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Nota Técnica

Nº 141 Maio de 2008

Poucos recursos, resultados


insuficientes: matas, florestas
e desmatamento no PPA 2004/2007
Políticas Socioambiental e Indígena

Poucos recursos, resultados insuficientes:


matas, florestas e desmatamento no PPA 2004/2007

Introdução

A prevenção e o controle do desmatamento das florestas e matas (de Cerrado) na


Amazônia brasileira estão na ordem do dia. Com o presente estudo, visamos disponibilizar
dados, informações e tecer comentários acerca do desempenho do governo federal nas
ações diretamente vinculados com este objetivo no Plano Plurianual (PPA) 2004/2007.
Como fica evidente na tabela apresentada na página 061, o recurso financeiro
efetivamente aplicado nas principais ações relacionadas com a prevenção e controle do
desmatamento no período (2004/2007) ficou bem aquém do inicialmente orçado. De
um total orçado de R$ 1,934 bilhão, foram efetivamente aplicados cerca de R$ 1,219
bilhão. Cerca de R$ 715,228 milhões foram realocados para outros fins ou talvez jamais
tenham sido repassados aos órgãos implementadores da política.
Isto certamente contribuiu para o baixo desempenho verificado em várias metas do
Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
(PAPCDAL), assim como impactou na capacidade dos órgãos federais e estaduais de
conter a retomada do desmatamento a partir do segundo semestre de 2007. Segundo
avaliação realizada pelo Greenpeace, apenas 31% das metas do Plano foram alcançadas.
Além de contribuir para a avaliação em curso do denominado Plano de Ação para a
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PAPCDAL), principal iniciativa
“ambientalmente sustentável” do governo federal para a Amazônia no período, nossa
expectativa com esta “nota técnica” é que ela possa auxiliar na incidência dos atores sociais
que reivindicam maior transparência, participação e controle social no processo de
definição, planejamento, execução e avaliação das políticas públicas para a região.

Plano para conter desmatamento


O processo de elaboração do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal foi oficialmente desencadeado em junho de 2003,
quando o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) divulgou projeções sobre o
desmatamento na Amazônia Legal no período de agosto de 2001 a agosto de 2002,

1 A tabela foi elaborada originalmente com base nos valores nominais orçados e liquidados em cada ano. Posteriormente, estes valores
foram deflacionados, tendo por base o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA). Nessa operação forma utilizados os
seguintes multiplicadores: 1,1546918 (para valores de 2004); 1,0871137 (para valores de 2005) e 1,0552551 (para valores de
2006). Esta operação possibilitou comparações e a realização de somas envolvendo os valores do período em análise.

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Políticas Socioambiental
SocioambientaleeIndígena
Indígena

indicando um crescimento acelerado em torno de 40% em relação ao período anterior.


A notícia sobre o aumento do desmatamento na região levou o governo federal a
constituir um grupo de trabalho, o denominado Grupo Permanente de Trabalho
Interministerial (GPTI) para a Redução dos Índices de Desmatamento da Amazônia Legal.
Sob a coordenação da Casa Civil da Presidência da República, a esse grupo foi dada a
atribuição de propor medidas e coordenar ações para reduzir os índices de desmatamento
na Amazônia Legal2.
Em março de 2004, o GPTI apresentou o denominado Plano de Ação para a Prevenção
e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PAPCDAL), destacando ser ele:
“Um conjunto de ações estratégicas, consideradas prioritárias por sua relevância para
a contenção do desmatamento na Amazônia Legal, bem como para a viabilização de
estratégias alternativas de proteção e uso sustentável da floresta” 3.
Sob a coordenação da Casa Civil da Presidência, o Plano vem sendo implementado
por um conjunto de órgãos situados em diferentes níveis da esfera pública: 13 ministérios4
alguns órgãos a eles vinculados (como a Funai, o Incra, o Ibama e a Polícia Federal),
órgãos estaduais de meio ambiente (OEMA), órgãos fundiários estaduais e prefeituras.
Também estão envolvidas: federações de agricultores na região, entidades ambientalistas,
e entidades filiadas ao Grupo de Trabalho Amazônico (GTA).
O Plano de Ação incluiu 162 atividades, dispostas em 32 ações estratégicas, por sua
vez agrupadas em três eixos temáticos: (i) Ordenamento Territorial e Fundiário; (ii)
Monitoramento e Controle; e (iii) Fomento às Atividades Sustentáveis.
Um quarto eixo, então denominado Infra-estrutura Ambientalmente Sustentável, e
inicialmente concebido como parte da estratégia global do Plano, estranhamente ficou
de fora “a pedido” da Casa Civil da Presidência.
Além de considerar as diretrizes e prioridades do programa de campanha do primeiro
mandato do então candidato a presidente Lula da Silva, em 2002, as ações e atividades
incluídas no Plano de Ação foram vinculadas aos programas e ações que integraram o
Plano Plurianual (PPA) 2004/2007.
O PAPCDAL foi elaborado visando incidir sobre dois “problemas” prioritários:
1. Sobre o processo de desmatamento já instalado, principalmente na região
denominada de Arco do Desmatamento ou Arco do Fogo, que abarca a porção sudeste, sul
e sudoeste da Amazônia Legal. A situação ali instalada tem uma origem anterior ao governo
Lula da Silva e uma dinâmica própria, em grande parte resultante das políticas públicas

