de


“pobreza relativa” e “pobreza absoluta”. Em estado de pobreza absoluta pode ser
entendida a pessoa que se encontra em condições de vida abaixo de um mínimo
aceitável de padrão de vida material. Em pobreza relativa encontram-se pessoas que tem
um nível de vida baixo em relação as condições matérias médicas que vivem as demais
pessoas da sociedade.[66] Aqui, a renda é vista como critério determinante da pobreza,
pois é ela que dita o quanto uma pessoa pode consumir e suprir suas necessidades e
como ponto de partida para o estabelecimento de uma linha de pobreza ou de
indigência.[67]

Para países em desenvolvimento o critério recomendado no texto é o de pobreza


absoluta porque a necessidade primeira é a de alimentação. O Banco Mundial estabelece
como linha de pobreza internacional a de US$2, e US$1 para constatar a indigência.
Outro critério para o delineamento da pobreza, é o critério das “basic needs”, isto é,
necessidades básicas. Por esse critério pobre são as pessoas que não tem a sua
disposição educação, saneamento, habitação, etc. Tal critério é recomendado para países
com desenvolvimento social e produtivo baixo. Distingue-se do critério renda no
sentido de que não a utiliza para determinar a linha de pobreza com contraponto na
adoção de parâmetros que tenham resultados positivos no que diz com a qualidade de
vida, coloca metas e exige resultados e destaca a complexidade da pobreza.[68]

O Brasil aborda a pobreza por ambos os critérios, ou seja, pelas necessidade


básicas e pela renda. Para a fixação do valor da linha de pobreza utiliza-se a categoria
arbitrária, estabelecidas sem constatação empírica se esse valor supre realmente, as
necessidades alimentares do pobre. O exemplo de categoria arbitrária é o fixado para
determinar pobreza e indigência pelo Banco Mundial, respectivamente 2 dólares e 1
dólar. A categoria observada é obtida por constatação empírica do consumo por
exemplo, como é o caso do Brasil. Daí exsurge, para a fixação do valor da linha de
pobreza pelo consumo observado, o termo “ingestão energética mínima” de alimento
para garantir as funções vitais básicas do sujeito pobre ou indigente.[69]

No Brasil há dificuldades na fixação do valor para a linha de pobreza por meio


do consumo observado, porque as pessoas de baixa renda não tem, a rigor, uma
constante, na aquisição de alimentos devido a variação de preços ao consumidor e à
instabilidade dos hábitos de consumo.[70]

Expostas as noções quantitativas e qualitativas para delineamento preciso de


pobreza, os autores constatam que:

4932
O quadro geral com indicadores e suas medições possíveis apontam para uma dimensão
quase estritamente econômica, tornando pouco visível as conexões prováveis entre
pobreza econômica e fenômenos e realidades no campo político e da vida comunitária
mais ampla.[71]

Lima e Campos apontam o modelo proposto por Amartya Sen, contextualizado


na teoria do desenvolvimento, diz que “a pobreza precisa ser vista como um fenômeno
dinâmico relacionado aos processos sociopolíticos”. Tal questão, para o autor indiano,
se resume no dilema: “A pobreza econômica rouba das pessoas a liberdade de saciar a
fome, e as pessoas famintas vêem-se afetadas em uma condição básica para participar
plenamente da vida de sua comunidade”. No cerne da teoria está o chamado “agir
autônomo e criativo”.[72]

Tal “agir autônomo e criativo” deve conduzir ao “aumento da liberdade das


pessoas” por esse motivo é que se deve perquirir acerca da “qualidade de vida” e de
“como as pessoas vivem” com que “renda disponível”.[73]

Pois, constatam os autores esteiados em Amartya Sen:

Pessoas com mesmo nível de renda e formação educacional podem apresentar níveis de
desempenho diferentes no cuidado e atenção as suas vidas e de ação cooperativa à
comunidade, de forma a denotar margens maiores e menores de liberdade e realização
de um projeto de vida desejado.[74]

A pobreza como fenômeno deve ser compreendida como “privação de


capacidades básicas para o agir mais amplo”, uma vez que o ponto de contato entre
baixa renda e baixa capacidade varia de uma comunidade para outra, de uma família
para outra e de um indivíduo para outro.

