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História das Ideias Políticas :Conceito de Direito de Resistência

Idade Média
Para conservar a sociedade política é necessário que haja um dever de obediência às
leis, sendo este o ponto de partida da argumentação jurídica e política. Contudo, a
teologia jurídica aponta restrições ao dever de acatamento da lei, existindo
inclusivamente três aspectos em que os governados podem recusar obediência:

1. Oposição a leis injustas


2. Resistência à opressão
3. Resistência à revolução

Na Suma Teológica de S. Tomás de Aquino, (assim como noutras tais como Regime dos
Príncipes e Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo) é possível encontrar o
desenvolvimento dos seguintes tópicos: a lei injusta, se a lei não for verdadeira não
obriga os particulares nem em consciência nem em acto; salvo para evitar escândalo
ou desordem maior na sociedade.

Para este autor, o poder encontra-se na origem em Deus pois Este, uma vez tendo
desejado a sociedade, desejou-lhe necessariamente o meio apropriado, ou seja, a
autoridade, visto que a sociedade sem autoridade iria sem dúvida ao encontro da
anarquia. Daqui resultou o poder político da Direito Humano.

Na terceira obra referida do autor, encontra-se a distinção entre tyrannus secundum


regímen et titulum e o tyrannus secundum regímen tantum. o primeiro refere-se ao
tirano pelo exercício governamental e pelo modo irregular de sua posse já o segundo
é tirano apenas pelo governo desvirtuado e mal exercido.

Relativamente ao modo de apropriação do poder, a injustiça pode ter dupla


procedência: 1) pode vir de defeito da pessoa no caso desta não ser digna; 2) pode
também vir de defeito do modo de aquisição do poder , podendo este ser obtido
através de violência, simonia (venda/compra de bens sagrados) ou qualquer outro
meio ilícito.

Quanto ao uso do poder, a legitimidade pode ser estabelecida em das vertentes: 1)


pelo desrespeito à ordenação do próprio poder, e nesse caso passa a haver obrigação
de não obediência; 2) pela regulamentação de assuntos não alcançados pela
competência específica do poder, caso em que os governados não estão obrigados a
obedecer nem a desobedecer.

Se a tirania não for excessiva, afirma S. Tomás, não se investir contra ela pois é
preferível tolerá-la branda por algum tempo e expor-se a perigos menos graves do que
ela própria, pois é comum que ela se torne mais grave que a precedente.
Álvaro Pais denuncia dois modos através dos quais os reis se tornam tiranos: 1. Prazer
de dominar; 2) e o desprezo da obediência. A limitação do poder é, assim, o modo de
evitar a sua degradação.

Para S. Tomás todo o poder vem de Deus, excepto se: 1) o seu modo de aquisição for
injusto; 2) se o seu uso se transformar em abuso. Desta forma, podem existir dois
poderes injustos: o mal adquirido e o abusivo. Um governo tirânico está orientado
para o bem do governante e não para o bem comum, como deveria ser, tornando-se
assim injusto.

O bem comum é para o autor a medida e o limite do direito de resistência, neste


sentido, para que seja possível resistir aos governantes, é preciso que eles
representem um perigo para o Bem Comum. O mesmo autor advoga que a eliminação
do regime tirânico não tem carácter revolucionário, uma vez que o verdadeiro
revolucionário é o próprio tirano e não o povo em questão. Nisto, condena a sedição
(revolta; motim) como pecado mortal e reconhece, uma vez não sendo justo o regime,
por não ser de todo compatível com o bem comum, não constitui sedição a mudança
deste regime.

Para prevenir a tirania, S. Tomás adverte, em primeiro lugar, cuidado na escolha do rei,
o que pressupõe a monarquia electiva. Em segundo lugar, adverte temperar o poder
através de uma organização político - jurídica capaz de evitar excessos e desvios
tendentes à tirania. Em último lugar resistir ao rei injusto.

A doutrina Tomista é de cariz conservador, uma vez que nega às concepções de uma
ordem social melhor o direito de ser opor pela violência ao poder constituído, em
nome de uma invocada superioridade teórica, em vez de favorecer a revolução.

De um modo geral, grande parte dos autores entende que quando a autoridade
suprema ultrapassa os limites justos de seu poder e possuir sem direito, parcial ou
totalmente o resto da soberania, o povo tem o direito de resistir e exigir pela força o
respeito do abusador à Constituição.

Se, por outra vertente, o soberano é deposto por motim ilegítimo, conserva o direito à
autoridade. Estaríamos perante uma guerra justa.

Para S. Tomás as três condições cruciais para a guerra justa são: 1. A autoridade do
Príncipe; 2. Uma causa injusta; 3. A intenção concreta. A guerra é o único acto de
conseguir o fim que se tem em vista e que como meio não seja desproporcional ao
objectivo que se pretende conseguir. A guerra só pode ser feita quando o governante
não pode recorrer a nenhuma autoridade superior, como o Papa.

Palavras chave: Resistência; Tirania; Deus; Oposição; Revolução; Bem Comum.

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