2
Decreto Presidencial de 03 de julho de 2003. www.planalto.gov.br/ccivil/DNN/2003/Dnn9922.htm .
3
O Plano está disponível na web no seguinte endereço: www.planalto.gov.br/casacivil/desmat.pdf
4
Participaram da elaboração e implementação da primeira fase do Plano os seguintes ministérios: Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA); o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); o Ministério da Defesa (MD); o Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA); o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC); o Ministério da Integração Nacional
(MI); o Ministério d Justiça (MJ); o Ministério do Meio Ambiente (MMA); o Ministério das Minas e Energia (MME); o Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG); o Ministério das Relações Exteriores (MRE); o Ministério dos Transportes (MT);
e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

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pouco sustentáveis (principalmente no/do Mato Grosso, Rondônia e Pará) implementadas


por governos anteriores 5.
2. E sobre os prováveis impactos ambientais e sociais derivados da estratégia de
desenvolvimento planejada para a Amazônia, que incluía e inclui um conjunto de obras
de infra-estrutura física e de energia. Entre elas estão: as BR 319 (Porto Velho – Manaus)
e 163 (Cuiabá – Santarém); a BR 317 (Rio Branco/AC – Boca do Acre/AM); as
hidroelétricas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau); o gasoduto Urucu-Porto Velho
(AM/RO); a hidroelétrica de Belo Monte (PA); e a linha de transmissão Ji-Paraná –
Pimenta Bueno – Vilhena – Jaurú (RO/MT).
Estas obras estão hoje integradas no denominado Plano Amazônia Sustentável (PAS),
anunciado pelo governo federal como sendo um “novo modelo e novas estratégias de
desenvolvimento” para a região6; e no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado
pelo governo federal em janeiro de 2007.
O PAC é um conjunto de investimentos públicos em infra-estrutura econômica e
social nos setores de transporte, energia, recursos hídricos, saneamento e habitação,
além de diversas medidas de “incentivo ao desenvolvimento econômico”. Entre elas
figuram estímulos ao crédito e ao financiamento, melhoria do ambiente de
investimentos, desoneração tributária e medidas fiscais de longo prazo. No PAC estão
previstos investimentos em infra-estrutura logística, em energia e em infra-estrutura
social e urbana superior a R$ 500 bilhões, equivalente em 2007 a cerca de 20% do
Produto Interno Bruto (PIB) 7.

Observações sobre o Gasto


Dada a dificuldade de conciliar as ações descritas no Plano de Ação para a Prevenção e
Controle do Desmatamento na Amazônia Legal com as ações orçamentárias que integram
o PPA 2004/2007, optamos pela seguinte estratégia: destacar todos os programas e ações
no PPA diretamente relacionados com o objetivo do Plano e analisar o efetivamente
aplicado em relação ao orçado em cada ano. Encontramos 12 programas afim com o
objetivo de proteção e controle do desmatamento, que somam no período 165 ações. De
um total orçado de R$ 1,934 bilhão, foram efetivamente aplicados cerca de R$ 1,219
bilhão. Ou seja, não foram aplicados cerca de R$ 715,228 milhões.
Na área de geração de informações, conhecimentos, tecnologias e equipamentos para
a sustentabilidade, espanta a relação entre o recurso orçado para os quatro anos (2004/
2007) e o efetivamente aplicado pelo programa Ciência, Natureza e Sociedade, sob a