Para Sen, conforme João Vicente e Rosana Campos, as privações do homem não
devem ficar restritas a renda, devem abranger uma discussão acerca das “conexões entre
os fins últimos” planejados pelas pessoas e sua respectivas liberdades aplicadas no
sentido de alcançar tais fins. Sen distingue, assim, pobreza como “inadequação de
capacidade” de pobreza como “baixa renda”.[75]

Dessa forma, defendem que a:

Institucionalização de uma base social mais ampla implica em que as políticas de


combate à pobreza não podem estar circunscritas unicamente à redução da pobreza de
renda, mas supõe que a ampliação das capacidades redunde na redução e/ou fim da
pobreza de renda. O que se trata aqui de entender é que a expansão das capacidades
humanas tem um alcance mais amplo no que diz respeito à realização de um projeto de
vida desejado e onde a renda é um meio para este fim, e não a única para dirimir todas
as demais privações.[76]

Quanto à qualidade de vida e seus funcionamentos, os autores asseveram que


Sen sustenta que o parâmetro “qualidade de vida” é plausível de uma utilização no
sentido de “avaliar a prosperidade” de uma nação e de seus habitantes.

4933
O termo “capacidade” é utilizado no sentido de representação de combinações
diferentes e alternativas que alguém pode fazer ou ser e os distintos funcionamentos que
poderá obter. No entanto, o discurso acerca da “capacidade” de forma alguma pode ser
confundido com uma avaliação untilitarista, uma vez que toda a gama de atos e estados
do homem são relevantes em si mesmos. Por isso, sustentam em nota de rodapé que,
“ser feliz e obter o que se deseja pode ser valorado no enfoque sobre a capacidade,
porém, à diferença da tradição utilitarista, não se lhes considera a medida de todos os
valores”.[77]

As capacidades básicas e a pobreza relacionam-se no que diz respeito a


compreensão de capacidades mínimas no sentido de favorecer o entendimento e
medição da pobreza. Eis que, baseando-se na renda exclusivamente, a pobreza limitada
à moldura da renda deficitária, pode não indicar quem é realmente pobre, sem que se
avaliem quem tem capacidade de sair de um estado de miséria e quem não tem.

Desigualdade e pobreza imbricam-se pelo fato de que o auferimento de


vantagens são suscetíveis de avaliações por meio de diversas variáveis acerca da
desigualdade entre as pessoas. O que dificulta muito a escolha de quais são as variáveis
relevantes no estabelecimento de critério auscultar o nível de pobreza e em que medida
reduzir a desigualdade social.[78]

A teoria do agir no contexto das desigualdades sociais, tem aplicação no Brasil,


uma vez que “a pobreza brasileira apresenta o traço destacável da renda insuficiente”,
impedindo a obtenção de uma alimentação digna e que a pessoa tenha uma boa saúde,
porém, o mais importante é que o sujeito que sente fome é privado de realizar seu
projeto de vida e de participar ativamente da vida em comunidade.[79]

Ademais, a pobreza no Brasil como fato social implica num enfrentamento das
raízes das desigualdade e das injustiças sociais. Assim, é importante destacar que as
concepções igualitaristas ganham força no sentido de um “nivelamento das condições
humanas vividas”, isto é, um nivelamento de renda.[80]

O autor faz o reconhecimento que uma vida política mais ampliada ocorre no
cotidiano e nos encontros pessoais entre os indivíduos, em que se perceba o outro como
estando mais próximo ou mais distante, numa conjuntura e ambiente de formulações de
políticas e suas estratégias.

Nessa busca pela erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais,


em caráter de substituição aos programas sociais existentes, discute-se a implementação
de um programa de distribuição direta de renda, desvinculado de qualquer critério
permissivo para sua concessão, que por isso, alcançaria todos os cidadãos. Tal programa
se coaduna com o ideal do republicanismo e de certa forma pode ser um primeiro passo
no combate contra as práticas clientelísticas arraigadas.

