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A República brasileira

Antecedentes

De certa forma a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 foi a nossa


Revolução Francesa que tardou cem anos a chegar.

Foi com a República que implantou-se o Federalismo, o sistema Presidencialista, a


independência dos Poderes, bem como a separação do Estada da Igreja. Terminou-se com a
hierarquia baseada no nascimento e na tradição de família substituindo-a pela forma
republicana e democrática baseada no talento pessoal e no mérito.

Ela foi obra de militares e de um escasso grupo de civis do Partido Republicano, fundado em
1873.

Os militares a crise do Império

O Império havia sempre dado preferência pela Marinha de Guerra, arma aristocrática. Foi a
longa e dolorosa Guerra do Paraguai, travada entre 1865 e 1870, que terminou por projetar
o exército Brasileiro como força política. ao ter que armas e adestrar milhares de soldados e
oficiais o Império terminou inclinando o peso da balança do poder para os soldados. Também
foi fator marcante da atitude cada vez mais republicana por parte da oficialidade o seu
contato com os militares da Argentina e do Uruguai durante a guerra paraguaia. Até 1889 o
brasil era o único Império existente na América inteira. Todas as demais nações vizinhas
eram Republicanas. É claro que a guerra serviu para atiçar o ardor nacionalista das tropas o
que levou a oficialidade a hostilizar cada vez mais o Conde D'Eu, de origem francesa, o
marido da Princesa Isabel e provável sucessor de fato do velho Imperador D. Pedro II.
Tamanho passou a ser o receio de que o exército desse um golpe depois de sua vitória
contra o Paraguai que as autoridades imperiais resolveram cancelar a marcha da vitória que
seria realizada pelas tropas vindas da guerra recém finda.

Vários militares converteram-se não apenas ao republicanismo como também ao


abolicionismo. Entre eles destacou-se o coronel Sena Madureira que publicamente
parabenizou os jangadeiros cearenses quando aqueles negaram-se a transportar escravos
em suas embarcações apressando a abolição da escravatura no Ceará. Sena Madureira foi
repreendido pelo Ministro Civil que o puniu. Foi que bastou para que vários oficiais se
tornassem solidários com Sena Madureira, entre outros o Marechal Deodoro da Fonseca.
Os militares e a abolição

Entremente o movimento abolicionista estimulava tanto no Rio de Janeiro como em São


Paulo as fugas em massa dos escravos. As matas do vale do Parnaíba estavam repletas de
fugitivos. Seu número chegou a tal expressão que as autoridades imperiais cogitaram de
utilizar-se do Exército para recapturá-los. Foi então que o Marechal Deodoro da Fonseca
enviou-lhes um telegrama negando-se a transformar seus soldados e oficiais em "capitães do
mato". A um Exército que recém vinha de uma guerra vitoriosa repugnava ser lançado em
indignas operações policiais. Desta forma eles se colocavam objetivamente a favor da
abolição o que ocorreu logo em seguida.
Os republicanos

Os dois maiores partidos brasileiros eram monarquistas: o Partido Liberal e o Partido


Conservador. Desde o governo de conciliação de 1853 eles se alternavam no poder sem
grandes litígios. Na prática o Brasil era um país com governo extremamente centralizado
apesar da aparência parlamentarista. Inspirados então pela proclamação da 3ª República
francesa, políticos paulistas resolveram primeiro lançar um Manifesto Republicano em 1870 e
depois formalizaram a fundação de um partido três anos depois, em 1873.

Quando a República foi proclamada pelos militares em 15 de novembro, os civis republicanos


eram uma escassa minoria espalhada pelo país. Na verdade eram ilhas minúsculas cercadas
pelos partidários da monarquia por todos os lados. Mas os esforçados e coesos republicanos
exploraram bem os constantes atritos que o exército passou a ter com os governos
imperiais.