5
Para uma visão geral sobre a questão, ver: Berta Becker (2004) Amazônia: geopolítica na virada do III Milênio (Rio de Janeiro:
Garamound); e Martin Coy e Gert Kohlhepp (2005) Amazônia Sustentável: desenvolvimento sustentável entre políticas públicas,
estratégias inovadoras e experiências locais (Rio de Janeiro: Garamound).
6
A proposta do PAS surgiu oficialmente em maio de 2003, em Rio Branco (AC), em uma reunião do presidente Lula da Silva com os
governadores dos estados da Região Norte, quando foi assinado um termo de cooperação. Em junho do mesmo ano foi criada a
Comissão de Coordenação Interministerial do PAS, sob a coordenação do Ministério da Integração Nacional (MI), cabendo ao
Ministério do Meio Ambiente (MMA) a função de secretaria executiva. Em outubro de 2003 foi elaborada uma primeira versão do
PAS, com as diretrizes gerais e as estratégias propostas.
7
Sobre as relações entre o PAC e a Iniciativa para a Integração Regional Sul-Americana (IIRSA), ver: Ricardo Verdum (2007), “Infra-
estrutura e Políticas Territoriais do Brasil no Contexto da Integração Sul-Americana”, em http://ircamericas.org/port/4736.

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responsabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). De um total de R$


108,999 milhões, somente foram aplicados R$ 61,093 milhões (56,05%).
O que estaria acontecendo? Falta de equipes qualificadas ou instituições adequadamente
estruturadas para desenvolver os estudos e pesquisas necessárias? Excesso de burocracia
impedindo o acesso aos recursos financeiros? Além de fortalecer as instituições tradicionais
no campo dos estudos dos ecossistemas tropicais impactados na Amazônia Legal, como o
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), o Museu Paraense Emílio Goeldi
(MPEG) e a Embrapa, o governo poderia (ou deveria) estar investindo mais em outros
centros de pesquisa na região, ampliando sua capacidade numa perspectiva de médio
prazo. Investir também em centros no Centro-Sul do país, promovendo a formação de
recursos humanos capacitados a melhor entender os ecossistemas tropicais e como melhor
interagir produtivamente com as florestas e suas potencialidades (medicamentos, alimentos,
fibras e sua contribuição para a hidrologia e o clima local, regional e mundial). Não nos
esqueçamos que é desta região do país, de ecossistemas de clima predominantemente
temperado, que vem boa parte dos técnicos que sustentam a expansão do agronegócio
(gado, cana, grãos etc.) sobre os Cerrados e as florestas tropicais na Amazônia.
Entre os 12 programas, o Amazônia Sustentável ficou em décimo lugar em termos de
desempenho. Aplicou menos de 39,40% do recurso orçado para o período de 2004/
2007. Na ação destinada a apoiar a estruturação do sistema de gestão de recursos naturais
na Amazônia, foram aplicados 35,47% dos R$102,917 milhões orçados; na ação de
fomento a projetos demonstrativos de desenvolvimento sustentável e conservação da
Amazônia, também do Programa Piloto (PPG7), com um orçamento total de R$ 46,538
milhões, foram aplicados 23,06%.
No programa Zoneamento Ecológico-Econômico, deixaram de ser aplicados cerca de
R$ 34,555 milhões, o equivalente a 64,24% do total orçado.
O programa Áreas Protegidas do Brasil também deixou a desejar. Dos R$ 188,072
milhões orçados, foram aplicados R$ 125,741 milhões (66,86%). Menos de 41% do
recurso orçado para a implantação de “corredores ecológicos” foi aplicado. Somente em
2007, ecossistemas como o Cerrado, a Caatinga e Campos Sulinos passaram a ter uma
dotação orçamentária específica para a gestão de áreas protegidas.
Por fim, gostaríamos de destacar o programa Comunidades Tradicionais. De um total
de R$ 102,670 milhões orçados para ações de capacitação, apoio à organização e de
fomento a projetos de desenvolvimento sustentável de comunidades tradicionais, foram
aplicados cerca de R$ 49,731 milhões (48,44%). Embora o valor orçado em 2007
tenha sido quatro vezes maior que o de 2006, o montante aplicado ficou bem próximo
do total aplicado neste ano. Este fato, que setores do governo federal devem interpretar
como sendo um feito, coloca em cheque, a nosso ver, a retórica social (liberal) do governo.
Também coloca em cheque outra importante iniciativa do atual governo: o Plano Nacional
de Áreas Protegidas (PNAP) 8. Como promover o programa “áreas protegidas” sem investir
nas comunidades locais?

