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AYRTON MACEDO GONÇALEZ

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO AUMENTO SALARIAL DOS

POLÍTICOS

ETEC GETULIO VARGAS

2011 SÃO PAULO


AUMENTO DOS SÁLARIOS DOS POLÍTICOS

No final do ano passado, o bispo de Limoeiro do Norte, no Ceará, Dom


Manuel Edmilson da Cruz, recusou uma homenagem do Congresso em razão
de sua indignação a respeito do aumento de 61% aprovado pelos
parlamentares.
Segundo o bispo, aquele aumento seria um atentado contra os direitos
humanos do povo brasileiro. Disse ainda, que os políticos que votaram a favor
desse reajuste não representam o povo. Em meio a seu discurso, defendeu a
criação de uma lei que atrele o reajuste salarial dos parlamentares ao do
salário mínimo e das aposentadorias.
Analisando a ideia defendida pelo bispo, é necessário ressaltar que tal
atitude deveria ser tomada constantemente, pois trata de uma questão que
afeta todo o país. A luta contra a corrupção é fundamental para a melhoria das
condições de vida da população e por isso, deve fazer parte do cotidiano de
todos.
Não é possível aceitar o fato de que um aumento de 61% no salário dos
parlamentares seja aprovado em sete minutos com 95% dos votos a favor de
tal decisão, enquanto um projeto criado para fazer uma melhoria na saúde ou
na educação, por exemplo, demore meses e até anos para ser votado e em
muitos dos casos, tais projetos podem ainda ser recusados.
Essa situação fere a dignidade do contribuinte, que trabalha quase cinco
meses do ano para pagar impostos. Por isso, pessoas como esse bispo, que
calou durante oito minutos todo o Congresso nacional, deveriam ser apoiadas
com mais fervor, principalmente pelos meios de comunicação.
É interessante lembrar que esse episódio não foi muito difundido pela
mídia, talvez pelo desinteresse das emissoras em despertar na população uma
consciência a respeito dos rumos que a política brasileira está tomando. Pode-
se observar que a maioria dos programas de televisão não transmitem um
conteúdo ligado ao desenvolvimento intelectual e, sim, visam entreter o povo
transmitindo novelas e jogos de futebol, o que leva a uma alienação por parte
dos telespectadores , fazendo com o que o interesse por assuntos ligados à
política – que são de suma importância para o âmbito popular, pois influencia
diretamente na vida das pessoas – caia vertiginosamente.
Desse modo, torna-se muito mais simples para os corruptos manipular a
população e desvirtuar-se de suas obrigações enquanto representante do
povo, resultando nos enormes e inúmeros problemas sociais que atingem a
nação, tais como educação de má qualidade e a precariedade na saúde
pública.
Em determinado momento do discurso do bispo, ele afirma que votar em
político corrupto seria votar na votar na morte. Diante da situação vivida pelo
país, sobretudo em relação à postura dos governantes em relação às
necessidades do povo, não há palavras mais abrangentes, simplórias e
objetivas que as proferidas por Dom Manuel nessa singela frase, que sintetiza
fielmente o quadro político brasileiro.
Outra questão que deve ser discutida com muita atenção diz respeito à
criação de uma lei que atrele o aumento salarial dos políticos ao reajuste ao
salário mínimo e da aposentadoria, de modo que ambos guardem a mesma
proporção. A aprovação de uma lei dessa natureza mudaria bastante o
procedimento dos políticos frente aos reajustes salariais, pois tornaria-se
necessário analisar cuidadosamente a porcentagem a ser aumentada, levando
em conta uma série de fatores, ligados diretamente a aspectos de fundo
sociais, econômicos e até morais.
O grande desafio, no entanto, é fazer com que um projeto desse tipo
passe pela Câmara dos Deputados e pelo Congresso, o que seria bem difícil
de acontecer, tendo em vista que tal decisão contrariaria os interesses de
muitos parlamentares, especialmente os dos corruptos.
É ingenuidade achar que um político capaz de aprovar um aumento
como aquele, que representa um desrespeito explícito ao povo, irá votar a favor
de uma decisão que provavelmente “prejudicará” suas aspirações. De acordo
com Dom Manuel, “temos ali no Congresso pessoas competentes, boas
pessoas, grandes homens, mas ninguém ainda do porte de um Nelson
Mandela, que, ao tomar posse na Presidência de seu país, fez baixar em 50%
o valor de seus honorários”.
Ainda que haja políticos honestos e preocupados com o bem-estar
comum, não se pode criar a falsa esperança, pelo menos a curto prazo, de que
esses políticos – que na votação do reajuste constituíram 5% dos que foram
contra a decisão – possam modificar repentinamente a mentalidade e as
atitudes de todo o corpo parlamentar brasileiro presente no Congresso e nas
demais câmaras, pois mesmo que criem um projeto que favoreça de fato o
povo, este não seria aprovado, caso contrarie algum princípio da camada
corrupta.
Ao dizer categoricamente que aquele aumento era um atentado aos
direitos humanos do povo brasileiro, o bispo caracterizou fielmente não só
aquela decisão, mas também todas as demais ações exercidas pelo
parlamentares que prejudicam a vida do cidadão. Não seria escárnio dizer que
essas decisões têm também um fundo de ingratidão. Ora, o corrupto está
atacando o cidadão, mas está atacando, sobretudo, o contribuinte, que na
verdade sustenta, por meios dos altos impostos, toda essa corja parlamentar
ou como disse Dom Manuel, “para-lamentar”.
Após analisar cuidadosamente as colocações do bispo e fazer as
observações pessoais a respeito da situação política do Brasil, pode-se
concluir que é necessário haver uma conscientização popular em relação às
questões de fundo político, pois são elas que provocam as mudanças
profundas no país. É inimaginável que se possa aceitar passivamente todas as
disparidades impostas pelos políticos desonestos, que não possuem nenhuma
consideração pelo cidadão, pelo eleitor, responsável por conceder a tais
pessoas o direito de ocupar um cargo criado justamente para representar e
defender a população brasileira.
É possível acreditar numa mudança em nosso país, mesmo a longo
prazo, pois haverá um momento em que a omissão popular cesará e nessa
hora teremos uma transformação na sociedade brasileira. Essa transformação
irá despertar na mentalidade das pessoas um profundo interesse pelas
decisões políticas e isso fará com que o cidadão escolha melhor seus
candidatos, de modo que a corrupção se torne uma exceção e não a regra.
No entanto, para que tais mudanças ocorram, é preciso haver uma
revolução no campo educacional brasileiro, pois somente a formação de
grandes mentes pode refletir na execução de grandes atos e só grandes atos
constroem grandes nações.

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