Dado a sua pouca representatividade eles perceberam que dificilmente a monarquia seria
destituída sem o socorro das armas do Exército. Assim a imprensa republicana passou a
vigiar cada manifestação dos oficiais bem como colocou suas páginas para que eles dessem
vazão a sua insatisfação. Aqui no Rio Grande do sul o jornal republicano "A Federação"
dirigido por Júlio de Castilhos não media esforços para abrir mais e mais as brechas abertas
entre os oficiais e o Imperador. Inclusive foi num sítio de propriedade de Júlio de Castilhos
onde, vários meses antes da proclamação republicana, adotou-se a tática de estimular os
militares ao golpe.

A República Oligárquica

A proclamação da República

A crise final se deu com a inconformidade das tropas perante as punições que o Marechal
Deodoro, verdadeiro ídolo do Exército, estava sofrendo por parte do gabinete chefiado pelo
Visconde de Ouro Preto. Floriano Peixoto encarregado de sufocar o levante aderiu a ele. O
governo não contava mais com o apoio de ninguém. A Marinha ficou paralisada e o
Imperador foi convidado a abandonar o país. O golpe foi incruento pela falta de qualquer
resistência organizada. No entanto, os anos seguintes seriam sombrios para a República
recém implantada.
A constituição republicana

Tornado presidente provisório, o Marechal Deodoro tratou de marcar eleições para a


formação de uma Assembléia Constituinte. Em 1891 ela aprovou a primeira Carta
republicana da nossa história. fixou-se o regime presidencialista com mando de 4 anos, a
criação de uma Suprema Corte para arbitrar os conflitos constitucionais e deu-se grande
autonomia política aos Estados e Municípios como determinava o federalismo norte-
americano. No seu afã de americanizar o Brasil, os constituintes chegaram a mudar o nome
do Brasil para Estados Unidos do Brasil. E, inspirados pelo positivismo francês adotaram na
nossa bandeira o lema favorito de Auguste Comte "Ordem e Progresso" como um ideal a ser
seguido. O recado estava claro, Progresso sim mas com o controle das Forças Armadas.

A exclusão do povo

A reforma eleitoral aprovada pelos republicanos foi marcada pela exclusão da grande maioria
do povo brasileiro. A adoção do preceito de que analfabeto não tem direito a votar
marginalizou a maioria da nossa população, especialmente os escravos recentemente
alforriados que eram em número de um milhão e meio numa população de dez milhões de
habitantes. Além desta exclusão, os republicanos criaram um sistema eleitoral que terminava
por estimular a fraude visto que o voto não era secreto e o próprio governo se encarregava
de contar os votos. Rapidamente o poder real e concreto resvalou para os coronéis do
interior, para os mandões locais que manipulavam os resultados eleitorais visto que
controlavam os seus currais eleitorais com mão-de-ferro. Não demorou muito para que o
processo eleitoral se tornasse sinônimo de farsa. Um jogo de cartas marcadas onde todos os
resultados eram previsíveis de antemão.
As reações anti-republicanas

Ao contrário da versão conservadora de ter sido a República uma implantação quase que
pacífica, muito sangue correu nos seus primeiros anos. Primeiro foram os almirantes de
esquadra como Custódio de Mello e Saldanha da Gama que por duas vezes se rebelaram
contra o novo regime levando o terror ao Rio de Janeiro que foi bombardeado pela esquadra
fundeada na baía da Guanabara entre 1891 e 1893. Depois foram os grandes estancieiros da
fronteira gaúcha que pegaram em armas em protesto pela marginalização do poder feita
pelo grupo dos seguidores de Júlio de Castilhos que nos conduziu a uma das mais ferozes
guerras civis da história brasileira. A Revolução Federalista de 1893/94 provocou mais de dez
mil mortos e a degola foi a nossa guilhotina. Não se dava quartel ao inimigo. Castilhos
venceu a guerra com apoio do Exército de Floriano Peixoto e seu grupo dominou o Estado
por um quarto de século.

