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João da Cruz e Sousa nasceu a 24 de novembro de 1861 em Nossa Senhora do Desterro,

capital da Província de Santa Catarina, atualmente, Florianópolis. O nome João da Cruz


é uma alusão ao Santo homenageado no dia de seu nascimento, San Juan de la Cruz.
Filho dos escravos alforriados Guilherme, pedreiro; e de Eva Carolina da Conceição,
cozinheira e lavadeira, João da Cruz foi criado pelo Coronel Guilherme Xavier de Sousa
(que viria tornar-se Marechal) e sua esposa Clarinda Fagundes de Sousa, que não
tiveram filhos. Assim, acabou por herdar o nome Sousa e obteve uma educação
proporcional a dos brancos abastados de seu tempo. Com apenas 9 anos de idade já
escrevia e recitava seus poemas para os familiares. Com o falecimento de seu protetor
em 1870, as condições de vida tornaram-se menos confortáveis para o jovem João da
Cruz.

Em 1871, entrou no Ateneu Provincial Catarinense. A partir de 1877, lecionava aulas


particulares por necessidade financeira e impressionava seus companheiros de estudo
pela capacidade intelectual. Conhecedor profundo de francês, chegou a ser citado numa
carta do naturalista alemão Fritz Muller. Nesta carta dirigida ao próprio irmão em 1876,
o naturalista citava João da Cruz como um exemplo contrário das teorias de
inferioridade intelectual dos negros.

No ano de 1877, suas obras poéticas passaram a ser publicadas em jornais de Santa
Catarina. Ao lado dos amigos Virgílio Várzea e Santos Lostada, João da Cruz fundou
um jornal literário intitulado "O Colombo", em 1881. No ano seguinte fundo a "Folha
Popular". Nesta mesma época, partiu em excursão pelo Brasil junto a uma companhia
teatral e declamava seus poemas nos intervalos das apresentações. Também se engajou
na luta social e passou a liderar conferências abolicionistas. Em 1883, foi nomeado
promotor da cidade de Laguna. Mas não chegou a assumir o cargo devido ao furor
preconceituoso de chefes políticos da região.

Em 1885 publica seu primeiro livro de co-autoria de Virgílio Várzea, intitulado Tropos
e Fantasias. Até 1888 atuou em jornais, revistas e no centro da Imigração da Província
de Santa Catarina. Neste mesmo ano, viajou para o Rio de Janeiro a convite de Oscar
Rosas.

Em 1891 transferiu-se definitivamente para a então capital da República, Rio de


Janeiro. A partir daí entrou em contato com novos movimentos literários vindos da
França. Neste caso, João da Cruz e Sousa identificou-se especialmente com o chamado
Simbolismo. O negro sulista que se enveredava pelos caminhos do Simbolismo, sofria
duras críticas do meio intelectual de sua época; já que nesse momento, o Parnasianismo
era a referência literária emergente.
Em novembro de 1893 casou-se com Gavita Rosa
Gonçalves, também descendente de escravos africanos. Deste
matrimônio nasceram quatro filhos, Raul, Guilherme,
Reinaldo e João. Mas todos faleceram de tuberculose
pulmonar. Sua esposa, ainda sofreu de distúrbios mentais que
chegaram a refletir até mesmo nos escritos do poeta.

Ainda em 1893 publicou dois livros: Missal (influenciado


pela prosa de Baudelaire) e Broquéis; obras que marcaram o
lançamento do movimento simbolista brasileiro. Em 1897,
concluiu um livro de prosa poética denominado Evocações.
Quando preparava-se para publicá-lo, viu-se abatido pela
tuberculose e partiu para Minas Gerais em busca de
tratamento. Faleceu em 19 de março de 1898 aos 36 anos de
idade. Seu corpo foi levado para o Rio de Janeiro num vagão para transporte de gado. O
amigo José do Patrocínio pagou as despesas com o funeral e o enterro no cemitério São
Francisco Xavier. No ano de sua morte ainda foi publicado Evocações. Em 1900,
Faróis; e em 1905, o volume de Últimos Sonetos.

O negro que contrariou o preconceito racial e se pôs a liderança do Simbolismo


brasileiro, é autor de uma obra que traz versos como: "Anda em mim, soturnamente /
Uma tristeza ociosa / Sem objetivo, latente / Vaga, indecisa, medrosa" (Tristeza Do
Infinito - Últimos Sonetos). Além de: "De dentro da senzala escura e lamacenta /
Aonde o infeliz / De lágrimas em fel, de ódio se alimenta / Tornando meretriz" (Da
Senzala – O Livro Derradeiro). Percebe-se num primeiro momento o sofrimento de
uma alma que ecoou diretamente em sua obra. Mas posteriormente, a consciência social
e humanista de um cidadão. Cruz e Sousa, o Dante Negro ou Cisne Negro, foi um poeta
Simbolista que ainda não obteve o reconhecimento literário devido, mas agrega em sua
obra a essência única de um autor que cativa e comove por sua autenticidade.

"Que importa que morra o poeta? Importa que não morra o poema!"

(Cruz e Sousa)

Por Spectrum

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