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Não deixa de ser inegável que se está diante de uma obra que é uma
denúncia, em favor da humanidade e da razão, contra a tradição jurídica e a
legislação penal de seu tempo. Com esta certeza, porém, deve ser feita uma
análise de acordo com o contexto cultural que prevalecia em todos os campos
do saber. Eis uma associação do contratualismo com o utilitarismo. Beccaria se
mostra um contratualista que em estilo barroco, prolixo, sem precisão e
limpidez, adota Hobbes, mas quanto à essência humana é partidário de Locke.
É verdade que muitas das reformas sugeridas por Beccaria foram propostas
por outros pensadores. Não foi, o marquês, um grande filósofo e nem um
grande jurista. O seu mérito deve-se ao fato de disponibilizar ao grande público
uma bem delineada teoria, que, sem demasia, teve vital importância para as
reformas penais que se seguiram nos últimos séculos.
Mais uma crítica a ser feita ao marquês é quanto sua referência ao Poder
Judiciário (compreensível pela necessidade da época: menos ingerência do
Estado na vida dos cidadãos – Estado Liberal). Ele reproduz as palavras de
Montesquieu: "boca que pronuncia as palavras da lei". Se tal assertiva for
seguida reduzirá o poder judiciário a um mero órgão aplicador da norma penal.
Esquecendo-se que o Direito subsiste na Hermenêutica.
Marcelo de Araújo (org.) a respeito do opúsculo: "Dos mais antigos aos mais
modernos, ninguém mais pôde ignorá-lo porque ele é o marco criador, é o
ponto de partida da ciência do direito e do processo penal. Hoje, mais de
duzentos anos depois de seu livro, eis-nos a estudá-lo, a divulgá-lo, a debatê-lo
e a encontrar nele inspiração para abordar temas que estão na ordem do dia
da ciência penal contemporânea".