Finalmente foi a vez dos miseráveis do campo. Liderados por um guia religioso, Antônio
Conselheiro, os jagunços de Canudos em pleno interior baiano declararam-se em guerra
contra a República, em 1896/97. Milhares de soldados foram para lá enviados para sufocar
aquela rebelião de sertanejos. Na última campanha o Exército tomou o reduto e passou boa
parte dos sobreviventes pelo fio da espada. Euclides da Cunha, repórter do Estado de São
Paulo deixou seu relato num livro admirável, o primeiro clássico republicano "Os Sertões"
que apareceu em 1903 consagrando-o como um dos grandes escritores brasileiros.
A república dos coronéis

Durante a presidência do paulista Campos Sales, entre 1898-1902, introduziu-se a chamada


"verificação dos poderes". O Sistema eleitoral brasileiro tornava-se um rígido código de
compromissos onde o "curral eleitoral", fonte teórica de legitimidade, votava no candidato do
coronel local, este por sua vez comprometia-se a dar apoio ao governador, uma espécie de
supercoronel. O governador, ou presidente do Estado, como era então denominado, por sua
vez, apoiava o Presidente da República, que se tornava assim uma espécie de patriarca do
sistema coronelístico. Era praticamente impossível a oposição vencer eleições. Assim o
princípio republicano da rotatividade das elites políticas estava impedido de realizar-se, por
toda a parte os mesmos grupos políticos controlavam todas as instâncias do Poder.
O tenentismo e a revolução de 1930

O movimento tenentista foi a primeira contestação aberta à República Oligárquica. Jovens


oficiais do Exército terminaram por liderar várias rebeliões a partir de 1922, formando um
clima propício para o desenlace do regime em 1930.

Começando com a Revolta do Forte de Copacabana em 1922, seguindo-se pela revolta


paulista em 1924, chamada de revolta de Isidoro (devido seu comandante chamar-se
General Isidoro) passando pela grande feito de armas que foi a Coluna Prestes, entre 1924-
26, culminando com o levante armado de outubro de 1930.

Estes jovens oficiais mostravam seu inconformismo com a situação política e social do Brasil
e desejavam afastar as oligarquias do comando da Nação. Só conseguiram sucesso no
entanto por dois fatores: a crise econômica de 1929 que afetou o poder da oligarquia
paulista e a rebelião das oligarquias periféricas; a do Rio Grande do Sul comandada por
Getúlio Vargas e a da Paraíba liderada por João Pessoa. Aliados a Getúlio Vargas os tenentes
tiveram por um momento no topo do poder.
A cultura da república

Pode-se dizer que a República não afetou num primeiro momento a cultura nacional que
continuava presa aos padrões estéticos da Europa, especialmente da França. Os movimentos
literários e poéticos denominados de Simbolista e Parnasiano eram tributários dos seus
equivalentes europeus. São obras de exceção que marcam a cultura nos primeiros anos da
República; especialmente "Os Sertões" de Euclides da Cunha e o romance urbano de Lima
Barreto. Esta situação de atrelamento à estética européia vai sofrer uma brusca alteração
com a Semana da Arte Moderna realizada em São Paulo, em fevereiro de 1922. Este evento
é tido como o marco da emancipação estética e cultural da intelectualidade brasileira. Não só
temas brasileiros passaram a adquirir uma preferência dominante (por exemplo: "Paulicéia
Desvairada" de Mário de Andrade, "Macunaíma" do mesmo autor, "Cobra Norato" de Augusto
Mayer, etc...) como também esboça-se uma estética nacional nas telas de Anita Malfati e
Portinari. Na música erudita surge o nome de Heitor Villa-Lobos que traz para este campo
uma temática nacionalista e verdadeiramente original.
A República Revolucionária

A Revolução de 1930

Até os anos trinta o Brasil era na realidade uma imensa fazenda que produzia para a
exportação: açúcar no Nordeste decadente e café em São Paulo. A abolição da escravidão
em 1888 terminou por abrir as portas do País ao fluxo imigratório vindo da Europa. Milhares
de braços foram então reforçar a crescentemente poderosa economia do Centro-Sul
brasileiro.