Por meio do programa social Renda de Cidadania (RC) é reconhecido um direito ao


cidadão, independentemente de sua condição econômica receber de tempos em tempos
definidos, um valor pago pelo Estado que simboliza a fruição direta por todos os
cidadãos de uma parte da riqueza produzida no território do Estado ao qual faz
parte.[81]

4934
A renda de cidadania entrou para o ordenamento jurídico brasileiro com a publicação da
lei 10.835 em 8 de janeiro de 2004, ainda pendente de regulamentação pelo Poder
Executivo Federal. Por meio desse instrumento jurídico talvez seja possível ao homem
político reformular o sistema capitalista de modo a torná-lo mais paritário e com uma
distribuição de recursos menos díspar. E com isso tornando possível uma vida mais
digna para a população cidadã.

A RC adveio num momento em que o postulado neoliberal segundo o qual basta


haver um crescimento econômico que o desenvolvimento social virá como
conseqüência, ainda é sustentado por alguns políticos. O crescimento econômico
sozinho não garante níveis desejáveis de desenvolvimento social a curto prazo, isto é,
não é capaz de diminuir a pobreza devido a inconstância e a incerteza que a marcam o
mercado econômico. Quando a redução da pobreza é deixada sob a responsabilidade
exclusiva do crescimento econômico, ela ocorre lentamente desde que a conjuntura
econômica seja estável e contínua.[82]

Numa ordem Republicana-Liberal-Democrática crescimento econômico constitui


responsabilidade do mercada, enquanto, por outro lado, a responsabilidade pela
distribuição eqüitativa dos bens é incumbência do Estado. Nessa quadra, tanto
crescimento quanto distribuição “precisam estar unidos para assegurar a queda da
desigualdade”.[83]

A RC garantiria a todas as pessoas um mínimo de dignidade capaz de incluí-los


no processo político gradativamente, uma vez que permitiria uma maior liberdade na
escolha de empregos e até uma melhora na remuneração do trabalho por via indireta.

Pelo motivo apontado acima, a RC parte de uma construção doutrinária dita de


modelo progressista e distributivista. Sendo universal e perene seu objetivo é distribuir
uma parcela da riqueza produzida pela sociedade. Justamente o inverso dos programas
sociais temporários paras as pessoas pobres apenas, a RC destina-se a todos.[84]

O programa renda de cidadania se coaduna melhor com o princípio republicano


e com o princípio da solidariedade social. Adiante serão abordados os pontos República
e Solidariedade bem como alguns obstáculos a efetivação democrática. A Renda de
Cidadania constitui assim uma ferramenta de construção da democracia.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, a conclusão que se impõe é de que a cidadania é um dos importantes


fatores para se operar um processo de ruptura de um panorama de desigualdade social e
de injustiça na distribuição dos bens que vigorou em toda a tradição do passado. Para
prospectar um futuro para o século XXI em que muitos mais esteja incluídos na
sociedade com dignidade.

Nessa mesma linha, diante de problemas globais como a pobreza e a


desigualdade social, o Estado Liberal, em sua forma arcaica não mais está apto a tratar
de conflitos. Isto é comprovado pelas inúmeras críticas levantadas ao liberalismo, talvez
a melhor forma existente de combate ainda seja a “terceira via”, ou seja, a Social-

4935
democracia. Esta, por sua vez, coloca em equilíbrio as liberdades e o interesse público
pautador da ação política.

Sob outro enfoque, o Republicanismo relido, aliado à Social-democracia, resgata


a concepção de vida pública e do civismo da antiguidade, readequando-o para o Estado
contemporâneo que possui um território mais vasto, um aparelho estatal mais complexo,
e, principalmente orienta-se sob a égide dos Direitos Humanos.

