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Nairur, bela moça com suas quinze primaveras, sentia dentro de si profunda amargura e

extremo desgosto pela vida. Os sofrimentos advindos da pobreza de sua família; a doença do pai
que priva-lhe a capacidade de trabalhar no sustento do lar; a prisão injusta de seu irmão mais
velho que fora acusado de furto; a sua deficiência física que a impedia de conviver com as
garotas de sua idade. Essas tantas ocorrências fizeram que a vida perdesse o sentido. Passara a
viver em profunda amargura, a depressão alojara-se favorecendo a companhia dos mensageiros
das sombras que a influenciavam a seguir os tristes caminhos do suicídio.
Ao acordar, sentira um grande aperto no coração; suas emoções amanheceram
extremamente fragilizadas. Sentira como se o mundo estivesse a desabar, desejou ficar mais
tempo à cama, mas um grito de desespero interrompera o prolongamento do repouso. Sua mãe
recebera a notícia de que seu filho seria condenado à morte. Todos os sentimentos perturbadores
vieram à tona naquele dia. Nairur, passou a receber as influenciações malévolas que a
orientavam para o suicídio. Estava decidido, aniquilaria sua vida e com ela acabaria todos os
seus problemas! Seria ao cair da noite, se afogaria no rio.
As horas passaram agonizadas, e com um gesto de despedida bastante discreto, percorreu os
cômodos da humilde casa, fixou o olhar na figura moribunda do pai; a mãe em prantos em
decorrência da sentença do filho; os irmãos, ainda pequenos, que disputavam um pedaço de pão
na ânsia de disfarçar a fome.
Pô-se a andar despertando nas pessoas comentários preconceituosos devido a sua deficiência
física.
Era uma tarde de outono, os pássaros aglomeravam-se em algazarra nas copas
semidesfolhadas das árvores, as brisas frescas do fim de tarde movimentava-lhe os cabelos
trazendo uma aparente tranqüilidade. Notara uma aglomeração de pessoas próxima a um
monte.Uma enorme força magnética a atraiu para a multidão. Observara que um homem subira-
o calmamente, e com uma voz que possuía uma peculiaridade, as combinações de firmeza,
doçura e serenidade.
-- bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Assim começou a
mais bela melodia entoada no orbe terrestre, um dos maiores ensaios de psicoterapia.
Após a sublime explanação do Mestre dos Mestres, após ter sentido os eflúvios magníficos
que só as almas puras podem exalar, foi de encontro a Jesus e Lhe perguntou:
_ Mestre, sei que o reino dos céus espera aquele que sofre, mas onde encontrarei forças para
conseguir suportar as dificuldades que virão? Agora sinto-me renovada, mas até quanto tempo?
 Em verdade vos digo minha filha, se tiveres a fé do tamanho de um grão de mostarda
dirá a este monte passa daqui a coulá e ele passará. Deixe tudo o que tem e segue-me!
Não peço para deixares a família a que te foi destinada a vir; peço-lhe que deixe de
lado o orgulho, para se tornar pobre de espírito; deixe de lado a cólera para tornardes
mansa; aceite com resignação as adversidades, pois elas têm a sua razão de ser; não
deixe que a justiça falha do mundo te possa causar indignação, pois a verdadeira
justiça vem de Deus, e essa nunca falha; compadeça-te das misérias dos outros, seja
misericordiosa; mantenha seu coração limpo parar que os espíritos de Meu Pai te
possa guardar; não te encolerizes, pois a cólera só nos afasta das resoluções de nossos
problemas e faz com que contraiamos mais dívidas; sempre siga o caminho do bem,
independente das barreiras que te puserem no caminho; perdoa sempre; enfim, deixe
tudo o que te possa afastar de mim e siga-me em coração; assim, nos momentos de
maior aflição, clamarás por mim e eu, que sou o divino servidor te direi: eis-me aqui,
porque me chamastes.
Deste dia em diante, Nairur pode compreender que sua missão estava em seguir adiante,
sem abaixar a cabeça, fortalecendo – se cada vez mais com a lembrança do Divino Rabi.

Roberto Harrysson, Espinosa, 1998

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