Mas a crise econômica de 1929 fez com que tudo desabasse. O preço do café despencou
para um quinto do seu valor, da noite para o dia, nossas cidades ficaram repletas de
desempregados e mendigos. Tornou-se inaceitável que os paulistas continuassem sua tutela
sobre a Nação pois eles fariam com que o ônus da crise terminasse sendo jogado nas costas
dos Estados periféricos. Getúlio Vargas lança-se como candidato à Presidência da República,
tendo o paraibano João Pessoa como seu vice, formando aliança dos periféricos contra os
paulistas então hegemônicos. Devido à fraude institucionalizada o paulista Júlio Prestres foi
eleito. Foi então que um fato dramático precipitou os acontecimentos, João Pessoa, vice de
Getúlio foi assassinado no Recife por razões de desavença pessoal. Sua morte, no entanto,
foi entendida como uma represália dos acólitos do governo do Presidente Washington Luís.

O Rio grande do Sul ergueu-se em armas. Minas ressentida pela preterição do seu candidato,
Antônio Carlos, apoiou o Rio Grande. A maioria dos Estados permaneceu passivo outros
aderiram à rebelião. Sentindo-se sem sustentação, o Presidente Washington Luís renuncia e
Getúlio Vargas assume a presidência a título provisório. A revolução tinha sido bem
sucedida.
A Contra-revolução de 1932

Insatisfeito com a sua marginalização no Poder, as oligarquias paulistas preparam-se para


pegar em armas e recuperar a sua proeminência. A pretexto da morte de quatro estudante
em conflitos de rua, São Paulo mobiliza-se. Fica no entanto sozinho. O Governo de Vergas
convoca suas forças e põe sítio aos paulistas que terminaram se rendendo. Mesmo vitorioso
Vargas compreende a necessidade de convocar uma constituinte para sedimentar as
conquistas da revolução (legislação social e ampliação e garantia dos direitos de voto).
A Intentona Comunista de 1935

Luíz Carlos Prestes, o comandante da célebre coluna que marchou por mais de 20 mil
quilômetros no interior do Brasil havia se negado a participar junto com tantos outros seus
companheiros do levante de outubro de 1930. Aceitou um convite para visitar a União
Soviética para onde rumou depois de ter divulgado um manifesto clamando por uma
revolução social. Em Moscou tomou a decisão de insuflar um levante contra o governo de
Getúlio Vargas pois relatórios de militantes comunistas indicavam-no fraco. Atuando na
clandestinidade Prestes ordenou a rebelião dos quartéis do Rio de Janeiro, Natal e Recife em
novembro de 1935. O levante foi sufocado em poucas horas e os comunistas tiveram que
amargar um período extremamente duro nas prisões varguistas. A denominada Intentona
Comunista serviu de pretexto para Vargas decretar o Estado Novo, ditadura implantada em
novembro de 1937 que se estendeu até o final da guerra, em 1945.

A República Ditatorial

O Estado Novo

A Constituição de 1934 havia consagrado Getúlio Vargas como Presidente Constitucional até
1938. Em 1937 estávamos em plena campanha eleitoral para a sucessão presidencial:
Vargas pretextando futuras convulsões provocadas pelos comunistas e apoiado num apócrifo
plano - o Plano Cohen - resolveu proclamar-se ditador cancelando as eleições, suprimindo
com os partidos, afastando governadores e prefeitos e esmagando qualquer tipo de oposição
ao novo regime de nítida inspiração nos moldes fascistas que então ascendiam em boa parte
da Europa (O "Estado Novo" em Portugal em 1932, Hitler na Alemanha em 1933, o golpe do
general Franco em 1936, etc...). a nova Constituição, redigida por um simpatizante do
fascismo, Francisco Campos, denominou-se "a polaca" por inspirar-se no sistema autoritário
do Marechal Pilszuldski da Polônia. Simultaneamente à sua política repressiva, Vargas
consolidou a legislação trabalhista que integrou socialmente a classe operária brasileira,
dando-lhes garantias protetoras e tornando-se assim "o pai dos pobres".