8
Instituído pelo Decreto 5.758, de 13 de abril de 2006. O decreto está disponível no seguinte endereço na web: www.mma.gov.br/
estruturas/ascom_boletins/_arquivos/plano_completo.pdf

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Matas, Florestas e Desmatamento no PPA 2004-2007 (valores deflacionados - IPCA)
Consulta realizada em: 15/04/2008
Maio de 2008

2004 2005 2006 2007 TOTAL 2004-2007


Programas / Órgãos %L/A
Autorizado Liquidado Autorizado Liquidado Autorizado Liquidado Autorizado Liquidado Autorizado Liquidado

151 - Proteção de Terras Indígenas, Gestão


50.362.263 32.100.047 59.665.144 37.874.975 45.322.662 33.925.534 34.004.535 28.822.015 189.354.604 132.722.571 70,09%
Territorial e Etnodesenvolvimento

< INSERIR AQUI A TABELA >


Ministério da Justiça 37.539.030 31.392.523 43.883.386 36.812.245 39.940.723 32.346.911 29.398.000 27.344.611 150.761.139 127.896.290 84,83%
Ministério do Meio Ambiente 12.823.233 707.524 15.781.758 1.062.730 5.381.939 1.578.623 4.606.535 1.477.404 38.593.465 4.826.281 12,51%

496 - Informações Integradas para Proteção da


208.787.520 140.050.914 191.791.979 141.217.616 55.265.774 37.750.967 50.674.000 27.633.279 506.519.273 346.652.776 68,44%
Amazônia
Presidência 75.364.646 65.517.322 95.582.417 70.406.838 51.452.246 36.180.644 48.674.000 25.633.453 271.073.309 197.738.257 72,95%
Ministério da Defesa 133.422.874 74.533.592 96.209.562 70.810.778 3.813.528 1.570.323 2.000.000 1.999.826 235.445.964 148.914.519 63,25%

499 - Áreas Protegidas do Brasil 38.681.140 25.113.726 33.132.020 25.245.163 59.545.532 45.298.799 56.714.085 30.083.339 188.072.777 125.741.027 66,86%

Ministério do Meio Ambiente 38.681.140 25.113.726 33.132.020 25.245.163 59.545.532 45.298.799 56.714.085 30.083.339 188.072.777 125.741.027 66,86%

502 - Amazônia Sustentável 59.144.926 25.396.383 71.299.636 29.821.531 60.690.816 23.429.906 20.496.554 4.659.507 211.631.932 83.307.327 39,36%

Ministerio do Meio Ambiente 59.144.926 25.396.383 71.299.636 29.821.531 60.690.816 23.429.906 20.496.554 4.659.507 211.631.932 83.307.327 39,36%

503 - Prevenção e Combate ao Desmatamento,


38.075.430 24.843.793 46.153.225 44.582.987 45.957.935 44.485.862 47.137.741 43.426.153 177.324.331 157.338.795 88,73%
Queimadas e Incêndios Florestais - Florescer

Ministério do Meio Ambiente 36.750.999 23.538.588 44.903.045 43.357.455 44.691.629 43.219.556 45.937.741 42.486.341 172.283.414 152.601.940 88,58%
Ministério da C&T 1.324.431 1.305.205 1.250.180 1.225.532 1.266.306 1.266.306 1.200.000 939.812 5.040.917 4.736.855 93,97%

506 - Nacional de Florestas 26.334.083 18.879.790 41.835.294 30.563.255 36.321.719 27.074.599 48.100.840 19.683.623 152.591.936 96.201.267 63,04%