A República Federativa do Brasil tem gravado em sua Constituição (CF/88), o


princípio republicano e federativo. Os desdobramentos desses princípios culminam na
existência do princípio da Solidariedade Social que, dentre outras passagens, pode ser
vislumbrado nos objetivos da República brasileira. Quanto aos objetivos republicanos
brasileiros, destaca-se o de reduzir as desigualdades sociais e erradicar a pobreza.
Todavia, tais objetivos, cuja finalidade exclusiva é de alcançar uma democracia efetiva,
são obstaculizados pela falta de civismo e pelo clientelismo.

Em se tratando de clientelismo, o Brasil ainda não realizou uma ruptura


profunda com tal engrenagem social, pois ainda é possível constatá-lo nos mais altos
círculos de poder, bem como em situações corriqueiras como sonegação fiscal. Por isso,
é possível sustentar que falta as pessoas as noções mais básicas de civismo, uma vez
que adotam uma estratégia de sobrevivência individualista, com desprezo ao bem
comum, num ambiente de guerra de todos contra todos.

O rompimento do obstáculo apontado acima é uma tarefa árdua para os políticos


e para a sociedade brasileira. E nesse contexto o Republicanismo e o Civismo, o
desenvolvimento de redes de confiança, implicam em uma melhor distribuição da carga
tributária por um lado e em uma distribuição de bens primários como liberdade, em seu
sentido amplo, o que implica em educação, saúde e alimentação dignas, da forma mais
eqüitativa possível.

Nesse sentido é surge a idéia de que é possível implementar uma política pública
de distribuição de parte das riquezas produzidas no país a todos os cidadãos. Uma
política desse porte e com essa qualidade deixaria de lado um modelo que tenta
estabelecer quem é pobre, uma vez que nesse processe existe uma discriminação
inevitável que fere o princípio da dignidade da pessoa humana.

A essa política pública que alcança a todos com uma renda propiciada pelo
Estado, dá-se o nome de renda de cidadania e é capaz de conciliar de forma muito eficaz
a liberdade e a solidariedade. Isso tudo porque há um caráter multifacetado e
reconduzidor no direito de Renda de Cidadania, pois por um lado é um direito
fundamental esteiado na liberdade e por outra dimensão se faz presente em momento
histórico em que a profusão é dos direitos de solidariedade. Isto é, ao se garantir o
direito de Renda de Cidadania efetiva-se um direito eqüitativo e ao mesmo garante-se a
liberdade de forma indubitável.

A Renda de Cidadania mostra-se como um eficaz mecanismo de combate ao


clientelismo e a falta de civismo, sendo, por isso, um direito fomentador do
Republicanismo. No contexto a Renda de Cidadania constitui uma apropriação pública
de bens produzidos privada e publicamente e por isso pode-se dizer que é um bem
coletivo.

4936
A Renda de Cidadania se mostra, juntamente com política públicas fiscais de inclusão
social, um caminho norteado para a existência de uma cidadania politicamente ativa. Ser
cidadão implica também em deveres como o de pagar os impostos de forma justa,
implica também o direito de poder agir no sentido de conhecer e decidir como pagá-los,
como melhor distribuir essa carga tributária.

Essa capacidade de decisão nunca será alcançada sem uma intervenção do Estado
mediante uma política pública que garanta a existência dos mais pobres. Nesse ponto se
mostra que o Estado (neo)liberal e seus postulados egoísticos estão sendo deixados de
lado.

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[1] BROWN, Gorndon. Primeiro Ministro Britânico. Disponível em :


http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/11/05/lideres_mundiais_comentam_eleicao_
de_obama_nos_eua-586263145.asp Acesso em: 05/11/2008.

[2] VIEIRA, Liszt. Os argonautas da cidadania: a sociedade civil na globalização. Rio


de Janeiro: Record, 2001, p. 33-34.

[3] Ibid., p. 34-35.

[4] Ibid., p. 36.

[5] Ibid., p. 37.

[6] Ibid., p. 37-39, passim.

[7] Ibid., p. 40.

[8] Ibid., p. 41.

[9] Ibid., p. 42.

[10] Ibid., p. 45.

[11] Ibid., p. 47.

[12] Ibid., p. 48.

[13] Ibid., p. 49.

