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Aula – 14 C – Noções sobre tratamento de esgoto

Tabela 4.6 – Dados gerais de vazões e DBO do esgoto sanitário a ser tratado
Vazões dos esgotos sanitários DBO
Ano População Média Máxima Qi Qmin Carga Concen-
(no de hab.) (L/s) (L/s) (L/s) (L/s) (kg/dia) tração
(mg/L)
2000 15 000 27,8 50,0 41,7 13,9 648,0 270
2010 18200 33,7 60,7 50,6 16,8 815,4 280
2020 21 800 40,4 72,7 60,6 20,2 959,2 275

a) Dimensionamento da grade e canal de acesso

O dimensionamento da grade é feito com base na vazão máxima (final de plano). A


largura do canal de acesso é uma decorrência do número de barras calculado e da espessura e
espaçamento entre barras adotados, conforme veremos a seguir. O canal deve ser também
verificado com relação a uma possível sedimentação de sólidos, com base na vazão máxima
horária de um dia qualquer (início de plano).
No exemplo dado Qmáx = 72,7 L/s e também com base na vazão máxima horária de um
dia qualquer (início de plano) Qi = 41,7 L/s.

a1) Características da grade adotada

Será adotada uma grade média (espaçamento entre barras de 2,5 cm e espessura de
barra 1,0 cm), com limpeza manual, conforme Fig. 4.16.

Fig. 4.16 – Espaçamento e espessura da grade escolhida

a2) Área livre total pelas aberturas da grade ALG

Qmax 0,0727 m 3 / s
ALG = = = 0,09693 m 2
VG 0,75 m / s

VG = velocidade admitida na grade limpa = 0,75 m/s

a3) Largura livre total entre as aberturas da grade “BLG”


ALG 0,09693 m 2
B LG = = = 0,33m
HG 0,29

onde:

HG = altura d’água na grade = Htubo + 0,1 m = 0,19 + 0,1 (rebaixo no fundo do canal, antes
da grade) = 0,29 m

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a4) Nº de espaços entre grades Nesp

B LG 0,33 m
N esp . = = = 13,2 ≅ 14
e 0,025 m
(e = espaçamento entre as barras)

a5) Largura do canal de acesso às grades Bc

Bc = 14 espaços x 0,025 m + 13 barras x 0,010 m = 0,48 m, adotando Bc = 0,50 m,

Assim BLG ≈ 0,34 m

b) Dimensione uma grade para os seguintes valores dados:

Vazão (L/s) Altura d’água (Y = m)


Máxima = 120 0,29
Média = 80 0,21
Mínima = 40 0,10

Seção de cada barra: 10 mm x 40 mm


Espaçamento entre barras: 25 mm

b1) Dados complementares:

Área útil de escoamento (entre barras):

Q
Au = onde Au = área útil (m2)
A
Q = vazão m3/s
V = velocidade em m/s

Área total ou seção de escoamento a montante da grade:

Au a
S= e E=
E a +t

S = área total;
Au = área útil;
E = eficiência da grade;
a= espaçamento entre barras e,
t = espessura da barra.

(a largura do canal é função da altura Y da lâmina d’água , S = bY)

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Valores de eficiência E (E)


Espessura das Espaçamento entre barras (a)
barras a= 20 mm a= 25 mm a= 30 mm
6 mm (1/4”) 0,750 0,800 0,834
8 mm (5/16”) 0,730 0,768 0,803
10 mm (3/8”) 0,677 0,728 0,770
13 mm (1/2”) 0,600 0,667 0,715

Perda de carga na grade:

1,43 (VG2 −VC2 )


hf =
2g

Onde:

hf= perda de carga (m);


VG= velocidade através das barras (0,50 – 0,75 m/s)
VC= velocidade a montante da grade (VC= VG E)
g= aceleração da gravidade = 9,8 m/s2

Quantidade de material retido

Varia em função das condições locais, hábitos da população, etc, e da abertura da grade.

Segundo Schroepfer
Abertura (cm) 2,0 2,5 3,5 4,0
Quantidade (L/m3) 0,038 0,023 0,012 0,009

São Paulo: a = 2,5 cm (0,010 a 0,025 L/m3)

b2) Solução

Da seção e do espaçamento das barras, tem-se:

a
E = 0,728 E=
a +t

Adota-se a velocidade entre as barras (0,5 – 0,75 m/s):

VG = 0,6 m/s

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Área útil:

Q 0,120 m 3 / s
Au = = = 0,20 m 2
VG 0,60 m / s

Área total:

Au 0,20 m 2
S= = = 0,27 m 2
E 0,728

Largura do canal:

S 0,27
S = b.Y ∴b = = = 0,93
Y 0,29

Adotando-se a largura do canal = 0,90 m.