Ministério do Meio Ambiente 26.334.083 18.879.790 41.835.294 30.563.255 36.321.719 27.074.599 48.100.840 19.683.623 152.591.936 96.201.267 63,04%

508 - Conservação, Uso Sustentável e


27.288.831 18.687.528 38.465.590 25.783.210 55.167.538 39.835.845 75.563.400 34.093.301 196.485.359 118.399.884 60,26%
Recuperação da Biodiversidade

Ministério do Meio Ambiente 27.288.831 18.687.528 38.346.008 25.721.113 55.062.013 39.789.338 75.563.400 34.093.301 196.260.252 118.291.280 60,27%
Ministério da Integração Nacional 0 0 119.582 62.097 105.525 46.507 0 0 225.107 108.604 48,25%

512 - Zoneamento Ecológico-Econômico 12.088.079 8.067.867 16.214.852 5.358.463 13.792.713 3.574.514 11.696.990 2.236.256 53.792.634 19.237.100 35,76%

Políticas Socioambiental e Indígena


Ministério do Meio Ambuente 2.180.824 2.118.918 2.241.389 2.040.768 2.548.341 2.484.844 10.225.810 1.545.106 17.196.364 8.189.636 47,62%
Ministério de Minas e Energia 0 0 543.556 374.604 470.218 24.710 60.300 59.150 1.074.074 458.464 42,68%
Ministério da Integração Nacional 9.907.255 5.948.949 13.429.907 2.943.091 10.774.154 1.064.960 1.410.880 632.000 35.522.196 10.589.000 29,81%

1122 - Ciência, Natureza e Sociedade 31.162.519 12.307.283 28.255.740 13.612.919 35.464.276 24.675.369 14.117.109 10.497.544 108.999.644 61.093.115 56,05%

Ministério da Ciência e Tecnologia 31.162.519 12.307.283 28.255.740 13.612.919 35.464.276 24.675.369 14.117.109 10.497.544 108.999.644 61.093.115 56,05%

1145 - Comunidades Tradicionais 10.778.288 9.585.695 17.521.696 12.411.458 14.026.315 13.314.868 60.343.702 14.419.954 102.670.001 49.731.975 48,44%

Ministério do Meio Ambiente 10.778.288 9.585.695 17.521.696 12.411.458 14.026.315 13.314.868 60.343.702 14.419.954 102.670.001 49.731.975 48,44%

1270 - Proambiente 4.854.323 3.521.362 5.234.135 3.926.738 4.944.031 3.854.160 2.681.252 2.485.428 17.713.741 13.787.688 77,84%
Ministério do Meio Ambiente 3.711.179 2.929.790 4.658.838 3.351.490 3.994.302 2.934.562 2.681.252 2.485.428 15.045.571 11.701.270 77,77%
Ministério da Agricultura 1.143.144 591.572 575.297 575.248 949.729 919.598 0 0 2.668.170 2.086.418 78,20%

1332 - Conservação e Recuperação dos Biomas


4.716.338 3.821.703 19.628.702 7.806.018 3.761.849 2.292.523 1.395.682 1.296.911 29.502.571 15.217.155 51,58%
Brasileiros
6

Ministério do Meio Ambiente 4.716.338 3.821.703 19.628.702 7.806.018 3.761.849 2.292.523 1.395.682 1.296.911 29.502.571 15.217.155 51,58%
TOTAL 512.273.740 322.376.091 569.198.013 378.204.333 430.261.160 299.512.946 422.925.890 219.337.310 1.934.658.803 1.219.430.680 63,03%

Fonte: Siga Brasil/Senado Federal e Câmara dos Deputados Elaboração: Inesc.