[14] VIEIRA, Liszt. Cidadania e controle social. In: PEREIRA, Luiz; NURIA, Cunil
Grau (Org.). O Público não-estatal na reforma do Estado. Rio de Janeiro: Editora
Fundação Getúlio Vargas, 1999, p. 219-220.

[15] Ibid., p. 220.

[16] Ibid., p. 220.

[17] Ibid., p. 220.

[18] DULCE, Maria José Farinas. Mercado sin ciudadanía – Las falacias de la
globalizacion neoliberal. Madrid, Editorial Biblioteca Nueva. S.L., 2005. p. 199.

4939
[19] AGRA, Walber de Moura. Estado e Constituição: Republicanismo. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2005. p. 11-13, passim.

[20] Ibid., p. 24-27, passim.

[21] AGRA, Estado e Constituição: Republicanismo, 2005. p. 109.

[22] Ibid., p. 111.

[23] Ibid., p. 12-13, passim.

[24] Ibid., p. 17.

[25] Ibid., p. 16.

[26] CARDOSO, Sérgio. Por que República: notas sobre o ideário democrático
republicano. In: CARDOSO, Sérgio (Organizador). Retorno ao Republicanismo. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2004. p. 46-47.

[27] AGRA, Estado e Constituição: Republicanismo, p. 58-59.

[28] Ibid., p. 109.

[29] GODOI, Tributo e Solidariedade Social. In: GODOI, Marciano Seabra de;
GRECO, Marco Aurélio (Coordenadores). Solidariedade social e tributação. São
Paulo: Dialética, 2005. p. 145.

[30] Ibid., p. 110.

[31] Ibid., p. 111-112.

[32] MASTROPAOLO, Alfio. Clientelismo. In: BOBBIO, Norberto; PASQUINO,


Gianfranco; MATTEUCCI, Nicola (Coords). Dicionário de Política. Trad. Carmen C.
Varriale, et. al.; João Ferreira (Coord.). rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto
Cascais. 6. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994. Vol. 1. p. 177.

[33] Ibid., p. 177.

[34] MASTROPAOLO, In: BOBBIO, et. ali. Dicionário de Política, 1994, p. 177-178.

[35] SCHMIDT, João Pedro. Para entender políticas públicas: aspectos conceituais e
metodológicos. In: LEAL, Rogério Gesta; REIS, Jorge Renato (Orgs.). Direitos Sociais
e políticas públicas: desafios contemporâneos. Tomo 8. Santa Cruz do Sul: Edunisc,
2008. p. 2315.

[36] MASTROPAOLO, In: BOBBIO, et. ali. Dicionário de Política, 1994, p. 177-178.

[37] Ibid., p. 178.

[38] Ibid., p. 178.

4940
[39] Ibid., p. 112-113.

[40] Ibid., p. 184.

[41] PUTNAM, Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna, 1996, p.


187.

[42] Ibid., p. 173.

[43] SCHMIDT, Para entender políticas públicas: aspectos conceituais e metodológicos.


In: LEAL, et. al., Direitos Sociais e políticas públicas: desafios contemporâneos, 2008,
p. 2314.

[44] SANTOS, Wanderley Guilherme dos. O ex-Leviatã brasileiro: do voto disperso ao


clientelismo concentrado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. 275 p.

[45] SANTOS, O ex-Leviatã brasileiro: do voto disperso ao clientelismo concentrado,


2006. p. 247.

[46] PUTNAM, Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna, 1996. p.


173-174.

[47] MATTEUCCI, Nicola. Liberalismo. In: BOBBIO, Norberto; PASQUINO,


Gianfranco; MATTEUCCI, Nicola (Coords). Dicionário de Política. Trad. Carmen C.
Varriale, et. al.; João Ferreira (Coord.). rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto
Cascais. 6. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994. Vol. 2. p. 686-705.

[48] GODOI, Tributo e Solidariedade Social. In: GODOI, et. al., Solidariedade social e
tributação, 2005. p. 143.