Verifica-se a velocidade nas diferentes vazões:

Q(m3/s) Y(m) S= b . Y (m2) Au= S . E (m2) VG= Q/Au (m/s)


0,120 0,29 0,26 0,19 0,63
0,080 0,21 0,19 0,14 0,57
0,040 0,10 0,09 0,07 0,57

Avaliação da perda de carga

VC= VG E = 0,63 x 0,728 = 0,46


Vc = 0,46 m/s

Grade limpa:

1,43(VG2 − VC2 ) 1,43(0,60 2 − 0,46 2 )


hf = = = 0,014 m
2g 2 x9,8

Com metade da grade suja:

VG suja= 2 x VG = 2 x 0,63 = 1,26 m/s

1,43(VG2 − VC2 ) 1,43 (1,26 2 − 0,46 2 )


hf = = = 0,10 m
2g 2 x9,8

Quantidade de material retido

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Abertura da grade = 2,5 cm: 0,023 L/m3 de material retido

L L m 3 86400 s L
0,023 3
xQmédiax 86400 = 0, 023 3
x 0, 08 x = 159
m m s 1dia dia

c) Exemplo de dimensionamento de uma caixa de areia. Vazões previstas: 120 L / s; média


= 80 L / s e mínima 40 L / s.

Solução:
Será empregado um Vertedor Parshall, de 9” para controle de velocidade, então:
Qmáx = 120 L / s Hpmáx = 0,37 m
Qmédio = 80 L / s Hpmédio = 0,29 m
Qmínimo = 40 L/ s Hpmínimo = 0,18 m

Cálculo do rebaixo “Z” :


Qmin H −Z 0,040 0,18 − Z
= P min ∴ = ∴ Z = 0,08 m
Qmáx H pmáx − Z 0,120 0,37 − Z
Determinação da altura máxima da lâmina de água na caixa de areia:

Ymáx = Hpmáx - Z = 0,37 - 0,08 = 0,29 m

Determinação da largura da caixa de areia:


Qmáx 0,120
b= = 0,29 x0,30 = 0,38 m
Ymáx 0,30 (m / s )

Determinação do comprimento da caixa de areia:

L= 25 Ymáx = 25 x 0,29 = 7,25 m.

Verificação da Taxa de Escoamento Superficial:

Superfície da caixa A = L . b = 7,25 . 1,39 = 10 m2


Qmédio = 80 L / s = 6 910 m3 / dia

Q 1910 m 3 / dia m3
Então = = 691 (está dentro da faixa!!!)
A 10 m 2 m 2 xdia

Considerações:

1) Velocidade na caixa de areia


No canal de remoção é recomendável uma velocidade na ordem de 0,30 m/s ( ± 20%
de tolerância), pois inferior a 0,15 m/s há deposição de matéria orgânica, e acima de 0,40 m/s
há o arraste de partículas de areia.

2) Área das caixas de areia


É função da taxa de escoamento superficial. Para partículas de tamanho igual ou
superior a 0,20 mm, adota-se uma taxa de escoamento superficial de 600 a 1 200 m3/m2 dia.
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Determinação do Depósito de Material Sedimentado:


Período de limpeza: de 15 em 15 dias
Quantidade de material retido: 30 L / 1000 m3

Quantidade de material retido no período:


6910 m 3 0,03 m 3
x 3
x15 dias = 3,1m 3
dia 1000 m

Profundidade (altura )de armazenamento da caixa de areia:


Vdias 3,1m 3
H = = = 0,33 m
bxL 1,39 mx 7,25 m

Em súmula:

- Profundidade do depósito de areia = 0,33 m;


- Dimensões úteis da caixa de areia:
largura = 1,39 m;
profundidade máxima = 0,29 m;
comprimento = 7,25 m.

d) Dimensionar uma caixa de gordura para uma residência, sendo que a vazão afluente
proveniente de uma pia de cozinha é Q = 0,25 L/s.

Considerações.
As caixas de gorduras geralmente são dimensionadas para deter a vazão afluente,
durante um período médio de 3 minutos.
As caixas de separação são projetadas com base em taxas de escoamento superficial de
200 a 400 m3 de águas residuárias por m2 de superfície de tanque por dia.
Deve-se prever um aumento de 25% no volume do tanque de separação, destinado ao
acúmulo de material retido.
As caixas de gordura removem até 50% dos sólidos em suspensão e até 25% da DBO.