Políticas Socioambiental e Indígena

Retomada do desmatamento
Em janeiro de 2008, as vésperas do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal (PAPCDAL) do governo federal completar quatro
anos de implementação, e depois de três anos de “boas notícias” sobre queda nos índices
anuais de desmatamento na Amazônia, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o
Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) divulgaram dados nada otimistas sobre o
processo de desmatamento na Amazônia Legal.
Embora provisórios, os dados apresentados apontavam haver evidências materiais
suficientes para se afirmar que no segundo semestre de 2007 haveria uma inflexão
ascendente no nível de desmatamento na região. O sistema de Detecção de Desmatamento
em Tempo Real (Deter), do Inpe, registrou no período a derrubada de 3.235 km2 de
floresta na Amazônia, podendo ter chegado ao dobro disto. Mato Grosso, Pará e Rondônia
foram, de longe, os campeões de derrubada das matas e florestas.
Frente a este quadro, o governo federal decretou o recadastramento pelo Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de cerca de 80 mil propriedades em 36
municípios, onde estão concentrados cerca de 50% do desmatamento verificado no período9.
O Conselho Monetário Nacional (CMN), em 29 de fevereiro de 2008, com base no
Decreto n.º 6321/2007, aprovou uma resolução que condiciona a cessão de crédito para a
safra agrícola 2008/2009, no “Bioma Amazônia”, ao cumprimento da legislação ambiental
(Resolução BACEN n.º 3545/08)10. Um dos critérios é a manutenção da “reserva legal”, que
no caso da Amazônia significa que o proprietário rural deve manter de pé 80% da floresta
existente na sua propriedade. Esta medida estende-se também às instituições financeiras
privadas que estejam atuando como agentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil11.
Segundo noticiado pela Folha de São Paulo, em 08/04/2008, apenas 20% das propriedades
rurais atenderam à exigência de recadastramento do Incra nos 19 municípios citados como os
mais devastadores da Amazônia em Mato Grosso. O chefe de divisão de Ordenamento da
Estrutura Fundiária do Incra-MT, Celso de Arruda, diz que houve “boicote” dos produtores
rurais; tese contestada pela advogada Elizete Araújo Ramos, assessora jurídica da Federação da
Agricultura de Mato Grosso. A partir desta data, diz a notícia, “os fazendeiros que não
recadastraram suas terras terão suspensos os CCIRs (Certificados de Cadastro de Imóveis
Rurais) e ficarão impedidos de vender, escriturar, transferir ou promover qualquer tipo de
alteração nas propriedades”. Vamos ver como reagirá o governo diante disto. Se e em que
medida aplicará o que foi por ele estabelecido como pena12.

9
O Decreto n.º 6321/2007, disponível no endereço www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6321.htm,
deu origem à Portaria n.º 28/08, do MMA; à Instrução Normativa n.º 44/08, do Incra; à Instrução Normativa n.º 001/08, no
MMA; e à Portaria n.º 96/08, do MMA.
10
A Resolução n.º 3545/08 está disponível na página web do Banco Central, no seguinte endereço: http://www5.bcb.gov.br/
normativos/detalhamentocorreio.asp?N=108019002&C=&ASS=RESOLUCAO+3.545&id=buscanorma
11
Ver artigo de Paulo de Bessa Antunes, “Os bancos e o desenvolvimento da Amazônia”, publicado no jornal Valor Econômico, em 01/
04/2008.
12
Segundo o Repórter Brasil, em matéria divulgada em 30/04/2008, do total de 15,4 mil imóveis com área superior a 400 hectares
existentes nesses 36 municípios (que foram escolhidos como foco da iniciativa governamental), apenas 3.080 (20%) havia protocolado
a documentação necessária para iniciar o processo de recadastramento fundiário. Disponível em: www.reporterbrasil.com.br/
exibe.php?id=1340

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Políticas Socioambiental e Indígena