[49] BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Carlos Nelson Coutinho; Rio de
Janeiro: Campus, 1992. p. 28.

[50] SCHMIDT, João Pedro. Políticas Públicas: aspectos conceituais e aportes para um
modelo pós-burocrático e pós-gerecialista. In: LEAL, Rogério Gesta; REIS, Jorge
Renato (Orgs.). Direitos Sociais e políticas públicas: desafios contemporâneos. Tomo
7. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2007, p. 1988-2032; FAORO, Raymundo. Os donos do
poder: formação do patronato político brasileiro. 3. ed. rev. São Paulo: Globo, 2001. p.
819.

[51] CARDOSO, Sérgio (Organizador). Retorno ao Republicanismo. Belo Horizonte:


Editora UFMG, 2004. p. 24.

[52] LOPES, Ana Maria D’Ávila. Democracia hoje, para uma leitura crítica dos
direitos fundamentais. Passo Fundo: UPF, 2001. p. 27; e, RAWLS, John. Uma Teoria
da Justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita Maria Rímoli Esteves. São Paulo:
Martins Fontes, 2002, p. 13.

[53] LOPES, Democracia hoje, para uma leitura crítica dos direitos fundamentais,
2001, p. 29.

4941
[54] KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 4ª ed. Coimbra: Armênio Amado Editor
Sucessor, 1976. p. 68.

[55] GODOI, Tributo e Solidariedade Social. In: Marciano Seabra de; GRECO, Marco
Aurélio (Coordenadores). Solidariedade social e tributação. São Paulo: Dialética, 2005.
pp. 141-167.

[56] GODOI, Tributo e Solidariedade Social. In: GODOI, et. al., Solidariedade social e
tributação, 2005, p. 149.

[57] SETTEMBRINI, Domenico. Social-Democracia. In: BOBBIO, Norberto;


PASQUINO, Gianfranco; MATTEUCCI, Nicola. Dicionário de Política. Trad. Carmen
C. Varriale, et. al.; João Ferreira (Coord.). rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro
Pinto Cascais. 6. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994. Vol. 2. p. 1.188.
p. 1188.

[58] STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração
hermenêutica da construção do Direito. 3. ed. rev. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2001. p. 24.

[59] NABAIS, José Casalta. O dever fundamental de pagar impostos. Coimbra: Livraria
Almedina, 2004. p. 31.

[60] GODOI, Tributo e Solidariedade Social. In: GODOI, et. al., Solidariedade social e
tributação, 2005. p. 144.

[61] GODOI, Tributo e Solidariedade Social. In: GODOI, et. al., Solidariedade social e
tributação, 2005, p. 145.

[62] LIMA, João Vicente R. C. B.; CAMPOS, Rosana. Desigualdades sociais e


pobreza: buscando novos enquadramentos. In: BAQUERO, Marcelo (Org.). Capital
social, desenvolvimento sustentável e democracia na América Latina. Porto Alegre:
UFRGS, 2007. p. 57.

[63] Ibid., p. 57. No que diz respeito a relação entre clientelismo e suas implicações
com as virtudes cívicas, será dedicado um item específico que abordará a sua origem,
causas e conseqüências no ambiente da República Federativa do Brasil.

[64] Ibid., p. 57.

[65] Ibid., p. 58.

[66] Ibid., p. 59.

[67] Ibid., p. 59.

[68] Ibid., p. 60-61.

[69] Ibid., p. 63.

4942
[70] Ibid., p. 63.

[71] Ibid., p. 65.

[72] Ibid., p. 65.

[73] Ibid., p. 66.

[74] Ibid., p. 66.

[75] Ibid., p. 67.

[76] Ibid., p. 68.

[77] Ibid., p. 69-70.

[78] Ibid., p. 78.

[79] Ibid., p. 78-79.

[80] Ibid., p. 81.

[81] FIGUEIREDO, Ivanilda. Políticas públicas e a realização dos direitos sociais.


Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 2006. p. 25.

[82] Ibid., p. 25.

[83] Ibid., p. 28.

[84] Ibid., p. 34-35.

4943

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