A República Democrática

A democratização de 1945

Preocupados com o desejo continuísta de Getúlio Vargas refletida no movimento queremista


("Queremos Getúlio"), os militares trataram de golpeá-lo em outubro de 1945. A nova carta,
aprovada em 1946, restabeleceu plenamente os direitos democráticos e a liberdade
partidária (exceção do Partido comunista, cassada em 1947).

Os governadores voltaram a serem eleitos, bem como os prefeitos. Na primeira eleição


democrática foi sufragado o General Eurico Gaspar Dutra, ministro de Getúlio Vargas (então
recolhido para suas terras em São Borja no Rio Grande do Sul).
O retorno de Getúlio Vargas ao poder

Decerto modo, mesmo afastado do Poder, Getúlio Vargas ainda controlava indiretamente a
vida política nacional. Em 1945 ele havia criado dois partidos, o PSD para congregar os
conservadores e a parte da burocracia e o PTB, partido trabalhista que visava proteger os
interesses dos trabalhadores. Estes dois partidos vão realizar uma espécie de coalizão
informal e governarão o brasil até o golpe militar de 1964. Para as eleições de 1950 Vargas
terminou se lançando pela legenda do PTB e vence com facilidade. Este seu segundo governo
foi marcado pela agitação nacionalista em torno da campanha "O Petróleo é Nosso" que
culminou na criação da Petrobrás em 1953. O atentado contra o Major Vaz, da aeronáutica,
companheiro de Carlos Lacerda, o grande oposicionista do governo Vargas, provocou uma
grande comoção especialmente junto às Forças Armadas. Para evitar ser novamente
derrubado por elas, Getúlio Vargas cometeu suicídio, em agosto de 1954, fazendo com que
ocorressem enormes manifestações e saques pelo Brasil à fora, paralisando os golpistas anti-
populistas.
O governo de Juscelino

A morte de Vargas, que traumatizou profundamente o País, foi sucedida pela bem-
aventurança do governo de Juscelino Kubistschek, ex-governador do Estado de Minas Gerais.
Eleito em 1955, Juscelino realizou um dos melhores governos da história republicana.
Estimulou a criação do parque industrial de bens de consumo, especialmente os automóveis
e deslocou a capital para o interior do Brasil.

Brasília foi inaugurada no final do seu mandato, em 1960. Tratou de forma benigna a
oposição, bem como, os dois levantes militares que foram facilmente neutralizados.

As profundas modificações que causou na estrutura social e econômica do Brasil foram os


verdadeiros legados daquele governo. Com ele o Brasil saltou em definitivo rumo à
industrialização e à internacionalização da sua economia.
A crise de 1961

Nas eleições de 1960 o povo brasileiro elegeu Jânio Quadros, ex-governador de São Paulo,
por uma maioria esmagadora de votos. Passados sete meses de sua posse, Jânio Quadros
renunciou lançando o País na sua mais grave crise do após-guerra. Os ministros militares
negaram-se a obedecer a Constituição e darem posse ao Vice-Presidente João Goulart,
acusando-o de ser simpatizante da implantação de uma república sindicalista. Na realidade
temia-se a agitação provocada pela Revolução Cubana que entrava então na sua fase
radical, realizando uma reforma agrária e banindo as burguesias agrárias e urbanas da ilha.
Leonel Brizola governador do estado do Rio Grande do Sul lança em Porto Alegre, em agosto
de 1961, o manifesto pela "Legalidade" que visava dar posse a Jango, então ausente do País,
em viagem pela China Comunista. O Exército dividiu-se quando o comandante do III
Exército, General Machado Lopes resolveu apoiar Brizola. A guerra civil foi evitada graças a
uma emenda constitucional que introduziu no Brasil o sistema parlamentarista. Por ele João
Goulart tomava posse mas teria de dividir seus poderes com o Congresso que passava a
controlar seu ministério. Jango aceitou mas depois realizou um plebiscito reintroduzindo o
presidencialismo em 1963.