Mas há uma questão anterior na qual ainda pouco se avançou: os bancos, de modo
geral, sejam públicos ou privados, ainda que formalmente adotem algum tipo de critério
de sustentabilidade social e ambiental para avaliar pedidos de concessão de financiamento,
de fato não dispõem de instrumentos adequados e efetivos que permitam avaliar os riscos
e os danos sociais e ambientais que sua ação poderá provocar.
Isto pode até ser compreensível (até certo ponto, óbvio! Mas que deve ser cada vez
menos tolerável, espera-se) se considerarmos o quão entranhado estão nos discursos e nas
estruturas de análise e ação destas instituições idéias e concepções que associam “progresso”
e “desenvolvimento” com o desmatamento das áreas de floresta e das matas do Cerrado13.
Ainda é muito forte sua relação com a produção extensiva de culturas agrícolas (situação
agravada com as políticas de incentivo aos agrocombustíveis); com a ampliação das áreas
de pasto para criação de gado; com a abertura de estradas e hidrovias para facilitar o
acesso e o escoamento de recursos naturais (incluso minerais) de regiões antes pouco
acessíveis e com baixa ocupação demográfica; com obras faraônicas de engenharia como
grandes barragens para geração de hidroenergia, entre outros14.
Reconhecendo que houve um baixo desempenho e que não foram cumpridas muitas
metas estruturantes definidas em 2004, principalmente nos eixos de ação (i) Fomento às
Atividades Sustentáveis e (ii) Monitoramento e Controle, o governo federal vem
anunciando para este mês de maio a apresentação de um balanço oficial da implementação
do Plano no período de 2004/2007. Uma nova versão do Plano está em elaboração,
onde os “gargalos” enfrentados na primeira fase estariam sendo levados em consideração.
O anúncio foi feito pelos representantes do governo federal Johaness Eck (Casa Civil) e
André Lima (MMA), durante audiência pública realizada pela Comissão de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS), na Câmara dos Deputados, em 15
de abril passado. Nessa ocasião, estava em discussão o relatório do Greenpeace intitulado
O Leão Acordou: Uma análise do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal, divulgado no mês de março passado, segundo o qual
apenas 31% das metas previstas no Plano haviam sido cumpridas até meados de 200715.
Ao que parece, os responsáveis pela elaboração do Plano subestimaram os fatores que
orientam o processo de avanço das atividades econômicas insustentáveis sobre a floresta. Atuaram
mais sobre os resultados e menos sobre os processos indutores das transformações sociais,
econômicas e ambientais em curso na Amazônia Legal, e também nas áreas do bioma Cerrado.

13
Segundo estudo divulgado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza, “apesar de não haver monitoramento oficial, estima-se que
o desmatamento na região gire em torno de 1,1% ao ano, o equivale à destruição de cerca de 22 mil Km² por ano, sendo maior que
o desmate na Amazônia” compara Nilo D’Avila, assessor de políticas públicas do ISPN. Nas últimas décadas, o Cerrado já perdeu a
metade de sua cobertura vegetal. As principais causas do desmatamento no Cerrado estão relacionadas à agricultura e pecuária
praticadas inclusive sobre áreas que deveriam estar sob proteção e que são a base do estudo do ISPN. Ver em: http://
www.socioambiental.org/banco_imagens/pdfs/EstudoPDF.pdf
14
O mesmo deve ser dito em relação à falta de mecanismos para receber denúncias de violação de direitos e de impactos ambientais e para
investigar com transparência sua procedência. Mesmo instituições públicas como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) e do Banco do Brasil (BB), que têm investimentos crescentes nos países vizinhos sul-americanos, carecem deste tipo
de mecanismo com a desejada transparência, participação e controle social.
15
O relatório do Greenpeace está disponível na página da entidade no seguinte endereço: http://www.greenpeace.org/raw/content/
brasil/documentos/amazonia/desmatamento-na-amaz-nia-o-l.pdf . Em abril de 2008, o Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis
da ONG Repórter Brasil deu início à divulgação dos resultados de estudos, que realizam desde 2003, sobre os impactos sociais,
ambientais, fundiários e trabalhistas do processo expansão das lavouras para produção de agrocombustíveis no Brasil. O relatório
intitula-se “O Brasil dos Agrocombustíveis: os impactos das lavouras sobre a terra, o meio e a sociedade”. Está disponível no seguinte
endereço na web: www.reporterbrasil.org.br/agrocombustiveis/

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Políticas Socioambiental e Indígena

A isto parece associar-se uma superestimativa da capacidade do governo federal para


conter, no tempo desejado, o processo de desmatamento, contando com limitados meios
de pessoal, com grande dificuldade para realizar a articulação interinstitucional à altura
do objetivo, com recursos financeiros de longe insuficientes e sujeitos ao
contingenciamento visando gerar superávit primário, entre outros fatores.
Para complicar um pouco mais o cenário, está em curso no Congresso Nacional uma
ação muito bem orquestrada por setores ligados ao agronegócio. Esta ação visa, entre
outras coisas, diminuir de 80% para 50% a área de “reserva legal” na Amazônia Legal
(Projeto de Lei n.º 6.424/85, de autoria do senador Flexa Ribeiro - PSDB/PA) e reduzir
a faixa de fronteira de 150 km para 50 km de largura (Projeto de Emenda Constitucional
n.º 49/2006, de autoria do senador Sérgio Zambiasi - PTB/RS). No caso desta última
iniciativa, é sabido que faz parte da estratégia das empresas produtoras de celulose instaladas
ou interessadas em instalar-se na Região Sul do país, principalmente no Rio Grande do
Sul, de olho no mercado do papel e de “biocombustível” 16.