Solução:

Q = 0,25 L/s = 25 m3/dia

- Taxa de escoamento superficial adotada = 230 m3/m2 dia


(taxa de escoamento superficial = Q / área superficial da caixa de gordura)

Q 25m 3 / dia
- Superfície da caixa de gordura = = = 0,108 m 2
taxa 230 m 3 / m 2 dia

- Volume da caixa de gordura:

Tempo de detenção = Volume da caixa / vazão

Volume = tempo de detenção X vazão


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0,25 L 60 s
Volume = 3 min x = 45 L
s 1 min

Depósito de material retido = 25% de 45 L = 11 L.

Volume = 45 + 11 = 56 L.

O volume da caixa a ser adotado: 60L = 0,06 m3

Profundidade da caixa (H) = volume / área superficial


H = 0,06/0,1 = 0,6 m

Dimensões da caixa de gordura (0,32 x 0,32 x 0,60) m

Construtivamente melhor (0,35 x 0,35 x 0,60) m.

d) Dimensionar um decantador para efetuar o tratamento secundário dos esgotos domésticos


de uma população de 2 5000 pessoas. São dados:

q= 200 L/hab dia


k1= 1,25 (coeficiente do dia de maior consumo)
k = 0,80 (coeficiente de retorno)
Taxa de escoamento superficial adotada: 25 m3/m2 dia
Tempo de detenção adotado: 2,5 horas .

Considerações:
1) Projeto de decantadores
Para se projetar decantadores, deve-se considerar as taxas de escoamento superficial,
velocidade de deslocamento dos esgotos, os períodos de detenção, além de detalhes
construtivos e dimensões, visando ao funcionamento mais próximo possível dos valores
teóricos adotados.

2) Taxa de escoamento superficial


É o elemento fundamental para o projeto.
Taxas muito elevadas conduzem a pequenas remoções da DBO e de sólidos suspensos,
por outro lado, taxas baixas conduzem a decantadores antieconômicos.
As taxas de escoamento superficial recomendadas são:
- Para decantadores primários: 30 a 45 m3/m2 dia
- Para decantadores secundários: 20 a 25 m3/m2 dia
3) Velocidade de escoamento dos esgotos
Para se evitar o arrastamento ou levantamento das partículas depositadas na zona de
lodos, durante o escoamento, a velocidade dos esgotos no decantador não deve ultrapassar 1,2
cm/s sendo recomendado 0,8 cm/s, para maior segurança.
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4) Período de detenção
É o tempo necessário para que as partículas que se quer remover, sejam sedimentadas
Períodos de detenção acima de 2 horas apresentam pequenos acréscimos na remoção
de sólidos suspensos e da DBO. Sendo então usual o tempo de detenção de 2 horas.

Solução

Qmédia = k .k1.q.População (m3/dia)


0,2m 3
Qmédia = 0,80 x1,25 x x 2500 hab = 500 m 3 / dia = 21 m3/hora
habxdia
Qmédia = 5,8 L / s

O decantador a ser calculado, será de área quadrada, tipo “Dortmund”

Área superficial do decantador:

Q 500 m 3 / dia
A= = 3 2
= 20 m 2
taxa 25m / m xdia

Como é quadrado:
L = 20 = 4,5 m

Volume do decantador: é função do tempo de detenção

V = Qmédio x tempo de detenção

V = 21 m3/hora x 2,5 horas = 52,5 m3

Volume da parte superior:


Altura admitida para a parte superior = 1,30 m

Volume da parte superior = 20 x 1,30 = 26 m3

Volume da parte inferior:

52,5 – 26 = 26,5 m3

Por questões construtivas, a parte inferior terá forma de tronco de pirâmide, sendo a
base maior igual a seção do decantador e a menor com 0,60 m de lado.
Cálculo da altura do tronco da pirâmide:

H
V = ( SB + Sb + SBxSb ) .....onde .SB: área da base maior; Sb: área da base
3
menor
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26 ,5 =
H
3
(
4,5 2 + 0,60 2 + 4,5 2 x 0,60 2 )
H = 3,5 m

O ângulo das paredes do tronco de pirâmide com a horizontal será de 61º.


(recomendado 60º.)

Velocidade de ascensão no decantador:


(zona do paralelogramo)

Q 5,8 x10 −3 m 3 / s
V = = = 0,0003 m / s = 0,3mm / s
A 20 m 2

Exercícios propostos: (entregar até P4)

Dimensionar:
a) Uma grade;
b) Uma caixa de areia
c) Uma caixa de gordura

Dados: Vertedor Parshall de G = 3” (Consultar Tabela 4.5 da aula anterior)


Qmáx = 42,5 L/s
Qmédio = 34,4 L/s
Qmín = 27,4 L/s

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