A República Militarizada

O Golpe Militar de 1964

A política de reformas de base defendida pelo Presidente João Goulart provocou uma enorme
agitação entre as classes trabalhadoras e os movimentos de camponeses sem-terra. A
perspectiva de uma reforma agrária assustou os latifundiários e os proprietários de uma
forma geral. O nacionalismo atiçado pelos feitos da Revolução Cubana voltou a aflorar
ensejando a defesa de uma política de encampação e estatização de empresas estrangeiras.
A irritação militar culminou depois dos sargentos em Brasília e dos marinheiros no Rio de
Janeiro, ambos movimentos anistiados pelo Presidente. Depois do comício a favor das
reformas, feito no rio de Janeiro, em março de 1964, os dias do governo estavam contados.
O levante militar se deu no dia 31 de março para 1º de abril. Não houve resistência. O
Presidente João Goulart partiu para o exílio no Uruguai onde veio a falecer em 1976.

Esta primeira etapa do regime militar foi marcada pelo governo de coalizão entre os chefes
militares e os políticos da UDN que estimularam o golpe.
O fechamento do regime

A resistência contra a ditadura começa a ser articulada primeiro pela Frente Ampla liderada
por Carlos Lacerda (conspirador e entusiasta do golpe de 1964) que pretendia restaurar o
poder civil. Fracassada aquela articulação foi a vez dos estudantes. Em 1968 imensas
manifestações de protesto foram organizadas em várias capitais do Brasil contra as
brutalidades do regime. Depois de uma ocupação das fábricas ocorrida em Osasco, São
Paulo, e o desbaratamento do movimento estudantil em Ibiuna, São Paulo, em outubro de
1968, o regime resolveu decretar o rigoroso Ato Institucional nº 5 que implantava a ditadura
de forma absoluta no Brasil.
Repressão e violência

Os anos que se seguiram foram marcados como os mais violentos da História do Brasil.
Inconformados com o fechamento de toda e qualquer forma de expressão política centenas
de estudantes marcharam para a estrada da guerrilha urbana e rural. A pretexto de
combatê-los com maior eficiência o regime militar lançou mão de práticas de guerras
coloniais, generalizando a aplicação da tortura. O período sangrento foi acompanhado por
um notável crescimento econômico. A era General Médici foi caracterizada por esta
ambigüidade, de um lado sedimentava-se e aprofundava-se o desenvolvimento econômico
da época de Juscelino e de outro regredia-se às práticas de terrorismo de Estado dos tempos
da ditadura fascista de 1937-45.
A abertura e o fim do regime militar

Legitimado basicamente pelo sucesso econômico, o regime começou a periclitar a partir da


crise do petróleo de 1973. O estrategista do regime, o General Golbery do Couto e Silva
estimulou então a abertura política conduzida pelo General Ernesto Geisel, o presidente.

Ela ganhou corpo após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog e do operário Mário Fiel
Filho nos porões da repressão que chocaram a opinião pública brasileira.

Em 1974, os militares e seus acólitos, reunidos no partido civil que lhes dava sustentação - a
ARENA - foram derrotados nas eleições daquele ano.

Em 1979 o General Figueiredo acelera a pacificação com a lei de anistia permitindo o retorno
dos exilados políticos que se encontravam no exterior. Na série de eleições ocorridas entre
1980 a 1984, o regime se enfraqueceu ainda mais permitindo que os candidatos do partido
de oposição - o MDB - assumiram a chefia de prefeituras e governos estaduais.