Considerações finais
Tendo em vista estar colocado o desafio maior de “o que fazer?” diante deste quadro de
avanço do desmatamento, de pressão interna e externa para a ampliação da área de ocupada
pelo agronegócio - fortalecido pelas políticas de incentivo aos agrocombustíveis -, arriscamos
apontar algumas linhas de trabalho visando trazer alguma mudança positiva neste quadro:
·
solucionar os problemas de coordenação executiva no âmbito da Casa Civil e
promover uma melhor integração interministerial no planejamento e execução das ações
e atividades acordadas;
·
reformular a estratégia de monitoramento dos programas e ações que integram o
Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal,
passando a acompanhar com mais rigor sua execução, à semelhança do que é feito para as
obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC);
·
aplicar, de fato, a denominada Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) na avaliação
dos projetos de infra-estrutura previstos no PAC e para a liberação de recursos financeiros
destinados a cadeia produtiva dos “biocombustíveis”;
·
fortalecer a capacidade operacional dos órgãos envolvidos, principalmente os órgãos
estaduais de meio ambiente (OEMAs) e as “bases operativas” responsáveis por coibir o
desmatamento, a exploração ilegal de madeira, a grilagem de terras, o trabalho escravo, o
tráfico de armas, a falsificação de documentos, a sonegação fiscal e a lavagem de dinheiro;
· dar maior transparência ao andamento dos trabalhos e resultados alcançados; e,
· promover um pacto de metas e responsabilidades dentro da esfera pública (entre

16
Em 04/05/2008, o jornal Correio Brasiliense (de Brasília) ocupou duas páginas para relatar as artimanhas políticas e econômicas de
empresas papeleiras (Votorantin, Atore Enso e Aracruz) interessadas na aprovação desta emenda à Constituição Federal. Além da
pressão permanente sobre os órgãos ambientais, visando facilitar o licenciamento, vêm comprando milhares de hectares de terra no RS,
anunciam vultosos investimentos futuros e apoiando campanhas políticas de candidatos de praticamente todos os principais partidos
políticos naquele estado.

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Políticas Socioambiental e Indígena

União, estados e municípios) e entre esta e o setor privado, principalmente a indústria


que utiliza e consome carvão vegetal (siderurgia) e o setor agrícola ligado ao agronegócio.
Outros desafios não menos importantes a serem enfrentados são: o desenvolvimento de
programas e a aplicação de recursos financeiros no fomento ao uso agroecológico das áreas
já desflorestadas. Associado a eles, está a criação e implementação de instrumentos financeiros
(tributários e de fomento) que reorientem a atividade produtiva para nichos mais sustentáveis
e o aprimoramento dos mecanismos de monitoramento da ocupação da terra.
Por fim, aos assentamentos rurais de reforma agrária na região, entendemos que deve
ser constituído um programa de “crédito ambiental” para financiar a conservação da
floresta em pé e a recuperação de áreas degradadas nos assentamentos. Os estudos realizados
por Flávia Camargo de Araújo17 na Amazônia nos anos de 2005 e 2006, visando avaliar
a interface da Política Ambiental com a Política de Reforma Agrária no Brasil, demonstram
que a inserção da variável ambiental nas ações de reforma agrária ainda é (2006) muito
incipiente, estando mais presente no discurso do que na prática. Tendo em vista a
construção da sustentabilidade no meio rural, conclui que são necessárias mudanças na
gestão ambiental da Reforma Agrária e na forma como vem sendo executada essa política.

Ricardo Verdum
Assessor de Políticas Indígena e
Socioambiental do Inesc

17
Dissertação de mestrado defendida pela a autora em 2006, com o título Reforma Agrária e Gestão Ambiental: encontros e desencontros
(Brasília: CDS/UnB).

EXPEDIENTE
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