A república redemocratizada

Numa última tentativa de manter o poder, o regime criou o Colégio Eleitoral onde tinha
superioridade de votos e poderia eleger um presidente da República da sua confiança.
Venceu as convenções da ARENA Paulo Maluf que no imaginário popular estava associado às
práticas corruptoras. Foi então que as oposições coligadas (o pluralismo foi autorizado em
1980) resolveram sair às ruas conclamando o povo a favor da eleição direta para a
presidência da República. Praticamente durante todo o ano de 1984 o País se encontrou
imobilizado a favor das "Diretas-Já", emenda proposta pelo deputado Dante de Oliveira e que
foi rejeitada pelo Congresso Nacional constrangido por leis de emergência. As oposições
tomaram a decisão de participar do Colégio eleitoral com candidato próprio apostando na
corrosão do regime provocada pela candidatura Maluf. Em janeiro de 1985, foi eleito
Tancredo Neves responsável pela transição pacífica para o regime democrático. A morte de
Tancredo Neves, em abril de 1985, fez com que seu sucessor fosse o vice-presidente José
Sarney egresso do partido de sustentação do regime militar. Este período de transição foi
marcado pelo Plano Cruzado do Ministro da Fazenda Dilson Funaro, pela vitória do PMDB nas
eleições de novembro de 1986 e pela aprovação da nova Corta Constitucional, orquestrada
pelo deputado Ulysses Guimarães e promulgada em outubro de 1988, considerada a mais
avançada constituição da história republicana no Brasil.

Modificações sociais e culturais na República

Poucas sociedades do mundo atual sofreram tão profundas modificações como a sociedade
brasileira neste século. Não devemos esquecer que a pouco mais de cem anos existia a
escravidão no Brasil. As terras eram ocupadas por imensos latifúndios controlados por
poderosos os fazendeiros que detinham todas as instâncias da autoridade. O sistema
patriarcal era o dominante, havendo uma absoluta e vertical obediência ao chefe clânico,
materializado, na política, pela figura do coronel.

A Igreja Católica era poderossíssima e exercia sem freios o controle da vida moral e cultural
do País. Esta sociedade trazia em si profunda aversão ao trabalho manual, à máquina e às
coisas modernas de uma forma geral.

A partir de 1930 este perfil sócio-econômico começou a ser alterado. Surge a consciência da
necessidade de industrializar o Brasil. Uma imensa siderurgia - a de Volta Redonda - é
construída e inaugurada em 1945.

São Paulo torna-se um dinâmico centro industrial, um dos maiores do mundo, atraindo
capitais e mão-de-obra de todas as partes. A estrutura familiar alterou-se com a
industrialização e a urbanização. A casa grande da fazenda deu lugar ao moderno arranha-
céu e ao edifício comercial. Uma imensa classe operária concentrou-se nas periferias das
grandes cidades. Neste século a população aumentou mais de dez vezes e nossos recursos
agrícolas, industriais e comerciais projetara o Brasil como a oitava potência econômica do
mundo capitalista.

Hoje, mais de 70% dos brasileiros vivem nas cidades, especialmente nas grandes capitais
dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Grande parte da riqueza brasileira vem do seu amplo parque industrial que produz
praticamente todos os artigos de uma moderna sociedade de consumo de massa e de uma
agricultura em fase de intensa mecanização voltada para a mecanização voltada para a
exportação.

Notas bibliográficas

Os melhores livros sobre a História da República são os Edgar Carone que publica dois
volumes para cada subdivisão da história republicana e que já chegaram a nove títulos todos
editados pela Difel de São Paulo. Também merecem referência especial os de Hélio Silva com
a edição do Ciclo de Vargas e que chegou a dezesseis títulos e possui um copioso material
documental. Os modernos enfoques históricos que abrangem os aspectos políticos e sociais
encontram-se na História Geral da civilização Brasileira, editado sob a orientação de Boris
Fausto e publicado pela Difel de São Paulo.

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